UMA AVALIAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DO PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS (PAA) NA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE CEARÁ MIRIM (RN) [email protected] Apresentação Oral-Políticas Sociais para o Campo ÉRIKA KARLA LUCENA; JORGE MARIANO LUIZ. UFRN, NATAL - RN - BRASIL. Uma avaliação da importância do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) na agricultura familiar do município de Ceará Mirim (RN) Resumo - Este estudo tem como objetivo principal identificar a contribuição do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) na agricultura familiar do Assentamento Rosário, em Ceará-Mirim, nos anos de 2005 e 2008. A título de hipótese, sugere-se que a aquisição de alimentos dos assentamentos da reforma agrária beneficia os agricultores que trabalham na terra, aumentando a sua renda e garantindo a compra da sua produção. A metodologia deste trabalho está pautada na análise de dados levantados junto aos agricultores e ao órgão ligado à implantação do programa no município, através de uma pesquisa de campo com aplicações de questionários e entrevistas. Nos casos estudados, constatou-se que o Programa de Aquisição de Alimentos contribuiu para uma melhoria na renda dos agricultores beneficiados, já que os mesmos vendem os seus produtos ao programa a preços mais altos do que aos atravessadores. Palavras-chaves: Programa de Aquisição de Alimentos; Agricultura familiar; Assentamento. 1 - Introdução O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é um projeto do Programa Fome Zero do governo de Luís Inácio Lula da Silva, cujo objetivo é garantir o acesso aos alimentos às populações em situação de insegurança alimentar e nutricional e, ainda, promover a inclusão social da agricultura familiar, através da aquisição de sua produção. O PAA adquire alimentos dos agricultores familiares que se enquadrem no Programa Nacional de Fortalecimento Familiar (PRONAF). O Governo Federal destina esses produtos às pessoas que são atendidas por programas sociais locais e para demais cidadãos em situação de risco alimentar. O PAA tem o intuito de promover a agricultura familiar, visto que é realizada a compra antecipada da produção. Isso porque uma das maiores barreiras desta atividade está na comercialização dos produtos, ou seja, os agricultores produzem os alimentos, mas, muitas vezes, não encontram mercado consumidor, ficando sujeitos aos atravessadores que compram os produtos a preços bastante reduzidos. A esse respeito, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), ao realizar uma análise sobre os resultados do PAA em 2005, verificou que o programa tem contribuído para recuperação dos preços dos produtos e da renda da agricultura familiar. MATEI (2007), analisando a percepção dos atores sociais 1 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural envolvidos com o PAA em Santa Catarina constatou que programa ajudou aos agricultores a planejar melhor a produção e a receberem preços mais justos. Percebeu ainda que o programa ajudou no acréscimo de produtos ofertados nos mercados locais pela agricultura familiar, com reflexos sobre a movimentação financeira no âmbito local. Ele ainda constatou que o programa tem um componente social importante, uma vez que, além de estimular o fornecimento de alimentos direto aos consumidores, cria-se a possibilidade de se estabelecer laços de solidariedade entre pessoas e entidades sociais, enaltecendo o papel destas nas sociedades locais. BALSADI (2004) ressalta que a análise dos resultados verificados nos primeiros meses de operacionalização do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar, em 2003, mostrou alguns resultados muito positivos e alentadores em relação ao futuro do Programa, especialmente no que se refere à melhoria da renda dos agricultores beneficiados. No município de Ceará-Mirim, localizado no estado do Rio Grande do Norte, o programa compra os alimentos dos agricultores familiares dos assentamentos de reforma agrária e os destinam as instituições locais do município, como: creches, hospitais, escolas e outros. Dada essas considerações surgem algumas perguntas, entre elas: quais os benefícios que este programa trouxe para a agricultura do município de Ceará - Mirim? Qual a importância do PAA para o aumento da renda dos agricultores familiares do município de Ceará-Mirim, e em especial para o Assentamento Rosário? Esse estudo tem como objetivo principal identificar a contribuição do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) na agricultura familiar do Assentamento Rosário, no município de Ceará-Mirim, no ano de 2005 e 2008. Tem também como objetivo identificar se houve um aumento na renda dos agricultores através desse programa. Para atingir esses objetivos, foi necessária uma coleta de dados de natureza primária, através de pesquisa de campo com aplicação de questionários e entrevistas aos agricultores do assentamento e a secretaria de agricultura do município estudado. Este artigo está dividido em seis seções incluindo essa introdução. A segunda seção realiza uma breve apresentação do Programa de Aquisição de Alimentos; a terceira relata o histórico do Assentamento Rosário e as suas características; a quarta seção apresenta a metodologia utilizada para realizar esta pesquisa; a quinta seção analisa os resultados encontrados através da pesquisa, e na última são apresentadas às considerações finais do estudo. 2 - O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) O Programa de Aquisição de Alimentos é uma das ações do Programa Fome Zero criado no Governo de Luís Inácio Lula da Silva, e instituído através do art. 19 da Lei nº 10.696, de 02 de julho de 2003. O PAA tem a finalidade de incentivar a agricultura familiar, mediante a compra da sua produção e também garantir o acesso aos alimentos às populações em situação de insegurança alimentar e nutricional. O Governo Federal realiza a compra da produção do 2 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural agricultor familiar e destina esses produtos às pessoas que são atendidas por programas sociais locais e para demais cidadãos em situação de risco alimentar, como indígenas, quilombolas, acampados da reforma agrária e atingidos por barragens. O Grupo Gestor do PAA é composto por representantes de seis órgãos federais: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Ministério da Fazenda (MF) e Ministério da Educação. Sendo o primeiro responsável por coordenar o Programa. Os recursos para operacionalização deste programa, desde o início do mesmo (2003) até o ano de 2005, eram exclusivamente provenientes do MDS, especificamente da Secretaria de Segurança Alimentar. A partir de 2006, foi que o MDA passou a contribuir com o PAA neste contexto. Os projetos do PAA além do Grupo Gestor, dos agricultores e/ou suas organizações (associações, cooperativas, sindicatos) também contam com a participação de instituições parceiras no âmbito federal, municipal e estadual, como prefeituras e governos estaduais. No que de refere à compra da produção, esta é praticada com isenção de licitação e, por preços de mercado regional/local. Para cada agricultor familiar, as compras realizadas pelo Programa podem chegar o limite de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais) ao ano, com exceção na modalidade Incentivo à Produção e Consumo de Leite (IPCL), que o limite é semestral. Porém, anteriormente o teto para a compra dos produtos era R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) ao ano, por agricultor. Vale ressaltar, que os agricultores beneficiados são os que se enquadrem no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF. O Programa de Aquisição de Alimentos é operacionalizado por intermédio de seis mecanismos: Compra Direta da Agricultura Familiar (CDAF), Compra Antecipada Especial da Agricultura Familiar (CAEAF), Compra Direta Local da Agricultura Familiar (CDLAF), Incentivo à Produção e ao Consumo do Leite (IPCL), Contrato de Garantia de Compra (CGAF) e Compra Antecipada da Agricultura Familiar (CAAF). Conforme dados do MDS e da CONAB (Companhia Nacional e Abastecimento) destacam-se as seguintes modalidades: • Compra Direta da Agricultura Familiar: realiza-se a aquisição de alimentos pelo Governo Federal, a preços de referência (situados em uma faixa intermediária entre o preço mínimo e o preço de mercado), de produtores organizados em grupos formais (cooperativas e associações). Esta modalidade visa apoiar a agricultura familiar, mediante a compra direta da produção como também constituir reserva estratégica de alimentos. É operacionalizado pela CONAB. Os produtos amparados pela CDAF são: arroz, castanha de caju, castanha do Brasil, farinha de mandioca, feijão, milho, sorgo, trigo, leite em pó integral e farinha de trigo. • Compra Antecipada Especial da Agricultura Familiar: é também denominada como Formação de Estoque da Agricultura Familiar. Nesta modalidade, o agricultor recebe antecipadamente até 100% dos recursos para compra de matéria-prima, 3 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural embalagens, pagamento dos fornecedores e demais despesas inerentes à produção. Dessa forma, tem o intuito de produzir e formar estoques em suas próprias organizações, para vender com maior valor agregado ou em momentos oportunos. São beneficiadas as organizações que sejam formadas por no mínimo 80% de agricultores familiares enquadrados no PRONAF. Para participar desta modalidade, as organizações enviam uma Proposta de Participação à CONAB. Nesta proposta, deverão constar as seguintes informações: quais os produtos que serão adquiridos e estocados, o prazo necessário para formação de estoque, os valores e os produtores que serão beneficiados. A partir da aprovação da proposta e com base nestas informações, a CONAB disponibiliza os recursos financeiros para aquisição dos produtos, mediante a emissão das Cédulas do Produtor Rural (CRP Estoque). A operacionalização desta modalidade é realizada pela CONAB. • Incentivo à Produção e ao Consumo do Leite: esta modalidade é operada pelo MDS e tem como finalidade incentivar o consumo e a produção familiar de leite. Também tem o intuito de diminuir a vulnerabilidade social, combatendo a fome e a desnutrição, e contribuir para o fortalecimento do setor produtivo familiar, mediante a aquisição e distribuição de leite com garantia de preço. • Contrato de Garantia de Compra: O Governo estabelece com os agricultores um contrato de compra que assegura, no período de plantio da safra, a aquisição dos produtos da agricultura familiar a preços compatíveis com a expectativa dos mercados regionais para a época da colheita. Após a colheita o produtor escolhe se vende a sua produção para a CONAB, caso os preços de mercado estejam menores dos que fixados no contrato, ou para o mercado, se os preços estiverem acima. • Compra Antecipada da Agricultura Familiar: ocorre a antecipação do pagamento dos produtos a serem adquiridos de grupos de agricultores familiares que não têm acesso ao financiamento de custeio do PRONAF: agroextrativistas, quilombolas, famílias atingidas por barragens, assentados da reforma agrária, acampados e comunidades indígenas. A entrega do produto é feita no momento da colheita, podendo ser pago, também, em dinheiro. • Compra Direta Local da Agricultura Familiar: conhecida como Compra para Doação Simultânea ou Compra Antecipada Especial com Doação Simultânea (CAEAF). Esta modalidade tem a finalidade de promover a articulação entre a agricultura familiar e as demandas locais necessitadas de suplementação nutricional. Os alimentos são adquiridos dos produtores familiares enquadrados nos grupos A e D do PRONAF e são destinados as redes sócio-assistenciais da região, como: creches, hospitais, escolas, asilos, entidades beneficentes e outros. Para participação desta modalidade, as propostas devem ser aprovadas pelo Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional ou um conselho atuante no município. Os produtos amparados são os de consumo humano e de hábitos de consumo da região, podendo ser perecíveis e não-perecíveis. Para execução desta modalidade são realizados convênios entre o MDS, os governos municipais e estaduais e a CONAB. Conforme o MDS, esta modalidade tem os seguintes objetivos: • Facilitar e agilizar o processo de escoamento da produção; • Promover e ampliar a inclusão sócio-econômica dos agricultores familiares localizados em assentamentos de reforma agrária; 4 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural • Tornar acessível os alimentos às populações que se encontram em uma situação de insegurança alimentar; • Capacitar o agricultor familiar a realizar um controle da comercialização da sua produção, resultando em um aumento real da sua renda e de um desligamento com a rede de atravessadores, que muitas vezes oferecem uma situação de desvantagem para o agricultor. Em relação às compras dos alimentos, o Programa de Compra Direta Local da Agricultura Familiar beneficia os agricultores familiares, incluindo os agro-extrativistas, quilombolas, assentados, pré-assentados e comunidades indígenas e ribeirinhas, que se enquadrem no PRONAF tipo A, B, C ou D, e que de preferência, se organizem em cooperativas, associações e grupos formais. 3 - Assentamento Rosário: histórico e características A criação do assentamento Rosário teve início a partir de um movimento em junho de 1997, quando alguns agricultores diaristas foram convidados pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e pelo Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Ceará-Mirim (STTRCM) para se reunir com o objetivo de organizar a ocupação da fazenda Santa Maria. Esta ocupação ocorreu na madrugada do dia 15 de junho de 1997. No início eram apenas 25 famílias, provenientes de Dom Marcolino (Maxaranguape), Punaú (Rio do Fogo) e de Ceará-Mirim. No período de um ano que estavam acampados receberam três ordens de despejo. Acatavam as ordens, porém dias depois retornavam a fazenda. A cada despejo e retorno à área, o número de famílias aumentava, chegando a um total de 225 famílias acampadas. As condições de vida destas famílias eram precárias. As barracas eram de palha de coqueiro, de lona ou de plástico. As crianças e adolescentes ficaram sem escola. Para proverem à alimentação, mensalmente o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) distribuía uma cesta básica a cada família. A Prefeitura Municipal de Ceará-Mirim, além de ajudar com a alimentação, assistiu aos acampados com combustível, ambulância e ajuda financeira. Nesse ínterim, realizaram três caminhadas para ocupação da sede do INCRA em Natal, para reivindicar agilidade no processo de desapropriação da área. A partir da segunda ocupação, a instituição iniciou o cadastramento e a seleção das famílias, uma vez que a área a ser desapropriada só comportava 120 famílias. Alguns critérios foram adotados para se fazer o processo seleção, como: o tempo de participação no movimento, acrescido do comportamento no acampamento; história de vida: se era agricultor, se já havia sido beneficiado em outro assentamento e não tinha aproveitado a oportunidade, e se tinha família ou não. A desapropriação aconteceu no dia 18 de março de 1998 e a imissão de posse foi dada em 10 de junho do mesmo ano. Assim, decidiram fazer uma assembléia geral para decidir o nome do assentamento, onde surgiram três opções: Canudos, Rosário e São Sebastião. Por votação, ficou eleito o nome de Rosário em alusão à fazenda que sempre acamparam. 5 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural No processo de desenvolvimento dessa nova sociedade, divergências políticas foram se aguçando, ao ponto máximo de realizarem uma assembléia geral para decidirem quantas pessoas apoiavam e reconheciam o MST e quantas pessoas apoiavam e reconheciam o STTRCM como representante do assentamento perante eles mesmos e perante as instituições. Oitenta famílias indicaram o STTRCM como seu aliado e quarenta indicaram o MST. Em conseqüência disso, originaram-se duas agrovilas onde se aglutinaram pessoas por identificação política: a agrovila Rosário, ligada ao STTRCM, e a agrovila Canudos, vinculada ao MST. Atualmente encontram-se assentadas 120 famílias, que são na sua grande maioria de origem rural, cujos pais sempre viveram no campo. Porém, existem trabalhadores que, além das atividades rurais, tem experiência em outras atividades, como: motoristas, marceneiros, costureiras, pedreiros e serventes. A maioria das famílias permanece desde o início do assentamento, contudo alguns poucos venderam, arrendaram, trocaram ou repassaram seus lotes. O Assentamento Rosário está localizado no município de Ceará-Mirim, nordeste do Estado do Rio Grande do Norte. Este é constituído por duas agrovilas denominadas Rosário e Canudos, distando 1 km de uma para outra. A área disponível para o uso dos assentados, excluída as áreas de reservas é 994,1468 hectares. O Tamanho médio disponível para cultivo por família é de 8,28 hectares. O Assentamento Rosário possui 120 famílias e tem uma população total de 605 pessoas, Tabela 1. O percentual de homens 56,20% é um pouco maior do que o de mulheres 43,80%, caracterizando-se como uma população equilibrada em relação ao gênero. Crianças e adolescentes na faixa etária de 7 a 14 anos, idade regular para freqüentar o ensino fundamental, tem-se 25,45% da população. Crianças em idade de vacinação – de 0 a 6 anos- correspondem a 14,05%. Apenas 3,64% têm mais de sessenta anos. Tabela 1 – População pesquisada total, por faixa etária. Faixa etária Homem Mulher Total Menos de 1 ano 04 03 07 1 a 6 anos 48 30 78 7 a 14 anos 81 73 154 15 a 17 anos 33 22 55 18 a 20 anos 19 12 31 21 a 30 anos 43 36 79 31 a 40 anos 36 34 70 41 a 50 anos 33 18 51 51 a 60 anos 29 29 58 61 a 65 anos 10 04 14 66 a 70 anos 02 03 05 Mais de 70 02 01 03 TOTAL 340 265 605 Fonte: Relatório final do Plano de Consolidação do Assentamento do Rosário 2004 6 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Conforme demonstra o quadro acima, os homens constituem maioria, se ocupando, em geral, com as atividades agropecuárias, e as mulheres com as atividades domésticas e apoio às atividades do marido. O assentamento conta com seis organizações formais sendo quatro associações dos trabalhadores rurais: Associação Nova Esperança, Associação Nova Vida, Associação Rosário, Associação Canudos; uma associação de mulheres: o Clube de Mães Nossa Senhora do Rosário e uma organização dos jovens que é o Clube de Jovens. As famílias do Assentamento Rosário utilizam a mão-de-obra de seus membros para as diversas atividades produtivas desenvolvidas atualmente, e que mesmos os aposentados e aqueles que trabalham de forma regular ou temporária em outras atividades, ajudam nas tarefas produtivas. Os trabalhos são desenvolvidos pelos assentados com apoio do cônjuge e dos filhos, em especial os mais velhos. As mulheres ainda fazem as tarefas domésticas, educação dos filhos menores, sendo que algumas são contratadas com merendeiras e zeladoras. Os filhos estudam durante o dia ou à noite, neste caso os mais velhos, mas ajudam nas atividades de campo e nas ações necessárias para as atividades. Os agricultores familiares do Assentamento Rosário realizam a sua produção em três locais diferentes: paul, arisco e nos quintais de suas residências. As terras localizadas no paul são consideradas mais férteis pelos agricultores. A divisão dessas terras é feita por família, sendo assim, de cultivo individual. A área para cada família é de 1 ha de terra. As áreas denominadas de arisco são de cultivo coletivo, onde as associações distribuem as terras para cada agricultor, para que o plantio seja responsabilidade de todos. O quintal é uma área produtiva, localizada ao redor da casa do agricultor. Normalmente, o seu cultivo é destinado ao consumo das famílias. 4 - Metodologia Para alcançar os objetivos do estudo foi realizado uma pesquisa de campo com aplicação de questionários e entrevista aos agricultores e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Município de Ceará-Mirim no Rio Grande do Norte. Estas visitas foram realizadas no período de julho de 2007 a maio de 2008. A primeira visita foi realizada no mês de julho de 2007, onde o objetivo era obter dados referentes às vendas dos alimentos em 2005. Para tanto foram realizadas algumas entrevistas aos agricultores familiares do Assentamento Rosário e a Secretaria de Agricultura do Município. Os entrevistados foram escolhidos com ajuda da assistente social do assentamento, que indicava os agricultores que tinham participado do programa naquele ano. Nesta entrevista foram abordadas questões sobre os produtos que tinham sido vendidos para o PAA, quantidade, preços e também os preços que os atravessadores compravam estes mesmos produtos. A segunda visita foi realizada no mês de maio de 2008, com o intuito de coletar dados sobre as vendas dos agricultores para o programa neste mesmo ano. Foram considerados na pesquisa os meses de fevereiro a abril, pois as compras só começaram a serem realizadas neste primeiro mês. Assim, foram utilizados questionários (em anexo) que apresentava perguntas sobre os dados da família e dados da produção. No que se refere este primeiro, foram abordadas questões como: nome e idade do chefe da família, 7 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural grau de instrução, o tempo que trabalha na agricultura, número de componentes da família e outros. Sobre a produção, foram feitas perguntas sobre as culturas produzidas pelos agricultores, os produtos que foram vendidos para o programa e os que foram comercializados de outras formas. Também foi questionado se o agricultor tinha outras fontes de renda como: aposentadorias, pensões e programas de transferência de renda (Bolsa Família). Foram entrevistados sete agricultores, sendo a amostra de 13%, já que nestes três meses 54 famílias do Assentamento Rosário venderam os seus produtos para o PAA. Para constatar se o programa contribuiu para o aumento da renda dos agricultores do Assentamento Rosário, será realizada uma estimativa da renda dos agricultores, considerando a possibilidade dos mesmos terem vendido toda a produção para o programa. 5 - Análises dos resultados Esta seção tem o objetivo de analisar as contribuições do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) no Assentamento Rosário, localizado no município de Ceará-Mirim. Para tanto, utiliza-se como referência as compras realizadas no exercício do ano de 2005 e 2008. 5.1 O Programa de Aquisição de Alimentos no Município de Ceará-Mirim em 2005 O PAA foi implantado no município de Ceará-Mirim no Ano de 2005, com a modalidade de Compra Direta Local da Agricultura Familiar. Os órgãos envolvidos no programa são: a Prefeitura Municipal de Ceará-Mirim e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS). A Prefeitura Municipal de Ceará-Mirim conta com a participação de algumas secretarias, entre elas a Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento, que desempenha os seguintes papéis: levantamento dos agricultores no município, cadastramento dos agricultores aptos a participarem do programa, realização do projeto para aprovação do programa no município. No exercício de 2005, o Programa teve uma vigência estabelecida de 30/12/2004 a 23/12/2005, porém em razão de mudanças realizadas em função do recadastramento dos assentamentos, as atividades tiveram início somente em março, razão porque foi proposta e acatada a prorrogação do convênio para 28 de fevereiro de 2006. Para realização das compras no exercício de 2005, a Prefeitura Municipal de Ceará-Mirim recebeu um montante de R$ 309.327,28. Este recurso foi destinado à aquisição de alimentos agropecuários produzidos pelos agricultores familiares que foram repassados às instituições sociais, atendendo as demandas de suplementação alimentar e nutricional dos programas sociais do município. No que tange a compra dos alimentos, 10 assentamentos foram beneficiados, conforme mostra a Tabela 2. Tabela 2 - Assentamento beneficiados pelo PAA no município de Ceará-Mirim, no exercício de 2005. N° Entidade Público Público 8 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 Projeto de Assentamento Águas Vivas Projeto de Assentamento Cruzeiro Projeto de Assentamento Nova Esperança II Projeto de Assentamento Padre Cícero Projeto de Assentamento Rosário Projeto de Assentamento São João Projeto de Assentamento Santa Águida Projeto de Assentamento Santa Luzia Projeto de Assentamento São Sebastião Projeto de Assentamento Espírito Santo TOTAL Cadastrado Participante 44 12 104 60 124 20 90 18 25 02 499 18 06 28 21 77 09 30 10 25 02 226 Fonte: Relatório Final do PAA realizado pela Secretaria de Agricultura, 2006. Em 2005 foi realizado um cadastramento de 499 agricultores familiares, porém o programa atingiu somente 226. Existem vários motivos para este fato: para participarem do programa os agricultores devem está adimplentes junto às instituições financeiras; os agricultores podem não querer fornecer a sua produção para o PAA; os alimentos produzidos pelos agricultores familiares devem está na lista dos alimentos comprados pelo PAA, entre outros. Os gêneros alimentícios adquiridos dos agricultores familiares são repassados às instituições sociais que prestam atendimento à população em situação de desvantagem social com demandas de suplementação alimentar e nutricional dos programas sociais do município, através de 09 instituições que atuam junto a vários segmentos tais como: crianças, pessoas com necessidades especiais, mulheres, dependentes químicos em processo de recuperação, idosos e famílias, Tabela 3. Tabela 3 - Instituições beneficiadas pelo PAA no município de Ceará-Mirim, exercício 2005. N° Entidade 01 Associação dos Deficientes Físicos de Ceará Mirim. 02 Associação de Desenvolvimento Comunitário de Alto do Sítio. 03 Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais 04 Casa de Assistência Espiritual aos Dependentes de Drogas – CAED. 05 Centro Social Leci Câmara. 06 Fundação Pedro Ferreira de Melo. 07 Hospital Dr. Percílio Alves – Secretaria de Saúde. 08 Secretaria Municipal de Ação Social. Público Alvo Quantidade Deficientes Físicos. 46 Comunitários. 800 Pessoas com Necessidades Especiais. 161 Dependentes Químicos. 25 Idosos 75 Jovens, Idosos e Famílias. 680 Todos os segmentos. 90 Creches, PETI e Famílias. 9 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 3980 TOTAL 5.857 Fonte: Relatório Final do PAA realizado pela Secretaria de Agricultura, 2006. Sendo a distribuição dos alimentos para as instituições locais, há um estímulo aos agricultores a terem um maior cuidado com a qualidade dos produtos, pois talvez os seus próprios familiares consumam estes alimentos. Conforme o Secretário de Agricultura, a compra dos alimentos produzidos pelos agricultores familiares é realizada da seguinte forma: primeiramente, funcionários da Secretaria de Agricultura visitam os assentamentos e negociam os produtos que serão vendidos e o dia que serão recolhidos. Neste momento, estes funcionários fotografam a produção para que a comercialização dos produtos seja registrada. No dia marcado, os alimentos são recolhidos e repassados para distribuição. O pagamento dos agricultores só é realizado quando os alimentos chegam ao seu destino e tem os seus pesos conferidos. O responsável pela associação de cada assentamento é quem recebe o pagamento e repassa para os demais agricultores. As compras obtidas pelo Programa de Aquisição de Alimentos eram realizadas quinzenalmente, totalizando no exercício de 2005, 25 semanas. O gráfico abaixo mostra a participação de cada Assentamento, no que se refere ao total de recursos obtidos com a venda dos produtos para o programa. Gráfico 1 - Recursos adquiridos com a venda de produtos para o PAA, por assentamento. Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento de Ceará-Mirim, 2005, elaboração dos autores. Como mostra o gráfico, o Assentamento Rosário obteve 36% dos recursos destinados à aquisição dos produtos pelo PAA, no exercício de 2005. Este fato retrata a importância do Assentamento dentro do programa e também como fornecedor de alimentos para o município. Através de dados da Secretaria de Agricultura de Ceará-Mirim, constata-se que o Programa de Aquisição de Alimentos adquiriu do Assentamento Rosário o montante de 10 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural R$ 110.594,40 em alimentos, durante a vigência do programa no exercício de 2005. Realizando uma média aritmética do total de recursos gastos em compras no Assentamento do Rosário e a quantidade de agricultores familiares que participaram do PAA no assentamento, obtêm-se uma renda média de R$ 1.436,29 por agricultor. Ao dividir esta renda por 25 semanas, chega-se ao total de R$ 57,45 por agricultor em cada semana, ou seja, o PAA adquiriu uma média R$ 57,45 em alimentos por cada agricultor, em cada semana em que realizou as compras no assentamento Rosário. Gráfico 2 – Valor total das vendas do Assentamento Rosário no exercício de 2005 Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento de Ceará-Mirim, 2005. Elaboração dos autores. Observando o gráfico acima, verifica-se que nas quatro primeiras semanas as vendas foram relativamente baixas, talvez pelo fato dos agricultores não desejarem vender os seus produtos para o PAA, visto que o pagamento não é realizado imediatamente. Também pela falta de segurança no programa, já que era a primeira vez que estava sendo implantado no município. Da sétima a décima primeira semana, houve um aumento sucessivo nos valores das compras, devido a um aumento na produção vendida, principalmente da banana. Após a décima quinta semana, há reduções nos valores das compras. Este fato pode ser explicado tendo como base o valor máximo de compras estabelecido para cada agricultor, que talvez neste período, alguns já tenham tido o seu limite de compras esgotado. Ao analisar as contribuições do Programa de Aquisição de Alimentos no Assentamento Rosário, verificou-se que houve uma melhoria na renda dos agricultores, já que o programa compra os gêneros alimentícios a um preço mais alto do que os 11 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural atravessadores. Antes do programa, os agricultores familiares, muitas vezes, tinham que vender a sua produção por valores bastante reduzidos para não perdê-la, visto que são alimentos perecíveis. Conforme entrevista realizada em pesquisa de campo, na Tabela 4 demonstra-se a situação de um agricultor. Tabela 4 – Comparação entre a venda dos produtos para o PAA e para os atravessadores. Produtos Vendidos Banana Coentro Jerimum Pimentão TOTAL Quantidade Unidade 30.000 4.000 400 1.000 UND MOLHO KG UND Preço PAA (R$) 0,05 0,15 0,50 0,20 Preço Atrav. (R$) 0,025 0,07 0,25 0,10 Valor Produção PAA (R$) 1.500,00 600,00 200,00 200,00 2.500,00 Valor Produção Atravessador (R$) 750,00 280,00 100,00 100,00 1.230,00 Fonte: Pesquisa de campo, 2007. Elaboração dos autores. Se neste caso, o agricultor vendesse a sua produção para um atravessador, ele teria uma perda de 50,8% da sua renda, já que estes compram a preços mais baixos para revenderem os produtos. Estes preços chegam a serem tão reduzidos, que como relatou um agricultor entrevistado, mal pagam os custos de produção. Assim, no caso acima mostrado, o programa contribuiu consideravelmente para uma melhoria na renda desse agricultor. Observa-se também que o agricultor vendeu ao PAA o valor máximo anual permitido, pois no ano de 2005 era R$ 2.500,00 por agricultor. Com isso, pode-se dizer que o programa é estimulante, já que impulsiona o agricultor a alcançar o limite de compras permitido. 5.2 O Programa de Aquisição de Alimentos no Município de Ceará-Mirim em 2008 Em 2008, as compras começaram a serem realizadas no mês de fevereiro. Dessa forma, a análise será feita com base nos meses de fevereiro, abril e maio. O Programa de Aquisição de Alimentos do exercício de 2008 em Ceará-Mirim foi projetado para beneficiar 476 famílias agrícolas e conforme Secretário de Agricultura, nestes três meses, 130 famílias foram favorecidas pelo programa, sendo 54 do assentamento Rosário. Neste exercício, o programa passa a realizar as compras semanalmente e não mais quinzenalmente, como foi concretizado no exercício de 2005. A cada semana, a Secretaria de Agricultura realiza compras no montante de R$ 17.000,00. Anteriormente eram gastos R$ 10.000,00 por quinzena. O montante de recursos destinado às compras do exercício de 2008 é de R$ 453.600,00. 12 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Segundo Secretário de Agricultura, outra modificação está nos produtos adquiridos. Agora o PAA também realiza a compra de alimentos como bolo e biju. Este fato beneficia às mulheres dos agricultores que, através do seu trabalho, contribuem com a renda da casa. Assim, por exemplo, a mulher utiliza a macaxeira cultivada por sua família para fazer bolo de macaxeira, agrega valor ao produto e vende para o PAA. Para se obter uma boa qualidade destes produtos, o programa conta com a parceria da COVISA (Consultoria Técnica em Vigilância Sanitária), que visita os assentamentos e explica os procedimentos corretos de manipulação dos alimentos. Tratando-se das instituições que recebem os alimentos, foi incluída neste ano, a Secretaria Municipal de Educação, com o intuito de oferecer merenda escolar para algumas escolas de Ceará-Mirim. Para verificar os resultados deste programa no período mencionado acima, entrevistaram-se em torno de 13% dos agricultores familiares do Assentamento Rosário beneficiados pelo programa. Através dos dados coletados, estimou-se a renda mensal dos agricultores, incluindo a renda auferida pela venda dos produtos para o PAA, a renda recebida com a venda dos produtos para os atravessadores, a renda proveniente do programa Bolsa Família e a renda recebida por meio de pensões e aposentadorias. Assim, estão expostos os casos de sete agricultores pesquisados, como mostra a Tabela 5. Tabela 5 – Estimativa da renda dos agricultores Agricultor Agricultor A Agricultor B Agricultor C Agricultor D Agricultor E Agricultor F Agricultor G Renda familiar Renda familiar mensal (R$) per capita (R$) 641,40 658,00 1437,00 1590,00 1084,00 998,08 750,00 160,35 59,82 479,00 397,50 154,86 166,35 150,00 Renda familiar da agricultura (R$) Renda familiar per capita da Agricultura (R$) 566,40 546,00 487,00 760,00 1084,00 471,08 750,00 141,60 49,64 162,33 190,00 154,86 78,51 150,00 Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Elaboração dos autores. Do total dos agricultores entrevistados constatou-se que os mesmos apresentam uma renda mensal em torno de R$640,00 a R$ 1.590,00, incluindo as rendas provenientes do programa Bolsa Família e de pensões e aposentadorias. A renda mensal originária somente da comercialização de produtos agrícolas esta em torno de R$ 471,08 a R$ 1.084,00. Esta renda poderia ainda ser menor se o programa não tivesse sido implantado no assentamento, pois conforme os agricultores os atravessadores compram a preços mais baixos. Considerando o caso do agricultor B, Quadro 1, foi observado que quase todos os produtos comercializados foram vendidos para o PAA, com exceção da banana, que foi vendida a um preço bem menor do que o apresentado pela tabela do programa. 13 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Se este agricultor tivesse vendido a sua produção de banana para o programa, ele teria um acréscimo na sua renda de R$ 75,00, já que o PAA compra a unidade deste produto por R$ 0,06, Quadro 2. Talvez o motivo para que isso não tenha ocorrido é o fato do atravessador pagar no ato da compra, fazendo com que, aqueles que estão necessitados de recursos, vendam a sua produção mais barato. Quadro 1 - Comercialização dos produtos do agricultor B Produtos vendidos para o PAA Produtos Unidade Quantidade Preço (R$) Milho Abacate Coco Valor Total (R$) MÃO* 25 15,00 375,00 KG 30 1,00 30,00 UND 200 0,18 36,00 441,00 SUB-TOTAL Produto vendido para o Atravessador Produto Banana Unidade Quantidade UND Preço (R$) 3000 Valor Total (R$) 105,00 0,035 105,00 SUB-TOTAL TOTAL 546,00 Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Elaboração dos autores. *A mão de milho é composta por cinqüenta espigas de milho. Quadro 2 – Com todos os produtos vendidos para o PAA, o caso do agricultor B Produtos Unidade Quantidade Preço (R$) Valor Total (R$)375,00 Milho MÃO* 25 15,00 Abacate KG 30 1,00 30,00 Coco UND 200 0,18 36,00 Banana UND 3000 0,06 180,00 TOTAL 621,00 Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Elaboração dos autores. Para analisar se este programa contribuiu para o aumento na renda dos agricultores familiares, supõe-se a possibilidade destes terem vendido toda a sua produção para o programa. Para tanto, utilizaram-se os seguintes casos como mostra a Tabela 6. Tabela 6 - Renda mensal estimada para a venda de todos os produtos para o PAA 14 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Agricultor Familiar Renda Familiar Renda Familiar Mensal (R$) Mensal PAA* (R$) Agricultor A 641,40 666,40 Agricultor B 658,00 733,00 Agricultor C 1437,00 1687,00 Agricultor D 1590,00 1980,00 Agricultor E 1084,00 3084,00 Agricultor F 998,08 1349,50 Agricultor G 750,00 950,00 Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Elaboração dos autores. *Se tivesse vendido toda a produção para o PAA. Aumento (%) 3,90 11,40 17,40 24,53 184,50 35,21 26,67 Como visto na tabela anterior, os agricultores dos casos expostos teriam um incremento na sua renda em torno de 4% até aproximadamente 185%, se tivessem vendido toda a sua produção para o PAA. Este último percentual foi decorrente da venda de uma grande produção de melancia, que foi vendida ao atravessador a R$ 0,10 o quilo, quando o programa comprava o quilo por R$ 0, 30, destacando a perda de recurso por parte do agricultor. Vale salientar que na renda familiar acima demonstrada, estão incluídas as rendas provenientes do programa Bolsa Família e das pensões e aposentadorias. Em um estudo realizado em 2006 sobre o impacto do PAA no Rio Grande do Norte Gomes da Silva e Bastos (2006) também constataram a importância do PAA no acréscimo de renda dos agricultores familiares. Eles observaram que, dentre o público beneficiário pesquisado ─ maior contingente de agricultores familiares com rendimentos inferiores a 1 salário mínimo mensal ─ 38% declararam terem tidos acréscimos nas suas receitas, o demonstra a PAA para estes segmentos de mais baixa renda Para os agricultores entrevistados do Assentamento do Rosário, o PAA contribuiu para uma maior facilidade na comercialização dos produtos. Outro fato mencionado por aqueles que vendem a sua produção em feiras livres de Ceará-Mirim e em bairros de Natal é que não existe quantidade mínima para a venda dos produtos para o programa, ou seja, aqueles que em determinada semana não tiverem uma quantidade suficiente para irem para as feiras, podem vender a sua produção para o programa. Isso porque a venda dos produtos na feira demanda custos de frete, taxas para utilizar a barraca na feira e para montagem e desmontagem da mesma, já que é realizada por terceiros. Com a comercialização dos produtos para o PAA, o agricultor está isento deste tipo de custo. Eles também contam com a comodidade de vender a sua produção na porta de casa. Na opinião da Secretaria de Agricultura, o PAA apresenta outros aspectos relevantes como: • Elevação da auto-estima dos produtores; • Maior possibilidade de diversificação de alternativas de produção e trabalho; • Fortalecimento do espírito associativista, apesar do baixo protagonismo da maioria dos produtores; • Interesse pelas ações de qualificação profissional, como forma de melhorar o desempenho das atividades; 15 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural • Acesso da população em situação de desvantagem social a uma dieta alimentar de boa qualidade e quantidade. • Expressivo apoio às instituições sociais, que conseguiram com a economia gerada com a doação dos alimentos, melhorarem as condições físicas e estruturais para o atendimento à população. • Redução significativa das carências nutricionais do público beneficiário. 6 - Considerações Finais O Programa de Aquisição de Alimentos é uma política pública que visa incentivar a agricultura familiar e oferecer uma alimentação de qualidade as pessoas em situação de insegurança alimentar. O programa realiza as compras através de seis modalidades diferentes, porém no que se refere ao município de Ceará-Mirim, as mesmas são executadas por meio da Compra Direta Local da Agricultura Familiar. Nesta modalidade, os alimentos são adquiridos dos produtores familiares e destinados às instituições locais como: creches, escolas, hospitais e outros. Dessa forma, o presente trabalho realiza uma análise do programa no assentamento Rosário, localizado no município acima citado. Busca-se identificar as contribuições que este programa trouxe para agricultura familiar, e em especial analisar se houve um aumento da renda dos agricultores deste assentamento. Para tanto, foi necessária uma coleta de dados de natureza primária, através de pesquisa de campo, realizando questionários e entrevistas aos agricultores e ao Secretário de Agricultura e Abastecimento do município de Ceará - Mirim. O presente estudo constatou que o programa contribui para o aumento da renda dos agricultores. Isso porque antes de sua implantação, boa parte da produção era vendida para os atravessadores, que comprava a preços reduzidos para revenda. Conforme os assentados, este programa compra os produtos a preços mais elevados, o que implica na melhoria da renda destes. Este resultado está em concordância com estudos realizados pelo IPEA e por Gomes da Silva e Bastos (2006) que, em uma avaliação geral sobre o programa constataram um aumento da renda dos participantes. Contudo, verificou-se que em alguns casos, o aumento da renda não foi tão significativo, mas para os agricultores que vivem em situações, muitas vezes precárias, este acréscimo favorece o consumo de artigos que anteriormente, não eram adquiridos; até mesmo os essenciais como remédios. Também foi observado que o programa facilitou a comercialização dos produtos, pois o agricultor não precisa sair de casa para vendê-los, e assim não precisa ter outros custos como o pagamento de frete. Outro ponto positivo observado foi a satisfação dos agricultores em relação ao programa, pois agora eles têm mais uma opção para a comercialização dos seus produtos, podendo escolher para quem desejam vender: PAA, atravessadores e feira livre. Este programa também estimula a melhoria no cultivo dos produtos, já que os alimentos podem ser consumidos pelos próprios agricultores e seus familiares em hospitais, escolas e creches. 16 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Um ponto fraco verificado é o baixo limite de compra por família e a espera para recebimento do pagamento, que poderia ser imediato. Espera-se que a partir deste trabalho, outros estudos mais aprofundados sejam realizados para esclarecer questionamentos que não foram abordados, como: custos de produção, economia realizada pelas instituições que receberam as doações, entre outros. Referências BALSADI, O. V. Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar: os primeiros resultados obtidos em 2003. In: Informações Econômicas, SP, v.34, n.5, maio 2004. BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Lei N° 10.696, de 02 de julho de 2003. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 04 jan 2008. BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Seleção Pública de Proposta para Apoio a Projetos de Compra Direta Local da Agricultura Familiar. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/programas/editais>. Acesso em: 20 abril 2008. GOMES DA SILVA, A. e BASTOS, F. Estudo do impacto do PAA – Regiões Sul e Nordeste: o impacto do PAA no RN. Relatório Final da Pesquisa, UFRN, Mimeo, 2006. MATTEI. L. F. Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA): percepções de atores sociais do estado de Santa Catarina. Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural. SOBER, Anais do Congresso, Londrina, 2007. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). Avaliação do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar – PAA. Brasília, IPEA, 2005 (texto para Discussão nº1145) RIO GRANDE DO NORTE, Marcílio Dantas. Secretaria de Agricultura e Abastecimento do município de Ceará-Mirim. Natal, 05 de maio 2008. Entrevista concedida. 17 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural