Primeiros cuidados em saúde: uma avaliação sumária pessoal Por: Gilson Carvalho * No Brasil, de alguma maneira, sempre foram feitos, no exercício da saúde, os primeiros cuidados. Mais comumente foram focados na assistência e na demanda. O foco pretendido, nas últimas décadas, é mais centrado na prevenção e nas necessidades, o que agregou mais evidências de eficácia. A partir dos estudos que precederam a Alma-Ata e depois de sua declaração, fincaram-se alguns marcos fundamentais que hoje servem de base aos vários programas de primeiros cuidados em saúde. Experiências com este enfoque aconteceram no Brasil, destacando-se a da Fundação SESP (1938), o PIASS (1976), o Movimento Municipalista de Saúde (1976) e, finalmente, o PSF – Programa de Saúde da Família (1994) e suas variações. Em todas as propostas, encontra-se um eixo comum com alguns postulados pétreos: 1) associação de medidas assistenciais com as promocionais, com destaque para o saneamento básico; 2) integralidade do cuidado com promoção, proteção e recuperação; 3) esforço da comunidade com disponibilidade e racionalidade do uso dos recursos; 4) práticas técnicas e socialmente aceitas. Paralelamente a isso, foram sendo criadas outras regras promovidas a pétreas que não deveriam ser, considerando a peculiaridade regional de um Brasil continental, nossas leis e o mercado dos profissionais de saúde. Nestas podemos incluir a carga horária do médico, a forma de escolha, o local de residência dos agentes comunitários de saúde, o número de famílias por equipe. Existe dilema entre o pétreo e o assessório. O desejável e o legal. O possível e o sonho. Vencer estes dilemas é o desafio para os primeiros cuidados em saúde. Concretizar uma proposta intrinsecamente boa e capaz de ser resolutiva, segundo seus princípios. As amarras correm o risco de condenar o programa de primeiros cuidados em saúde ao insucesso ou ao baixo resultado. Uma distância reconhecida entre uma excelente proposta e uma prática sofrível amarrada na inviabilidade fática de acontecer. Gilson Carvalho é pediatra e doutor em Saúde Pública. Escreve o comentário “Domingueira” no site www.idisa.org.br