Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso CURSO DE FISIOTERAPIA LIVIANNE LOPES SILVA TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO DAS DISTOPIAS GENITAIS RECIFE 2011 LIVIANNE LOPES SILVA TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO DAS DISTOPIAS GENITAIS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Fisioterapia, da Faculdade São Miguel, como requisito parcial para obtenção do grau de Fisioterapeuta. ORIENTADORA NEYLA SÚCIE DE MENEZES SALES SIQUEIRA RECIFE 2011 Trabalho julgado adequado e aprovado com conceito A em 11/01/2012. BANCA EXAMINADORA Márcio Botelho Pedrosa Faculdade São Miguel Vilma Sobral Bezerra Faculdade São Miguel Conceito A 1040 Recife n. 2 p.970-1039 2011 Agradeço a Deus, por ter me permitido concluir mais uma etapa em minha vida. Pela amizade, disponibilidade e por todos os momentos que me proporcionam, agradeço aos meus amigos de turma: Júlio Freitas, Gertrudes Alves, Rubenyta Podmelle, Flaviano Gonçalves, Michelle Rayanne, Taciana Wirgínia, Thamiris Veiga e Telma Macambira, sem os quais, eu não teria vivenciado com tanto prazer, estes 4 anos. A todos os meus professores, por terem contribuído na minha formação, dividindo seus conhecimentos. Em especial ao professor José Osnaldo, pelos ensinamentos e pela postura profissional e ética exemplar que possui. À minha orientadora, professora e amiga, Neyla Siqueira, pelas suas valiosas orientações, paciência e disponibilidade. Por ser um exemplo em minha vida, como pessoa e como profissional, demonstrando dedicação e carinho em tudo que faz. Às minhas amigas Cinthia Patrícia e Luana Pedrosa, pelo companheirismo, incentivo e confiança depositada em mim. À minha amiga Carina Batista, pessoa de importância indizível em minha vida, por todos os sentimentos que me proporciona. Todos os momentos de conforto, risadas e incentivo. À minha mãe Lenilza, seu esposo Marcos e meu querido tio Manoel Gregório, pela compreensão nos momentos em que os privei da minha companhia. E pela assistência dada não só durante o curso, mas em vários momentos importantes para mim. À Lourdes Franca, pela confiança, credibilidade e investimento creditados a mim. A todos os mencionados e aos que, por falha humana, não estejam incluídos acima, minha eterna gratidão. “Cada sonho que você deixa para trás é um pedaço do seu futuro que deixa de existir”. Steve Jobs Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1041 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral AGRADECIMENTOS Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso RESUMO O objetivo deste estudo foi estabelecer os efeitos do tratamento fisioterapêutico nas distopias genitais. Apesar de não oferecer risco de morte, as distopias genitais oferecem grande morbidade em mulheres que as apresentam. O tratamento conservador é indicado para os graus mais leves de prolapsos e envolve mudança de hábitos gerais e fisioterapia. Os prolapsos em graus mais avançados são tratados através de procedimento cirúrgico. Porém, a fisioterapia também se faz necessária nos períodos pré e pós-cirúrgicos. Os estudos utilizados nesta pesquisa foram publicados no período de 2000 a 2010, nos idiomas português e inglês, que estivessem relacionados às distopias genitais e seu tratamento, manifestações, fatores de risco, qualidade de vida e incidência. Diante das informações obtidas, fica claro que a fisioterapia é eficaz no tratamento de prolapsos genitais de baixo grau, onde, independentemente do compartimento acometido, os exercícios perineais demonstraram resultados positivos. Tais resultados não se apresentam somente para o tratamento conservador, mas também indicam que a fisioterapia é eficaz como coadjuvante nas correções cirúrgicas. Palavras-chave Fisioterapia. Prolapso genital. Tratamento conservador. Cinesioterapia. Exercícios perineais. ABSTRACT The objective of this study was to establish the effects of physical therapy in genital dystopias. Although not risk of death, genital dystopias offer high morbidity in women who present them. Conservative treatment is indicated for milder degrees of prolapse and involves changing habits and general physiotherapy. Prolapse in the upper grades are treated with surgery. However, physiotherapy is also required prior to and after surgery. The studies used in this research were published in the period 2000 to 2010, in Portuguese and english, which were related to genital dystopias and its treatment, manifestations, risk factors, quality of life and incidence. Given the information obtained, it is clear that the therapy is effective in treating low-grade genital prolapse, where, regardless of the affected compartment, the perineal exercises showed positive results. These results not only show for the conservative treatment, but also indicate that the therapy is effective as an adjunct in the surgical correction. Conceito A 1042 Recife n. 2 p.970-1039 2011 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................7 1. ANATOMIA DO ASSOALHO PÉLVICO.........................................10 1.1 Ossos da pelve.............................................................10 1.2 Musculatura do assoalho pélvico.....................................10 1.2.1 Diafragma pélvico......................................................10 1.2.2 Períneo e diafragma urogenital.......................................12 1.3 Fáscias e ligamentos......................................................15 1.4 Órgãos pélvicos............................................................17 2. BIOMECÂNIA E TEORIA INTEGRAL......................................20 3. DISTOPIAS GENITAIS......................................................22 3.1 Epidemiologia.............................................................22 3.2 Fatores de risco...........................................................23 3.3 Tipos de prolapsos genitais.............................................27 3.4 Classificação...............................................................30 3.5 Manifestações clínicas...................................................35 4. AVALIAÇÃO DO ASSOALHO PÉLVICO...............................38 5. TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO DAS DISTOPIAS GENITAIS....42 5.1 Cinesioterapia.............................................................42 5.2 Eletroestimulação........................................................48 5.3 Ginástica hipopressiva...................................................49 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................52 REFERÊNCIAS..................................................................53 ANEXO........................................................................58 Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1043 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral Key-words Physiotherapy. Genital prolapse. Conservative treatment. Kinesiotherapy. Perineal exercises . Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso INTRODUÇÃO O prolapso genital pode ser definido como o deslocamento inferior dos órgãos pélvicos em direção ao hiato genital decorrente de desarmonia entre as forças de retenção das vísceras pélvicas e as forças que as projetam para fora da pelve. As quais podem ser decorrentes de fatores congênitos, como os de origem neurológica, acarretando paralisia flácida dos músculos do assoalho pélvico (AP), defeitos estruturais ou bioquímicos do tecido endopélvico, ou ainda fatores como: histórico de partos, idade avançada, alterações posturais, obesidade ou prática de atividades que exijam aumentos repetitivos da pressão abdominal, sendo estes mais comuns. (MORENO, 2009) Dentre todos os fatores causais, o parto vaginal é a origem mais comum de lesões do AP. Durante o trabalho de parto, a musculatura do assoalho pélvico (MAP) sofre um significante estiramento de suas fibras, além do suportável. Todas as mulheres, durante o parto vaginal, sofrem algum grau de estiramento em sua musculatura, porém somente algumas experimentam lesões. (ASHTONMILLER & DELANCEY; 2009) Estudos epidemiológicos sugerem que muitas destas mulheres não se recuperam completamente após uma lesão durante o parto, além de terem um risco 11 vezes maior de desenvolverem prolapsos genitais no futuro. (RAHN et al., 2009) Demonstrou-se que a prevalência de prolapsos genitais em mulheres de idade entre 18 e 83 anos é superior a 21%, podendo chegar a 30% em mulheres de 50 a 89 anos. Estima-se que em 2050, o Brasil terá uma população de mulheres idosas de aproximadamente 9 milhões, com idade igual ou superior a 80 anos. Sendo a idade avançada um fator de risco, é esperado que nos próximos 30 anos o número de mulheres que procurarão assistência médica por desordens no AP será duplicado. (RODRIGUES et al., 2008) As distopias genitais podem afetar diretamente a qualidade de vida de mulheres, gerando sintomas urinários, intestinais e sexuais. Os prolapsos de órgãos pélvicos interferem diretamente na atividade sexual. Mulheres com distopias genitais podem ter a libido diminuída e ressecamento vaginal, o que resulta em mais um desconforto, além do que já é provocado pelo abaulamento da parede vaginal. (ZIELINSKI et al., 2009) Conceito A 1044 Recife n. 2 p.970-1039 2011 O sucesso de cirurgias pélvicas para correção de prolapsos ainda é difícil de ser classificado, uma vez que não existe uma definição padrão para se avaliar os resultados do tratamento. Mas de forma subjetiva, a ausência de sintomas após a cirurgia, resulta em uma melhora global que satisfaz a maioria das pacientes submetidas a este tratamento. (BARBER et al., 2010; ABOU-ELELA et al., 2008) Resende et al. (2010), mostram que existe uma forte ligação entre a fraqueza da MAP e o aparecimento de prolapsos. A reeducação do AP tem demonstrado bons resultados no tratamento de prolapsos, visando a diminuição dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida. Verificou-se, após um programa de exercícios perineais e orientações diversas a respeito de hábitos diários, uma diminuição significativa dos sintomas e melhora no estágio do prolapso, diminuição da progressão do prolapso e aumento da força da MAP, sendo o aumento da força muscular verificada não só nas mulheres que realizaram tratamento conservador, mas também no pós-operatório de mulheres submetidas a tratamento cirúrgico. O que sugere que a reeducação do AP é importante até mesmo em pacientes que realizaram cirurgias de correção, pois nestes casos, a fraqueza da musculatura pélvica está associada às recidivas de distopias genitais, enquanto uma musculatura perineal íntegra distancia as chances de novas cirurgias. Este estudo objetiva expor as principais causas de prolapsos de órgãos pélvicos, seus sintomas e classificação, bem como demonstrar os efeitosdo tratamento fisioterapêutico para as distopias genitais. Este estudo foi realizado com base em revisões da literatura. Foram coletados artigos científicos publicados entre 2000 e 2010, nos idiomas português e inglês. As bases de dados LILACS, BIREME, MEDLINE, PUBMED, SCIELO e revistas científicas foram consultadas. Os livros consultados foram referentes ao estudo das distopias genitais, Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1045 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral O tratamento cirúrgico dos prolapsos genitais visa (1) o reposicionamento anatômico da parede vaginal, períneo e cúpula vaginal, (2) o resgate da função da bexiga e do colo vesical e função sexual, (3) garantir a satisfação do paciente, trazendo melhorias na qualidade de vida e diminuindo os desconfortos e (4) a prevenção das complicações. (LEE& RAZ, 2011) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso com período de publicação entre 2000 e 2010, os quais foram inseridos na pesquisa devido à relevância de seu conteúdo teórico. Os artigos que foram incluídos estão relacionados às distopias genitais e seu tratamento, causas, complicações e conseqüências, assim como livros de referência em uroginecologia e ginecologia que abordaram o assunto. Foram excluídas as literaturas que estivessem relacionadas à disfunções do assoalho pélvico em crianças ou homens. 1. ANATOMIA DO ASSOALHO PÉLVICO 1.1 Ossos da pelve A pelve óssea é uma estrutura de grande importância funcional. Está localizada na região inferior do tronco e participa da proteção dos órgãos pélvicos, além de servir de ponto de inserção para os músculos e ligamentos dos membros inferiores e do AP. (DÂNGELO & FATTINI, 2007; MORENO, 2009) Esta estrutura em forma de anel é constituída por quatro ossos: lateral e anteriormente por dois ossos do quadril e posteriormente pelo sacro e cóccix. (ZALPOUR, 2005) Juntos limitam a cavidade pélvica, que por sua vez, é divisível em duas partes: (1) a pelve maior, também chamada de pelve falsa e (2) pelve menor ou verdadeira, separadas por uma linha denominada linha terminal. (SOUZA, 2001) A cavidade pélvica limita-se inferiormente pelo diafragma pélvico, que a divide do períneo. (MORENO, 2009) 1.2 Musculatura do Assoalho Pélvico O AP é um conjunto de estruturas moles, constituído por ligamentos, fáscias e músculos. Estas estruturas, atuando em sinergia, promovem a sustentação e suspensão dos órgãos pélvicos e abdominais, a manutenção da continência fecal e urinária, além de participar da função sexual. (OLIVEIRA, 2006) A musculatura do AP pode ser dividida em: diafragma pélvico, constituído pelos músculos pubococcígeo, íliococcígeo e puborretal (juntos formam o levantador do ânus) e coccígeo; e diafragma urogenital, formado pelos músculos Conceito A 1046 Recife n. 2 p.970-1039 2011 1.2.1 Diafragma pélvico O diafragma da pelve localiza-se entre os ossos púbicos (na região anterior) e o cóccix (na região posterior) e lateralmente entre os ossos da pelve, tornando-a uma estrutura em formato de funil (MOORE et al., 2010). O músculo levantador do ânus é fundamental no auxílio à contensão dos órgãos pélvicos e abdominais, além de ter função no suporte uterino e no controle da defecação, micção e continência fecal. É constituído pelos músculos pubococcígeo, puborretal e iliococcígeo (Figura 1). (BARACHO, 2007; MOORE et al., 2010) Figura 1: Diafragma Pélvico (vista anterior) Fonte: Adaptado de Atlas Interativo de Anatomia Humana O pubococcígeo é a estrutura mais importante do elevador do ânus, originando-se na região posterior do corpo do osso púbico e seguindo posteriormente, quase horizontalizado por completo, em direção ao cóccix (MORENO, 2009). Apresenta várias inserções, na mulher, parte das fibras Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1047 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral bulboesponjoso, transverso superficial do períneo, e ísquiocavernoso. (MOORE & AGUR, 2004; MOORE et al., 2010) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso da face medial, estão inseridas na vagina e na uretra, outra parte as envolve, unindo-se com o músculo contralateral. Há ainda algumas fibras que se inserem no centro tendíneo do períneo, passando por trás da vagina. (STRANDRING, 2010) O puborretal consiste em uma faixa muscular mais espessa, saindo da região do corpo púbico em direção ao cóccix. Unindo-se com o mesmo músculo do lado oposto, forma uma faixa muscular em forma de arco e passa posteriormente ao ponto de junção anorretal. (MORENO, 2009; STRANDRING, 2010) O iliococcígeo é a porção posterior do músculo levantador do ânus, origina-se na espinha do ísquio e no arco tendíneo do levantador do ânus, inserindo-se no cóccix. Assim como as outras porções, une-se ao seu homólogo e forma uma estrutura em forma de “U”. Comumente é pouco desenvolvido, sendo uma faixa muscular menos espessa. (MOORE & AGUR, 2004; MORENO, 2009; STRANDRING, 2010) O músculo coccígeo localiza-se dorsalmente ao iliococcígeo. É uma estrutura de forma triangular, originando-se na espinha isquiática, insere-se no cóccix e região inferior do sacro. Pode se apresentar como faixas tendíneas em algumas porções (Figura 2). (STRANDRING, 2010) Figura 2: Diafragma pélvico (vista inferior) Fonte: Adaptado de Atlas interativo de anatomia humana Conceito A 1048 Recife n. 2 p.970-1039 2011 O períneo é o ponto mais inferior do tronco, localizado entre a região glútea e as coxas. É a região situada entre a sínfise púbica, os túberes isquiáticos e o cóccix, formando assim, uma área em forma de losango. Para uma melhor descrição anatômica, pode ser dividido transversalmente por uma linha imaginária que vai de uma tuberosidade isquiática a outra, formando dois triângulos, dividindo a área perineal em região anterior e posterior: trígono urogenital ou anterior e trígono anal ou posterior, respectivamente (Figura 3). Estes podem ser divididos em regiões externa e interna; a região interna, por sua vez, é divisível em superficial e profunda. Ao centro da linha que divide os trígonos, existe uma região fibrosa, chamada centro tendíneo do períneo, ponto importante na sustentação dos órgãos pélvicos, pela inserção de várias estruturas. (MOORE et al., 2010; SOUZA, 2001) Figura 3: Região perineal Fonte: Adaptado de Atlas interativo de anatomia humana Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1049 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral 1.2.2 Períneo e diafragma urogenital Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Internamente, o trígono urogenital, na região superficial, é formando pelos ramos do clitóris, os bulbos vestibulares, glândulas vestibulares maiores, estruturas como vasos sanguíneos e nervos. (MOORE et al., 2010) Além dos músculos: (JUNQUEIRA JÚNIOR et al., 2003; LIPPERT et al., 2002) -Ísquiocavernoso: recobre a raiz do clitóris, localiza-se ao lado do períneo, origina-se na tuberosidade isquiática e se insere posteriormente na raiz do clitóris. Tem ação importante na manutenção da ereção do clitóris, retardando o retorno venoso pela compressão da raiz do mesmo. -Bulboesponjoso: reveste as partes laterais dos bulbos vestibulares e se insere posteriormente no centro tendíneo do períneo, unindo-se ao esfíncter externo do ânus. -Superficial transverso do períneo: pequeno fascículo, originando-se na tuberosidade isquiática, insere-se no centro tendíneo do períneo, onde se une como músculo do lado oposto, o bulboesponjoso e o esfíncter externo do ânus (Figura.4). Figura 4: Região perineal Fonte: Adaptado de Atlas interativo de anatomia humana Conceito A 1050 Recife n. 2 p.970-1039 2011 -Transverso profundo do períneo: origina-sena região inferior do ísquio, passando para a linha média, onde se une ao músculo homólogo do lado oposto. Anteriormente, era descrito como constritor da uretra, porém hoje já tem uma divisão descritiva que separa este músculo do esfíncter da uretra. -Esfíncter da uretra: é uma estrutura muscular que envolve a uretra na sua porção membranácea, contida na fáscia do diafragma urogenital. As suas fibras internas circundam a uretra e a revestem continuamente. Enquanto as fibras mais externas originam-se no ponto onde o ramo do ísquio une-se ao ramo púbico. Passa pela região anterior da uretra e segue posteriormente, onde se une com o músculo do lado oposto, o bulboesponjoso e o esfíncter externo do ânus. No trígono posterior encontra-se, ao centro, o canal anal. Este passa pelo diafragma pélvico, formando um orifício no mesmo. Ao final do canal anal está o músculo esfíncter externo do ânus. Em ambos os lados deste músculo, existe uma região preenchida por tecido conjuntivo e adiposo, as fossas isquioanais ou isquiorretais, as quais suportam o canal anal, juntamente com o ligamento anococcígeo. As porções posteriores do músculo elevador do ânus também podem ser encontradas na região do trígono anal. (MORENO, 2009; STRANDING, 2010) 1.3 Fáscias e Ligamentos De acordo com Moreno (2009), as estruturas que mantém o suporte das vísceras são diferentes das estruturas ligamentares dos músculos esqueléticos. Nas fáscias pélvicas, entendem-se como ligamentos, as áreas mais espessas e de maior tensão. Recobrindo o diafragma pélvico, encontra-se a fáscia endopélvica. Sua face visceral tem papel importante na fixação dos órgãos às paredes pélvicas, assim como, também atua na suspensão visceral. Esta fáscia passa bilateralmente ao útero e à vagina; na região distal, une-se ao músculo levantador do ânus. Na porção que corresponde à parede anterior da vagina, a fáscia endopélvica recebe Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1051 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral Profundamente, o períneo apresenta a porção proximal da uretra, nervos e vasos sanguíneos e os músculos: (MOORE et al., 2010; STRANDRING, 2010) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso o nome de fáscia pubocervical; inserindo-se distalmente ao redor da uretra e vagina; proximalmente, circundando a região cervical e bilateralmente, na linha branca. Desta forma,(vírgula) atua no suporte da parece anterior da vagina, assim como seus órgãos correspondentes. Na porção da parede posterior da vagina, recebe o nome de fáscia retovaginal. Insere-se no corpo do períneo, distalmente; lateralmente na fáscia do Íliococcígeo e proximalmente aos ligamentos cardinais e uterossacros. (BARACHO, 2007; MORENO, 2009) A fáscia menbranácea da pelve é dividida em visceral e parietal. A fáscia parietal é uma fina camada membranácea que reveste a face interna das estruturas que formam as paredes pélvicas e o AP, cobrindo as faces dos músculos levantador do ânus, piriforme, obturador interno e coccígeo. Segue continuamente na região superior da cavidade pélvica com as fáscias transversal e iliopsoas. (MOORE et al., 2010) Já a fáscia visceral contém a fáscia membranácea que reveste os órgãos pélvicos até o ponto onde estes penetram o AP e, então, a membrana se espessa e forma o arco tendíneo da fáscia da pelve, que se estende bilateralmente adjacente às vísceras. (MOORE et al., 2010; STRANDRING, 2010) Atuando em sinergia com a musculatura pélvica, os ligamentos e fáscias promovem a sustentação e suspensão dos órgãos pélvicos (OLIVEIRA, 2006). Para que os mesmos sejam mantidos em seu posicionamento normal, é necessário que haja a fixação através de estruturas ligamentares. (CALAISGERMAIN, 2005) O útero possui 4 ligamentos importantes que lhe garantem estabilização. Estes são: -Ligamento redondo: é uma estrutura achatada, presente bilateralmente, fixada na borda lateral do útero, abaixo da entrada da tuba uterina. Segue lateral e anteriormente na cavidade pélvica, passando pelo canal iguinal. (MOORE et al., 2010). -Ligamentos largos: são duas lâminas fibrosas, também compostas por tecido muscular liso, que se estendem das regiões laterais do útero até as paredes laterais da pelve e AP. Juntamente com o útero, formam duas cavidades na região pélvica, dividindo-a em fossa vesicouterina, anteriomente e fossa retouterina, posteriormente. Participam da manutenção do útero em sua posição normal. Conceito A 1052 Recife n. 2 p.970-1039 2011 -Ligamento cardinal (transverso do colo uterino): é uma lâmina fibrosa resultante de um espessamento da fáscia subserosa inserida bilateralmente na região inferior da vagina e do colo. As partes das fáscias anteriores e posteriores da vagina e do colo unem-se lateralmente a estes órgãos, formando duas faixas, uma de cada lado que se estendem pelo AP, até se inserirem na fáscia do músculo coccígeo, levantador do ânus e piriforme. (JUNQUEIRA JÚNIOR et al., 2003; STRANDRING, 2010) -Ligamento uterossacro: é uma fita fibrosa advinda da fáscia subserosa, traçando um trajeto do colo do útero até o sacro. O ligamento uterossacral é uma continuidade do tecido que dá origem ao ligamento cardinal. Insere-se no periósteo do sacro e possui uma porção de musculatura lisa, chamada de retouterino. Bilateralmente, os ligamentos seguem pelas paredes pélvicas e estreitam a cavidade pélvica até a região anterior do reto que é chamado de fundo-de-saco de Douglas. (MOORE et al., 2010; STRANDRING, 2010) Assim como o útero, a bexiga urinária também depende de estruturas acessórias para manter sua situação normal, que se inserem em sua base e seu vértice. São eles, os principais: (STRANDRING, 2010) -Ligamento pubovesical: feixes fibrosos, que contém ou não, fibras musculares, fixados na parede da bexiga e ao osso púbico; -Ligamento retovesical: fitas fibrosas que também podem conter porções de fibras musculares, originadas a partir do espessamento da fáscia subserosa. Fixadas à base da bexiga, ao reto e sacro. O aparelho de sustentação do reto depende basicamente das seguintes estruturas: (STRANDRING, 2010) -fáscia retossacral: a fáscia superior do diafragma pélvico. Em sua porção superior (visceral), circunda o reto e passa em sentido posterior, prendendo-se ao sacro; Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1053 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral Além disso, também envolvem a tuba uterina, os ligamentos redondos, ováricos, parte dos ureteres, estruturas nervosas e vasos sanguíneos correspondentes. (STRANDRING, 2010) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso -ligamentos laterais do reto: são dois espessamentos de tecido conectivo que unem o reto à fáscia pelvina parietal; dividem, assim, o espaço perirretal em anterior e posterior. 1.4 Órgãos pélvicos Na região da pelve menor, encontram-se duas vísceras voltadas para o períneo anterior: a bexiga (com uretra) e o útero (com vagina); e em direção ao períneo posterior, encontra-se o reto (com canal anal). Estas vísceras se dispõem como um encaixe, umas sobre as outras: o reto apoiando-se sobre o cóccix e levantador do ânus; a vagina sobre o reto; o útero sobre a bexiga e esta sobre a vagina. Esta disposição contribui para que, em condições normais, as vísceras mantenham-se estáveis. (CALAIS-GERMAIN, 2005) Superiormente, as vísceras são suspensas pelo peritônio, o qual as recobre. Inferiormente, são sustentados pelos músculos do AP, sendo estes, estruturas elásticas e flexíveis. Desta forma, a sustentação e estabilização das vísceras pélvicas dependem de vários fatores que atuam em conjunto. Se há alguma alteração em um dos fatores, ocorrerão desequilíbrios na situação das vísceras pélvicas. (CALAIS-GERMAIN, 2005) A vagina é o órgão genital feminino, um canal presente entre o vestíbulo e o útero. Estende-se inferiormente e para frente, paralelamente a abertura superior da pelve, num plano de aproximadamente 60° da horizontal. Com a bexiga vazia, este ângulo é de aproximadamente 90° do eixo uterino. Situa-se entre a bexiga, uretra e reto. Suas paredes, anterior e posterior, são comumente distensíveis; as paredes laterais estão fixadas superiormente no ligamento cervical e inferiormente no diafragma pélvico, sendo assim, mais rígidas. Na maioria das mulheres virgens, a porção distal da vagina é parcialmente fechada por uma membrana chamada de hímem, que, comumente, possui formato de anel. É sustentada posteriormente pelo reto, além de ser aderida ao músculo transverso profundo do períneo. Superiormente é encaixada e fixada no músculo levantador do ânus, este se torna sua sustentação mais forte, a qual, se enfraquecida, ocasiona prolapso uterino. A vagina é um forte ponto de sustentação do útero. (DÂNGELO & FATTINI, 2007; GERMAIN, 2005; STRANDRING, 2010) Conceito A 1054 Recife n. 2 p.970-1039 2011 A bexiga urinária é uma estrutura oca, de formato arredondado, musculomembranosa responsável pelo armazenamento temporário de urina. Está situada na cavidade pélvica, onde sua região anterior repousa sobre a sínfise púbica e a posterior relaciona-se com o útero e a vagina. É revestida internamente por tecido epitelial de transição e externamente por uma camada de tecido muscular lisa, denominada músculo detrusor. A bexiga é mantida e estabilizada por ligamentos inseridos em suas paredes que vão até as estruturas estáveis da cavidade pélvica, dando-lhe suporte, porém permitindo mobilidade para as alterações morfológicas que ocorrem durante as fases de enchimento e esvaziamento do ciclo miccional. (DÂNGELO & FATTINI, 2007; LIPPERT et al., 2002) A uretra feminina é um canal distensível com cerca de 4 cm de comprimento, situada entre o colo vesical e o óstio da uretra, no vestíbulo da vagina. Perfura o diafragma urogenital e está posicionada posteriormente à sínfise púbica e contida na parede anterior da vagina, aderidas entre si por meio de um tecido fibroso. É o local de passagem da urina no momento do esvaziamento vesical. Suas paredes permanecem em contato quando não estão distendidas. (GERMAIN, 2005; DÂNGELO & FATTINI, 2007; JUNQUEIRA JUNIOR et al., 2003) O reto é a parte final do tubo digestivo situado entre o cólon sigmóide e o canal anal. Mede cerca de 15 cm de comprimento e é responsável pelo armazenamento do bolo fecal até o memento da evacuação, onde ocorre seu esvaziamento. Situa-se na frente do sacro e cóccix e na mulher, está ventralmente em relação à parede posterior da vagina. É altamente distensível e sua porção Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1055 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral O útero é um órgão muscular oco, de paredes espessas, localizado na cavidade pélvica entre a bexiga e o reto. Tem formato piriforme, mede cerca de 7,5 centímetros (cm) de comprimento e, em condições normais, mantém-se em flexão anterior, sobre a bexiga, na maioria das virgens adultas. É dividido em colo e corpo, onde o corpo corresponde à parte do órgão de extremidade livre, que se prolonga ao abdome. E o colo à porção entre a entrada do corpo do útero e a vagina. É mantido em seu posicionamento apoiado na bexiga, especialmente quando esta se encontra vazia, pela vagina, seu ponto de apoio; e por seus ligamentos. (GERMAIN, 2005; JUNQUEIRA JÚNIOR et al., 2003; MOORE et al., 2010) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso mais ampla é chamada ampola retal. É circundado por importantes estruturas que auxiliam no seu posicionamento e função, como, por exemplo, o músculo puborretal. É mantido em sua parte alta, pelo peritônio, no qual, se adere. Na sua porção mais baixa, é parcialmente sustentado pelo músculo levantador do ânus, pois, embora seja circundado por este, não se adere às suas fibras, para que seja possível uma alteração em seu volume. (DÂNGELO & FATTINI, 2007; GERMAIN, 2005; MOORE & AGUR, 2004) 2. BIOMECÂNICA E TEORIA INTEGRAL Através dos estudos sobre as estruturas pélvicas, o AP passou a ser visto como uma única estrutura. A teoria integral relaciona estreitamente a anatomia com a função. Onde forças opostas geradas pela musculatura, ligamentos e fáscias, resultam em funções ou disfunções dos órgãos pélvicos. Desta forma, ocorrendo qualquer alteração nas tensões da MAP, fáscias e ligamentos, ocorreram, também, disfunções como alterações miccionais incluindo incontinência urinária, constipação intestinal, incontinência fecal e prolapsos genitais. De acordo com a teoria integral, os elementos pélvicos atuam em conjunto nos mecanismos de evacuação, micção e continência. (BARACHO, 2007) A visão do AP como uma única estrutura defende que em repouso existe em equilíbrio entre as tensões das estruturas e assim, quando preservadas, neutralizam as forças exercidas nas vísceras pélvicas, em sentido caudal, que as direcionam para o hiato genital. (BARACHO, 2007; RIBEIRO et al., 2001) A MAP é divisível em camadas superior, intermediária e inferior. A camada superior é formada pelos músculos pubococcígeo, que realiza contração em direção anterior e músculo elevador do ânus, que realiza contração em direção posterior. Desta maneira, a camada superior realiza contração horizontal; a camada intermediária realiza contração em sentido caudal através do músculo longitudinal do ânus, promovendo angulações da vagina, reto e corpo vesical; a camada inferior tem contração horizontal, pelo diafragma urogenital e exerce papel fundamental da estabilização do aparelho genital feminino. (BARACHO, 2007) Quando ocorre a contração do músculo levantador do ânus, a vagina, a uretra e o reto são deslocados para frente, este mecanismo garante a Conceito A 1056 Recife n. 2 p.970-1039 2011 3. DISTOPIAS GENITAIS Distopia genital é a descida total ou parcial de uma (ou mais) víscera(s) pélvica(s) em consequência de relaxamento ou lesão de suas estruturas de sustentação (GERMAIN, 2005). É um problema relativamente comum entre as mulheres idosas, embora seja encontrado também em mulheres jovens, com menos frequência. (BASTOS, 2006) 3.1 Epidemiologia Os prolapsos genitais têm incidência maior em mulheres idosas e multíparas. (MORENO, 2009) Estima-se que metade das mulheres multíparas apresenta algum grau de prolapso genital, porém apenas 10 a 20% destas, procuram atendimento médico. Por este motivo, torna-se difícil determinar sua incidência. (THAKAR & STANTON, 2002) De acordo com Hove et al. (2010), cerca de 75% das mulheres de paridade e idade variadas são acometidas, mas como em muitos casos, o POP é assintomático, a obtenção de maiores informações a respeito é prejudicada. A prevalência cresce proporcionalmente com o avanço da idade, acometendo 21,7 % das mulheres entre 18 e 83 anos e 30% das mulheres com idades entre 50 e 89 anos. (RODRIGUES et al., 2008) A partir dos 79 anos existe Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1057 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral continência urinária e fecal. Quando há aumento de pressão intra-abdominal, o músculo levantador do ânus mantém sua contração e a mobilidade das vísceras é mínima. Sendo assim, a incapacidade de contrair-se constantemente, do músculo levantador do ânus, gera impulsão dos órgãos pélvicos para baixo, estirando as fáscias e ligamentos, o que acarreta protrusão das vísceras através da parede vaginal. (MORENO, 2009; RIBEIRO et al., 2001) A vagina possui, também, função de suporte para os órgãos e vísceras pélvicas. Em seu terço proximal, está suspensa à fáscia do sacro através dos ligamentos uterossacros e cardinais, esta porção, na parede vaginal posterior, impede o descenso do intestino delgado, no fundo de saco de Douglas, e oferece suporte ao colo uterino. Em seu terço médio, está inserida na fáscia da musculatura pélvica, esta porção suporta a bexiga. E no terço distal ou inferior, as paredes encontram-se fundidas com o intróito vaginal e, nesta altura, a parede anterior garante suporte à uretra. (MORENO, 2009). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 11% de chance de as mulheres serem submetidas a uma cirurgia para correção de prolapso de grau avançado. (HOVE et al., 2010) Comparando-se a prevalência entre as raças étnicas, há uma importante propensão ao aparecimento de POP sintomático em mulheres brancas, cerca de 4 a 5 vezes mais, quando comparadas às mulheres afroamericanas. Quando a comparação é definida através da ultrapassagem do prolapso pelo anel himenal, as mulheres brancas apresentam um risco 40% maior do que as afroamericanas. Não há uma diferença significativa entre as raças, quanto ao grau do prolapso. (WHITCOMB, 2009) Em relação à paridade, Hove et al. (2009), relataram uma associação importante entre o estágio do prolapso e paridade igual a 2; já com paridade igual ou superior a 3, não há uma associação importante. 3.2 Fatores de risco Há uma considerável variabilidade individual na predisposição dos prolapsos genitais. Suas causas são multifatoriais e podem ser divididas em intrínsecas e extrínsecas. Independentemente do fator causal, as consequências sempre vão se apresentar a partir da diminuição do suporte das vísceras pélvicas (PATEL et al., 2006; OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) Sabe-se que a descida dos órgãos ocorre, na maioria das vezes, devido a perda de suporte do AP, bem como o alargamento do hiato genital. (BARACHO, 2007; OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) Os fatores intrínsecos que predispõem ao relaxamento do AP são, principalmente: 1. Fator genético: há indícios de que fatores genéticos associados a outros fatores seja um fator de risco. (RODRIGUES et al., 2008) De acordo com Baracho (2007), a hereditariedade é o principal fator para defeitos do tecido conjuntivo, onde uma mulher, com histórico de POP na família, tem um risco três vezes maior de desenvolver distopias genitais, independentemente da idade, paridade ou peso do bebê. 2. Raça: Rodrigues et al. (2008), em seu estudo caso-controle com 316 mulheres brasileiras, devido a grande miscigenação encontrada no Brasil, classificou-as em brancas e não-brancas. Dentre as não-brancas estavam as mulheres mulatas, negras e amarelas. Nas mulheres com prolapsos em estádio 0 e 1, mais de 58% eram brancas, contra 41,6% não-brancas. A mesma diferença Conceito A 1058 Recife n. 2 p.970-1039 2011 3. Alterações no tecido conjuntivo: dentre as diversas teorias sobre a fisiopatologia das distopias genitais, é importante considerar o fator constitucional dos tecidos. Uma frouxidão dos ligamentos, fáscias e músculos pode ser causada por fatores intrínsecos da composição dessas estruturas de suporte. (FELDNER JÚNIOR et al., 2008; BASTOS, 2006) O metabolismo anormal do colágeno tem sido notado em mulheres com prolapsos genitais, muito provavelmente associado a fatores congênitos. (OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) Segundo afirmação de Baracho (2007), alterações na composição do colágeno predispõem ao surgimento de POP pelo fato da fáscia endopélvica ser composta por colágeno tipo I e tipo III. Ribeiro et al. (2001) relata que as mulheres jovens com distopias genitais têm maior incidência de doenças do tecido conectivo. Num relato de caso, Rodrigues et al. (2001) analisou a correlação das alterações do sistema de fibras elásticas com o funcionamento do AP. A análise histopatológica do ligamento redondo do útero, com feixes musculares lisos e tecido conjuntivo, de uma jovem de 18 anos, virgem e nuligesta, demonstrou que, no tecido muscular liso, as fibras elásticas se apresentam tortuosas e desorganizadas. No tecido conjuntivo, várias fibras elásticas espessas se mostraram tortuosas e fragmentadas. Estas fibras são responsáveis pela elasticidade do tecido. Não foram observadas fibraselásticas mais finas, que auxiliam na resistência dos tecidos. No ligamento útero-sacro foram observados feixes musculares envolvidos por fibras elásticas espessas, estas agrupadas e tortuosas. As fáscias se mostraram com fibras elásticas espessas e distribuição homogênea, porém com presença rara de fibras elásticas finas, as oxitalânicas. Estas alterações encontradas são semelhantes às alterações encontradas em tecido conjuntivo envelhecido e podem ser decorrentes de defeitos da elastogênese ou aumento da atividade elastolítica, o que torna a fáscia endopélvica frouxa e menos complacente, favorecendo os prolapsos genitais. 4. Alterações neurológicas: embora o fator obstétrico seja uma causa mais Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1059 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral se mostrou no grupo de mulheres com prolapsos em estádio 3 e 4, onde 63,6% eram brancas e 36,4% eram não-brancas. Estes resultados combinam com as informações obtidas por Whitcomb (2009), que verificou que as mulheres brancas têm uma propensão de 4 a 5 vezes mais de aparecimento de prolapsos, em relação a mulheres afroamericanas. Baracho (2007) enfatiza que estudos com cadáveres femininos indicam que as mulheres brancas têm estruturas pélvicas menos espessas e densas. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso frequente do POP, esta disfunção também pode se apresentar em mulheres nulíparas e/ou virgens. Isso pode se ocorrer por vários motivos, entre eles, alterações neurológicas. A espinha bífida, oculta ou evidente, mielodisplasia, e distrofia muscular sãocondições que proporcionam deficiência na inervação pélvica e perineal, o que ocasiona distrofia da MAP, assim como do aparelho de suspensão composto por estruturas conjuntivas. (BASTOS, 2006; BARACHO 2007) 5. Alterações esqueléticas: a posição da pelve óssea e da coluna pode desempenhar um fator de risco. (FRITEL et al., 2009) Existem evidências que alterações no eixo formado pela pelve e pela coluna podem estar associados ao aparecimento de POP, como redução da lordose lombar, que direciona o peso das vísceras abdominais e pélvicas para o AP, obrigando-o a suportar uma carga maior. Outra característica óssea associada ao prolapso genital é a horizontalização do diâmetro pélvicoque favorece desordens do AP. (BARACHO, 2007; OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) Stein et al. (2009) comparou as dimensões ósseas da pelve em mulheres com e sem prolapsos genitais e concluiu que estatisticamente não há uma diferença relevante entre os grupos. 6. Efeitos hormonais: o hipoestrogenismo do período da pós-menopausa é um fator causal, tanto pela diminuição da densidade óssea que acarreta osteoporose e, consequentemente, causa alterações posturais, quanto pela perda de elasticidade dos tecidos conectivos; além de causar alterações na manutenção do tônus basal da musculatura. No período pré-menstrual, as queixas das manifestações clínicas aumentam proporcionalmente à diminuição de estrogênio e aumento de progesterona, refletindo-se como relaxamento da musculatura lisa. (BARACHO, 2007; OLIVEIRA & CARVALHO, 2007; RIBEIRO et al., 2001) 7. Idade: as distopias genitais incidem, principalmente, em mulheres idosas. A provável explicação é a deficiência de estrogênio e o próprio envelhecimento que por si só, contribui com fatores causais comuns associados à idade avançada, por exemplo: relaxamento das estruturas do AP e atrofia genital. Também associadas à idade, existem as alterações das curvaturas da coluna, oque pode predispor ao prolapso pelo fato de gerar um redirecionamento da pressão intra-abdominal para o AP. (MORENO, 2009; WEEMHOFF, 2010) Cada ano de aumento na idade é associado a um aumento de 12% de chances de desenvolver prolapsos; além de que a incidência de prolapsos duplica-se a cada Conceito A 1060 Recife n. 2 p.970-1039 2011 Como fatores extrínsecos, os principais são: 1. Gravidez: no período da gestação existe um aumento significativo da progesterona, produção de relaxina e relaxamento da musculatura lisa e tecido conjuntivo; além do peso do útero gravídico que aumenta a pressão intraabdominal sobre o AP, causando desordens anatômicas como estiramento excessivo, alterando sua função. (OLIVEIRA & CARVALHO, 2007; BARACHO, 2007; MORENO, 2009) As alterações hormonais afetam a remodelagem do colágeno, bem como o diâmetro e orientação de suas fibras. Estes efeitos afetam a propriedade elástica da parede vaginal e dos músculos perineais, preparando o corpo da mulher para o parto, ou seja, alargando o hiato genital e promovendo relaxamento dos tecidos para a passagem do feto. A descida da mucosa vaginal é crescente e proporcional à evolução da gestação. Tais alterações contribuem para o aumento do risco de desenvolver prolapsos, este risco cresce quando somado às lesões causadas nas estruturas moles da pelve, pelo parto. (ASHTONMILLER & DELANCEY, 2009; BARACHO, 2007) 2. Parto:os prolapsos têm grande incidência nas mulheres multíparas; quando comparadas a mulheres nulíparas, o risco de desenvolver POP cresce quase três vezes mais; associando ao número de partos, o risco cresce oito vezes para mulheres com pelo menos dois partos e quatro vezes para mulheres com um parto. O elevado número de paridade está associado à prolapsos genitais e o parto vaginal pode gerar danos ao tecido conjuntivo, à musculatura e à inervação do AP. Sabe-se que o parto vaginal associado a outros fatores como período prolongado de expulsão e grande esforço durante a passagem do feto é um importante fator de risco, porém só a descida do feto já é suficiente para gerar danos aos ligamentos cardinais e uterossacros, predispondo ao relaxamento pélvico. Discute-se que apenas um parto vaginal contribua para o prolapso e que a cesariana eletiva seria uma forma de prevenção. Por outro lado, estudos mostram que o trauma do parto se dá, não só no momento de expulsão fetal, mas desde a primeira fase do trabalho de parto, o que sugere que uma cesariana indicada da fase ativa do parto não é totalmente eficaz na prevenção de prolapsos. A maior diferença entre mulheres que tiveram parto vaginal e mulheres nulíparas diz respeito aos sintomas, as mulheres sem filhos os relatam com menos frequência. (BARACHO, 2007; MORENO, 2009; RIBEIRO, 2001; Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1061 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral década de vida, entre 20 e 59 anos, segundo Berek (2008). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso ASHTON-MILLER & DELANCEY, 2009) 3. Peso do bebê:a circunferência craniana e o tamanho do feto são importantes fatores de risco,considerando que um bebê maior e/ou mais pesado irá gerar uma pressão ainda maior sobre as estruturas do AP durante a gestação. Da mesma forma, um feto de circunferência craniana maior, gera um estiramento mais agressivo das paredes vaginais e tecidos pélvicos. Existe um aumento de 24% na prevalência de prolapsos a cada 500 g de aumento no peso dos bebês em partos vaginais. (BARACHO, 2007; RODRIGUES et al., 2008; MORENO, 2009) 4. Aumento da pressão intra-abdominal:várias situações que aumentam a pressão intra-abdominal predispõem às distopias genitais, como, por exemplo, obesidade, doença pulmonar com tosse crônica e atividades que exijam esforço abdominal frequente e/ou mantido, produzindo progressivo relaxamento da MAP. Sendo assim, mulheres nulíparas também podem apresentar sintomas de distopias genitais. (MORENO, 2009; BARACHO, 2007) Kudish et al.(2009) realizou uma análise a fim de correlacionar os efeitos da mudança de peso com o possível avanço ou regressão do POP. Verificou-se que, em 5 anos, todas as mulheres estudadas aumentaram o peso e associada a isso, houve uma progressão na taxa global do prolapso. Mulheres com obesidade ou sobrepeso, comparadas com mulheres de Índice de Massa Corpórea (IMC) normal, tiveram um aumento de 24% do risco para cistocele, 21% para retocele e 23% para prolapsos uterinos. Observou-se ainda que a perda de peso não está relacionada à regressão do prolapso, sugerindo que os danos ao AP causados por aumento de peso podem ser irreversíveis. 5. Trauma cirúrgico:todas as mulheres têm um risco de 11% de sofrer uma correção cirúrgica de distúrbios do AP e 29% de sofrer uma nova cirurgia posteriormente. Estas cirurgias podem desencadear surgimento de prolapsos em outra região da vagina, que não a região operada. As chances de ocorrência de prolapsos genitais são de 5 vezes mais em mulheres que se submeteram a histerectomia, provavelmente devido às lesões causadas nas estruturas de suporte pélvico. Estudos mostram que a incidência de reparos cirúrgicos de distopias genitais é significativamente maior em mulheres submetidas à histerectomia indicada por prolapso e ainda maior em mulheres que sofreram histerectomia por conta do prolapso. (BARACHO, 2007; LEE & RAZ, 2011; Conceito A 1062 Recife n. 2 p.970-1039 2011 3.3 Tipos de prolapsos genitais Os prolapsos são denominados de acordo com a estrutura que está localizada logo atrás da porção vaginal que sofreu a distopia. Sendo assim, pode-se diferenciar os prolapsos em: uretrocele, cistocele, miocele, enterocele e retocele, que podem apresentar-se em diferentes graus. Os prolapsos de parede vaginal anterior são a cistocele (bexiga) e uretrocele (uretra), ou ainda uretrocistocele, quando há uma descida da bexiga e uretra, associadas. (MORENO, 2009) A cistocele é a queda da bexiga causada pela perda do suporte da mesma. Apresenta-se como uma herniação na parede vaginal anterior (Figura 5). É comum ocorrer cistocele quando há um enfraquecimento ou rotura do tecido conjuntivo ou da musculatura que a suporta. (BEREK, 2008) Figura 5: Prolapso de bexiga em último grau. Fonte: http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSdid_ PGQ1DYMhGsNB9rjWnI6ydRVv_-lIw5X79TAH5rBCC1y9t Quando há uma descida do terço distal (4cm) da parede anterior da vagina, caracteriza-se uma uretrocele. É comumente acompanhada de prolapso de bexiga, sendo raro seu surgimentoisolado. A uretrocistocele é a forma mais comum de prolapso genital e decorre, principalmente, de uma ruptura da fáscia pubocervical. (BEREK, 2008; MORENO, 2009; THANKAR & STANTON, 2002) As distopias da região apical da vagina são: prolapso de útero e enterocele. Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1063 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral RODRIGUES et al., 2008; BARBER et al., 2009) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso O prolapso de útero está associado à ruptura ou estiramento dos ligamentos uterossacros e cardinais em conjunto ou não com lesões do AP, na maioria das vezes, causadas pelo parto ou histerectomia. Em condições normais, o colo uterino está localizado na porção superior da vagina. O prolapso uterino caracteriza-se pela descida do colo em direção ao anel himenal, podendo, em casos avançados, exteriorizar-se por completo através da fenda genital (Figura 6). É a segunda forma mais comum de distopia genital. (MORENO, 2009; BEREK, 2008; BASTOS, 2006; THANKAR & STANTON, 2002; UZOMA & FARAG, 2009; DOSHANI et al., 2007) Figura 6: Prolapso de útero em último grau. Fonte: http://www.drbayma.com/wp-content/uploads/2011/08/0-prolapso_utero. jpg A enterocele é a herniação do peritônio e intestino delgado, conseqüente à defeitos da fáscia endopélvica, pondo o peritônio em contato com a mucosa da vagina. Está associado ao descenso entre o espaço retovaginal e os ligamentos uterossacros. O tipo mais comum apresenta-se na parede posterior da vagina, entre a vagina e o reto, mas pode apresentar-se na região anterior ou apical da vagina, como consequência de uma histerectomia. Em mais de 70% dos casos, está associado ao prolapso de cúpula vaginal. (MORENO, 2009; BEREK, 2008; UZOMA & FARAG, 2009) O prolapso de reto ou retocele é uma projeção do reto através da parede Conceito A 1064 Recife n. 2 p.970-1039 2011 Figura 7: Prolapso de compartimento posterior da vagina. Fonte: http://drpaulorodrigues.com.br/gc/images/clip_image004.jpg 3.4 Classificação Durante muitos anos a classificação dos POP foi dada por um sistema que os descrevia de acordo com o órgão que possivelmente estaria por trás da parede vaginal, pela sua localização. A cistocele, miocele, enterocele e retocele tinham sua severidade classificada de acordo com o intróito vaginal, variandose em: 1º grau, a herniação não atingia o introito; 2º grau, a herniação atingia o intróito e 3º grau, a herniação ultrapassava o intróito vaginal. (BARACHO, 2007) Muitas formas de classificar os prolapsos já foram utilizadas e propostas, baseando-se na gravidade e progressão das distopias em relação a um ponto fixo, geralmente o terço médio ou inferior da vagina e o anel himenal. Porém, as variadas formas de registro dos achados físicos dos prolapsos dificultaram, ao longo do tempo, uma difusão dos métodos de classificação. (BEZERRA et al., Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1065 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral vaginal posterior causada pelo enfraquecimento do tecido conjuntivo e muscular paravaginal, o que o mantém posterior à vagina; pela separação entre o septo retovaginal e ligamentos uterossacros, ou separação entre o corpo perineal e o septo retovaginal. A protrusão da parede posterior da vagina pode causar um tipo de “bolsa” que pode reter as fezes e dificultar a defecação (Figura 7). Por este motivo, é comum que, na presença de retocele, seja necessário realizar manobras manuais para reduzir o prolapso no momento da evacuação. É a terceira forma mais comum de prolapso genital. (BARACHO, 2007; BEREK, 2008; MORENO, 2009; THANKAR & STANTON, 2002) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 2004; FELDNER JÚNIOR et al., 2003) Uma classificação muito utilizada é a de Baden Walker modificada, onde os estágios do prolapso são denominados de formas diferentes de acordo com o compartimento onde se apresentam. As distopias de uretra e bexiga são classificadas em 0, 1º, 2º, 3º e 4º grau. A distopia de parede posterior pode ser classificada de acordo com a gravidade: leve, moderada e grave. Já o prolapso de útero é avaliado com o colo pinçado durante o exame e é classificado em 1º, 2º e 3º grau (Figura 8). (BEZERRA et al., 2004) Figura 8: Representação da classificação dos prolapsos genitais proposta por Baden Walker de acordo com os graus. Fonte: adaptada de Fisioterapia aplicada à obstetrícia, uroginecologia e aspectos de mastologia. (BARACHO, 2007) Atualmente, o sistema proposto pela Sociedade Internacional de Continência (ICS) é o Sistema de Quantificação do Prolapso dos Órgãos Pélvicos (POP-Q). Este sistema facilita a classificação e acompanhamento do estágio do prolapso. Além de facilitar a comunicação entre profissionais da área e pesquisadores. (BEREK, 2008) A ICS propõe, ainda, que termos como Conceito A 1066 Recife n. 2 p.970-1039 2011 Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1067 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral cistocele, retocele, enterocele ou junção uretrovesical sejam substituídos pelos termos prolapso de parede anterior, prolapso de parede posterior e prolapso de cúpula ou uterino. (FELDNER JÚNIOR et al., 2003) O POP-Q utiliza uma série de medidas e pontos específicos, onde cada prolapso é avaliado em relação ao hímen, por ser um ponto fixo. As medidas são dadas em cm, sendo os valores positivos, referentes a posições abaixo do hímen; o próprio hímen como ponto zero e os valores negativos, as localizações acima do hímen. Seis pontos de referência, ao longo da vagina, são descritos: dois na parede anterior, dois na porção superior e dois na parede posterior. (BARACHO, 2007) Os pontos da parede anterior são: (1) ponto Aa: 3 cm acima do hímen, que corresponde aproximadamente a junção da uretra com a bexiga, podendo variar de posição em -3 a3 cm; (2) ponto Ba: ponto mais distal de qualquer região da parede vaginal anterior, desde o ponto Aa até o lábio anterior do colo, na ausência de prolapso, está a -3 cm, podendo variar de acordo com o grau do prolapso. (BARACHO, 2007; BEREK, 2008; BEZERRA et al., 2004) No compartimento médio, localizam-se os pontos C e D. O ponto C corresponde ao ponto mais distal do colo uterino ou, em caso de histerectomia total, à cúpula vaginal. O ponto D corresponde à localização do fundo de saco de Douglas, mas só em mulheres com colo uterino, em caso de ausência do mesmo, o ponto D é omitido. Está relacionado ao ponto onde há a fixação posterior proximal do ligamento uterossacral. (BEREK, 2008; FELDNER JÚNIOR et al., 2003) Na parede posterior, encontram-se os pontos (1) Ap: 3 cm acima do hímen, com variação de posição entre -3 e 3 cm; e (2) ponto Bp: ponto mais distal de qualquer porção da parede posterior da vagina. Pode ser um ponto móvel, de acordo com o grau, mas em caso de ausência de prolapso, está localizado a -3 cm. (BEZERRA et al., 2004) Há ainda, a medida do (1) hiato genital (hg), que é limitado entre o ponto médio do meato da uretra até o ponto posterior do hímen; (2) o corpo perineal (cp), que é a medida desde a margem posterior do hiato genital até a abertura média do ânus; e (3) o comprimento total da vaginal (ctv), que é o ponto mais alto e profundo da vagina, com os pontos C e D em situação normal (Figura 9). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Figura 9: Padronização da terminologia para prolapso de órgãos pélvicos femininos (classificação POP-Q). Fonte: Tratado de ginecologia. (BEREK, 2008) Todas as medidas são feitas durante o esforço máximo da paciente (manobra de Vasalva), exceto o ctv. (BEREK, 2008; BEZERRA et al., 2004) De acordo com Bezerra et al. (2004) e Berek (2008), o estadiamento do prolapso é dado de acordo com seu ponto mais distal: • o estágio 0 é a ausência de prolapso. Onde os pontos Aa, Ap, Ba e Bp estão a -3 cm, e o ponto C e D estão entre o comprimento total da vagina; • o estágio 1 ocorre quando a parte mais distal do prolapso está a uma medida maior que 1 cm acima do hímen; • estágio 2 ocorre quando a parte mais distal do prolapso está a uma medida igual ou menor que 1 cm acima ou abaixo do hímen; • estágio 3 ocorre quando a parte mais distal do prolapso está a uma medida maior que 1 cm abaixo do hímen, porém não ultrapassa 2 cm menos que o ctv; • estágio 4 ocorre quando há uma eversão quase completa ou completa da vagina. Onde a parte mais distal do prolapso está a, pelo menos, ctv-2 cm (Figura 10). Conceito A 1068 Recife n. 2 p.970-1039 2011 Feldner Júnior et al. (2003) em um estudo transversal, avaliou a reprodutibilidade da classificação proposta pela ICS, onde dois avaliadores, sem contato prévio, avaliaram através do sistema POP-Q, o mesmo grupo de mulheres com distopias genitais. Os resultados mostram que existe reprodutibilidade nas medidas obtidas através do sistema de classificação das distopias genitais proposto pela ICS, uma vez que não houve variação maior que um estágio, e em mais de 86% dos casos, o resultado foi idêntico. Bezerra et al. (2004) compararam as terminologias padronizadas por Baden Walker e pela ICS, o qual constatou-se que na maior parte das pacientes, um estágio, segundo a classificação da ICS, correspondia a diferentes graus do mesmo compartimento, segundo Baden Walker. Foi observada uma significativa diferença entre as classificações das duas terminologias, confrontando os valores numéricos propostos pelo sistema POP-Q com a subjetividade da classificação de Baden Walker (por exemplo: “terço inferior da vagina”). As diferenças encontradas entre as duas terminologias reforçam a necessidade de um sistema padronizado de avaliação das distopias genitais. Para isto, a ICS orienta o uso do sistema POP-Q como padrão para avaliação de prolapsos genitais, por se mostrar preciso e apresentar resultados mais fidedignos. Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1069 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral Figura 10: Representação da classificação dos prolapsos genitais proposta pela ICS de acordo com os estágios. Fonte: adaptada de Fisioterapia aplicada à obstetrícia, uroginecologia e aspectos de mastologia. (BARACHO, 2007) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 3.6 Manifestações clínicas Vários são os sintomas que podem estar associados aos compartimentos anatômicos onde existe o prolapso. Quando está presente na parede vaginal anterior, os sintomas relatados são, geralmente, relacionados à micção, como: incontinência ou retenção urinária e urgência miccional; quando no compartimento posterior, os sintomas estão, na maioria dos casos, associados a disfunções da defecação. Porém, outros sintomas gerais, como: sensação de peso, desconforto, dor vaginal ou queixas sexuais podem estar presentes independentemente do compartimento acometido. Os sintomas não estão presentes em todas as mulheres com distopias genitais, nem estão, necessariamente, relacionados ao grau do prolapso, no entanto, representam um impacto significativo na qualidade de vida. (BEREK, 2008; BARACHO, 2007; MORENO, 2009; FRITEL et al., 2009) As principais queixas urinárias envolvem: (GROENENDIJK et al. 2011) - (A) hiperatividade detrusora: teorias apontam que o relaxamento de ligamentos, músculos e fáscias do AP pode gerar estímulos nos receptores nervosos que provavelmente existem na bexiga, acarretando contrações involuntárias do músculo detrusor; ou ainda, as alterações anatômicas causadas e o desequilíbrio entre as forças musculares posterior e anterior da parede vaginal, causam um estiramento póstero-inferior inadequado da vagina, ativando o reflexo da micção. Groenendijk et al. (2011) observou que há uma relação direta entre a presença de prolapso genital e hiperatividade vesical, porém, ao contrário do que se pensava, esta associação foi significante em relação aos prolapsos do compartimento posterior da vagina e quase ausente em descida da parede anterior. - (B) Incontinência urinária de esforço e obstrução miccional: é comum que mulheres com defeitos no suporte vaginal apresentem hipermobilidade do colo vesical associada a perda de urina aos esforços. (BARACHO, 2007) Moreira et al. (2002) observaram que a mobilidade do colo vesical é maior nas mulheres com IUE. Mulheres com prolapsos leves estão mais propensas a terem IUE, enquanto em estágio avançados, estão mais vulneráveis a obstrução miccional. (BARACHO, 2007; HOVE et al., 2009) Quando há um descenso da bexiga na cavidade pélvica, ocorre um desalinhamento das estruturas, dificultando o controle na abertura e fechamento uretral. Quando o prolapso é muito acentuado, a contração do músculo levantador do ânus não atua sobre a uretra, mas, sobre a região posterior da bexiga, há então um redirecionamento da uretra ao nível Conceito A 1070 Recife n. 2 p.970-1039 2011 Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1071 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral de colo vesical e, consequentemente, ocorre a retenção ou obstrução urinária. (OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) É comum existir IUE oculta. Devido a obstrução, a perda de urina aos esforços só é notada após uma redução do prolapso em testes pré-cirúrgicos. (BARACHO, 2007) As dinfunções miccionais estão, geralmente, acompanhadas de sintomas como micção prolongada e interrompida e mudança de posição para iniciar a micção. (MORENO, 2009) Sintomas associados à função intestinal também são comuns, incluem: sensação de esvaziamento retal incompleto, necessidade de manobra manual para defecação, incontinência de flatos ou fecal e urgência fecal. Estão,comumente associados a prolapsos de parede vaginal posterior e enterocele. (MORENO, 2009; BARACHO, 2007) Groenendijk et al. (2011) verificaram que a constipação intestinal está relacionada a descida perineal, ao contrário de Broekhuis et al. (2010), que não encontrou associação direta e significativa entre a descida perineal e os sintomas anorretais e urinários. Sensação de peso ou pressão na região do períneo e dor vaginal ou pélvica são sintomas locais que estão claramente atribuídos às distopias genitais. (BARACHO, 2007; MORENO, 2009; OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) Hove et al. (2009) verificaram presença de sensação de abaulamento vaginal em quase 10% das mulheres participantes de sua pesquisa. Groenendijk et al. (2011) encontrou relatos de dor mais associados à prolapsos de parede posterior da vagina do que anterior. Quando a protrusão da parede vaginal ultrapassa o anel himenal, pode ainda haver ulceração do tecido exteriorizado. (BARACHO, 2007) Queixas sexuais também estão relacionadas aos sintomas de POP, onde a protusão do tecido vaginal pode causar dificuldade da penetração, diminuição da sensibilidade vaginal, dor e desconforto no momento do coito. (BARACHO, 2007) Zielinski et al. (2011), realizaram um estudo a respeito da imagem corporal e da sexualidade de mulheres com prolapsos pélvicos e constatou que as distopias genitais exercem grande impacto em suas vidas. Constataram-se queixas de dores e desconforto durante o ato sexual, sendo necessárias mudanças de posição para diminuir a sensação dolorosa; diminuição do sentimento de feminilidade; redução da capacidade de atingir o orgasmo; diminuição da libido; ressecamento vaginal e propensão a ser uma mulher sexualmente inativa, além Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso de uma auto-imagem corporal negativa. 4. AVALIAÇÃO DO ASSOALHO PÉLVICO Para que se tenham bons resultados no tratamento empregado é necessário, antes de tudo, uma avaliação correta e específica para o AP, o que garante maiores chances de sucesso após a conduta terapêutica. (MORENO, 2009) Antes de se iniciar a avaliação funcional da musculatura do AP, é realizada a anamnese, o qual é indispensável por fornecer informações importantes a respeito do histórico da paciente e de sua disfunção. (STEPHENSON & O’CONNOR, 2004) Na anamnese a paciente fornece informações a respeito dos sintomas que geralmente envolvem sensação de peso, relato de percepção de exteriorização de uma estrutura pela vagina, queixas urinárias e intestinais (os sintomas urinários estão, na maioria das vezes, associados às distopias uretro-vesicais, assim como a retocele, comumente está interligada à constipação intestinal), sintomas sexuais (incluindo dispareunia, flatos vaginais, e perda da sensação do orgasmo) e ainda informações gerais a respeito do motivo principal da consulta, seus antecedentes pessoais, que trazem informações importantes nodiagnóstico de prolapsos genitais como, por exemplo: número e circunstâncias de parto(s); modo de vida e sinais associados. (STEPHENSON & O’CONNOR, 2004; GROSSE & SENGLER, 2002; OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) O exame físico que é o ponto mais importante da avaliação para o diagnóstico dos prolapsos genitais, o qual, inicia-se, geralmente, com a paciente em posição deitada, em alguns casos, faz-senecessária uma avaliação em posição de pé, com uma das pernas apoiada sobre uma estrutura mais alta. Iniciase com a inspeção, onde será possível observar contração, trofismo, presença de cicatrizes, coloração, tônus, presença e aspecto de prolapsos, eritemas e hemorróidas. (GROSSE & SENGLER, 2002; BARACHO, 2007; MORENO, 2009; RIBEIRO et al., 2001) Em condições normais, a mucosa vaginal é lisa, rosada e úmida. Devese observar se há presença de secreções exageradas, que podem indicar Conceito A 1072 Recife n. 2 p.970-1039 2011 Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1073 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral infecções em curso, ou eritemas, que indicam um estado contínuo de umidade local, isso pode ocorrer na presença de incontinência urinária. Em casos de hipoestrogenismo, a mucosa vaginal apresenta-se com diminuição da flexibilidade e coloração. Quando há presença de prolapsos de estágio avançado, é comum que ocorram deficiências na irrigação sanguínea, podendo apresentar úlceras nos tecidos. (OLIVEIRA & CARVALHO, 2007; GROSSE & SENGLER, 2002) A distância anovulvar e a abertura vulvar fornecem informações para uma avaliação subjetiva e rápida da musculatura perineal. A distância anovulvar é medida a partir da parte posterior da abertura vulvar até o esfíncter do ânus, indica a espessura do núcleo fibroso central do períneo (NFCP), que tem entre 2 cm e 2,5 cm, distâncias inferiores ou superiores indicam alterações nas estruturas que se cruzam neste ponto. A vulva normalmente é fechada, quando apresenta algum grau de abertura, indica algum grau de lesão perineal, mas pode-se apresentar uma pequena abertura logo após o parto, sem necessariamente, significar uma lesão mais importante. (GROSSE & SENGLER, 2002) Realizam-se em seguida os testes neurológicos a fim de verificar se há associação de lesões neurológicas, bem como a ativação reflexa da MAP, para isso, solicita-se um esforço à paciente, como tosse, observa-se a contração simultânea da musculatura e se há perda de urina, fezes ou flatos, no momento. Quando solicitada, a paciente deve executar a manobra de Vasalva e, neste momento, o avaliador verifica a descida perineal e se algum prolapso genital se apresenta. A manobra de esforço pode ser realizada em qualquer posição: decúbito dorsal, sentada ou em pé. Porém, estudos demonstram que há uma melhor visualização do prolapso quando a paciente é avaliada em posição sentada (cadeira de parto). A extensão máxima do tecido prolapsado deve ser medida neste momento. (MORENO, 2009; BARACHO, 2007; RIBEIRO et al., 2001) Dois reflexos importantes precisam ser avaliados: (1) reflexo clitoriano, onde estimula-se a região clitoriana e como resposta observa-se uma discreta elevação do mesmo e (2) o reflexo cutâneo-anal, onde estimula-se a região perianal e observa-se uma contração reflexa do esfíncter externo do ânus. (MORENO, 2009; BARACHO, 2007; RIBEIRO et al., 2001) A avaliação funcional do AP oferece informações a respeito da capacidade de contração da MAP de cada paciente, tornando possível planejar um protocolo de tratamento individual de acordo com o nível de funcionalidade de cada uma. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso (MORENO, 2009) À palpação, o examinador verifica a tonicidade e consistência do NFCP, deprimindo-o com um dedo. Em condições normais, a resistência encontrada é elástica. Casos de alteração da resistência, para mais ou para menos, podem significar aumento ou diminuição da tonicidade do AP, respectivamente. (GROSSE & SENGLER, 2002) O toque vaginal oferece condições para se avaliar com maior precisão a contração da musculatura do AP e permite avaliar a flexibilidade da vagina. Deve ser realizado com a paciente em posição ginecológica. O examinador introduz o 2º e 3º dedo dentro da vagina até seu terço médio. Pode ser necessária a realização do toque pelo reto, em pacientes com o hímem preservado. (MORENO, 2009; GROSSE & SENGLER, 2002; OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) A palpação da MAP, por meio de toque vaginal, permite a percepção de seu volume, o qual pode apontar diminuição por atrofia ou lacerações. Apesar de ser considerada uma forma subjetiva de avaliação, através da palpação bidigital é possível avaliar funcionalmente o AP, bem como sua força, através de contração voluntária da paciente. Com o objetivo de classificar a força muscular pelo toque vaginal, algumas graduações destacam-se, como a escala de Ortiz, escala de Oxford e o esquema PERFECT.(MORENO, 2009) A escala de Ortiz gradua a força muscular em 5 graus. Onde a ausência de função perineal é classificada como 0; com função perineal objetiva ausente, mas reconhecida à palpação, classifica-se em grau 1; na presença de função perineal objetiva ainda diminuída, mas perceptível à palpação, caracteriza grau 2; O grau 3 é dado quando existe a contração perineal objetiva e contra resistência, porém não é mantida. Por fim, o grau 4 representa a função perineal objetiva que é capaz de oferecer resistência opositora mantida por mais de 5 segundos, à palpação. (MORENO, 2009; RIBEIRO et al., 2001) A classificação da força perineal dada através da escala de Oxford é semelhante à escala de Ortiz: grau 0 representando a ausência de contração perineal; grau 1, contração fraca e não mantida; grau 2, contração de baixa intensidade e não mantida; grau 3, contração capaz de produzir uma pequena elevação da parede posterior da vagina; grau 4, existe uma boa contração, com elevação da parede posterior da vagina em direção à sínfise púbica; grau 5, contração forte com movimento em direção a sínfise púbica, comprimindo os dedos do examinador. (MORENO, 2009) Conceito A 1074 Recife n. 2 p.970-1039 2011 5. TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO DAS DISTOPIAS GENITAIS O tratamento para as distopias genitais depende do grau do prolapso, idade, história reprodutiva e estado geral da paciente. (RIBEIRO, 2001) O tratamento cirúrgico é indicado se a presença dos prolapsos gerar algum sintoma ou interferir nas atividades normais da paciente, ou em casos de POP severos. Prolapsos leves, quando não estão associados a outras anormalidades e sem manifestações clínicas, não devem ser submetidos ao tratamento cirúrgico. Estas pacientes devem ser encaminhadas e orientadas quanto ao tratamento conservador. (OLIVEIRA & CARVALHO, 2007; SOGIMIG, 2003; HAMPTON, 2009) Mesmo quando há indicação cirúrgica para correção das distopias, a Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1075 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral O esquema PERFECT quantifica a intensidade, sustentação e intensidade da contração voluntária e pode ser utilizado tanto para avaliação, quanto para tratamento. Para a avaliação do AP, avalia-se itens representados por letras: P- Power (força muscular); E- Endurance (manutenção); R- Repetição de contrações mantidas; F- fast (contrações rápidas); E, C, T- Every Contration Time (cronometragem de todas as contrações). A força é medida pela escala de Oxford, em graus de 0 a 5, pela contração voluntária. A manutenção da contração é quantificada em segundos, mensurando assim, as fibras de contração lenta. A contagem das repetições deve ser feita somente para as contrações mantidas por 5 segundos e intervalo de 4 segundos entre elas, sem comprometimento da qualidade da contração. A medida da contratilidade das fibras de contração rápida é feita contando-se o número de contrações de 1 segundo com repouso e 2 minutos após cada série de contrações. A contagem é feita até 10 vezes. A cronometragem de todas as contrações é feita para que o examinador possa monitorar o progresso da paciente. (MORENO, 2009) Pode-se ainda solicitar exames complementares como exame urodinâmico para avaliar a presença de obstrução miccional ou incontinência urinária. Exames de imagem (contrastados) podem fornecer informações importantes, principalmente em casos de prolapsos de parede posterior da vagina, para avaliação do reto e da extensão total do prolapso. (BARACHO, 2007). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso intervenção fisioterapêutica deve ser iniciada antes do procedimento cirúrgico e deve se manter após, por pelo menos 6 meses, a fim de promover melhora na irrigação sanguínea da musculatura e controle muscular adequado. (OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) Em mulheres jovens, é preferível a indicação de tratamento conservador, que inclui, entre outras medidas, treinamento da musculatura do assoalho pélvico. (RIBEIRO, 2001; BEREK, 2008) Dentro do tratamento fisioterapêutico para as distopias genitais, vários recursos podem ser utilizados conjuntamente, como: exercícios do assoalho pélvico, cones vaginais, biofeedback, eletroestimulação e ginástica hipopressiva. (OLIVEIRA & CARVALHO, 2007; BERNARDES, 2010) 5.1 Cinesioterapia Dentre os métodos terapêuticos não cirúrgicos para tratamento das distopias genitais, a cinesioterapia se mostra eficaz na recuperação do tônus e da força muscular. (NOLASCO, 2008) Hall e Brody (2007) consideram que a terapia através de exercícios físicos é o principal recurso terapêutico dentro da fisioterapia. Definem os exercícios terapêuticos como a realização de movimentos físicos, posturas ou atividades físicas planejadas que visam, entre outras finalidades, a correção ou prevenção de deficiências e aperfeiçoamento da função, trazendo benefícios para vários sistemas do corpo, inclusive o sistema muscular. O uso da cinesioterapia como recurso para treinamento da MAP se baseia no princípio de que contrações repetitivas e voluntárias aumentam o grau de força muscular. (MORENO, 2009) Desta forma, melhoram a atividade do AP, oferecendo, assim, uma melhor sustentação das vísceras pélvicas. (BO, 2004) O ganho de força muscular depende de um programa de treinamento onde haja um recrutamento de um número significativo de unidades motoras, com contrações progressivas. Para a musculatura do assoalho pélvico, priorizamse poucas repetições durante o dia, entretanto, com um gradativo aumento na intensidade da força e duração da contração. (MORENO, 2009) Ainda com consideráveis variações em relação à frequência e duração dos exercícios, Bo (2004), afirma que a recomendação geral é de 8 a 12 contrações de intensidade máxima, ao menos 3 vezes por dia. Porém, não se tem, ao certo, um programa de treinamento ideal, definindo-se período de tratamento e Conceito A 1076 Recife n. 2 p.970-1039 2011 Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1077 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral intervalo. (OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) Vários protocolos são utilizados, porém é de consenso dos especialistas que dois componentes sejam priorizados ao traçar um programa de exercícios para a MAP: (1) colaboração da paciente em realizar os exercícios e (2) o aumento gradual na intensidade do treinamento. (TROWBRIDGE & FENNER, 2005) A contração correta da musculatura do assoalho pélvico, em especial, do músculo levantador do ânus, aumenta o recrutamento das fibras tipo I e tipo II e auxilia na melhora da funcionalidade da contração simultânea do diafragma da pelve, o que contribui ainda mais para a sustentação dos órgãos pélvicos, prevenindo o aparecimento de distopias genitais. (MORENO, 2009) A cinesioterapia é indicada no tratamento dos distúrbios perineais, desde 1992, quando a Sociedade Internacional de Continência validou cientificamente a reabilitação do AP através de suas técnicas. É o único método que não possui contra-indicações e que ainda pode ser realizado tanto individualmente, quanto em grupo. (MORENO, 2009) O treinamento deve seguir uma sequência que não parte das repetições das contrações perineais, mas segue uma ordem de exercícios a fim de potencializar os resultados. Começando pela conscientização do AP, principalmente do músculo levantador do ânus; conscientização dos músculos antagonistas e agonistas; aumento da força muscular e aumento da atividade reflexa da musculatura. (BARACHO, 2007) Estudos mostram que mais de 30% das mulheres contraem erroneamente o assoalho pélvico na primeira tentativa. (OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) É importante que as primeiras fases do tratamento sejam realizadas individualmente, a fim de promover à paciente, um momento mais favorável ao conhecimento e conscientização do seu próprio corpo. Uma vez aprendida a contração voluntária e correta da MAP com uma boa coordenação, se faz aceitável a realização de exercícios em grupo. (CALAIS-GERMAIN, 2005; MORENO, 2009) Os exercícios devem ser realizados em posição deitada, sentada e em pé, com sequências de contrações e relaxamentos. Associando ou não, situações que simulem as atividades diárias. O tempo aproximado para que se obtenha hipertrofia muscular é de, no mínimo, três meses. Portanto, o tratamento deve ter tempo igual ou superior a este. (MORENO, 2009; POLDEN & MANTLE, 2005) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Os exercícios mais utilizados dentro da cinesioterapia, são os exercícios de Kegel associados ou não ao uso dos cones vaginais. Estes exercícios foram elaborados por Arnold Kegel, por volta da década de 40, a fim de promover o fortalecimento perineal e prevenir distúrbios do AP. (CUTINI & VALENTIM, 2007; BARACHO, 2007) Inicialmente, Kegel descreveu que os exercícios deveriam ser realizados com 300 contrações diárias. Mas hoje sabe-se que este é um número excessivo, podendo causar fadiga muscular. (PINOTTI et al., 2005) As contrações devem ser repetidas rapidamente ou lentamente. As rápidas devem ser realizadas com manutenção de 1 segundo e as lentas de 3 a 10 segundos, alternando-se em séries lentas e rápidas, podendo ser realizados em qualquer ambiente. Alguns protocolos incluem exercícios em domicílio, onde a paciente é ensinada a realizar contrações intensas, de 3 a 6 segundos, em séries de 8 a 12 contrações, 2 ou 3 vezes ao dia. Com pelo menos uma visita semanal de 45 minutos para realização de exercícios em grupo, orientados pelo fisioterapeuta. (OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) Os exercícios perineais baseados nos exercícios de Kegel demonstram bons resultados quanto a prevenção e tratamento de distúrbios pélvicos. Para acentuar o fortalecimento da MAP, o uso de cones vaginais oferecem resistência e aumentam a propriocepção dos músculos do AP durante a sua contração. (MORENO, 2009; GROSSE & SENGLER, 2002) O método consiste na utilização de um conjunto, comumente, de 5 cones vaginais de formas iguais, porém com pesos que variam de aproximadamente 20 a 70 g, tendo em uma das extremidades, um fio para facilitar na remoção. (PINOTTI et al., 2005) É utilizado inicialmente, introduzindo um cone na vagina, onde o que será utilizado inicialmente é o cone imediatamente anterior ao cone mais pesado que não tenho sido mantido passivamente dentro do canal vaginal. (GROSSE & SENGLER, 2002; BARACHO, 2007) A sensação de perda do cone, irá proporcionar uma resposta tátil e motora, induzindo o AP a contrair-se de forma reflexa, a fim de evitar sua saída. (CALAIS-GERMAIN, 2005; MORENO, 2004) Inicialmente os cones são utilizados de forma passiva, onde a paciente introduz o cone e caminha durante 10 a 15 minutos, duas vezes ao dia, associando a subida e descida de degraus e simulações de atividades cotidianas, estimulando as fibras tipo I, de contração mantida. Já na fase ativa, a paciente introduz o cone Conceito A 1078 Recife n. 2 p.970-1039 2011 O uso dos cones vaginais proporciona contrações que treinam tanto fibras musculares do tipo I, quanto do tipo II. Através de contrações isométricas e isotônicas. Por ser um dispositivo de baixo custo e fácil utilização, pode-se associar a diferentes posicionamentos e atividades, possibilitando uma série de protocolos de tratamento. (MORENO, 2009) Porém em casos de prolapsos moderados ou graves, o uso de cones vaginais é questionável por haver risco de retenção ou expulsão dos dispositivos, nestes casos, a musculatura não é exercitada. (OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) Outro recurso, além dos cones vaginais, que pode contribuir na realização dos exercícios perineais é o uso do Biofeedback. Trata-se de uma modalidade de tratamento simples e moderna, que oferece à paciente condições para melhorar a execução dos exercícios através de respostas que são dadas por meio acústico ou visual, facilitando o controle e a compreensão dos eventos que ocorrem durante a contração voluntária. (MONÇÃO & RODRIGUES, 2006; OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) Os aparelhos de biofeedback funcionam utilizando-se de uma sonda vaginal com dois eletrodos que captam as inrformações elétricas da musculatura. Após os ajustes necessários, com a paciente em posição confortável, a sonda é introduzida; pede-se então, uma contração voluntária e pode-se observar os sinais emitidos proporcionalmente à duração e intensidade da contração. (MONÇÃO & RODRIGUES, 2006) As sessões podem durar aproximadamente 30 minutos, em ambiente ambulatorial ou domiciliar, por meio de um aparelho portátil. (OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) Os exercícios para tratamento dos prolapsos pélvicos dependem, entre outros fatores, do estágio do prolapso. Na literatura são mostrados resultados de melhoria dos sintomas e do controle do estágio apenas em prolapsos classificados como leves ou moderados; não apresentando respostas positivas significantes quando o prolapso ultrapassa o intróito vaginal. (BEREK, 2008) Hullfish et al. (2008), realizou um estudo comparando um grupo de mulheres com disfunções do assoalho pélvico, onde os resultados foram obtidos Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1079 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral e precisa contrair a MAP voluntariamente, realizando cerca de 30 contrações, alternando a momentos de repouso e tendo que ser repetidas duas vezes ao dia, recrutando fibras tipo II, de contração mais rápida. (CALAIS-GERMAIN, 2005; MORENO, 2004; SOGIMIG, 2003) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso através do nível de satisfação das pacientes. Um grupo foi tratado através de métodos cirúrgicos, enquanto o outro, através de método conservador. Concluiuse que houve um maior nível de satisfação no grupo de mulheres que fora tratado através de método cirúrgico. O tratamento conservador incluiu, entre outras, medidas como uso de medicamentos, uso de dispositivos intravaginais e fisioterapia. Os resultados apontaram que o grupo que recebeu tratamento cirúrgico, teve uma propensão a alcançar o níveis ótimos de satisfação seis vezes maior do que o grupo tratado através de tratamento conservador. Porém, levando em consideração a diversidade dos tipos de disfunções e a variedade da amostra em relação a fatores como idade, raça, paridade, níveis de incontinência ou prolapsos, Hullfish et al. consideraram que embora os níveis de satisfação tenham sido superiores no grupo tratado cirurgicamente, é antecipado afirmar que o tratamento conservador é inferior ao cirúrgico. Ghroubi et al. (2006) utilizou uma amostra de 47 mulheres que apresentassem cistocele grau I ou II, com ou sem retocele. A amostra foi dividida em dois grupos. Um grupo foi submetido a tratamento conservador (GTC) e o outro (GST) não recebeu qualquer tratamento. O GTC foi submetido a 24 sessões de exercícios, duas vezes por semana, com duração de 30 minutos, cada sessão. Todas as pacientes receberam inicialmente estimulação transvaginal a fim de otimizar a consciência perineal. Ao alcançar a décima sessão, as pacientes foram orientadas a realizar pelo menos 20 contrações perineais por dia, três vezes por semana. Imediatamente após o tratamento, verificou-se que houve uma melhora dos sintomas clínicos, tais como sensação de peso pélvico e disúria. Onde a sensação de peso era relatada por mais de 80% das pacientes e ao final da terapia, apenas pouco mais de 18% relataram tal sintoma. Em relação a disúria, no início do tratamento, pouco mais de 77% das pacientes a referiram, enquanto ao final, foi relatada por aproximadamente 18%. Na relação entre os dois grupos, a melhora foi superior nas pacientes do GTC, quando comparadas ao GST. As mesmas pacientes foram convidadas a serem reavaliadas, dois anos após o término da pesquisa, comparecendo para tal, apenas 20. Neste ponto da pesquisa, verificou-se que os resultados se mantiveram, o que sugere que o tratamento conservador através de exercícios perineais traz resultados positivos em mulheres com prolapsos genitais de grau I ou II. Em estudo cego controlado e randomizado, Braekken et al. (2010) investigaram se o treinamento da MAP é capaz de reduzir os sintomas ou os Conceito A 1080 Recife n. 2 p.970-1039 2011 Resende et al. (2010) observaram que um grupo de mulheres com prolapso grau I ou II tratadas através de exercícios com seis séries por dia, durante 16 semanas e mudanças de estilo de vida saudável tiveram resultados positivos quando comparadas com o grupo controle, o qual recebeu apenas orientações sobre mudanças de estilo de vida. As respostas positivas se apresentaram em diminuição significativa nos sintomas relacionados ao prolapso e aumento da força da MAP. Além disso, ficou clara a diminuição da progressão do estágio do prolapso através de intervenção com exercícios de 30 repetições diárias em domicílio e mudanças gerais de hábitos, com 72% de média de avanço do prolapso no grupo das mulheres que não sofreram intervenção terapêutica contra 28% do grupo de tratamento. Quanto à cirurgia, foi exposto que a fisioterapia promove benefícios como coadjuvante no tratamento cirúrgico. Foram incluídas 60 mulheres e divididas em dois grupos, onde um grupo realizou apenas o tratamento cirúrgico enquanto o outro realizou fisioterapia duas a quatro semanas antes da intervenção cirúrgica. Foram orientadas a realizar contrações da MAP em quatro séries diárias de exercícios e associar contrações rápidas nos momentos de aumento de pressão intra-abdominal. Ao serem reavaliadas, três meses após a intervenção cirúrgica, houve um relato de melhora significativa do grupo o qual sofreu intervenção fisioterapêutica, superior ao grupo não tratado com fisioterapia. Além de aumento da pressão exercida pela MAP, sugerindo aumento de força muscular. Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1081 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral estágios do prolaso. Foram avaliadas 109 mulheres com POP em estágio I, II e III. Ambos os grupos receberam orientações de como contrair corretamente a musculatura pélvica e recomendações para evitar realizar manobras que exigissem esforço. As pacientes do grupo controle realizaram exercícios em três séries de 12 contrações. Cada uma recebeu acompanhamento de um fisioterapeuta, uma vez por semana, durante os três primeiros meses, e a cada duas semanas, nos últimos três meses. À avaliação final, observou-se que houve uma melhora da força muscular, diminuição dos sintomas e redução de um estágio do prolapso no grupo de intervenção, comparado ao grupo controle, onde estes resultados não foram observados. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 5.2 Eletroestimulação A Estimulação elétrica como um recurso na reeducação da MAP tem papel terapêutico fundamental, determinando a contração perineal e auxiliando a paciente a ter consciência sobre a contração da musculatura. Isso a torna importante para o tratamento da fraqueza muscular do AP. O fortalecimento da MAP através de estimulação elétrica utiliza de estimulação muscular e nervosa, excitando fibras musculares e o nervo pudendo, que responde ao estímulo com contração da MAP e do esfíncter externo da uretra. Acredita-se que por meio da eletroestimulação seja possível melhorar a função da MAP, causar hipertrofia muscular e aumentar a força e a resistência à fadiga. (MORENO, 2009; BO, 2004) Este recurso pode ser utilizado por meio de eletrodos intra-vaginais, intraanais ou de superfície. Vários tipos de correntes são utilizados, as principais são as interfenrenciais, bipolares e alternadas. A eletroestimulação é seletiva entre os tipos de fibras musculares, esta seleção depende dos parâmetros a serem utilizados, como a duração da frequência e da intensidade da emissão, que devem respeitar a tolerância individual entre 0 e 100 mA. As fibras tônicas (tipo I) são estimuladas com impulsos curtos, abaixo de 150 us e frequências abaixo de 20 Hz. Enquanto as fibras fásicas do tipo II, são estimuladas com impulsos na faixa de 300 us e freqüência acima de 60 Hz, respeitando o tempo de repouso proporcional ao tempo de contração em ciclos de 1:2, 1:3 e 2:5. O tempo médio da sessão é de 15 a 20 minutos. Vale salientar que a eletroestimulação utilizada individualmente, não apresenta resultados satisfatórios, mas quando combinada ao biofeedback produz melhores respostas. Alguns efeitos colaterais podem surgir com a utilização da eletroestimulação intravaginal, como dor e irritação local. (MONÇÃO & RODRIGUES, 2006; MORENO, 2009; OLIVEIRA & CARVALHO, 2007) 5.3 Ginástica Hipopressiva Estudos recentes demonstram que há contração concomitante dos músculos abdominais inferiores durante a contração intensa e correta do músculo levantador do ânus. O mesmo acontece durante a contração do músculo transverso do abdome, onde há ativação da musculatura do assoalho pélvico. Conceito A 1082 Recife n. 2 p.970-1039 2011 Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1083 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral Através desta recente descoberta da interligação da MAP com os transversos do abdome, o treinamento dessa musculatura está sendo incluída como parte do tratamento para o assoalho pélvico. Com base nestas informações acreditase que a ginástica hipopressiva promove treinamento da MAP e dos músculos abdominais profundos além de normalizar as tensões nas estruturas pélvicas, sendo indicada como recurso alternativo para tratamento das distopias genitais e das disfunções do AP de uma forma geral. (BERNARDES, 2010) O exercício hipopressivo é uma técnica que utiliza-se da associação da respiração, musculatura abdominal e lombo-pélvica. É realizado em três etapas. Primeiro é realizada inspiração profunda e lenta, em seguida realiza-se expiração máxima e por fim, contrai-se os músculos abdominais profundos e intercostais, elevando o músculo diafragma com sucção com a glote fechada; o que supostamente promove uma pressão negativa na cavidade abdominal deslocando as vísceras em sentido cranial. (BERNARDES, 2010; RESENDE et al., 2011) Em relação aos exercícios hipopressivos, Bernardes (2010) realizou um estudo clínico randomizado e controlado para avaliar os impactos dos exercícios hipopressivos no tratamento do assoalho pélvico em mulheres com prolapsos genitais. Todas as mulheres incluídas foram avaliadas e apresentavam prolapsos em estágio II, de acordo com a classificação proposta pela ICS. O grupo de intervenção recebeu individualmente, nas três primeiras sessões, instruções a respeito da musculatura do assoalho pélvico, respiração diafragmática e foi ensinado a contrair corretamente a MAP. Após o aprendizado, foram encaminhadas a realizar os exercícios em domicílio, realizando de 16 a 24 repetições dos exercícios por dia, na posição sentada e de pé. Na realização da 3ª etapa do exercício (aspiração diafragmática), as pacientes foram orientadas a realizar contração voluntária da MAP, o tempo de manutenção da 3ª etapa do exercício variou de acordo com cada paciente. Durante três meses as pacientes retornaram 1 vez por mês para consulta, onde os exercícios eram repetidos e o tempo de manutenção da aspiração diafragmática era progressivamente aumentado. O grupo controle recebeu breves orientações sobre exercícios da MAP e foram encaminhadas para exercícios domiciliares, retornando após o terceiro mês, para reavaliação. Após o período de intervenção as pacientes foram reavaliadas e constatou-se diminuição do estágio do prolapso em 70% das mulheres do grupo intervenção, enquanto no grupo controle foi de 21%. Quanto Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso à função muscular, houve um importante aumento na resistência muscular e da atividade elétrica da MAP, o que não foi observado no grupo controle, concluindose então, que os exercícios hipopressivos associados a contrações corretas da MAP melhoram sua função e reduzem o prolapso genital. Adicionalmente, Resende et al. (2011) também realizou um estudo semelhante a fim de comparar os efeitos do treinamento da musculatura do assoalho pélvico através de exercícios da MAP com e sem associação de ginástica hipopressiva. A amostra foi dividida em três grupos: grupo controle, grupo de intervenção com exercícios para MAP e grupo de intervenção com exercícios para a MAP associados aos exercícios hipopressivos. As participantes dos grupos de intervenção também receberam instruções a respeito dos exercícios, a conduta foi semelhante a do estudo de Bernardes (2010), porém as pacientes, além de terem consultas mensais, também receberam ligações telefônicas do fisioterapeuta 2 vezes por semana e tinham o compromisso de preencher um diário onde eram descritos detalhes sobre a realização dos exercícios, como, por exemplo, o número de repetições do dia. O grupo controle recebeu instruções gerais a respeito de exercícios da MAP sem protocolo definido ou compromisso de consulta mensal, ligações telefônicas semanais ou diários. À reavaliação, os dois grupos de intervenção mostraram melhora em todos os aspectos musculares analisados, o que não houve no grupo controle. Não foram observadas diferenças relevantes entre os dois grupos de intervenção em relação a força muscular e atividade elétrica da MAP, porém o grupo de intervenção sem exercícios hipopressivos associados, demonstrou melhor resistência muscular. Concluiuse então, que a associação de exercícios hipopressivos não adicionou melhora na força e atividade elétrica da MAP, porém os dois grupos de intervenção se mostraram superior, em relação às melhorias obtidas com o tratamento, ao grupo controle. Conceito A 1084 Recife n. 2 p.970-1039 2011 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Uso das modalidades terapêuticas da fisioterapia vem sendo uma alternativa cada vez mais estudada e empregada para o tratamento de disfunções do AP, inclusive para as distopias genitais. Através desta revisão bibliográfica as seguintes informações se mostram relevantes: - Uma avaliação completa do AP é fundamental para se definir a conduta terapêutica mais adequada, a qual depende do grau, da distopia e das circunstâncias associadas. - O parto e a idade avançada são fatores intimamente relacionados ao surgimento do prolapso genital, porém fatores intrínsecos podem ser causas importantes em mulheres jovens e nulíparas. - A fisioterapia através de exercícios perineais se mostra eficaz no fortalecimento da MAP, o que previne a progressão dos estágios dos prolapsos. - De acordo com estudos recentes, a fisioterapia também pode ser eficaz em prolapsos de baixo grau, para a regressão de algum estágio. - A fisioterapia se mostra eficiente como coadjuvante no tratamento cirúrgico das distopias genitais, tanto antes da intervenção, quanto depois, na recuperação. Entretanto a escassez de relatos que abordem o uso da fisioterapia como tratamento conservador para os prolapsos genitais, faz-se necessário maiores estudos. - A ginástica hipopressiva associa exercícios perineais a exercícios respiratórios e contração do músculo tranverso profundo do abdome. Por ser uma modalidade relativamente nova, merece outros estudos que comprovem com maior confiabilidade, sua eficácia. REFERÊNCIAS Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1085 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral 6. Conceito A 1086 Recife n. 2 p.970-1039 2011 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral 2011 p.970-1039 n. 2 Recife Conceito A 1087 Conceito A 1088 Recife n. 2 p.970-1039 2011 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral 2011 p.970-1039 n. 2 Recife Conceito A 1089 Conceito A 1090 Recife n. 2 p.970-1039 2011 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 1. Nome do aluno: Livianne Lopes Silva 2. Título do TCC: Tratamento Fisioterapêutico das Distopias Genitais 3. Linha de pesquisa: Fisioterapia na saúde da mulher, da criança e do adolescente 4. Profesora orientadora: Neyla Súcie de Menezes Sales Siqueira 5. Período de orientação: Início: 15/02/2011. Término: 20/01/2012. 6. Comentário da professora Orientadora: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ____________________________________________________________ Recife,___/___/______. Autorizo a entrega deste TCC por mim revisado. ________________________________________________________ Conceito A Recife n. 2 p.970-1039 2011 1091 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial oblíquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral ANEXO ATA DE ORIENTAÇÃO DE TCC