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TRATAMENTO CONSERVADOR DE DISCOPATIA
TORACOLOMBAR UTILIZANDO ACUPUNTURA EM CANINO
DA RAÇA DACHSHUND – RELATO DE CASO
LEANDRO MENEZES SANTOS1; PAULO HENRIQUE AFFONSECA JARDIM2;
MUNIR BARRIENTO DE AZAMBUJA3; RAFAEL DEROSSI4; MARIANA ISA
POCI PALUMBO5;
1
Médico Veterinário Residente em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais – Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia / Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; Campo Grande – MS, Brasil.
Email: [email protected]
2
Médico Veterinário em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais – FAMEZ/UFMS Email:
[email protected]
3
Médico Veterinário Residente em Diagnóstico por Imagem – FAMEZ/UFMS. Email:
[email protected]
4
Docente de Cirurgia e Anestesiologia de Pequenos Animais – FAMEZ/UFMS Email:
[email protected]
5
Docente de Clínica Médica e Terapêutica de Pequenos Animais – FAMEZ/UFMS. Email:
[email protected]
Resumo: A discopatia toracolombar é uma doença habitual na área de neurologia de
pequenos animais que afeta predominantemente cães de raças condrodistróficas. A
alteração é provocada pela degeneração do disco intervertebral, podendo ocorrer a
extrusão ou a protusão, que causa compressão de cordão espinhal e aprisionamento de
raízes nervosas. Os sinais clínicos são determinados por fatores anatômicos e
cronológicos, relacionados aos efeitos da alteração discal voltada para o tecido nervoso
adjacente. A acupuntura pode ser utilizada em afecções do disco intervertebral com o
intuito de controlar a dor, normalizar as funções motoras e sensoriais e as alterações
fisiológicas, como a micção. Neste relato é apresentada a evolução favorável à
recuperação apresentada por um paciente portador de doença do disco intervertebral de
grau 2 submetido ao tratamento com acupuntura.
Palavras-chave: neurologia; doença de Hansen; reabilitação; medicina tradicional
chinesa.
Introdução
A doença do disco intervertebral é a síndrome neurológica de ocorrência mais
frequente em cães, especialmente prevalente nos animais de raças condrodistróficas,
provocado pela degeneração do disco intervertebral e a protusão ou extrusão no interior
do canal vertebral, podendo levara um comprometimento direto da medula espinhal
(STILL, 1989; SCOTT & MCKEE, 1999; GARIBALDI, 2003; MIYAZAWA,
2005;TOOMBS e WATERS, 2007;SEIM III, 2008; BRISSON, 2010;BERGKNUTet al,
2013).Os corpos vertebrais de C2-S1 e todas as vértebras coccígeas são interconectadas
pelo disco intervertebral formado por núcleo pulposo central, anel fibroso, zona de
transição e cartilagem [Figura 01](BRISSON, 2010; DYCE et al, 2010; BERGKNUTet
al, 2013).
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Figura 1: Estruturas anatômicas relacionadas ao disco intervertebral (TOOMBS & WATERS,
2007).
Lesões de degeneração condroide discal precoce, a subsequente mineralização
do disco e o surgimento agudo, sãocaracterizados como doença de Hansen tipo I,
representada pela extrusão do núcleo pulposo para dentro do canal medular (TOOMBS;
WATERS, 2007; SEIM III, 2008; BRISSON, 2010).Doença de Hansen tipo II ou
protusão discal, caracteriza-se por ser um processo tardio, insidioso e raramente com
mineralização do disco.Ocorre principalmente em cães de raças não condrodistróficas e
animais idosos (GARIBALDI, 2003; SEIM III, 2008; BRISSON, 2010).
Os sinais clínicos podem incluir dor, paresia ou paralisia dos membros,
incontinência urinária e/ou fecal e perda da sensibilidade de dor superficial e/ou
profunda.Deste modo, diferentes graus de lesão podem estar presentes, variando os
possíveis métodos de tratamento, instituídos principalmente de acordo com o
conhecimento clínico do médico veterinário (TOOMBS; HAYASHI et al, 2007;
LEVINE et al, 2007;WATERS, 2007; SEIM III, 2008). O início desses sinais podem
levar minutos a semanas após a extrusão de disco (MIYAZAWA, 2005; SEIM III,
2008; BRISSON, 2010).
O estabelecimento da doença, do curso, da duração e da gravidade dos déficits
motores e sensoriais ajuda a definir o prognostico e a terapia adequados (STILL, 1989;
SCOTT & MCKEE, 1999; MIYAZAWA, 2005; HAYASHI et al, 2007; TOOMBS &
WATERS, 2007; SEIM III, 2008).A anamnese e os testes neurológicos para
nervoscranianos, espinhais e periféricos seriados são necessários para formular planos
de tratamento apropriados para cada caso (LEVINE et al, 2007; SEIM III, 2008).
Deve-se considerar o tratamento cirúrgico se o animal apresentar ausência de
sensibilidades dolorosa superficial e profunda ou se não houver resposta ao tratamento
médico conservador (SCOTT & MCKEE, 1999; MIYAZAWA, 2005; TOOMBS &
WATERS, 2007; SEIM III, 2008; BRISSON, 2010). A acupuntura já foi descrita como
uma alternativa para o tratamento clínico, pois pode promover alívio da dor e
recuperação de funções motoras (STILL, 1989; HAYASHI et al, 2007; KIM et al,
2012). Sendo assim, o objetivo deste trabalho é relatar a melhora clínica de um cão com
doença do disco intervertebral grau II, após realização de tratamento conservador com
acupuntura.
Metodologia
Foi atendido no Hospital Veterinário FAMEZ, Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, um canino da raça daschund, macho de nove anos de idade,
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apresentando dor em região toracolombar há uma semana e emagrecimento progressivo.
Ao exame físico o animal apresentou intensa sensibilidadedolorosa à palpação da região
de T13 a L3. Nos membros posteriores, foi notada apresentava discreta ataxia
proprioceptiva, reflexos espinhais aumentados e diminuição das reações posturais, como
saltitar lateral, posicionamento tátil e visual. As sensibilidades superficial e profunda
estavam inalteradas nos quatro membros. Não foram observadas alterações em nervos
cranianos, no nível de consciência e nos reflexos e reações posturais dos membros
anteriores.
Foi realizado exame radiográfico complementar da região toraco-lombar, que
evidenciou diminuição dos espaços intervertebrais entre [L1-L2] (Figura 2). Como
tratamento até o determinado momento, foram prescritos cinco dias de meloxicam
(0,1mg/kg por via oral) e realizadas duas sessões de acupuntura com estimulação dos
pontos (VG24,Bx21, Bx22, Bx23, Bx24, Bx40, Bx60, E36, R3, Bai Hui, Yin Tang). Foi
recomendado repouso de 30 dias e orientado para restrição de exercícios físicos. O
animal apresentou melhora no caminhar e diminuição da dor na região afetada 10 dias
após início do tratamento, colaborando com a qualidade de vida do paciente.
A
B
Figura 2: Projeções ventrodorsal (A) e laterolateral (B) apresentando diminuição dos espaços
intervertebrais entre às vértebras L1-L2
Discussão
As lesões toracolombares representam 84 a 86% dos problemas de discos
intervertebrais em cães, ocorrendo comumente entre T11-T12 e L1-L2, acometendo
principalmente cães de raças condrodistróficas e apresentando sinais clínicos
neurológicos variados dependendo do grau de compressão medular (SCOTT &
MCKEE, 1999; WHEELER & SHARP, 2005; TOOMBS & WATERS, 2007; SEIM III,
2008; BRISSON, 2010), corroborando com o animal previamente relatado.
O diagnóstico presuntivo da protusão ou de extrusão de disco toracolombar
baseia-se no histórico clínico e no exame físico. Os sinais neurológicos dependem da
localização da lesão e da magnitudade da compressão, de acordo com a proporção do
diâmetro do canal espinhal em relação ao do cordão espinhal, podendo apresentar
somente dor na coluna aguda a subaguda ou dor associada a graus variáveis de
paraparesia (SCOTT & MCKEE, 1999; HAYASHI et al, 2007; SEIM III, 2008;
BERGKNUT et al, 2013). De acordo com o SCOTT e MCKEE (1999), a lesão do
animal deste relato pode ser classificada como grau 2, pois apresentava dor
toracolombar e paresia ambulatória.
Os cuidados fundamentais para uma terapia auxiliar nesses pacientes incluem
principalmente restrição da atividade física, se possível em gaiola de confinamento por
três a quatro semanas, monitoração do consumo de alimento e fácil acesso a água, área
macia e seca para evitar assadura por urina e úlceras de decúbito. Casonecessário,
pode-se fazer compressão vesical três a quatro vezes por dia, controle intestinal e
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fisioterapia conduzida com rigor para movimentação da massa muscular e da amplitude
dos movimentos articulares e realização de acupuntura (MIYAZAWA, 2005;
HAYASHI et al, 2007; LEVINE et al, 2007; TOOMBS; WATERS, 2007; SEIM III,
2008).Neste relato, o animal manteve a capacidade de micção e defecação natural,
sendo recomendado repouso para auxiliar no manejo da dor e na recuperação clínica do
paciente.
Em relação à conduta terapêutica, existe tratamento clínico e cirúrgico, sendo
citada acupuntura, repouso, antiinflamatórios e técnicas cirúrgicas descompressivas
como laminectomia e hemilaminectomia, associadas ou não a fenestração dos discos
variando de acordo com o tipo e gravidade de lesão (STILL, 1989; MIYAZAWA, 2005;
LEVINE et al, 2007; TOOMBS & WATERS, 2007; SEIM III, 2008; KIM et al, 2012).
O tratamento clínico fica reservado para os animais que sofrem dores na coluna ou leve
paresia, perda crônica da apreciação da dor profunda nos membros pélvicos, e para cães
cujos donos declinam do tratamento cirúrgico (STILL, 1989; LEVINE et al, 2007;
TOOMBS & WATERS, 2007; SEIM III, 2008).
A acupuntura é uma alternativa de tratamento por ambos os seus efeitos
analgésicos e antiinflamatórios, sendo utilizada nas discopatias para alívio da dor
muscular, reduçãode inflamação local, recuperação da função motora e sensorial,
paresia ou plegia dos membros, espasticidade e dos distúrbios da micção (STILL, 1989
LONGWORTH & MCCARTHY, 1997; GARIBALDI, 2003; HAYASHI et al,2007;
KIMet al, 2012).
Conclusões
Este relato permite concluir que o uso da acupuntura associada a
antiinflamatório não-esteroidal e repouso foram eficazes para aliviar a dor e recuperar a
função motora do cão atendido com doença do disco intervertebral grau 2. O tratamento
indicado também permitiu melhora na qualidade de vida do paciente.
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