Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377 Curso de Pedagogia – N. 12, JAN/JUN 2012 A LITERATURA ESCOLARIZADA Raylla Portilho Gaspar 1 RESUMO Esse artigo trata de como a literatura é trabalhada na escola, como é vista pelos alunos e professores e quais os seus pontos positivos e negativos no âmbito escolar. Palavras-chave: Literatura. Escolarização. Leitura. ABSTRACT This article discusses how the literature is crafted in high school, aseen by students and teachers and what are its strengths and weaknesses in the school. Keywords: Literature. Schooling. Reading. 1 Introdução A literatura é extremamente importante na formação dos leitores, pois, ao mesmo tempo em que transforma e amplia ideias, instiga sentimentos e sensações. Com isso, as escolas têm o dever de incluir e incentivar a literatura, para auxiliar seus alunos no conhecimento não apenas das obras literárias, mas também na sua cognição e nas suas emoções. 2 Chegada da literatura na escola As tragédias gregas tinham como objetivo educar moral e socialmente o povo. Por isso, o teatro tinha uma grande importância para os gregos. Essa tradição cristaliza-se, no 1 [email protected]. Formada em Pedagogia - Faculdade Metodista Granbery. ensino da língua nas escolas, com dois propósitos: a literatura serve para ensinar a ler e a escrever e para formar culturalmente o indivíduo. Nos dias atuais, o ensino da literatura no âmbito escolar tem a função, no Ensino Fundamental, de sustentar a formação do leitor e, no Ensino Médio, integrar o leitor à cultura literária, sendo até mesmo, em alguns currículos, uma disciplina separada da Língua Portuguesa. 3 A literatura escolarizada A maneira pela qual a escola toma para si a literatura infantil faz dela uma literatura escolarizada. Com isso, infelizmente, não tem sido vista pela maioria dos alunos como algo interessante ou instigante, mas sim como algo maçante e sem significado. Mas, afinal, por que isso acontece? O que faz os estudantes pensarem dessa maneira? Um dos motivos é que a prática de sala de aula aplicada aos textos literários acaba não fazendo sentido. Kleiman (2001, p.16), professora e pesquisadora, afirma: “Ninguém consegue fazer aquilo que é difícil demais, nem aquilo do qual não consegue extrair sentido”. Com isso, é preciso que o educador oriente o educando para que ele possa quebrar as barreiras que tem em relação à literatura. Marisa Lajolo (1998, p.62), pesquisadora e autora de literatura juvenil, também destaca que “as atividades escolares das quais o texto participa precisam ter sentido, para que o texto resguarde seu significado maior.” Sendo assim, o professor pode criar uma forma pedagógica, didática, para trabalhar a literatura, tornando-a algo interessante, que faça com que os alunos tenham prazer em estudála. É necessário não ficar apenas na leitura e exercícios mecânicos relacionados aos textos literários, é importante que o educador elabore dinâmicas e atividades ligadas à prática que realmente façam sentido para o educando. No meio acadêmico, a questão da literatura é discutida tanto por alunos quanto por professores. Ambos apontam sempre lados negativos e positivos relacionados a essa questão. No livro Letramento Literário, no capítulo intitulado A literatura escolarizada, Rildo Rosson irá apontar exatamente essa realidade, ao relatar que um aluno do curso de Pedagogia faz uma crítica, dizendo que em relação à literatura, os professores ensinavam as características dos períodos literários, nomes dos autores e das obras. E uma professora relatou que há muitos anos atrás usava textos literários para ensinar a ler e que agora usa apenas jornais, pois é mais fácil de serem adquiridos e lidos pelas crianças. Podemos perceber no depoimento da professora o quanto a concepção dos educadores em torno da literatura tem modificado, ocorre a cada dia uma busca por um processo de ensino-aprendizagem voltado para o aluno e para sua realidade. Na concepção de muitos estudiosos, a literatura está na escola devido a tradição e ao currículo; essa ideia de mudar a forma de trabalhar a literatura encontra-se apenas na teoria, e não na prática. Além disso, as características da sociedade contemporânea (grande variedade de textos, variedade das manifestações culturais, etc) contribuem para que a literatura tenha importância nas escolas. A literatura nas escolas é também dividida de acordo com a faixa etária dos alunos. Essa divisão contribui para o vácuo existente entre os números de publicação de obras da literatura infanto-juvenil e da literatura adulta, mostrando que os leitores daquela não se transformam em leitores desta, como se, a literatura não fize-se parte da vida do leitor. Ou seja, a literatura não é levada para sua vida, os textos e livros literários se tornam apenas necessários nos momentos de escola, depois são esquecidos quando saem desse meio educacional. Isso nos remete à hipótese de que a literatura vista no âmbito escolar não fez sentido, não envolveu o aluno e nem o aluno se envolveu com ela. Em relação aos dois níveis de escolarização, Ensino Fundamental e Ensino Médio, podemos ver como se procede a literatura em ambos. No Ensino Fundamental, a literatura engloba qualquer texto escrito que tenha parentesco com ficção ou poesia. O limite é dado pela temática e pela linguagem e ambos devem ser de acordo com o interesse da criança, do professor e da escola. Os textos devem ser curtos, contemporâneos e “divertidos”. Predominam as interpretações de textos trazidas pelos livros didáticos, usualmente feitas a partir de textos incompletos, e as atividades extra-classe, constituídas de resumos dos textos, fichas de leituras e debates em sala de aula. As fichas de leitura acabam por ignorar a criatividade do aluno ou podam o prazer da leitura. Os exercícios e a prática de sala de aula acabam restritas à identificação ou classificação de dados, servindo de simples confirmação da leitura feita. No Ensino Médio, os textos literários são fragmentados e servem principalmente para comprovar as características dos períodos literários de antes. São feitas poucas leituras de textos e, quando estas ocorrem, as aulas limitam-se a explorar apenas resumos e debates, sendo esses comentários não sistematizados do texto. Com o passar dos anos, mais precisamente na época que estamos vivendo, século XXI, o conteúdo da disciplina Literatura está se modificando. A literatura passa a abranger canções populares, as crônicas, os filmes, os seriados de TV e outros produtos culturais, em um mundo onde a imagem e a voz se fazem muito mais presentes do que a escrita contemporânea. Por isso, a escola precisa se atualizar, abrindo-se às práticas culturais contemporâneas, que são muito mais dinâmicas e raramente incluem a leitura literária. Alguns estudos realizados mostram que está havendo a escolarização equivocada da literatura, não atendendo assim as necessidades e a realidade dos estudantes. Segundo Soares (apud Fabris, 2009), todo conteúdo ensinado na escola está sendo oferecido por ela de forma escolarizada, porque a partir do momento que o conteúdo entra na escola, ele se modifica para atender às necessidades do sistema escolar. Por isso, o uso da palavra ‘escolarizado’ não descaracteriza a importância da escola, logo não pode ser criticado, porque isso significaria negar a própria escola. 4 A escolarização da literatura infanto-juvenil A escola toma para si a literatura infantil, escolariza-a e didatiza-a para atender a seus próprios fins – faz dela uma literatura escolarizada. Devemos interpretar a escolarização e a literatura infantil como sendo a produção para a escola. Muitas das vezes, a literatura que interessa a criança não é aceita pela escola. Não são os alunos que optam pela leitura que gostariam de fazer, e sim os professores que indicam aos alunos a literatura, que na maioria das vezes é desinteressante por ser descontextualizada, fora da realidade dos educandos e daquilo que eles desejam ler. Quando se pensa em literatura infantil como uma literatura produzida para crianças e jovens, o que significa ser produzida para clientela escolar, portanto, produzida para consumo na escola ou através da escola, a expressão escolarização da literatura infantil toma o sentido de literatização do escolar, isto é, de tornar literário o escolar. Este conceito de literatura infantil pode parecer uma heresia - mas deve-se também reconhecer que sempre se atribuiu à literatura infantil e juvenil um caráter educativo, formador, por isso ela quase sempre se vincula à escola - instituição, por excelência, educativa e formadora de crianças e jovens. O desenvolvimento da literatura infantil e juvenil no Brasil acompanha o ritmo do desenvolvimento da educação escolar. Parece mesmo que, ao longo do tempo, a literatura infantil e juvenil foi se aproximando cada vez mais da escola. 5 Conclusão Percebemos que infelizmente a literatura está apresentando mais pontos negativos do que positivos no âmbito escolar. Os alunos não se interessam pela mesma, se sentem desmotivados em estudá-la e os professores não estão sabendo como lidar com essa realidade. Para mudar, nem que seja um pouco, esse quadro, é necessário que os educadores coloquem em prática os estudos já realizados por pesquisadores sobre a literatura na escola, para que essa situação possa mudar e a literatura seja, entre as crianças e os jovens, algo pelo qual eles se interessem, que tenha significado para eles e que possam levar por toda a sua vida. REFERÊNCIAS COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo, 2009. EVANGELISTA, Aracy Martins Alves; BRANDÃO, Heliana Maria Brina; MACHADO, Maria Zélia Versiani. A escolarização da leitura literária: o jogo do livro infantil e juvenil. Editora Autêntica. 2ª edição. Belo Horizonte, 2006. PRADO, Costa Cristina Melina; Freire Carvalho Enes; Resende Camargos Millene Kellen. Literatura em sala de aula: uma avaliação dos processos de ensino. Disponível em: http://www.ueginhumas.com/revelli/revelli3/numero_2/Revelli.v2.n1.artigo08.pdf. Acessado em: 23 de mar de 2012.