|64 4 A Relação en ntre Traballho, Tempoo Livre e Laazer: em bu usca de um ma nova perrspectiva The Relationsh hip between Work, Freee Time and Leisure L Tim me: seeking for f a new perspective p Acy Holanda H Mota¹¹. Mestra em Psicologia. P E-mail: [email protected] m SUMO RES O traabalho é um u fenômenno muito valorizado v e que o lazzer não é tanto t quanddo deveria,, partinndo do preessuposto que q o trabaalho é a fonnte de vidaa das pessooas e que o lazer, aoo contrrário, seria um momento de perdda de proddutividade, ou o um mom mento paraa recompor.. Conttudo, esse cenário c está mudando e o lazer quue era algo não n valorizaado esta gannhando seuu destaaque. Devid do a isso, essse ensaio teem o objetivvo de estuddar o trabalhho, tempo liivre e lazer.. A metodologia aplicada fooi uma pesqquisa biblioggráfica no intuito i de verificar v a constituição c o mpo livre e do lazer e com issoo a relação entre eles ao longo da d história,, do trrabalho, tem visanndo ajudarr a uma melhor coontribuição ao enfren ntamento das d pessoas sobre o aprissionamento ao trabalhoo. Os resulltados possiibilitaram apontar a quee o lazer e o trabalhoo podeem interagirr de forma que q o homeem resgate o sentido daa vida e quee é impresccindível quee se tenha uma ed ducação volltada não só ó para o traabalho, mass também para o lazer,, pois dessaa ma gerar-se-iia uma consscientizaçãoo da importâância do lazzer para a viida de cada um. form Palaavras -Chavve: Trabalhoo. Lazer. Óccio. STRACT ABS Workk is a highlyy valued phhenomenon while leisure is not so much valueed assumingg that workk is thee source of life and leisure would be a momeent of loss of o productiv vity or time to recover.. How wever, this scenario is changing c an nd pleasure is gaining its i prominennce. Indeedd, this paperr aims to study work, w free tim me and leisuure. The meethodology used was an a exploratoory study inn t structure of work, free time annd leisure and a their relationships throughoutt orderr to verify the histoory. We con ntribute unnderstandingg people inn work andd work prissoning. Thee outcomess identtified that leeisure time and work can interacct so that it is essentiall to have ann educationn focuss not only for work but b also forr leisure. Inn short, wee may geneerate awarenness of thee impoortance of leeisure in thee life of eachh of us. Keyw words: Worrk. Leisure. Idleness. 1 Autoora corresponddente. Artigo recebido em m 03 de feverreiro de 2015 5. Aprovado em 05 de m maio de 2015.. Avaliado pelo sisteema double bliind review. RBNDRR · ISSN 2358-51533 · ano 2 · nº1 · p. 664-71 · jun. · 2015 A Reelação entre Trabaalho, Tempo Livrre e Lazer: em bu usca de uma novaa perspectiva |65 5 INTR RODUÇÃO O Na atuallidade a neccessidade dee trabalhar é reforçada pela compeetitividade imposta i porr esse cenário cappitalista, e com c isso o trrabalho tornna-se a prinncipal alternnativa da sobbrevivênciaa do como a única ú tábua de salvação o. Com issoo, a relaçãoo humaana, ou sejaa, o trabalhoo é encarad entree homem e trabalho paassa a ser enntendida com mo algo conflituoso, que q às vezess dá prazer,, mais que também m pode geraar sofrimen nto. C (2008) colocca que o trrabalho “orra se apressenta comoo Ressaltando esssa ideia, Carvalho s em virtude v dass propiiciador de saúde e quualidade dee vida; ora como agraavante da saúde, form mas de organ nização imposta ao ser humano” (pp.14). Isso aconntece, deviddo ao fato, de d somentee sermos eduucados paraa o trabalhoo, não tendoo temppo para o lazzer, pois esse para muiitos é visto como um momento m nãão produtivvo, ou comoo um m momento paara recarregar as forçass e a vitalidaade para volltar ao trabaalho. Contudoo, com as mudanças m noo mundo do trabalho e a conscienttização de alguns, a paraa o fatto de que o trabalho não n é a úniica forma de d viver, suurge o lazeer, fenômenno que vem m ganhhando destaqque na sociiedade contemporânea.. Ressalte-sse que esse lazer não está e voltadoo para a recompossição das ennergias, mass para o cresscimento e a liberdade de cada um m. Como arrgumenta Marcellino M (1983), ( o conceito de lazer está ligado l à reaalização dee atividdades desinnteressadas, sem fins luucrativos, reelaxante, socializante e de caráter liberatório,, no seentido de esstar liberadoo de obrigaçções e definido de form ma mais autôônoma. Assim, em funçãoo do que foi expostto, busca-se com essse artigo, verificar a consttituição do trabalho, teempo livre e do lazer e a relaçãoo entre eless ao longo da história,, visanndo enconttrar algo que q possa ajudar as pessoas e enfrentarem m melhor a situaçãoo vivennciada hoje, situação esssa de aprissionamento ao trabalhoo. ue embora alguns a estuddos tenham m O interesse pelo referido temaa reside no fato de qu analiisado a relaçção entre traabalho e tem mpo livre e lazer, aindaa há lacunass na literatuura sobre tall assunnto. NSTITUIÇÃ ÃO DO TRA ABALHO E DO TEM MPO LIVRE E CON Pensar em e trabalhoo é pensar em e todas ass possibiliddades de sig gnificados aatribuídas a ele, bbem como a todas as possibilidad p des de relaçãão entre estte e o homeem, pois o trabalho t fazz partee da históriaa do homem m desde os teempos maiss antigos, ou u seja, é atrravés do tem mpo que elee é connceituado e explicado tanto t quantoo determinaa a vida e a organização o o humana. n doo Segundoo Borges e Yamamotoo (2004), o trabalho naasce de neccessidades naturais homeem, porém ocorre na interação doos homens e/ou e entre os o homens e a naturezaa. Portanto,, “o trrabalho e a forma de pensar p sobrre ele, seguuirá a condiição sócio histórica h em m que cadaa pessooa vive” (Borges e Yakkamoto, 200 04, p.27). p o trrabalho “é um u processso de que participa p o homem h ea Para Maarx (1985, p.149), naturreza, processso em que o ser humaano com suaa própria açção, impulsiiona, regulaa e controlaa seu iintercâmbioo material com c a natuureza”. Do mesmo moodo, para Carmo C (20001, p.15), o trabaalho é “todaa atividade realizada pelo p homem m civilizado o que transforma a naatureza pelaa inteliigência. E realizando essa ativid dade, o hom mem se tran nsforma, see autoproduuz e, ao see relaccionar com outros hom mens, estabeelece a basse para as relações r sociais”. Já para p Arendtt (20077, p.15), o trabalho t é: A attividade correespondente aoo artificialismoo da existênccia humana, existência estaa não necessariamente contida noo eterno ciclo vital da espécie, e cuja moortalidade nãoo é coompensada poor este últimoo. O trabalho produz um mundo m artificial de coisas,, nitiddamente difereente de qualquuer ambiente natural. n RBNDR R · ISSN 2358-51533 · ano 2 · nº1 · p. 64-71 · jun. · 2015 66| ACCY HOLANDA MOTA Do pontto de vista etimológicco, a palavvra trabalhoo vem do latim tripallium, termoo utilizzado para designar d insstrumento de d tortura, ou o mais preecisamente, “instrumennto feito dee três ppaus” (Steiin, 1994, p.10). Nos primeiros p teempos do cristianismo c o, o trabalhho era vistoo comoo tarefa pennosa e hum milhante, como puniçãoo para o peecado. Steinn (1994) rellata que naa Bíbliia o trabalhho significa castigo pellas desobeddiências a Deus. D Segunndo Stein (11994, p.51),, “A B Bíblia o ap presenta coomo um caastigo, um meio de ex xpiação do pecado orriginal. Porr haverem perdido o a inocênccia original do paraíso,, Adão é coondenado a ganhar seu pão com o o, assim com mo Eva é co ondenada àss dores do parto”. p suor de seu rosto A ideia do d trabalhoo configurou u-se, por muuito tempo,, como farddo, sacrifícioo e castigo.. Grécia Antigga, o trabalhho foi desen nvolvido de acordo com m a ideia dee que a diferrença sociall Na G entree os homenss era naturaal e não hav via qualquerr contradiçãão na sua divisão. Nessa época, o trabaalho era dessprezado peelos cidadão os livres, quuem trabalhhava, segunndo Lassancce e Sparta,, (2003), eram os escravos e servos, pois os cidadãoos livres tin nham o direiito ao ócio e a política,, r aoo exercício da d cidadaniaa e do bom governar. dediccando-se à reflexão, Seguindoo essa meesma conceepção, Arendt (2009)) consideraa que o trrabalho eraa comppreendido com desprrezo, visto que essa atividade estava voltada para atender ass necessidades daa vida, sendoo, portanto, exercidas somente s pellos escravoss. Na Idadee Média, o conceito de d trabalho não sofre alterações a s significativa as. A Igrejaa Católica defend dia o desapego às riqu uezas terrennas e condeenava o traabalho comoo forma dee ( coloocam que essa e forma de pensar o trabalhoo enriqquecimento.. Lassance e Sparta (2003) perm maneceu até o século XV, X quandoo a Reformaa Religiosa coloca o trrabalho com mo sendo a salvaação, uma virtude v dos homens. Stein (1994) afirma quee em função do trabalhho ser umaa qualiidade perannte a Deus, era obrigaçção do hom mem trabalhaar, pois havvia recebidoo a vocaçãoo para o trabalho. R nto, a concep pção de trabbalho se con nstitui como o fonte de identidade e Com o Renascimen autorrrealização, tendo um significadoo intrínsecoo. Stein (19994, p.59) coloca c que “as razõess para trabalhar estão no próprio trrabalho e não fora dele ou em qualqueer de suass m conseequências”.. A partir deessa época, outra visãoo passa a vigorar conceebendo ao trabalho um signiificado nãoo mais serrvil, mas que propiccia, ao hoomem, o seu s desenvvolvimento,, transsformando-sse em conndição impprescindível para a sua s liberdade. Contuddo, com a Revoolução Indu ustrial, a rellação do traabalho com m o homem ganha um novo significado, quee não esses apresentados annteriormentte. Arendt (2009) asssegura que,, na Era Moderna, M o odos os vallores, transfformando toodas as ativvidades em m trabaalho é retrattado como fonte de to necessidade. A e Bastos (2004) com o surgimen nto do cappitalismo o Segundoo Zanelli, Andrade signiificado do trabalho t muuda efetivam mente. Na sociedade capitalista, c o trabalho passa a serr aceitto como fato or de enriquuecimento pessoal, p legiitimado com mo tábua de salvação. No N texto “O O Trabalho e os Dias”, D o pooeta grego Hesíodo H defende o traabalho como o forma de alcançar a a do capitalismoo trouxe novvos valoress feliciidade e a prrosperidadee. Por conseeguinte, o advento que ppassaram a determinaar a sincronnização dos tempos dee vida e do trabalho. O trabalho,, agoraa, é reconhhecido comoo uma ativiidade centrral que ocuppa quase tootalmente o espaço dee vida do homem m, pois absorve a maiorr parte do sseu tempo. Antunes (1995) e Sennnett (1999)) m que nas sociedades s corrooboram essaa ideia quaando relatam industrializzadas o cenntro da vidaa das ppessoas passsou a ser o trabalho. t Na socieedade conteemporânea, as pessoass continuam m dedicando o muitas hooras do seuu dia ààs atividades profissionnais. O trabbalho é vistoo como a busca das reealizações, tornando-se t e RBNDR R · ISSN 2358-5153 3 · ano 2 · nº1 · p. 64-71 6 · jun. · 2015 A Reelação entre Trabaalho, Tempo Livrre e Lazer: em bu usca de uma novaa perspectiva |67 7 uma atividade que q define o homem. Paadilha (20000) argumenta que apesar de tantass mudanças,, o trabbalho continnua sendo o meio de co ontorno em que a vida humana seg gue. Essas traansformaçõões no mund do do trabaalho, desde os primeirros tempos, demonstraa que eexiste dois significados s s antagônicoos para o traabalho. Carvvalho (2008 8, p.24) relaata que “um m signiificado em que o trabaalho é atrelaado a uma noção de esforço, e saccrifício e soofrimento, e outroo em que o trabalho é atribuído ao a empregoo das compeetências do homem doominando a naturreza, sendo o responsável pela con ndição hum mana”. Vale apena resssaltar, que o trabalho,, segunndo Carvalhho (2008, p.14) p “ora se s apresentaa como propiciador dee saúde e quualidade dee vida;; ora como agravante da saúde, em virtude das formaas de organização imposta ao serr humaano”. t porr mais que sejam s distinntas sempree Percebe--se que as iddeias relacionadas ao trabalho estivveram presen ntes na estrrutura sociaal e sempre foram fontes de sobreevivência. Contudo, C noo conteexto atual, a relação entre indiivíduo e trrabalho passsa a ser entendida como algoo confl flituoso, na medida em m que passoou a ser enccarada como o a única tábua de sallvação, nãoo danddo espaço aoo homem dee se relacion nar consigo mesmo. CON NSTITUIÇÃ ÃO DO TEM MPO LIVR RE A socieddade contem mporânea é marcada peelo dinamissmo do dia--a-dia e pela constantee mudaança de cenários, c accarretando, diariamennte, ao hom mem, novo os desafios e novass priorridades. Essse homem contemporânneo encontrra-se cada vez v mais preessionado pelo relógio,, tendoo o seu mu undo regidoo por horárrios e contrrole da rotiina, como: hora para o trabalho,, refeiçções e dorm mir. Por consseguinte, o trabalho coontinua enraaizado nessaa sociedadee que o conssidera partee vital do ser, com mo se dele dependessee a dignidaade e a estim ma do mesm mo. Quantoo maior é a t maaior é o tem mpo dedicaddo a ele e mais m importaante é a relaação tempoo valorrização do trabalho versuus trabalho,, configuraando, com isso, i que o tempo é o tempo do o trabalho, ou seja, o trabaalho dita o teempo na vidda da socied dade exatam mente porqu ue trabalhar é viver. Essa relação de tem mpo na socciedade conntemporâneea é um veerdadeiro caaos, pois o temppo foi suprim mido pelos afazeres e horários, inntensificanddo as queixas de que ""não se tem m temppo para nadaa" e "não exxiste mais tempo t livre"". Essa divisão do temppo para a soociedade see dá coomo um refflexo da impportância que q esta connfere ao trabbalho, sendo o em funçãoo do tempoo de trabalho que as demais atividades a h humanas se regulam. Contudo, C peercebe-se quue é precisoo v e de siggnificado, pois p o traballho não é o único sentiido da vida,, mudaar essa conccepção de vida mas apenas um m deles. É preciso dessprender-se dessa dom minação e passar p a reeivindicar o d à preguiça, ao tempo t livree, ou seja, a direitto proclamaado por Pauul Lafargue (1999), o direito uma vida com seentido para o trabalho, mas tambéém fora destte. Sabe-se que o trabaalho edifica o homem em todas as suas estrutuuras, no entaanto, faz-see necessário que esse e homem m valorize e se permita o tempo dee não trabalho, de não obrigações,, um tempo livre para si, perrmitindo – se usufruir de tal liberdade, pois é no tempo livre, maiss d trabalhoo ou das obbrigações fa familiares ou o sociais, que se abree a melhorr que no tempo de oporttunidade paara a livre deescoberta do indivíduoo. Para Muunné (1980), o tempo liivre, corresponde às açções que accontecem seem que hajaa nenhhuma necesssidade exterrna, isto é, são ações proveniente p s do íntimo o de cada hoomem, sem m cobraança de forra. Marcellino (1996) relata r que o tempo liv vre é o temp po liberado,, não só doo trabaalho, mas de d todas ass obrigações, sejam ellas do âmb bito religiosso, social ou o familiar.. Seguundo Rosso (1996, p.4114) o tempo o livre é defiinido como:: RBNDR R · ISSN 2358-51533 · ano 2 · nº1 · p. 64-71 · jun. · 2015 68| ACCY HOLANDA MOTA Aquuela parte da vida das pesssoas durante a qual se dá a construção da liberdadee indivvidual e coletiiva. Tempo livvre é o tempo o que constrói a liberdade, é o tempo quee emaancipa o inddivíduo, que cria possibiilidades paraa a coletividdade crescer,, deseenvolver-se huumanamente. Para Aquino e Marrtins (2007, p.482), o tempo t livree é o momeento em quee “o sujeitoo atua com a perccepção de fazer f uso desse d tempoo com total liberdade e de maneiira criativa,, s tempo”.. Portanto, o tempo livrre, deve serr dependendo da sua consciêência de valor sobre o seu m total liberdade, dessvinculado de qualqueer obrigatooriedade, vooltado paraa aprovveitado com experiências e atividades a p prazerosas, m desejadas e com mottivação quee vem de ddentro, sem ncia de fatorres externoss. qualqquer influên LAZ ZER Perpassaando pela hiistória do laazer, observva-se que a definição do d mesmo see confunde,, em aalgumas époocas, com a noção de ócio, ó pois seegundo Chaauí (1999), na era clásssica, o ócioo era concebido c co omo uma foorma de vid da, voltada para p a conteemplação e reflexão, portanto, eraa dito como c um teempo de nãoo trabalho, já j que quem m desempennhava tal fuunção eram oos escravoss ou seervos. Contuudo, no período Romanno a conceppção de ócioo muda, poiis este estavva ligado aoo temppo oposto aoo trabalho, ao a tempo dee descanso do d corpo. Por consseguinte, na Idade Média a conccepção de ócio é utillizada comoo forma dee distinnção de claasses, pois o que esttá em destaaque é o consumo, c a ostentaçãoo do poderr econnômico. Já na Idade Moderna, M d devido á exxaltação ao trabalho, o ócio é considerado c o sinônnimo de víccio e de temppo perdido. Na modeernidade, coom a consoolidação do capitalismoo, a jornadaa de trabalhho passou a ser exaustiva, causando, com isso,, intensas lutas paraa a reduçãão de tal jornada, e nte, o aumeento do temppo livre dos trabalhadoores que atéé então, lim mitava-se aoo conseequentemen descaanso para a recuperaçãão das forçass físicas, nãão havendo lugar para o ócio. m por conq quistar o tall tempo livrre, contudo esse tempoo continuouu Essas luttas acabaram sendoo controladdo, agora pela p igreja, pela escolla e pela família, fa mass apesar diisso o ócioo sobreevivia subveertendo a orrdem estabeelecida. Para contraporr o hábito do o ócio, que para p algunss era cconfundido com a ocioosidade, nassce o lazer,, instrumentto de controle da burgguesia, cujaa maniifestação se dá no entreetenimento e na diversãão. O lazer tomou grannde proporçção após a Revoluçãoo Industrial,, quando a jornada dee trabaalho começo ou a diminuuir, o emboora, os seuss fundamen ntos históriccos, sejam anteriores a à socieedade indusstrial, pois sempre exiistiu o trabbalho e o não n trabalhoo. Dumazeddier (1980)) relataa que a impportância doo lazer foi notória n desdde o nascim mento da socciedade induustrial, poiss com a redução do d trabalho industrial, surge mais tempo livrre, com issoo, uma fracaa promoçãoo do laazer. Segundoo Mascarenhhas (2003, p.10) “o lazer é um fenômeno tipicamentee moderno,, resulltante das teensões entree capital e trrabalho, quee se materiaaliza como um tempo e espaço dee vivênncias lúdicaas...”. Percebe-se com o que foi reelatado que com o deseenvolvimento históricoo um determinado d o fenômenoo modifica--se com ass circunstân ncias, porém m é necesssário deixarr claroo que o ócio o e o lazer sãão fenômennos distintoss. Na literaatura enconntram-se váárias definiições a respeito do conceito de lazer, nãoo podeendo com isso, alcannçar um ún nico sentiddo que reprresente o seu signifiicado. Paraa Marccellino (1995) o concceito de laazer revelaa algumas dificuldadees, devido à falta dee RBNDR R · ISSN 2358-5153 3 · ano 2 · nº1 · p. 64-71 6 · jun. · 2015 A Reelação entre Trabaalho, Tempo Livrre e Lazer: em bu usca de uma novaa perspectiva |69 9 unannimidade soobre o seu significadoo, quer ao nível do seenso comum, quer aoo nível doss estuddiosos ou téécnicos quee trabalham m nesta áreaa. No seu livro l “Lazeer e Culturaa Popular”,, Dum mazedier (19976) afirma que é maiss fácil definir o lazer peelo que ele não é do quue pelo quee ele é. Segundoo Kelly apud Freire (2001), esssa dificuldaade de deffinir o que seja lazerr aconntece devidoo ao lazer revelar-se r c como um feenômeno pssicossocial complexo, na medida,, em que q se traduzz por uma variedade v dee atividadess, significaddos e objetivvos, tomanddo-se difícill a possibilidade de uma únnica definição. Dumazzedier (1980 0) e Marcelllino (2001) apoiam a ma ideia quuando defendem que o lazer é um fenômeno complexo, c de d grande abrangência a a mesm socioocultural, e também rellacionado coom aspectos psicológiccos e da saúúde, portanto, estudadoo por ddiversas áreas do conheecimento. Para Maarcellino (1983) o connceito de lazer está liigado à reaalização dee atividadess desinnteressadas,, sem fins luucrativos, reelaxante, soocializante e de caráter liberatório,, no sentidoo de esstar liberadoo de obrigaçções e definnido de form ma mais auutônoma. Allém disso, eesse mesmoo autorr revela quee há uma diistinção entrre dois ponntos a respeiito do conceito de lazeer, onde um m dos ppontos conssidera o lazeer como um m estilo de vida, v e o outtro ponto quue privilegiia o aspectoo temppo, ou seja, o tempo livvre que não o é ocupadoo pelo traballho e pelas obrigações familiares,, sociaais e religiossas. Segundoo Dumazedier (1976, p..34) o lazer é: Um conjunto de ocupações o às quais o indivvíduo pode en ntregar-se de livre l vontade,, seja para repousaar, seja para divertir-se, recrear-se r e entreter-se e ouu, ainda paraa deseenvolver sua informação ou o formação desinteressadda, sua particcipação sociall voluuntária ou suaa livre capaciddade criadoraa após livrar-sse ou desembbaraçar-se dass obriggações profisssionais, familiiares e sociaiss. Esse con nceito repoousa em trêês aspectos básicos, que q são: a dimensão temporal, t a liberddade de esccolha e a esfera e funciional das prráticas estu udadas. Em relação a esse e últimoo aspeccto, a teoriaa de Dumazzedier (1976 6) entende o lazer a paartir das suaas funções básicas, b quee seriaam a do descanso, d de divertimeento, recreação ou enntretenimennto, bem como c a doo desennvolvimento da personnalidade. ( acreedita que o lazer l é com mpreendido como c toda atividade a reesultante dee Padilha (2003) livre escolha, quue tenha um m caráter deesinteressado, que seja marcada peela busca dee satisfaçãoo d ter uma marca m pessoaal de quem a pratica. e praazer, além de Além daa sua definiição, Padilhha (2003) coloca que existem e doiis tipos de abordagenss sobree o lazer que q são a abordagem a m funcionalistta e a aborrdagem Maarxista. Na abordagem funciionalista o lazer é vistto como alggo de bom em oposiçãão ao trabaalho, que é visto comoo algo ruim. Já naa abordagem m Marxistaa, o lazer e o trabalho são atividaades compleementares e mutuuamente detterminadas. e Lazer (World A Asso ociação Muundial de Recreação R ( Leisure and Recreationn Assoociation – WLRA), W naa Carta Inteernacional de d Educaçãão para o Lazer, L consiidera que o lazerr promove a saúde e o bem-estar b g geral, ou seja, é um recuurso para melhorar m a quualidade dee vida,, englobanddo um estaddo de bem-estar físico, mental e social. Saliienta que o lazer devee incluuir liberdadde de escoolha, criativ vidade, satiisfação, divversão e aumento a dee prazer e feliciidade. vimento pesssoal e sociial, além dee Verifica--se com isso que o lazzer permite o desenvolv um m maior envollvimento doo indivíduo pelo mundoo que o roddeia, pois é através do lazer que o indivvíduo tambéém pode connhecer suass capacidadees e limites. Segundo Csikszentm C mihalyi apudd Freirre (2001), a experiênciia de lazer tem reperccussões ao nível do auutoconceito e da auto- RBNDR R · ISSN 2358-51533 · ano 2 · nº1 · p. 64-71 · jun. · 2015 70| ACCY HOLANDA MOTA estim ma, no senttido em quue permite ao indivíduuo desenvoolver um coonceito possitivo de sii assocciado ao gosto de ser coomo é. ( arguumenta aind da, que se o lazer fosse promovidoo Csikszenntmihalyi appud Freire (2001) para o desenvo olvimento e crescimeento humanno, as pesssoas usavaam-no paraa encontrarr q procuraariam o desafio e ten ntariam relaacioná-lo coom as suass experiências ótiimas, em que m papel chavve no desenvvolvimento individual,, capaccidades. Esttas experiênncias ótimass jogam um já quue são ativiidades que levam a um m aumento das compeetências pesssoais necesssárias paraa lidar com as situ uações. Apesar de d todos os benefícios apresentaddos a respeitto do lazer, esse aindaa não é paraa todoss, pois as peessoas aindaa não valoriizam o seu tempo livree e o que fazzem desse tempo. t Paraa muitoos, o trabalho e outras obrigaçõess dominam a sua vida não n deixanddo tempo ppara o lazer,, ou aiinda, essas pessoas nãoo se permiteem esse tem mpo, pois elas acabam inseridas na n rotina doo cotiddiano e desaaprendem a viver outra vida. Ainda see valoriza muito m o trabaalho, quantoo mais temp po livre, maaiores são ass cobrançass para preenchê-loo. O lazer para p muitos ainda é aceeito para reccarregar as energias paara mais um m pe, tudo istoo dentro de uma visão funcionalissta do lazer,, dia dde trabalho, como válvuula de escap sendoo o mesmo um contrapponto ao traabalho. Conntudo, esta relação enttre o trabalhho e o lazerr deve ser repenssada e merrece reflexãão, pois am mbos têm seu valor, não n precisaando um see m aprenderr a viver os dois momeentos, e prinncipalmentee subjuugar ao outrro. As pessooas precisam se peermitir viverr o lazer sem m culpa. NSIDERAÇ ÇÕES FINA AIS CON d estudar o trabalho, tempo livree e lazer, noo intuito dee Esse trabbalho teve o objetivo de invesstigar a relaação entre elles ao longoo da históriaa, visando encontrar e algo que posssa ajudar ass pessooas e enfren ntarem melhhor a situaçção vivenciaada hoje, sittuação essaa de aprisionnamento aoo trabaalho. omos treinados para o Mediante o que fooi exposto, observa-see, que desdde cedo, so trabaalho, e som mente para este, e coom isso é negando a possibiliddade de enncontrarmoss satisffação na essfera do lazzer. Portanddo quando mais m tarde experimenta e amos o lazeer, ele vem m acom mpanhado de d um sentim mento de cuulpa ou de que está faaltando algoo. Isso tudo se deve aoo fato dda valorizaçção do trabaalho provoccar atitudes negativas em e relação ao a lazer, atriibuindo-lhee conootações de im mprodutividdade e ociossidade. Por isso,, é necessárrio que o hoomem supere a ideia de d que a vid da deve giraar em tornoo do trrabalho, poiis o que se visa é umaa vida com sentido e não n uma vid da consentidda. Sabe-see que é necessário o o equilíbrrio entre o trrabalho e o lazer, pois ambos fazeem parte doo cotidiano,, além m é claro dee terem grannde importâância e inflluência na vida de cadda um. Com mo acreditaa Lafarrgue (1999)), o homem m deve reivinndicar o dirreito à preguuiça, ao tem mpo livre, ao a exercícioo de attividades ed dificantes, ou o seja, a um ma vida com m sentido para p o trabaalho, mas taambém foraa destee. Diante disso, d é necessário quue lazer e trabalho po ossam interragir de foorma que o homeem possa reesgatar o seentido da vida, v que dee maneira alguma a podde se confunndir com o trabaalho. Portannto, é imprrescindível que se tennha uma educação e vooltada não só para o trabaalho, mas também parra o lazer, pois dessaa forma gerrar-se-ia um ma conscienntização daa impoortância do lazer l para a vida de cad da um. RBNDR R · ISSN 2358-5153 3 · ano 2 · nº1 · p. 64-71 6 · jun. · 2015 A Reelação entre Trabaalho, Tempo Livrre e Lazer: em bu usca de uma novaa perspectiva |71 REF FERÊNCIAS AQU UINO, C. A. B., Martinns, J. C. O. Ócio, lazer e tempo liv vre na socieedade do connsumo e doo trabaalho. Revistaa Mal – Esttar e Subjettividade, v. 7, n.2, p.4779-500. 2007. ANT TUNES, R. Adeus ao ttrabalho? Ensaios E sobbre a metam morfose e a centralidade c e do mundoo do trabalho. Sãoo Paulo: Corrtez. 1995. ENDT, H.. A Condiçãoo Humana. Rio de Janeeiro: Forensse Universittária, 2009. ARE BOR RGES, L. O., Yamamotto, O. H. O mundo do trabalho. Inn J. C. ZAN NELLI. Ed. Psicologia,, orgaanizações e trabalho no n Brasil. Porto Alegree: Artmed. 2004. 2 CAR RMO, P. S. 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