1 Monitoramento e Diagnóstico de um Transformador de Potência: Análise de Gases Dissolvidos no Óleo e Análise Térmica O. M. Almeida, UFC, M. A. B. Amora, UFC, F. R. Barbosa, UFC, F. A. P. Aragão, UFC, P. R. O. Braga, UFC, O. C. E. S. Nottingham, UFC, L. H. S. C. Barreto, UFC, Vitor R, Endesa Fortaleza. Resumo-O monitoramento e diagnóstico de falhas incipientes em transformadores de potência imersos em óleo está diretamente relacionado à avaliação das condições do sistema de isolamento. Neste artigo, estabelece-se o conceito de monitoramento e diagnóstico, e em seguida técnicas de analises são discutidas. Também será apresentado um sistema de prédiagnostico baseado na utilização de um dispositivo on-line de monitoramento do total dos gases dissolvidos no óleo do transformador. O monitoramento do comportamento das temperaturas internas de um transformador é de fundamental importância para o diagnóstico da vida útil do mesmo. Neste trabalho, também, são apresentadas as características de um sistema desenvolvido de análise térmica e da vida útil de um transformador de potência. O diagnostico de falhas incipientes de um transformador, o pré-diagnostico baseado em equipamento online e a análise térmica, representam módulos de um software desenvolvido. Os resultados da aplicação destes módulos em casos de teste são apresentados neste trabalho. Palavras-chave— Análise de Gases Dissolvidos em Óleo, Análise Térmica de Transformadores, Diagnóstico de Falhas, Inteligência Artificial, Transformadores de Potência Imersos em Óleo. I. INTRODUÇÃO Sistemas para diagnóstico e monitoramento de equipamentos do sistema elétrico de distribuição e transmissão sem a necessidade de desligamentos (on-site) têm sido proposto em níveis de pesquisas com implementações práticas finais por empresas do setor elétrico (fabricantes, transmissoras e distribuidoras) [1,2]. Neste contexto, as universidades e centro de pesquisas têm desenvolvido papeis importantes, principalmente em nível de pesquisa. Isto vem ocorrendo não somente no Brasil como também na maioria dos paises desenvolvidos e em desenvolvimento [1, 2, 3, 4, 5]. No Brasil, Este artigo foi produzido no projeto de fundos setoriais de P&D da Agencia Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)/Central Geradora Termelétrica de Fortaleza (CGTF) no convênio CGTF/ Associação TécnicoCientífica Eng.° Paulo de Frontin (ASTEF). O. M. Almeida, M. A. B. Amora, L. H. S. C. Barreto são professores no Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (emails: otací[email protected], [email protected], [email protected] ). F. R. Barbosa, F. A. P. Aragão são estudantes de mestrado do Curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (e-mail: [email protected], [email protected]). P. R. O. Braga, O. C .E .S Nottinghan são estudantes de graduação do Curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (e-mail: [email protected], [email protected]). R. Vitor é engenheiro da ENDESA Fortaleza (e-mail: [email protected] ) mais especificamente, o interesse por esta área tem sido acelerado nos últimos anos devido a mudanças estruturais no setor de energia elétrica que promovem a competição em alguns níveis, estabelecendo índices mais rigorosos de qualidade técnica e de serviço (geralmente regulados por uma empresa reguladora). Um outro ponto a considerar relaciona-se as razões técnicas associadas ao envelhecimento natural de grande parte dos equipamentos instalados que devem, neste novo contexto, incrementar o desempenho e confiabilidade em condições inferiores àquela da época de suas instalações [5, 6, 7, 8]. Transformadores de potência de grande porte são um dos mais caros e críticos componentes de uma planta elétrica de transmissão e distribuição. Desta forma um grande esforço vem sendo empregado para garantir seu bom funcionamento quanto a evitar possíveis falhas que venham a ocorrer devido ao seu ciclo natural de vida ou regimes elétricos a que são submetidos. Atualmente encontram-se disponíveis ou está em desenvolvimento um considerável número de ferramentas para o monitoramento e diagnóstico das condições dos transformadores de potência imersos em óleo [1, 2, 3]. Os sistemas de monitoramento e diagnóstico de transformadores possuem, geralmente duas funções que, embora distintas por definição, evoluem e são utilizadas em conjunto. O monitoramento tem por fim a aquisição de um conjunto de dados relativos ao funcionamento do transformador e cuja coleta envolve modernas tecnologias em sensores, técnicas de aquisição de dados e dispositivos digitais ou analógicos utilizados. O diagnóstico, por sua vez, está mais relacionado à interpretação dos dados e pode ser realizado por um especialista ou por um software especialmente desenvolvido para este fim [2]. Atualmente observa-se a tendência da substituição do diagnóstico feito por um especialista por sistemas automáticos de diagnóstico que incorporam uma forte parcela de técnicas inteligentes para representar entre outros conhecimentos, aquele acumulado com a experiência de um especialista [5, 6, 9, 10]. Nesse contexto, surge a necessidade de monitoramento e diagnóstico de falhas incipientes em transformadores de potência, através da análise dos gases dissolvidos no óleo do transformador. Além disso, os estresses térmicos a que são submetidos os transformadores de potência são determinantes no seu tempo de vida médio. Desta forma o monitoramento das temperaturas internas dos enrolamentos e do óleo do transformador são de suma importância para implementação de métodos de diagnóstico que levem a uma previsão 2 da perda de vida e à implementação de mecanismos ou manobras de proteção. Informações sobre o estresse térmico em transformadores são atualmente obtidas a partir de medidas indiretas da temperatura do topo do óleo e temperatura do enrolamento. As medidas de forma indireta levam as discrepâncias consideráveis tanto dos valores absolutos quanto da constante de tempo, entre os valores reais e os valores medidos. Isto pode levar o transformador a uma condição de risco grave. Neste trabalho foram utilizados modelos não lineares, melhorados em relação aos modelos convencionais [23, 24], para a representação do carregamento térmico de transformadores imersos em óleo isolante. Portanto, este artigo apresenta a aplicação de técnicas inteligentes envolvendo Redes Neurais e Sistemas Fuzzy no diagnóstico de falhas incipientes, aliado ao monitoramento on-line da taxa de geração de gases dissolvidos no óleo e da determinação da temperatura do topo do óleo através de técnicas não-lineares. Os resultados apontam para o sucesso no que tange à implementação e utilização desses métodos em um programa de computador desenvolvido com o objetivo de promover a salvaguarda de um transformador monitorado. Este artigo está organizado da seguinte forma. Na seção 2, abordam-se a importância e as opções do monitoramento de transformadores. Na seção 3 são discutidos os métodos desenvolvidos de análise dos gases dissolvidos no óleo de transformadores, baseados em sistemas nebulosos (fuzzy) e em redes neurais; resultados de implementação, também, são apresentados nesta seção. Na seção 4 é comentado um método de pré-diagnóstico desenvolvido em função de um equipamento de monitoramento on-line instalado em um transformador de teste. Algoritmos desenvolvidos para a determinação das temperaturas internas de um transformador de potência são apresentados na seção 5, resultados também são apresentados. Na seção 6 é apresentado um software desenvolvido e que agrega todos os algoritmos desenvolvidos nas seções anteriores deste artigo. Na seção 7 são discutidas as conclusões deste artigo. II. MONITORAMENTO DE TRANSFORMADORES Equipamentos para monitoramento de transformadores devem ser eficientes, de custo justificável, fáceis de instalar em campo e de baixa taxa de manutenção [1, 2]. A necessidade da instalação em campo de sistemas de monitoramento tem sua importância se for considerado que uma grande quantidade de unidades de transformação instalada nos parques elétricos atuais data de 30 anos [2]. A idade do parque elétrico tem provocado mudanças nos planos de manutenção das empresas de distribuição e transmissão. Instalações de equipamentos de monitoramento e diagnóstico em transformadores resguardam-no de possíveis falhas gerais causadas por elevados valores de parâmetros intrínsecos ao seu funcionamento, tais como a temperatura, o nível de descargas parciais, o carregamento e o nível de umidade do isolamento. Também auxiliam, ou mesmo definem, o programa de manutenção preventiva existente nas empresas. Além da questão técnica, importância também tem sido dada à ques- tão ambiental o que tem levado ao desenvolvimento de novos tipos de óleos isolantes, principalmente do óleo vegetal [13]. A. Distribuição das Falhas no Transformador Considerando os últimos avanços no desenvolvimento da tecnologia de sensores, praticamente todos os parâmetros de um transformador podem ser monitorados. Atualmente a definição de quais parâmetros monitorar envolve mais uma questão de custo do que de técnica. Portanto, para o sucesso do projeto de um sistema de monitoramento e diagnóstico é importante aliar eficiência e custos. A redução do número de parâmetros monitorados e a utilização de softwares baseados em técnicas inteligentes correspondem a uma das medidas que tem impacto direto na factibilidade do sistema. Para isto deve-se ter indicativos de quais são os parâmetros mais relevantes no sistema. Considerando um transformador de potência imerso em óleo com taps para mudança de cargas (OLTC), a figura 1 apresenta a distribuição estatística das falhas nos componentes do transformador [1]. Da figura 1 pode-se observar que as principais fontes de falhas correspondem ao OLTC e enrolamentos (incluindo o sistema de isolamento). Para o OLTC os principais parâmetros a serem monitorados são a vibração e a temperatura, enquanto para o enrolamento e sistema de isolamento, os principais parâmetros a serem monitorados são as concentrações de gases dissolvidos no óleo, a temperatura e o nível de descargas parciais (PD). Deve ser observado que, independente da fonte de falha a ser considerada, a temperatura constitui um importante parâmetro a ser monitorado. Enrolamentos 19% OLTC 41% Núcleo 3% Terminais 12% Tanque/fluido 13% Acessórios 12% Figura 1. Distribuição das possíveis fontes de falhas em transformadores de potência. Segundo recente pesquisa realizada entre especialistas [17], os dois parâmetros mais importantes a serem monitorados em um transformador seriam a temperatura do ponto quente no interior do mesmo e os gases dissolvidos no óleo isolante. Para transformadores que apresentam um período de instalação e utilização mais recente e que podem ser submetidos a situações de sobrecarga, o parâmetro mais importante a ser monitorado seria a temperatura do ponto quente de um transformador, que afetaria a vida útil do mesmo. A medida que o transformador começa a apresentar vários anos de utilização, o parâmetro mais significativo a ser observado passa a ser a análise dos gases dissolvidos no óleo isolante, permitindo o monitoramento de falhas incipientes no equipamento. Essas conclusões podem ser observadas nas figuras de 2 a 4. 3 Qual é o parâmetro mais importante para o monitoramento de transformadores? Monitoramento do LTC 7,60% Monitoramento das Buchas 0,00% Descargas Parciais 7,60% Temperatura do Ponto Quente 53,80% Análise de Gases Dissolvidos 30,70% Figura 2. Grau de importância dos parâmetros monitorados em um transformador de potência novo. Qual é o parâmetro monitorado mais crítico para transformadores que sofrem condições de carga pesada ou sobrecarga? Qualidade da Energia 0,00% Teste de Inflamáveis 0,00% Imagem Térmica do Transformador 0,00% Temperatura do Topo do Óleo 0,00% Temperatura do Ponto Quente 83,30% Análise de Gases Dissolvidos 16,60% Figura 3. Grau de importâncias dos parâmetros monitorados em um transformador de potência em condições de sobrecarga. Seu transformador estar perto de seu fim de vida. Qual é o item mais importante que deve ser considerado para indicar o fim de vida do equipamento? Histórico de Carregamento 2,60% Checar Capacitância, Resistência e Fator de Potência dos Enrolamentos 15,70% Vibração / Análise de Som 4,30% Histórico de Temperaturas no Topo do Óleo Descargas 10,40% Parciais 6,10% Análise de Gases Dissolvidos 60,90% Figura 4. Grau de importância dos parâmetros monitorados em um transformador de potência antigo. B. Análise de Gases Dissolvidos no Óleo (DGA) Os métodos de diagnósticos com base em DGA [5, 6, 14, 15] são os mais estudados e os mais aplicados a transformadores de potência imersos em óleo. Estes métodos baseiamse na análise de tipos de concentração e taxa de produção de gases gerados e dissolvidos no óleo do transformador, e procuram associar o tipo de falha ao gás presente. Por exemplo, descargas elétricas levam à geração de acetileno enquanto a presença de dióxido de carbono está associada ao sobreaquecimento da celulose. Métodos convencionais de DGA têm sido empregados por mais de trinta anos e constitui uma técnica de sucesso que, aliada a novas tecnologias, ganha novo impulso a cada ano. A utilização destes métodos por décadas seguidas levou a uma base de conhecimento profunda na caracterização do equilibro dos gases no interior dos transformadores. Observa-se que o nível e período de formação dos gases dependem não somente da idade dos transformadores mais também da localização, natureza e severidade das falhas a que são submetidos. Um programa de manutenção no qual o DGA é realizado em períodos anuais, dificilmente acompanha a curva de tendência da formação dos gases. É uma opinião geral de que, em um programa de manutenção, se o DGA for realizado em menores períodos de amostragem, grande parte das falhas catastróficas poderiam ser previstas. Estas opiniões têm levado a desenvolvimentos tecnológicos no sentido de viabilizar o DGA em tempo real (real-time DGA) [2, 3] mesmo que simplificado, ou seja, com monitoramento da formação de alguns gases em particular, como por exemplo o gás carbônico, hidrogênio, fufuraldeido e umidade entre outros. A possibilidade de realizar DGA em tempo real apóia-se no grande esforço que vem sendo atualmente empregado no desenvolvimento de sistemas de sensores eficientes, modulares, e de custo viável. O sensor de hidrogênio, por exemplo, como principal indicador de descargas parciais e arco, foi um dos primeiros sensores a ser desenvolvido e utilizado em sistemas de monitoramento em tempo-real. O sensor Hydran M2 da empresa GE é um exemplo de sensor para a medida de concentração de gases combustíveis, hidrogênio e carbônicos em monitoramento em tempo-real. Atualmente o interesse por pesquisas na área de sensores volta-se para o desenvolvimento de dispositivos optoeletrônicos para análise de gases dissolvidos em óleo isolante. Isto se deve à elevada imunidade eletromagnética destes sensores, possibilitando sua inserção no interior do transformador. Sensores de fibra óptica associados à sistemas DSP (Digital Signal Processing) e a técnicas de identificação temporal ou espectral, encontram-se em fase de desenvolvimento [2, 4, 7, 8]. Podem-se encontrar pesquisas no desenvolvimento de sensores de fibra óptica para medida de temperatura, de descargas parciais e concentração de determinados gases tais como o fufuraldeido [4, 7, 8]. Um equipamento de monitoramento on-line de DGA que surgiu recentemente é o Transfix da KELMAN que permite a identificação individual dos gases dissolvido no óleo de um transformador monitorado. Esse equipamento utiliza a técnica de espectroscopia foto-acústica. Uma outra tendência ainda em nível de pesquisa refere-se a realização do DGA a partir de características físicoquímicas, tais como a cor do óleo, a densidade, a tensão superficial, o índice de neutralização, e a quantidade de água presente no óleo [6]. Neste ultimo caso sistemas baseados em computação inteligente [9, 10, 11, 12] devem ser utilizados para modelagem e diagnóstico. De uma forma geral pode-se dizer que a tecnologia de monitoramento em tempo real das condições do isolamento de transformadores encontra-se em fase de pesquisa e desenvolvimento, com elevado número de resultados em apli- 4 cações práticas. C. Descargas Parcias (PDs) A caracterização de padrões de PD é outra importante fonte de investigação do estado do isolamento do transformador [1, 2, 4]. O monitoramento de PD é efetivo para detecção de falhas. PDs ocorrem dentro do tanque e produzem uma onda sonora e de pressão que é transmitida através do óleo. A detecção de PDs tem sido empregada há anos no diagnóstico de transformadores. Uma das técnicas não intrusivas que utiliza sensores piezelétricos (sensores de ultrasom) tem sido aplicada com sucesso na prática. No entanto, em alguns casos estes sistemas, não intrusivos, podem ser ineficientes por estarem sujeitos a interferências de ruído proveniente do meio externo ao transformador. Este problema, entretanto, vem sendo superado através da implementação de técnicas de processamento digital de sinais para identificar o espectro de freqüência das descargas parciais, isolando-o do ruído ambiente. Seguindo a tendência de desenvolvimento de sensores optoletrônicos, novas técnicas de medida de descargas parciais através de sensores de ultra-som de fibra óptica vêm sendo desenvolvidas [2, 4]. Um sistema exemplo proposto e desenvolvido pelo CPT - Center for Photonics Technology of Virginia University, é composto de uma sonda acústica optoeletrônica e de um processador digital de sinais (DSP). Para a transmissão do sinal da sonda até o DSP utiliza-se uma fibra óptica, conforme a figura 5. rolamento ainda é largamente utilizada na indústria de transformadores. Estas medidas são úteis para a modelagem do comportamento térmico do transformador e do ponto quente do enrolamento. A medida indireta é realizada através da passagem de uma corrente de valor conhecido através de uma carga, que tem um elemento resistivo como indicador, e localizada em um ponto distante da região de alta tensão do transformador [1, 2, 7, 8]. Entretanto tem sido demonstrado que a modelagem da capacidade térmica através de medidas de temperatura utilizando este método apresenta discrepâncias muitas vezes inaceitáveis em relação ao comportamento real do transformador. Para superar as deficiências dos métodos baseados em medidas indiretas, tem sido proposto em nível acadêmico e industrial medidas de temperatura interna de forma direta. Estas medidas geralmente são realizadas empregando sensores de fibra óptica. O ponto quente do enrolamento de um transformador é um fator limitante na capacidade de carga. Atualmente sensores de temperatura baseado em dispositivos optoeletrônicos podem ser instalados nos enrolamentos dos transformadores em fase de manufatura, e são geralmente configurados para a medida em um único ponto ou em configurações distribuída no interior. Técnicas de medidas de temperatura utilizando fibras ópticas começaram na década de 80 e têm sido cada vez mais aplicadas para medida de cargas térmicas em transformadores. Pesquisas realizadas pelo instituto INESC da Universidade do Porto na Optoelectronics and Electronics Unit [27] demonstraram que sistemas ópticos são eficientes para medidas de temperatura interna de transformadores de potência. Sensores da Luxtron baseados em fibra óptica, tais como o conjunto OFT com sonda Photrix, são exemplos de produtos comerciais para medida de temperatura interna de transformadores. III. DIAGNÓSTICO DE FALHAS A PARTIR DOS GASES DISSOLVIDOS NO ÓLEO DO TRANSFORMADOR Figura 5. Sensor óptico de utra-som para medida de descargas parciais. No sensor, o feixe luminoso proveniente de um diodo laser incide no acoplador e é transmitido pela fibra até a cabeça do sensor (ampliada em detalhes). O guia da fibra e o diafragma são colados juntos ao suporte cilíndrico. O feixe de luz incidente é parcialmente refletido (4%) na face do sensor enquanto a outra porção do feixe propaga-se para o espaço interior da cavidade atingindo até a superfície interna do diafragma. A superfície do diafragma é revestida por uma fina camada de ouro de forma que toda a porção de luz incidente seja refletida (96%). Com esta montagem, o sinal óptico, recebido pelo fotodetector, é uma função do comprimento da cavidade selada e é imune à contaminações externas. D. Temperaturas A medida convencional e indireta da temperatura do en- O diagnóstico de transformadores imerso em óleo corresponde à interpretação do conjunto de dados obtidos a partir do sistema de monitoramento e deve fornecer recomendações que definam o ciclo de funcionamento do transformador. Os métodos de diagnósticos são utilizados para determinar as condições atuais de funcionamento dos transformadores, auxiliar em previsões quanto ao seu uso futuro, bem como, para emitir sinais de alerta em advertência a condições críticas de funcionamento. Conforme [1, 2, 14] os métodos de diagnósticos podem ser agrupados em três conjuntos classificados por tipo de falha: i) Falhas Térmicas. Estes tipos de falhas podem ser analisadas através do método DGA, que considera a concentração dos gases dissolvidos no óleo, da temperatura, e da medida do grau de polimerização, que quantifica a degradação da celulose. ii) Falhas Relacionadas ao Dielétrico. A caracterização e localização das descargas parciais é o principal método empregado para detectar falhas relacionadas à falhas no dielétrico. iii) Falhas Mecânicas. Estas falhas geralmente são resultados de forças provocadas por curto-circuito ou por vibração dos enrolamentos e núcleo. O resultado destas falhas são as deformações dos enrolamentos e partes mecânicas internas do trans- 5 formador. A. Método de Diagnóstico Inteligente Baseado em DGA O mecanismo de formação de gases no interior de transformadores imersos em óleo mineral devido solicitações elétricas e térmicas é descrito através de um modelo termodinâmico que descreve o relacionamento entre a taxa de formação dos gases e a temperatura na vizinhança do ponto onde a falha ocorre. Portanto, uma dada configuração de distribuição de concentrações de gases dissolvidos pode ser associada a uma determinada faixa de temperatura e conseqüentemente a um determinado tipo de falha [2]. Os métodos de associação, das concentrações dos gases dissolvidos com a respectiva falha, mais utilizados são: monitoramento de razões entre as concentrações dos gases dissolvidos, avaliação do valor da concentração e taxa de crescimento do gás principal associado a uma determinada falha, ou através de sistemas inteligentes (utilizando em geral sistemas neuro-fuzzy). A norma IEC 599, por exemplo, utiliza como base o método das razões entre as concentrações dos gases dissolvidos [22]. Os principais gases formados a partir da decomposição do óleo mineral de transformadores submetidos a falhas são: hidrogênio (H2), metano (CH4), etano (C2H6), etileno (C2H4), acetileno (C2H2). No método de análise baseado nas razões entre os gases são definidas razões entre esses cinco gases de modo que seja possível a identificação de uma falha tomando por base a faixa em que se encontra cada razão. Historicamente as razões mais utilizadas são apresentadas na Tabela 1. Neste projeto foram desenvolvidos três métodos, que utilizam o conceito de sistemas nebulosos, para análise e classificação do tipo de falha em transformadores. O primeiro sistema utiliza a norma IEC 599 de 1978 para formar a base de regras de inferência. A norma IEC 599 classifica os padrões de falhas em função três razões de concentração dos gases (R1, R2 e R5) (IEC, 1978; IEC 1996). Para cada uma das três entradas são definidas três faixas de valores, que em representação nebulosa são: Pequena (P), Média (M) e Grande (G). Para cada combinação das variáveis de entrada é possível associar um padrão de falha. Os padrões de saída possíveis são: Normal (condição de envelhecimento normal), Low Energy Discharge - LED (descargas parciais), Overheating - OH (quatro níveis de temperatura de sobreaquecimento: T1, T2, T3 e T4) e High Energy Discharge - HEDA (quatro níveis de descargas de alta energia: 1, 2, 3 e 4). Entretanto, observa-se na figura 6 e Tabela 2, que podem ser encontrados problemas de aplicação desta base de regras, devido ao fato da norma apresentar o problema de não decisões, ou seja, regiões em que não estão associadas a qualquer padrão de falha. TABELA I RAZÕES ENTRE AS CONCENTRAÇÕES DOS GASES Razão CH4 /H2 C2H2/C2H4 C2H2/CH4 C2H6 / C2H4/ C2H2 C2H6 Notação R1 R2 R3 R4 R5 Desde que todos os fenômenos relacionados ao diagnóstico de falhas em transformadores são caracterizados por imprecisões, incertezas nas medidas e não-linearidades não modeladas, métodos convencionais combinados com métodos baseados em inteligência computacional [10, 12], em especial os sistemas nebulosos e neurais, podem ser empregados de forma eficiente para diagnósticos automáticos de falhas. B. Sistema de Diagnóstico Baseado em Regras Fuzzy Para desenvolver um sistema de diagnóstico de falhas em transformadores de potência a partir de um sistema baseado em regras nebulosas ou fuzzy [10,11,12] deve-se definir inicialmente um conjunto de regras de decisão. Neste projeto, para elaborar a base de regras, foi utilizada a norma IEC 599 [18, 19]. A partir desta norma estabeleceram-se os valores típicos das razões entre os gases para formar a base de regras. Sabe-se, entretanto, que combinações de diferentes razões cobertas pela norma IEC 599 podem não ocorrer na prática o que leva a sérios problema de indecisão ou não decisão no diagnóstico. Para resolver o problema da não decisão foram propostas adições ao padrão IEC de modo a cobrir todos os valores possíveis das razões, evitando as inconsistências. Figura 6. Representação da base de regras do sistema nebuloso 1. R2 P M G TABELA II CONJUNTO DE REGRAS PARA O SISTEMA NEBULOSO 1 R1 R5 P M G P LED M NORMAL OH_T1 G OH_T2 OH_T3 OH_T4 P HEDA_1 M HEDA3 HEDA_3 G P M HEDA_4 HEDA_4 G - Figura 7. Representação da base de regras do sistema nebuloso 2. No segundo sistema foram adicionadas regras empíricas com o objetivo de solucionar a incapacidade da norma IEC 6 599 de identificar a falha em determinados casos (problema de não decisão) [22]. Assim o sistema é capaz de realizar um diagnóstico para todos os valores assumidos pelas variáveis de entrada (R1, R2 e R5). Isso pode ser facilmente observado na Tabela 3, pois neste caso constata-se que todos os espaços estão preenchidos. Este modelo apresenta ainda uma melhor definição da indicação de descargas de alta energia (High Energy Discharge - HEDA), apresentando quatro níveis distintos de descargas. A figura 7 e tabela 3 apresentam as dimensões das variáveis e base de regras para este método. R2 P M G TABELA III CONJUNTO DE REGRAS PARA O SISTEMA NEBULOSO 2 R1 R5 P M G P LED LED LED M NORMAL OH_T1 OH_T1 G OH_T2 OH_T3 OH_T4 P HEDA_1 HEDA_1 HEDA_1 M HEDA_3 HEDA3 HEDA_3 G HEDA_3 HEDA_3 HEDA_3 P HEDA_2 HEDA_2 HEDA_2 M HEDA_4 HEDA_4 HEDA_4 G HEDA_4 HEDA_4 HEDA_4 No terceiro sistema para classificação das falhas é utilizada uma nova base de regras. As variáveis de entrada deste sistema são os valores assumidos pelas razões: C2H2/C2H6 e C2H4/C2H6, portanto nesse modelo utiliza-se a razão C2H2/C2H6 que não está definida na norma IEC 599 [21]. Para cada entrada são definidos quatro conjuntos nebulosos: Muito Pequeno (MP), Pequeno (P), Médio (M) e Grande (G). Para este modelo os padrões de saída definidos são: Low Temperature Overheating - LTO (sobreaquecimento de baixa temperatura), Middle Temperature Overheating MTO (sobreaquecimento de média temperatura), High Temperature Overheating - HTO (sobreaquecimento de alta temperatura), Partial Discharge - PD (descargas parciais de baixa energia), Middle energy Discharge - MD (descargas de média energia) e High energy Discharge - HD (descargas de alta energia). As dimensões das variáveis e da base de regras para este método são apresentadas na figura 8 e tabela 4, respectivamente. C2H4 C2H6 C2H2 C2H6 MP MP P M G LTO MTO HTO HTO P PD MTO+PD HTO HTO M MD MD MD HD G HD HD HD HD Para todos os três sistemas nebulosos propostos foram utilizadas funções de pertinência gaussianas para as entradas e triangulares para os padrões de saída. Por exemplo, o sistema nebuloso 1 possui como variáveis de entrada as razões: R1, R2 e R5. A cada variável nebulosa estão associados três conjuntos nebulosos: Pequeno (P), Médio (M) e Grande (G). Para o ajuste dos parâmetros das funções de pertinência utilizou-se o seguinte critério: os máximos das funções gaussianas ocorrem nos valores médios dos intervalos definidos no método de cada sistema. As figuras 9, 10 e 11 apresentam respectivamente as funções de R1, R2 e R5. A figura 12 vai representar as funções de pertinência da saída do sistema nebuloso 1 na forma de singletons. Figura 9. Funções de pertinência da variável R1 do sistema 1. Figura 10. Funções de pertinência da variável R2 do sistema 1. Figura 11 Funções de pertinência da variável R5 do sistema 1. Figura 8. Representação da base de regras do sistema nebuloso 3. TABELA IV CONJUNTO DE REGRAS PARA O SISTEMA NEBULOSO 3 7 Figura 12. Funções de pertinência da saída do sistema 1. Para implementar a máquina de inferência, a implicação de Mamdani [9,10,11] foi utilizada. Dado o conjunto nebuloso apresentado na saída do subsistema de inferência é realizada a operação de matching entre os padrões possíveis de saída, que expressam a experiência de um operador, e a saída atual. Cada padrão de saída está associado a um tipo de falha, de modo que a saída do sistema apresenta o grau de similaridade entre a saída atual da máquina de inferência e os padrões de falha. A figura 13 apresenta o diagrama de blocos dos sistemas nebulosos implementados. Figura 13. Implementação dos sistemas nebulosos. C. Sistema de Diagnóstico Baseado em Redes Neurais As redes neurais utilizadas no diagnóstico de falhas realizam, basicamente, um mapeamento não linear entre as entradas e saídas. Estas relações podem ser representadas por um número limitado de pares de entrada-saída (amostras de dados). Estas suposições são de fundamental importância, principalmente para analisar se uma determinada amostra é realmente representativa para um dado sistema. A aplicação de redes neurais no diagnóstico de falhas apresenta duas fases. A primeira fase é o processo de treinamento, durante o qual um conjunto de amostras de dados é fornecido à rede. Nesta fase, os pesos dos neurônios da rede são ajustados iterativamente para “memorizar” as relações de entrada-saída. A segunda fase é um processo de teste ou validação, durante o qual um conjunto de amostras é alimentado à rede, e saídas são calculadas através dos valores dos pesos memorizados pela rede. A primeira fase é uma tarefa que geralmente exige um grande esforço computacional e podem ser necessários muitos passos de iteração para atingir a exatidão requerida. É nesta fase que os estudos estão concentrados. Definições tais como: o algoritmo de aprendizagem, a topologia da rede e o vetor de dados utilizados podem ser intencionalmente mudados para otimizar o desempenho da rede. Uma vez encerrada esta fase, as especificações da rede são fixadas e não podem ser mudadas na fase de teste. A segunda fase é mais simples, envolve somente o cálculo da saída da rede para um dado conjunto de amostras e a verificação da adequação do modelo a um critério de avaliação de desempenho. Em uma Rede Neural Perceptron Multi-Camada – MLP [9], as memórias são os pesos entre as camadas, representadas como wij do neurônio de entrada-saída relacionado em (1). ⎞ ⎛ p y (jl ) = Φ v (jl ) = Φ⎜⎜ ∑ wij(l ) xij(l ) ⎟⎟ ⎠ ⎝ i =0 ( ) (1) A função Φ(°) é a função de ativação do neurônio. A função de ativação Φ(v) é uma função não-linear suave e pode ter várias formas, tais como a função logística da equação e a função tangente hiperbólica , como em (2). Φ (v) = a tanh(bv) ( a, b) > 0 (2) Para a seleção de uma MLP, neste estudo, foram considerados alguns fatores. Primeiro, o diagnóstico de falha é um problema de mapeamento não-linear complexo, devido ao fato das entradas e saídas serem ambas multivariáveis e não existe nenhuma relação linear obtida até o presente momento. Segundo, uma MLP de três camadas (com apenas uma camada escondida) tem a capacidade de aproximar qualquer função, independente de sua complexidade. Em geral, as MLPs com mais do que uma camada escondida são mais eficientes. Terceiro, o algoritmo de treinamento BackPropagation tem sido aplicado a diversos problemas com sucesso. O treinamento é do tipo supervisionado, pois a cada iteração é conhecida a saída desejada e pode-se calcular o erro. Desta forma, uma MLP foi capaz de modelar com suficiente precisão o sistema estudado. D. Resultados Para realização da etapa de testes e avaliação dos métodos desenvolvidos de análise dos gases dissolvidos no óleo de um transformador, foram coletados dados de transformadores da COELCE (Companhia Energética do Ceará), provenientes de 135 análises cromatográficas realizadas nos anos de 2001 a 2003. A título de exemplo, a Tabela 5 apresenta alguns dados retirados do conjunto de dados utilizados. Dentre as 135 amostras são encontradas situações de funcionamento normais e falhas incipientes como pode ser observado na Tabela 6, de modo que, submetendo-se os modelos à avaliação do “grau de certeza” apresentado no diagnóstico, pode-se avaliar a performance de cada um dos sistemas de diagnóstico propostos. TABELA V EXEMPLO DE DADOS UTILIZADOS PARA TESTE DOS SISTEMAS PROPOSTOS Amostra 1 2 3 4 5 6 7 8 H2 2 21 58 1 4 2 3 36 CH4 C2H4 28 63 5 13 2 0 3 11 2 8 4 6 6 11 4 3 C2H6 0.2 2 0 2 2 3 4 3 C2H2 0 0 0 0 0 0 0 0 TABELA VI CLASSIFICAÇÃO DOS DADOS UTILIZADOS QUANTO AO TIPO DE FALHA Tipos de Falhas / Normal Sobreaquecimento no óleo Sobreaquecimento na celulose Quantidade 78 17 8 Descargas de baixa energia Descargas de alta energia Normal TOTAL 25 11 4 135 O primeiro sistema nebuloso apresentou o diagnóstico idêntico ao fornecido no laudo técnico em 67% das 135 amostras. Este baixo índice se deve em grande parte ao problema da não decisão, pois 81% dos erros cometidos são devido a este problema. O segundo sistema nebuloso teve um índice de acerto de 83% nas 135 amostras. Neste caso a grande maioria dos erros se deve ao fato do sistema não considerar o sobreaquecimento e degradação da celulose através de regras especiais. Assim o sistema é induzido ao erro na maioria dos casos em que o ponto quente se localiza na celulose. Para solucionar este problema pode-se utilizar a razão entre os gases monóxido de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO2) como parâmetro de análise. Uma razão CO2/CO na faixa de 3.0 a 10.0 é considerada normal. De modo semelhante a norma IEC 599 propõe a faixa aceitável de funcionamento normal como: 0.07<CO/CO2< 0.30. Para sobreaquecimento da celulose a muito altas temperaturas (sob condição de arco, por exemplo) a razão CO/CO2 aproxima-se de 1:1, em conseqüência de uma geração muito rápida de CO. Para condições de leve sobreaquecimento (problemas de ventilação ou sobrecarga) o CO2 cresce muito mais rapidamente que o CO, portanto a taxa de CO/CO2 fica na faixa de 1:20 a 1:10. O índice de acerto ou eficiência resultante do método anterior acrescentado-se a razão CO/CO2 como entrada do sistema foi da ordem de 91%. O terceiro sistema nebuloso apresentou um índice de acerto de 76% nas 135 amostras. Para este sistema os erros se devem a incapacidade do método não conseguir identificar corretamente os casos de descargas parciais. Este método apresentou uma particularidade em relação ao diagnóstico de sobreaquecimento, identificando uma temperatura de falha em uma faixa superior à temperatura apresentada no laudo técnico. Para o treinamento da rede neural o conjunto total de dados com as concentrações de gases dissolvidos no óleo foi dividido em dois grupos: conjunto de treinamento e de validação. O conjunto de treinamento possui 100 amostras e o conjunto de validação 35 amostras. A cada simulação, as 135 amostras foram divididas nestes dois grupos de forma aleatória, no final foi tomada a média dos resultados de cada simulação. Os melhores resultados apresentados conduzem a níveis de 91% de acerto no diagnóstico. Esses resultados foram obtidos quando foi realizada uma seleção dos dados de entrada de forma a obter uma amostra representativa dos cinco padrões de falhas analisadas. IV. MONITORAMENTO ON-LINE DOS GASES EM UM TRANSFORMADOR DE POTÊNCIA Um dispositivo para monitoramento do desenvolvimento de condições de falhas, modelo HYDRAN M2 da GE, foi instalado em um transformador de potência pertencente à CGTF - Central Geradora Termelétrica de Fortaleza, do grupo ENDESA. Ele efetua a medição do total da concentração de gases combustíveis, hidrogênio e carbônicos, além de umidade, para monitoramento em tempo-real. Estes dados são disponibilizados pelo equipamento em intervalos mínimos de 15 minutos. A partir da instalação do equipamento foi elaborado um algoritmo para o fornecimento de um pré-diagnóstico utilizando as informações do total dos gases gerados no período monitorado e a tendência de queda ou subida da taxa de geração desses gases. Logo, tem-se o acompanhamento da unidade durante o período compreendido entre duas análises laboratoriais do óleo isolante. Para o sensor de monitoramento de gases utilizado no equipamento, há a garantia de sensibilidade de Hidrogênio (H2), Monóxido de Carbono (CO), Acetileno (C2H2) e Etileno (C2H4). O total dos gases dissolvidos é a soma das sensibilidades a esses gases. O Guia de Interpretação de DGA do IEEE apresenta um algoritmo que leva em consideração o patamar do total dos gases dissolvidos no óleo isolante de um transformador e a tendência de evolução deste valor [25]. Uma vez que o sensor utilizado não permite a estratificação dos valores dos gases gerados individualmente, de forma a se fazer uma análise cromatográfica completa on-line, toma-se esse algoritmo sugerido acima para implementar um pré-diagnóstico que consiga mostrar qualitativamente a produção de gases dissolvidos no óleo e a tendência de evolução dessa produção. Assim, pode-se classificar, em até quatro níveis, a condição de trabalho da unidade monitorada, sendo uma condição normal, duas intermediárias e a última, crítica. A partir deste pré-diagnóstico, pode-se disponibilizar uma série de procedimentos condizentes com a classificação feita indo de continuidade normal da operação até retirada de funcionamento da unidade para análise mais detalhada do óleo, ou seja, cromatografia laboratorial. Tratando-se a cromatografia como um procedimento relativamente caro e observando a desvantagem de que a unidade não tem uma cobertura de monitoramento entre os intervalos de retirada do óleo para este tipo de análise, o prédiagnóstico se configura como uma oportunidade de se resguardar o transformador durante o citado período e de se estabelecer a otimização do tempo em que a cromatografia é realmente necessária. O algoritmo de pré-diagnóstico desenvolvido apresentou resultados satisfatórios em relação ao transformador com o equipamento de monitoramento on-line instalado. V. MODELAGEM TÉRMICA Um dos objetivos deste projeto foi desenvolver modelos não-lineares para a representação do carregamento térmico de transformadores imersos em óleo isolante. Por definição o carregamento térmico de um transformador pode ser obtido a partir de um modelo para a temperatura do topo do óleo [20]. A modelagem da temperatura do topo do óleo é obtida em função do carregamento do transformador, medido através de sensores de corrente, e da temperatura ambiente. Quanto ao desenvolvimento dos algoritmos, a idéia básica foi supe- 9 rar dificuldades quanto aos modelos convencionais, minimizar a quantidade de informação necessária para a modelagem do sistema, pela redução no número de variáveis monitorada com reduzido número de sensores, e comparar o desempenho dos algoritmos propostos. Os algoritmos não lineares e inteligentes [16, 20, 26, 29] utilizados na modelagem da carga térmica do transformador foram: Modelo Melhorado do IEEE, Modelos Polinomiais NARX e Rede Neural-MLP. Segunda a recomendação IEEE/ANSI a elevação da temperatura do óleo acima da ambiente é função do aumento da carga do transformador que apresenta como conseqüência perdas internas da unidade, e conseqüentemente aumento global da temperatura. Uma melhoria proposta a este modelo é obtida quando a variação da temperatura ambiente é levada em consideração [20]. Um outro modelo utilizado é o polinomial NARX. Este modelo é descrito no tempo e possui como finalidade definir a saída em função de valores prévios de sinais de entrada e saída. No nosso objetivo proposto, temos como entradas a temperatura ambiente e o carregamento do transformador e a temperatura do topo do óleo como saída, definindo, desta forma, uma estrutura de modelo não linear NARX [20]: θ o [k ] = + ∆t T0 θ o [ k − 1] + θ a [k ] + T0 + ∆ t T0 + ∆ t ∆ tθ fm R 2 ∆ tθ fm ⎛ I [k ] ⎞ ⎜ ⎟ + (T0 + ∆ t )( R + 1) ⎜⎝ I n ⎟⎠ (T0 + ∆ t )( R + 1) (3) Duas estruturas NARX foram utilizadas. A primeira estrutura implementou um modelo NARX que incorpora informações sobre a dinâmica de transferência de calor interna e externa ao transformador e por isto é considerado um modelo caixa cinza. Este modelo é uma evolução proposta para a recomendação C57115 IEEE/ANSI. Para o segundo modelo utilizou-se uma estrutura não linear NARX desconsiderando-se informações a priori do sistema e por isto classificado como caixa preta. Para a determinação da estrutura do modelo NARX caixa preta utilizou-se o método da taxa de redução do erro como descrito em [20]. No modelo da Rede Neural Artificial-MLP foi utilizada a topologia de uma rede com uma única camada escondida, com duas entradas para os dados de temperatura ambiente e carregamento (corrente) e uma saída, na qual é determinada a temperatura do topo do óleo. Para avaliar o desempenho dos métodos propostos na modelagem da carga térmica do transformador a partir da estimação da temperatura do topo do óleo foi usado um protótipo, instalado em uma subestação do DEE/UFC. Este transformador protótipo permite o estudo e desenvolvimento do sistema de monitoramento em nível de laboratório, inclusive com testes destrutivos, para futuras adaptações dos sistemas em transformadores de potência. O melhor resultado para o transformador (DEE/UFC) foi obtido com o modelo polinomial caixa cinza, que aprimora recomendações da C57.115 IEEE/ANSI, conforme Tabela 7. TABELA VII RESULTADOS DO MODELAMENTO TÉRMICO Modelo Somatório do Erro Coeficiente de Quadrático - SSE Correlação Múl2 tipla – R Recomendação 7.2764e+003 0.6248 C57.115 IEEE/ANSI. Polinomial não 202.0036 0.9856 linear NARX caixa cinza. Polinomial não 427.7920 0.9699 linear NARX – caixa preta. Rede Neural – 392.1128 0.9720 MLP. Nas implementações utilizaram-se amostras do carregamento, da temperatura ambiente e da temperatura do topo do óleo do transformador. Inicialmente foi utilizado um conjunto com 612 amostras obtidas em intervalos de ∆t = 5 minutos para estimação dos parâmetros dos modelos e treinamento da rede e posteriormente um outro conjunto com 379 amostras foi utilizado para validar os modelos. O transformador alimentava cargas não lineares formadas de aparelhos de ar condicionado. VI. PROGRAMA COMPUTACIONAL PARA DIAGNÓSTICO INTELIGENTE DE TRANSFORMADORES Foram implementados métodos baseados em inteligência computacional, descritos na seção 3 deste trabalho, para o diagnóstico de falhas incipientes em transformadores de potência em função dos gases dissolvidos no óleo isolante. Os algoritmos têm como finalidade, além do diagnóstico do transformador propriamente dito, solucionar as inconsistências normativas que regem a área. A figura 14 apresenta a interface com o usuário do programa computacional desenvolvido, referente ao módulo para o diagnóstico do transformador baseado em redes neurais e/ou sistema fuzzy utilizando como entrada as concentrações de gases dissolvidos no óleo. O software apresenta a possibilidade da utilização direta das concentrações dos gases nas entradas ou através das razões. Na saída, é possível observar o resultado apresentado pela norma IEC, o sistema fuzzy ou neural, ou ainda, ambos os diagnósticos. Também foi desenvolvido um módulo computacional capaz de acessar as informações do sensor instalado de monitoramento on-line dos gases dissolvidos no óleo do transformador. Conforme a figura 15, pode-se acompanhar, de forma on-line, a evolução do total das concentrações dos gases dissolvidos no óleo do transformador, assim como, a umidade e temperaturas ambiente e do topo do óleo. Através desse módulo computacional é possível acompanhar cada uma das grandezas medidas através de médias diárias e gráficos de tendência. 10 Figura 14. Software de diagnóstico de falhas. Um sistema de alarmes foi, também, estabelecido para que, através do monitoramento, haja uma segurança do uso da unidade transformadora durante o período compreendido entre duas análises laboratoriais do óleo isolante. O prédiagnostico (vide seção 4) pode ser acessado através do botão diagnóstico na tela da figura 15. A partir deste prédiagnóstico, pode-se ter acesso a uma série de procedimentos condizentes com a classificação feita indo de continuidade normal da operação até retirada de funcionamento da unidade para análise mais detalhada. Figura 15. Tela com informações do monitoramento on-line. O terceiro módulo computacional desenvolvido neste trabalho corresponde ao monitoramento das temperaturas internas de um transformador. Esse módulo utiliza os algoritmos comentados na seção 5 deste trabalho. Através do módulo é possível obter informações sobre tensões, correntes e temperaturas internas do transformador monitorado, com a opção de gerar gráficos de cada uma dessas grandezas. Também, é possível obter uma previsão da vida útil do transformador. VII. CONCLUSÃO Métodos de monitoramento e diagnóstico de falhas incipientes em transformadores baseados na análise de gases dissolvidos no óleo isolante obtiveram indiscutível sucesso durante estes últimos 30 anos. Entretanto, este sucesso devese ao conhecimento e experiências de alguns especialistas. É de interesse geral dos engenheiros de manutenção que este conhecimento e experiências sejam cientificamente organizados e representados em linguagem de máquinas inteligentes. Nos últimos anos evidenciou-se também que o monitoramento do ponto quente do transformador é tão importante quanto ou, em alguns casos, de superior importância, ao monitoramento dos gases. Este artigo inicialmente apresentou uma visão geral da área de monitoramento e diagnóstico de transformadores de potência. Neste trabalho foi apresentado o desenvolvimento de um sistema computacional inteligente para o diagnóstico de falhas incipientes em transformadores de potência baseado na análise dos gases dissolvidos no óleo. Os métodos desenvolvidos são baseados em rede neural e sistemas fuzzy. O programa desenvolvido está integrado a um módulo de monitoramento on-line da evolução do volume total dos gases e da umidade no interior do transformador, associado a um algoritmo de pré-diagnóstico. Comparando-se os resultados apresentados na utilização dos três modelos nebulosos aplicados ao diagnóstico de falhas internas de transformadores, observa-se que para as condições críticas (falhas severas) os três modelos apresentaram um correto diagnóstico. Para esta análise, foi considerado que as falhas críticas são aquelas que envolvem sobreaquecimento de alta temperatura (>700°C), ou descargas de alta energia. Nos demais resultados, foram observados diagnósticos que demonstram uma posição conservadora dos modelos, principalmente para o terceiro sistema (sistema nebuloso 3), quando comparado com os diagnósticos apresentados nos relatórios realizados de análise de gases dissolvidos nos transformadores. Os resultados apresentados na utilização de rede neural aplicada ao diagnóstico de falhas internas de transformadores apresentaram um percentual elevado de diagnóstico correto. No entanto, os estudos continuam no que visa aprimorar a aplicação desta técnica juntamente com outras técnicas de Inteligência Computacional, visando mesclar as qualidades destas para obtenção de resultados ainda melhores. O módulo de monitoramento on-line e de pré-diagnóstico também foi implementado com sucesso no software desenvolvido. Neste trabalho, também, foram implementadas três estruturas de identificação não linear para resolver o problema de estimação da temperatura interna do topo do óleo de um transformador, considerando somente dados do carregamento e temperatura ambiente. A primeira estrutura implementou um modelo NARX que incorpora informações sobre a dinâmica de transferência de calor interna e externa ao transformador e por isto é considerado um modelo caixa cinza. Este modelo é uma evolução proposta para a recomendação C57115 IEEE/ANSI. Para o segundo modelo utilizou-se uma estrutura não linear NARX desconsiderando-se informações a priori do sistema e por isto classificado como caixa preta. Finalmente o terceiro método correspon- 11 deu a uma modelagem através de redes neurais artificiais com estrutura MLP e treinamento por back-propagation. Diferentes estruturas de redes neurais MLP foram implementadas para se chegar à uma estrutura que apresentasse resultados satisfatórios. Das implementações realizadas obteve-se um melhor desempenho para a identificação através do modelo polinomial não linear NARX caixa cinza. Os métodos desenvolvidos de análise térmica do transformador também foram agregados a um programa computacional. VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Bengtsson, C.; Status and Trends in Transformer Monitoring, IEEE Transactions on Power delivery, vol. 11, No. 3, 1996. [2] Kovacevic, S. and Dominelli, N.; Transformer Life Extension by Continuous On-Line Oil Conditioning; Proceedings of Electrical Insulation Conference and Electrical Manufacturing & Coil Winding Technology Conference. ,pp.23-25, 2003 [3] Tenbohlen, S.; Figel, F.; On-line condition monitoring of power transformers, IEEE Power Engineering Society Winter Meeting, pp. 2211 - 2216 vol.3, 2000. [4] Lazarevich, A. K.; Partial Discharge Detection and Localization in High Voltage Transformers Using an Optical Acoustic Sensor; Thesis submitted to the faculty of the Virginia Polytechnic Institute and State University, 2003 [5] Freitas, A.A.C. “Redes Neurais Artificiais Aplicadas em Transformadores de Distribuição Imersos em Óleo”, Tese de Mestrado, UNESP/FE/DEE, Bauru-SP, 2000. [6] Freitas, A. A. C. (2000). Redes Neurais Artificiais Aplicadas em Transformadores de Distribuição Imersos em Óleo, Tese de Mestrado, UNESP/FE/DEE, BauruSP. [7] Cavaleiro P.M., Araújo, F.M., Ferreira, L. A. Santos, J.L. Farahi, F. Simultaneous Measurement of Strain and Temperature Using Bragg Gratings Written in Germanosilicate and Boron-Codoped-Germanosilicate Fibres, IEEE Photonics Technology Letters, 2003. [8] Ferreira, L. A. Santos, J.L. Farahi, F. Diatzikis E.V.; Demodulation of Fibre Bragg Gratings Sensors Based on Dynamic Tuning of a Multimode Laser Diode", Applied Optics, 38, 4751, 1999. [9] Haykin, S, Neural Networks – A Comprehensive Foundation, McMillan Inc., Englewood Cliffs – N.J., US [10] Chen, C. H., Fuzzy Logic and neural network Handbook, McGrawHill, 1996. [11] Hesk, T. and neporent, J.; Fuzzy logic for Real World Design, AB AnnaBooks Ed., 1999 [12] Almeida, M. O., Passold, F. e Borges, P. S. S. (2000). Design Issues And Laboratory Experiments In Fuzzy PID Control Teaching -XVIII Brazilian Congress of Engineering Teaching – COBENGE 2000, Ouro Preto – Brasil. [13] Oemmen, T. V. Vegetable Oils for Liquid-Filled Transformers, IEEE Electrical Insulation Magazine, pp. 6 –11, 2002. [14] M.A Wang, Z. (2000). Artificial Intelligence Applications in the Diagnosis of Power Transformer Incipient Faults, doctorad thesis, Blacksburg, Virginia. [15] Y. Zhang, X. Ding e Y Liu, “An Artificial Neural Approach to Transformer Fault Diagnosis”, IEEE Trans. On Power Delivery, No.4, October 1996, pp.1836-1841. [16] Chen, Linear System Theory and Design, Oxford University Press, 1999. [17] LumaSense Technologies e T&D World Magazine. Web Seminar. Junho de 2007. Disponível: http://www.electricityforum.com [18] IEC 599 – Interpretation of the analysis of gases in transformers and other oil-filled electrical equipment in service, International Electrotechnical Commission, Geneva, Switzerland, 1978. [19] IEC. IEC 599 – Revision of IEC 599 – Working Draft 2, International Electrotechnical Commission, Geneva, Switzerland, 1996. [20] Carvalho, M. F.; Almeida, O. M.; Cruz, C. M. T.; Amora, M. A. B.; Nottingham, O. C. S.. Modelos Neural e Polinomiais não Lineares: Comparações e Estudos de Casos Aplicados na Modelagem da Carga Térmica de Transformadores de Distribuição Imersos em Óleo; VII Simpósio Brasileiro de Automação Industrial, 2005, São Luís. Anais do Congresso, 2005. [21] Tsuchie, M.; Recent Diagnostic Technology on Oilimmersed Power Transformer, Japan; Mitsubishi Eletric Corporation, 2002. [22] Wang, Z. Artificial Intelligence Applications in the Diagnosis of Power Transformer Incipient Faults, Blacksburg, Virginia University, 2000. [23] ABNT NBR 5416, Aplicação de Carga em Transformadores de Potência - Procedimento, A. B. N. T., Julho 1997. [24] IEEE Guide for Loading Mineral-Oil-Immersed Power Transform in Excess of 100 MVA (65oC), IEEE C.57.115.1991. [25] IEEE Guide for the Interpretation of Gases Generated in Oil-Immersed Transformers – IEEE Std C57.1041991 – 1991. [26] Aguirre,L. A. Introdução a Identificação de Sistemas, Editora UFMG, 2004. [27] Lobo, A. B. Ribeiro; Santos, J. L.; Baptista, J. M.; L. A. Ferreira; F. M. Araújo; A. P. Leite, Optical Fiber Sensor Technology in Portugal, Fiber and Integrated Optics, Volume 24, Issue 3 & 4 May 2005 , pages 171 – 199 [28] Degamber, B., Tetlow, J., Fernando, G. F., Design and development of low-cost optical-fiber sensors for temperature metrology: Process monitoring of an epoxy resin system, Journal of Applied Polymer Science, Volume 94, Issue 1 , Pages 83 – 95 [29] Hell, M. ; Costa Jr., P. P. ; Gomide, F. . Recurrent Neuro fuzzy Network in Thermal Modeling of Power Transformers. IEEE Transactions on Power Delivery, 2007.