86 Os Desafios da Gestão do Estado Brasileiro: 1ª Conferência Nacional em Transparência e Controle Social Márcia Cecília Bezerra Tavares Vanuza da Silva Figueiredo Resumo O trabalho aqui apresentado é o resultado de dois estudos independentes, elaborados dentro de um mesmo período de tempo (2011-2012), sobre um tema central: a 1ª Conferência Nacional sobre Transparência e Controle Social e o impacto que a mobilização da sociedade brasileira no controle dos gastos públicos e combate à corrupção irá provocar nas instituições nacionais. Os dados e conclusões aqui apresentados resultam dos estudos de campo realizados por duas pesquisadoras que atuaram de maneira participativa na organização, na mobilização e na elaboração das propostas da Conferência do Plano Nacional de Transparência e Controle Social do governo brasileiro. A junção destas pesquisas visa contribuir para futuros estudos na relação Estado-Sociedade no contexto brasileiro e latino americano. Palavras-chave: governança, transparência, Lei de Acesso à Informação. Abstract The work presented here is the result of two independent studies, developed within the same time period (2011-2012), on a central theme: the 1st National Conference on Transparency and Social Control and the impact that the mobilization of Brazilian society in control public spending, and fighting corruption will result in national institutions. The data and conclusions presented here are the result of field studies conducted by two researchers who worked in a participatory organization, mobilization and proposals to the National Plan for Transparency and Social Control of the Brazilian government. The junction of these research aims to contribute to future studies on the relationship between State and Society in the Brazilian and Latin American. Keywords: Governance, Transparency, Lei de Acesso à Informação. 87 Autoras: Márcia Cecilia Bezerra Tavares Professora da Fundação de Apoio à Escola Técnica Estadual do Estado do Rio de Janeiro, professora assistente Sociedade Unificada de Ensino Superior e Cultura (SUESC) e da Universidade Estácio de Sá e pesquisadora do ABRAS/UFF. Mestre em Administração pela Universidade Federal Fluminense, mestre em Tecnologia pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, Especialista em Tecnologia Internet pelo IBPI, Especialista em Sistemas de Informação e Inteligência Competitiva pela UCAM, Bacharel em Administração de Empresas e Tecnóloga em Processamento de Dados pelas Faculdades Reunidas Professor Nuno Lisboa. Ampla experiência na área de Administração e projetos sociais, com ênfase em Organizações Públicas, atuando principalmente nos seguintes temas: inclusão digital, planejamento estratégico, gestão de processos, tecnologia da informação e controle social. Vanuza da Silva Figueiredo Professora de contabilidade gerencial e custos na FAC- UNILAGOS, tutora do Consórcio CEDERJ e contadora do Instituto Macaé de Metrologia e Tecnologia (autarquia da Prefeitura Municipal de Macaé). Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade do estado do Rio de Janeiro UERJ(2013) e graduada em Ciências Contábeis pela Universidade Federal Fluminense (2005). Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Ciências Contábeis, atuando principalmente no seguinte tema: contabilidade pública e contabilidade de custo. 1. Introdução A administração pública tem sido alvo de controvérsias a respeito da transparência de suas ações. Em países democráticos, a transparência superficial - não tanto pela dotação de recursos, mas pela sua aplicabilidade se transforma em fator altamente questionável pela sociedade, o que, em muitos casos, tornam ocultas as informações da gestão pública, comprometendo a credibilidade sobre a assertiva desses atos. A cobrança da sociedade por visibilidade está vinculada à necessidade de abrir acesso ao conteúdo informacional dos atos e gastos efetivados pelo governo. O conhecimento pleno destes fatos, por si só, não atende às expectativas do cidadão, que, também, exige qualidade informacional, em espaço temporal. Uma sociedade participativa consciente da atuação dos seus representantes desempenha, de forma mais satisfatória, o exercício da democracia quando tem o livre arbítrio de opinar e fiscalizar o governo. Fraude e corrupção encontram oportunidades propícias para propagação em ambientes nos quais a gestão pública pode escamotear informações por julgá-las impróprias para o acesso generalizado. No Brasil, a Lei de Acesso à Informação, nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, busca tornar menos obscuro o conhecimento da informação por parte dos cidadãos, no que se refere à forma como os nossos recursos públicos são administrados. Uma administração transparente permite a participação do cidadão na gestão e no controle da administração pública e, para que essa expectativa se torne realidade, é essencial que ele tenha capacidade de conhecer e compreender as informações divulgadas. A participação social consiste, portanto, em canais institucionais de participação na gestão governamental, com a presença de novos sujeitos coletivos nos processos decisórios, não se confundindo com os movimentos sociais que permanecem autônomos em relação ao Estado (Assis e Villa, 2003). 88 Desde 2003 o Brasil é signatário da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, já tendo ratificado três Tratados Internacionais sobre este tema: a Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE); a Convenção Interamericana contra a Corrupção, da Organização dos Estados Americanos (OEA); e, a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (CNUCC). Todas estabelecem como ideia central o fortalecimento da cooperação internacional para ampliar a prevenção e o combate à corrupção em todo o planeta; o não cumprimento de seus dispositivos autoriza a comunidade internacional a exercer pressão sob seus signatários. (BRASIL, 2013). A Transparência Internacional (TI), organização não governamental cujo trabalho consiste em monitorar a corrupção e seu combate em governos de todo mundo (Fontoura e Soares, 2008), mostra que um dos caminhos viáveis para a solução do problema enfrentado pelo governo de uma nação, que se encontra em uma situação como a do Brasil, é o fomento na participação da Sociedade Civil no controle das ações do Estado que propicia a mobilização da população no controle social para que possa agir de forma preventiva. A realização em 2012 da 1ª Conferência Nacional sobre Transparência e Controle Social (1ª CONSOCIAL), capitaneada pela Controladoraia Geral da União (CGU), ocorreu dentro de um contexto que atende diretamente aos interesses do governo brasileiro para a ampliação de sua participação em movimentos internacionais de combate à corrupção que entendem ser fundamental a participação da Sociedade Civil como critério de transparência e democracia participativa de um país. A meta estabelecida para a realização da Conferência foi à formulação das diretrizes/propostas para a elaboração do Plano Nacional de Transparência e Controle Social, documento que norteará as políticas públicas do controle das ações do governo pela população e do combate à corrupção. Desenvolver e implantar controles sociais no Brasil com a participação da Sociedade Civil é um trabalho árduo e complexo. Fernandes (2009, p. 34) é enfático ao colocar que as tradições culturais fazem permanecer a ordem estamental no Brasil, desembocando num patrimonialismo exacerbado no interior das instituições políticas, uma herança que caminha como uma “sombra” paralela ao desenvolvimento do país e à sua inserção no cenário capitalista mundial. Souza (2009) amplia este debate ao trazer novas observações sobre o alinhamento das elites nacionais detentoras do poder no país aos interesses econômicos mundiais que determinam o direcionamento das ações do Estado na cristalização da estratificação social, amplamente utilizada para a produção de um contingente de mão de obra desqualificada e, portanto, mais barata, disponível para a perpetuação da exploração. Este trabalho inclui estudos distintos que podem contribuir para a avaliação dos fatores que influenciam a ampliação do controle social capaz de tornar efetivas as ações da Administração Pública brasileira e suas instituições. Sua contribuição pode não só possibilitar a realização de novos estudos sobre o tema como também fornecer informações relevantes a outras Nações latino-americanas cujo nível de desenvolvimento e complexidade econômica se assemelhe ao do Brasil. 89 O estudo está organizado em quatro seções que se distinguem em: revisão de literatura que mostra os aspectos das atuais mudanças estruturais dos governos, dos procedimentos para a accountability e os desafios para os avanços da democracia participativa, seguida da descrição dos métodos aplicados das duas investigações realizadas juntamente com as hipóteses criadas ao longo deste processo. Na sequência é apresentada a análise dos dados levantados nas duas pesquisas e por fim os resultados alcançados, as conclusões dos estudos e as recomendações para futuras pesquisas sobre o tema investigado. 2. A modernização dos governos e ampliação da transparência O sistema econômico capitalista é compreendido como um modo de produção, em que a atuação de empresas privadas coordenadas pelo mercado realiza transações à base de troca de valores equivalentes. Dentro desta definição, o Estado representa um corpo estranho, já que sua função é exclusivamente a de garantir os direitos de propriedade; esta é a perspectiva que está presente no pensamento liberal contemporâneo. Diante da inviabilidade da proposta conservadora do Estado mínimo nos países emergentes em função dos seus já clássicos problemas de desigualdades sociais, a grande tarefa dos anos 1990 no Brasil foi a Reforma de seu Estado. Nele foram inseridos os conceitos do Estado gerencial pelo uso dos critérios, embora não declarados explicitamente, do New Public Manangement (NPM), utilizados na Grã-Bretanha e Estados Unidos nos anos 1980 que realinhou o papel do Poder Executivo para o de agente regulador, estabelecendo a presença de atores sociais com objetivos muitas vezes conflitantes e até contraditórios. (Bresser Pereira, 1998, p. 97). O estudo sobre a transparência na gestão pública se destaca como relevante devido sua importância no processo de implantação de uma Boa Governança (Diniz, et al 2009) que além de facilitar as discussões prepara o cidadão para o exercício da democracia. Assim, a divulgação pelo poder público de informações contábeis de forma transparente e comparável, processo identificado no NPM por accountability, induz a sociedade a cobrar da gestão pública informações confiáveis que comprovem estarem as ações do governo alinhadas às suas necessidades. A interligação entre transparência e accountability é apontada por Bizerra (2011) como termos intimamente relacionados para o setor público. A capacidade para a responsabilização das ações dos gestores públicos está diretamente relacionada ao conhecimento advindo de informações claras sobre a utilização dos recursos públicos e a efetividade das políticas de governo junto à população. O modelo de gestão difundido pelo NPM sustenta que através do estreitamento dos laços entre comunidades, órgãos públicos, privados e não governamentais, torna-se factível estimular uma maior participação com a ampliação da cidadania e da accountability realizada pelo Estado. Trata-se de um conceito relacionado ao universo político administrativo anglo-saxão e fortemente estimulado nos países de economias emergentes como o Brasil. Os problemas decorrentes da falta de controle e de instrumentos de fiscalização dificultam avaliar se as ações realizadas pelos gestores públicos estão atendendo as necessidades da população. As questões que decorrem 90 da relação de conflito de interesses entre aqueles que delegam a administração de suas organizações (sociedade civil) e aqueles que recebem esta incumbencia e administram (gestores públicos), são chamados de conflitos na relação entre principal e agente e podem desencadear uma crise de governança que é o conjunto de princípios básicos e práticas que conduzem a administração pública ao alcance da eficiência, eficácia e efetividade nos seus resultados. (Bizerra, 2011). Para Pires (2011), “O controle social visa a pressionar as instituições a serem mais ágeis e transparentes e também a propiciar um suporte de legitimidade às decisões de direção. Trata-se de instância política da comunidade de usuários de um serviço público”. A entidade ao dar transparência de seus dados abre espaço para futuras reivindicações da sociedade que visem a um maior detalhamento das informações disponibilizadas. Para que tudo isso se efetive a ampliação do envolvimento dos cidadãos na gestão das políticas públicas é fundamental. Através do aumento de membros da sociedade informados a respeito da funcionalidade do Estado e a aplicabilidade dos canais de participação é possível levar um indivíduo, ou grupos organizados, a atuar de forma ativa nas decisões de governo. A importância da divulgação desses instrumentos de participação à sociedade possibilita a condução das pessoas às arenas de debates públicos e a democracia participativa. O Brasil já apresenta alguns expressivos exemplos de controle social e monitoramento dos gastos públicos através de grupos organizados em Rede que atuam diretamente no combate à corrupção do país trabalhando alinhados com o Ministério Público, o Tribunal de Contas e as controladorias nos seus diferentes níveis de governo. São eles: Transparência Brasil (TBrasil), Articulação Brasileira Contra a Corrupção e a Impunidade (ABRACCI), Amigos Associados de Ribeirão Bonito (AMARRIBO), o Observatório Social do Brasil (OSB) e o Contas Abertas. Ainda assim existem barreiras históricas e culturais que precisam ser transpostas já que a prática de controle social realizada no Brasil, analisada a partir da construção do seu Estado Nacional até o final da segunda metade do Século XX, apresenta um quadro que evidencia estarem as ações de Estado no país voltadas para a preservação dos interesses de grupos restritos que conduzem a política e a economia no Brasil, tema largamente explorados nas obras de Prado Junior (1961), Freyre (1990), Darcy (1995), Holanda (1995), Leal (1997) e Souza (2003). O aparato repressivo do Estado brasileiro usado para coibir desde sempre as iniciativas populares que clamaram pela ampliação da participação do povo-massa nas questões políticas internas mostra que a elite econômica que o compõe encontra-se pouco afeita a abrir mão dos privilégios adquiridos na condução do governo. Rose (2010) denuncia que esta prática ainda persistiu nos governos democráticos eleitos após 1985 no Brasil. A 1ª Conferência Nacional sobre Transparência e Controle Social figurou-se como uma introdução a mobilizações em nível municipal, estadual e federal no que diz respeito à transparência e controle social. Neste sentido a conferência contribuiu para iniciar o cidadão comum aos debates a respeito da relevância de 91 sua participação sobre as ações do governo iniciando um espaço de debates para a interação da sociedade com o poder público e com isso permitir a condução da transparência pública e o desenvolvimento de canais de participação entre estes atores. Os dois estudos realizados da 1ª CONSOCIAL aqui apresentados buscaram explorar esta relação através da análise das propostas finais aprovadas para o Plano Nacional de Transparência e controle social brasileiro, da percepção pessoal de alguns dos organizadores do evento, dos delegados da etapa estadual do Rio de Janeiro e da etapa nacional. A proposta da conferência ao ser avaliada por outras nações com os mesmos propósitos do governo brasileiro deve entender que estudos relevantes sobre seus atores precisam ser considerados. Segue na próxima seção as metodologias utilizadas pelas duas investigações. 3. O método adotado para elaboração das pesquisas A introdução deste trabalho já deixou claro que este é um estudo fruto de duas pesquisas independentes sobre o mesmo objeto: a 1ª Conferência Nacional sobre Transparência e Controle Social realizada no Brasil em 2012. Diante de um ambiente que trata de temas complexos tais como políticas públicas, governança, corrupção e democracia participativa, as autoras em cada uma de suas pesquisas trataram de forma distinta a conferência. A primeira buscou avaliar a capacidade para o exercício do controle social pela população no Brasil a partir da análise do conteúdo das propostas aprovadas para o eixo temático da conferência denominado “Promoção da transparência pública e acesso à informação e dados públicos”. A segunda autora procurou analisar as relações entre a sociedade brasileira e o governo através de entrevistas realizadas com organizadores da etapa estadual do estado do Rio de Janeiro e os delegados presentes na discussão do eixo temático “Mecanismos de controle social, engajamento e capacitação da sociedade para o controle da gestão pública”. Cada uma estabeleceu uma metodologia própria para seus estudos que serão apresentados a seguir de maneira sucinta para melhor compreensão do leitor. 1ª Pesquisa: estudos sobre as dez propostas finais aprovadas para ao Plano Nacional concentradas no tema “Promoção da transparência pública e acesso à informação e dados públicos”. Através da análise crítica individual do conteúdo de cada uma delas se estabeleceu um comparativo do aparato legal já disponível com a orientação dada à redação das propostas. Este procedimento propiciou uma análise do nível de conhecimento das pessoas que participaram da conferência sobre a funcionalidade do Estado e seu aparato legal, as conclusões deste trabalho estão apresentadas na próxima seção deste artigo. 2ª Pesquisa: trabalho de campo que envolveram organizadores e participantes da conferência em uma investigação que buscou identificar os fatores que influencia o baixo grau de participação da população no controle social da Administração Pública. Os dados registrados no estudo foram obtidos através de entrevistas filmadas, aplicação de questionários e observação participante em cinco etapas da conferência e 92 ficou concentrado nas pessoas envolvidas no tema “Mecanismos de controle social, engajamento e capacitação da sociedade para o controle da gestão pública” com 202 pessoas. O material acumulado foi tratado dentro dos critérios estabelecidos na técnica de análise de conteúdo onde as informações produzidas contribuíram para a elucidação das hipóteses iniciais que deliberaram a pesquisa e de outras que foram estabelecidas ao longo da participação da pesquisadora no evento. Mesmo tendo sido desenvolvidas de maneiras dissociadas, ambos os trabalhos se complementam ao abordarem o contexto do evento, seus atores, as instituições de governo e a relação da sociedade com o Estado no Brasil. As autoras entenderam que as conclusões alcançadas pelos estudos podem contribuir para novas pesquisas, já que mostram a realidade de um país de economia emergente que busca firmar-se no contexto internacional através do alinhamento político e estrutural de suas instituições. 4. As informações produzidas no evento O estudo que focou as propostas aprovadas para o tema “Promoção da Transparência” colocou a 1ª CONSOCIAL como instrumento direcionado à mobilizações sociais em nível municipal, estadual e federal no que diz respeito à transparência e controle social. A realização das diferentes etapas da conferência contribuiu para iniciar o cidadão nestes temas. As propostas aprovadas refletiram a necessidade dos participantes em terem bem definidos os órgãos que devem recorrer quando as determinações legais relacionadas à transparência da informação pública que não são cumpridas pelas entidades, assim como a regulamentação dos prazos relacionados à divulgação das informações facilitando com isso o acompanhamento das publicações e as devidas punições para quem não os cumpre. A baixa qualidade da redação de algumas propostas foram consideradas em função da ausência de capacitação previa dos participantes para o evento, fator considerado fundamental para futuras edições da conferência posto que provocou diversas falhas na formulação das propostas do Plano Nacional em função de fatores como o desconhecimento dos participantes a respeito das leis existentes e das atribuições das ferramentas de participação social. O segundo trabalho, que buscou a avaliar os fatores explicativos do baixo grau de participação da sociedade brasileira no controle social estabeleceu um conjunto de hipóteses ao longo da pesquisa de campo que contribuíram para análise da efetividade da Conferência que foram: a) o grupo de participantes identificado como Sociedade Civil apontou para a presença significativa de funcionários públicos e conselheiros de políticas públicas em sua composição; b) a realização da conferência é fruto da articulação direta dos órgãos de controle do governo em seus diferentes níveis e não da mobilização da sociedade; c) a conferência possibilitou a ampliação de debates e a participação popular com o governo nos temas por ela propostos nas experiências onde a população se mobilizou para realizá-la; d) houve efetividade na atuação dos delegados 93 para a aprovação das propostas apresentadas nas etapas estaduais e nacional, embora sua qualidade seja questionável; e) a percepção para o avanço do controle social no Brasil em curto prazo é pessimista; f) a Conferência possibilitou a aproximação dos órgãos de controle com a população e forneceu subsídios para o início de relacionamentos voltados para a educação fiscal. A despeito das duas diferentes propostas dos estudos aqui apresentados, ambos indicam um alinhamento quanto a proposição do Estado brasileiro frente aos organismos internacionais e a relação dos governos que atuam no direcionamento das políticas públicas do país com a população. 5. Os resultados finais e as conclusões dos estudos A escolha do tema “Transparência” da primeira pesquisa foi feito de maneira proposital desde o início da pesquisa em função do acesso aos dados públicos ser de grande relevância no presente para a contabilidade pública. A divulgação das informações contábeis não atenderá somente à Lei de Responsabilidade Fiscal e aos órgãos fiscalizadores, qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso a informações aos órgãos e entidades da administração pública e os governos, entenda-se gestores públicos, que deverão estar estruturados para tal. Por se tratar da 1ª CONSOCIAL faltaram dados históricos e, com isso, a impossibilidade de comparar as propostas formuladas entre edições anteriores, assim como ausência de bibliografia sobre o tema representaram desafios para ampliação da pesquisa. Espera-se que a experiência vivida conduza ao aperfeiçoamento nas próximas edições e que antes disso exista a mobilização prévia dos órgãos de controle direcionadas à educação fiscal. As mudanças de procedimentos da sociedade frente ao tema transparência e controle social começarão a surtir efeitos quando a população começar a vivenciar melhorias na qualidade de vida em função de um constante envolvimento nos debates organizados pelos instrumentos de participação social. A sociedade pode fazer a sua parte através de seu engajamento e o poder público precisa tornar o controle social uma política de Estado. O projeto oficial das mudanças proposta pela Conferência envolveu diferentes atores e instituições, colocando a Sociedade Civil e representantes do Poder Público sob uma mesma pauta de discussão. A observação participante feita nesta investigação revelou o distanciamento entre os seus organizadores e a população, o que ficou claramente exposto nos depoimentos dos entrevistados. O pressuposto básico da Conferência reafirma a idéia de que o aparato legal e as estruturas institucionais devem atuar como emuladores desse processo de transformação social onde a população apenas desempenha o papel de ator no exercício do controle social que emerge do Estado para a sociedade, sob a tutela dos órgãos oficiais. A leitura das propostas aprovadas na Conferência para o Plano Nacional de Transparência e Controle Social demonstra exatamente isso: aplicação rigorosa da Lei de acesso à informação; criação de conselhos e fóruns de transparência e controle social; e educação fiscal. Uma conferência deste porte não precisa representar mais um ato de tutela da sociedade pelo Estado. 94 Referências ASSIS, M. M. A.; VILLA, T. C. S.. O Controle Social e a Democratização da Informação: Um processo em construção. Revista Latino-Americana de Enfermagem [online], v. 11, n. 3, p. 376-382, 2003. ISSN 01041169. BIZERRA, A. L. V. Governança no setor público: a aderência dos relatórios de gestão do Poder Executivo municipal aos princípios e padrões de boas práticas de governança. 2011. 124f. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) – Faculdade de Administração e Finanças, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. BRASIL. Controladoria Geral da União. Disponível em: http://www.cgu.gov.br . Acesso em: 16/01/2013 às 10hs. BRESSER PEREIRA, L. C.. A Reforma do Estado dos anos 90: lógica e mecanismo de controle. 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