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LIÇÕES DE UMA CAMPANHA CHOCHA
Ricardo Vélez Rodríguez
Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa” da UFJF.
Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Professor Emérito da ECEME
[email protected]
A primeira fase da campanha presidencial chega languidamente ao seu fim,
envolta no nevoeiro das chuvas desta primavera incipiente. A característica marcante
foi, a meu ver, a escassa empolgação que produziu na opinião pública brasileira, em
decorrência, principalmente, dos tapumes que a legislação eleitoral vigente coloca à
análise e discussão de propostas de governo. Seria necessário revê-la para que,
futuramente, a campanha seja o que em realidade deveria ser: um debate livre entre
os cidadãos e os candidatos, tendo como fulcro os programas de governo.
Considerada do ângulo dos vários candidatos, poderíamos frisar que a
campanha não foi satisfatória, em decorrência do fato de que estes não expuseram, de
forma clara, desde o início, programas de governo elaborados previamente. Consistiu,
mais, numa briga de palanque, desenvolvida ao ensejo das conveniências de
momento, ao sabor das circunstâncias e tendo como norte as pesquisas de intenção de
voto.
A candidata oficial, Dilma, pecou por fazer da campanha simples espaço de
propaganda, sem nenhum compromisso com a verdade e sem mostrar o mínimo
respeito para com a inteligência dos eleitores, tratando-os como se fossem simples
fichas manipuláveis pelos marqueteiros de plantão. Nada de expor, de forma clara e
honesta, um programa mínimo de governo. Nos vários debates havidos ao longo
destas semanas, Dilma foi grossa, mentirosa, chata e chegou até o desplante de utilizar
o espaço tradicionalmente concedido na ONU ao primeiro mandatário brasileiro, ao
ensejo da abertura oficial das sessões, para fazer da tribuna desse colegiado
internacional simples palanque a serviço do seu partido. A maior parte do tempo da
intervenção de Dilma girou ao redor da propaganda político-partidária, tendo-se
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dedicado a falar, para uma plateia que escutava com desinteresse, das façanhas e
realizações que o PT teria consolidado em doze anos de desgoverno.
Segundo vários analistas destacaram, a candidata do PT mostrou, mais uma
vez, por que o Brasil da era lulopetralha é considerado, no espaço internacional, como
um “anão diplomático”, ao ensejo do alinhamento da primeira mandatária brasileira
ao lado dos terroristas do Estado Islâmico e contra os países que organizaram a reação
armada, liderados pelos Estados Unidos. Dilma, em matéria de diplomacia e política
internacional, segue as pegadas do seu mestre, Lula, que se alinhou célere, durante os
seus dois governos, ao lado de ditadores e genocidas e iniciou a criminosa política de
desmonte das tradições republicanas no Itamaraty. Vergonha internacional! A
petralhada poderia ter-nos poupado dessa humilhação perante a Organização das
Nações Unidas!
O candidato do PSDB, Aécio Neves foi, disparado, o melhor nos debates.
Educado, objetivo, claro, respondeu às indagações dos seus interlocutores, sem cair na
lengalenga propagandística cozinhada no fogão dos marqueteiros. Largou os punhos
de renda costumeiros dos tucanos, nas oportunas e duras críticas que desferiu contra
Dilma e o seu partido. Criticou a candidata do PSB pela forma açodada em que
elaborou o seu programa de governo, costurando propostas socialdemocratas do PSDB
com itens da cartilha socialista. Aécio revelou-se à altura da tradição mineira, como
digno rebento do legado de Tancredo Neves. Agradou aos seus seguidores, entre os
quais eu me incluo. Mas não agradou o suficiente. Teve uma falha séria: deixou para os
últimos dias da campanha a apresentação completa do seu programa de governo,
dando a impressão de esperteza para não ser criticado e abrindo o flanco para que a
candidata Marina Silva tomasse carona oportunista nas propostas tucanas. Ora, Aécio
tinha meios de fazer, desde o início, uma apresentação objetiva de um programa de
governo que o PSDB tem. Não bastava dizer, como frisou, que já era conhecido o
receituário tucano. Era necessário, na campanha, apresentar o programa integral e
explica-lo progressivamente, ao ensejo das circunstâncias propiciadas pelos debates. O
PSDB tem excelentes economistas, cientistas políticos e sociólogos de renome
internacional, a começar pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Aécio pecou
exatamente por mineirice, ou seja, por ter confiado demais na política de pé de
ouvido, descuidando o debate aberto. Costurar alianças como fez o candidato Aécio
claro que é importante. Mas as circunstâncias pediam coisas novas.
E a novidade consistia, certamente, nas várias propostas que o PSDB elaborou,
ao longo das últimas décadas, nos terrenos econômico, das políticas sociais, das
relações internacionais e das políticas culturais e que, atualizadas na aplicação
oportuna às atuais circunstâncias, teriam elevado o tônus dos debates e satisfeito
ainda mais o eleitorado. Como destacou a jornalista Dora Kramer, Aécio, enquanto
senador, não entrou em cena oportunamente como verdadeiro oposicionista. Poupou
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o PT de críticas necessárias na tribuna parlamentar. Entrou em campanha como
político respeitador do sistema, sem que a opinião pública o tivesse registrado, na sua
memória, como opção crítica de oposição verdadeira e forte aos desmandos petralhas.
A sua queda nas intenções de voto para Marina Silva decorreu, certamente, dessa
falha.
A candidata Marina Silva foi guindada aos céus dos altos índices de intenção de
voto pelo inesperado desaparecimento trágico de Eduardo Campos. O messianismo
político é combustível de fácil ignição no cenário político. Não é necessário exagerar,
contudo. Versões conspiracionistas tentaram potencializar os fatos, como se o
candidato do PSB tivesse sido vítima de um plano diabólico da CIA, para colocar em
destaque uma candidata que teria as bênçãos dos poderosos do planeta. Por essa
trilha esotérica, poder-se-ia pensar que a agência americana teria treinado, no
serpentário de Baal, o astuto réptil que induziu Adão e Eva a comer da fruta proibida,
com a finalidade de instaurar a guerra entre os homens, a fim de favorecer, na trágica
história humana, os fabricantes de armas. Marina não se explica por essas fantasiosas
análises de pseudociência. Ela foi considerada pela opinião pública, sob os holofotes da
campanha, como opção viável diferente da inescrupulosa petralhada. E, de forma
inteligente e oportunista, pinçou elementos aproveitáveis da proposta tucana, no
terreno macroeconômico e nas políticas sociais. Acertou em cheio. Mas, é pena, de
forma temporária, como tudo que acontece sob o calor da emoção messiânica.
Conseguirá, ao ensejo desse élan, chegar como a opção das oposições no final da
campanha e nas urnas? Os fatos dirão.
Torço sinceramente para que, nesta última semana de campanha, o meu
candidato, Aécio Neves, continue recuperando o fôlego e consiga chegar, na reta final
da eleição presidencial, como o preferido do eleitorado para suceder Dilma no
comando do Brasil. É, sem dúvida, a opção mais lúcida e a que melhor conseguirá
pacificar um país bastante dividido pelos desgovernos do patrimonialismo petralha e
pela estúpida campanha ideológica desenvolvida pelo PT. É a melhor opção para,
depois do final deste lamentável governo, refazer a nossa economia, já bastante
golpeada pela burrice estatizante e corporativa de três mandatos que foram
infelizmente escolhidos pelo povo brasileiro que, decerto, pagará a conta – como já a
está pagando – de tantos abusos e da cleptocracia que se apossou do Estado.
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