FACULDADE MARECHAL RONDON
COORDENAÇÃO DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
ESTUDO SOBRE COMO A MENTALIDADE RACIONAL DAS
ORGANIZAÇÕES LIMITA A CRIATIVIDADE E O TALENTO
MARCELO DA SILVA PESSÔA
Orientador: Prof. MSc. Rosana Amador Ramos
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Faculdade Marechal Rondon - São Manuel, para
obtenção do título de Bacharel em Administração
de Empresas com Habilitação em Comércio Exterior
São Manuel – SP
Novembro – 2004
II
FACULDADE MARECHAL RONDON
COORDENAÇÃO DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
ESTUDO SOBRE COMO A MENTALIDADE RACIONAL DAS
ORGANIZAÇÕES LIMITA A CRIATIVIDADE E O TALENTO
MARCELO DA SILVA PESSÔA
Orientador: Prof. MSc. Rosana Amador Ramos
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Faculdade Marechal Rondon - São Manuel, para
obtenção do título de Bacharel em Administração
de Empresas com Habilitação em Comércio Exterior
São Manuel – SP
Novembro – 2004
III
OFERECIMENTO E AGRADECIMENTOS
Dedico o presente trabalho a Deus e aos meus pais que,
com sua humildade e sabedoria, contribuíram
em muito para minha educação e formação
como pessoa, ensinando-me que sempre há
uma saída diferente para qualquer problema.
Agradeço a minha orientadora por sua dedicação
e empenho os quais me motivaram a levar este projeto adiante.
IV
SUMÁRIO
Resumo....................................................................................................................
Página
01
Abstract....................................................................................................................
03
CAPÍTULO 1 – Projeto de Pesquisa.......................................................................
05
1.1 – Introdução.......................................................................................................
05
1.2 – Objetivos.........................................................................................................
08
1.3 – Justificativa.....................................................................................................
10
1.4 – Revisão de Literatura.....................................................................................
11
1.4.1 – Mentalidade.............................................................................................
11
1.4.1.1 – Definição de Mentalidade...............................................................
11
1.4.1.2 – Abordagem Filosófica da Mentalidade...........................................
12
1.4.1.2.1 – Contribuição do Autor.............................................................
16
1.4.1.3 – Abordagem Psicológica da Mentalidade........................................
16
1.4.1.3.1 – Contribuição do Autor.............................................................
19
1.4.2 – Racionalismo..........................................................................................
19
1.4.2.1 – Definição de Racionalismo............................................................
19
1.4.2.2 – Abordagem Filosófica do Racionalismo........................................
19
1.4.3 – Organização............................................................................................
20
1.4.4 – Limitação................................................................................................
21
1.4.5 – Criatividade.............................................................................................
21
1.4.6 – Talento....................................................................................................
23
1.5 – Metodologia de Pesquisa...............................................................................
24
1.5.1 – Pesquisa Bibliográfica............................................................................
24
CAPÍTULO 2 – Mentalidade Racional..................................................................
25
2.1 – Definição de Mentalidade Racional..............................................................
25
2.2 – Abordagem Filosófica da Mentalidade Racional..........................................
26
2.2.1 – A Mentalidade Sob a Ótica da Filosofia Mítica....................................
26
2.2.1.1 – Mitologia Grega..............................................................................
28
2.2.1.2 – Mitologia Romana..........................................................................
28
2.2.1.3 – Mitologia Egípcia...........................................................................
29
V
2.2.1.4 – Conclusão.......................................................................................
31
2.2.2 – A Mentalidade Sob a Ótica de Tales de Mileto.....................................
31
2.2.3 – A Mentalidade Sob a Ótica de Sócrates, Platão e
Aristóteles..............................................................................................
32
2.2.3.1 – Sócrates..........................................................................................
32
2.2.3.2 – Platão.............................................................................................
34
2.2.3.3 – Aristóteles......................................................................................
36
2.2.3.4 – Conclusão......................................................................................
39
2.2.4 – A Mentalidade Sob a Ótica de Epícuro...............................................
39
2.2.5 – A Mentalidade Sob a Ótica do Cristianismo.......................................
40
2.2.5.1 – Santo Agostinho – Fase Patrística.................................................
40
2.2.5.2 – São Tomás de Aquino – Fase Escolástica
Tomista..........................................................................................
41
2.2.5.3 – Guilherme de Ockham – Fase Escolástica
Pós-Tomista...................................................................................
45
2.2.6 – A Mentalidade Sob a Ótica de René Descartes....................................
46
2.2.7 – A Mentalidade Sob a Ótica de Immanuel Kant
– Iluminismo..................................................................................
48
2.2.8 – A Mentalidade Sob a Ótica de Georg Hegel
– Idealismo Alemão.......................................................................
48
2.2.9 – A Mentalidade Sob a Ótica do Romantismo........................................
49
2.2.10 – A Mentalidade Sob a Ótica de Feuerbach
– Materialismo...............................................................................
50
2.2.11 – A Mentalidade Sob a Ótica de Augusto Comte
– Positivismo..................................................................................
50
2.2.12 – A Mentalidade Sob a Ótica de Franz Brentano
– Fenomenologia............................................................................
51
2.2.13 – A Mentalidade Sob a Ótica de Edmund Husserl
– Fenomenologia............................................................................
52
2.2.14 – A Mentalidade Sob a Ótica de Wilhelm Wundt
– Estruturalismo.............................................................................
2.2.15 – A Mentalidade Sob a Ótica de Willian James
52
VI
– Funcionalismo.............................................................................
53
2.2.16 – A Mentalidade Sob a Ótica de Skinner
– Behaviorismo Radical.................................................................
53
2.2.17 – A Mentalidade Sob a Ótica de John B. Watson
– Behaviorismo Metodológico.......................................................
54
2.2.18 – A Mentalidade Sob a Ótica de John Dewey
– Pragmatismo................................................................................
55
2.2.19 – A Mentalidade Sob a Ótica de J.C.C. Smart
– Estados Mentais...........................................................................
55
2.2.20 – A Mentalidade Sob a Ótica de Hilary Putnam
– Funcionalismo..............................................................................
56
2.2.21 – A Mentalidade Sob a Ótica de Revolução Cognitiva..........................
57
2.2.21.1 – Jerry Fodor – Funcionalismo Computacional...............................
58
2.2.21.2 – Howard Gardner – Teoria das Inteligências Múltiplas.................
58
2.2.22 – A Mentalidade Sob a Ótica de Daniel Goleman
– Inteligência Emocional.................................................................
60
2.2.23 – Conclusão..............................................................................................
61
2.3 – Abordagem Psicológica da Mentalidade........................................................
61
2.3.1 – Influência da Filosofia Empirista Sobre a Psicologia..............................
62
2.3.2 – Influência da Fisiologia Sobre a Psicologia.............................................
63
2.3.3 – Influência da Psicofísica Sobre a Psicologia............................................
63
2.3.4 – Wilhelm Wundt: O Primeiro Laboratório de Psicologia..........................
64
2.3.5 – Edward B. Titchener – Psicologia Estruturalista Americana...................
65
2.3.6 – Psicologia Funcionalista Americana........................................................
66
2.3.7 – Behaviorismo Americano.........................................................................
67
2.3.8 – Behaviorismo Russo – Reflexo Condicionado.........................................
68
2.3.9 – Psicologia da Gestalt.................................................................................
69
2.3.10 – Teoria Psicanalítica.................................................................................
71
2.3.10.1 – Subdivisões da Personalidade.........................................................
72
2.3.11 – Psicologia Cognitiva...............................................................................
73
2.3.11.1 – Evolução Histórica da Psicologia Cognitiva...................................
74
2.3.11.2 – Conceito de Psicologia Cognitiva...................................................
75
VII
2.3.12 – Inteligência Emocional............................................................................
76
CAPÍTULO 3 – Abordagem da Organização............................................................
79
3.1 – Conceito de Organização..................................................................................
79
3.2 – Origem da Organização....................................................................................
79
3.3 – Evolução da Organização Racional..................................................................
83
3.3.1 – Revolução Industrial..................................................................................
84
3.3.2 – Administração Científica...........................................................................
85
3.3.3 – Teoria Clássica da Administração.............................................................
86
3.3.4 – Teoria das Relações Humanas...................................................................
87
3.3.5 – Organizacionismo......................................................................................
89
CAPÍTULO 4 – Limitação do Ser Humano no Contexto Social e
Organizacional...............................................................................................
90
CAPÍTULO 5 – Estudo Histórico da Criatividade....................................................
94
5.1 – Abordagem Filosófica da Criatividade.............................................................
94
5.1.1 – Criatividade Como Origem Divina............................................................
94
5.1.2 – Criatividade Como Loucura.......................................................................
95
5.1.3 – Criatividade Como Gênio Intuitivo............................................................
95
5.1.4 – Criatividade Como Força Vital..................................................................
96
5.1.5 – Criatividade Como Força Cósmica............................................................
97
5.2 – Abordagem Científica da Criatividade.............................................................
97
5.2.1 – A Criatividade Sob a Ótica do Associacionismo......................................
98
5.2.2 – A Criatividade Sob a Ótica da Teoria da Gestalt......................................
99
5.2.3 – A Criatividade Sob a Ótica da Teoria Psicanalítica..................................
99
5.2.4 – A Criatividade Sob a Ótica da Teoria Neo-Psicanalítica..........................
100
5.2.5 – Reação ao Freudianismo No Estudo da Criatividade................................
101
5.2.5.1 – E. G. Schachtel...................................................................................
101
5.2.5.2 – Carl Rogers.........................................................................................
102
5.2.6 – A Criatividade Sob a Ótica da Análise Fatorial.........................................
102
5.2.6.1 – J. P. Guilford.......................................................................................
102
5.2.6.2 – Arthur Koestler....................................................................................
104
5.2.7 – Criatividade Como Solução de Problemas..................................................
105
5.2.8 – Criatividade Como Processo de Criação.....................................................
105
VIII
5.2.9 – Criatividade Como Inteligência Manipulativa............................................
106
5.2.10 – O Papel Dos Hemisférios Cerebrais..........................................................
107
5.2.11 – A Criatividade Sob a Ótica da Teoria do Ócio Criativo..........................
108
5.3 – Conclusão...........................................................................................................
109
CAPÍTULO 6 – Breve Abordagem Sobre o Talento..................................................
110
CAPÍTULO 7 – Como a Mentalidade Racional das Organizações
Limita a Criatividade e o Talento.........................................................
114
7.1 – Maior Preocupação Com Práticas Tradicionais.................................................
114
7.2 – Busca das Mesmas Soluções Para Diferentes Problemas..................................
118
7.3 – Crença de Que Se Deve Estar Sempre Certo.....................................................
121
7.4 – Travas Mentais Que inibem a Criatividade.......................................................
122
7.5 – A Importância do Equilíbrio Entre Racionalismo e Criatividade......................
123
7.6 – Comprometimento do Ambiente de Trabalho...................................................
124
CAPÍTULO 8 – Conclusões.......................................................................................
128
Referências Bibliográficas..........................................................................................
130
IX
RESUMO
X
ABSTRACT
1
RESUMO
A idéia de desenvolver um trabalho que trata como a mente racional limita a
criatividade e o talento se faz necessária tendo em vista o modo de pensar que controlou o
homem no passado em relação ao comportamento que este deve apresentar no futuro. Este
trabalho apresenta diversas formas de pensamento e comportamento que, ao longo do tempo,
influenciaram e influenciam a forma de pensar e agir do ser humano, condicionando-o a usar,
na maioria das vezes, as mesmas soluções para diferentes problemas.
A pesquisa que gira em torno do referido assunto traz registros provenientes de
livros, revistas, artigos publicados na internet, etc. Este trabalho combina opiniões de
especialistas em filosofia e psicologia, bem como teorias provenientes destas disciplinas,
considerando que são as disciplinas mais mencionadas quando o assunto é comportamento do
ser humano. Os registros apresentados compreendem um período que começa nos tempos
antigos, com personalidades e teorias filosóficas pertinentes ao assunto, passando pelo período
Moderno, marcado pelas evoluções da ciência, e culmina neste início de terceiro milênio,
período em que o lado humano do homem esta sendo mais estudado.
O levantamento feito por este trabalho apresentou resultados satisfatórios tendo
em vista que identificou vários pontos no passado que influenciaram a evolução do ser
humano. Pontos que ditaram regras e normas para o pensamento e o comportamento do
homem. Este trabalho descobriu que, além de assimilar essas regras e normas, esse homem
incorporou a necessidade de obedecê-las além do necessário. Como uma bola de neve, essa
2
submissão cresceu dentro da natureza humana. Conforme a evolução da humanidade, cresceu
a ilusão de que a lógica está acima de tudo, enquanto que a atenção que deve ser dada para o
estado emocional humano, capaz de soluções criativas e revolucionárias considerando a
diversidade de potenciais talentos espalhados ao redor do mundo, decresceu.
Por isso, este trabalho traz como observações finais o problema do discurso e
da prática, onde muito tem sido mencionado sobre a importância do papel humano no trabalho
e muito menos tem sido feito com relação a esta questão. Circunstâncias, como o advento do
computador, ainda tornam o ser humano eufórico por uma linguagem de um sistema que não
aceita exceções, como a situação que trata de mudanças repentinas provenientes da mente
criativa do ser humano. Um problema que se torna mais sério quando este reprime ainda mais
o ser humano espontâneo e original.
3
STUDY ABOUT HOW THE RATIONAL MENTALITY OF THE ORGANIZATIONS
LIMITS THE CREATIVITY AND THE TALENT. São Manuel, 2004. 141p. TCC
(Bacharelado em Administração com Habilitação em Comércio Exterior) – Faculdade
Marechal Rondon.
Author: PESSÔA, MARCELO DA SILVA
Adviser: RAMOS, ROSANA AMADOR
ABSTRACT
The idea of developing a work that treats how the rational mind limits the
creativity and the talent is necessary because of the way of thinking which controlled the man
of the past with reference to the behavior that he must show in the future. This work shows
several forms of thought and behavior which, lengthwise the time, influenced and influence
the way of thinking and acting of the human being, spoiling him to use, in the majority of
times, the same solutions for different problems.
The research which turn around the related matter brings registers originated
from books, magazines, articles published on the net, etc. This work combines opinions of
specialists in philosophy and psychology, together with theories originated by these subjects,
considering that these are the most mentioned subjects when the matter is human behavior.
The registers showed imply the period that starts in the ancient times, with philosophic
characters and theories with reference to the matter, going beyond the modern period, marked
by science evolutions, and arrive in this beginning of third millenium, period which the human
side of men is being more studied.
The lift done by his work showed satisfactory results intend that identified
several points in the past which affected the human being behavior. Points that imposed rules
and norms for the thought and the behavior of man. This work found out that, besides
assimilate this rules and norms, this man absorbed the need of obey it beyond the necessary.
Like a snowball, this submission increased inside the human nature. According the mankind
4
evolution, the illusion that the logic is on the top of everything increased, meanwhile the
attention which must be given for the human’s emotional state, capable of creative and
revolutionary solutions considering the diversity of talents potentials around the world,
decreased.
Therefore, this work brings final observations like the problem of speech and
practice when so much have been mentioned how important is the human role at work and
much less has been done about this matter. Circumstances, like the advent of the computer,
still became the human being euphoric for a language of a system that doesn’t accept
exceptions, like the situation which treats the suddenly changes originated by the human
being’s creative mind. A problem that became more serious when it halts the spontaneous and
original human being.
5
1- Projeto de Pesquisa
1.1 - Introdução
Preocupadas com a maximização de seus lucros e, consequentemente, com a
sua sobrevivência num mercado competitivo; muitas empresas estabelecem planejamentos
estratégicos, táticos e operacionais; buscando a diminuição dos custos através de sistemas
como terceirizações, gestões de qualidade, certificações de processos como o ISO 9000;
orientando-se somente por meio de raciocínios lógicos como estatísticas e análises, no sentido
de saber o motivo do seu sucesso ou fracasso no mundo dos negócios.
O problema é que elas ficam presas somente a essa racionalidade estruturada
que é baseada em regras tradicionais de gestão que são contra o fracasso e à variação. Com
medo
de
assumir
maiores
riscos,
as
organizações
acabam,
conscientemente
e
inconscientemente, limitando a criatividade e o talento de seus empreendedores. Isso pode ser
constatado através de atitudes organizacionais que buscam sempre as mesmas soluções para
diferentes problemas, inibindo a geração de novas idéias. Algumas das causas para tal
comportamento organizacional podem ser explicadas por diversas maneiras.
Uma delas diz respeito à mentalidade racional predominante atualmente no
contexto organizacional. A maneira de pensar e julgar do homem de negócios de hoje é
concebida através de uma ênfase maior na razão. Em busca de novas idéias, as organizações,
6
ao longo do tempo, construíram uma série de razões nas quais apenas o evidente é adotado
como ferramenta válida. Essa mentalidade racional restringe a influência da imaginação onde
o estilo de gestão de algumas organizações leva em conta, muitas vezes, as mudanças
periféricas que se limitam na estrutura, sistema, política e prática; e não as mudanças de base
como mentalidade organizacional.
Num meio ambiente exigente, a crença de que há necessidade de a organização
estar certa a cada passo e o tempo todo é uma das maiores barreiras para as idéias novas.
Quando conseguem encontrar a resolução para um problema por meio de uma idéia que passa
a ser dominante, agem como se não houvesse necessidade de procurar um caminho melhor e
mais direto. Com isso, as empresas que procuram organizar minuciosamente os
acontecimentos, dando o máximo de seu conhecimento, engenhosidade e capacidade técnica;
acabam por não considerar a criatividade e o talento para se prevenir quanto às casualidades,
suprimindo a liberdade de aceitar informações ao acaso. O que acontece é que não há modelos
confiáveis nem regras, processos ou mesmo parâmetros para se medir previamente a
criatividade. Partindo desse raciocínio, as empresas acabam acreditando que é muito mais
seguro viver sob a tutela de uma metodologia suprema. Em razão disso, num mundo em que a
velocidade das transformações é cada vez maior, empresas que não forem inovadoras correm o
risco de sumir do mapa tendo em vista que os acontecimentos nem sempre funcionam
conforme o pretendido.
Tendo em vista que a criatividade consiste na capacidade criativa do ser que
capta uma intuição criativa a qual não lhe havia ocorrido antes, sem o exercício da
criatividade, as organizações cultivam certas “travas mentais” inibindo a sua afinidade com as
características da criatividade. A empresa que não pratica a criatividade não sabe o quanto sua
criação é importante e, em conseqüência disso, ninguém saberá. Uma empresa não pode ficar
muito tempo sem testar e apresentar novidades.
Dentro de todo esse contexto, o presente trabalho defende um equilíbrio entre a
razão e a criatividade, as quais, num ambiente onde uma, através de um tratamento altruísta,
completa a necessidade da outra. A criatividade pode ser algo muito importante para uma
empresa, mas pode também ser muito perigosa se sua predominância suprimir a razão. Uma
empresa não pode inovar porque se acha que está na moda, por exemplo. Uma empresa deve
inovar em função do seu mercado, da sua estratégia, e de seus concorrentes, entre outras
7
observações. Da mesma forma que não pode ser desconsiderada, a criatividade não pode ser
considerada suficiente para levar uma empresa ao sucesso. Ela tem que estar em equilíbrio
com as demais ferramentas metodológicas de gestão empresarial. Seu mau uso pode fazer com
que esta empresa não enxergue seus limites, assumindo riscos incompatíveis com seus
objetivos. Empresas podem ser ricas em inovações, mas se cometerem um erro estratégico,
não vai ser a inovação sozinha que vai salvá-la do naufrágio.
Além disso, duas das questões mais importantes dentro de uma organização
ficam perigosamente comprometidas: a da cultura da empresa e a do ambiente de trabalho.
Tomando por base a cultura organizacional, que consiste no conjunto de fenômenos
resultantes da ação humana visualizada dentro das fronteiras de um sistema, quando há
empresas cujas práticas inibem a inovação; muitos funcionários de diversos níveis
hierárquicos, por exemplo, ficam com medo das conseqüências de suas idéias em virtude de
algumas empresas punirem o erro de uma iniciativa. Em conseqüência disso, haja vista que o
clima organizacional é um fenômeno resultante da interação dos elementos da cultura
organizacional, o empreendedor é submetido por muito tempo no mesmo lugar desenvolvendo
atividades rotineiras.
O intuito deste estudo é mostrar como a mentalidade racional de uma
organização limita sua criatividade e talento impedindo que a organização adquira o hábito de
mudar, de uma hora para outra, sua cultura, seu processo, sua estratégia de acordo com as
vicissitudes. Tal agilidade criativa pode trazer uma vantagem competitiva para empresa
capacitando-a de forma que, se um concorrente aparecer com uma novidade, ela não será pega
de surpresa.
8
1.2 - Objetivos
O objetivo geral do presente trabalho é despertar a conscientização por parte do
ser humano com relação à importância de um comportamento de preparação para constantes
mudanças no meio em que vive. A intenção é fazer com que o indivíduo passe a conhecer
melhor a si próprio e a seus semelhantes identificando a necessidade de escolher diferentes
caminhos baseando-se na perfeita harmonia entre a sua razão e a sua emoção. Assim, esse
indivíduo estará preparado para resolução de questões provenientes do seu dia-a-dia, extraindo
ao mesmo tempo soluções inteligentes e criativas independentemente do surgimento de
problemas no decorrer da sua vida.
Após a leitura do presente trabalho o leitor será capaz de identificar os
seguintes objetivos específicos:
-
identificar, no âmbito psicológico, as variantes internas e externas
que
influenciam
a
mentalidade
e,
consequentemente,
o
comportamento criativo do ser humano em seu ambiente de
trabalho;
-
conhecer, no contexto organizacional, quais as teorias e as práticas
utilizadas pelas empresas que acabam por condicionar seus
empregados a trabalhar sob a tutela de uma idéia dominante em
detrimento ao exercício da criatividade e talento dos mesmos;
-
Compreender a importância de se estabelecer um equilíbrio entre o
9
raciocínio e a imaginação sem que um interponha-se ao outro na
obtenção de novas idéias.
10
1.3 - Justificativa
Tendo em vista que o homem é o produto da história pela qual também é o
agente, o advento do presente trabalho justifica-se a partir do momento em que se procura
estudar as condições que esse ser humano cria para transformar o meio em que vive e pelo
qual também é influenciado. Formando a sociedade, o homem é um ser social que sobrevive
através de suas ações e das inter-relações que sua natureza e o meio externo lhe impõem.
Levando-se em conta que a sociedade contemporânea é caracterizada por ser uma sociedade
de organizações, é indispensável que se perceba que, além do homem ser dependente em
grande escala das organizações, a recíproca também é verdadeira. Entendida como um sistema
onde coexistem grupos de pessoas interagindo segundo padrões de comportamento, a
organização tem que estar ciente de que é dependente dos valores e da interação dos homens
os quais ela recruta. O estabelecimento de normas e a criação de restrições sem levar em conta
a flexibilidade para geração de novas idéias, entre outras ações, são um demonstrativo de
como são criadas barreiras para a criatividade e o talento, por mais que essas ações transmitam
um senso de segurança para os seus membros.
Portanto, num mundo que está cada vez mais imprevisível, a não existência de
estratégias de gerenciamento que combinem processos de mudança e inovação com a
racionalização presente nas decisões técnicas provenientes do planejamento estratégico
implica uma mentalidade organizacional baseada em paradigmas que limitam o estímulo à
criatividade.
11
1.4 - Revisão de literatura
1.4.1 - Mentalidade
Para melhor compreensão do impacto da mentalidade racional como limitadora
de criatividade e talento é preciso que se faça uma análise da palavra mentalidade desde sua
definição até sua evolução abordada pela humanidade por meio de uma literatura filosófica e
psicológica.
1.4.1.1 – Definição de mentalidade
A definição do termo mentalidade é trazida pelo Dicionário Globo(1992) como
“a qualidade do que se refere à mente”. A partir deste conceito, entende-se que se trata da
ligação simultânea dos poderes, meios ou direitos de fazer que influenciam a maneira
individual de um ser pensar e julgar.
Dentro do contexto vocabulário do referido dicionário, essa maneira é
influenciada por um movimento de variáveis tais como intelecto, inteligência, alma, memória,
entendimento, disposição, intuito, entre outras.
Levando essas variáveis em consideração, percebe-se que a mentalidade é uma
manifestação do estado psicológico do ser. Assim, é imperativo que se estabeleça uma análise
da mentalidade sob o contexto da área de estudo da psicologia. Mas antes disso, é preciso
12
submeter a análise da mentalidade inicialmente sob a ótica da filosofia tendo em vista que,
segundo Aguiar(2000), desde os seus primórdios, a psicologia era considerada uma área de
estudo da filosofia a qual era denominada filosofia mental, ou seja, a mente era pelo menos um
dos tópicos estudados por esta área.
1.4.1.2
– Abordagem filosófica de mentalidade
A evolução da humanidade e da sua mentalidade deu-se através de períodos
históricos cuja influência de filósofos caracterizou-se por uma sucessão de paradigmas em
função de cada contexto histórico.
O primeiro período a ser abordado é o Pré-Helênico: Mitofilosófico –
(Cosmogonia) onde, segundo a Garita(2004), as explicações sobre a origem do Universo é
baseada em mitos, ou seja, atos de fé que atraem em si toda a parcela de irracionalidade
existente no pensamento humano. Neste período, os gregos cultivavam uma série de deuses
como Zeus, Hera, Ares, Atena, entre outros. Os gregos criaram uma rica mitologia formada
por um conjunto de lendas e crenças que, de modo simbólico, forneciam explicações para a
realidade universal.
Segundo Severino(1992), as pesquisas antropológicas revelam que a forma
mais ancestral de os homens buscarem a explicação, o sentido das coisas foi o mito que,
conforme o autor, é a expressão de uma primeira tentativa da consciência humana de libertarse cada vez mais das incumbências quase que instintivas de manutenção da vida. Segundo
Aranha e Martins(1992); foi uma forma dos povos primitivos se situarem no mundo,
encontrando seu lugar entre os demais seres da natureza. Para as autoras, a partir do
pensamento mítico que se desenvolvem rituais que fixam modelos exemplares de todas as
funções e atividades humanas no sentido de acomodar e tranqüilizar o homem.
Conforme a Garita(2004), a passagem do saber mítico ao pensamento racional,
ocorre no período Arcaico e Clássico(Século VIII a IV a.C.). Mas isso não significou um
rompimento definitivo com os conhecimentos do passado. Segundo ela, a filosofia grega
nasceu na cidade de Mileto procurando desenvolver o logos (saber racional) em contraste com
o mito (saber alegórico). Conforme Chaui(2003), no período Pré-Socrático (Século VII a VI
13
a.C.), Tales de Mileto, considerado o pai da filosofia, através de sua forma de raciocinar,
deduzindo e inferindo por meio de fatos visíveis; já considerava a Psykhé (em latim anima e,
em português, alma, temperamento) uma força capaz de mudança de comportamento.
No período Socrático ou Clássico(Século V a IV a.C.), Chaui(2003) afirma que
o helenista Gregory Vlastos analisou a psicologia moral através da diferença entre Sócrates e
Platão. Segundo essa análise, Sócrates considera o intelecto ou a razão um poder perfeito para
comandar as ações virtuosas e evitar o vício. Platão, entretanto, estuda as diversas atividades
da alma elaborando uma psicologia e uma pedagogia como condições da vida ética ou da
prática da virtude.
Ainda dentro do período Socrático, Garita(2004) informa que, acreditando nos
dados transmitidos pelos sentidos, Aristóteles discordava de Platão afirmando que a indução é
uma operação mental que vai do particular para o geral a qual representa o processo básico de
aquisição de conhecimento.
As correntes filosóficas do período Helênico ou Pós-Socrático (Século III a II
a.C.) passam a tratar da intimidade, da vida interior do homem; formulando-se “filosofias de
vida” capazes de oferecer paz de espírito e felicidade interior em meio às transformações
sociais. Epícuro propunha que o homem deve buscar o prazer da vida mediante o domínio das
paixões separando os prazeres que causam dor daqueles que são duradouros.
O período Greco-Romano (Século 264 a.C. a V d.C.) caracterizou-se por ser
longo mas pouco original nas idéias filosóficas em virtude da difusão do Cristianismo, pela
Igreja Católica, que atuou no sentido de dissolver a força da filosofia grega clássica, a qual
passou a ser chamada de pagã, influenciando a mentalidade da época.
Com a chegada do período Medieval e a Filosofia Cristã (Século V a XVI) que
marcou o fim do Império Romano, a Igreja Católica conseguiu manter-se como instituição
social pregando a crença incondicional às verdades reveladas por Deus. Com isso, qualquer
investigação filosófica não poderia contrariar essas verdades. Na Fase Patrística deste período,
Santo Agostinho combinou as idéias de Platão com o Evangelho afirmando que o indivíduo
peca porque usa de seu livre-arbítrio para satisfazer sua vontade, mesmo ela sendo pecaminosa
sendo que o que pode salvar não é a razão, mas a graça divina. Na Fase Escolástica, em função
do surgimento das primeiras universidades e escolas no império de Carlos Magno, houve a
busca da harmonização entre a fé cristã e a razão que propiciou o surgimento de uma razão
14
autônoma em relação à teologia, no Século XII. Combinando o Evangelho com as idéias de
Aristóteles, Santo Tomás de Aquino introduziu a idéia do livre-arbítrio, ou seja, a permissão
de escolha entre o bem ou o mal, estar com Deus ou não.
O período Moderno (Século XV a XVIII) traz novos valores onde, ao invés do
teocentrismo (Deus como centro), há uma tendência social antropocêntrica (o homem como
centro), levando ao desenvolvimento do racionalismo. Dedicando mais tempo à pesquisas e
experimentações, o homem moderno passou a observar a natureza querendo descobrir os
mistérios do mundo por meio de uma nova mentalidade racionalista. O movimento cultural
que marcou essas transformações de mentalidade foi chamado Renascimento, inspirado no
humanismo, movimento de intelectuais que defendiam a cultura greco-romana e o retorno a
seus ideais de exaltação do homem e de seus atributos – a razão e a liberdade. Um dos mais
importantes filósofos deste período foi Descartes, racionalista convicto, foi considerado o pai
da filosofia moderna. Desconfiava das percepções sensoriais que, para ele, levam aos erros.
Defendia que o verdadeiro conhecimento só se dá através do trabalho lógico da mente.
Com a chegada do período Contemporâneo (Século XVIII a XIX), o império do
racionalismo perdeu sua exclusividade com a chegada do movimento cultural denominado
Romantismo o qual mostra que o racionalismo era uma ameaça à expressão dos indivíduos
tendo em vista que os sentimentos e as emoções eram deixados em segundo plano. Era o
nascimento do instinto e da emoção contra a razão. Influenciados por questões como
manipulação das pessoas, desigualdade e exclusão social, devastação ambiental,
desenvolvimento tecnológico-científico e pela Revolução Francesa; diferentes pensadores
buscaram saídas para esses desafios. O romantismo trouxe a devolução do sentimento de
plenitude ao homem. Esse movimento cultural desenvolveu ainda o sentimento pátrio com a
valorização dos costumes, das tradições nacionais e o anseio de liberdade. Filósofos
materialistas como Feuerbach e positivistas como Comte restringem o trabalho da filosofia à
síntese dos resultados das diversas ciências particulares, não cabendo ao filósofo teorizar sobre
“idéias sem conteúdo”.
Partindo dessa premissa, Severino(1992) afirma que no século XIX, assistiu-se
ao fecundo desdobramento da ciência e ao surgimento de novas perspectivas filosóficas que
lançam as raízes da filosofia contemporânea. Segundo ele, foi no século XIX que ciência e
filosofia adquiriram sua autonomia plena e grandes desdobramentos. Assim, pela extensão do
15
uso do método científico aos diversos aspectos da vida dos homens formaram-se as primeiras
ciências humanas como a psicologia.
Segundo Hegenberg (2004), a moderna filosofia da mente, apesar de não ter
data certa de nascimento, surgiu no fim do Século XIX e começo do Século XX.
Hegenberg(2004) afirma que o desenvolvimento da filosofia da mente pode ser atribuído a três
acontecimentos notáveis: a publicação de Psychologie Vom Empirischen Standpunkt, de Franz
Brentano em 1874; A Psicologia Científica, por Wilhelm Wundt em 1879; e a divulgação de
Principles Of Psychology de Willian James em 1890.
Hegenberg(2004) afirma que, na primeira metade do século XX, várias teorias
são formuladas, adotando diversos enfoques. Rudolph Carnap e John Dewey se colocaram
como dois importantes marcos do estudo da mente. Enquanto Carnap se preocupava com a
metafísica da mente, Dewey abordava os relatos psicológicos em primeira ou terceira pessoa.
Segundo Hegenberg(2004), por volta de 1930, com o positivismo lógico, certas
mudanças ocorreram. Para merecer o respeito dos cientistas, o estudo da mente precisava
submeter-se a condições de verificabilidade, publica e fisicamente testáveis. Essas condições,
naturalmente, deveriam ser comportamentais. Era o advento do Behaviorismo que, segundo
Silva (2004) predominou durante as décadas de 20 e 40.
Hegenberg(2004) afirma ainda que a decadência do Behaviorismo redundou em
rejuvenescimento das noções filosóficas e psicológicas da “consciência”. Ele cita Smart que
formulou proposta inovadora, contrariando behavioristas afirmando que alguns estados e
eventos mentais são genuinamente “interiores” e genuinamente episódicos, não podendo ser
equiparados a comportamentos observáveis. O funcionalismo nasce com Putnam, que afirma
que os estados mentais se comparam a estados funcionais de um computador.
Paralelamente a isso, Hegenberg(2004) aponta para um curioso amálgama
interdisciplinar envolvendo filosofia, psicologia, neurologia, lógica, lingüística, computação e
inteligência artificial; em 1960. Isso daria início à nova tendência denominada cognistismo, o
qual sustenta que para explicar o comportamento, psicólogos devem dar atenção a estados e
episódios “interiores” sendo que os seres humanos devem ser encarados como sistemas que
processam informações. Entre os cognitistas que se destacaram-se Stillings e Osherson.
Segundo Gardner (1996), “Os cientistas cognitivos, novamente como os gregos,
conjeturam a respeito dos vários veículos do conhecimento: o que é forma, uma imagem, um
16
conceito, um palavra; e como estes ‘modos de representação’ se relacionam entre si (...)”.
Em função desta nova tendência, Hegenberg(2004) cita Pylyshyn, Haughland e
Johnson Laird; que focalizaram a idéia de inteligência artificial analisando até que ponto as
mentes se aproximam dos computadores e vice-versa.
Silva (2004) afirma que uma síntese da nova postura adotada pela filosofia da
mente pode ser encontrada na obra de Jerry Fodor. Trata-se da Linguagem do Pensamento
onde Fodor argumenta a favor de um veículo que fosse capaz de processar os dados da
percepção, raciocinando, aprendendo e ensinando uma língua. Fodor defende que a
Linguagem do Pensamento é o meio pelo qual as representações mentais são organizadas em
um sistema cognitivo.
1.4.1.2.1
– Contribuição do Autor
Analisando tudo o que foi abordado desde a antigüidade até os últimos
posicionamentos no que diz respeito ao tratamento filosófico da mentalidade, não fica
complexo entender porque a mentalidade atual ainda é tratada com requintes de exagerado
racionalismo.
Ainda que pertinentes, a influência do racionalismo e da ciência cognitiva são
alguns exemplos de como a mente humana está sendo tratada como um mero sistema
operacional, o que atesta a relevância do presente estudo no intuito de promover a criatividade
e o talento nas organizações sem que estes sejam limitados por qualquer forma de rotina de
linguagem.
1.4.1.3
– Abordagem psicológica da mentalidade
Segundo Henneman (1996), durante o século XIX, os filósofos haviam
discutido a possibilidade de estudar a mente humana pelos métodos científicos de laboratório.
Ele atribui a declaração formal do status da psicologia como ciência natural ao advento de três
desenvolvimentos: o primeiro diz respeito aos antecedentes intelectuais da psicologia
experimental através das teorias filosóficas da mente principalmente no período de 1600 a
1850, o segundo foi o aparecimento do estudo dos órgãos e dos sentidos, nervos e cérebro
17
denominado fisiologia, e o terceiro foi a combinação da indagação filosófica com a
investigação experimental que veio a ser conhecida como psicofísica.
Isso possibilitou a criação do primeiro laboratório de psicologia por parte de
Wilhelm Wundt, na Universidade de Leipzig, na Alemanha, em 1879. Wundt seguiu as
doutrinas da filosofia empirista e não as da filosofia racionalista, acreditando que os processos
fisiológicos dos órgãos dos sentidos e do cérebro eram acompanhamentos essenciais das
atividades mentais.
Henneman(1996) explica que no início do século XX, diversas escolas sobre a
nova psicologia experimental surgiram, onde a rivalidade dos sistemas teóricos serviram de
ponte da psicologia filosófica para a psicologia sofisticada que tratavam também de programas
como o racionalismo.
Ele explica ainda que a mais lógica tentativa já feita para formular uma ciência
da mente é atribuída à Psicologia Estruturalista Americana, proporcionada por Titchener.
Baseou-se na tarefa de estudar os fenômenos mentais através de uma minuciosa descrição
analítica dos estados de consciência resultantes da estimulação pela energia física.
Em seu lugar, surge a Psicologia Funcionalista que, adotando a noção de
Darwin, sugeriu que a psicologia podia estudar o contínuo processo de ajustamento do homem
ao seu ambiente. Entre 1910 e 1920, os psicólogos funcionalistas encontrariam seu lugar na
indústria estudando os efeitos das condições ambientais de trabalho. Nessa época, os
funcionalistas começariam a voltar-se para experimentos com animais. Esses experimentos
foram um prenúncio do que viria a seguir.
O Behaviorismo Americano, fundado por J.B. Watson, pregava que várias
funções da mente eram na verdade deduções extraídas da observação do comportamento.
Enquanto isso, paralelamente ao Behaviorismo Americano, o russo Ivan P. Pavlov interessavase no estudo do processo de aprendizagem e na dedução da natureza dos processos cerebrais
envolvidos no controle de comportamento. Segundo Henneman(1996), foi uma ênfase lógica
para os psicólogos que procuravam explicar o comportamento atual do indivíduo em função
de suas experiências anteriores. Henneman(1996) atribui essa visão dos psicólogos
behavioristas do século XX à influência dos filósofos empiristas do dois séculos precedentes.
A Psicologia da Gestalt surge, na década de 20 do século XX, criticando tanto
estruturalistas quanto behavioristas. Isso representou o choque entre a filosofia racionalista
18
alemã(gestaltistas) e o empirismo inglês(estrututuralistas e behavioristas). Tendo como lema
“o todo é mais do que a soma de suas partes”, os gestaltistas centralizaram-se em programas
extensivos de pesquisa sobre percepção e em estudos pioneiros sobre o processo da
aprendizagem, considerado como solução de problemas ou raciocínio e não como simples
formação de hábitos ou condicionamento.
Henneman(1996) cita a escola que ele considera a mais influente da época: a
escola freudiana. Ele afirma que, desapontado com a tradicional abordagem médica da
neurologia, Sigmund Freud voltou-se para uma abordagem mentalista enfatizando a origem
mental de muitos aspectos do comportamento. Segundo Aguiar(2000), Freud acreditava que
ser científico não significa necessariamente escolher um fenômeno racional como objeto de
estudo e sim aplicar o método científico ao estudo dos fenômenos, independentemente dos
estudos destes serem racionais ou irracionais. Por causa dessa premissa, sua teoria da
psicanálise foi a mais controvertida das escolas de psicologia do século. Desde aquela época,
psicólogos cuja orientação é a do cientista de laboratório tendem a ignorar ou criticar a
abordagem psicanalítica.
Para Silva(2004), o estudo da mente humana permanecia sem um ponto de
apoio para o início de investigação, na metade do século XX, além da tradição introspectiva e
do Behaviorismo, o caráter retrospectivo da psicanálise e a impossibilidade de refutação de
suas teses não permitiram a constituição de uma disciplina cientificamente estruturada no
exame dos procedimentos cognitivos humanos.
Silva(2004) afirma que, por conta da criação de máquinas calculadoras para
operarem com os grandes números envolvidos na Segunda Guerra Mundial, os Estados
Unidos deram origem aos primeiros computadores eletrônicos. Segundo Neto(2004), em
função do surgimento do conceito de informação, no âmbito da matemática e aplicado na
cibernética e nas ciências da computação, este foi transposto para o campo da subjetividade,
dando origem à chamada Revolução Cognitiva. Silva(2004) aponta, entre outros, Alan
Mathirson Turing que, através de um teste no qual uma máquina era programada tendo sua
capacidade de simular o pensamento humano, influenciou decisivamente os cientistas voltados
para o estudo cognitivo que, desde então, procuraram descrever com maior precisão o
processo mental e o comportamento de um organismo.
Partindo desse contexto, Del Nero(1997) cita Jerry Fodor, que supõe que para
19
processar o pensamento deve haver uma estrutura profunda de objetos e relações, o que se
caracterizaria em uma linguagem do pensamento.
Para Queiroz(1997), as ciências cognitivas vivem um momento de revisão de
suas fundações teóricas. Segundo ele, alguns autores denunciam que as novas abordagens têm
falhado na constituição de uma nova moldura conceitual devido à persistência de velhos
hábitos da inteligência artificial, à dificuldade de implementação das novas idéias e à falta de
clareza sobre as implicações teóricas do que vem sendo anunciado pela teoria de sistemas
complexos.
1.4.1.3.1
– Contribuição do autor
Essa nova abordagem da mentalidade através do contexto psicológico atesta
ainda mais como, a partir do advento de algumas escolas citadas aqui denunciam a
necessidade de uma revisão sobre o caminho pelo qual o estudo da mentalidade está se
dirigindo.
1.4.2 - Racionalismo
1.4.2.1– Definição de racionalismo
O significado de racionalismo é trazido por Bueno(2000) como a “maneira de
ver as coisas apreciando-as só pela razão, independentemente de autoridade; pura atividade
especulativa do espírito; concepção filosófica segundo a qual as idéias universais não resultam
das percepções.”
Tendo em vista que o racionalismo está também inserido no contexto filosófico,
faz-se necessária uma abordagem do que foi escrito sobre o tema sob esse âmbito.
1.4.2.2 - Abordagem filosófica de racionalismo
Chaui(2000) explica que, na cultura da chamada sociedade ocidental, a palavra
razão origina-se de duas fontes: a palavra latina ratio e a palavra grega logos, que significam
20
pensam e falar ordenadamente, com medida e proporção, com clareza e de modo
compreensível para outros.
Chaui(2000) diz que a idéia de razão apresentada até o início do século XX
sofreu alguns abalos. Chaui(2000) demonstra que a filosofia distingue duas grandes
modalidades da atividade racional: a intuição intelectual, sobre o qual ela apresenta o cogito
cartesiano de Descartes(“penso, logo existo”), e a razão discursiva, que consiste no fato de que
o raciocínio é o conhecimento que existe provas e demonstrações. Chaui(2000) diz que houve
conflitos e impasses as teorias sobre o inatismo e o empirismo, bem como o surgimento do
ceticismo. Ela cita que Hume, Leibniz, Kant e Hegel ofereceram soluções para esses impasses,
no século XIX. Em conseqüência disso, Chaui(2000) afirma que surgiram novas teorias como
a fenomenologia, de Edmund Husserl. Diferentemente desta, ela explica que surgiu ainda a
Escola de Frankfurt ou Teoria Crítica.
Nos anos 60, Chaui(2000) lembra que uma corrente científica chamada
estruturalismo surgiria com a idéia de que o mais importante não é a mudança ou a
transformação de uma realidade e sim a estrutura ou a forma que ela tem no presente.
Chaui(2000) afirma que isso influenciou vários filósofos franceses como Foucault, Jaques
Derrida e Gilles Delleuze; que dizem que uma teoria ou uma prática são novas justamente
quando rompem as concepções anteriores e as substituem por outras completamente
diferentes, não sendo possível falar numa continuidade progressiva entre elas.
1.4.3 - Organização
O significado de organização é trazido pelo Dicionário Aurélio(1988) como
sendo “associação ou instituição com objetivos definidos”.
Segundo Chiavenato(2000), Aristóteles, em seu livro Política, estuda a
organização do Estado e suas formas de administração. Ele afirma que, através dos séculos, as
normas administrativas e de organização pública foram se transferindo de Estados como
Atenas e Roma para instituições da Igreja Católica e organizações militares. Ele considera a
ruptura das estruturas corporativas da idade média, o avanço tecnológico e a substituição do
tipo artesanal por um tipo industrial de produção; fatores da Revolução Industrial responsáveis
21
pelo nascimento da organização moderna. Ele atribui ainda à influência dos economistas
liberais do final do século XVIII a origem do pensamento administrativo dos dias atuais.
Chiavenato(2000) conta que, na influência dos pioneiros e empreendedores no século XIX, a
preocupação dominante se deslocou para os riscos do crescimento sem uma organização
adequada tendo em vista que esta era a tarefa mais difícil que a criação das empresas.
Na virada do século XX, estariam criadas as condições para o aparecimento dos
grandes organizadores da empresa moderna.
1.4.4 - Limitação
O Dicionário Globo(1992) traz a definição de limitação como “ato ou efeito de
limitar; confinação; restrição”.
Através deste dicionário, tomando-se o verbo limitar e seus sinônimos,
encontra-se diversas expressões relevantes para o desenvolvimento do referido estudo. São
elas: “determinar os limites de; demarcar; reduzir a determinadas proporções; limitar suas
despesas; fixar; estipular; designar; escolher; confinar; pr. consistir unicamente em; não passar
de; restringir-se, subordinar-se; circunscrever-se; contentar-se, dar-se por satisfeito”.
1.4.5 - Criatividade
Segundo o Dicionário Aurélio(1986), criatividade consiste na capacidade
criadora. Conforme Alencar(1993), criatividade “implica a emergência de um produto novo,
seja uma idéia ou invenção original, seja a reelaboração e aperfeiçoamento de produtos ou
idéias já existentes”.
Souza(2004) analisa a criatividade dentro do contexto histórico da antigüidade
clássica, onde duas teorias se destacam: a Criatividade Como Origem Divina, quando Platão
declarou ser o artista, no momento da criação, agente de um poder superior, perdendo o
controle de si mesmo; e a Criatividade Como Loucura que, novamente com Platão, não via a
diferença entre o frenesi da visitação divina e o da visitação da insanidade mental. Poetas
22
como Shakespeare, que achava-se à beira da loucura quando escreveu “King Lear”, retomaram
essa opinião mais tarde.
Na idade moderna, Souza(2004) afirma que surgiram teorias que definem a
criatividade como parte da natureza humana e em relação ao universo em geral. São elas:
Criatividade Como Gênio Intuitivo, idéia nascida no fim do renascimento quando foi aplicada
aos poderes criadores de homens como Kant, no século XVIII, que associaram a criatividade e
gênio; Criatividade Como força Vital que, como uma das conseqüências da teoria da evolução
de Darwin, foi a noção de ser a criatividade humana uma manifestação da força criadora
inerente à vida onde, como expoente desse pensamento, Souza(2004) cita Edmundo Sinnot,
que afirma que “a vida é criativa porque se organiza e regula a si mesma e porque está
continuamente originando novidades”; e a Criatividade Como Força Cósmica que, segundo
Whitehead; consiste no fato de que tudo que existe tem de renovar-se continuamente para
poder existir sendo que, dentro deste contexto, a criatividade não apenas mantém o que já
existe, mas também produz formas completamente novas.
Nos últimos cem anos, Souza(2004) explica que a criatividade passou a ser
tratada mais cientificamente, sendo que sua minuciosa investigação tem cabido em grande
parte aos psicólogos. As teorias que trataram da criatividade a partir do século XIX foram as
seguintes: Associacismo, que, através do Behaviorismo, remonta John Locke tratando da
relação entre duas idéias, onde, se uma pessoa é exposta a uma delas, separadamente, a outra
vem à tona; Teoria da Gestalt, que consiste no fato de que o criador, ao buscar a solução para
um problema, analisa a situação como um todo, buscando estabelecer suas relações(formas) e
identificar as estruturas não resolvidas restaurando a harmonia do todo; Psicanálise, que, para
Sigmund Freud, consiste na idéia de que a criatividade é originada em um conflito dentro do
inconsciente; e a Neopsicanálise, que afirma que o pré-consciente é a fonte da criatividade por
causa da liberdade de reunir, comparar e rearranjar as idéias.
Para Souza(2004), as teorias mais recentes afirmam que a criatividade, apesar
de ser possivelmente redutora de impulso, é também tida como um fim em si mesma. Nessa
escola, Souza(2004) destaca os seguintes autores: E.G. Schachtel, que afirma que a
criatividade seria a capacidade de permanecer “aberto” ao mundo, sustentando a percepção
alocêntrica(centrada no objeto); Carl R. Rogers, que defende a tese de que, mais que abertura à
experiência, a criatividade é a auto-realização, motivada pela premência do indivíduo em
23
realizar-se; J. P. Guilford, que explica que a mente contém capacidades cognitivas(de
reconhecimento de informação), capacidades produtivas(para gerar novas informações) e
capacidades avaliativas (para julgar as informações); Arthur Koestler, o qual defende que
todos os processos criadores seguem um padrão comum, por ele chamado de bissociação, que
consiste na conexão de níveis de experiência e sistemas de referência.
Outras teorias relacionadas à criatividade são: a Criatividade Como Solução de
Problemas, que explica que a criatividade só existe, só se exprime, face a um problema real,
concreto e, em grande parte das vezes, imediato; o Processo de Criação, que considera passos
como saturação ou informação, incubação, iluminação e verificação das idéias; Criatividade
Como Inteligência manipulativa onde Erich Fromm afirma que o ser humano possui uma
inteligência apta a comportamento criativo condicionada por outra forma de faculdade mental:
a racionalidade; e o Papel dos Hemisférios Cerebrais que, segundo Ratz, consiste no fato de
que as pessoas altamente criativas, ao fazerem referência a seus atos, discriminam dois
aspectos: reestruturação de velhas idéias com alcance de uma nova síntese e a elaboração,
confirmação e comunicação da idéia original.
1.4.6 - Talento
Talento é definido pelo Dicionário Aurélio(1986) como aptidão natural, entre
outras definições.
Mota(2002) afirma que Joseph G. Mason alertava para o fato de que há, muitas
vezes, confusão entre os termos criatividade e talento. Combinando a definição citada no
parágrafo anterior com o exemplo que ele traz de uma criança, tem-se a seguinte elucidação:
“se essa criança tem capacidade de tocar uma sonata de Mozart, ela é talentosa. Por outro lado,
se ela passa a compor canções agradáveis, ela tem o direito de ser chamada de criativa”.
Dentro do contexto organizacional, Mota(2002) afirma que a filosofia do “faça
você mesmo” permite interiorizar os pontos fortes e fracos da empresa e aproveitar melhor o
potencial e o talento dos profissionais para que eles dêem um retorno maior do que o valor
investido neles.
24
1.5 - Metodologia de Pesquisa
1.5.1 – Pesquisa bibliográfica
Segundo Martins(2000), pesquisa bibliográfica trata-se de uma abordagem
metodológica que procura explicar e discutir um tema ou um problema com base em
referências teóricas publicadas em livros, revistas, periódicos, etc.
Assim sendo, a presente pesquisa emprega dados bibliográficos com base
histórica e contemporânea para auxiliar na interpretação das informações. Esta pesquisa
bibliográfica caracteriza-se por uma simples organização coerente de idéias originadas de
bibliografia em torno do tema através do conhecimento e da análise das principais
contribuições teóricas constituídas principalmente de livros e artigos científicos.
25
2 – Mentalidade Racional
A mentalidade racional é um estado da mente cujo modo de operar estabelece,
mecanicamente, os modelos aos quais o homem se submete para atingir um objetivo,
consciente ou inconscientemente.
Segundo Natali(2004), mente racional consiste na parte da mente que analisa,
raciocina e aplica conceitos elaborados pelo pensamento.
Durante a evolução do ser humano, a mentalidade racional se faz presente em
suas próprias ações bem como na prática da sociedade da qual faz parte. Entre um paradigma e
outro, lá está a razão, na maioria das vezes, se sobrepondo aos outros atributos do homem,
definindo sua forma de pensar, de se relacionar, de obedecer, de delegar, de viver.
O presente trabalho desenvolverá abordagens da mentalidade racional sob os
aspectos filosófico e psicológico, a fim de demonstrar, através de uma evolução cronológica,
sua importância no condicionamento do comportamento humano.
2.1 – Definição de Mentalidade Racional
Claret(2002) assim define Mentalidade: Substantivo feminino. 1 - Qualidade de
mental. 2 – A capacidade intelectiva; a mente, o pensamento (...). 3 – O conjunto de hábitos
intelectuais e psíquicos de um indivíduo, ou de um grupo; estado mental ou psicológico.
Considerando que, segundo Bueno(2000), racional é um adjetivo que define
26
aquilo que faz uso da razão, e que esta, por sua vez, é assim definida por Chauí(2001): “A
razão é pensar e falar ordenadamente, com medida e proporção, com clareza e de modo
compreensível para todos”; conclui-se que mentalidade racional é o exercício das faculdades
mentais concebido segundo o ideal da clareza, da ordenação, do rigor e da precisão dos
pensamentos e das palavras..
2.2 – Abordagem Filosófica de Mentalidade Racional
A filosofia é um dos veículos pelos quais a razão se faz presente na maneira de
agir das pessoas até a presente data. No intuito de disseminar suas teorias aos povos, filósofos
fizeram uso da razão através de diversos enfoques como mitos, idéias, religião, natureza,
empirismo, entre outros que serão abordados no decorrer deste capítulo.
Para Coleman(1988), “o poder da mente não passa de um casamento entre
filosofias tradicionais e tecnologias modernas, oferecendo solução genuína e segura aos
rigores e ameaças específicos da vida do século vinte.”
Considerando que Chauí(2001) afirma que a filosofia se realiza como
conhecimento racional da realidade natural e cultural, das coisas e dos seres humanos; fica
propícia uma abordagem filosófica da mentalidade racional do ser humano conforme o passar
dos anos tendo em vista que a filosofia estabeleceu modelos de comportamento que estão
enraizados no modo de agir e pensar do ser humano.
O presente trabalho apresenta na seqüência as diversas influências filosóficas
de visão começando pelo pensamento mítico.
2.2.1 – A mentalidade Sob A Ótica da Filosofia Mítica
Uma das primeiras condicionantes racionais foi o mito. Notórios até os dias
atuais, suas personagens principais, os deuses; influenciaram o comportamento do ser humano
através da crença e da submissão a figuras e fatos descritos pelos povos antigos.
Segundo Fennix(2004), no contexto atual, a palavra mito quer dizer história ou
conjunto de histórias que fazem parte da cultura de um povo. Tais histórias tentam explicar
fenômenos incompreendidos ou sem resposta comprovada, como a criação do mundo, o
27
sentido da vida, a morte. O conjunto de narrativas desse tipo e o estudo das concepções
mitológicas encaradas como um dos elementos integrantes da vida social são denominados
mitologia.
Fennix(2004) informa ainda que as imagens míticas são na realidade quadros,
representações ou figuras espontâneas, provenientes da imaginação do homem, que descreve
em linguagem poética as experiências fundamentais e padrões do seu desenvolvimento. A
psicologia moderna usa a palavra arquétipo para descrever esses padrões, que são universais
e existem em todas as pessoas de todas as civilizações e culturas, em todos os períodos da
História.
A narração mitológica envolve basicamente acontecimentos supostos, relativos
a épocas primordiais, ocorridos antes do surgimento dos homens (história dos deuses) ou com
os "primeiros" homens (história ancestral). O verdadeiro objeto do mito, contudo, não são os
deuses nem os ancestrais, mas a apresentação de um conjunto de ocorrências fabulosas com
que se procura dar sentido ao mundo.
Em conseqüência disso, nas religiões monoteístas, as mitologias, sobretudo as
teogonias, são geralmente repudiadas como exemplos de ateísmo ou politeísmo, pois
representariam uma desvirtuação do Deus único e transcendente, à medida que o relacionam a
manifestações ou representações de outras criaturas.
No que diz respeito à relação mito e razão, o pensamento mítico é
uma
constante antropológica, complementar ao pensamento racional. Para demonstrá-lo, pode-se
apontar indícios de que o pensamento mítico está em operação em muitas das manifestações
culturais contemporâneas (como a arte). Em convivência com a reconhecida tendência à
secularização, que "desmitologiza" os símbolos religiosos, morais ou épicos e os equipara a
pura "ilusão", existiria uma outra, responsável pela produção de novos mitos ou, mais
exatamente, novas formas simbólicas dos temas míticos tradicionais.
Conclui-se que o pensamento racional e científico não seria, portanto, um
"desmascarador" de mitos e substituto do pensamento mítico, mas pode ser capaz de
reconhecer sua atualidade. Enquanto a astronomia, com suas descobertas, esvaziou os céus,
antes povoados de deuses, a sociologia e a psicologia descobriram forças que se impõem ao
pensamento e à vontade humana, e portanto, atuam e se manifestam de modo autônomo.
O motivo para se incluir o tema do mito no presente trabalho visa demonstrar
28
como a submissão a uma força superior, ainda que imaginária, condicionou o comportamento
do homem comum até os dias de hoje. A primeira a ser abordada será a mitologia grega,
bastante influente no modo de pensar dos povos ocidentais.
2.2.1.1 – Mitologia Grega
A mitologia grega desenvolveu-se plenamente por volta do ano 700 a.C. Nessa
data já existiam três coleções clássicas de mitos: a Teogonia, do poeta Hesíodo, e a Ilíada e a
Odisséia, do poeta Homero. A relação que pode se estabelecer da mitologia grega com a
mentalidade racional é a de que através de obras como essas, entre outras influências, houve a
geração de práticas e crenças em função desses temas.
Essas práticas e crenças variavam amplamente, sem uma estrutura formal,
como uma instituição religiosa de governo, nem um código escrito, como um livro sagrado.
Como um dos primeiros exemplos de organização, os gregos acreditavam que
os deuses tinham escolhido o monte Olimpo, em uma região da Grécia chamada Tessália,
como sua residência. No Olimpo, os deuses formavam uma sociedade organizada no que diz
respeito a autoridade e poder, movimentavam-se com total liberdade e formavam três grupos
que controlavam o universo conhecido: o céu ou firmamento, o mar e a terra. Os doze deuses
principais, conhecidos como Olímpicos, eram Zeus, Hera, Hefesto, Atena, Apolo, Ártemis,
Ares, Afrodite, Héstia, Hermes, Deméter e Posêidon.
A mitologia grega enfatizava o contraste entre as fraquezas dos seres humanos
e as grandes e aterradoras forças da natureza. O povo grego reconhecia que suas vidas
dependiam completamente da vontade dos deuses.
A próxima abordagem diz respeito à mitologia romana que, apesar de assimilar
algumas características da mitologia grega, apresenta a primeira mudança de paradigma
apresentada neste trabalho.
2.2.1.2– Mitologia Romana
A prova de que a mitologia romana pode ser relacionada com a mentalidade
29
racional reside no fato de que os antigos romanos também mantinham ou realizavam crenças,
rituais e outras práticas concernentes ao âmbito do sobrenatural desde o período lendário até
que a mentalidade do Cristianismo absorvesse definitivamente as religiões do Império
Romano no começo da Idade Média.
Ao contrário do que ocorreu na mitologia grega, os romanos não consideravam
que os deuses agissem como os mortais e, portanto, não deixaram relatos das suas atividades.
Apesar disso, as religiões romanas primitivas modificaram-se não só pela incorporação das
novas crenças em épocas posteriores, como também pela assimilação de grande parte da
mitologia grega.
A influência da mentalidade mítica no trabalho apresenta-se na prática das
primeiras divindades romanas, que incluíam uma série de deuses, onde cada um dos quais
protegia uma atividade humana e tinha seu nome invocado quando tal atividade era exercida.
Assim, por exemplo, Jano e Vesta guardavam respectivamente a porta e o lar; os Lares
protegiam o campo e a casa; Pales, os rebanhos; Saturno, a semeadura; Ceres, o crescimento
dos cereais; Pomona, os frutos; e Consus e Ops, as colheitas.
O parágrafo anterior pode ser usado como uma prova contundente da relação
entre a mitologia romana e a mentalidade racional tendo em vista que, como nos dias de hoje
só que com enfoques diferentes, apresenta o condicionamento das tarefas do ser humano a
uma verdade suprema imune a qualquer contestação, fruto da abordagem do presente trabalho.
Sem o mesmo rigor da mitologia romana e tratando de forma mais livre suas
crenças, o pensamento mítico dos egípcios é a próxima abordagem a ser estudada neste
capítulo.
2.2.1.3– Mitologia Egípcia
Diferenciando-se dos romanos no que diz respeito ao rigor, os egípcios ao
mesmo tempo geraram uma complexidade religiosa que demonstra uma oportuna comparação
com a mentalidade racional: a liberdade criativa sem o respaldo da presença, não exagerada,
da razão; pode levar ao descontrole do que se concebe.
As crenças religiosas dos antigos egípcios tiveram uma influência importante
30
no desenvolvimento da sua cultura, embora nunca tenha existido entre eles uma verdadeira
religião, no sentido de um sistema teológico unificado. A fé egípcia baseava-se na acumulação
desorganizada de mitos antigos, no culto à natureza e a inumeráveis divindades. No mais
influente e famoso desses mitos desenvolveu-se uma hierarquia divina através da qual se
explicava a criação do mundo.
Desse mito da criação surgiu a concepção da enéade, grupo de nove divindades,
e da tríade, formada por um pai, uma mãe e um filho divinos. Cada templo local tinha sua
própria enéade e sua própria tríade. A enéade mais importante foi a de Rá com seus filhos e
netos. Esse grupo era venerado em Heliópolis, centro do culto ao Sol no mundo egípcio. A
origem das deidades locais é obscura; algumas vieram de outras religiões e outras de deuses
animais da África pré-histórica. Gradativamente, foram se fundindo em uma complicada
estrutura religiosa, ainda que comparativamente poucas divindades locais tivessem chegado a
ser importantes em todo o Egito. As divindades importantes incluíam os deuses Amon, Thot,
Ptah, Khnemu e Hapi e as deusas Hator, Nut, Neit e Seket. Sua importância aumentou com a
ascensão política das localidades onde eram veneradas. Por exemplo: a enéade de Mênfis era
encabeçada por uma tríade composta pelo pai Ptah, a mãe Seket e o filho Imhotep. De
qualquer modo, durante as dinastias menfitas, Ptah chegou a ser um dos maiores deuses do
Egito. De forma semelhante, quando as dinastias tebanas governaram o Egito, a enéade de
Tebas adquiriu grande importância, encabeçada pelo pai Amon, a mãe Mut e o filho Khonsu.
Conforme a religião foi se desenvolvendo, muitos seres humanos glorificados após sua morte
acabaram sendo confundidos com deuses. Assim Imhotep, que originariamente fora o primeiro
ministro do governador da III Dinastia Zoser chegou a ser conceituado como um semideus.
Durante a V Dinastia, os faraós começaram a atribuir a si mesmos ascendência divina e, desde
essa época, foram venerados como filhos de Rá.
Já as crenças religiosas no Egito refletem uma das características mais curiosas
desta civilização, como a de introduzir, se indispensável, uma nova mentalidade, sem contudo
renunciar à velha, embora velha e nova se choquem. Isso pode ser constatado nos dois relatos
sobre a velhice de Rá, no qual desfiguram-se dois caracteres: aquele de Hátor, popular deusa
vaca cujo nome significa "Casa de Hórus", isto é, o céu; representada também como mulher
com coroa e orelhas bovinas, era a divina representante do gentil sexo, deusa alegre do amor,
da fecundidade, do prazer; e não se sabe por que justamente ela devesse ser transformada na
31
sanguinária Sekhmet o "mito da destruição".
Assim, Segundo Lima(2004), na falta de qualquer dogma que seja do alto, cada
um tinha autonomia para ter a "sua" versão dos fatos e forjá-la segundo as tradições religiosas
do próprio povoado, mostrando qual a importância de se ter um certo controle racional da
situação em equilíbrio com a liberdade para criar.
2.2.1.4 – Conclusão
Após a abordagem dos diferentes pensamentos míticos, pode-se ter uma idéia
da dimensão da influência dos mitos sobre o ser humano. Tais mitos são cultuados e
difundidos até hoje, provando que sua existência está longe de chegar ao fim.
2.2.2 – A mentalidade Sob A Ótica de Tales de Mileto
Os gregos, a partir de Tales, propõem uma nova visão de mundo cuja base
racional fica evidenciada na mesma medida em que ela é capaz de progredir, ser repensada e
substituída.
Segundo Pessanha(2004), Tales de Mileto nada deixou escrito, ou melhor, não
há certeza de que tenha escrito algum livro. Chauí(1998) conta que, considerado filósofo
naturalista e pré-socrático e, também, o "pai da filosofia grega", suas teorias são conhecidas
por intermédio de Aristóteles, Diógenes Laércio, Heródoto, Teofrasto e Simplício.
Pessanha afirma que um dos aspectos fundamentais da mentalidade científicofilosófica inaugurada por Tales de Mileto consistia na possibilidade de reformulação e
correção das teses propostas. Em função disso, teria tido início com Tales a explicação do
universo através da causa material.
Chauí apresenta, ainda, a associação que Tales de Mileto, citada por Aristóteles,
fez entre a água (segundo ele, princípio de todas as coisas) e a alma: “Parece que também
Tales considerou a alma como princípio motor, se disse, segundo o que se afirma dele, que o
ímã tem uma alma, porque move o ferro”. Em outras palavras, para Tales, se o princípio-água
32
é também "de que" e "em que" subsistem todas as coisas, o sentido de alma teria sua
conotação de princípio. Em função disso, Tales acreditava que não só os humanos possuíam
alma como também as coisas aparentemente inanimadas. Assim ele explicava a existência das
pedras imantadas ou a ocorrência de eletricidade em determinados organismos.
A importância desse espaço dedicado a Tales de Mileto baseia-se na ruptura
com o modelo mítico vigente promovida através de sua metafísica e caracterizando-se como
mais um importante exemplo de mudança de paradigma. Uma nova mudança ocorreria com a
chegada de Sócrates, Platão e Aristóteles, pensadores que influenciam até hoje a mentalidade
racional da sociedade atual.
2.2.3 - A Mentalidade Sob A Ótica De Sócrates, Platão E Aristóteles
Em Sócrates, Platão e Aristóteles se inaugura uma decisão Histórica. A decisão
das diferenças que, sendo já em si mesma metafísica, instala o domínio da filosofia em toda a
História do Ocidente.
Trata-se de uma decisão que vive da perplexidade em raciocinar a identidade
como identidade e não como igualdade, isto é, que vive da dificuldade de se encontrar com a
identidade no próprio seio das diferenças.
2.2.3.1 - Sócrates
Sócrates inaugurou uma mentalidade racional voltada para o íntimo do homem,
que fazia com que este fosse induzido a conhecer a si mesmo na busca pelas respostas.
Segundo Reale & Antiseri (1990), depois de algum tempo seguindo os ensinos
dos naturalistas, Sócrates passou a sentir uma crescente insatisfação com o legado desses
filósofos, e passou a se concentrar na questão do que é o homem - ou seja, do grau de
conhecimento que o homem pode ter sobre o próprio homem. Enquanto os filósofos préSocráticos, chamados de naturalistas, procuravam responder à questões do tipo: "O que é a
natureza ou o fundamento último das coisas?" Sócrates, por sua vez, procurava responder à
33
questão: "O que é a natureza ou a realidade última do homem?"
A resposta a que Sócrates chegou é a de que o homem é a sua alma - psyché,
por quanto é a sua alma que o distingue de qualquer outra coisa, dando-lhe, em virtude de sua
história, uma personalidade única. E por psyché Sócrates entende nossa sede racional,
inteligente e eticamente operante, ou ainda, a consciência e a personalidade intelectual e
moral. Esta colocação de Sócrates acabou por exercer uma influência profunda em toda a
tradição européia posterior, até hoje.
Segundo Reale & Antiseri (1990), um dos raciocínios fundamentais feitos por
Sócrates para provar essa tese é o seguinte: uma coisa é o instrumento que se usa e a outra é o
sujeito que usa o instrumento. Ora, o homem usa o seu corpo como instrumento, o que
significa que a essência humana utiliza o instrumento, que é o corpo, não sendo, pois, o
próprio corpo. Assim, à pergunta "o que é o homem?", não seria lógico responder que é o seu
corpo, mas sim que é "aquilo que se serve do corpo", que é a psyché, a alma.
Entre as acusações contra Sócrates estava a de que ele estava introduzindo
novos daimonions, novas entidades divinas. Em sua Apologia, Sócrates diz:
"A razão (...) são aquelas acusações que muitas vezes e em diversas
circunstâncias ouvistes dizer, ou seja, que em mim se verifica algo de divino ou
demoníaco (...) uma voz que se faz ouvir dentro de mim desde que eu era
menino e que, quando se faz ouvir, sempre me detém de fazer aquilo que é
perigoso e que estou a ponto de fazer, mas que nunca me exortou a fazer nada".
Ou seja, o daimonion socrático era "uma voz" que lhe vetava determinadas
coisas, o que o salvou várias vezes de perigos e experiências negativas (Reale & Antiseri,
1990, p. 95). Ela não lhe revelava nada, apenas vetava algumas coisas que lhe eram perigosas.
É imperativo para o presente trabalho citar a maneira como Sócrates fazia as
pessoas conhecerem-se a si mesmas, a qual também estava ligada à sua descoberta de que o
homem, em sua essência, é a sua psyché. Em seu método, chamado de maiêutica, ele tendia a
despojar a pessoa da sua falsa ilusão do saber, fragilizando a sua vaidade e permitindo, assim,
que a pessoa estivesse mais livre de falsas crenças e mais susceptível à extrair a verdade lógica
que também estava dentro de si. Ele nada ensinava, apenas ajudava as pessoas a tirarem de si
mesmas opiniões próprias e limpas de falsos valores, pois o verdadeiro conhecimento tem de
34
vir de dentro, de acordo com a consciência, e que não se pode obter espremendo-se os outros.
Dialogar com Sócrates era se submeter a uma "lavagem da alma" e a uma prestação de contas
da própria vida. Como disse Platão:
"Quem quer que esteja próximo a Sócrates e, em contato com ele, põe-se a
raciocinar, qualquer que seja o assunto tratado, é arrastado pelas espirais do
diálogo
e
inevitavelmente
é
forçado
a
seguir
adiante,
até
que,
surpreendentemente, ver-se a prestar contas de si mesmo e do modo como vive,
pensa e viveu".
Em seu método, ao iniciar uma conversa, Sócrates sempre adotava a posição de
uma pessoa ignorante, que apenas "sabe que nada sabe". E justamente por usar esta afirmativa,
ele forçava as pessoas a usarem a razão. Ele entrava de tal forma na conversa, e de tal forma a
dominava, que era capaz de aparentar uma maior ignorância ou de mostrar-se mais tolo do que
realmente era. Seus discípulos mais fieis já sabiam que quando o opositor caia nesta jogada,
logo levaria um tombo tremendo quando o quadro se invertesse. E esta era a principal técnica
do método de Sócrates: usar a ironia. Foi assim que ele expôs muito das fraquezas do
pensamento ateniense. Um encontro com Sócrates podia significar o risco de expor-se ao
ridículo. Mas as pessoas que passaram por isto e conseguiram superar o choque do orgulho
ferido, indo até o fim no processo cartático, acabavam por extrair de si mesmo a resposta em
tudo lógica e compatível com os problemas expostos, dando-lhe a solução.
É muito importante para o presente trabalho mostrar como Sócrates tratava da
motivação pessoal na busca pela solução de problemas, postura essa que, após séculos, ainda é
bastante útil para a relação empregado e empregador.
2.2.3.2 - Platão
A mentalidade racional de Platão colocou o sentimento sensível num patamar
abaixo do da inteligência, considerando esta como digna de ser conhecida pelo ser humano.
Autor de vasta obra filosófica, Platão preocupou-se com o conhecimento das
verdades essenciais que determinam a realidade e, a partir disso, estabeleceu os princípios
35
éticos que devem nortear o mundo social. Dentro desse contexto, segundo Fontes(2004),
combateu o relativismo dos valores, defendido pelos sofistas, sustentando que o único dever
do homem é procurar o Bem, que identifica com o Belo e o Uno. Para o atingir, a única via
possível passa pelo desprendimento dos valores materiais e das necessidades corporais.
Teoria das idéias: conhecimento e metafísica. Como primeiro passo para sua
metafísica, Platão julgou indispensável elaborar uma teoria do conhecimento. O problema com
o qual ele se defrontou foi o problema do ser. Uma vez que os sentidos nos revelam as coisas
como múltiplas e mutáveis, ao passo que a inteligência nos revela sua unidade e permanência,
procurou uma solução que conciliasse o testemunho dos sentidos e as exigências do
conhecimento intelectual. Baseou-se nos conceitos matemáticos e nas noções éticas para
demonstrar que a essência real e eterna das coisas existe. Usou como argumento a
possibilidade de pensar figuras geométricas puras, que não existem no mundo físico. Da
mesma forma, todo homem tem as noções de bem e justiça, por exemplo, que não têm
correspondente no mundo sensível. Segundo Hamlyn(2004), Platão acredita que não há
possibilidade de transformar crença em conhecimento, como sugeriu em “Mênon”. Temos
simplesmente que substituir crença por conhecimento. Platão acredita que o conhecimento é
reservado às Formas, porque a Forma F não pode ser outra que F. Pensa, em conseqüência,
que não podemos nos enganar a respeito da Forma, e o conhecimento tem a impossibilidade de
erro como sua precondição. O erro é possível no caso das coisas sensíveis, de modo que não
podemos ter conhecimento das mesmas.
Na hierarquia das idéias, situa-se no topo a idéia do bem, da qual participam as
demais. Logo abaixo estão as idéias de beleza, verdade e simetria e, em plano inferior, os
valores éticos e os conceitos matemáticos. Além disso, cada classe de ser existente no mundo
sensível possui sua forma ideal: homem, cachorro, casa etc. A relação entre os diferentes seres
que constituem uma classe e seu arquétipo, por exemplo, entre um homem e a idéia de
homem, se explica pelo fato de serem os objetos sensíveis cópias ou imitações da idéia
perfeita.
Segundo Platão, a alma é anterior ao corpo, e antes de aprisionar-se nele,
pertenceu ao mundo das idéias. Sua natureza é tripartida: no nível inferior, está a alma
sensível, morada dos desejos e das paixões, à qual corresponde a virtude da moderação ou
temperança; vem em seguida a alma irascível, que impele à ação e ao valor; sobre elas está a
36
alma racional, que pertence à ordem inteligível e permite ao homem recordar sua existência
anterior (teoria da reminiscência) e acender ao mundo das idéias, mediante o cultivo da
filosofia. A alma superior é imortal e retornará à esfera das idéias após a morte do corpo.
As concepções éticas e políticas de Platão são um prolongamento natural de sua
teoria da alma. Uma vez que o homem acende às idéias por meio da razão e que as idéias são
presididas pelo bem, o homem sábio será também necessariamente bom. Para isso, contudo, é
preciso que a sociedade reproduza a ordem da alma.
Considerando que a justiça consiste na relação harmônica entre as partes, sob o
cuidado da razão, Platão sugeriu em A República, obra em que expõe suas idéias políticas,
filosóficas, estéticas e jurídicas; um estado composto por três classes: (1) os regentes filósofos,
sob o predomínio da alma racional; (2) os guerreiros guardiões, defensores do estado e cujos
valores residem na alma irascível; (3) e a classe inferior dos produtores, regidos pela alma
sensível, controlados mediante a temperança.
A referência à Platão é imprescindível para o presente trabalho pois, conforme
supra citado, o filósofo coloca a razão acima da sensibilidade, implicando um
condicionamento do ser humano diretamente proporcional a influência que este sofre até hoje
pelas idéias platônicas. Suas idéias viriam a ser criticadas por Aristóteles, conforme pode se
constatar na seqüência.
2.2.3.3 - Aristóteles
Aristóteles foi um dos primeiros e o maior crítico da teoria platônica das idéias,
com demonstra em muitas obras, principalmente na Metafísica.
Aristóteles achava que a idéia não constituía realidade separada. A realidade
para ele é de indivíduos concretos, e só neles existe a idéia, a quem chama de forma. Já a
idéia, segundo Ribeiro Jr (2004), envolvia conceitos excessivamente abstratos, e não concretos
e reais, os quais podem ser percebidos pelos sentidos e analisados em termos de forma,
constituição, construção e finalidade. Todas as coisas têm caracteres gerais, que permitem
agrupá-las, e caracteres específicos, que as distinguem umas das outras.
Segundo Aristóteles, é a razão que controla nossos atos e nela há o raciocínio a
37
partir dos dados dos sentidos. A forma seria aquilo que a matéria faz. O mundo é dividido
entre orgânico e inorgânico, sendo o orgânico o que encerra em si uma capacidade de
transformação. De fato, em uma obra madura, Ética a Nicômano, temos um exemplo do
impasse que se dava na sua alma, entre defender suas próprias idéias e respeitar a amizade à
Platão e aos platônicos. Diz Aristóteles em I, 6, 15:
"Seria melhor, talvez, considerar o bem universal e discutir a fundo o que se
entende por isso, embora tal investigação nos seja dificultada pela amizade que
nos une àqueles que introduziram as idéias. No entanto, os mais ajuizados dirão
que é preferível e que é mesmo nosso dever destruir o que mais de perto nos
toca a fim de salvaguardar a verdade, especialmente por sermos filósofos ou
amantes da sabedoria; porque embora ambos nos sejam caros, a piedade exige
que honremos a verdade acima de nossos amigos."
Ele prossegue observando não ser possível uma idéia comum por cima de todos
os bens, como queria Platão, porque bem é usado tanto na categoria de substância quanto na
de qualidade e relação. E nas idéias eternas não há prioridade e posterioridade. Por causa
disso, Platão não estabeleceu uma idéia que abrange todos os números. A palavra bem é
predicada na categoria de substância, quantidade, qualidade, relação, espaço. Então bem não
pode ser único e igualmente presente. Assim como o carpinteiro, o olho, o pé e outras coisas
tem uma função própria, o homem precisa ter uma função que lhe seja peculiar. A função do
homem, observa Aristóteles, não pode ser a vida, pois essa é comum até às plantas, nem a
percepção, pois essa é comum aos animais, mas sim a atividade do elemento racional. A
função do homem, é pois, uma atividade da alma que "segue ou implica um princípio
racional". Daí o fato de ele fazer a famosa afirmação : "o homem é um animal racional".
Na definição aristotélica, a alma é todo princípio vital de qualquer organismo.
No homem é também a força da Razão. É imortal, puro pensamento, inviolado pela realidade.
É independente da memória. A alma, é portanto, enteléquia primeira de um corpo natural e
orgânico. A alma intelectiva, diz Aristóteles, parece ser uma espécie diferente de alma. Para
melhor definir a alma, ele a dividiu em três tipos: alma vegetativa, alma sensitiva e a alma
racional. A alma racional seria exclusiva do homem, a sensitiva, pertenceria também aos
animais, e a vegetativa, comum a todos os seres vivos.
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Nada deve ser em falta ou em excesso, tudo no meio termo, ou moderadamente.
A amizade é um auxílio à felicidade, que só encontramos pura em nós e do conhecimento da
nossa alma. Aristóteles fala do homem ideal, que não se preocupa em demasiado, mas dá a
vida nas grandes crises. Não tem maldade, não gosta de falar, enfim é pouco vaidoso. Na Ética
a Nicômano, Aristóteles fornece a seguinte relação de vício e de virtude:
1) a mansidão é o ponto médio entre a iracúndia e a impassibilidade;
2) a coragem é o ponto médio entre a temeridade e a covardia;
3) a verecúndia é o ponto médio entre a imprudência e a timidez;
4) a temperança é o ponto médio entre a intemperança e a
insensibilidade;
5) a indignação é o ponto médio entre a inveja e o excesso oposto que
não tem nome;
6) a justiça é o ponto médio entre o ganho e a perda;
7) a liberalidade é o ponto médio entre a prodigalidade e a avareza;
8) a veracidade é o ponto médio entre a pretensão e o auto desprezo;
9) a amabilidade é o ponto médio entre a hostilidade e a adulação;
10) a seriedade é o ponto médio entre a complacência e a soberba;
11) a magnanimidade é o ponto médio entre a vaidade e a estreiteza da
alma;
12) a magnificência é o ponto médio entre a suntuosidade e a
mesquinharia.
Segundo Aristóteles, nessas ações, a virtude ética é a justa medida que a razão
impõe a sentimentos, ações ou atitudes, que sem o devido controle, tendem para o excesso.
Ribeiro Jr (2004) afirma que a contribuição fundamental de Aristóteles à
Filosofia foi a criação da lógica formal e da lógica material, métodos que organizam e
ordenam o raciocínio e o pensar. Dentre outras importantes contribuições, cita a retórica,
estudo da palavra, uma das mais distintivas características do homem; a ética, estudo dos
princípios racionais da virtude humana; e a política, estudo do comportamento do homem em
comunidade.
Aristóteles contribui para o presente trabalho quando alerta para a possibilidade
de que haja uma idéia dominante para todas as coisas, o risco de se ter uma forma em excesso,
39
ou em falta, bem como quando estabelece a razão como guia dos atos do ser humano.
2.2.3.4 – Conclusão
O mundo não foi mais o mesmo após a passagem de Sócrates, Platão e
Aristóteles. Suas idéias influenciaram outros pensadores e outras escolas conforme será
mostrado no decorrer do presente trabalho.
2.2.4 – A Mentalidade Sob A Ótica De Epícuro
A escola epicurista durou até o IV século d.C onde, através de Epícuro,
defendia a tese de que a originalidade deve manifestar-se na vida.
Epícuro defende que todo o nosso conhecimento deriva da sensação, ou seja,
que é uma complicação de sensações. Estas nos dão o ser, indivíduo material, que constitui a
realidade originária. Como a sensação, a evidência sensível é o único critério de verdade no
campo teorético, da mesma forma o sentimento (prazer e dor) será o critério supremo de valor
no campo prático.
Segundo Epícuro, o universo não é concebido como finito e uno, mas infinito e
resultante de mundos inúmeros divididos por intermundos, espalhado pelo espaço infindo,
sujeitos ao nascimento e à morte. Nesse mundo o homem, sem providência divina, sem alma
imortal, deve adaptar-se para viver como melhor puder. Nisto estão toda a sabedoria, a virtude
e a moral epicuristas.
Em função disso, no que diz respeito à moral epicurista, a finalidade da vida é o
prazer sensível; critério único de moralidade é o sentimento. O único bem é o prazer, como o
único mal é a dor; nenhum prazer deve ser recusado, a não ser por causa de conseqüências
dolorosas, e nenhum sofrimento deve ser aceito, a não ser em vista de um prazer, ou de
nenhum sofrimento menor. No epicurismo não se trata, portanto, do prazer imediato, como é
desejado pelo homem vulgar; trata-se do prazer refletido e avaliado pela razão, escolhido
prudentemente, sabiamente, filosoficamente. Almejava, portanto, dar uma unidade estética e
40
racional à vida, mais do que ao mundo.
Portanto, dentro da ótica de Epícuro, a sensibilidade aparece como
conseqüência de uma análise racional, contribuindo ainda mais para o condicionamento
mecanicista do comportamento do homem, antes do advento do Cristianismo.
2.2.5 – A Mentalidade Sob A Ótica do Cristianismo
É difícil imaginar uma mentalidade racional mais influente no comportamento e
na maneira de pensar do ser humano do que o Cristianismo. Muitas formas de condutas foram
pregadas e advertidas após a difusão do nome de Jesus Cristo entre os homens. Pessoas foram
salvas e outras foram torturadas e mortas em nome do Cristianismo, cuja forte presença se
revelou determinante na tomada de importantes decisões na vida do ser humano.
2.2.5.1 – Santo Agostinho – Fase Patrística
Patrística foi um movimento da filosofia cristã que teve seu apogeu com o
padre Santo Agostinho. Desde o surgimento do Cristianismo, tornou-se necessário explicar
seus ensinamentos às autoridades romanas e ao povo em geral. Mesmo com o estabelecimento
e a consolidação da doutrina cristã, a Igreja católica sabia que esses preceitos não podiam
simplesmente ser impostos pela força. Eles tinham de ser apresentados de maneira
convincente, mediante um trabalho de conquista espiritual.
Foi assim que os primeiros Padres da Igreja se empenharam na elaboração de
inúmeros textos sobre a fé e a revelação cristãs. O conjunto desses textos ficou conhecido
como patrística, por terem sido escritos principalmente pelos grandes Padres da Igreja. Uma
das principais correntes da filosofia patrística, inspirada na filosofia greco-romana, tentou
munir a fé de argumentos racionais. Apesar de tentar romper com a filosofia grega clássica,
essa fase ficou caracterizada na fé em busca de argumentos racionais a partir de uma matriz
platônica. Esse projeto de conciliação entre o cristianismo e o pensamento pagão teve como
principal expoente o padre Santo Agostinho.
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Para Santo Agostinho, o homem é uma alma racional que se serve de um corpo
mortal e terrestre; distingue, na alma, dois aspectos: a razão inferior e a razão superior. A
razão inferior tem por objetivo o conhecimento da realidade sensível e mutável: é a ciência,
conhecimento que permite cobrir as nossas necessidades. A razão superior tem por objeto a
sabedoria, isto é, o conhecimento das idéias, do inteligível, para se elevar até Deus.
Em função disso, Agostinho possui uma noção exata, ortodoxa, cristã: Deus é
poder racional infinito, eterno, imutável, simples, espírito, pessoa, consciência, o que era
excluído pelo platonismo. Nesta razão superior dá-se a iluminação de Deus. Inicialmente, ele
conquista uma certeza: a certeza da própria existência espiritual; daí tira uma verdade superior,
imutável, condição e origem de toda verdade particular.
Embora desvalorizando, platonicamente, o conhecimento sensível em relação
ao conhecimento intelectual, admite Agostinho que os sentidos, como o intelecto, são fontes
de conhecimento. E como para a visão sensível além do olho e da coisa, é necessária a luz
física, do mesmo modo, para o conhecimento intelectual, seria necessária uma luz espiritual.
Segundo Santo Agostinho: "A certeza dada pela luz da razão divina é maior do que a que é
dada pela luz da razão natural". Esta vem de Deus, é a Verdade de Deus, o Verbo de Deus,
para o qual são transferidas as idéias platônicas.
Para ele, o processo do conhecimento é o seguinte: a razão ajuda o homem a
alcançar a fé; de seguida, a fé orienta e ilumina a razão; e esta, por sua vez, contribui para
esclarecer os conteúdos da fé.
Dentro desta metodologia, não fica difícil concluir que, através do presente
trabalho, nem mesmo a fé, atributo tão particular do ser humano, escapou da influência do
racionalismo e de seus requintes de lógica e ideologia.
2.2.5.2 – São Tomás de Aquino – Fase Escolástica Tomista
A fase escolástica caracterizou-se por ser um conjunto de doutrinas filosóficas e
teológicas desenvolvidas em escolas eclesiásticas e universidades da Europa entre o século XI
e o Renascimento. Caracteriza-se pela tentativa de conciliar a fé cristã com a razão,
representada pelos princípios da filosofia clássica grega, em especial os ensinamentos de
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Platão e Aristóteles. Desenvolve-se a partir da filosofia patrística (elaborada pelos padres da
Igreja Católica), que faz a primeira aproximação entre o cristianismo e uma forma racional de
organizar a fé e seus princípios, baseada no platonismo. Com a escolástica, a filosofia
medieval continua ligada à religião, uma vez que são as questões teológicas que suscitam a
discussão filosófica. Um dos principais pensadores escolásticos é São Tomás de Aquino
(1224/25?-1274).
No século VIII, Carlos Magno resolveu organizar o ensino por todo o seu
império e fundar escolas ligadas às instituições católicas. A cultura greco-romana, guardada
nos mosteiros até então, voltou a ser divulgada, passando a ter uma influência mais marcante
nas reflexões da época. Era a renascença carolíngia. A fundação dessas escolas e das primeiras
universidades do século XI fez surgir uma produção filosófico-teológica denominada
escolástica (de escola).
A partir do século XIII, o aristotelismo penetrou de forma profunda no
pensamento escolástico, marcando-o definitivamente. Isso se deveu à descoberta de muitas
obras de Aristóteles, desconhecidas até então, e à tradução para o latim de algumas delas,
diretamente do grego.
A busca da harmonização entre a fé cristã e a razão manteve-se, no entanto,
como problema básico de especulação filosófica. Nesse sentido, o período escolástico pode ser
dividido em três fases:
•
Primeira fase  (do século IX ao fim do século XII): caracterizada
pela confiança na perfeita harmonia entre fé e razão.
•
Segunda fase  (do século XIII ao princípio do século XIV):
caracterizada pela elaboração de grandes sistemas filosóficos,
merecendo destaques nas obras de Tomás de Aquino. Nesta fase,
considera-se que a harmonização entre fé e razão pôde ser
parcialmente obtida.
•
Terceira fase  (do século XIV até o século XVI): decadência da
escolástica,
caracterizada
fundamentais entre fé e razão.
pela
afirmação
das
diferenças
43
Para se ter uma idéia de como a mentalidade do cristianismo se referia à
filosofia, para um homem do século XIII, na Europa Ocidental, ser filósofo, entre muitas
outras coisas, era ser um pagão. Filósofo era um daqueles que, nascidos antes de Cristo, não
puderam informar-se a respeito da verdade da Revelação Cristã. Tal era o caso de Platão e
Aristóteles. O Filósofo, por excelência, era um pagão. Outros, nascidos depois de Cristo, eram
infiéis. Se um teólogo julgasse conveniente recorrer à filosofia nos seus trabalhos teológicos,
como foi o caso de S. Tomás de Aquino, não era normalmente chamado "filósofo", e, sim,
philosophans theologus (teólogo filosofante), ou, simplesmente, philosophans (um
filosofante).
A filosofia se apresentava ao espírito de muitos teólogos como uma massa
indiferenciada em que se encontrariam as lições de quase todos aqueles que, ou por não
estarem ao corrente da verdade cristã, ou por não a terem aceito, tentaram obter uma visão
consistente do mundo e do homem com os recursos apenas da razão.
Nos anos em que esteve na Itália, de 1259 a 1268, S. Tomás de Aquino teve à
sua disposição as traduções de obras de Aristóteles, ou as revisões de traduções, feitas por
Guilherme de Moerbeka, e aproveitou-se dessa oportunidade para escrever comentários à
doutrina do Filósofo. Tomás não achou útil tornar o aristotelismo mais frontalmente oposto à
verdade cristã do que já o era nos trabalhos autênticos do próprio Aristóteles. Tomás removeu
de Aristóteles todos os obstáculos à Fé Cristã não evidentes nos escritos dele.
Depois de remover tais obstáculos desnecessários, S. Tomás de Aquino
encontrou-se em posição bem diferente ao dos demais teólogos. S. Tomás viu, então, até onde
poderia ir a filosofia na linha do pensamento. S. Tomás não podia contentar-se com recorrer,
em cada caso particular, à filosofia que, naquele ponto preciso, fosse mais facilmente
conciliável com o cristianismo. Ele não mais podia contentar-se com um ecletismo filosófico
na elaboração de sua teologia, uma vez que compreendera o que é, realmente, uma visão
filosófica do mundo.
S. Tomás teve de submeter a um exame crítico o ecletismo filosófico de seus
predecessores. Como ele não se contentaria, ao discutir problemas teológicos, com recorrer,
em cada caso particular, à filosofia que lhe permitisse reconciliar razão e revelação como
mínimo esforço possível, teve de eliminar todas as posições teológicas que, aceitáveis embora
no ecletismo, eram incompatíveis com a sua própria concepção de filosofia.
44
Há vasta área de especulação racional que, por cooperar com o trabalho da
revelação, está também incluído no trabalho de S. Tomás de Aquino.
Segundo S. Tomás de Aquino, além da verdade que não se pode conhecer sem
a revelação divina, muitas verdades não estão fora do alcance da razão humana, mas foram,
não obstante, reveladas por Deus ao homem. É necessário à salvação do homem que estas
verdades sejam conhecidas. Considerando que nem todos os homens são capazes de descobrilas através da indagação filosófica, Deus revelou-as a todos. Ainda que reveladas a todos,
estas verdades são possíveis de se conhecer racionalmente.
Partindo desse fato, toda investigação racional dedicada à investigação daquilo
que, muito embora revelado por Deus, é acessível racionalmente, constitui parte da Teologia,
tal como a entende S. Tomás de Aquino. Um fato basta para prová-lo. A Summa Contra
Gentiles é um tratado puramente teológico. Foi às vezes chamada a "Suma filosófica" porque
contém de fato grande proporção de especulação puramente racional. Mas o prólogo mostra,
de modo claro, que a intenção do autor, ao escrevê-la, foi puramente religiosa. Reconhece-se
aí o Dominicano na Summa Theologiae, quando, no capítulo II da Contra Gentiles, S. Tomás
afirma: "Estou consciente de que devo a Deus a principal obrigação de minha vida, que minha
palavra e minha inteligência possam falar dele." Além disso, São Tomás diz que, na Contra
Gentiles, ele segue a ordem teológica que procede de Deus para a criatura, e não a ordem
filosófica que procede da criatura para Deus. Qual é, na Contra Gentiles, a proporção da
especulação destinada às verdades reveladas que são inacessíveis à razão sem o auxílio da Fé?
Uma quarta parte do todo. O próprio S. Tomás de Aquino o diz. No Prólogo do Lv. IV. 1, 10,
S. Tomás assinala a mudança de atitude, de método e de ordem:
"No que precede, as coisas divinas foram objetos de exposição na medida em
que a razão natural pode obter conhecimento delas pelas criaturas:
imperfeitamente, é claro, e conforme à capacidade de nossa inteligência... Agora
resta falar daquilo que foi divinamente revelado para nós como algo que se deve
acreditar, pois que excede à razão."
Portanto, na Summa Contra Gentiles, três partes da obra estudam as verdades
acessíveis à razão humana; e ainda assim todas as coisas nela são Teologia.
Evidentemente, S. Tomás adotou este plano porque desejava mostrar aos
45
pagãos e infiéis, que não acreditavam nas Escrituras, quão longe a razão humana pode ir
sozinha a caminho da revelação cristã, sendo que, procedendo assim, é precisamente o que
São Tomás de Aquino chama ensinar Teologia.
O centro da noção S. Tomás de Aquino de Teologia conclui-se na afirmação de
que, na ciência divina, nada que se conhece é sem importância para Deus, e, na ciência
teológica, nada do que nos pode fazer conhecer melhor a Deus é sem importância. Como diz
S. Tomás de Aquino na Contra Gentiles, com energia insuperável: muito embora instrua o
homem principalmente sobre Deus, a fé cristão faz também do homem, "através da luz da
revelação divina, um conhecedor das criaturas" (per lumen divinae revelationis eum
criaturaram cognitorem facit), de tal modo que "nasce, então no homem uma espécie de
semelhança com a sabedoria divina" (C. G. II, 2, 5). E, realmente, se a Teologia pudesse
conhecer as coisas como Deus as conhece, conheceria todas as coisas sob uma só luz, a luz
divina. Para ele a integração da Filosofia na Teologia de nenhum modo diminui o valor
racional da filosofia.
S. Tomas de Aquino contribui para o presente trabalho mostrando o
direcionamento pelo qual a filosofia, a partir de uma espécie de cristianização de Aristóteles,
seguiu durante muitos séculos, os quais ficaram marcados por atitudes extremas como as
Cruzadas e a Inquisição, que repreendiam implacavelmente qualquer manifesto considerado
heresia pela Igreja Católica. Apesar dessa forte repressão, o Cristianismo encontraria
resistência conforme descrito na seqüência.
2.2.5.3 - Guilherme de Ockham – Fase Escolástica Pós-Tomista
A fase escolástica pós-tomista caracterizou-se pela ruptura entre a mentalidade
racional e a fé. O papel do clero passa a ser questionado por diversos segmentos da sociedade
pós-Idade Média, gerando conseqüências que se refletiram inclusive na filosofia cristã, que
perdeu boa parte de sua imunidade.
Segundo Cotrim (2000), grandes acontecimentos históricos marcaram a Europa
nos séculos XIII e XIV. Entre eles, estão a Guerra dos Cem Anos, entre a França e a
Inglaterra, a epidemia da peste bubônica, que matou cerca de três quartos da população
46
européia, o cisma definitivo entre as Igrejas do Ocidente e do Oriente, que entre outros fatores,
diminuiu a influência da Igreja Católica Romana sobre o poder temporal ( o Estado ) e sobre a
população a criação de novas universidades, que iniciam o desenvolvimento de questões
relativas às ciências naturais e a autonomia da filosofia em relação à teologia. Esses são alguns
dos fatores que levarão ao questionamento do pensamento escolástico bem como ao fim da
Idade Média. Dentro os filósofos que desafiaram o pensamento escolástico destaca-se
Guilherme de Ockham( 1280 – 1349 ), que proclamou uma distinção absoluta entre a fé e a
razão.
Cotrim(2000) afirma que, para Ockham, a filosofia não é serva da teologia, e a
teologia não pode sequer ser considerada ciência, pois é tão somente um corpo de proposições
mantidas não pela coerência racional, mas pela força da fé. Segundo Ockham:
“Os artigos de fé não são princípios de demonstração nem conclusões, não sendo
nem mesmo prováveis já que parecem falsos para todos para a maioria ou para
os sábios, entendendo por sábios aqueles que se entreguem à razão natural, já
que só de tal modo se entende o sábio na ciência e na filosofia”.
Pensador empirista e nominalista, Ockham combateu a metafísica tradicional e
iniciou o método da pesquisa cientifica moderna. Seu pensamento destacou a perda da
concepção unitária da sociedade, que passou a se dividir cada vez mais entre o poder temporal
( Estado ) e o poder espiritual ( Igreja ), essa ruptura entre a fé e a razão, ocasionada pelo
nascente desenvolvimento da razão autônoma, que buscou através da investigação empírica o
conhecimento dos fenômenos naturais.
Esta ruptura entre a fé e a razão preparou o terreno para o racionalismo e de
personagens como Descartes e Kant, que também cravaram definitivamente sua influência no
comportamento do homem.
2.2.6 – A Mentalidade Sob A Ótica de René Descartes
Com a derrocada da fase escolástica e, com isso, a perda da imunidade a
47
questionamentos por parte da sociedade clerical, fixa-se, a partir de então, o advento da
filosofia moderna, inaugurada por René Descartes, que levantou a bandeira do racionalismo.
Segundo Aranha & Martins(1993), desde o Renascimento, movimento que
transformou a mentalidade social européia nos séculos XV e XVI, a religião vinha sofrendo
diversos abalos com os questionamentos dirigidos à autoridade papal. O critério da fé, da
revelação e do dogmatismo dão lugar ao poder exclusivo da razão de discernir, distinguir e
comparar, aliados ao benefício da dúvida. O protestantismo, com sua implacável fragmentação
da unidade religiosa, e o antropocentrismo, cujo centro dos interesses e decisões passa a ser
homem e não Deus; são algumas das constatações do enfraquecimento da influência religiosa
na maneira de pensar do ser humano.
Apesar disso, segundo Cotrim(2000), Descartes, temendo ser perseguido pelos
religiosos, autocensurou vários trechos de suas obras para evitar tanto a repressão da igreja
católica como a reação fanática dos protestantes.
A linha básica do pensamento de Descartes era de que, para se conhecer a
verdade, é preciso colocar todos os pensamentos em dúvida para que seja criteriosamente
analisado para, enfim, se ter certeza da existência de algo.
Descartes concluiu que a única verdade livre de dúvida era o pensamento.
Vinculando a existência do pensamento com a própria existência do ser pensante. Daí sua
célebre conclusão: “Cogito ergo sum” que, em latim, significa: “penso, logo existo”.
Aranha & Martins(1993) expõem que, com Descartes, acentua-se o caráter
absoluto e universal da razão que, partindo do cogito(pensamento), só com suas próprias
forças pode chegar a descobrir todas as verdades possíveis. Daí a importância de um método
de pensamento que garanta que as imagens mentais, ou representações da razão, correspondam
aos objetos a que se referem e que são exteriores a essa mesma razão. Descartes aconselhava
que era preciso desconfiar das percepções sensoriais, ao que responsabiliza pelo freqüentes
erros do conhecimento humano. Ele defendia o uso do tipo de conhecimento da matemática,
que considerava completo, inteiramente dominado pela inteligência e baseado na ordem e na
medida exata.
Portanto, através da marcante influência das idéias de Descartes, o racionalismo
é elevado à condição de fonte básica do conhecimento, marcando uma geração que difundiu e
disseminou a razão de tal maneira que até hoje, se reflete na tomada de decisão por parte do
48
ser humano.
2.2.7 – A Mentalidade Sob A Ótica de Immanuel Kant – Iluminismo
Assim como o Renascimento foi o movimento que contribuiu para a difusão
das idéias de Descartes, o Iluminismo também foi, entre o século XVIII e XIX, a base para a
disseminação das idéias de Immanuel Kant, que tratou da razão de uma forma crítica.
Aproveitando-se da liberdade proporcionada pelo Iluminismo, onde o homem,
livre de qualquer tutela, estende o uso da razão a todos os domínios (político, econômico,
moral e religioso); Kant, segundo Cotrim(2000), sintetizou a possibilidade de o homem se
guiar por sua própria razão, sem se deixar enganar pelas crenças, tradições e opiniões alheias.
Em função disso, Aranha & Martins(1993) explicam que Kant condena os
empiristas, os quais enfatizam o papel da experiência sensível no processo de conhecimento, e
os racionalistas, os quais percebem o mundo através de idéias claras e distintas. Para Kant, o
conhecimento é constituído de matéria representada pelas próprias coisas, e forma,
representada por nós mesmos.
Para Kant, o papel da razão é indicar quais são os deveres e normas a serem
seguidos de uma forma universal, de maneira que impeça que os indivíduos se deixem levar
pelos seus desejos, paixões ou motivos particulares.
Partindo desse raciocínio, o conhecimento experimental do homem é um
composto do que ele recebe por impressões e do que a sua própria faculdade de conhecer a si
mesmo tira por ocasião de tais impressões.
Kant contribui para o presente trabalho ao resgatar a importância dos sentidos
mesclando com os requintes metódicos da razão, ainda que esta se apresente ainda
preponderante.
2.2.8 – A Mentalidade Sob A Ótica de Georg Hegel – Idealismo Alemão
Influenciado por Kant, Georg Hegel(1770-1831) foi uma figura importante para
49
o Idealismo Alemão, onde o mundo é a manifestação da idéia. Sua relação com a mentalidade
racional consiste no fato de que a manifestação da razão proporciona a história universal.
Segundo Aranha & Martins(1993), considerando que todas as coisas morrem, a
força destruidora responsável por esta morte é a mesma força que cria, que supera, numa
tentativa de Hegel de, segundo Cotrim(2000), conciliar a filosofia com a realidade, atribuindo
à racionalidade o papel de principal matéria-prima do real e do pensamento.
Portanto, Hegel pensou a realidade como processo alimentado por fatos
racionais engendrados seja na vida individual ou na vida social, em detrimento à natureza(a
matéria) e à simples ordem de fatos acontecidos no tempo. As idéias de Hegel encontrariam
oposição através de Feuerbach, pensador que influenciaria mais tarde a Karl Marx.
2.2.9 – A Mentalidade Segundo A Ótica do Romantismo
No final do século XVIII, a filosofia foi influenciada por um movimento
cultural chamado romantismo que teve como principal característica a reação do sentimento
contra o racionalismo.
Segundo Cotrim(2000), o Romantismo resgatou o valor dos sentimentos e das
emoções em pleno mundo industrial tomado pela racionalização e pela mecanização. O
romantismo consistiu no resgate do instinto e da emoção contra a frieza da razão.
Cotrim(2000) afirma que o Romantismo traz a exaltação da natureza como
valorização dos costumes. Ele cita Schlegel(1767-1845), Goethe(1749-1832), Novalis(17721801) e Holderlim(1770-1843) como exemplos de pensadores que enveredaram pelas águas
do Romantismo. Conforme Cotrim(2000), o Romantismo influenciou até os filósofos de
outras correntes como por exemplo Rousseau que, apesar de sua característica iluminista,
apresenta sua noção do bom selvagem baseada no ambiente romântico.
A defesa da liberdade sentimental personificada pelo romantismo foi de grande
valia para a humanidade tendo em vista que, apesar de ter o racionalismo encrostado em sua
natureza, traz a oportunidade do homem acessar outros atributos dessa natureza, entre eles, o
sentimento pátrio, as tradições nacionais e a linguagem do coração.
50
2.2.10 – A Mentalidade Sob A Ótica de Feuerbach – Materialismo
Feuerbach(1804-1872) foi um dos pensadores que levantaram a bandeira da
contestação do sistema hegeliano afirmando que seu idealismo não dá o devido tratamento ao
ser e às coisas reais.
Segundo Cotrim(2000), ao contrário de Hegel, Feuerbach defendeu que a
filosofia deveria tomar como ponto de partida o concreto, que abrange o homem natural e
social.
Apesar de breve, a inclusão da opinião de Feuerbach caracteriza-se por ser de
grande importância para o presente trabalho por resgatar a consideração ao comportamento do
homem: o fato deste ser levado em conta como um ente social antes de ser analisado com
requintes racionais.
2.2.11 – A Mentalidade Sob A Ótica de Augusto Comte – Positivismo
Fazendo parte da filosofia contemporânea, no século XIX, Augusto Comte
fundou uma linha divergente à abordagem feita por Kant sobre a razão. Comte fundou o
Positivismo, uma diretriz filosófica marcada pelo culto da ciência e pelo método científico
influenciada pelo progresso do capitalismo capitaneado pela técnica e pela ciência.
Segundo Cotrim(2000), Comte atribui à lei dos três estados o desenvolvimento
total da inteligência humana. Baseado nessa lei, as concepções principais do homem passam
pelos seguintes estados:
-
Teológico: consideração dos fenômenos produzidos pela ação
direta e contínua de agentes sobrenaturais caracterizando-se como
ponto de partida da inteligência humana;
-
Metafísico: caracterizado por ser como uma ponte de transição
cujo objetivo é transformar esses agentes sobrenaturais em
verdadeiras entidades capazes de engendrar por elas próprias todos
os fenômenos observados;
51
-
Positivo: que consiste no estágio maduro, fixo e definitivo da
evolução racional da humanidade, tendo em vista que se preocupa
em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da
observação, suas leis efetivas.
O objetivo destes três estados para o Positivismo de Comte era promover uma
reorganização completa da sociedade por meio de uma pesquisa das leis gerais que regem os
fenômenos naturais os quais o progresso da ciência tende cada vez mais a diminuir.
A relação entre o Positivismo de Comte com o presente trabalho reside no fato
de que faz um levantamento do papel reservado à razão na busca pelas relações constantes e
necessárias entre os fenômenos naturais bem como as leis que os regem.
2.2.12 – A Mentalidade Sob A Ótica de Franz Brentano – Fenomenologia
Franz Brentano foi o precursor da Fenomenologia, que consiste na observação e
descrição do fenômeno, conforme Cotrim(2000). Brentano definiu a intencionalidade, cujo
significado dentro da então recém desenvolvida filosofia da mente significa estar por outra
coisa, possuir relacionalidade; em outras palavras, uma distinção definitiva entre o físico e o
mental.
Segundo Cobra(2004), a teoria de Brentano trata do fenômeno psíquico de tal
forma que a mente refere-se aos objetos através de três maneiras:
-
Por percepção e idealização, incluindo sensação e imagem;
-
Por julgamento, incluindo atos de reconhecimento, rejeição e
recordação;
-
Por amor e ódio, o que leva em conta desejos, intenções, vontades
e sentimentos.
Abath(2000) afirma que, para Brentano, não poderia, portanto, o mental ser
explicado através do físico, já que estes são distintos.
Franz Brentano contribuiria para a tendência humanista da filosofia
52
influenciando mais tarde Edmund Husserl, que formulou as principais linhas de abordagem da
fenomenologia.
2.2.13 – A Mentalidade Sob A Ótica de Edmund Husserl – Fenomenologia
Conforme mencionado anteriormente, Edmund Husserl foi influenciado por
Franz Brentano, procurando repensar os fundamentos do saber e a racionalidade até
abordadas.
Segundo
Aranha
&
Martins(1993),
Husserl
opôs-se
ao
Positivismo
questionando a objetividade tendo em vista que o mundo não é percebido a partir de uma regra
geral. Husserl dá importância ao sentido, onde o mundo que o homem percebe é um mundo
para ele.
A Fenomenologia de Husserl faz ainda juízo da relação sujeito-objeto abordada
pelo conhecimento cartesiano de Descartes e o Empirismo. Segundo Husserl, o objeto é algo
que aparece para uma consciência, um fenômeno, sendo que essa consciência tende para o
mundo.
A contribuição de Husserl para o presente trabalho é de suma importância a
partir do momento em que ele busca analisar como se desenvolve a experiência sem que o
sujeito ofereça condicionamento ao fenômeno estudado, resgatando a relevância da
manifestação do fenômeno por meio dos sentidos.
2.2.14 – A Mentalidade Sob A Ótica de Wilhelm Wundt – Estruturalismo
No final do século XIX, teve início uma corrente que passou a se preocupar
com os processos mentais. Conhecido por ter sido o fundador do primeiro laboratório de
psicologia experimental em 1879, na Alemanha, Wilhelm Wundt foi também o precursor do
Estruturalismo.
Estudando a consciência humana, com maior ênfase às experiências sensoriais,
Wundt decompôs os processos mentais nos seus elementos mais simples, como sensações e
53
idéias, com o objetivo de descobrir suas combinações e conexões no sistema nervoso e as
estruturas que com eles estavam relacionados.
É interessante atentar para essa escola de Wundt porque ela traz o prenúncio da
ciência cognitiva que viria mais tarde tendo em vista que procura também descobrir as leis que
regem os processos de combinação e conexão da mente.
2.2.15 – A Mentalidade Sob A Ótica de Willian James – Funcionalismo
Seguindo a linha de Wilhelm Wundt, Willian James encara os processos
mentais como funções, criando o funcionalismo, corrente de pensamento cujo objetivo é
determinar o modo de funcionamento dos processos mentais.
Dentre os métodos aplicados pelos funcionalistas estão a introspecção e os
métodos experimentais. Foi a partir do século XX que a psicologia animal registra um grande
desenvolvimento. As experiências com animais eram bastante convenientes para os
funcionalistas tendo em vista que o comportamento dos animais tem enormes semelhanças
com o dos homens, sem contar ainda que tais experiências não levantavam problemas morais
para os padrões éticos da época.
O funcionalismo apresentou conceitos fundamentais que alimentaram o
Behaviorismo de Skinner e Watson mais tarde.
2.2.16 – A Mentalidade Sob A Ótica de Skinner – Behaviorismo Radical
Influenciado pelo Positivismo Lógico, cuja essência considera que, apesar de
não negar a existência da consciência, afirma não ser possível estudá-la, o Behaviorismo de
Skinner trouxe o embasamento em dados objetivos, com medidas e definições claras aliadas
ao processo de demonstração e experimentação.
Segundo Matos(1995), Behaviorismo é uma palavra que deriva do termo inglês
“behavior”(comportamento) e que se refere ao estudo do comportamento. Matos(1995)
apresenta quatro fases que refletem a influência filosófica da época para a disseminação do
54
Behaviorismo:
-
Estudar o comportamento por si mesmo;
-
Opor-se ao mentalismo;
-
Aderir ao evolucionismo biológico;
-
Adotar o determinismo materialístico.
Considerando que o objeto do presente capítulo é abordar as diversas
influências racionais sobre a mentalidade do ser humano, o posicionamento de Skinner é o de
negar radicalmente a existência de algo que, para ele, escapa ao mundo físico, que não tendo
uma existência identificável no estado e no tempo, no caso, referindo-se à mente, como prova
da oposição ao mentalismo.
A opinião de Skinner é a prova de uma época em que, para ganhar o
consentimento dos cientistas, uma teoria deveria passar pelo crivo da observação, podendo se
identificar o racionalismo através da ciência predominante durante as décadas de 20 e 40.
2.2.17 – A Mentalidade Sob A Ótica de John B. Watson – Behaviorismo
Metodológico
O Behaviorismo apresenta ainda um escritor popular e persuasivo chamado
John Broadus Watson(1878-1958) que, apesar de também contestar a existência da mente e de
ser o fundador do Behaviorismo Americano, foi criticado por Skinner por generalizar em suas
observações não levando em conta uma base de dados reais.
Watson afirmava que a consciência não passava de uma ficção explanatória,
defendendo a tese de que toda atividade humana é condicionada e condicionável. Uma prova
disso está em uma de suas polêmicas observações:
“Gostaria de avançar mais um passo esta noite e dizer: dêem-me uma dúzia de
crianças saudáveis, bem formadas, e um ambiente para criá-las que eu próprio
especificarei e eu garanto que, tomando qualquer uma delas ao caso, preparála-ei para tornar-se qualquer tipo de especialista que eu selecione – um médico,
55
advogado, artista comerciante e, sim, até um pedinte ou ladrão, independente de
seus talentos, pendores, tendências, aptidões, vocações e raça de seus
ancestrais... é favor notar que, quando esse experimento for realizado, estarei
autorizado a especificar o modo como elas serão criadas e o tipo de mundo em
que terão que viver...”(Apud Marx & Hills, 1976, p.244-5)
É imperativo para o presente trabalho colher esta declaração de Watson que
exprime o racionalismo de sua mentalidade com relação ao condicionamento do
comportamento humano.
2.2.18 – A Mentalidade Sob A Ótica de John Dewey – Pragmatismo
John Dewey(1859-1952), juntamente com outros filósofos, fundou o
Pragmatismo, corrente filosófica que, influenciada ainda pela independência dos Estados
Unidos, valorizava o conhecimento como recurso de aperfeiçoamento do potencial do ser
humano para estabelecer um controle sobre as vicissitudes do meio.
Cunha(2004) afirma que, com base nos princípios básicos do Pragmatismo, o
pensamento e ação formam um grupo cujas idéias somente se tornam efetivas quando
colocadas em prática.
Segundo Dewey, a filosofia tem a meta de auxiliar o homem a compreender e
controlar suas ações e reações diante dos acontecimentos que o cercam. É na relação com o
ambiente que surge o conhecimento que traz valores, os quais só podem ser avaliados
mediante os resultados que produzem, e não segundo postulações transcendentais previamente
estabelecidas.
2.2.19 – A Mentalidade Sob A Ótica de J.C.C. Smart – Estados Mentais
Smart defende que o ser humano possui uma consciência direta dos objetos
materiais sendo que os estados mentais são diretamente proporcionados aos estados do cérebro
que produzem o comportamento.
56
Por isso que Hegenberg(2004) explica que Smart contraria o Behaviorismo
quando afirma que alguns eventos da mente não podem ser comparados a uma simples
observação do comportamento. Ele julga como “interiores” e dependentes da natureza do
episódio os estados e eventos provenientes da mente, dos quais o comportamento parte.
Com Smart, a filosofia da mente e o estudo da consciência têm sua importância
resgatada graças à oposição a mentalidade dominante como foi o Behaviorismo.
2.2.20 – A Mentalidade Sob A Ótica de Hilary Putnam – Funcionalismo
Apesar de influenciado no início pelo Positivismo Lógico e pelo Pragmatismo
de Dewey, Hilary Putnam desenvolveu sua filosofia da mente a partir de uma ótica realista.
Putnam adotou uma posição funcionalista onde analisa o funcionamento da mente como o de
um software de computador.
Segundo Richer(2004), os estados mentais analisados por Putnam resumem-se
na negação de que estes limitam-se ao físico, aos estados cerebrais, considerando que existem
seres com características físicas diferentes, com os mesmos estados mentais, mesmo com
cérebros diferentes ou não.
Richer(2004) reproduz um exemplo de Putnam sobre como este explicava que
os significados não estão apenas na cabeça:
“Putnam nos pediu que considerássemos um mundo exatamente como o nosso,
exceto que em vez de água, ele contém uma substância com todas as mesmas
propriedades totais – é líquido, refrescante, etc. – Mas com uma
microconstrução diferente, XYZ, não H2O. Acontece que os habitantes deste
mundo também chamam esta substância de água. Agora, imagine que neste
mundo há alguém fisicamente idêntico a você sob todos os aspectos. Vocês dois
se encontram numa piscina de material líquido e refrescante, e têm o
pensamento ‘a água está refrescante’. Vocês pensam a mesma coisa? Putnam
argumenta que não, uma vez que o que é pensado é diferente em cada caso. É
sobre H2O para você, XYZ para seu gêmeo. Porém, visto que por esta hipótese
vocês são fisicamente idênticos, essa diferença não pode ser considerada para
qualquer estado interno.”
57
Partindo desse raciocínio, Putnam afirma que há mais a significar do que aquilo
que entra na cabeça, então estados funcionais, compreendidos como estados internos do
organismo, não podem ser estados mentais.
Putnam trata de uma tendência que se tornaria uma realidade no futuro: o
cognitivismo. Sua importante contribuição para o presente trabalho resume-se ao fato de que,
na sua opinião, a mente não deve ser pensada como um órgão, mas como um “sistema
envolvendo capacidades complementares”, pois, para ele, se o homem limitar-se somente ao
que é interno, sua visão de mundo, a partir de uma visão funcionalista dos estados mentais,
não dá condições de saber como a mente desse homem se conecta com a realidade.
2.2.21 – A Mentalidade Sob A Ótica da Revolução Cognitiva
Inspirada pelo advento da criação da primeira máquina calculadora por Alan
Turing e do primeiro computador, a filosofia da mente tomou um novo rumo que misturava
filosofia, psicologia, neurologia, lógica, lingüística, computação e inteligência artificial. Essa
nova ciência foi denominada Cognitivismo.
Neto(2004) assim define o movimento:
“Longe de ser apenas um movimento interno à própria psicologia, a ‘Revolução
Cognitiva’ obedece a um padrão diferenciado por justamente se originar
externamente às ciências e saberes ‘psi’, mais notadamente na lógica, na
filosofia da mente, na filosofia da linguagem e na engenharia de programação”.
Segundo Queiroz(2004), o Cognitivismo é dividido em três teses:
-
Tese Computacional: que afirma que a cognição é processamento
de informação;
-
Tese Representacional: que afirma que os pensamentos são
representações mentais tais como símbolos, regras e imagens;
-
Tese Semântica: segundo a qual as representações mentais
58
referem-se às coisas do mundo.
Conforme o exposto acima, entende-se que a Revolução Cognitiva foi a análise
de maneira bastante complexa e sofisticada da problemática da subjetividade. Como exemplo
de alguns teóricos da Revolução Cognitiva, será analisada a participação de Jerry Fodor, cujo
tratamento da questão da mente foi elaborado em função de linguagens de programação, como
as de um computador; e de Horward Gardner, que identificou as inteligências que o ser
humano desenvolve durante seu crescimento.
2.2.21.1 – Jerry Fodor – Funcionalismo Computacional
Seguindo a linha de raciocínio de Hilary Putnam e do Behaviorismo, Jerry
Fodor difundiu a linguagem do pensamento através de uma espécie de funcionalismo
computacional nos anos 60, que define que os estados possuem relações causais entre si e
respostas comportamentais.
Segundo Abath(2000), o funcionalismo computacional de Fodor explica que há
impulsos sensoriais que geram reações de comportamento. O que difere essa teoria para com a
do Behaviorismo é o fato de que as relações mentais aqui são consideradas, caracterizadas sob
a forma de Inputs e Outputs.
O processo consiste no recebimento de um input que está em um determinado
estado mental, isso implica um output que, por sua vez, gera outro estado mental.
O presente trabalho traz, através da teoria do funcionalismo computacional de
Fodor, uma prova de como a mente humana é tratada como uma espécie de linguagem do
pensamento, sujeita ao racionalismo das funções de ciências exatas.
2.2.21.2 – Howard Gardner – Teoria das Inteligências Múltiplas
Calcado na Ciência Cognitiva e, ao mesmo tempo, insatisfeito com as
observações unitárias sobre a inteligência e com a idéia de QI(quociente de inteligência) que
59
focalizam sobretudo habilidades importantes, Howard Gardner, professor da Universidade de
Harvard, apresenta, em 1983, sua teoria das inteligências múltiplas.
Gardner(1996) faz o seguinte comentário sobre a teoria computacional:
“A descoberta da influência decisiva das emoções nas tarefas deliberativas
dificultou mais ainda o trabalho dos pesquisadores que adotam a teoria computacional como
modelo explicativo do funcionamento da mente.”
Segundo Lopes(1997), a origem da teoria das inteligências múltiplas provem de
um acompanhamento feito por Gardner do desempenho profissional de pessoas que haviam
sido alunos fracos. O sucesso obtido por vários deles surpreendeu Gardner, que concluiu que
todos nascem com potencial das várias inteligências. Gardner afirma que a partir das relações
com o ambiente, somando-se aos estímulos culturais, o ser humano desenvolve mais algumas
relações e deixa de aprimorar outras. Em outras palavras, as inteligências são linguagens que
todas as pessoas falam e são, em parte, influenciadas pela cultura em que a pessoa nasceu. São
recursos para aprendizagem, solução de problemas e criatividade que todos os seres humanos
podem usar. Conforme Boeira(2001), as inteligências múltiplas difundidas por Gardner são as
seguintes:
-
Lingüística: que consiste na capacidade de pensar com palavras e
de usar a linguagem para expressar e avaliar significados
complexos;
-
Lógico-matemática: que possibilita calcular, quantificar, considerar
proposições,
hipóteses
e
realizar
operações
a
capacidade
matemáticas
complexas;
-
Espacial:
que
tridimensionais,
instiga
percebendo
imagens
de
pensar
externas
e
formas
internas,
vinculando a própria consciência aos objetos percebidos;
-
Cinestésico-corporal: que permite à pessoa sintonizar e harmonizar
habilidades físicas;
-
Musical: que possibilita a sensibilidade para a entoação, a melodia,
o ritmo e o tom;
-
Interpessoal: que permite compreender outras pessoas e interagir
efetivamente com elas;
60
-
Intrapessoal: que é a capacidade de construir uma acurada
percepção de si mesmo, além de usar este conhecimento ao
planejar e direcionar sua própria vida;
-
Naturalista: que consiste em observar padrões na natureza,
identificando e classificando objetos e compreendendo os sistemas
naturais ou construídos.
Kátia Cristina Stocco Smole, mestra em matemática do Centro de
Aperfeiçoamento do Ensino de Matemática da Universidade de São Paulo(USP), em entrevista
concedida à Lopes(1997) afirma:
“Sempre envolvemos mais de uma habilidade na solução de problemas, embora
existam predominâncias.”
Em função disso, a Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner renega a
possibilidade de se medir a inteligência através de métodos convencionais como os de QI,
tendo em vista que eles medem somente as capacidades lógico-matemática e linguística,
deixando de lado as demais.
A inclusão da teoria de Gardner contribui em muito para o presente trabalho
porque, além de apresentar a mesma proposta de equilíbrio entre os recursos racionais e dos
sentidos, alerta através de sua aplicação no ensino, como o ser humano é avaliado, desde a sua
infância na escola, através de métodos que valorizam apenas o aluno com maior conhecimento
de matemática(inteligência lógico-matemática) e de língua portuguesa (inteligência
lingüística), em detrimento às demais inteligências.
2.2.22 – A Mentalidade Sob A Ótica de Daniel Goleman – Inteligência
Emocional
O escritor, psicólogo e jornalista Daniel Goleman, autor da teoria da
Inteligência Emocional, onde, através de uma pesquisa em escolas, empresas e famílias;
formulou uma proposta de combinação entre o pensamento racional com o controle e autoconhecimento emocionais.
61
Goleman(2001) considera hiper racional o conceito dos autores da “Revolução
Cognitiva” por terem encarnado a idéia de que as emoções não têm vez na inteligência e que
apenas confundem nosso esquema de raciocínio.
Segundo Goleman(2001), existem dois modos fundamentalmente diferentes de
conhecimento que interagem na construção de nossa vida mental: A mente racional e a mente
emocional.
Goleman(2001) coloca que, às vezes, existem momentos em que há um
equilíbrio entre a mente racional que refina e veta e entrada de emoções, assim como a mente
emocional, que inunda a racional com sentimentos.
O autor afirma que as decisões são mal tomadas por terem perdido acesso ao
que foi emocionalmente aprendido. Para ele, os sentimentos têm seu valor para as decisões
racionais pois servem de contraponto à lógica fria que aparentemente pode ser a melhor
ferramenta em determinado momento. Ele cita o aprendizado emocional que dá subsídios ao
homem para a seleção de opções.
Em concordância com a proposta do presente trabalho, as idéias de Goleman
abordam, entre outras situações, o comportamento racional e emocional das empresas.
2.2.23 – Conclusão
Portanto, após essa verdadeira viagem cronológica sobre o que dito e escrito
sobre a mentalidade racional, foi possível levantar teorias e opiniões filosóficas que
transformaram definitivamente o comportamento do ser humano ao mesmo tempo que
proporcionaram um vasto e complexo acervo de informações que ainda vão influenciar a
humanidade durante sua existência.
2.3 – Abordagem Psicológica da Mentalidade
Tendo analisado a mentalidade e seus aspectos filosóficos, faz-se necessário a
partir de agora enfocar o estudo da mente sob a ótica psicológica que, em alguns momentos foi
62
influênciada pela filosofia, traz físicos, observadores, psicólogos, entre outros profissionais
que proporcionaram paradigmas ao longo da existência da ciência da mente.
Henneman(2002) atribui a três desenvolvimentos ocorridos durante o século
XIX a declaração formal do status da psicologia como ciência natural: a influência dos
filósofos empiristas, o advento da fisiologia e da Psicofísica. Para melhor entendimento da
relação que essas três vertentes com a psicologia, o presente trabalho fará um breve tratamento
de ambas conforme a seguir.
2.3.1 – Influência da Filosofia Empirista na Psicologia
Considerando que o estudo da mente ainda era um dos assuntos mais preferidos
pelos filósofos entre os séculos XVIII e XIX, uma das escolas desenvolvidas no período em
questão, o empirismo, fazia oposição ao racionalismo e formou bases para os estudiosos da
psicologia que viriam mais tarde.
Henneman(2002) explica que a questão da percepção sensorial e do
aprendizado no desenvolvimento da mente ocuparam lugar de destaque na filosofia empirista.
O autor resgata uma afirmação de John Locke(1632-1704) na qual a percepção é o que
preenche a mente do ser humano com idéias, imagens e sensações ao longo do seu
crescimento.
A partir daí, os empiristas acreditavam que a estimulação do ambiente dá início
à percepção dos sentidos, crendo ainda que o “percebedor” exercia pequeno controle sobre sua
percepção sensorial(visão, audição, olfato e paladar).
As etapas desse processo seriam as seguintes, conforme Henneman(2002):
“Os órgãos dos sentidos recebem essa estimulação e o processo fisiológico
despertado é transmitido pelos nervos ao cérebro. O resultado final é a
percepção consciente dos objetos vistos ou ouvidos. Essa percepção consciente
constitui a base do conhecimento humano.”
A análise desse processo fez com que os empiristas especulassem o que seria a
próxima influência sobre a psicologia: a fisiologia, tendo em vista que estes começaram a dar
63
maior atenção à natureza dos mecanismos e processos fisiológicos acreditando que essa
combinação seja a origem dos eventos e estados mentais.
2.3.2 – Influência da Fisiologia Sobre a Psicologia
O aparecimento da fisiologia, com seus estudos de órgãos como o cérebro,
nervos e sentidos; era uma prova do que os cientistas na época exigiam: dados concretos, que
podiam ser extraídos por meio da observação e de experimentos de laboratório.
Henneman(2002) explica que, com o progresso da ciência, fruto da mentalidade
positivista; conforme foram surgindo métodos apropriados de estudo dos órgãos fisiológicos
do ser humano, cada vez mais foi possível efetuar levantamentos sobre a relação dos processos
corporais com a percepção que o homem tem do mundo em que vive.
Como exemplo disso, relacionando energia luminosa, ondas sonoras ou objetos
em contato com a pele, buscou-se estímulo de sentidos como olhos, ouvidos, e reflexos
nervosos. Estes experimentos incluíram também o cérebro, através do estudo da fronologia,
teoria que afirma que as capacidades e traços da personalidade dependem do tamanho do
tecido cerebral conforme a área da cabeça estudada.
Henneman(2002) cita, entre outros pioneiros da fisiologia, o físico e fisiológico
alemão Hermann Von Helmholtz(1821-1894), respeitado por suas experiências e resultados
colhidos na fisiologia da visão e audição.
O conhecimento e a metodologia de laboratório dos fisiólogos dos sentidos
trouxeram uma base de dados que se baseava ainda nos aspectos mecânicos do ser humano,
deixando uma lacuna sobre a questão da mente que viria a ser preenchida com a psicofísica.
2.3.3 – Influência da Psicofísica Sobre a Psicologia
Em virtude da mentalidade dominante do século XIX, que primava pelos dados
concretos que podiam ser extraídos de experimentos e observação, a psicofísica teve sua base
também submetida ao crivo dos cientistas que somente a levariam a sério caso fosse submetida
64
às metodologias científicas de obtenção de informações, com a mesma eficiência do
empirismo e da fisiologia.
Henneman(2002) traz uma breve abordagem sobre a psicofísica afirmando que
ela provem de uma combinação entre a estimulação física e a sensação resultante. O problema
era que, para os cientistas, algumas das sensações resultantes da psicofísica não eram
acessíveis à investigação experimental da ciência. Para eles, esses experimentos deveriam
apresentar alguma coerência com os estímulos em experiência sensorial. Só assim a mente
poderia ser estudada cientificamente.
Henneman(2002) afirma ainda que a fisiologia e a psicofísica experimentais
tornou possível a resolução do dilema do dualismo cartesiano de Descartes pois, através dessa
combinação das duas vertentes, pôde-se afirmar que os eventos da mente diferenciam-se dos
eventos físicos. Henneman(2002) faz a seguinte analogia sobre essa questão:
“Se nossas experiências conscientes de luzes, sons e pesos são dependentes das
características da estimulação física e de processos fisiológicos demonstráveis
nos órgãos dos sentidos, nervos e cérebro – ambos os quais são eventos
mensuráveis no mundo físico da matéria -, então os eventos ‘mentais’ são
suscetíveis à investigação de laboratório e, por conseguinte, vem a ser possível
uma ciência da mente.”
Essa analogia foi suficiente para que Wilhelm Wundt realizasse seu objetivo de
fundar o primeiro laboratório de psicologia experimental.
2.3.4 – Wilhelm Wundt: Primeiro Laboratório de Psicologia
Wilhelm Wundt(1832-1920) torna-se assistente do fisiólogo Hermann Von
Helmholtz em 1858. Oferece um curso de verão denominado “A Psicologia Como Uma
Ciência Natural” em 1862. No ano seguinte publica “Lições Sobre A Psicologia Humana E
Animal”. Influenciado pelo empirismo inglês, pela fisiologia e pela psicofísica, Wundt publica
em 1872, “Princípios da Psicologia Fisiológica”. Em 1875, Wundt deixa Zurique,
transferindo-se para a Universidade de Leipzig, na Alemanha, onde funda o primeiro
65
laboratório de psicologia, em 1879, que somente viria a ser reconhecido formalmente pela
própria universidade em 1883. A atitude de Wundt desencadearia uma série de novos
laboratórios de psicologia espalhados pelo mundo como nos Estados Unidos(1883),
Itália(1885), no Canadá(1889), na Rússia(1886), na Bélgica(1891), na Holanda(1893), na
Áustria(1894), na Polônia(1897), entre outros.
Henneman(2002) afirma que grande parte da pesquisa de Wilhelm Wundt foi
constituída de experimentos sobre as relações psicofísicas onde a ênfase na percepção
sensorial procurava de certa forma reduzir as percepções complexas a elementos mais simples
de sensação e imagem esperando estudar os princípios de associação através dos quais os
elementos mentais se combinam e sintetizam para formar experiências complexas.
No mesmo ano em que a universidade de Leipzig reconhece formalmente seu
laboratório, Wundt estabelece um periódico dedicado à publicação dos resultados das
pesquisas desenvolvidas no seu laboratório, o “Philosophische Studien”.
A doutrina de Wundt influenciaria outra escola de psicologia que surgiria no
século XX: A psicologia estruturalista americana, fundada por um de seus discípulos,
Titchener.
Portanto, o trabalho de Wundt foi de grande valia para a psicologia tendo em
vista que motivou o surgimento de diversas escolas no final do século XIX e início do século
XX, ainda que estas apresentassem teorias contrárias às de Wundt.
2.3.5 - Edward B. Titchener – Psicologia Estruturalista Americana
Introduzida em 1892, por Edward B. Titchener nos Estados Unidos, o
estruturalismo caracterizou-se por ser a tentativa mais racional de se estudar a mente.
Os estruturalistas, segundo Henneman(2002), procuraram estudar os fenômenos
mentais por meio de uma complexa descrição analítica dos estados de consciência
provenientes da estimulação física. Essa complexa descrição consistia na introspecção, ou
“olhar para dentro”, cujas tarefas de observação e relato exigiam cuidadoso preparo.
A psicologia estruturalista esbarrou no problema da incapacidade de o
experimento não conseguir explicar questões sobre a consciência, sendo que Titchener deu
66
mais atenção à ciência pura.
Dentre as publicações de Titchener estão: The Postulate Of A Structural
Psychology” em 1898, “Manual de Psicologia Experimental” em 1901, “The Schema Of
Introspection” em 1912, “Psychology As The Behaviorist Views It” em 1914, este último
considerado uma réplica do manifesto behaviorista publicado por John B. Watson.
A psicologia estruturalista de Titchener, assim como as idéias de Wundt, foram
fortemente criticadas por um movimento que viria a seguir chamado psicologia funcionalista
americana, que levaria a mente em consideração em suas observações.
2.3.6 – Psicologia Funcionalista Americana
Mais do que uma escola de psicologia como as demais que se apresentaram no
início do século XX, o funcionalismo surgiu mais como um protesto à doutrina de Wundt e
Titchener. A preocupação principal aqui passava a ser o estudo das atividades e funções da
mente.
Henneman(2002) explica que, para os funcionalistas, o objeto da psicologia foi
descobrir como se dava o funcionamento da mente conforme o indivíduo procura se ajustar a
um ambiente de mudanças. Esse caminho escolhido pelos funcionalistas levou a psicologia a
voltar sua atenção para problemas práticos de comportamento da vida diária do ser humano,
analisando sua educação e ensino, bem como sua preparação para tornar-se cidadão.
Foi entre 1910 e 1920 que, em função do novo enfoque trazido pelos
funcionalistas, os psicólogos passaram a analisar as condições ambientais das indústrias
medindo os níveis de ruído e iluminação na busca por um desempenho mais eficiente por parte
dos operários, além de tentar detectar a origem e as formas de erradicação de acidentes de
trabalho. Henneman(2002) atribui a essas atitudes o surgimento da psicologia aplicada.
Dentre os autores e suas publicações que influenciaram o movimento
funcionalista da psicologia estão:
-
James R. Angell: “Psychology: An Introductory Study Of The
Structure And Function Of Human Consciousness” (1904) e “A
Província Da Psicologia Funcional” (1907).
67
-
John Dewey: “A Nova Psicologia” (1884), “The Ego As Cause”
(1894), “O Conceito De Arco Reflexo Na Psicologia” (1896) e “A
Natureza Humana E A Conduta” (1922).
-
James mcKeen Cattel: “The Time Taken Up By Cerebral
Operations” (1886), “Testes Mentais E Medidas” (1890),
“Psychological Review”, “Psychological Index” e “Psychological
Monographs” (1894) - periódicos lançados ao lado de J.M.
Baldwin; “Physical And Mental Tests” (1898) – ao lado de
Baldwin e Jastrow, “Psychological Bulletin” (1904) – outro
periódico lançado ao lado de Baldwin, “American Men Science”
(1906) e “Os Testes Militares De Inteligência Colocaram A
Psicologia No Mapa Dos Estados Unidos” (1922).
-
Robert S. Woodworth: “Dinamic Psychology” (1918).
A psicologia funcionalista foi um grande exemplo de desafio a uma
mentalidade dominante numa época em que imperava o conceito da ciência pura e a opinião
de alguns filósofos de que os animais não possuem mente. Os funcionalistas levaram em
consideração o estudo das influências sociais sobre o indivíduo, identificando problemas de
ajustamento deste ao ambiente direcionando suas pesquisas de laboratório com experimentos
com animais.
2.3.7 – Behaviorismo Americano
Conforme já abordado pelo presente trabalho, o fundador do Behaviorismo
Americano, John B. Watson, contestou a existência da mente desprezando o método
introspectivo da psicologia de Titchener.
Para Henneman(2002), Watson justificava o enfoque no comportamento porque
este provem da observação e da medida de eventos objetivos, o que não existe caso o objeto de
pesquisa tiver como base os fenômenos mentais como idéias, imagens e sensações.
Henneman(2002) apresenta três pontos de vista que possibilitam o estudo do
68
comportamento:
-
A aprendizagem de habilidades tais como dançar, nadar, esquiar,
entre outros;
-
Observação dos passos envolvidos para uma pessoa solucionar um
problema;
-
Manifestação de processos fisiológicos perante necessidades
básicas como a fome(ato de tremer, entrar em pânico, respirar
fundo).
Sendo assim, Watson deu ênfase à pesquisa com animais analisando
comportamentos e processos fisiológicos por meio de órgãos sensoriais, nervos, músculos e
glândulas. Dentre as publicações de Watson estão: “O Manifesto Behaviorista” (1913) e
“Reações Emocionais Condicionadas” (1920).
Watson escravizou a psicologia à experiência de estímulos observáveis como se
o comportamento humano fosse regido por uma regra geral, banindo qualquer possibilidade de
estudo da mente propriamente dita.
2.3.8 – Behaviorismo Russo – Reflexo Condicionado
Sem qualquer influência de Watson, o fisiólogo Ivan Petrovitch Pavlov(18491936) desenvolvia também, na Rússia, uma teoria que também desconsiderava a mente
chamada reflexo condicionado.
Segundo Aguiar(2000), Pavlov atribuía a um estímulo sensorial o surgimento
de reflexos, reações inatas, imediatas, fixas e não apreendidas. Conforme o fisiólogo,
estímulos apropriados, naturais incondicionados geram uma determinada resposta do
organismo.
Henneman(2002) explica que Pavlov rejeitava qualquer referência à mente ou
aos processos mentais enfatizando a visão mecanicista-fisiológica do comportamento animal.
Como exemplo do reflexo condicionado, Henneman(2002) traz uma pesquisa
realizada por Pavlov com cães:
69
“Enquanto realizava pesquisas com cães, Pavlov observou que a boca do animal
ficava cheia de saliva não apenas à vista e cheiro do alimento, mas também do
prato de comida vazio ou do serviçal que o alimentava, ou mesmo ao som de
passos fora da sala na hora da alimentação. Concluiu que o reflexo salivar
(“encher a boca de água”) provocado normalmente pelo alimento na boca podia
também ser eliciado pela vista ou por sons que acompanhavam ou precediam
imediatamente o alimento. Começou a fazer experimentos para verificar se
podia associar o reflexo salivar a vistas e sons que jamais haviam ocorrido junto
com o alimento. Foi muito bem sucedido em causar o reflexo salivar com
numerosos tipos de estimulação tais como focos de luz, tons produzidos por um
diapasão, batidas rítmicas de metrônomo ou vibração de pequenos pontos na
pele.”
Henneman(2002) faz um paralelo entre a mudança de enfoque ocorrida de
funcionalistas para behavioristas. Assim como os funcionalistas promoveram uma mudança de
enfoque do conteúdo mental para atividade mental, os behavioristas substituíram as atividades
da mente pelas atividades do organismo.
Esse posicionamento de Henneman é bastante oportuno pois demonstra
exatamente como a ciência mecanicista-fisiológica do comportamento foi soberana no início
do século XX. Aguiar(2000) também opina sobre o behaviorismo, afirmando que, a partir do
momento em que o comportamento humano é reduzido a um mecanismo estímulo-resposta, a
liberdade e a criatividade humana é limitada, comprometendo a autodeterminação do ser
humano e, em conseqüência disso, prejudicando o comportamento inovador e espontâneo do
ser humano.
2.3.9 – Psicologia da Gestalt
Fundada em 1912, na Alemanha, por Max Wertheimer(1820-1943), através da
publicação de seu “Estudo Experimental Sobre A Percepção Do Movimento”; a Psicologia da
Gestalt surgiu criticando tanto estruturalistas como behavioristas, baseando-se na filosofia
racionalista alemã.
70
Henneman(2002) explica que os gestaltistas consideravam a análise de
estruturalistas e behavioristas artificiais e sem sentido, tendo em vista que estas atribuíam
passividade ao homem, como se este fosse um robô respondendo automaticamente a todo
estímulo do ambiente. O lema da escola em questão dizia que “o todo é mais do que a soma de
suas partes”. Para explicar esse lema, o autor traz um exemplo de como a melodia era
analisada sob o ponto de vista estruturalista, behaviorista e gestaltista: para os dois primeiros,
a melodia não passava de uma sucessão de notas musicais; para o terceiro, tratava-se de uma
percepção única, identificável.
Partindo desse raciocínio, Aguiar(2000) explica que, para a Psicologia da
Gestalt, “a vida mental não é somente a soma das partes elementares e sim a interpretação da
situação através da percepção das relações dos elementos”.
Para Henneman(2002), os gestaltistas preferiam a experiência direta, termo que
se refere à consciência coloquial do mundo, o senso comum, que tornava a percepção
autêntica e importante.
Um nome de peso da Psicologia da Gestalt foi Kurt Lewin (1890-1947) que
contribuiu significativamente para a psicologia da criança, para a psicologia social e para a
teoria da personalidade. Essa escola também foi difundida por Köhler e Koffka que,
juntamente com Weitheimer, criam o periódico “Psychologische Forshung” para dar
exposição aos pontos de vista da escola gestaltista, em 1921. No ano seguinte, Kurt Koffka
apresenta para o público norte americano, através de artigo publicado no Psychological
Bulletin, as proposições básicas da psicologia da Gestalt. Em 1923, Max Weitheimer publica
“Leis da Organização nas Formas Perceptuais” e “Gestalt Theory”, em 1924. Kurt Koffka
publicaria ainda, em 1935, “Princípios de Psicologia da Gestalt”.
Apesar de apresentarem uma certa incoerência, considerando o fato de que,
apesar dos gestaltistas representarem a filosofia racionalista alemã sendo que na realidade
foram empiristas na verificação de suas teorias com pesquisa experimental; a abordagem da
Psicologia da Gestalt trouxe um diferencial ao mesmo tempo que manteve acesa ainda a
chama de interesse científico pela mente, desafiando as correntes que se acomodaram na
ciência pura da época.
71
2.3.10 – Teoria Psicanalítica
Se as estruturas do mundo das escolas da psicologia no início do século XX já
estavam sofrendo pequenos tremores com os conflitos entre aqueles que defendiam a ciência
pura do comportamento neurológico e fisiológico, e aqueles que levantavam a bandeira da
preferência pelo estudo da mente., um abalo de maiores proporções iria sacudir de vez o
conceito de psicologia no século XX. A teoria e seu autor atendiam, respectivamente, pelos
nomes de Teoria Psicanalítica e de Sigmund Freud(1856-1939).
Segundo Henneman(2002), Freud começou como psiquiatra clínico. Entretanto,
conforme Aguiar(2000), Freud não seguiu o caminho rígido e oficialmente traçado pelas
ciências médicas da época, fundamentadas basicamente na biologia, na histologia e na
filosofia. Henneman(2002) conta que, desapontado com a ênfase dada ‘a neurologia e à
fisiologia para o tratamento do comportamento humano, Freud escolheu enfocar a origem
mental(ou “psíquica”) para explicar os motivos das desordens mentais.
Aguiar(2000) afirma que a maior contribuição de Freud para a Psicologia foi o
método científico que introduziu na área da irracionalidade onde, para ele, ser científico não
significa necessariamente adotar um fenômeno racional como objeto de análise. Confrontando
esse ponto de vista de Freud com a mentalidade dominante da época, não é de se surpreender
porque ele procurou levar em consideração os instintos, anseios e impulsos que determinam o
comportamento individual.
A experiência de Freud, conforme Henneman(2002), fez com que ele
acreditasse que a ansiedade, conflitos e frustrações perturbam as pessoas seja na vida diária ou
na memória, principalmente quando esta denuncia desajustamentos provenientes de problemas
da primeira infância.
Dentre os conceitos principais desenvolvidos por Freud no início do século XX,
aquele que atenderá às proposições do presente trabalho diz respeito ao conceito das
subdivisões da personalidade.
72
2.3.10.1 – Subdivisões da Personalidade
Segundo Filleux(1997), personalidade “é a resultante psicofísica da interação
da hereditariedade com o meio, manifestada através do comportamento, cujas características
são peculiares a cada pessoa”. Freud concebeu subdivisões para a estrutura da personalidade
as quais denominou Id, Ego e Superego.
No que diz respeito ao Id, Aguiar(2000) explica que esta é a parte
personalidade que se limita a procurar a satisfação dos desejos, ignorando valores, ética ou
moral. Para o Id, não existem leis da lógica ou razão. O Id é regido pelo princípio do prazer.
Considerando que o Id não avalia sua racionalidade, ele busca a satisfação imediata não
tolerando a frustração. É através do Id que o ser humano procura adaptar-se às exigências e
condições impostas pelo meio.
Com referência ao Ego, Aguiar(2000) qualifica-o como a parte organizada da
personalidade, que, através dele, inibe processos primários como aqueles que levam à
alucinação. Para Freud, uma das funções do ego é o controle através do pensamento racional,
no intuito de proteger, em primeiro lugar, a vida do indivíduo contra os perigos que surgem no
mundo externo. Regido pelo princípio da realidade, o ego dirige a personalidade decidindo se
um instinto poderá ser satisfeito ou não. Apesar de também visar a satisfação e evitar a dor, o
ego conduz as excitações instintivas para outros canais quando decide que um instinto não
poderá ser satisfeito. Entretanto, em caso de uma resposta positiva, ele determina o tempo e as
demais circunstâncias para alcançar o objetivo. Em resumo, o Ego caracteriza-se como o
momento em que o princípio do prazer é modificado pelo princípio da realidade através do
desenvolvimento da razão.
Os padrões de conduta ética aparecem na personalidade através do Superego,
segundo Aguiar(2000). A autora explica que o Superego representa a moralidade fazendo com
que o Ego se sinta culpado quando este quebra uma regra. A recíproca é também existente
quando o Ego orgulha-se por alcançar os padrões do Superego. Atendendo aos anseios do
presente trabalho, é no Superego que pode se identificar uma explicação para a influência do
meio externo na personalidade condicionando-a a fazer uso das mesmas ferramentas para
obter a resolução de uma meta. Segundo Filloux(1997):
73
“a proporção que se desenvolve, a criança descobre que certas demandas do
meio persistem sob a forma de normas e regras estabelecidas. Desta forma o
Ego tem que lidar repetidamente como os mesmos tipos de problemas e
aprender a encontrar para estes soluções socialmente aceitáveis. O indivíduo,
entretanto, não precisará, indefinidamente, parar para pensar cada vez que isto
ocorrer. A decisão far-se-á automaticamente pois as regras e normas impostas
pelo mundo exterior vão se incorporar na estrutura psíquica, constituindo o
Superego.”
Para se ter uma idéia de como funciona a interação entre o Id, Ego e Superego
na personalidade do indivíduo, Filloux(1997) traz o seguinte exemplo:
“Um empregado de uma loja sentiu-se tentado a roubar um objeto de adorno
que o atraía. Diz o Id: ‘quero o objeto porque gosto dele e porque não suporto a
tensão do desejo de ter as coisas que não tenho’. O Superego retruca
automaticamente: ‘você não deve roubar o objeto’. O Ego então, como bom
advogado, aconselha: ‘você poderá ter esse objeto sem precisar roubá-lo’”.
Henneman(2002) conta que o fato de Freud ter rejeitado o tratamento neurofisiológico em seus conceitos para explicar as desordens mentais gerou críticas e hostilidades
por parte dos neurologistas. A baixa reputação de Freud entre os psicólogos de laboratório
implicou a não aceitação da sua teoria da psicanálise junto aos psicólogos acadêmicos,
preconceito que perdura em alguns segmentos até a presente data.
Foi graças a Freud e a sua controvertida e revolucionária Teoria da Psicanálise
que a psicologia não foi a mesma, desafiando a mentalidade excessivamente racional do início
do século XX e abrindo às portas para outros estudiosos da mente que surgem até os dias de
hoje.
2.3.11 – Psicologia Cognitiva
Antes de mergulhar no contexto da ciência cognitiva, é necessário buscar
alguns pontos de partida que influenciaram psicólogos e filósofos levando-os a adotar o
74
caminho da Revolução Cognitiva.
2.3.11.1 – Evolução Histórica da Psicologia Cognitiva
Em 1936, Alan Mathirson Turing(1912-1954), matemático britânico, publica
um jornal chamado “On Computer Numbers”, que introduziria o conceito de um hipotético
aparelho computacional conhecido como a “máquina de Turing”. Este conceito, que supõe a
resolução de qualquer cálculo matemático pela máquina, foi bastante importante no
desenvolvimento do computador digital. Para além disso, Turing dedicou também o seu
trabalho ao estudo da inteligência artificial e das formas biológicas. Propôs um método
denominado o “teste de Turing” para determinar se as máquinas tinham capacidade de pensar.
A demonstração de Turing e o teorema que ele provou foi de extrema
importância para pesquisadores que já promoviam encontros de cientistas de orientação
cognitiva. Entre esse encontros, destaca-se a realização do Symposium On Information
Theory”, organizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts e com a participação de
diversos psicólogos e filósofos, os quais trabalharam para incluir as suas teorias numa
simulação de processos cognitivos em computador. No mesmo ano, é realizado o “Encontro
de Darmouth”, onde é oficialmente declarado o nascimento da inteligência artificial, início da
consideração do objeto cognição para o qual diferentes disciplinas vão procurar conteúdos e
orientações específicas.
Em 1960, J. Bruner e G. Miller fundam, em Harvard, o “Center for Cognitive
Studies”, edição da obra “Plans and The Structure of Behavior” de Miller, Glitchell e
Galanter; que vem pôr em causa o behaviorismo clássico dos trabalhos psicológicos, propondo
a sua substituição pela abordagem cibernética.
Em 1967, U. Neisser publica a obra “Cognitive Psychology” defendendo uma
nova abordagem psicológica; Newell e Simon afirmam que o computador pode fornecer o
modelo dos funcionamentos do espírito humano.
Ao longo dos anos 70, houve promoção de centros interdisciplinares, revistas,
congressos e trabalhos que deram corpo às ciências cognitivas, estabelecendo uma rede de
investigadores e intercâmbios internacionais.
75
2.3.11.2 – Conceito de Psicologia Cognitiva
A dúvida inicial que gerou a ciência cognitiva foi encontrar uma resposta para a
seguinte pergunta: como diferentes tecnologias intelectuais geram estilos de pensamento
distintos?
Feltes(2004) traz a definição do termo cognição como sendo aquele que designa
os processos de formação e manipulação de estruturas do conhecimento.
A autora explica ainda que os seres humanos são dotados de muitos processos
cognitivos básicos que são assim divididos:
a) A sensação e a percepção, bem como a recepção, reconhecimento e
organização da entrada de estímulos;
b) Formação e fortalecimento de estruturas de conhecimento, como a
conceitualização e a aprendizagem em geral;
c) Armazenamento e recuperação de estruturas conceptuais;
d) Ativação, arranjo e utilização de estruturas conceptuais.
Considerando a exposição acima, Feltes(2004) explica que a resposta para
aquela pergunta sobre como os diferentes estilos de pensamento são gerados reside na
necessidade de se analisar as diversas articulações do sistema cognitivo com as técnicas de
comunicação e armazenamento. A partir daí se justifica o advento da psicologia cognitiva.
Dentro do contexto da psicologia cognitiva, Feltes(2004) esclarece que a
cognição é identificada como “computação” – um sistema de processamento de informações.
Para a autora, o pensamento seria, com isso, computacional. A mente possuiria:
a) Uma “arquitetura funcional”, o mecanismo de base do processo de
informação, ligado à noção de “estados mentais” (“estados
representacionais”);
b) “Conteúdos representados do processo de informação”.
Seguindo essa linha de raciocínio, a mente seria entendida como um organismo
(máquina de exprimir) ou como um computador (máquina de representar).
Um dos autores que dominaram as pesquisas sobre arquiteturas mentais foi
Jerry Fodor, que defendia a tese da modularidade da mente, que, por sua vez, consiste na
76
existência de mecanismos de processamento de informações de finalidade específica
(mecanismos computacionais), molares e moleculares, específicos de uma espécie ou não.
Esses mecanismos só processam informação específica através de princípios específicos
inconscientemente (são disparados no inconsciente cognitivo). Haveria, então, um mecanismo
central responsável pela integração da informação advinda de cada módulo. Os sistemas
modulares são ditos de input, porque funcionam no sentido de levar informação aos
processadores centrais. Estes têm a função de fazer com que as informações advindas dos
diferentes módulos interajam. Sendo assim, a eles cabe representar o mundo de modo a que
tais representações sirvam ao pensamento. Há ainda os transdutores, que nada mais são do que
sistemas de base neurofisiológica responsáveis pela tradução da estimulação proximal em
sinais neurais, promovendo a alteração do formato da informação. Os sistemas de input,
portanto, norteiam os outputs dos transdutores e os mecanismos centrais. O conhecimento
lingüístico e a visão são exemplos de módulos de input.
O psicólogo americano Howard Gardner, autor da teoria das inteligências
múltiplas já analisadas anteriormente pelo presente trabalho, apesar de ser contra os testes de
Q.I. para se medir a inteligência humana; foi um dos simpatizantes da hipótese da
modularidade da mente difundida por Fodor.
Portanto, analisando toda essa estrutura de hardware e software da mente
proposta por Fodor, pode-se compreender o condicionamento do ser humano que, apesar do
mérito de evoluir e não desistir de tentar descobrir os segredos do funcionamento da mente,
ainda escraviza suas teorias e pesquisas no racionalismo exagerado. À medida que evolui, o
ser humano depara-se com pressões que também evoluem, exigindo o desenvolvimento da sua
criatividade para superar as barreiras que lhe são impostas. A partir do momento em que se
trata do funcionamento da mente do ser humano de forma generalizada, incorre-se no erro de
subestimar o diferencial de cada ser humano, cujo modo desigual de pensar subsidia a
evolução da humanidade.
2.3.12 – Inteligência Emocional
O psicólogo e jornalista Daniel Goleman revolucionaria as formas de entender a
77
natureza do cérebro, os mecanismos do pensamento e a evolução humana. Assim como
Gardner, Goleman admite que os testes de Q.I. medem apenas algumas das funções cerebrais,
com ênfase na capacidade de raciocínio lógico. Ele acredita que não se pode desconsiderar o
papel das emoções para desenvolver a habilidade de controlar impulsos negativos como a
ansiedade, melancolia, ímpetos repressores, ira, timidez, entre outros.
Mattos(1997) esclarece que, em termos científicos, a inteligência emocional
interliga, no cérebro, o sistema límbico, a sede de emoções, ao neocórtex, sede do raciocínio.
Segundo ela, quanto mais ligações entre essas duas partes, mais o cérebro é levado, em termos
práticos, a escolher automaticamente as melhores opções bem como lidar melhor com os
desejos.
O ponto de partida para essa teoria, segundo Mattos(1997), foi um estudo feito
por dois cientistas na Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, que reuniram crianças de
três e quatro anos de idade numa sala, colocando um doce na frente de cada uma. O
experimentador avisava que, se quisessem, poderiam comê-lo logo. Mas as que o guardassem
para comer depois que ele voltasse, ganhariam outro. Algumas comeram o doce
imediatamente. Outras, embora ansiosas, tentavam esperar, pensando na recompensa. Quase
20 anos depois, observou-se que, daquelas crianças, as mais bem-sucedidas, as que vivem em
maior harmonia com a família são as que foram capazes de esperar pela gratificação adiada.
Salvador e Capriglione(1997) contam que a equipe do professor Joseph
LeDoux, do Centro de Ciência Neural da Universidade de Nova York, pegou um ratinho de
laboratório e amputou a parte do cérebro do bicho que era responsável pela audição. Então
surdo, o rato foi submetido a volumes colossais de som onde, como se esperava, não havia
reação por parte do rato. Entretanto, um fato surpreendeu os pesquisadores. O ratinho entrou
em pânico quando era exposto a um tom específico. Esse tom era o mesmo que era usado para
sinalizar que, dali a segundos, viria um choque elétrico. Com isso, os cientistas passaram a
suspeitar que existisse uma outra conexão, ligada ao centro das emoções, o que explicaria a
associação entre som e pânico. Essa conexão foi encontrada na amígdala, um estrutura do
cérebro que, como já se sabia, disparava as emoções exceto que acreditava-se que o impulso
nervoso primeiro passava pelo córtex. Este estando desligado , nenhuma emoção associada a
sons deveria ser sentida pelo bicho. Os pesquisadores descobriram então que havia uma
ligação direta entre sentidos e amígdala – mais rápida, portanto. Eles concluíram que a
78
amígdala serve para as reações imediatas quando o animal está ameaçado, o que explica o fato
de o rato continuar surdo, porém sensível ao tom ameaçador. Com isso, acredita-se que o
pânico, a ira ou a ansiedade são primeiramente disparados na amígdala, estrutura já presente
no cérebro dos répteis, e mantida nas espécies superiores.
Transferindo a análise para as características do homem moderno, Salvador e
Capriglione(1997) esclarecem que a amígdala o leva a reações animais como coração
disparado, boca seca, músculos retesados, entre outros.
Mattos(1997) explica que o ser humano possui uma forma de pensar e sentir
que não é apenas sua. Ela é baseada em padrões ensinados e condicionados na infância através
da educação, pela família, pela escola, etc. Uma programação feita para o homem quando este
não era capaz de pensar por si mesmo. A princípio, esta programação não tem proposta de
fazer a pessoa feliz, mas de adequá-la à vida em sociedade. A saída seria alterar esses padrões
psicológicos e emocionais tendo em vista que o ser humano pode escolher outra programação
e aumentar suas opções de ação.
Portanto, conforme já mencionado, o conceito de inteligência emocional vem
de encontro à proposta do presente trabalho de se estabelecer um equilíbrio entre a razão e a
emoção, capacitando o ser humano a negociar soluções criativas para diferentes problemas,
observando em si e no grupo de trabalho os elementos de boa imaginação e criatividade ao
contrário do repetitivo e da mente fechada, aprendendo a trabalhar junto com os colegas
desenvolvendo o talento próprio e o deles.
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3 – Abordagem da Organização
A partir de agora será estudada a organização no que diz respeito a sua origem e
evolução apontando momentos em que o condicionamento racional, influenciado na maioria
das vezes pelo contexto histórico, formou as bases do pensamento organizacional.
3.1 – Conceito de Organização
Chiavenato(2001) cita Paul R. Lawrence e Jay W. Lorsch para conceituar o
termo organização:
“Organização é a coordenação de diferentes atividades de contribuintes
individuais com a finalidade de efetuar transações planejadas com o ambiente”.
Sendo assim, será feita uma análise de como essas diferentes atividades foram
geradas e coordenadas, assim como será estudado o ambiente no qual essas transações foram
planejadas conforme o contexto histórico.
3.2 – Origem da Organização
Chiavenato(2001) conta que as organizações existem desde os tempos dos
80
faraós e dos imperadores da antiga China. Ele cita também a igreja e os exércitos da
Antigüidade, que desenvolveram formas de organizações. Pode-se incluir ainda como exemplo
as polis atenienses, responsáveis pela organização política da Grécia Antiga. O presente
trabalho vai dedicar espaço neste momento para a Idade Média onde reside o embrião da
empresa moderna.
Souza(1973) afirma que a Idade Média contém o embrião da empresa moderna
tendo em vista que era uma época em que se transformava corporações artesanais em negócios
de manufatura e comercialização.
Inicialmente, com a influência da Igreja Católica no período medieval, o
homem entendia que sua salvação espiritual viria de uma atividade econômica cujo objetivo
era a vida mesmo, e a agricultura e o artesanato de subsistência atendia a essa premissa. O
homem tinha autonomia na produção do seu produto. Na aquela época não havia negócio onde
aplicar dinheiro mesmo porque não existia dinheiro, tendo em vista que o comércio era
constituído apenas pela troca direta de mercadorias.
O marco de separação entre a Idade Média e os tempos modernos se dá no
mesmo momento em que o homem é obrigado a se dirigir do campo para as grandes cidades.
No sistema feudal, a terra do senhor era dividida em faixas e trabalhada por arrendatários que,
além das suas, tratavam também das terras de uso exclusivo do senhor. Assim, durante séculos
a fio o camponês trabalhou a terra, geração após geração, nascido e crescido no campo aberto,
sob a proteção dos muros e das armas do senhor.
Uma nova atitude pode ser considerada de grande importância para a mudança
de mentalidade do homem a partir do término da Idade Média: o individualismo renascentista.
Influenciado pela Renascença e pela Reforma Católica.
A Renascença já foi abordada pelo presente trabalho que mostrou a mudança do
Teocentrismo, Deus como centro de tudo, para o Antropocentrismo, o homem como centro de
tudo; o que justifica sua influência no individualismo renascentista. Há que se analisar neste
instante como a Reforma Católica influenciou esse novo comportamento.
Num convento de agostinianos, Martinho Lutero teve suas primeiras desilusões
com o clero que, ao lado da nobreza de sangue, foi a classe dominante na Idade Média e a
mais rica proprietária de terras. Souza(1973) aponta para um ponto da doutrina de Lutero que
reformou o pensamento dos cristãos e que influenciou o pensamento moderno do homem de
81
empresa: a Predestinação. Segundo Lutero, a salvação é um dom que Deus coloca
gratuitamente no coração do homem.(...) O homem que tem fé não precisa de cooperação ou
do auxílio de nada nem de ninguém para se comunicar(comungar) com Deus. Olhando para si
mesmo, procurando a presença de Deus no íntimo do seu coração, o fiel podia desvincular-se
dos outros homens e encerrar-se no recluso individualismo espiritual.
Esse ponto de vista serviu de base para a Doutrina Calvinista influenciando a
filosofia do capitalismo e a mentalidade do homem de negócios. Souza(1973) cita R. H.
Tawney que, em “Religion And The Rise Of The Capitalism”, explica que “as raízes da
maioria das teorias sociais, não apenas da Idade Média mas também de Lutero, estão na
tradicional estratificação Rural”. A Reforma Calvinista começa em 1534, na França, com as
pregações de João Calvino. Mais Radical que Lutero, Calvino defende a tese de o homem
nascer predestinado à salvação ou à condenação. Considera-o livre de todas as proibições não
explicitadas nas escrituras, o que torna as práticas do capitalismo lícitas, em especial a usura,
condenada pela Igreja Católica. Segundo Calvino, o homem deve buscar o lucro por meio do
trabalho e de uma vida regrada, também consideradas por ele formas de louvar a Deus.
Relacionando o novo comportamento sócio-econômico que estava surgindo
com a doutrina calvinista, Souza(1973) dá um exemplo de como isso passou a funcionar na
mente da recém chegada classe empresarial:
“Se na sociedade em que vivo o sucesso econômico é aprovado, admirado e
consagrado por todos, deve ser porque sucesso econômico é um feito virtuoso e,
portanto, uma obra boa. Se a boa obra é conseqüência natural da graça de
Deus, eu e os meus pares no sucesso temos em nós a graça de Deus, isto é, somos
nós os eleitos, os poucos escolhidos dentre a multidão dos chamados”.
Considerando que o Calvinismo foi um movimento predominantemente urbano,
que atingiu produtores e negociantes, ele incorporou a sua moral as suas necessidades de
capital, de crédito e de operações bancárias, de comércio e finanças em larga escala. A
economia medieval de produção para subsistência, local e agrária, transformava-se
rapidamente numa economia mercantil e internacional. A manufatura de utilidades para
consumo transformava-se em comércio de mercadorias para negócios, e o centro do poder
econômico e político transferia-se do feudo rural para o estabelecimento urbano.
82
Com a doutrina calvinista, agora as terras se fechavam, os produtos da
agropecuária subiam de valor e com eles o preço dos arrendamentos, os campos se
introvertiam numa nova estrutura fundiária individualista e lucrativa e o trabalhador rural, sem
pasto onde criar, sem acesso a sua lavoura, sem dinheiro para arrendar e sem capacidade de se
adaptar a um esquema que não entendia, foi sendo impelindo para a cidade. Souza(1973)
assim esclarece o motivo do êxodo dos artesãos para os centros urbanos:
“Os artesãos eram, geralmente, antigos servos que, libertos de uma pirâmide
social que estigmatizava o status e tão rígida que não sabia como qualificar um
status novo – o liberto – migravam para os centros urbanos em busca de
subsistência e integração num outro esquema que os absorvesse. Embora livres,
os artesãos continuavam se associando e cooperando de acordo com normas
inflexíveis – normas que lhe restringiam mas que lhe permitiam gozar de
estabilidade, segurança e comunicação não agressiva dos homens medievais”.
Com o crescimento da cidade devido à chegada dos homens provenientes do
feudo é que a produção foi se organizando em pequenas células de manufatura artesanal,
células estas que deram origem às “Corporações de Ofício”.
Souza(1973) atribui às Corporações de Ofício e aos Monastérios o status de
longínquos antepassados da empresa, da produção industrial e do capitalismo. O autor traz um
bom exemplo do que seria um condicionamento racional da mão de obra no ambiente de
trabalho:
“Os monastérios foram núcleos de trabalho organizado, de disciplina e de ritmo
ordenado de vida, da divisão do dia em horários e tarefas programadas. (...) Diz
Munford que talvez se deva ao mosteiro à invenção do relógio, uma vez que o
horário era tão importante a sua disciplina, e acrescenta: ‘não será, portanto,
uma distorção dos fatos, afirmar que os monastérios – a um dado momento
houve 40.000 monges beneditinos – ajudaram a dar às empresas do homem o
ritmo coletivo e regular da máquina; porque o relógio não é apenas um meio de
marcar as horas, mas de sincronizar as ações dos homens’”.
No que diz respeito às Corporações de Ofício, Souza(1973) afirma que estas
83
tinham como objetivo principal a produção de mercadorias e o seu comércio, desviando-se
assim pouco a pouco da economia de consumo e subsistência da Idade Média. O autor faz uma
observação relevante que exemplifica o condicionamento mental capitalista proveniente do
fim da Idade Média:
“Custa-nos crer hoje em dia que se deva produzir uma mercadoria e não
procurar colocá-la pelo preço da melhor oferta, que não se deva aproveitar um
mercado escasso para vender mais caro e aumentar a margem de lucro, que não
se deva estocar um artigo para especular na subida de preços, que é condenável
cobrar juro (embora não extorsivo) a quem possa pagá-lo e, sobretudo, custanos crer que ter um grande sucesso econômico, acumular um enorme capital
(mesmo por meios lícitos) possa ser condenável”.
Isso se torna mais intrigante quando também se faz uma tentativa de se adequar
ao que postulou São Tomás de Aquino, em sua “Suma Teológica” que prega que a finalidade
da produção e do comércio é exclusivamente a manutenção da família, a assistência aos
necessitados e o bem-estar da comunidade, sendo qualquer outro objetivo – principalmente o
lucro – espúrio e condenável.
Passando longe disso, o único individualismo existente na época era o dos
mestres manufatureiros, comerciantes e financistas do fim da Idade Média e início do
Renascimento. Estes eram voltados para o seu próprio sucesso, mesmo que às custas do bem
comum. Estes indivíduos eram, em estado embrionário, os mesmos empresários do que viria a
ser a Revolução Industrial.
Enquanto isso, estava sendo gerado um novo drama para o homem que,
acostumado com a produção de seu produto de forma artesanal, tinha uma relação mais íntima
com este. Com a chegada do individualismo empresarial, o homem, agora subordinado do
empresário, passou a se preocupar com a produção industrial de trabalho e dinheiro.
3.3 – Evolução da Organização Racional
Com o início da Idade Moderna, a filosofia naturalista e racional era a base para
84
o conhecimento da realidade, a mentalidade da época acreditava que as relações humanas
deviam ser governadas por leis humanas, naturais e não divinas; a ordem e a organização das
sociedades deviam ser guiadas pela razão e pela natureza e não pelo místico e pelo
sobrenatural.
E foram realmente sentindo-se iluminados pela razão e fortificados pela ciência
que os iluministas convenceram-se de que poderiam organizar racionalmente a sociedade com
as normas perfeitas. Além disso, o homem já trazia consigo da Idade Média o mecanicismo e
um certo racionalismo proveniente dos monastérios, do exército, das casas de crédito e do
clero; sem mencionar ainda o egoísmo individualista pós-Idade Média, que incentivava o
desprezo ao mais fraco, alocando o homem como um mero recurso de produção, mais um
ativo de produção. Para completar, o Iluminismo chegou embutindo na mente do empresário a
liberdade de reorganizar racionalmente a sociedade.
3.3.1 – Revolução Industrial
Foi com a mentalidade de reorganizar racionalmente a sociedade que uma série
de mudanças marcou definitivamente a ordem econômica, política e social a partir do século
XVIII. A um conjunto de acontecimentos convencionou-se chamar de Revolução Industrial,
que trouxe avanços através da mecanização, da aplicação de força motriz, do desenvolvimento
do sistema fabril e do aperfeiçoamento dos meios de transporte e comunicação.
Chiavenato(2001) explica que, com a invenção da máquina a vapor por James
Watt(1736-1819) e sua aplicação à produção, uma nova concepção de trabalho viria modificar
a estrutura social e comercial da época.
Souza(1973) traz fatores que condicionaram o comportamento do empresário
conforme abaixo:
“O empresário de uma sociedade que cultivava o Positivismo, caminhava a
passos largos para o Pragmatismo, na produção industrial, no comércio dos seus
artigos, nas finanças que traduziam indústria e comércio para a linguagem sem
fronteiras do dinheiro, uma confirmação das doutrinas que abraçava e que
85
glorificavam o positivo, o racional, o concreto, o tangível, o material e viu no
negócio, no business que era a força mágica, a mola mestra da produção, do
comércio e do dinheiro, a deliciosa extensão do seu ego, a afirmação do seu
gênio empreendedor, a consagração esplêndida de suas virtudes pois eram elas
as propulsoras do progresso”.
Através da passagem acima pode-se interpretar o comportamento do empresário
da Revolução Industrial. Este tinha praticamente um sistema que funcionava ao seu favor, uma
vez que seu desempenho era justificado pela tendência filosófica e religiosa da época. Este
sistema dava-lhe motivação para melhorar mais e mais, mas sempre seguindo aos requintes de
virtuosismo individual e racional.
3.3.2 – Administração Científica
Foi nesse ambiente empresarial baseado no imediato, no concreto e no racional
que surgiu a figura de Frederick W. Taylor(1856-1915), fundador da Administração Científica
que se preocupou com as técnicas de racionalização do trabalho do operário.
Para Souza(1973), Taylor surgiu numa época em que era necessário aumentar a
produtividade para atender à voracidade de uma mercado de consumo que crescia.
Chiavenato(2000) conta que Taylor começou suas experiências com os operários do nível de
execução, analisando suas tarefas e decompondo tempos e movimentos no ambiente de
trabalho.
A racionalização do trabalho imposta por Taylor foi muito importante para o
desenvolvimento da prática industrial porque, apesar de cravar um condicionamento racional
nos costumes do trabalhador, sanou o problema do homem desempenhar sua tarefa sem
acompanhamento ao mesmo tempo que chamou atenção para o fator humano da produção,
ainda que fosse necessário exaurir o operário física e mentalmente para produzir mais, como
pensava Taylor.
O problema de Taylor foi acreditar que o operário não tinha capacidade de
analisar sua tarefa e seu ambiente para estabelecer qual a maneira mais eficiente de trabalhar.
Taylor preocupou-se com o progresso do patrão, iludindo-se que o progresso do operário
86
residia nos altos salários que ganhava em função de sua produção. Chiavenato(2001) cita que
um dos princípios de Taylor, o do planejamento, visava substituir o critério individual e a
improvisação do operário pelo planejamento científico.
Portanto, o homem acostumado com o regime de escravidão de séculos
anteriores, sentia-se novamente um servo. Só que desta vez, ao invés de ter de reportar-se para
um senhor feudal, obedecia aos critérios de planejamento do método científico, deixando de
praticar sua criatividade e reprimindo seu talento perante uma nova ordem de tarefas.
3.3.3 – Teoria Clássica da Administração
Com uma visão mais global, visando o todo organizacional, a Teoria Clássica
da Administração tinha o mesmo objetivo da Administração Científica: a busca da eficiência
na organização. Porém, o foco agora era na estrutura desta, ampliando o ângulo de observação
da organização no sentido de harmonizar órgãos e pessoas. Essa teoria teve em Henry
Fayol(1841-1925) o seu fundador, cuja visão anatômica e estrutural da organização
complementou o estudo específico e concreto de Taylor.
Chiavenato(2001) conta que para Fayol seria possível atingir resultados
satisfatórios por meio de uma previsão científica e através de métodos adequados de gerência.
Souza(1973) explica que Fayol deu destaque no nível da alta gerência, agrupando numa
estrutura racional e, ao mesmo tempo, definindo as responsabilidades de gestão de
componentes administrativos como por exemplo a manufatura, a comercialização, as finanças
e a própria administração. Foi com Fayol que surgiram as funções da administração, primeira
mente elencadas como “Prever, Organizar, Comandar, Coordenar e Controlar” para se
transformarem como são conhecidas hoje: “Planejar, Organizar, Dirigir e Controlar”.
Apesar do grande avanço que a organização racional das operações significou
para a organização, a questão humana ainda era deixada de lado, tendo em vista que a ordem
de partida para a análise dos aspectos organizacionais era de cima para baixo, ou seja, do nível
da alta gerência para o chão de fábrica.
87
3.3.4 – Teoria das Relações Humanas
Com o advento da psicologia como ciência autônoma no século XIX, o fator de
produção homem começou a chamar a atenção dos cientistas da recém chegada psicologia
aplicada ao trabalho. Elton Mayo deu início a uma abordagem humanística dentro da
organização que ficou conhecida como Teoria das Relações Humanas, caracterizando-se
também por ser um movimento de reação e de oposição aos métodos racionais e desumanos da
Administração Científica e da Teoria Clássica da Administração.
Chiavenato(2001) explica que, a partir da década de 1930, nos Estados Unidos,
com o desenvolvimento da psicologia e, em particular, a psicologia do trabalho, esta na
primeira década do século XX, nasce a Teoria das Relações Humanas.
Conta Souza(1973) que, em 1927, George A. Pennock, um engenheiro da
Western Eletric que estudava os efeitos da iluminação sobre a produtividade, encontrou-se
com o então chefe do Departamento de Pesquisa da Universidade de Harvard Elton Mayo.
Esse encontro resultou em uma experiência num bairro de Chicago chamado Hawthorne.
Chiavenato(2001) afirma que, na primeira fase da experiência, buscou-se avaliar o efeito da
iluminação sobre o rendimento de operários. O autor assim descreve o resultado da
experiência:
“Um dos fatores descobertos foi o fator psicológico: os operários reagiam à
experiência de acordo com suas suposições pessoais, ou seja, eles se julgavam na
obrigação de produzir mais quando a intensidade da iluminação aumentava e, o
contrário, quando diminuía. Esse fato foi comprovado, trocando-se as lâmpadas
por outras da mesma potência, fazendo-se crer aos operários que a intensidade
variava. Havia um nível de rendimento proporcional à intensidade da luz sob a
qual os operários supunham trabalhar”.
Souza(1973) esclarece que o que Mayo descobriu foi que o comportamento dos
operários no trabalho não é um fenômeno que resulta da interação destes com o meio físico
apenas, mas principalmente, entre eles e as outras pessoas com quem interagem.
Uma das conclusões que a experiência de Hawthorne proporcionou foi a sacada
de que, ao invés da capacidade física do operário, é a sua capacidade social que determina sua
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eficiência. Essa capacidade social engloba questões como a preferência pelo trabalho em
grupo, respeito e reconhecimento perante o grupo, a existência de grupos informais, que
definem regras de comportamento diferentes das estabelecidas pela organização formal,
especialização como fator de monotonia e a ênfase nos aspectos emocionais.
Elton Mayo passou a acreditar que cada pessoa é motivada pela necessidade de
fazer parte de um grupo e ser reconhecida por esse grupo, e que esse sentimento de
cooperação humana não é originado pelos métodos racionais de organização defendidos pelas
escolas anteriores.
Portanto, Elton Mayo dava mais um passo em busca da consideração do ser
humano dentro do contexto organizacional. Entretanto, por mais que Mayo tenha mérito por
levantar a questão humanística dentro da cena empresarial, um de seus pontos de vista gerou
uma crença equivocada de que a administração deve ser dotada de chefes simpáticos e
protetores, inaugurando o estigma do paternalismo. Souza(1973) descreve o comportamento
que o empresário passou a ter com o empregado que caracterizava o paternalismo:
“Passou a cumprimentá-lo diariamente, passou a apertar sua mão em público,
passou a fazê-lo sentar-se, de macacão, na cadeira envernizada em frente à
escrivaninha. Passou a sorrir para ele e até mesmo agraciá-lo com o símbolo
perfeito do apanágio do paternalismo administrativo: o tapinha nas costas. E
adotou um slogan que era a panacéia para resolver o conflito entre o homem e a
organização: ‘faça-o sentir-se importante’(embora esteja convencido de que ele
não o é)”.
Em meio a esse ambiente, o homem ainda sentia carência pela falta do trabalho
criativo, pela falta da oportunidade de realizar que lhe foi arrancada com o advento da
empresa. O homem ainda não havia recuperado os mesmos motivos pessoais que o motivavam
a produzir o seu próprio produto, considerando que seu vínculo com este era precioso. A
Teoria das Relações Humanas não conseguiu frear o exagero da racionalismo, que passou a
reger as relações de trabalho através do Organizacionismo.
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3.3.5 – Organizacionismo
Souza(1973) traz à tona uma questão que envolve a combinação indevida da
razão e das relações humanas por parte dos empresários que, após rever, adaptar e condensar a
teoria de Elton Mayo; passou a querer organizar racionalmente as relações humanas através de
organogramas que delimitam as ações e relações de trabalho. A essa prática Souza(1973)
denominou Organizacionismo.
A explicação para essa atitude do empresário é a tentativa deste de dar peso e
medida para tudo quando o assunto é a relação do trabalhador com a organização. Isso pode
ser constatado nos programas de avaliação de desempenho onde se procura medir o esforço
mental, a iniciativa e o grau de motivação, sem mencionar o chamado “Brainstorming”, que as
empresas promovem para fazer com que a criatividade funcione na marra, na base de um
treinamento pré-programado. Souza(1973) justifica esse ponto de vista através da seguinte
posição crítica:
“E é por essas veredas que o Organizacionismo começa a se confundir. É
tentando ser objetivo demais, racional demais, programático demais, que ele
começa a fugir da realidade e a se enredar no mundo das diretrizes e normas
que acabam por afogá-lo num paradoxo meio gaiato: ‘a força de ser tão
objetivo, torna-se teórico e perde a objetividade’”.
Portanto, é através desta obsessão pelo regulamento, proveniente do Clero, da
Renascença, do Iluminismo, do mecanicismo da Revolução Industrial, da preferência por
respostas concretas da ciência do século XIX e, em conseqüência desta, da ênfase nas tarefas,
de Taylor, e da estrutura racional, de Fayol, culminando no Organizacionismo que impera até
a presente data; que o empresário acaba prejudicando a espontaneidade que é tão criadora. Por
sua vez, o empregado se vê tão programado que, como no filme “Tempos Modernos” de
Charles Chaplin, se dá conta que seus movimentos são automáticos e instintivos chegando ao
ponto de, às vezes, não perceber que já executou determinada tarefa.
90
4– Limitação do Ser Humano no Contexto Social e Organizacional
O presente trabalho fará uma abordagem das características externas e internas
que limitam o modo de pensar e de agir do ser humano através de uma ênfase no aspecto
individual e organizacional, identificando práticas e vícios que empregador e empregado
impõem a si mesmos durante a relação interpessoal e intrapessoal.
Pinto Jr (2001) conta que desde o início da vida do homem que ele se torna
dependente dos outros tendo em vista que estes o alimentam, o sustentam e o orientam. O
autor esclarece que a criança, em virtude da sua limitação caracterizada pela dependência,
passividade e impotência; possui o paradigma do “você”, reconhecendo a responsabilidade na
pessoa dos outros: “você tem de cuidar de mim”. “você fez isso”. “você não fez aquilo”. Outro
fator de limitação, só que a um nível acima, trazido pelo autor traz à tona a questão da
influência da educação tradicional na criança na escola primária:
“A maioria de nós começa a limitar capacidades e buscas por criatividade já nos
primeiros anos de vida. Geralmente, isso começa quando entramos na escola
primária e nossa criatividade é lentamente dominada pela educação tradicional.
Sentamos em fileiras ou grupos com vinte ou trinta outros alunos; e é esperado
que obedeçamos a regras e procedimentos rigorosos – muitos dos quais nos
limitam o pensamento criativo”.
Inclusive, é desse período também que Abreu(2000) traz subsídios para explicar
91
o argumento pragmático do ser humano que, para ele, fundamenta-se na relação de dois
acontecimentos sucessivos por meio de um vínculo causal. Em outras palavras, o autor
esclarece que muitas pessoas acham que, porque tiveram uma educação rígida, tornaram-se
competentes e, por esse motivo, pretendem, quando forem pais; educar seus filhos da mesma
maneira.
Dando continuidade à trajetória de crescimento do ser humano, Pinto Jr (2001)
explica que, com o passar dos anos e com a mudança de valores, começa a brotar a
independência do agora então adolescente na medida em que este consegue tomar conta de si,
tornando-se mais confiante e seguro. O indivíduo nessa fase desenvolve o paradigma do “eu”:
“eu sei”. “eu tenho”. “eu faço”. Apesar disso, este adolescente ainda se encontra num sistema
de ensino tradicional, como o colegial e a faculdade, que acaba exercitando cada vez menos
sua criatividade natural e atrofiando cada vez mais seu pensamento criativo.
Pinto Jr (2001) continua a descrição afirmando que quando esse adolescente se
torna um homem maduro, passa a apresentar, entre outras características, a interdependência,
explicitada pelo paradigma do “nós”: “nós podemos”. “nós faremos”. “nós falhamos em...”.
“nós vencemos”. Numa postura em que não aceita a responsabilidade só para si e sim, dividila com os outros.
Esse comportamento pode ser explicado, primeiramente, através de algumas
experiências que condicionam o homem quando este se vê a mercê, por exemplo, das
primeiras críticas às suas ações. Pinto Jr(2001) explica que, com freqüência, o ser humano
vivencia críticas e as assimila como retorno negativo. Ao invés de receber uma crítica como
apoio e encorajamento, esse homem a toma como um insulto que o magoa profundamente.
Outro exemplo é trazido por Maltz(1981) quando o homem faz uma tentativa,
erra, e carrega consigo a memória do erro como experiência negativa do passado. O autor
explica que essa memória de fracasso do homem gera uma crítica constante de si mesmo,
afetando negativamente suas realizações no presente fazendo-o pensar que, se falhou no
passado, falhará hoje também.
Aguiar(2000) lembra que Freud, em sua Teoria da Psicanálise, explica que
certas distorções em alguns aspectos do pensamento constituem uma forma de atenuar a
ansiedade gerando mecanismos de defesa. Como exemplos de mecanismos de defesa pode-se
citar Pinto Jr (2001) que, concluindo seu raciocínio sobre a reação do homem à crítica, explica
92
que este decide que é mais seguro preservar-se e não expressar sua criatividade novamente, ao
invés de expor-se ao ridículo ou sofrer constrangimentos gerados por frustrações. Outro
mecanismo de defesa que é trazido por Pinto Jr (2001) é o desejo incontido do homem de
proclamar sua inocência, procurando se esquivar de qualquer culpa por determinado problema.
Abreu(2000) explica que, na sociedade em que vive o homem, este é moldado
por uma infinidade de discursos. Como principal deles, o autor destaca o do senso comum, que
norteia todas as classes sociais, originando a opinião pública. Abreu(2000) aponta que esse
discurso dá sentido à vida cotidiana através da manutenção do “status quo” que vigora, o que
acaba sendo, na maioria das vezes, retrógrado e obsoleto.
Esse domínio do senso comum pode ser explicado através da influência dos
modelos mentais abordados por Senge(2004), o qual conceitua modelos mentais como sendo
imagens internas profundamente arraigadas sobre o funcionamento do mundo, imagens que
limitam o homem a formas bem conhecidas de pensar e agir.
O autor alerta que a forma como esses modelos mentais moldam as percepções
do homem também tem grande importância no mundo dos negócios. Como exemplo de como
funcionam esses modelos mentais, o presente trabalho reproduz dois fragmentos de
Abreu(2000):
“Muitas vezes, temos medo do poder do outro e por isso nos retraímos. Muitas
pessoas temem o poder de seus chefes, de pessoas de nível social mais elevado, às
vezes de seus próprios pais, maridos e esposas.. A primeira grande verdade que
temos de aprender é que nós aturamos os déspotas que nós queremos aturar. O
poder que alguém tem sobre mim é uma concessão minha!”
“(...) muitas pessoas se queixam de que, nas reuniões da empresa, suas boas
idéias são respostas a perguntas que elas fizeram a si mesmas, dentro de suas
cabeças. Ora, de nada adianta lançar uma idéia para um grupo que não conhece
a pergunta. É preciso primeiro fazer a pergunta ao grupo. Quando todos
estiverem procurando uma solução, aí sim, é o momento de lançar a idéia, como
se lança uma semente em um campo previamente adubado”.
São relevantes as passagens supra citadas porque elas espelham dois exemplos
de
modelos
mentais
sob
a
ótica
dos
subordinados(primeira
passagem)
e
dos
93
superiores(segunda passagem), englobando o contexto social e o contexto organizacional.
Portanto, Senge(2004) explica que os modelos mentais impedem a
aprendizagem – escravizando empresas e setores em práticas obsoletas fazendo com que seja
imperativo que, ao mesmo tempo que os empregados mais acomodados deixem de tomar suas
decisões no momento em que é possível saber qual é a tendência da maioria a ser seguida; os
gerentes passem aprender a refletir sobre seus atuais modelos mentais sincronizando-os a
padrões mais flexíveis.
É através de conceitos e exemplos como os que foram citados neste
capítulo que o presente trabalho defende o equilíbrio entre a mentalidade racional e a
criatividade, que é fruto da mentalidade emocional, justificando a importância que se tem dado
atualmente ao conceito de Inteligência Emocional, que pode ser de grande valia para todos os
níveis de uma organização.
94
5 – Estudo Histórico da Criatividade
O presente trabalho desenvolverá a partir de agora um levantamento filosófico e
científico do que foi mencionado sobre a criatividade, citando autores e teorias, bem como
especialistas do presente cotidiano; que tentaram explicar o funcionamento da capacidade de
criar.
5.1 – Abordagem Filosófica da Criatividade
Ao longo da história da humanidade, a curiosidade de filósofos sobre o
fenômeno da criatividade foi despertada gerando uma sucessão de prismas relacionados à
questão.
5.1.1 – Criatividade Como Origem Divina
Proveniente da Antigüidade Clássica, a teoria da criatividade como inspiração
divina encontrou em Platão sua forma de expressão. Platão defendia que o espírito do homem
é possuído por Deus, que gera novas idéias exercendo seu poder superior de controle.
Souza(2001) reproduz um fragmento de Hallman e Kneller para expressar uma
95
das primeiras concepções sobre o fenômeno da criatividade nos tempos antigos:
“E por essa razão Deus arrebata o espírito desses homens(poetas) e usa-os como
seus ministros, da mesma forma que com os adivinhos e videntes, a fim de que
os que os ouvem saibam que não são eles que proferem as palavras de tanto
valor quando se encontram fora de si, mas que é o próprio que fala e se dirige
por meio deles”.
Portanto, Platão excluía qualquer possibilidade de o homem transmissor de
novas idéias possuir controle na geração destas, fazendo papel de mero intermediário entre o
plano superior e o plano material humano.
5.1.2 – Criatividade Como Loucura
Platão ainda daria origem a outra teoria nos tempos antigos que se baseia na
criatividade como um acesso de loucura do homem, situação em que este se encontra beirando
a insanidade mental.
Considerando que Platão estudou diversas atividades da alma, tornando-se um
dos primeiros a usar a expressão psicologia, não fica difícil entender porque ele deu início a
essa teoria sobre a criatividade. Mais tarde, essa teoria influenciaria alguns estudiosos
científicos como Freud, que explicava a manifestação de criatividade dos artistas como um
meio de exprimir conflitos exteriores e interiores que, de outra maneira, se manifestaria como
neuroses.
Com isso, ao mesmo tempo que Platão atribui ao homem criativo um estado de
espontaneidade, ele também credita esse estado de espírito à irracionalidade, novamente
excluindo qualquer possibilidade de controle humano na concepção da criatividade.
5.1.3 – Criatividade Como Gênio Intuitivo
Adentrando agora nos tempos modernos, as novas teorias sobre a criatividade
96
procuram defini-la como parte da natureza humana em relação ao universo em geral. Essa
visão tinha como base o contexto histórico do antropocentrismo, que define a criatividade
como uma forma saudável e perfeitamente desenvolvida da intuição independentemente da
influência divina.
Estudiosos dessa época, como Kant, entendiam que a criatividade não pode ser
educada devido ao seu caráter imprevisível, não racional e digno de poucas pessoas.
Souza(2001) traz um fragmento de Kant e Kneller, que exprime esse ponto de vista:
“Entendeu ser a criatividade um processo natural, que criava as suas próprias
regras, também sustentou que uma obra de criação obedece a leis próprias, imprevisíveis; e daí
concluiu que a criatividade não pode ser ensinada formalmente”.
Portanto, a intuição foi um dos atributos do homem que serviu de base para os
intelectuais renascentistas tentarem desvendar o mistério da criatividade levando em conta
seus princípios humanistas do período moderno.
5.1.4 – Criatividade Como Força Vital
Fazendo parte do período moderno, a influência da Teoria da Evolução das
Espécies, fundada pelo naturalista inglês Charles Darwin(1809-1882), publicada em 1859 no
livro “A Origem Das Espécies”; culminou, dentro do contexto filosófico da criatividade, no
advento da Teoria da Criatividade Como Força vital.
Conforme a teoria da evolução das espécies de Darwin, o meio ambiente
seleciona os seres mais aptos e elimina os menos dotados. A analogia que pode ser feita a
partir desta teoria de Darwin é que, assim como um ser vivo cria um sistema organizado, que é
seu próprio corpo, a partir do alimento retirado do meio, também de dados desorganizados o
homem cria uma obra de arte ou a ciência.
Com referência ao assunto, Souza(2001) cita Edmundo Sinnot, conforme
abaixo:
“a vida é criativa porque se organiza e regula a si mesmo e porque está
constantemente originando novidades. Na natureza: transformação da genética
97
e modificações no meio. No homem: capacidade de encontrar ordem e sentido
num amontado de particulares, impor padrões, etc”.
Assim, a Criatividade Como Força Vital foi concebida pela ótica do
Naturalismo, que considera o comportamento humano como resultado da influência da
hereditariedade e do meio ambiente.
5.1.5 – Criatividade Como Força Cósmica
A Teoria da Criatividade Como Força Cósmica caracterizou-se por ser uma
corrente que pregava a existência da expressão de uma criatividade universal permanente a
tudo que existe. Em outras palavras, seria um ininterrupto avanço para o novo, onde a
criatividade produz constantemente entes, experiências e situações sem precedentes a fim de
manter tudo o que existe como é, desde que observada a contínua substituição de seus
componentes.
O precursor dessa teoria foi o matemático e filósofo inglês Alfred North
Whitehead(1861-1947) que, contrário ao cientificismo, mecanicismo e subjetivismo,
desenvolveu uma imagem orgânico-platônica do universo, defendendo a tese de que não há
substâncias duradouras. Em função disso, para ele, entidades reais nascem, vivem e, mesmo
quando morrem, produzem novidades.
Através dessa teoria, Whitehead abordou a educação da criança, pregando o
desenvolvimento da imaginação, o convite à descoberta, acreditando que a criança deve
recombinar por seus próprios meios aquilo que aprende.
5.2 – Abordagem Científica da Criatividade
Com o estabelecimento do status da psicologia como ciência a partir do século
XIX, a criatividade não escapou de ser avaliada sob a ótica dos cientistas, principalmente dos
psicólogos, que, através do Associacionismo, da teoria da Gestalt, da Teoria da Psicanálise e
98
da Neopsicanálise; investigaram minuciosamente a capacidade de criar do ser humano.
5.2.1 – A Criatividade Sob a Ótica da Teoria do Associacionismo
Apesar de ter surgido no século XX, o Associacionismo foi influenciado pelas
idéias iluministas de John Locke(1632-1704), que foi um dos pensadores que defendiam o
predomínio da razão sobre a fé.
Com requintes do Behaviorismo do início do século XX, o Associacionismo
defendia a teoria de que numa relação entre duas idéias, a exposição a uma delas dá origem à
outra, ou seja, quanto mais situações familiares, mais idéias virão à tona, gerando criatividade.
Souza(2001) apresenta uma passagem de Locke onde ele discorre sobre o
princípio do Associacionismo:
“O pensamento consiste em associar idéias, derivadas das experiências, segundo
as leis da freqüência, da recência e da vivacidade. Quanto mais freqüentemente,
recentemente e vividamente relacionadas duas idéias, mais provável se torna
que, ao apresentar-se uma delas à mente, a outra a acompanha”.
Pois é nesse ponto que o presente trabalho tem seu principal objetivo de existir.
O uso de idéias já estabelecidas não faz com o indivíduo gere novos paradigmas, ficando preso
a conceitos estabelecidos. A simples associação de fatos conhecidos mantém o ser humano na
mesma linha de raciocínio mecânico e metódico, onde a inversão da ordem de aplicação das
idéias dominantes o mantém dentro de fatores de limitações que não condizem com o contexto
no qual o homem está inserido. Mais cedo ou mais tarde, ele acordará e descobrirá que está
usando ferramentas obsoletas, depois de já ter explorado todas as inversões de ordem
possíveis.
99
5.2.2 – A Criatividade Sob a Ótica da Teoria da Gestalt
Iniciada também no século XX, a Teoria da Gestalt, conforme já abordado pelo
presente trabalho, visava descobrir a relação entre as partes que formam um todo.
Aguiar(2000) esclarece que, na Teoria da Gestalt, o pensamento está
estritamente ligado à compreensão do todo, e não às partes separadas.
No que diz respeito à criatividade, Souza(2001) cita Wertheimer e Kneller que
expõem que a forma de pensar criadora se trata
de um reagrupamento de um todo
estruturalmente deficiente. O autor explica que, no início do processo de criação, ocorre uma
configuração problemática que, apesar de incompleta, ao invés de comprometer a visão
sistêmica do criador, pelo contrário, serve de ponto de partida para este desenvolver sua visão
sistêmica de criador.
Wertheimer tem suas palavras reproduzidas por Souza(2001) no que diz
respeito ao processo de funcionamento da criatividade conforme segue:
“O processo todo é uma linha consciente de pensamento. Não é uma adição de
operações díspares, agregadas. Nenhum passo é arbitrário, de função conhecida. Pelo
contrário, cada um deles é dado com visão de toda a situação”.
Portanto, a teoria da Gestalt relacionou a percepção e o pensamento do homem
considerando que, no momento em que ocorre o fenômeno da criatividade, há uma
reorganização do sistema perceptivo do ser humano.
5.2.3 – A Criatividade Sob a Ótica da Teoria Psicanalítica
Tratando-se de outra teoria já abordada pelo presente trabalho, a teoria
psicanalítica traz como influenciadora da criatividade a relação entre o Id e o Ego. Assim
como foi mencionado na teoria da Criatividade Como Loucura, Freud entendia que as forças
motivadoras da criatividade no indivíduo são provenientes de impulsos reprimidos que podem
gerar tanto idéias criativas quanto neurose.
Para explicar melhor como procede esse ponto de vista, Souza(2001) reproduz
100
um fragmento da visão psicanalítica de Freud sobre o relacionamento entre Ego e o Id(aqui
representado pelo inconsciente):
“No doente mental, o Ego tende a ser tão estrito que barra todos, ou
praticamente
todos
os
impulsos
inconscientes,
ou
tão
fraco
que
é
freqüentemente posto de lado. Essa pessoa exerce excessivo ou deficientíssimo
controle; seu comportamento é altamente estereotipado e intelectualizado, ou
espontâneo e estranho. Se o comportamento se alterna entre tais extremos,
nunca se integra como o de alguém mentalmente são. É sempre rígido e habitual
o comportamento produzido apenas pelo Ego, sem influência do inconsciente
criador. (...) Por outro lado, sempre que os impulsos criadores contornam
inteiramente o ego, seus produtos, como nos sonhos e nas alucinações, podem
ser altamente originais, mas sem muita relação com a realidade. Sua
criatividade é inútil(...)”.
Sendo assim, se o Id produz uma solução para o conflito do homem sob a
supervisão do Ego, a criatividade útil está gerada. Caso contrário, se o Ego tomar conta
inteiramente, a solução do Id será reprimida, gerando a neurose.
Portanto, a Teoria Psicanalítica traz à tona o conflito do indivíduo criativo cujas
conseqüências têm como o fato de que, se o Ego assume o domínio completo, esse indivíduo
fica neurótico e metódico. Entretanto, se o Id imperar, esse ser humano pode viver num mundo
distante da realidade, recheado de fantasias e alucinações.
Cabe, neste contexto, reforçar a importância da proposta do presente trabalho
que visa estabelecer um equilíbrio entre razão e emoção ou, respectivamente, Id e Ego.
5.2.4 – A Criatividade Sob a Ótica da Teoria Neo-Psicanalítica
Sem sair dos princípios psicanalíticos freudianos, a Teoria Neo-Psicanalítica
trouxe a idéia de uma nova psicanálise mais eficiente, eficaz e abrangente calcada na
metodologia da psicanálise ortodoxa. Essa teoria trata da criatividade como um produto de
outra entidade chamada Pré-Consciente, a qual possui atributos inconscientes como os Id
diferenciando-se deste pelo fato de possuir a liberdade de ação proporcionada pelo Ego.
101
Aguiar(2000) esclarece as características do Pré-Consciente conforme a seguir:
“É um sistema do aparelho psíquico nitidamente distinto do sistema
inconsciente(...) os conteúdos(conhecimentos e recordações não atualizados,
etc)(...) distinguem-se dos conteúdos do sistema inconsciente (Id) à medida que
permanecem de direito acessíveis à consciência(Ego). O sistema Pré-Consciente
rege-se pelo processo secundário. Está separado do sistema inconsciente pela
censura, que não permite que os conteúdos e os processos inconscientes passem
para o Pré-Consciente sem sofrerem transformações”.
Trazendo essa linha de raciocínio para o contexto da criatividade, conclui-se
que a criatividade não é uma conseqüência da ação do Id. A criatividade seria uma expressão
do Pré-Consciente que tem o aval do Ego para, além de se manifestar, também inundar o
cérebro do indivíduo com idéias. Com isso, pessoa criativa, segundo a teoria neopsicanalítica,
é aquela que pode recorrer ao seu Pré-Consciente de maneira mais livre do que outras.
5.2.5 – A Reação ao Freudianismo no Estudo da Criatividade
Abandonando a questão de que a criatividade é um meio de reduzir a tensão
proveniente de um conflito, novos autores descobriram que a relação do homem com o meio
ambiente e, além disso, que a necessidade do homem se auto-realizar são muito importantes
para a criatividade, fazendo com que ela se torne um fim em si mesma. Dois autores se
destacaram nesse novo paradigma: E. G. Schachtel e Carl R. Rogers.
5.2.5.1 – E. G. Schachtel
Schachtel entendia que o homem sente a necessidade de ser criativo para se
relacionar com o meio ambiente em que vive. Para ele, a criatividade seria um dado momento
em que o homem é capaz de permanecer “aberto” ao mundo, com ênfase na sua percepção
alocêntrica, ou seja, focada no objeto; no lugar da percepção autocêntrica, focada em si
102
mesma.
5.2.5.2 – Carl R. Rogers
No que diz respeito à criatividade, Rogers desenvolveu dois parâmetros de
análise: o estrito, que estabelece a forma de comportamento em função da intuição e da
espontaneidade, e o amplo, cuja abrangência é mais global, tendendo para a auto-realização,
tendo em vista que o ser humano é motivado pela possibilidade de realizar suas
potencialidades perante a sua raça.
Com forte atuação na área educacional, Rogers(1974) assim esclarece essa
idéia:
“Quando a autocrítica e a auto-avaliação são facilitadas, e a avaliação de
outrem se torna secundária, a independência, a criatividade e a auto-realização do aluno
tornam-se possíveis”.
5.2.6 – A Criatividade Sob a Ótica da Teoria da Análise Fatorial
Essa teoria foi iniciada na década de 1960 com análises de J. P. Guilford, que
propôs a divisão da mente e do intelecto em capacidades de memória cognitivas, produtivas e
avaliativas; e Arthur Koestler, que procurou integrar várias disciplinas num única teoria de
criatividade.
5.2.6.1 – J.P. Guilford
O psicólogo norte-americano J. P. Guilford entendia que a mente contém 120
diferentes capacidades, das quais são conhecidas apenas 50. Compondo estas que são
conhecidas, estão as capacidades de memória e as capacidades de pensamento. Estas últimas
são subdividas em capacidades cognitivas, que referem-se ao reconhecimento da informação,
capacidades produtivas, encarregadas de gerar novas informações; e as capacidades
103
avaliativas, que julgam as informações. As que se relacionam com a criatividade são as
capacidades produtivas, que podem formar pensamentos convergentes ou divergentes.
A criatividade entra em ação quando não há um meio para resolver um
problema, sendo requisitado nesse momento o pensamento convergente, que apresenta doze
fatores:
1. Fluência Vocabular: capacidade de produzir rapidamente palavras
que preenchem exigências simbólicas específicas;
2. Fluência Ideativa: capacidade de trazer à tona muitas idéias numa
situação relativamente livre de restrições, em que não é importante
a qualidade da resposta;
3. Flexibilidade Semântica Espontânea: capacidade ou disposição de
produzir idéias variadas, quando é livre o indivíduo para assim
proceder;
4. Flexibilidade Figurativa Espontânea: tendência para perceber
rápidas alternâncias em figuras visualmente percebidas;
5. Fluência Associativa: capacidade de produzir palavras a partir de
uma área restrita de significado;
6. Fluência
Expressionista:
capacidade
de
abandonar
uma
organização de linhas percebidas para ver outra;
7. Flexibilidade Simbólica Adaptativa: capacidade de, quando se trata
com material simbólico, reestruturar um problema, ou uma
situação, quando necessário;
8. Originalidade: capacidade ou disposição de produzir respostas
raras, inteligentes e remotamente associadas;
9. Elaboração: capacidade de fornecer pormenores para completar um
dado esboço ou esqueleto de alguma forma;
10. Redefinição Simbólica: capacidade de reorganizar unidades em
termos das respectivas propriedades simbólicas, dando novos usos
aos elementos;
11. Redefinição Semântica: capacidade de alterar a função de um
objeto, ou parte dele, usando-a depois de maneira diversa;
104
12. Sensibilidade a Problemas: capacidade de reconhecer que existe
um problema.
Pode se perceber a influência da Revolução Cognitiva neste emaranhado de
fatores gerados por J. P. Guilford, como se a mente humana não passasse de uma mera
estrutura de um programa de computador.
5.2.6.2 – Arthur Koestler
Para Koestler, cada idéia faz parte do padrão de pensamento ou comportamento
do interior do inconsciente denominado por ele de “matriz de pensamento”.
Essa matriz, segundo Koestler, é baseada na construção formada pela história
social, cultural e pela experiência pessoal pela qual o indivíduo passou proporcionando-lhe
uma idéia central aliada a suas conotações, associações e possibilidades. Nesse processo, a
criatividade segue um padrão comum, chamado bissociação.
Souza(2001) esclarece essa abordagem de Koestler conforme a seguir:
“Koestler(1964) and Kneller(1978) apresenta uma teoria da criatividade que
tenta integrar todas as suas expressões-ciências, arte e humor. Sua
fundamentação lança recursos da psicologia, da neurologia, da fisiologia, da
genética e diversas ciências na proposição de um padrão comum – a bissociação
-, que consiste na conexão de níveis de experiência ou sistemas de referências.
Koestler argumenta que, no pensamento comum, a pessoa segue rotineiramente
em um mesmo plano de experiências, enquanto, no criador, pensa
simultaneamente em mais de um sistema de referências”.
Através desta teoria, conclui-se que, considerando o estágio das disciplinas
englobadas pela bissociação, uma descoberta pode estar a frente de sua época estando o
homem dessa época despreparado para vive-la. Com isso, ela acaba desaparecendo e só
voltando tempos depois, nos quais um outro criador a descobre e trabalha ela num momento
em que a humanidade possa entendê-la.
105
5.2.7 – Criatividade Como Solução de Problemas
Outro paradigma sobre a criatividade atribuía sua existência condicionada à
existência de problemas. O problema seria o ponto de partida, a razão de existência da
criatividade.
Conforme essa teoria, o problema é um componente ativo que não varia. O
ângulo de visão ou o ponto de referência para a criatividade não diz respeito ao surgimento de
uma obra espontânea e sim no problema que ela veio a solucionar proveniente da
consciência(Ego) ou da inconsciência(Id).
Trata-se de uma teoria intrigante pois a inspiração fica desconsiderada nesse
contexto. Muitas vezes, a criatividade surge de uma situação em que não existe um problema
real, concreto e imediato. A criatividade pode surgir para dar mais opções sem depreciar a
situação anterior.
5.2.8 – Criatividade Como Processo de Criação
No final do século XIX, época em que a psicologia começava a ser tratada
como ciência, o físico e fisiológico alemão Hermann Von Helmholtz não só contribuiria para
o advento do primeiro laboratório de psicologia como também par investigações quanto ao
processo de criatividade.
Helmholtz colaborou para a descoberta de quatro passos para o processo de
criação:
-
Saturação ou Informação: Thomas Edison acreditava que quando
queria descobrir alguma coisa, primeiramente procurava recolher
informações sobre experiências e estudos sobre o assunto. Na
medida em que o Ego saturou-se de informações, é confiado ao Id
a tarefa de encontrar uma solução.
-
Incubação: momento em que, enquanto o indivíduo fica tranqüilo,
relaxa e não pensa no problema; o Id trabalha convertendo as
informações coletadas. Helmholtz dizia que tinha melhores idéias
106
durante a subida de uma montanha num dia ensolarado. Outros
acreditavam que a melhor maneira para deixar o Id trabalhar é
ouvindo música, por exemplo.
-
Iluminação: momento em que ocorre o estalo de inspiração criativa
vindo do Id durante o processo de incubação. Neste momento não
se deve fazer um julgamento crítico das idéias por mais banais,
ridículas ou absurdas que pareçam ser. Deve-se deixar um canal
aberto para que as idéias possam fluir. É nesse momento em que as
idéias começam a surgir que se deve registrá-los o mais rápido
possível sob a pena de perdê-las por causa da memória.
-
Verificação: Este é o passo em que as idéias são validadas
conforme sua viabilidade em relação à situação. É aqui que se
descobre que um pensamento aparentemente absurdo pode conter
uma sugestão para uma observação inédita para um problema. As
idéias são lapidadas onde algumas são desconsideradas e outras
adotadas.
Apesar de ter surgido numa época em que a psicologia ainda se encontrava no
estado embrionário, limitando-se à ótica da fisiologia, psicofísica e empirismo; a teoria do
Processo de Criação traz aspectos, como os da incubação, que são atuais, como os encontrados
na teoria do “Ócio Criativo” de Domenico de Masi, a ser abordada mais adiante pelo presente
trabalho.
5.2.9 – Criatividade Como Inteligência Manipulativa
Essa teoria é apresentada por Erich Fromm em seu livro “Psicanálise da
Sociedade Contemporânea”, através do qual aponta diferenças entre os homens e os animais.
O autor explica que os animais têm inteligência para resolver problemas
imediatos do seu meio. Já o homem tem o diferencial da racionalidade que lhe confere valores
mais complexos devido às considerações que ele tem de fazer como, por exemplo, levar em
consideração questões filosóficas e científicas para abordar um assunto.
107
Para melhor compreender, explicar e interpretar o mundo, o homem faz uso da
inteligência manipulativa para chegar nos estágios qualitativamente superiores.
Portanto, o homem possui uma inteligência apta ao comportamento criativo
igual a dos animais. Entretanto, possui o diferencial da racionalidade para resolver seus
problemas e para atingir seus objetivos.
5.2.10 – O Papel dos Hemisférios Cerebrais
Essa teoria propõe que os hemisférios cerebrais esquerdo e direito são providos
de funções totalmente diferentes, sendo que, para que haja criatividade, é necessário saber
combinar ambos, tendo em vista que são complementares.
Souza(2001) traz um fragmento de Alencar(1993) sobre o assunto conforme
abaixo:
“O que tem sido proposto é que cada hemisfério cerebral teria sua
especialidade: o esquerdo seria mais eficiente nos processos de pensamento
descritos como verbais, lógicos e analíticos; enquanto o hemisfério direito seria
especializado em padrões de pensamento que enfatizam percepção, síntese e o
rearranjo geral de idéias”.
Sendo assim, a atividade do hemisfério cerebral direito seria especialmente
relevante para a criatividade musical e artística, facilitando o uso de metáforas, intuição e
outros processos geralmente associados à criatividade.
Ribeiro(2004) discorre sobre o uso dos hemisférios cerebrais no dia-a-dia do
indivíduo conforme fragmentos a seguir:
“Agora pense nas pessoas que vivem mais com o lado esquerdo do cérebro.
Tudo na vida delas é arrumadinho, detalhado e certinho. Cada par de meias
ocupa sempre o mesmo lugar na gaveta. Tudo é organizado. Tão organizado
que essas pessoas não enxergam o mundo ao seu redor. Enxergam cada detalhe
da árvore. Mas são incapazes de ver a floresta”.
108
“Por outro lado, existem aquelas pessoas que passam o dia todo sentadas ao
redor de barraquinhas de bijuterias, nas feiras hippies. Elas são sonhadoras têm
preocupações sociais, lêem grandes filósofos, mas, muitas vezes, não tem nem
casa para morar. Elas desenvolveram apenas o lado direito do cérebro: vêem a
floresta, mas não conseguem ver a árvore”.
“Isso mostra que, para ser bem-sucedido na vida, é preciso trabalhar com os
dois hemisférios cerebrais: o esquerdo e o direito. Mas as pessoas, de modo
geral, costumam sair da escola trabalhando muito com um único hemisfério
cerebral: ou são muito metódicas e pouco criativas, ou têm muita criatividade e
nenhum sentido prático”.
Estas passagens de Lair Ribeiro são mais um exemplo do ponto de referência
no qual reside a proposta do presente trabalho de combinar a razão e a emoção para geração de
criatividade, fazendo com que o ser humano liberte-se do exagero racional a fim de tornar sua
vida social e profissional mais preparada para eventuais mudanças.
5.2.11 – A Criatividade Sob a Ótica da Teoria do Ócio Criativo
O sociólogo italiano Domenico de Masi defende, através dessa teoria, a idéia de
que é chegado o momento de cultivar-se o ócio criativo, que se baseia numa simultaneidade
entre trabalho, estudo e lazer.
O sociólogo, através de Pires(2004), afirma que o ser humano vive em uma
sociedade que ele chama de pós-industrial, onde o homem é apenas mais um elemento
produtivo, cuja obsessão consumista faz do homem um autômato sem tempo para
desenvolver-se como um todo. Ele acredita que é necessário aprender que o trabalho não é
tudo na vida e que existem outros grandes valores como o estudo para produzir saber. A
diversão para produzir alegria; o sexo para produzir prazer; a família para produzir
solidariedade; etc.
Nesta mesma entrevista, Pires(2004) consegue de Domenico de Masi a seguinte
opinião:
109
“A maioria das pessoas que concorda com as minhas idéias sente uma real
necessidade de modificar o modelo de vida imposto ao ocidente americanizado
sob o impulso do pensamento empresarial: competitividade cruel, stress
existencial, prevalência da esfera racional sobre a esfera emocional”.
Rezende(2004), também em entrevista com o sociólogo, obtém a seguinte
observação:
“(...) as melhores sacadas podem brotar na hora em que não têm absolutamente
nada para fazer – a não ser deixar a mente viajar. Não é preciso forçar esse
estado de letargia. Ele vem naturalmente, quando a pessoa consegue relaxar –
coisa rara na era do consumismo e da informação”.
Para chegar a essas conclusões, o sociólogo explica para Rezende(2004) que
estudou primeiramente o trabalho dos operários; depois o trabalho dos empregadores. Com o
aumento do trabalho intelectual no sistema produtivo, De Masi notou que praticamente não
havia distinção entre trabalho e criatividade.
Portanto, a teoria de Domenico de Masi vem justificar a proposta do presente
trabalho de fazer com que o homem crie a partir de atributos como espontaneidade, e não
apenas com a sua mente racional. De fato, muitas idéias importantes surgem em reuniões
informais entre membros de uma empresa podendo-se trazer como exemplo o tradicional
intervalo para café.
5.3 – Conclusão
Conforme o tempo passou, a criatividade ganhou novos conceitos, novas teorias
e novos estudiosos que contribuíram para que a evolução da análise desta capacidade criar do
ser humano; descobrindo quais são as suas forças impulsionadoras. Infelizmente, apesar de
muito estudada e muito mencionada, percebe-se que muito pouco espaço é dado a ela,
trazendo a sensação de que o homem possui um poderoso recurso criativo do qual não sabe
fazer uso ainda.
110
6 – Breve Abordagem Sobre o Talento
O autor do presente trabalho vai tratar da questão do talento sob o ponto de
vista de um outro termo que vem sendo muito usado no contexto organizacional: a
competência, que reúne alguns requisitos que formam a aptidão natural do ser humano para
colocar em prática uma determinada atividade.
Fernandes, Luft e Guimarães(1992) definem talento como “capacidade”, entre
outras definições. No mesmo dicionário, os autores trazem o conceito de competência como
sendo a “capacidade para apreciar e resolver determinado assunto”, o que leva a uma
abordagem do talento como base para desenvolvimento da competência. Pinto Jr (2001)
esclarece que competente é quem agrega valor a um negócio com os conhecimentos e
habilidades que possui.
Pinto Jr (2001) afirma que o passado deu mais valor a dois eixos de
competências:
-
Conhecimentos
técnicos:
privilegiando
conhecimento
sobre
finanças, marketing, engenharia, processos de produção, gestão de
recursos humanos, etc;
-
Habilidades interpessoais: privilegiando a habilidade de trabalhar
em equipe bem como saber liderar subordinados.
O autor explica que, apesar desses atributos tradicionais continuarem sendo
necessários, não são mais suficientes. Ele aponta três novos eixos de competências que são
111
requeridos:
-
Eixo negocial: capacidade de conhecer o negócio da empresa, da
estrutura de competitividade do setor, dos clientes, fornecedores e
de fatores críticos para a geração de lucro;
-
Eixo
empreendedor:
capacidade
de
raciocínio
estratégico,
orientação para resultados, aptidão para criar novos negócios,
multifuncionalidade, autonomia em liderança, tolerância a riscos,
capacidade de sonhar e transformar sonhos em realidade,
inventando as regras do jogo, em lugar de simplesmente seguí-las,
capacidade de mobilizar recursos, foco no usuário, agilidade,
flexibilidade e criatividade.
-
Eixo cidadania: capacidade de conciliar seu trabalho com outras
dimensões da vida, como você gerencia sua saúde, estresse e
qualidade de vida, sua cidadania comunitária, seu grau de
conectividade
interno
e
externo,
inteligência
emocional,
capacidade de criar condições para que a genialidade dos outros se
manifeste, etc.
Pinto Jr (2001) traz ainda uma abordagem individual a respeito de algumas das
competências conforme a seguir:
-
Assertividade: capacidade de respeitar os valores próprios e de
outrem;
-
Autonomia: capacidade de independência administrativa;
-
Comunicativa: a maneira como a pessoa se comunica consigo
mesma e como se expressa para os outros, como resultado da
comunicação interior;
-
Criatividade: conforme já abordado pelo presente trabalho;
-
Flexibilidade: saber adotar novos paradigmas;
-
Foco no cliente e no fornecedor: capacidade de pensar mais no
lado de fora da empresa;
112
-
Idioma: capacidade de domínio do idioma local, inglês e de um
terceiro, como alemão, francês, italiano ou espanhol;
-
Liderança: capacidade de desenvolver e manter um sólido
relacionamento com outras pessoas, oferecendo uma visão
orientadora, empolgando-as;
-
Motivação: encontrar e oferecer motivos para fazer mais e melhor
aquilo que se deseja fazer;
-
Negociação: capacidade de estar atento para as formas de
argumentação bem como para o plano de ação para uma rodada de
negociações;
-
Orientação para resultados: capacidade de estar alinhado à
necessidade e aos objetivos propostos;
-
Relacionamento interpessoal: capacidade de perceber o estado de
espírito, o temperamento, as motivações e as intenções de
terceiros;
-
Trabalho em equipe: capacidade de se comprometer com o
objetivo do grupo a ser alcançado;
-
Visão Estratégica: Poder e profundidade de uma visão do futuro.
Pinto Jr (2001) afirma que “a matéria mais cobiçada nesse novo ambiente
empresarial é o talento humano que seja capaz de agregar valor e aumentar a competitividade
das empresas”.
No que diz respeito ao tema do presente estudo, apesar da posição demonstrada
pela passagem anterior, existem empresas cujas práticas neutralizam determinadas
competências de seus funcionários, sem perceber que, com isso, estão limitando seu próprio
leque de capacidades. Essas práticas são abordadas no Capítulo 7. Os funcionários, por sua
vez, ainda não se deram conta de que o terceiro milênio demanda de profissionais possuidores
das competências supracitadas. Deixando-se levar por algumas limitações, conforme
demonstrado no Capítulo 4, menos ainda serão notados. Se o funcionário suprime seu talento,
ao mesmo tempo estará esgotando todas as possibilidades de ser considerado dentro da
empresa. Aqueles que puderem perceber isso, obterão reconhecimento e serão absorvidos por
113
um mercado de trabalho promissor sob o aspecto da realização profissional.
114
7– Como a Mentalidade Racional das Organizações Limita a Criatividade e o Talento
O presente trabalho irá abordar, a partir deste momento, algumas ações
praticadas pela empresas atualmente que relacionam-se com tema. Práticas essas que
justificam o advento do presente trabalho e servem de alerta para muitos administradores que
conduzem suas organizações com predominância de ferramentas racionais, deixando o
emocional de lado para atingir seus objetivos.
7.1 – Maior preocupação com práticas tradicionais
Conforme a seguir serão apresentados exemplos de como as organizações
insistem em fazer uso de meios tradicionais deixando de lado práticas inovadoras.
Hamel(2000) afirma que a era do progresso acabou, tendo em vista que “nasceu
do Renascimento, chegou à exuberante adolescência durante o Iluminismo, alcançou a
maturidade na era industrial e morreu na alvorada do século 21”. O autor explica como a era
do progresso influenciou no condicionamento das empresas fazendo com que estas adotassem
ações que se tornaram tradicionais, conforme a seguir:
“A era do progresso produziu um mundo de gigantes setoriais: Mitsubishi,
ABB, Citigroup, General Eletric, Daimler Chrysler, Dupont e seus pares. Essas
115
empresas exploraram as disciplinas do progresso: planejamento rigoroso,
melhoria contínua, controle estatístico dos processos, Seis Sigma, Reengenharia
e Enterprise Resource Planning(ERP). Década após década, o foco se
concentrou obstinadamente na melhoria. Se por acaso as empresas se atrasavam
em relação a alguma mudança no ambiente, havia muito tempo para alcançar
os concorrentes. As vantagens de titularidade – distribuição global, marcas
respeitadas, grande pool de talento, disponibilidade de caixa – concedia-lhes o
privilégio do tempo”.
O autor alerta para os perigos desta prática conforme abaixo:
“Mas, num mundo de mudanças descontínuas, a empresa que se perde numa
curva crucial da estrada talvez nunca recobre o tempo perdido. (...) Em algum
lugar por aí, há uma arma apontada contra a sua empresa. Algures, não se sabe
onde, um concorrente desconhecido, ainda por nascer, tornará sua estratégia
obsoleta. É impossível esquivar-se da bala – é preciso atirar primeiro. É
necessário ser mais observador do que os inovadores. Quem ainda depender de
espada morrerá com um tiro”.
Diniz(2001) afirma que poucas são as empresas que conseguem obter
resultados concretos das tentativas de transformar executivos em desenvolvedores de pessoas.
A razão que ela aponta é a de que, apesar de tudo o que se fala sobre a importância que se
deve dar às pessoas, muitas organizações ainda estão mais preocupadas com processos e
controle.
A autora afirma que é muito difícil convencer um executivo a parar e analisar o
desempenho do subordinado. Normalmente, o executivo alega falta de tempo que, para ela,
significa ausência de prioridade e disposição para aprender e exercitar dia-a-dia a capacidade
de perceber o outro, ouvir, diagnosticar as falhas e planejar o crescimento.
Fazendo um paralelo com o costume de do filósofo grego Sócrates, Diniz(2001)
afirma que o momento sagrado para o filósofo era o de estar com os discípulos para discutir as
questões da existência. Neste contexto, ela explica que existem superiores que, além de não se
reunirem com funcionários, se irritam com funcionários inexperientes, preferindo terminar o
trabalho sozinhos usando expressões como “deixa que eu faço”.
116
Diniz(2001) traz um alerta sobre o assunto de Saionara Barbosa de Assis,
gerente de negócios da Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte, um dos principais centros
de treinamento e aconselhamento de executivos dos país:
“As empresas não encontram profissionais prontos no mercado. É preciso
lapidar os talentos e moldar os futuros sucessores – aqueles que vão levar a empresa no futuro.
E isso toma tempo”.
Hamel(2003) traz à tona ainda a questão de como as organizações estão presas
à estratégias tradicionais conforme a seguir:
“Quase se fala em inovação, cortar custos talvez seja o desafio mais terrível de
todos. A maior parte das empresas chegou a um estágio em que as estratégias
tradicionais de redução de custos acabaram por reduzir seus retornos. Nesse
caso, a exemplo de muitos outros, precisamos de uma mentalidade radicalmente
avançada. É preciso que fique claro: as empresas estão certas em se preocupar
com a eficiência. O problema é que falta a elas criatividade para pensar o
processo da eficiência”.
É aqui que a falta de desenvolvimento das pessoas compromete a organização
pois se o executivo deixa de estabelecer um contato mais sólido com o funcionário, ele acaba
defrontando-se com um resultado não esperado, na maioria das vezes, negativo.
O autor questiona ainda o fato de as organizações ainda priorizarem a
perpetuação do seu sistema dominante em detrimento à inovação:
“Eles parecem dispostos a aceitar que suas organizações foram idealizadas para
privilegiar sempre a perpetuação, e não a inovação. Controle, Hierarquia,
Eficiência, Qualidade – herdamos essas virtudes da era industrial. Contudo, em
um mundo descontínuo, o peso da perpetuação tem de ser reavaliado.”
“Um terceira crença fatal é a idéia de que a empresa detém o modelo mais bem
acabado de fazer negócios em seu setor. Quando as pessoas deixam de desafiar
de modo positivo a definição de modelo de negócios da empresa no dia-a-dia, é
sinal de que a deterioração já começou”.
Eis aqui um exemplo de uma empresa com visão fechada, que olha somente
117
para si. É difícil imaginar que isso existe ainda depois de tudo o que foi dito sobre a
necessidade de a empresa não estar somente focada em si, mas no seu ambiente externo.
Correa(2001), através de entrevista com Eliyahu Goldratt, autor dos livros “A Meta” e
“Necessário, Mas Não Suficiente”, colhe uma opinião sobre essa questão:
“É comum que os líderes não enxerguem as soluções. Veja o caso da indústria
de software. A solução para o seu problema de crescimento está fora da indústria de
programas de computador. Mas eles estão acostumados a olhar apenas par si mesmos”.
Muitas vezes, a empresa focada apenas no seu ambiente interno, acaba
engessando-se, conforme Blecher(2003) conta, quando a empresa dá origem a uma
complexidade que se torna um problema para a organização, conforme a seguir:
“Intuitivamente, Constantino Júnior, Presidente da Gol, aponta para um
problema que começa a preocupar os estudiosos do mundo dos negócios: o custo
da complexidade – a antítese da simplicidade – para as corporações. O excesso
de níveis hierárquicos, a centralização rígida, o inchaço do centro de comando e
o afastamento da linha de frente costumam traduzir-se em falhas de
comunicação, decisões equivocadas e escorregões estratégicos. Assim, quanto
mais complicada for uma empresa, maiores serão os prejuízos”.
Essa complexidade pode levar, além dos problemas supracitados, ao excesso de
burocracia, outro fator que trava a empresa. Rosenburg(2003) tece o seguinte comentário no
que diz respeito à questão da burocracia da empresa:
“Esse talvez seja um dos itens mais unânimes entre executivos e também um dos
mais difíceis de implementar. Os autores acreditam que não haja nada de
errado com a burocracia por si só. A questão é quando procedimento e
protocolos – necessários em qualquer empresa – assumem proporções
asfixiantes”.
Outra questão importante dentro do contexto organizacional diz respeito ao
processo de aprendizado, o qual é desprezado dentro da empresa através de uma série de
vícios racionais. Um deles diz respeito ao Planejamento Estratégico. Cohen(2004), numa
entrevista com Henry Mintzberg, aborda a importância do aprendizado para esse processo:
118
“A definição mais popular de estratégia é de um plano deliberado, trabalhado,
calculado. Isso ignora o outro lado da estratégia, que é o de um processo de
aprendizado, de padrões que se desenvolvem a partir do comportamento das
pessoas, em que elas mais ou menos aprendem o caminho. O processo
estratégico tem os dois lados, mas a parte emergente tem sido ignorada”.
Trata-se de uma declaração de extrema relevância pois esclarece a relação entre
Planejamento Estratégico e comportamento de mudança cujo fruto referente ao tema do
presente trabalho é justificado pela necessidade de aprendizado constante.
7.2 – Busca das mesmas soluções para diferentes problemas
Nesta parte, o presente trabalho apresentará exemplos de como impera a
racionalidade no processo de tomada de decisão dentro da empresa e, em especial, dentro da
alta gerência, que busca resolver diversos problemas com as mesmas ferramentas do passado,
contaminando seus funcionários com o mal condicionamento racional exagerado.
Finkelstein(2003) traça um perfil do Chief Executive Officer(Chefe Executivo
normalmente conhecido como CEO) cuja caraterística centralizadora o condiciona a fazer uso
das mesmas ferramentas para se garantir ou para sobreviver:
“É praticamente impossível para o indivíduo em posição de comando perceber o
momento em que um empreendimento de proporções colossais começa a fugir a
seu controle. A maior parte dos líderes quer reconhecimento por sua
determinação e por sua persistência. Muitos CEO’s, em sua caminhada para o
fracasso absoluto, aceleram a derrocada da empresa ao lançar mão daquilo que
consideram testado e aprovado em sua experiência anterior. Na tentativa de
obter o máximo rendimento possível do que acreditam ser seus pontos fortes
apegam-se a um modelo estático de negócios. Insistem em fornecer um produto
para um mercado que não existe mais, ou deixam de levar em conta as
inovações de áreas diferentes daquelas que fizeram da empresa um sucesso. Em
vez de avaliar uma série de opções adequadas às novas circunstâncias, recorrem
119
a seu currículo como único ponto de referência, reproduzindo modelos que
deram certo no passado”.
Cohen(2001) contribui para o presente trabalho não somente discorrendo sobre
a questão como também explicando a origem desse hábito:
“Os executivos não enxergam o problema, eles propõem uma solução. Tanto na
observação de rotina de executivos quanto em experiência em que lhes
apresentava casos para resolver. O professor Michel Fiol, da École Des Hautes
Études
Commerciales
(HEC),
uma
das
mais
renomadas
escolas
de
administração da França, observou que eles raciocinam primeiramente em
termos de solução e só então é que tratam de encontrar um ‘problema’ em que
ela se encaixe. ‘Os executivos diagnosticam o problema. Mas quando fazem isso,
é porque já têm a solução’”.
O autor aconselha àqueles que são vítimas do que ele chama de vícios de
pensamento conforme a seguir:
“Para lidar com todas as armadilhas no processo de tomada de decisão, não há
outro meio a não ser ficar atento e tentar compensar a tendência de incorrer em
vícios de pensamento. A começar, talvez, pela sua personalidade. ‘Cada pessoa
inicia o processo de decisão por um ponto diferentes’, diz João Mendes de
Almeida, da Consultoria de Recursos Humanos DBM. ‘Um tipo afetivo sempre
pensa primeiro no impacto da decisão sobre as pessoas. O reflexivo analisa o
quadro geral antes de mais nada. O racional tenta dar conta de dados objetivos.
Um pragmático tende a ir direto para a implementação. É importante a pessoa
conhecer suas características, para compensar o viés que naturalmente tem
para olhar um problema’”.
Esta declaração atesta ainda mais a necessidade de haver um equilíbrio entre a
personalidade racional com as demais, dando mais propriedade não só ao executivo de uma
organização, mas também para o funcionário quando este se depara com um problema a ser
solucionado.
Outra explicação para o efeito da racionalização que faz com que o ser humano
120
use as mesmas soluções é trazido por Chase e Dasu(2001), que explicam o comportamento do
homem conforme a seguir:
“Queremos desesperadamente que as coisas façam sentido. Quando não há
nenhuma explicação disponível para um evento inesperado, simplesmente
inventamos uma. (...) Tentamos interpretar um fato acontecido porque
queremos uma explicação clara para esse evento. Mentalmente, procuramos
apontar as possíveis eventualidades: ‘Se pelo menos isso não tivesse acontecido,
as coisas seriam diferentes’. (...) Em primeiro lugar, a causa provável é
entendida como algo discreto, não como um processo contínuo cujas etapas se
entrelaçam. Por exemplo, quando perdemos o avião, atribuímos a culpa ao
‘congestionamento dentro do túnel’, e não a uma série de acontecimentos que –
juntos – foram responsáveis pelo atraso’”.
Partindo desse raciocínio, fazendo uma abordagem do contexto organizacional,
o presente trabalho traz um fragmento de Cohen(2002) onde este cita Thomas Wood,
consultor e professor de estratégia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, o qual discorre
sobre como o estabelecimento de metas pode iludir o estrategista:
“‘O estabelecimento de metas supõe a empresa como uma máquina racional’,
diz Thomas Wood, consultor e professor de estratégia da Fundação Getúlio
Vargas de São Paulo. ‘Para mim, as metas atendem à função de prover
racionalidade a um mundo que não é racional. Você trabalha com a aparência
de racionalidade, porque as pessoas querem estar num lugar que faça sentido’”.
Dentro desse contexto, a preparação para constante mudanças pode
complementar a aparência de racionalidade, tornando o estabelecimento de metas mais seguro
quando exposto aos riscos de um mundo não racional.
Outra explicação para a resistência à adoção de uma nova solução é trazida por
Mano(2003), em entrevista com Donald Sull, professor-assistente da Harvard Business
School, conforme a seguir:
“Quanto mais bem sucedida é a fórmula, mais difícil será convencer as pessoas
a mudá-la quando isso for necessário. Mesmo porque, com o sucesso, as pessoas
121
tendem a se tornar pouco questionadoras. Os processos viram rotina. Os valores
se tornam dogmas, mesmo que deixem de fazer sentido. (...) Muitas vezes o
momento mais fácil de mudar é quando já existe uma crise e as pessoas
reconhecem facilmente que persistir na fórmula antiga não trará mais
resultado. Por outro lado, em meio a uma crise, você terá menos energia para
reagir”.
7.3 – Crença de que se deve estar sempre certo
O medo de errar e de perder é um dos fatores racionais que limitam o ser
humano na hora de criar e colocar em prática o seu talento, fazendo com que a estagnação
impere e o condicionamento dite as regras assim por diante.
Blecher(2004) comenta o assunto ao citar o ganhador do prêmio Nobel de
Economia conforme abaixo:
“O psicólogo americano Daniel Kahneman ganhou o Prêmio Nobel de
Economia ao demonstrar que as pessoas são muito mais sensíveis à perspectiva
de perder do que à de ganhar. O risco de perder o que se tem atormenta muito
mais os executivos do que a excitação de ganhar algo novo”.
Abordando a mesma questão, Finkelstein(2003) também contribui com o
presente trabalho conforme a seguinte opinião sobre o comportamentos de alguns Chief
Executive Officers em relação à exposição de sua característica falível em relação a alguns
stakeholders:
“Alguns sentem uma necessidade enorme de acertar sempre em todas as
decisões importantes que tomam, em parte porque se julgam responsáveis pelo
sucesso da empresa. Reconhecer que não são infalíveis seria o mesmo que
colocar em risco sua posição de CEO. Empregados, jornalistas da área
econômica e a comunidade de investidores querem que a empresa seja dirigida
por alguém com uma habilidade quase mágica de acertar o tempo todo. No
momento em que o profissional admite ter errado numa decisão importante,
sempre haverá quem diga que ele não era a pessoa talhada para a função”.
122
O autor comenta ainda como o Cheif Executive Officer reage a essas
expectativas que surgem do seu raciocínio precipitado:
“Todas essas expectativas irreais dificultam tremendamente para o CEO
qualquer mudança de rumo. Além disso, se a única opção disponível é persistir
na mesma direção, conclui-se que a única resposta possível a um determinado
obstáculo será sempre ignorá-lo cada vez mais”.
Portanto, esse comportamento é originado pelo fato de o executivo se deixar
levar por influências que, indevidamente, acabam pesando no seu raciocínio, levando-o a
adotar uma prática mais conservadora baseada nos princípios racionais convencionais,
deixando de lado qualquer possibilidade de criatividade e de adoção de um caminho um pouco
mais arriscado.
7.4 – Travas mentais que inibem a criatividade
Neste espaço, o presente trabalho trará exemplos de como algumas
organizações inibem sua própria criatividade através de algumas “travas mentais”, deixando
de praticar sua habilidade criativa.
Hamel(2000) comenta como uma mentalidade dominante contamina alguns
setores:
“Em quase todos os setores, as estratégias tendem a aglomerar-se em torno de
alguma ‘tendência central’ da ortodoxia. As estratégias convergem porque as
fórmulas de sucesso são imitadas em profusão. Mas com muita freqüência o
modelo de negócio bem-sucedido se transforma no modelo de negócio de
empresas pouco criativas para inventar o seu próprio”.
A mentalidade travada em virtude do senso comum de alguns executivos é
exemplificada por Hamel(2003) conforme abaixo:
123
“Muitos executivos me perguntam com freqüência: ‘sei que é preciso inovar,
mas por que já? Estou tentando equilibrar as contas do próximo trimestre. A
hora é de voltar ao básico’. Não tenho nada contra voltar ao básico. Toda
empresa tem de fazer as receitas crescer e cortar custos. No entanto, a maior
parte das companhias hoje não conseguirá fazer crescer o bolo de receitas se
continuar oferecendo a mesma coisa de sempre aos mesmos clientes de longa
data pelos mesmos canais desgastados e pelas mesmas técnicas surradas”.
Christensen e Raynor(2003) descrevem o condicionamento de um gerente cuja
mentalidade perante um sistema que está atrelado à expressão “não mexer em time que está
ganhando”:
“Os gerentes de nível médio geralmente hesitam em comprometer-se com novos
conceitos de produtos cujo mercado não esteja garantido. Se o mercado não se
concretizar, a empresa terá desperdiçado milhões de dólares. O sistema,
portanto, impõe que esses gerentes respaldem suas propostas com dados
confiáveis sobre o tamanho e o potencial de crescimento do mercado almeja pela
nova idéia”.
Eis um exemplo de como a criatividade é escrava de normas e regras racionais
de um sistema que promove a segurança acima de qualquer inovação.
7.5 – A importância do equilíbrio entre racionalismo e criatividade
Caracterizando-se por ser base da proposta do presente trabalho, o equilíbrio
entre racionalismo e criatividade é de suma importância para organização considerando que a
ênfase exagerada em qualquer um deles, isoladamente, não garante o sucesso ou a
sobrevivência da empresa. Alguns exemplos serão trazidos conforme se segue.
Cohen(2004) afirma que a inovação por si só não garante o sucesso, trazendo
um exemplo da empresa Apple, que atua no ramo de computadores e programas de
informática:
“O exemplo mais claro de descompasso entre criatividade e resultado
124
financeiro é a Apple, uma das organizações mais inovadoras do planeta, que controla apenas
2% dos 180 bilhões de dólares do mercado de PC’s”.
“Estratégia não é tudo intuição. Gerentes eficientes obtendo informações de
todo lugar, falando com pessoas, interagindo, participando de reuniões,
discutindo, falando com clientes, analisando dados ... Há todo tipo de coisa, não
é só sentar e sonhar com a estratégia. Você tem de sonhar conectado, sabendo o
que acontece”.
Cohen(2001) comenta sobre o equilíbrio defendido neste espaço conforme o
seguinte:
“Mesmo a mais pura das intuições tem de se basear em informações racionais”.
“As duas formas de entender o processo de decisão – avaliação de conseqüências
ou construção de identidade – exigem diferentes habilidades. ‘Uma põe ênfase
na antecipação do futuro e na formação de expectativas. A outra requer o
aprendizado de experiências passadas e a formação de identidades úteis’, diz
March. Mas as duas perspectivas não são excludentes. Ao contrário, é difícil
entender o processo de decisão sem o auxílio de ambas”.
Portanto, essas foram algumas das opiniões que concordam com a proposta do
presente trabalho de aliar o pensamento racional e o criativo, fazendo com que tanto o
funcionário como o executivo “sonhem sem tirar os pés do chão”.
7.6 – Comprometimento do ambiente de trabalho
Como conseqüência da limitação da criatividade e do talento do trabalhador, o
ambiente de trabalho fica prejudicado por causa de uma série de ocorrências as quais serão
exemplificadas neste espaço.
A primeira delas é trazida por alguns fragmentos de Cohen(2004) sobre o
problema da centralização das decisões para o líder conforme segue:
125
“Nos primeiros estágios de uma empresa ou de um projeto, o líder é a pessoa
que mais sabe, e é normal que suas decisões sejam impostas aos outros. O
problema é que em pouco tempo as pessoas em volta ficam treinadas a não
pensar por si mesmas e, quando mais precisar de ajuda, o líder estará sozinho”.
“O problema é que, nos estágios iniciais da empresa, o líder provavelmente sabe
mais mesmo. E depois ele rapidamente treina sua equipe para acreditar que ele
sempre sabe mais. Uma das maldições dos fortes é que eles treinam todos em
volta a não ser fortes”.
“Acredito que autonomia não é algo que se possa dar, é algo que as pessoas têm
de tomar”.
O autor demonstra ainda como ocorre o comportamento passivo do
subordinado dentro desse contexto conforme abaixo:
“Os subordinados se arrastam quando você lhes pede para fazer algo. Nas
reuniões, eles não dão idéias, apenas respondem. Eles não defendem com força
as suas crenças. Tornam-se passivos, do tipo ‘diga-me o que é para fazer e eu
faço’, o que significa que você está obtendo apenas uma fração pequena de seu
talento”.
Nóbrega(2002) critica o sistema que limita o talento das pessoas conforme a
seguir:
“As pessoas nunca foram realmente importantes na equação econômica. Elas
são consideradas custos, não recursos. É o sistema que é importante – o one best
way(termo em inglês para ‘a melhor maneira’) de Frederick Taylor, a linha de
montagem da Ford, a qualidade total de Deming. O sistema é rei porque tem
permitido a trabalhadores sem talento e sem preparo se saírem bem. Um
operário de linha de montagem não pode ser melhor que a média. Tem de ser
medíocre. Atrapalha a produção se não se conformar ao padrão”.
Nessa mesma linha crítica, Tom Peters, através de entrevista para
Reingel(2003), descreve como as pessoas são deixadas de lado no contexto organizacional:
126
“Esse pessoal que tanto fala de estratégia – Porter, Clayton Christensen – tem
idéias maravilhosas, mas deixa de lado aquela parte extremamente tediosa
chamada gente. (...) As organizações só mudarão se forem capazes de descobrir
aqueles indivíduos à margem da empresa, pouco notados, que estão sempre em
busca de algo novo. Essas pessoas devem ser estimuladas”.
Larry Farrel, consultor americano que lançou o livro “The Entrepreneural
Age”(“A Era do Empreendedorismo”) responde a Rosenburg(2002) como aconselha
executivos de grandes empresas a lidar com seus gerentes de maneira que estes sejam mais
empreendedores:
“Uma cultura favorável ao empreendedorismo. A alta direção tem de aceitar a
idéia de que é bom ter funcionários mais independentes e inovadores”.
Comentado sobre a mesma questão, Vassalo(2004) opina sobre como a questão
da inclusão das pessoas no meio empresarial não passa de moda para algumas empresas:
“Na última década, falar em pessoas como o centro da estratégia das empresas
tornou-se uma espécie de modismo. E para muitas organizações não passa disso – um
modismo”.
Cohen(2004) explica ainda como o modismo pode ser uma armadilha também
para as pessoas sob uma ótica mais generalista:
“A razão de eu ser contra modismos é que eles fazem as pessoas pararem de
pensar. Isso não significa que você não possa usar as idéias que surgem, significa que você
deve usá-las inteligentemente, adequando-as ao seu caso”
Partindo dessa linha de raciocínio, Pinchot(2003) opina sobre o intraempreendedorismo, termo que ele usa para identificar o empreendedor de dentro da empresa:
“Sempre houve intra-empreendedores nas companhias dando idéias e
implementando novos processos, novos serviços. Mas estar alerta para eles
ajuda a influenciar a cultura que favorece sua atuação. (...) Se a cultura não for
favorável a eles, há menos chance de surgir as mudanças necessárias à
sustentação do negócio”.
Um exemplo de uma cultura que ajuda os funcionários a explorarem seu
potencial é trazida por Mano(2001), em sua resenha sobre o então lançamento do livro
127
“Empresa Em Movimento” de Benoit Grouard e Francis Meston, conforme a seguir:
“Trata-se de criar uma dinâmica para a mudança entre os funcionários: deixar
claro o papel que cada um desempenhará e estimulá-los a participar. ‘O
objetivo é transformar esse grupo em defensores proativos e entusiastas da
mudança’, dizem os autores. ‘Nenhuma empresa conseguirá explorar bem
sequer a metade, um quarto ou até menos do potencial das pessoas limitando-as
às suas funções originais”.
Portanto, através das opiniões colhidas neste espaço pode-se ter uma idéia de
como foi o papel das pessoas dentro do contexto organizacional: passivo e , por falta de
espaço, carente de uma participação mais ativa no ramo de atividade de sua empresa.
128
8 – Conclusões
Considerando as abordagens trazidas pelo presente trabalho, que destacou as
condições pelas quais o ser humano transformou o meio em que vive, influenciando a
sociedade sob o ponto de vista global, descobrindo diferentes caminhos para explicar seu
comportamento racional e criativo; conclui-se que, ainda que se tenha escrito e mencionado
muita coisa sobre a importância de haver um equilíbrio entre a forma de pensar racional e
emocional, empregadores e empregados muito pouco foi feito para tomar esse caminho.
O mundo ainda vive ainda a euforia das descobertas da computação e dos
sistemas de informação, voltando seu foco para o processamento das informações de uma
forma rígida onde a flexibilidade ainda não faz parte do vocabulário organizacional. As
ferramentas de gestão difundidas por muitos pensadores vão sendo incorporadas à mentalidade
excessivamente racional da sistemática, onde o tão defendido pensamento sistêmico abrange
quase todos os pontos a serem considerados, deixando o mais importante deles para trás: as
pessoas.
Isso fica evidente atualmente ao prestar-se atenção na maneira com que os
executivos dirigem suas empresas no dia-a-dia. Agindo como se tudo se resumisse numa
verdadeira questão de vestibular, os executivos gastam maior parte do seu tempo tentando
resolver essa equação buscando combinar sua experiência bem sucedida no passado com todos
os seus recursos tangíveis disponíveis no momento, esquecendo-se do recurso intangível que é
o humano, capaz de trazer respostas criativas para diferentes problemas em diferentes
129
ocasiões. A partir do momento em que o executivo dedicar mais atenção aos seus
colaboradores, não importando a camada funcional ocupada por estes, o leque de soluções
para sanar um problema ou adotar um novo produto abrir-se-á mais ainda sem mencionar
ainda na contribuição para o bom relacionamento entre ambos tendo em vista que esse sinal de
consideração diminuirá a distância entre as camadas funcionais ocupada pelo empregador e
seu funcionário.
Por sua vez, o funcionário contribui para a continuidade desse cenário deixando
de se impor, escolhendo a passividade como forma mais segura de não se expor ao que
considera ridículo. Conforme abordado pelo presente trabalho, o homem foi condicionado a
obedecer ao seu superior durante séculos. É chegada a hora dele despir-se desse fardo e
superar a barreira que o separa do contato mais íntimo com o seu produto ou serviço. Não
basta que somente o executivo da empresa mude sua mentalidade. O funcionário também tem
de impor a sua posição de colaborador, contribuindo realmente para o aperfeiçoamento do
objeto do negócio, sentindo-se realizado pela participação no sucesso do negócio ou
entendendo racionalmente e emocionalmente porque sua idéia não foi adotada perante uma
justificativa apresentada pelo seu superior.
Por fim, o presente trabalho conclui que, apesar de a humanidade ter evoluído
consideravelmente sua tecnologia e seu modo de pensar e agir com normas e regras diferentes,
o homem persiste ainda em ser escravo delas, acomodando a si próprio e ao seu próximo. Este
trabalho espera conscientizar tanto o executivo quanto o funcionário a repensarem seus papéis
dentro da organização, ao mesmo tempo em que busquem uma reorganização de suas vidas
pessoais através da atenção ao modo como o relacionamento interpessoal e intrapessoal está
sendo conduzindo, bem como até que ponto estão sendo muito racionais ou muito emocionais
em determinados momentos.
130
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disponível em pdf - Faculdade Marechal Rondon