Por Cristiane Rubin – [email protected] /
Marcela Donini – [email protected]
João Vítor Jornada, 21 anos, estudante de Administração de Empresas na
ESPM, gerencia uma equipe de 10 corretores de imóveis, todos mais velhos
do que ele. O guri é dono do seu próprio negócio e não é que ele se sinta
desconfortável com sua pouca idade, mas confessa mentir a idade (para
mais), algumas vezes.
Faz pouco mais de um mês que ele e um sócio (esse sim, mais experiente) assumiram a gerência de uma franquia de negócios imobiliários na Capital:
– Era um sonho que parecia muito distante. Mas, apareceu a oportunidade,
e era um investimento viável. Não podia deixá-la passar. O melhor de tudo é
que nosso primeiro mês foi acima das expectativas, e isso nos motivou muito
– conta João, que há três anos trabalha na área.
Acostumado a cumprir horário, João agora é o primeiro a chegar e o último a
sair da empresa – seja sábado, domingo ou feriado –, e ainda frequenta as
aulas do último ano de faculdade de Administração de Empresas na ESPM:
– Acho que o importante é, dentro da empresa, passar uma imagem de
liderança, responsabilidade, tranquilidade e motivação, independente de eu
ainda ser um estudante e ter 21 anos.
Apesar de incorporar o terno, a gravata e a pose de executivo, ele jura
ainda ter tempo de ser jovem e curtir com os amigos. Dentre os compromissos, dormir deixou de ser prioridade para João, que é cheio de planos para o
futuro e acredita ter tomado a decisão acertada.
– Eu tinha muitas dúvidas no momento de escolher uma profissão. A Administração me abriu um leque de possibilidades que dificilmente outra área me
proporcionaria. A carga de responsabilidade de ter um negócio é realmente
muito grande, mas tô muito realizado e isso compensa tudo.
Os irmãos Lucas e Pedro Mansur Fidelix, 21 e 19 anos, respectivamente,
já sabem o que o futuro os reserva: ocupar o lugar do pai, que possui uma
empresa de representação de produtos médicos hospitalares para cirurgias.
– Desde que saí do colégio, quando tinha 17 anos, eu trabalho com meu pai.
Já passei por várias áreas da empresa, do estoque, até o setor importações. Hoje, trabalho com vendas – conta Lucas.
Com Pedro não foi diferente. A escolha foi uma consequência natural, já que
os dois cresceram acompanhando o trabalho do pai e sabendo que um
dia tudo aquilo seria deles.
– Meu pai não gostaria de não ter para quem deixar uma empresa que ele
começou do zero, né? Acho natural que a gente demonstre interesse – conta, Pedro.
– Não consigo me imaginar trabalhando em outra coisa. Na verdade, foi uma
escolha lógica. No meu primeiro dia de trabalho, logo depois que me formei no
colégio, levantei da cama e simplesmente fui pra empresa porque foi o que eu
sempre quis. Foi natural, não houve pressão – complementa, Lucas.
Não é uma regra em negócios de família, mas, no caso dos guris, trabalhar
com o pai só traz benefícios.
– Ele é muito tranquilo e compreensivo. E é muito bom começar a trabalhar
numa empresa com uma estrutura já toda montada esperando por ti – dizem.
Tanto, que, às vezes, responsabilidade não é o forte da gurizada:
– Ah, a gente chega atrasado e se sente menos preocupado quando faz algo
errado. Esse é o ponto negativo. Se fôssemos empregados de outra empresa, seria diferente.
“O importante é passar uma
imagem de liderança e responsabilidade, independente de eu ainda ser
um estudante.”
“Nosso pai não gostaria de
não ter para quem deixar
uma empresa que ele começou do zero, né?”
Embora você imagine que ser
chefe e não ter chefe seja a
melhor coisa do mundo, todos
que querem abrir um negócio
precisa ter em mente alguns
pontos: é necessário que a pessoa tenha um capital inicial a
investir e que ela encare o risco
de o negócio não dar certo e de
a grana investida não retornar.
Para a psicóloga do Núcleo de
Apoio Estudantil (NAE) da UFRGS, Cláudia Sampaio Corrêa
da Silva, outra ilusão é achar
que o dono do seu próprio
negócio vai trabalhar só quando
quer: ele vai estar envolvido em
todos os problemas da empresa
e, certamente, será a pessoa
que mais vai ralar.
Contudo, se é isso realmente
o que você quer, o empreendedorismo pode ser aplicado
em várias áreas, independente
da formação. Para Cláudia, ser
empreendedor tem a ver com
perfil da pessoa: saber lidar
com risco, gostar de inovação e de liderança, vontade
de ir atrás das coisas e próatividade são características
de quem quer se aventurar por
esse caminho.
Segundo a psicóloga Cláudia,
a questão das empresas familiares é tão complexa que há
consultores que trabalham só
para ajudar na sucessão dos
negócios, afinal é preciso que
haja a preocupação de que
os filhos realmente tenham
interesse e o mínimo de habilidade naquilo:
– Ter o contato desde mais jovem com o negócio possibilita
que a pessoa vá descobrindo
interesse e queira contribuir
com esse trabalho. Acho que
esse é o ponto positivo. Mas,
quando esse processo é feito
muito automaticamente, sem
reflexão, acaba sendo uma
escolha por comodidade. E,
às vezes, os jovens se sentem
pressionados, mesmo que não
diretamente.
Poder analisar a questão por
outros aspectos, além da
comodidade, é fundamental.
Então se o desejo é continuar
o trabalho do pai ou da família,
ótimo. Caso contrário, que o
jovem pense em outras possibilidades – dá a dica.
O fisioterapeuta Robson Souza de Almeida, 25 anos, conseguiu o que muita gente
almeja: ele nem tinha se formado quando passou em um concurso público. Em
janeiro de 2008, exatamente uma semana depois da formatura, já estava se apresentando na escola de formação obrigatória para ingressar nas Forças Armadas,
onde está até hoje.
– Eu sempre gostei e tive interesse na área policial e militar. Tanto que, quando saí
do colégio, fiz concurso para a Academia de Polícia Militar do Barro Branco, para me
formar oficial da Polícia Militar de São Paulo – conta.
Não conseguiu a aprovação para o curso da Academia de Polícia, mas passou no
vestibular para Fisioterapia.
– Comecei a cursar Fisioterapia sem ter certeza de que era isso que eu queria fazer pelo resto da vida. Durante o curso, percebi que realmente gostava da profissão,
mas que ela não havia tirado meu foco dos concursos públicos.
Depois de ter realizado sem sucesso vários concursos em prefeituras da região de
Campinas (SP), onde morava na época, veio a aprovação no concurso. Hoje está
realizado, pois conseguiu conciliar as duas coisas: trabalhar como fisioterapeuta
nas Forças Armadas.
– Como fisioterapeuta, exercendo o mesmo número de horas, seria bem improvável
eu receber um salário maior do que eu ganho hoje – comenta.
Desde o início deste ano, Robson frequenta todos os dias as aulas de um cursinho
preparatório para o próximo concurso público: ele quer ser agente da Polícia Federal.
E não é que ele não curte o que ele faz, muito pelo contrário:
– Passei num concurso temporário. Meu cargo tem prazo de validade. Posso ficar,
no máximo, nove anos onde estou. Se eu tivesse a possibilidade de me tornar estável nas Forças Armadas, com certeza, seguiria carreira e não pensaria em sair, mas
estou pensando no futuro e meu objetivo é passar em um concurso estável. Não
consigo mais me imaginar sem a certeza de ter todo o mês o meu salário em dia.
“As pessoas não deveriam
tentar um concurso só pensando no salário, mas também refletindo sobre a função que vão exercer”
Para alguns, ter uma remuneração é a preocupação principal
e, por mais que a gente viva
num mundo tão flexível, ainda
existe a crença de que escolher
a profissão certa garante que
você vá ganhar bem. Contudo,
a segurança de um bom salário
pode ser alcançada por meio de
várias profissões, não necessariamente tradicionais.
– A área da tecnologia da
informação, por exemplo, não
é muito regulamentada, mas é
supernova e tem alta empregabilidade e remuneração
– diz a psicóloga.
Para a galera que optar por
concursos públicos, como
o Robson, vale lembrar que
você pode passar em um independente da sua formação.
Por isso, escolher uma área
que lhe traga satisfação é tão
importante.
– Não é um defeito querer ter
uma estabilidade, uma segurança. Contudo, às vezes, a pessoa
passa num concurso e fica
frustrada porque não pensou no
trabalho que iria ter. Corre o risco
de escolher uma coisa que não
gosta fazer – ressalta Claudia.
Bate-papo + música
No dia 16, rola o Diretoria Kzuka, às 15h, no
Clube Leopoldina Juvenil. O bate-papo será
sobre mercado de trabalho e vai tirar todas as
dúvidas da galera. Para participar, mande email para [email protected], No final do
evento, tem show com Tiago Iorc e
Área Restrita.
O plano parece simples: sair do colégio, fazer um cursinho, entrar na faculdade e conseguir um emprego. Mas e se você não passa no vestibular? E se o que você quer fazer
não tem ou não precisa de universidade?
Por quatro anos, Eduardo Medeiros prestou vestibular para cursos diferentes: Publicidade e Propaganda, História, Geografia e Educação Artística. Enquanto estudava e
trabalhava em um cursinho da Capital, botou na cabeça que queria ser professor.
– Entrei na onda de ser um professor legalzão e ganhar dinheiro com isso – brinca.
Paralelamente, Eduardo já fazia uns trampos com o que, na realidade, já era o seu futuro se concretizando, ilustrações. Basta um lápis e alguns segundos para entender
o que o cara levou anos para se dar conta: Eduardo é muito talentoso. A família também
demorou para apostar suas fichas no rapaz.
– Meu vô vivia deixando propagandas de cursos na minha caixa de correio – conta.
Hoje o único dos três filhos que não entrou na faculdade é orgulho da família. Sem emprego fixo, mas cheio de trabalhos para editoras, Eduardo, 27 anos, se prepara para lançar
nos Estados Unidos o projeto que criou com dois amigos, a série Mondo Urbano. Como
animador, trabalhou no longa Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock’n’Roll. Casado com
Aline Soares Gomes, 28 anos, e “pai” de três gatas, Eduardo não tem do que reclamar.
– Há trabalhos que pagam bem, outros valem pela visibilidade. Tem que ter contatos, mas
não basta mandar email, é preciso apertar umas mãos, se fazer presente – ensina.
Eduardo conta que cogitou se mudar para São Paulo, mas, prefere viajar de vez em
quando, para visitar feiras e eventos da área, e permanecer em Porto Alegre – ou até
Floripa, pensa – e levar um estilo de vida mais sossegado.
Sossegado naquelas, né? O cara levanta às 7h30min todos dias e trabalha até a noite,
dependendo dos prazos de cada trabalho. Já fez ilustrações para Editora Abril, Folha de
S. Paulo, Revista Mad... Agora, entre outros projetos que ainda são segredo, prepara-se
para participar da obra MSP 50 – Mauricio de Sousa por 50 Artistas.
– Por mais que eu me mate trabalhando aqui em casa, acho que a minha família só entendeu o que eu faço quando contei que fui convidado a desenhar a Turma da Mônica.
Ganhei uma janta, um brinde, muitos parabéns e, reza a lenda que vou ganhar uma estátua na entrada do prédio da minha mãe, palavras dela – escreveu no seu blog
www.hellatoons.wordpress.com.
“Há trabalhos que pagam bem, outros valem pela visibilidade.
Tem que ter contatos
e se fazer presente.”
O ideal seria o jovem poder
fazer algo que lhe dê prazer,
afinal, o trabalho ocupa tanto
da nossa vida, que fazer algo
que se gosta implica em levar
uma vida mais saudável.
Certo? Nem tanto. Isso não é
suficiente, uma vez que algumas coisas que a gente gosta
não são possíveis de serem
transformadas em trabalho.
– Escolher a profissão pela
vocação, talento, prazer, a
princípio, é uma coisa bem
positiva, mas é fundamental
aplicar esse talento no trabalho – diz Claudia.
A galera tem que tentar
conciliar essa análise do que
se gosta com outra análise: a
do mercado de trabalho, das
oportunidades.
– Às vezes a pessoa gosta
muito de desenhar, assim
como o Eduardo, mas ela tem
que compreender também em
que lugar do mundo ela pode
desenhar, onde há trabalho
pra ela – explica a
profissional.
FOTOS RENATO BAIRROS
Esta não é mais uma reportagem sobre escolha da profissão.
Desta vez, não vamos listar os cursos mais modernos ou mais
procurados. Por meio de quatro histórias, apresentaremos diferentes motivações que levaram estes jovens a trilhar o seu futuro.
E para você, o que é mais importante: grana, segurança, desafio, realização pessoal ou tudo isso junto? Leia as histórias
abaixo e inspire-se.
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