157 CAPÍTULO 14 – GEOCOMPOSTO BENTONÍTICO 1. Características Os geocompostos bentoníticos – GB - podem ser definidos como uma barreira hidráulica geossintética que consiste de argila bentonítica sódica encapsulada por geotêxteis unidos somente nas bordas ou ao longo de toda a superfície através de agulhamento ou ponteamento. A bentonita pode também ser aderida a geomembranas por adesivos químicos. Estes geocompostos são apresentados em bobinas com largura e comprimento em torno de 5 e 50 metros, respectivamente, e geralmente usados como alternativa em substituição a camada de argila compactada ou como camada complementar em sistemas compostos por vários geossintéticos e camada de argila compactada. O peso de argila bentonítica é da ordem de 5 kg/m2, com teor de umidade de 10 a 20%, podendo também ser fornecida seca. Uma das principais características da bentonita é sua habilidade de expansão, quando em contato com líquidos, como também de autocicatrização, habilidades que a argila compactada não possui, Boardman and Daniel, 1996. Quando hidratada sob confinamento, a bentonita expande-se formando uma camada de baixa permeabilidade, que funciona como proteção hidráulica similar a vários centímetros de argila compactada. O comportamento do GB, tanto no estado seco como no úmido, e também da argila compactada utilizada com função de barreira de baixa permeabilidade, deve ser tal, que após experimentar um ou mais ciclos de umedecimento e secagem sua permeabilidade mantenha-se inalterada. 2. Histórico O uso de geocompostos bentoníticos – GB – como geossintético utilizado para barreira hidráulica começou em 1988 nos Estados Unidos, quando foi usado pela primeira vez num aterro sanitário sob uma geomembrana. Na mesma época este geossintético começou a ser produzido na Alemanha, Koerner 1999. Nos Estados Unidos a maior aplicação dos GB tem sido tanto em base como em cobertura de aterros sanitários e de resíduos industriais, geralmente sob uma geomembrana. 3. Tipos de Geocompostos Bentoníticos (GB) De acordo com a maneira como são fabricados, os GB podem ser reforçados ou não. Em taludes é recomendável o uso dos GB reforçados, que possuem maior resistência ao cisalhamento. Na figura a seguir são apresentados os tipos de GB disponíveis no mercado internacional. Manual de Geossintéticos – 3ª edição 158 (a) Argila Betonítica encapsulada por dois geotêxteis (b) Argila Bentonítica ponteada entre dois geotêxteis (c) Argila Bentonítica agulhada entre dois geotêxteis (d) Argila Bentonítica aderida a uma Geomembrana de PEAD Tipos de Geocompostos Bentoníticos disponíveis no Mercado Internacional (From Koerner, 1999) Manual de Geossintéticos – 3ª edição 159 4. Aplicações Os Geocompostos Bentoníticos (GB) substituem com grandes vantagens a argila compactada em obras como: • Aterros sanitários (revestimento da base e cobertura) • Valas de resíduos industriais • Proteção secundária em armazenamento de combustíveis • Reservatórios de água e lagoas ornamentais Embora os GB possam ser utilizados como revestimento único, tem sido mais freqüente o seu uso em sistemas compostos de revestimentos geossintéticos com geomembranas e geocompostos drenantes, tanto na base como na cobertura de aterros sanitários e vala de resíduos industriais. Num sistema composto, usualmente o GB é colocado sob a geomembrana, substituindo a camada de argila compactada, como na figura abaixo. Nesta figura, Koerner 1999, são ilustrados três alternativas de barreiras: a primeira somente camada de argila, a segunda sendo uma camada de argila e uma de geomembrana e a terceira um GB e uma geomembrana. (a) Barreira de Argila Compactada (b) Revestimento composto: Geomembrana e Argila Compactada Manual de Geossintéticos – 3ª edição 160 (c) Revestimento composto: Geomembrana e Geocomposto Bentonítico Alternativas de Composição de Barreiras Impermeabilizantes (From Koerner, 1999) A figura abaixo mostra um corte de uma vala de resíduos com revestimento composto por vários geossintéticos. Geocomposto Bentonítico substituindo a camada de Argila Compactada sob a Geomembrana (From Koerner, 1999) Manual de Geossintéticos – 3ª edição 161 Num sistema duplo, para revestimento do fundo de valas de resíduos ou de áreas planas, o GB pode compor o revestimento primário (superior) com uma geomembrana (GM) e o revestimento secundário ser constituído por uma geomembrana (GM) e uma camada de argila compactada (AC), veja figura a seguir. A redução de percolado infiltrado em obras executadas com a composição GM/GB em relação a uma única GM ou a composição GM/AC é significativa, segundo Koerner 1999. No caso de somente uma geomembrana (GM) sobre uma camada drenante, a ocorrência de furos direciona o percolado para o sistema drenante, e caso este não exista, contaminará o solo de apoio da geomembrana. Na composição GM/AC é difícil distinguir se a água é resultante do adensamento da camada de argila ou se é proveniente de vazamento do percolado. No conjunto GM/GB, o GB é instalado seco ou com pouca umidade, absorvendo portanto, qualquer vazamento através de furos ou defeitos da GM, resultando que na maioria dos casos quase nenhum vazamento que ultrapassa o GB, segundo a tabela 5.17 do artigo de Othman et al., 1997. Geocomposto Bentonítico em sistema composto com Geomembrana na Cobertura da Vala de Resíduos e em sistema duplo de revestimento na Base da Vala Manual de Geossintéticos – 3ª edição 162 5. Vantagens do uso dos Geocompostos Bentoníticos em relação à Argila Compactada • Produto industrializado fornecido em bobinas, portanto menor tempo e custo de instalação. • Menor custo de fornecimento, quando não há jazida de argila próxima a obra. • O GB não é susceptível a trincamento como a argila compactada, na qual as trincas alteram o grau de proteção da barreira, quando ocorrem recalques. • Aumento da capacidade de armazenamento da vala ou da bacia de deposição dos resíduos. • Não causa dano ambiental como na extração de argila na jazida. 6. Particularidades dos Geocompostos Bentoníticos (GB) Uma vez que a função principal dos GB é de barreira hidráulica, sua hidratação e conseqüente expansão são parâmetros importantes e críticos para o seu bom desempenho. Os GB podem ter uma hidratação diferenciada dependendo da natureza do líquido em contato. Assim sendo, serão diferentemente hidratados quando em contato com água pura, águas servidas, chorume e não são hidratados quando em contato com derivados de petróleo, devendo neste caso ser pré-hidratados. 7. Propriedades Relevantes 7.1. Condutividade hidráulica A condutividade hidráulica do GB é da ordem de 10-9 cm/s, para aqueles encapsulados em geotêxtil e de 10-12 cm/s para os aderidos a geomembrana. Esta propriedade não apresenta diferenças significativas entre os GB fabricados no mercado internacional, segundo dados experimentais, exceto para os GB com geomembranas. Ainda segundo pesquisas realizadas, nas emendas a condutividade não fica comprometida, MBG, 2004 – Capitulo 13. 7.2. Resistência ao cisalhamento A argila bentonítica, quando hidratada, apresenta baixa resistência ao cisalhamento. O reforço introduzido pelo agulhamento entre os geotêxteis das duas faces do GB, geralmente resolve este problema, no entanto a instalação e as condições da obra durante a sua vida útil, não devem alterar as condições do produto. A resistência de interface entre o GB e o material adjacente (geotêxtil ou geomembrana) também é um fator importante a ser considerado no projeto que especifica este geossintético. 7.3. Autocicatrização A excelente capacidade de expansão da bentonita sódica, que constitui o GB, faz com que nos locais de eventuais furos de pequeno tamanho, resultantes de danos de instalação haja uma autocicatrização, com conseqüente desaparecimento do dano. Também nos ciclos de secagem e umedecimento do GB, quando na secagem ocorrem trincas, devido à capacidade de autocicatrização deste Manual de Geossintéticos – 3ª edição 163 geossintético há recuperação das propriedades hidráulicas, quando se dá nova hidratação, MBG, 2004. 8. Instalação Como as geomembranas, os GB devem ser colocados no sentido da máxima inclinação do talude e a modulação dos painéis deve fazer parte do projeto executivo. As emendas dos GB são executadas por traspasse de no mínimo 15 cm, colocando-se bentonita em pó, na quantidade indicada pelo fabricante, entre as extremidades dos dois painéis a serem unidos. 9. Referências Bibliográficas 9.1. ABINT (2004). “Manual Brasileiro de Geossintéticos” – Editora Edgard Blücher – pp 335-379. 9.2. Boardman, B. T. and Daniel, D. E. (1996). “Hydraulic Conductivity of Desiccated Geosynthetic Clay Liners” J. Geotechnical Eng., ASCE, Vol. 122, No. 3, pp. 204208. 9.3. Koerner, R. M. (1999). “Designing with Geosynthetics” – Fourth Edition. Prentice Hall, N.J. 9.4. Othman, M. A., Bonaparte, R. and Gross, B. A. (1997). “Preliminary Results of Study of Composite Liner Field Performance” – J. Geotextiles and Geomembranes. Manual de Geossintéticos – 3ª edição