Noções de Comércio Exterior -Fábio Silva - UNIGRAN Aula 07 PROTECIONISMO I (Barreiras Necessárias X Entraves ao Comércio Exterior) http://www.suapesquisa.com/o_que_e/ protecionismo.gif acesso em 3/7/2010 às 15h20 Antes de apresentarmos quais são as barreiras comerciais utilizadas pelos países para proteção do seu mercado, temos que entender a diferença conceitual entre as barreiras que são necessárias das barreiras consideradas entraves ao comércio exterior (Comex), já que as ferramentas são as mesmas. Quando afirmamos que algo é necessário, com certeza deve existir um motivo, uma razão para tal necessidade, concorda? Agora volte na aula 5, que versa sobre o Liberalismo Econômico e o Liberalismo Moderno e se atente aos conceitos de cada um, pois, aquela aula, será fundamental para a sua compreensão, para assim destacarmos onde está a diferença entre BARREIRAS NECESSÁRIAS das BARREIRAS consideradas ENTRAVES AO COMEX. Nesta mesma aula (cinco), vai ser necessário rever o conceito das 5 (cinco) estruturas de agressão ao mercado, MONOPÓLIO, DUMPINGS e as ESTRUTURAS OLIPOLISTAS, pois, com essas definições irá obter um melhor entendimento e saber diferenciar quando uma BARREIRA é NECESSÁRIA e quando essa BARREIRA será um ENTRAVE AO COMÉRCIO EXTERIOR (COMEX). Vamos ajustar pequenos pontos para que você tenha um melhor entendimento. 1. O liberalismo econômico prega que o Estado não deve intervir na economia; 1.1. Antes disso, foram elaborados as teorias (Adam Smith e David Ricardo) para a melhor condução do processo do livre comércio. 39 Noções de Comércio Exterior -Fábio Silva - UNIGRAN 1.2. Ao mesmo tempo, que são apresentadas as teorias do livre mercado, que entram em choque com os pontos negativos e suas consequências devido a esse liberalismo puro, que resultam nas estruturas de agressão, essas que são os monopólios, dumping e as estruturas oligopolistas. 2. Em segundo plano, aparece o liberalismo moderno, que já admite uma intervenção do Estado na economia, mas de forma racional e principalmente planejada, com o intuito de proteger o mercado das estruturas que denominamos no item 1.2 como sendo prejudicial à economia. 3. Os países, sem nenhuma exceção, aproveitam essa “brecha” e impõe essas mesmas barreiras de proteção ao seu mercado, mas de maneira desordenada e sem racionalidade, causando essas brigas desproporcionais junto a Organização Mundial do Comércio (OMC), que hoje são denominadas como protecionismo. Agora, após termos feito essa recapitulação e, com certeza, você deve ter feito uma nova leitura na aula 5, creio que podemos continuar, pois, você já sabe diferenciar, de forma conceitual, uma barreira que é necessária de um entrave ao comércio exterior, certo. Com o entendimento conceitual, agora irá conhecer as ferramentas utilizadas pelo Estado para fazer a proteção do mercado. Entendeu mesmo? Caso sim, vamos continuar. Você sabe quais são as principais formas de proteção utilizado pelos países? Maia (2007, p. 174) cita as principais formas de um país “proteger” o seu mercado, chamando essa “proteção” de barreiras. Veja que essas mesmas formas de proteger um mercado, quando não são aplicadas de forma coerente, com racionalidade e, planejamento, da noite para o dia, podem se transformar em entraves ao comércio exterior (COMEX), trazendo prejuízos até maiores para a sociedade. Essas barreiras podem ser através das: 40 Noções de Comércio Exterior -Fábio Silva - UNIGRAN Barreiras alfandegárias: O governo aumenta os impostos alfandegários. Não há proibição da importação; elas tornam o produto estrangeiro proibitivo devido à elevação dos preços. Quotas de importação: São implantadas quando a indústria nacional produz em quantidade insuficiente para atender o consumo interno. Diante disso, o governo permite importar somente o necessário para compensar a falta do produto, sem, prejudicar a produção nacional. Taxa de câmbio: quando o governo mantém controle do câmbio (monopólio cambial), eleva a taxa cambial para encarecer a mercadoria importada, tornando-a proibitiva. Tem muita semelhança com a barreira alfandegária. Complementando, também existem os subsídios, que no caso de importações, o Estado assume parte do custo de determinado produto, ou faz a doação de terrenos, ou infraestrutura, ou faz a renúncia fiscal, entre outras formas legais. Neste último caso, quando minimiza ou zera a tributação, exemplo, quando o governo brasileiro zerou os tributos para a importação de trigo da Argentina, principal matéria- prima para pães, macarrão, dentre outros produtos que compõe a cesta básica do brasileiro (reportagem no site do ministério da fazenda, que pode ser assistido no link http://www.fazenda.gov.br/video/2008/maio/v150508d.asp). Essa ação feita pelo exe cutivo tem como intenção não deixar faltar o alimento, controlar o aumento dos preços desses produtos que são considerados como de primeira necessidade e frear a inflação. Outro exemplo é a queda do IPI, no caso das montadoras de automóveis e eletrodomésticos da linha branca. Abrindo um parêntese, quando uma empresa se utiliza de subsídio para a exportação, pode ser caracterizado como dumping internacional e pode ser punida de acordo com a regulamentação da Organização Mundial do Comércio (OMC). Também existem as licenças de importação e exportação, cujo controle o Estado detém. Tal ação, porém, engessa a economia, burocratiza o processo e facilita a corrupção. Maia (2007, p. 216). Veja que essas 5 (cinco) formas são as principais ferramentas utilizadas pelos gestores públicos para as "proteção do mercado”. RECAPITULANDO, temos: 1. As Barreiras alfandegárias; 2. As Quotas de importação; 3. A Taxa de câmbio; 4. Os subsídios e; 5. As licenças de importação e exportação; Para que essas medidas de defesa, utilizados pelo gestores públicos, não se transformem em ENTRAVES ao comércio internacional, deve ser muito bem estruturada, ter prazos determinados para iniciar e terminar e durante a vigência, o executivo deve fiscalizar de forma coerente se realmente as empresas do setor repassaram essa diferença ao consumidor e estão procurando se adequar. E de forma paralela, deve estar elaborando um plano de recuperação 41 Noções de Comércio Exterior -Fábio Silva - UNIGRAN para as empresas mais abaladas. Não adianta adotar apenas essas ações de forma remediativas sempre que uma nova empresa tenta entrar. Essas ferramentas deveriam funcionar como uma vacina e sempre, em situações semelhantes, as empresas já estariam protegidas, sem a necessidade do governo interferir. Mas, o que vemos são apenas medidas paliativas. Com isso, as empresas ficam acomodadas, não investem no seu segmento, e quem sempre sai prejudicada é a sociedade. Essas barreiras, cada vez que são impostas sem nenhum planejamento, têm uma única intenção, que é a de frear o progresso e deixar as empresas acomodadas, pois, com isso se inibe a livre concorrência e com certeza, a sociedade será a única a ser penalizada. Veja o exemplo abaixo: Produtores de aço norte americanos se sentiram prejudicados com a importação da matéria-prima, pressionado o governo a elevar a tarifa alfandegária, como consequência a chapa de aço da indústria automobilística ficou 40% mais cara, a partir daí o carro americano começou a perder espaço ao carro japonês (Maia cita Veja, de 03-04-1996). Veja que a ação focada em frear a importação, foi algo sem um planejamento, adotaram por pressão e com o tempo tal ação reverteu contra o próprio mercado. Nesta aula, falamos sobre: A diferença conceitual entre: BARREIRAS NECESSÁRIOS ou BARREIRAS que SÃO NECESSÁRIAS dos ENTRAVES ao COMÉRCIO EXTERIOR; E apresentamos quais são as principais BARREIRAS que os governos se utilizam como medidas de PROTEÇÃO; Vejam que tanto o BARREIRAS NECESSÁRIAS quanto os ENTRAVES AO COMÉRCIO EXTERIOR se utilizam das mesmas ferramentas, sendo que a principal diferença está no planejamento, fiscalização, racionalidade do executivo na aplicação dessas medidas. Veja no exemplo da indústria automobilística americana, o governo usou de forma irracional uma das cinco ferramentas (tarifa alfandegária) para inibir a importação de determinada matéria prima, ele conseguiu atingir esse objetivo, mas devido a irracionalidade e a falta de um planejamento, tal ação que no início foi usado como uma barreira que eles classificaram como “necessária”, acabou se tornando um entrave ao comércio exterior e o resultado, é esse que acompanhamos até hoje, onde os japoneses TOYOTA e HONDA nadam de braçadas a frente das gigantes FORD e GM. 42 Noções de Comércio Exterior -Fábio Silva - UNIGRAN Espero que tenha entendido, pois, tudo que está sendo apresentado, o professor irá cobrar nas atividades e provas, ok? Vamos continuar, pois, o nosso tempo não para. E aproveitando, está se dando bem com os prazos, está cumprindo o cronograma? Leia a reportagem abaixo como complemento O FUTURO FRAGMENTADO DO COMÉRCIO MUNDIAL NEUBACHER, Alexander, traduzido por George El Khouri Andolfato, acessado em 06/08/2008 A idéia era criar um regime unificado de comércio para o mundo todo. Mas com o fracasso das negociações da OMC na semana passada, o futuro do comércio parece muito mais fragmentado. Uma miríade de acordos bilaterais está no horizonte - e guerras comerciais amargas são prováveis. Um dia após o colapso das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) em meio a disputas na terça-feira (29), com as limusines já enfileiradas ao longo do calçadão à beira do lago de Genebra, os participantes da conferência repentinamente pareciam ter chegado a um acordo - pelo menos no que se refere à escolha de palavras. A ministra do Comércio da Indonésia, Mari Elka Pangestu, disse que ficou "profundamente desapontada". Kamal Nath, o ministro do Comércio da Índia, também expressou "profunda decepção". E quando a representante de Comércio dos Estados Unidos, Susan Schwab, falou de um "desdobramento muito decepcionante", o comissário europeu de Comércio e cínico confesso, Peter Mandelson, não conseguiu evitar, mas repetir o senso geral de pesar oficial em relação à conferência. Foi de "partir o coração", afirmou Mandelson sobre o resultado do encontro. Esta melancolia coletiva é certamente apropriada. Por nove dias, os principais representantes de 153 países tentaram em vão concordar com um novo conjunto de regras e regulamentações para reger o comércio internacional. O fracasso final deste esforço mais recente na semana passada pode marcar o fim do sonho da humanidade de um mundo sem fronteiras e barreiras alfandegárias. Um emaranhado confuso de acordos bilaterais Agora não se sabe se as negociações, que começaram no final de 2001 em Doha, a capital 43 Noções de Comércio Exterior -Fábio Silva - UNIGRAN do Qatar, continuarão. Um alto membro da delegação alemã resumiu o sentimento predominante como "assunto encerrado". Pascal Lamy, o diretor geral da OMC, estava longe de ser otimista. "Nós precisaremos deixar a poeira assentar", disse Lamy, cujo mandato termina no próximo ano. "Os membros da OMC precisarão analisar seriamente se e como poderão reunir os pedaços." Os especialistas temem que, em vez de um corpo uniforme de regras e regulamentações, o que surgirá agora é um emaranhado confuso de acordos comerciais bilaterais - em detrimento dos consumidores e dos países mais pobres do mundo em desenvolvimento. Ironicamente, foi uma discussão relativamente insignificante entre o negociador chefe indiano, Nath, e a negociadora americana, Schwab, que levou ao fracasso. Os dois delegados estavam fundamentalmente de acordo que a Índia deveria permitir a entrada de mais carne bovina e sementes americanas no país. O único ponto de disputa era quanto. Mas os dois negociadores foram colocados sob pressão demais na frente doméstica. Os Estados Unidos estão no meio de uma campanha eleitoral. E o ministro do Comércio da Índia teve que voar brevemente para casa, em meio às negociações, para ajudar a derrubar uma moção de não-confiança contra o governo. Ainda assim, o verdadeiro motivo para o fracasso das negociações é mais profundo. As preocupações com a globalização se tornaram maiores do que as esperanças que produz, mesmo nos países industrializados e nas economias emergentes bem-sucedidas. Lamy agora se refere ao desastre da última terça-feira como um "fracasso coletivo". Forçando outros a fazer concessões As raízes do problema estão no aumento predominante do egoísmo nacional e territorialismo. Até mesmo os representantes da União Européia foram incapazes de chegar a uma posição comum. Teoricamente, todos os países são favoráveis à redução das barreiras comerciais. Mas na prática os países estão mais interessados em reduzir as barreiras dos outros países, não as suas próprias. O jogo é forçar os outros a fazerem concessões sem terem de fazer qualquer sacrifício próprio. Os Estados Unidos, por exemplo, querem vender seus produtos agrícolas para as economias em ascensão da Índia e da China, e fazê-lo com o mínimo de barreiras possível. Mas ao mesmo tempo, os americanos se recusam a reduzir drasticamente os subsídios aos seus próprios produtores rurais e, por exemplo, permitir o aumento da importação de algodão de países como Burkina Fasso e outros países do oeste da África. O Brasil gosta de posar como defensor dos pobres e especialmente dos países em desenvolvimento vulneráveis, mas na verdade ele é há muito tempo um dos maiores exportadores de produtos agrícolas. O Japão quer fornecer seus carros para o mundo todo, mas fecha suas fronteiras ao arroz importado. E a supostamente progressiva União Européia (UE) impõe uma sobretaxa de 176 euros a cada tonelada de banana que entra na UE, a menos que venham de países colonizados pela Europa no passado. O resultado é uma penalização na prática aos países 44 Noções de Comércio Exterior -Fábio Silva - UNIGRAN que nunca foram vítimas da colonização. Na verdade, foram representantes da UE que alimentaram uma das disputas mais grotescas na recente rodada de negociações da OMC. A questão girou em torno dos frios. Os produtores italianos do presunto parma original estão irritados com o fato de frigoríficos do exterior usarem sua designação regional para presunto comum dos Estados Unidos. Alguns negociadores italianos pediram por uma proibição imediata desta pirataria de nome e marca. Alguns europeus foram fortemente a favor do esforço italiano. Os lobistas de vinho tinto francês apoiaram rapidamente. Os húngaros também se juntaram espontaneamente ao movimento anti-OMC. Outros delegados tentaram, em vão, apontar para seus pares que a indústria italiana de calçados é a que mais sofreria em caso de fracasso das negociações. Morte de uma grande idéia No final, mesmo os alemães fracassaram em exibir o entusiasmo necessário para uma maior liberalização. O ministro da Agricultura, Horst Seehofer, um membro do partido conservador União Social Cristã (CSU), está no meio das eleições parlamentares do Estado da Baviera e deseja o apoio dos produtores rurais bávaros, que tendem a ser contrários à redução das barreiras comerciais. O resultado é a morte de uma grande idéia. Após os ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001, muitos penderam para a idéia da abertura dos mercados dos países industrializados para os países subdesenvolvidos como forma de acalmar a raiva de seus cidadãos insatisfeitos. Agora, o verdadeiro preço do fracasso só começará a ficar claro no final do ano. A China e os Estados Unidos, em particular, assim como alguns representantes da UE, discretamente esperavam há algum tempo o fracasso das negociações de comércio mundial, e agora estão tirando o pó do plano B. Nos próximos meses, os especialistas esperam ver um aumento acentuado no número de negociações bilaterais visando estabelecer minialianças comerciais. Oficialmente a UE olha com desconfiança para essa estratégia. E na semana passada, o governo alemão insistiu novamente que acordos bilaterais não são uma alternativa. Mas a realidade é que preparativos concretos já estão em andamento. No final do ano, a UE poderá assinar um acordo de livre comércio com a Coréia do Sul e outro acordo com os países do Golfo. Muitos dos detalhes já foram acertados. Por exemplo, a única questão não resolvida com a Coréia do Sul é se a tarifa de importação de carros deve ser eliminada imediatamente ou reduzida gradualmente. Os europeus prefeririam uma solução negociada sob os auspícios da conferência da OMC. Mas agora eles se vêem forçados a aceitar uma versão abreviada. Como os americanos e, em particular, os chineses estão desenvolvendo alianças regionais, alguns temem que a UE possa ser excluída de mercados cada vez mais importantes na Indonésia, Tailândia e Malásia. O Japão já entrou em um acordo de parceria com a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). 45 Noções de Comércio Exterior -Fábio Silva - UNIGRAN Nenhuma catedral, nenhum mosteiro É claro, os acordos bilaterais são de pouca utilidade para a economia mundial. Pelo contrário, privilégios comerciais para alguns ocorrem em detrimento de outros. E a burocracia se torna ainda mais difícil de ser negociada. Os administradores das empresas dependentes de exportações há muito se irritam com a miríade de regulações, padrões e formatos que são obrigados a seguir. Os países que mais precisam de recuperação econômica também são afetados negativamente. Quanto mais fraco um país é economicamente, menos força ele tem nas negociações bilaterais. Mas mesmo os países industrializados enfrentam tempos difíceis à frente. O colapso das negociações da OMC significa um fim da trégua na guerra comercial acertada pelos países de todo o mundo. Os especialistas preveem que os atuais conflitos entre as gigantes da aviação Boeing e Airbus poderão agora levar a uma guerra comercial entre os Estados Unidos e a Europa. "Nós queríamos erguer uma catedral", disse um delegado alemão decepcionado, enquanto deixava Genebra na semana passada. "Em vez disso, não conseguimos nem mesmo erguer um mosteiro." Todos querem que o outro país reduza seu protecionismo, mas ninguém quer abrir mão dele. Creio que assim fica difícil chegar a um objetivo comum, mas vamos lá, que uma hora vai dar certo. 46