Resumos Expandidos INFLUÊNCIA DO TEOR DE UMIDADE DA MADEIRA DE BRACATINGA (MIMOSA SCABRELLA) NO USO ENERGÉTICO Gustavo Friederichs 1; Martha Andreia Brand 2; Tássio Dresch Rech 3; Adriel Furtado de Carvalho 4; Larissa Cardoso Küster 5 2 1 Graduando em Engenharia Florestal, CAV/UDESC ([email protected]) Professora do Departamento de Engenharia Florestal, CAV/UDESC ([email protected]) 3 Pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, Lages/EPAGRI ([email protected]) 4 Mestre em Engenharia Florestal, CAV/UDESC ([email protected]) 5 Graduanda em Engenharia Florestal, CAV/UDESC ([email protected]) Introdução e Objetivo Na paisagem natural, associada ao pinheiro-do-Paraná Araucaria angustifolia está a Bracatinga Mimosa scabrella Benth., espécie florestal de ciclo curto, com um crescimento rápido nos primeiros anos de vida. Fomentos florestais relacionados ao uso da bracatinga como opção energética iniciaram na década de 30 [1]. A qualidade da madeira utilizada para tal finalidade, pode ser ditada pela genética, ambiente, e tratamentos aplicados. Dentre os fatores que determinam a qualidade, está a secagem. A secagem da madeira inicia desde as etapas de silvicultura e colheita e transporte florestal. Brand [2] destaca que fatores como a época do ano em que a floresta será colhida, classificação das toras, formação das pilhas e o tempo ideal de estocagem para cada espécie, são determinantes da qualidade da madeira para uso energético. Lima & Garcia [3] destacam que a umidade da madeira, pouca importância tem recebido e há escassez, principalmente no Brasil, de informações sobre a influência do manejo florestal na variabilidade intra e entre árvores dessa propriedade e, também, sua relação com as fases de transporte, processamento, secagem e preservação da madeira. Além disto, a secagem da lenha reduz os custos de corte e de transporte, já que me- nores volumes serão necessários para gerar a mesma quantidade de energia [4]. O objetivo do presente estudo foi analisar a influencia do teor de umidade da madeira de Bracatinga (Mimosa scabrella) no seu uso energético. Material e Métodos Para a realização do presente estudo, foram necessárias 3 coletas de campo, nas quais foram obtidas 5 amostras de seções de fustes de Bracatinga (Mimosa scabrella) em diferentes propriedades rurais e datas. Todos os produtores rurais participantes das coletas são adeptos ao sistema de uso alternativo do solo roça de toco, e são cadastrados no Projeto Rede Sul Florestal: PD&I em sistemas florestais e produção de energia na agricultura familiar. As seções estavam empilhadas, estocadas para secagem ao ar, ao lado de fornos de carbonização e foram coletadas no momento em que seriam carbonizadas As seções de fuste utilizadas para composição das amostras apresentaram 1 metro de comprimento e diâmetro mínimo de 8 centímetros. As amostras foram embaladas em sacos plásticos e encaminhadas ao Laboratório de Tecnologia da Madeira da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC/Lages). As análises realizadas foram o teor de umi- 293 3º Encontro Brasileiro de Silvicultura dade pela norma NBR 14929 [5], densidade básica da madeira pela norma NBR 11491 [6] e poder calorífico superior pela norma DIN 51900 [7]. Para a obtenção de dados teóricos de poder calorífico inferior, líquido e volumétrico foram utilizadas equações já estabelecidas, citadas por Brand [8]. Resultados e Discussão O Quadro 1 apresenta as variáveis obtidas através das análises de laboratório. O Quadro 2 apresenta as variáveis obtidas através de equações supracitadas. Quadro 1. Teor de umidade na base úmida, densidade básica da madeira e poder calorífico líquido de 7 amostras de Bracatinga (Mimosa scabrella). Amostra TUbu Db PCS 1 34 622 4127 2 51 507 4100 3 46 601 4539 4 17 544 4656 5 19 617 4577 Média 33 578 4400 Onde: TUbu: teor de umidade na base úmida, %; Dbm: densidade básica da madeira, kg m-3; PCS: poder calorífico superior, kcal kg-1; Quadro 2. Poder calorífico inferior, poder calorífico líquido e poder calorífico volumétrico de 7 amostras de Bracatinga (Mimosa scabrella). Amostra PCI PCL PCV 1 3803 2306 1434 2 3776 1544 783 3 4215 2000 1202 294 4 4332 3494 1900 5 4253 3331 2055 Média 4076 2535 1475 Onde: PCI: poder calorífico inferior, kcal kg-1; PCL: poder calorífico líquido, kcal kg1 ; PCV: poder calorífico líquido volumétrico, Mcal m-3; Observa-se no Quadro 1 que o teor de umidade da madeira de Bracatinga (Mimosa scabrella) teve variação de 34% entre as amostras. Pode-se supor que as amostras apresentaram diferentes períodos de secagem ao ar (estocagem). Brand [8] destaca que teores de umidade abaixo de 30% são aceitáveis para o uso energético. Sturion & Tomaselli [3] destacam que a redução do teor de umidade da madeira de Bracatinga ocorre drasticamente até o 3 mês após o corte, e então estabilizando-se. A densidade básica da madeira variou de 507 kg m-3 a 622 kg m-3. Diversos autores mencionam que essa variação pode estar relacionada à fatores genéticos e ambientais que estimulem a deposição de componentes químicos nas células de xilema secundário. A energia liberada na combustão da madeira é representada pelo poder calorífico. O poder calorífico superior da madeira de Bracatinga (Mimosa scabrella) teve variação igual a 556 kcal kg-1. Esse parâmetro permite determinar a quantidade máxima de energia que um combustível é capaz de liberar. Brand [8] destaca que em termos práticos, a diferença superior a 300 kcal kg-1, pode classificar fontes de biomassa florestal diferentemente quanto ao poder calorífico superior. O poder calorífico inferior (Quadro 2) apresenta a energia resultante da subtração do gasto calórico necessário para a eliminação do hidrogênio de constituição da madeira (≈6%), representando a energia Resumos Expandidos disponível ao teor de umidade de 0%. Para a madeira de Bracatinga (Mimosa scabrella), o poder calorífico líquido teve variação de 1950 kcal kg-1, sendo a que o maior valor foi encontrado para a Amostra 4 (3494 kcal kg-1). A Amostra 2, que apresentou poder calorífico superior de 3776 kcal kg-1, teve seu potencial reduzido a menos da metade desse valor (1544 kcal kg-1). Desta forma, a aquisição de madeira de Bracatinga, com teor de umidade superior a 50% acarretará na perda de aproximadamente 60% da energia por unidade de massa, se comparada àquela com teor de umidade de 0%. O poder calorífico volumétrico, que relaciona o poder calorífico líquido e a densidade básica da madeira apresenta a quantidade de energia líquida por unidade de volume de Bracatinga (Mimosa scabrella). A variação do poder calorífico volumétrico foi de 1272 Mcal m-3. O teor de umidade da madeira foi a propriedade que causou a variação supracitada. A Amostra 5, cujo teor de umidade foi de 19%, apresentou poder calorífico volumétrico de 2055 Mcal m-3, sendo a sua energia resultante superior em 262%, quando comparada à Amostra 2 (teor de umidade de 51%). Portanto, à uma demanda energética constante, a redução do teor de umidade, desde as fases de silvicultura e colheita, deverá requisitar uma área menor para ser suprida. Conclusão Com os resultados obtidos no presente estudo pode-se concluir que o elevado teor de umidade da madeira de Bracatinga (Mimosa scabrella) resulta na redução do poder calorífico líquido e volumétrico. A redução acarreta no consumo de maior quantidade de madeira para atender à determinada demanda energética local. Formas de manejo do teor de umidade devem ser iniciadas nas etapas de silvicultura, prolongando-se até a utilização final da madeira. Referências [1] EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de Florestas. Manual técnico da Bracatinga. Curitiba, PR. 88p. 1988. [2] BRAND, M.A. Qualidade da biomassa florestal para uso na geração de energia em função da estocagem. Curitiba, PR, 2007. 169p. Tese de Doutorado (Ciências Florestais). Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007. [3] STURION, J.A.; TOMASELLI, I. Influência do tempo de estocagem de lenha de Bracatinga na produção de energia. Boletim de Pesquisa Florestal, Colombo, n. 21, p.37-47, dez. 1990. [4] LIMA, I.R; GARCIA, J.N. EFEITO DO DESBASTE NO TEOR DE UMIDADE NATURAL DA MADEIRA DE Eucalyptus grandis Hill ex Maiden. Ciência da Madeira (Braz. J. Wood Sci.), Pelotas/RS, v. 03, n. 01, mai/2012. [5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14929: Madeira, determinação do teor de umidade de cavacos, método por secagem em estufa. Rio de Janeiro, 2003. [6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11491: Determinação da Densidade Básica. Rio de Janeiro, 2003b. [7] DEUTSCHES INSTITUT FÜR NORMUNG e. V. DIN 51900: Determining the gross calorific value of solid and liquid fuels using the bomb calorimeter, and calculation of net calorific value. Berlim, 2000. [8] BRAND, M. A. Energia de Biomassa Florestal. Rio de Janeiro, Interciência. 114p. 2010. 295