Expansão urbana e indicadores climáticos no município de Macapá – AP.
Keila Patrícia Cambraia dos Santos
Alzira Marques Oliveira4
1234
15
, Alan Cavalcanti da Cunha2, Uanne Campos Marques3 e
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) - [email protected]
RESUMO:
As projeções climáticas do IPCC para a segunda metade do século XXI evidenciam aumento
nos extremos de temperatura como conseqüentes ondas de calor e noites mais quentes. Tais
alterações meteorológicas são normalmente causadas por diferentes fatores, sendo a urbanização
uma das de maior relevância. Neste contexto, o objetivo da pesquisa é analisar o efeito da
expansão urbana a partir de indicadores de temperatura (Máx de Tmax e o Número de Noites
Quentes). A metodologia consistiu em avaliar a evolução do aumento da área urbana e estes
referidos parâmetros meteorológicos em Macapá entre os anos de 1985 e 2008. Os resultados
sugerem que tanto as máximas das máximas temperaturas e o número de noites quentes são
parâmetros relevantes que podem estar refletindo a alteração física do microclima local em
relação à expansão urbana desorganizada, caracterizando-se em um problema ambiental que
merece a atenção e estudos desta natureza.
ABSTRACT:
Urban expansion and climate indicators in the Macapá City - Amapá
The IPCC climate projections for the second half of the century suggests an increase in
extremes of temperature and consequent maxima temperature variability and warmer nights.
These weather changes are usually caused by different factores, being the urbanization the most
relevante. In this context, this research seeks to analyze the effect or urban increasing obtained
from indicators of temperature (max temperature and number of warmer nights). The
methodology is concerned to evaluate meteorological indicators to assess the evolution of urban
area increased and the temperature variability between 1985 to 2008 in Macapá. The results
suggests that both the maximum temperature and maximum number of warmer nights are
relevant parameters that may reflect the physical alteration of the local microclimate in relation
to the unorganized urban development. These factors can be characterized as environmental
problem that deserves attention and similar studies.
1. INTRODUÇÃO
As mudanças no clima podem acarretar significativos impactos em vários setores social,
econômico e principalmente ambiental. Os extremos climáticos associados à temperatura e
precipitação podem afetar especialmente o consumo de energia, gerar desconforto térmico e até
prejuízos relacionados ao turismo, quando ocorrem eventos extremos (SUBAK et al., 2000;
QIAN e LIN, 2005).
Segundo o Relatório do IPCC (2007), para as próximas duas décadas, projeta-se um
aquecimento de cerca de 0,2 ºC por década para uma faixa de cenários de emissões do RECE
(Relatório Especial sobre Cenários de Emissões). As principais projeções de extremos
climáticos se dão para a segunda metade do século XXI, com aumento geral dos extremos de
temperatura, implicando em noites mais quentes, ondas de calor, bem como nos indicadores
de eventos extremos de precipitação (SOUZA e AZEVEDO, 2009).
O clima de uma região sofre influência da maioria das atividades humanas que
conseqüentemente contribuem com alterações diversas sobre o meio ambiente, que em muitos
casos, podem ser prejudiciais ao homem e se tornar até irreversíveis se não forem tomadas
providências para remediá-las ou mitigá-las. Dentre as diversas atividades humanas
potencialmente capazes de provocar alterações meteorológicas de pequenas e médias escalas, a
urbanização desenfreada das cidades apresenta-se como uma das que mais contribuem
(MAITELLI et al, 1991; GOLDREICH, 1992; JAUREGUÍ, 1992).
Neste mesmo prisma o crescimento de Macapá ao longo dos últimos 23 anos parece
“comprovar” este raciocínio, com a urbanização influenciando o clima local. Assim, o objetivo
deste trabalho é avaliar, por meio de cálculo de índices de tendências de mudanças climáticas
para a cidade, como estes efeitos estão se configurando na área urbana de Macapá.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo
A cidade de Macapá, localiza-se entre as coordenadas S 0º 8’ 37” / W 51º 16’ 33” e N
0º 10’ 9”/ W 50º 56’ 45” (Figura 1), às margens do rio Amazonas. Encontra-se no domínio da
zona de convergência intertropical (ZCIT) caracterizado por chuvas da ordem de 200-400
mm/mês entre os meses de janeiro a junho, seguido de meses de baixa pluviosidade que se
estendem de agosto a novembro (80-150mm/mês). A temperatura média é de 27,6 ºC amenizada
por ventos alísios (brisa) que sopram o ano inteiro de Nordeste ( SILVA, 2007). Atualmente a
população de Macapá é de aproximadamente 398.204 habitantes, configurando-se em cidade de
médio porte.
A expansão do município de Macapá vem ocorrendo sem um adequado planejamento,
estimulada por migração forte e um crescimento populacional da ordem de 6,02 %, registrado
na última década (AGUIAR e SILVA, 2004).
Figura 1: Localização do Município de Macapá e sua mancha da área urbana.
Para verificar a expansão da área mais ocupada do Município de Macapá foram
utilizadas imagens da órbita-ponto 225-060, de 06 de outubro de 1985 e de 07 de novembro de
2008 do sensor do satélite Landsat 5 TM, disponível no site do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais – INPE. A imagem do ano de 1985 foi utilizada por ser uma das mais antigas e com
melhores condições de visualização, devido à conhecida nebulosidade da Amazônia que
dificulta estudos desta natureza. Assim, também para o ano de 2008, a imagem foi selecionada
por ser a mais recente em relação a menor cobertura de nuvens. Imagens mais atuais foram
descartadas devido aos problemas citados anteriormente. Para esta análise o software utilizado
foi o ArGis 9.2, no qual foram executados os procedimentos de georreferenciamento das
imagens, poligonalização da área ocupada e posterior quantificação da área em ha.
Numa segunda etapa, o cálculo dos índices de tendências de mudanças climáticas foi
executado pelo Software RClimdex, no qual foram selecionados apenas os índices máxima da
temperatura máxima e número de noites quentes no período. Estas estão inclusas nos
parâmetros básicos recomendados pela equipe de peritos do CCI/CLIVAR e “Climate Change
Detection Monitoring and Índices” (ETCCDMI). A série utilizada de 1968 a 2010 incluíram
as variáveis seguintes: temperatura do ar máxima e mínima e precipitação, disponíveis na
estação meteorológica da Fazendinha, distrito urbano de Macapá – AP, a qual faz parte da rede
de estações meteorológicas convencionais do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e
cedida pelo NHMET/IEPA.
Para a execução do software os dados foram dispostos em seis colunas correspondentes
ao ano, mês, dia, precipitação (PRCP), temperatura máxima (TMAX) e temperatura mínima
(TMIN); os dados faltosos foram codificados como -99.9 e os registros dos dados dispostos em
ordem cronológica (CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOPMENT AGENCY, 2004).
Posteriormente foi executada a homogeneização dos dados, controle de qualidade e cálculo dos
índices de tendência de variabilidade climática para o nível de decisão de p≤0.05 de
significância.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da poligonalização da área mais ocupada (destaque em vermelho) do Município de
Macapá foi verificada a significativa expansão urbana ao longo dos últimos 23 anos de
ocupação( Figura 2). Nota-se que esta ocorreu principalmente a partir de 1985.
Figura 2: Expansão de Macapá entre os anos de 1985 e 2008.
No ano de 1985 a área ocupada concentrada era de aproximadamente 2,612.957598 ha.
Em 2008 essa área se expandiu pela região costeira e rodovias alcançando cerca de
10,568.815705 ha. Estes impactos trouxeram para o município não apenas impactos sociais
como o aumento da pobreza urbana e a ocorrência de epidemias e endemias como dengue e
malária e outras doenças de veiculação hídrica, mas principalmente impactos ambientais pela
alteração do solo e do clima local com reflexos no microclima local.
Os índices climáticos gerados na presente análise sugerem que, de fato, está ocorrendo
uma mudança do padrão de variabilidade do clima no Município de Macapá, com provável
influência da sua urbanização, formando a denominada potencial “ilha de calor”. Dos vários
índices que obtiveram significância estatística, são listados os que sugerem a existência desse
fenômeno.
A figura 3 mostra a tendência positiva da máxima da temperatura máxima durante o
período de 1968 a 2010. Observa-se um acentuado crescimento desta variável a partir da década
de 80 (linha pontilhada), ocasionado provavelmente por um dos fatores que influenciam na
formação de ilha de calor: a diminuição de áreas arborizadas. Em conseqüência do aumento da
temperatura máxima, verificou - se também tendências positivas na freqüência de noites
quentes. Este efeito está relacionado com as superfícies artificiais devido estocarem parte do
calor recebido durante o dia, liberando-o para o ambiente após o por do sol, que ocorrem nas
zonas pavimentadas e construções (SANTOS, 2011).
Figura 3: Comportamento temporal do índice
máximo da temperatura máxima.
Figura 4: Comportamento temporal do
índice noites quentes.
4. CONCLUSÕES
As imagens de satélite analisadas mostraram que Macapá vem sofrendo um processo de
urbanização de forma acelerada, o que provavelmente influenciou na formação de ilha de calor,
trazendo consigo vários impactos sócio-ambientais, como a mudança da tendência do padrão de
variabilidade climática local.
Os índices de tendência de variações climáticas quantificados na presente análise sugerem
que essa alteração está ocorrendo ao longo do tempo e proporcionalmente à expansão da malha
urbana. Os índices utilizados nesta análise mostram uma tendência positiva e significativa a
partir da década de 85 -90. Período este em que Macapá acelerou sua expansão e aquecimento
econômico local, principalmente devido à intensa taxa de migração. Esta taxa é considerada
extremamente explosiva pelo IBGE (2010), na qual se avaliou um crescimento populacional da
ordem de 40% nos últimos dez anos.
Em virtude desses fenômenos observados (expansão e alteração dos padrões do microclima), compete às autoridades e gestores locais executarem medidas mais efetivas de
planejamento urbano, de forma que se minimizem os efeitos da variabilidade climática. Estes
efeitos têm se mostrado cada vez mais evidentes, como aqueles indicadores de formação de
“ilha de calor”, vez que a mesma tende a se intensificar se for mantida a mesma taxa de avanço
populacional e urbana em Macapá. Por exemplo, nos Planos Diretores é importante incluir
parâmetros climáticos que favoreçam a análise de ações de diminuição desses efeitos no
ambiente. Entre estes fatores chama a atenção as poucas áreas verdes de Macapá que, se não
forem aumentadas, os efeitos do crescimento urbano continuarão a ser problemáticos. Além
disso, é possível que se mantido o padrão de crescimento urbano de Macapá se eleve
gradativamente a vulnerabilidade da população em relação aos efeitos negativos das mudanças
do clima, bem como pode dificultar significativamente as ações de adaptações resultantes de
suas conseqüências.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a concessão de bolsa Iniciação Científica PIBIC/CNPq/ UNIFAP;
aos projetos: Rede de Gestão Integrada de Monitoramento da Dinâmica Hidroclimática e
Ambiental da Bacia do Jarí - Estado do Amapá” IEPA/UNIFAP/SUDAM; Eventos Extremos da
Amazônia - REMAN2/FINEP e ao apoio do Laboratório de Modelagem Ambiental da
CCAM/UNIFAP. A equipe também agradece a Jodson Almeida e a Claudia Funi, pelas
contribuições na obtenção das imagens analisadas.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, J. S. & SILVA, L. M. S. 2004. Caracterização e Avaliação das Condições de
Vida das Populações Residentes nas Ressacas Urbanas dos Municípios de Macapá e
Santana. pp. 165-236. In: Takiyama, L.R. ; Silva, A.Q. da (orgs.). Diagnóstico das
Ressacas do Estado do Amapá: Bacias do Igarapé da Fortaleza e Rio Curiaú, MacapáAP, CPAQ/IEPA e DGEO/SEMA.
CANADIAN INTER. DEVELOPMENT AGENCY. RClimdex (0.9) User Manual, 25p., 2004
GOLDREICH, Y. Urban climate studies in Johannesburg, A sub-Tropical city located on a
bridge - A review. Atmospheric Environment, v. 26B, n. 3, 1992, p. 407-420.
JAUREGUÍ, O. E. Aspects of heat-island development in Guadalajara, Mexico.
Atmospheric Environment, v.26B, n.3, 1992, p. 391-396.
MAITELLI, G. T. ; ZAMPARONI, C. A. P. G. ; LOMBARDO, M. A. Ilha de calor em
Cuiabá-MT: Uma abordagem de clima urbano. in: Encontro Nacional de Estudos sobre
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QIAN, W., LIN, X. Regional trends in recent precipitation indices in China. Meteorology
and Atmospheric Physics, v. 90, p. 193-207, 2005.
SANTOS, K. P. C, CUNHA, A.C., SOUZA, E.B e COSTA, A. C. L. Índices de tendências
climáticas associadas à Ilhas de Calor em Macapá (1968-2010). RBCIAM (Submetido).
2011.
SILVA, A. Q. Avaliação da aplicabilidade da técnica de análise por mudança de vetor
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estudo de caso. Inpe, 2007.
SOUZA, W. M.; AZEVEDO, P. V.; Avaliação das tendências das Temperaturas em Recife –
PE: Mudanças Climáticas ou variabilidade? Revista de Engenharia Ambiental – Espírito
Santo do Pinhal , v. 6, n. 3, p. 462-472, set /dez 2009
SUBAK, S. et al. The impact of the anomalous weather of 1995 on the UK economy.
Climatic Change, v. 44, p. 1-26, 2000.
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