QUANDO OS ECOLOGISTAS INCOMODAM: UMA CARACTERIZAÇÃO PRELIMINAR DO ANTI-ECOLOGISMO Tema: O tema versa sobre a dinâmica da negação de elementos do ideário e das práticas do movimento ambientalista complexo multissetorial por parte de indivíduos ou grupos sociais contrários a algum contexto da sustentabilidade. Objetivo: O objetivo da presente reflexão é o de reunir e avaliar informações que qualifiquem a identificação das características desse fenômeno social que chamamos de “Anti-Ecologismo”, para se obter elementos iniciais que permitam debater os sentidos definidores do conceito. Metodologia: A partir da identificação de casos que ocorrem no momento em que as operações da sustentabilidade comprometem a continuidade de interesses ecologicamente incorretos, tanto no cenário nacional como internacional, foi elaborada uma breve genealogia contextual das primeiras manifestações antiecologistas, uma categorização temática e discursiva dessas manifestações, a natureza dos protagonistas e destinatários do movimento, e uma tipologia classificatória do grau de periculosidade de suas estratégias de ação. Resultados Parciais: Se for verdade que a fronteira sustentabilista avança e conquista solo fértil para além de seus limites, germinando uma nova cultura ambiental expandindo-se no tecido social, por outro lado essa mesma fronteira sustentabilista encontra resistências tensas e conflituosas, que ao comprometer interesses, recuam ou permanecem estagnadas diante do impasse dilemático posto à imobilidade fronteiriça. E não estamos falando dos Conflitos Socioambientais, mas sim do Anti-Ecologismo, apesar da íntima correlação entre os dois fenômenos. O ecologismo compromete interesses e limita certas práticas cujos atores sociais reagem contra. São os que se sentem prejudicados e ultrapassam a linha que separa o discurso politicamente correto de ser simpático à ideologia verde. Não só se indignam e manifestam-se discursivamente desqualificando moralmente o oponente: muitas vezes reagem abandonando a civilidade e partem para o confronto explícito, dispondo-se inclusive a eliminar a vida do sujeito ameaçador de seus interesses. O estatuto do politicamente correto não vingou por completo para a causa ambiental: não há disfarces ou maquiagens, os protagonistas do anti-ecologismo são explícitos e fazem questão de reconhecer enfática e publicamente esta identidade. Uma genealogia recente desde o início do ambientalismo moderno nos permite lembrar manifestações anti-ecologistas: ativistas foram rotulados como “eco-chatos” em função dos alardes catastrofistas dos Profetas do Apocalipse; desqualificados pejorativamente como “zeristas” diante do alvoroço provocado pelo relatório do Clube de Roma entre economistas que se viram confrontados pela possibilidade de se limitar o crescimento econômico; ou acusados como inimigos da pátria e do desenvolvimento pelos setores produtivos ameaçados pela pressão regulatória ambiental estatal sobre as atividades empresariais poluidoras no final dos anos 70 e início dos anos 80, que formaram uma aliança patronal e laboral, colocando os trabalhadores contra o ecologismo, para defender os empregos e lucros das empresas que poderiam ser perdidos em favor da qualidade ambiental, antes de se cunhar o conceito de “Desenvolvimento Sustentável”. Os enfrentamentos ocorrem em vários campos, do político, econômico e jurídico ao cultural e religioso. Não são apenas os interesses econômicos ou interesses de sobrevivência, como a reação dos moradores de áreas que se tornam unidades de conservação no caso de haver desapropriação ou limitação de suas atividades produtivas, mas também os interesses morais que estão em jogo. Ambientalistas não são indesejados pelos ativistas do antiecologismo apenas por causa da ameaçada ao desenvolvimentismo, crescimento econômico ou progresso científico e tecnológico: setores evangélicos são contra o que consideram serem alguns excessos cometidos pelo movimento Nova Era e Paganismo. Um setor do catolicismo ataca a Carta da Terra, mesmo que ela seja apoiada por alguns grupos religiosos. Conclusões Parciais: Tal fenômeno social, apesar de ocorrer com freqüência desde o início do ambientalismo, é relativamente invisível e pouco analisado na sociologia ambiental. Pensamos que sua análise pode trazer luz a diversas reflexões, como por exemplo, se as estratégias de atuação do ambientalismo sofrem algum tipo de implicação em função dos respectivos investimentos de poder e do grau de periculosidade demonstrado pela manifestação anti-ecologista. Há uma falsa noção de que as idéias e práticas da sustentabilidade presentes na sociedade contemporânea se expandem como uma onda contaminando todos os sujeitos sociais indistintamente, sem encontrar resistências e obstáculos. Porém, desde que haja manifestações antiecologistas, está posto que o ambientalismo não é essa ideologia absoluta da contemporaneidade. A existência do anti-ecologismo traz implicações para essa visão que em essência, revela-se funcionalista por não vislumbrar a existência de conflitos de interesses por mais politicamente incorretos que possam parecer. Esse debate é particularmente útil no campo da Educação Ambiental, que tem entre suas visões hegemônicas, a que reproduz uma concepção de sociedade como espaço da harmonia e ausência de conflitos e interesses, com a idéia de que a sociedade como todo, ao passar pelo processo educativo voltado à questão ambiental, naturalmente passará por uma conversão em direção à sustentabilidade, como se a questão tratasse apenas de um processo de conscientização. Principais referências bibliográficas: JOLY, E. Ecologiquement incorrect. Paris: Jean-Cyrille Godefroy, 2004. LARCHER, L. La face cachée de l’écologie. Paris: Cerf, 2004. OUDIN, B. Pour en finir avec les écolos. Paris: Gallimard, 1996. SORMAN, G. Le progrès & ses ennemis. Paris: Fayard, 2001. GERLACH, L. P. The structure of social movements: environmental activism and its opponents. In: J. FREEMAN, J. & JOHNSON, V. (Eds.). Waves of protest: social movements since the sixties. Rowan & Littlefield: Philadelphia, 1999. p. 85-97.