UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO ANNAMARIA BARBOSA DO NASCIMENTO NÓBREGA COMPETÊNCIAS GERENCIAIS DO NUTRICIONISTA EM UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO TERCEIRIZADAS EM NATAL - RN NATAL 2011 1 ANNAMARIA BARBOSA DO NASCIMENTO NÓBREGA COMPETÊNCIAS GERENCIAIS DO NUTRICIONISTA EM UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO TERCEIRIZADAS EM NATAL - RN Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Potiguar, como requisito parcial para obtenção de título de Mestre na área de Concentração Gestão Estratégica de Pessoas ORIENTADORA: Profª Fernanda Fernandes Gurgel, Drª. Co-orientadora: Profª Lydia Maria Pinto Brito, Drª. NATAL 2011 2 N754c Nóbrega, Annamaria Barbosa do Nascimento. Competências gerenciais do nutricionista em unidades de alimentação e nutrição terceirizadas em Natal-RN / Annamaria Barbosa do Nascimento Nóbrega. – Natal, 2011. 155f. Dissertação (Mestrado em Administração). – Universidade Potiguar. Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e PósGraduação. Bibliografia. f. 139-147. 1. Administração – Dissertação. 2. Competências gerenciais. 3.Serviços de alimentação e nutrição. I. Título. RN/UnP/BSFP CDU: 658(043.3) 3 PARECER DA COMISSÃO EXAMINADORA DE DEFESA DA DISSERTAÇÃO DO MESTRADO DE: ANNAMARIA BARBOSA DO NASCIMENTO NÓBREGA COMPETÊNCIAS GERENCIAIS DO NUTRICIONISTA EM UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO TERCEIRIZADAS EM NATAL – RN A comissão examinadora, composta pelas professoras abaixo listadas, sob a presidência da primeira, considera a candidata Annamaria Barbosa do Nascimento Nóbrega Aprovada. Natal, 07/12/2011 _____________________________________ Profª Fernanda Fernandes Gurgel, Drª. Universidade Potiguar - UnP Orientadora _____________________________________ Lydia Maria Pinto Brito, Drª Universidade Potiguar – UnP Co-orientador _____________________________________ Profª Patrícia Whebber Souza de Oliveira, Drª. Universidade Potiguar – UnP Examinador Interno _____________________________________ Prof. José Arimatés de Oliveira, Dr. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Examinador Externo 4 Dedico este trabalho ao meu esposo Christian Nóbrega e às minhas filhas Nathalia Ávila e Mariana Ávila, pelo amor, compreensão, apoio e incentivo para que eu pudesse concretizar este trabalho e alcançar meus objetivos pessoais e profissionais. À minha amada mãe Vera Maria, pelo amor, luta, torcida, orações, conselhos e exemplos que foram os grandes alicerces para tudo o que me tornei. 5 AGRADECIMENTOS A DEUS, Pela magia da vida, pela presença constante em todos os momentos de minha vida, me trazendo força e fé nos momentos em que achei que iria fraquejar. AO MEU AMADO ESPOSO CHRISTIAN, Pelos muitos anos de convivência, com amor e companheirismo, estando sempre ao meu lado, acreditando e me dando todas as condições possíveis para que eu pudesse enfrentar todos os desafios das nossas vidas. ÀS MINHAS FILHAS NATHALIA E MARIANA Pela oportunidade de exercer o papel de mãe, mesmo que muitas vezes ausente. Mas o grande amor que nos une, permitiu a compreensão e a aceitação de minhas ausências À MINHA MÃE VERA, Pelo amor incondicional, que não mediu esforços para me proporcionar uma formação adequada, o que permitiu que eu pudesse alcançar meus sonhos e metas. AOS MEUS IRMÃOS ÁLVARO ALBERTO E ANDRÉ LUIZ, Eu não poderia ter pessoas melhores neste mundo para ter como irmãos... AOS AMIGOS, Os de longe e os de perto. Os de ontem, hoje e os de sempre. Pelo apoio, torcida, incentivo, companhia, risadas e momentos de alegrias que fizeram com que todo o caminho fosse menos duro de ser percorrido. 6 À UNIVERSIDADE POTIGUAR, Pela oportunidade que me foi dada em poder realizar o Mestrado Profissional em Administração. A TODOS QUE FAZEM O CURSO DE GASTRONOMIA DA UNIVERSIDADE POTIGUAR Pelo apoio dado e incentivo na realização deste trabalho, em especial aos amigos PRISCILA VANINI, JUSSELE LOURENÇO, MILDRED NEGREIROS, GABRIEL CAMILO E CACAU WANDERLEY, pelo carinho e cooperação sempre presentes. AO DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Pelo apoio à realização deste mestrado, em especial aos amigos INGRID BEZERRA, FÁBIO RESENDE, KARLA SUZANE, LARISSA SEABRA, GIDYENNE BANDEIRA e PRISCILA ROLIM, pelo incentivo, torcida e amizade. AOS PROFESSORES DO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE POTIGUAR Pela grande contribuição no processo de construção do conhecimento. À PROFESSORA FERNANDA FERNANDES GURGEL Por acreditar em minha capacidade, estimulando-me a pensar e orientando-me de forma que pudesse concluir este trabalho. À PROFESSORA LYDIA MARIA PINTO BRITO, Pela imensa contribuição na construção de todo o referencial deste trabalho, além do grande exemplo de pessoa e profissional. À PROFESSORA TEREZA DE SOUZA, Pela compreensão e cooperação em todo tempo, ajudando-me a superar todas as dificuldades no cumprimento das atividades do mestrado. 7 AOS COLEGAS NUTRICIONISTAS Objeto desta pesquisa, pela cooperação em atender às minhas solicitações para a realização deste trabalho. A TODOS, Que puderam contribuir direta ou indiretamente na realização deste trabalho e que não estão nominalmente citados, mas que certamente foram imprescindíveis para o sucesso desta pesquisa. 8 Se o dinheiro for a sua esperança de independência, você jamais a terá. A única segurança verdadeira consiste numa reserva de sabedoria, de experiência e de competência. (Henry Ford) 9 RESUMO Reconhecendo a importância das competências gerenciais dentro das organizações a fim de se conseguir um posicionamento estratégico do mercado competitivo, o gerente tem o desafio de possuir a capacidade de explorar estas competências e comportamentos específicos aos vários papéis gerenciais de modo a garantir a excelência para enfrentar os desafios do mundo dos negócios. A pesquisa teve como objetivo principal avaliar a percepção dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição Terceirizadas a respeito de suas competências gerenciais diante do modelo de Quinn et al. (2003). Para isto, foi caracterizado o profissional, assim como sua atividade gerencial dentro destes serviços, e também identificadas suas as percepções a respeito das competências gerenciais requeridas pela empresa e as efetivas em seu trabalho enquanto gestor. A pesquisa realizada foi de campo, descritiva, na qual se entrevistou, através de questionário semi-estruturado, 12 nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação Terceirizada. Os nutricionistas estudados têm como características predominantes ser do sexo feminino, idade até 35 anos, com pouco tempo de graduação e de atuação profissional, tendo remuneração próxima do mínimo estipulado para o profissional nutricionista. Os pesquisados atribuíram à prática profissional a capacidade de atuação como gestor. A maioria das empresas de alimentação coletiva apresenta estrutura de apoio à atividade gerencial, e a metade dos profissionais teve capacitação por parte da empresa. Na percepção das nutricionistas, as empresas requisitam um profissional voltado para a gestão das mudanças organizacionais, requerendo o desenvolvimento dos papéis gerenciais em plenitude de igualdade para o bom desempenho da organização. E em relação às competências efetivas do gestor, este desenvolve suas atividades voltadas ao desenvolvimento de um ambiente de trabalho produtivo, tendo o foco de seu trabalho para resultados. A percepção do profissional é que a empresa requer as competências em um nível superior aos que os profissionais apresentam, indicando a necessidade de uma melhor formação profissional e também a realização de capacitação por parte da empresa, para que se possa desempenhar a atividade gerencial de forma satisfatória. Palavras-chave: Competência, Competências Alimentação e Nutrição, Papéis Gerenciais Gerenciais, Serviços de 10 ABSTRACT Recognizing the importance of the managerial competences within organizations in order to achieve a strategic positioning on the competitive market scenario, the manager faces the challenges to be able to explore his competences and to have the specifics behaviors to ensure the excellence to face the challenges of the business world. The research prime aimed to evaluate the perceptions of the managers nutritionists of the outsourced units of food and nutrition about your management competences using the Quinn´s model (2003). For this, were characterized the professional, as well as it management activities within these services, and also identified their perceptions about the management competences required by companies and their effectives managerial competences in their field as a manager. The research was a field, descriptive, in which were interviewed, through a semistructured questionnaire, twelve nutritionists that are managers of the outsourced units of food and nutrition. The main characteristic of the interviewed professionals was be females, with age under 35 years old, also they were recently graduated and has lower remuneration levels compared with the minimum for a senior nutritionist. The surveyed nutritionists have attributed to professional practice the ability to work as a manager. Most food service companies present a well structured support for the management activity and half of the interviewed professionals were trained by the companies. In the perception of nutritionists, companies have requested a professional able to manage the organizational changes, requiring the development of the managerial competences in plenitude of equality for the good performance of the company. And in relation to the effective competences of the manager, he develops his activities to improving the productive work environment, with the focus of his work results-oriented. The professional´s perception is that the companies require competences in a higher level than the nutritionists have, indicating the necessity of a better professional education and also trained actions by the company, for a satisfactory performance of the managerial activities. Key-words: Competences, Managerial Competences, Food and Nutrition Services, Managerial Roles. 11 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS LISTA DE GRÁFICOS LISTA DE QUADROS LISTA DE TABELAS ABREVIATURAS E SIGLAS 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 18 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO.............................................................................. 19 1.2 PROBLEMA / QUESTÕES DA PESQUISA ............................................... 20 1.3 JUSTIFICATIVA ......................................................................................... 22 1.4 OBJETIVOS ............................................................................................... 25 1.4.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 25 1.4.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 26 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................................. 26 2 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................... 28 2.1 O TRABALHO DO PROFISSIONAL NUTRICIONISTA NAS UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO......................................................................... 28 2.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO MERCADO: AS MUDANÇAS NAS ORGANIZAÇÕES ............................................................................................ 35 2.3 COMPETÊNCIAS ...................................................................................... 43 2.3.1 Origem .................................................................................................... 43 2.3.2 Definição e Evolução dos conceitos .................................................... 45 2.3.3 Tipologias das competências ............................................................... 49 2.4 COMPETÊNCIAS GERENCIAIS ............................................................... 58 2.4.1 Gerência ................................................................................................. 58 2.4.2 Definições e Modelos de Competências Gerenciais .......................... 62 2.4.3 Competências gerenciais segundo o Modelo de Quinn et al. (2003) 70 12 3 METODOLOGIA .......................................................................................... 79 3.1 TIPO DE PESQUISA ................................................................................. 79 3.2 UNIDADES DE ANÁLISES / SUJEITOS DA PESQUISA .......................... 79 3.3 CARACTERÍSTICA DAS UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO ESTUDADAS. 81 3.4 INSTRUMENTO DE PESQUISA / PLANO DE COLETA DE DADOS ....... 81 3.5 TRATAMENTO DOS RESULTADOS ........................................................ 83 3.5.1 Tratamento Estatístico .......................................................................... 83 3.5.2.1 Ferramenta ........................................................................................... 84 3.5.2.2 Teste t .................................................................................................. 84 3.5.2.3 P – valor ............................................................................................... 84 3.5.2.4 Análise Gráfica ..................................................................................... 85 4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ................................ 86 4.1 CARACTERIZAÇÃO DO NUTRICIONISTA GESTOR DE UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO TERCEIRIZADA .................................................................... 86 4.2 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DO NUTRICIONISTA A RESPEITO DAS COMPETÊNCIAS GERENCIAIS .................................................................... 105 4.2.2 Competências Gerenciais Requeridas pelas Empresas de Alimentação Coletiva ................................................................................... 108 4.2.3 O Nutricionista e a Percepção de suas Competências Gerenciais . 117 4.2.4 Papéis Gerenciais Requeridos x Papéis Gerenciais Efetivos ......... 126 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 135 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 139 APÊNDICES .................................................................................................. 148 13 LISTA DE FIGURAS Figura 01 - A Mobilização Profissional ................................................... 53 Figura 02 - Dez papéis que os Gerentes desempenham segundo Mintzberg ............................................................................. 64 Figura 03 - Habilidades gerenciais em função do nível hierárquico do gerente de acordo com Robert Katz .................................... 69 Figura 04 - Quadro de valores competitivos: critérios de eficácia .......... 71 Figura 05 - As competências e papéis dos líderes no quadro de valores competitivos ............................................................ 73 14 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Gráfico 02 - Gráfico 03 - Representação em barras das médias das habilidades requeridas e efetivas .......................................................... 106 Histograma com representação da expectativa curva da distribuição normal para os dados dos papéis requerido e efetivo .................................................................................. 107 Papéis das competências gerenciais requeridos, segundo o modelo de Quinn et al. (2003), na percepção dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas em Natal – RN................................. 112 Gráfico 04 - Box-plot representando a variabilidade entre os papéis das competências requerida pela empresa................................. 113 Gráfico 05 - Papéis das competências gerenciais requeridos, diante dos valores competitivos de Quinn et al. (2003), na percepção dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas em Natal – RN .......... 116 Gráfico 06 - Papéis das competências gerenciais efetivos, segundo o modelo de Quinn et al. (2003), na percepção dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas em Natal – RN................................... 120 Gráfico 07 - Box-plot representando a variabilidade entre os papéis das competências efetivas do gestor. ........................................ 121 Gráfico 08 - Papéis das competências gerenciais efetivas, diante dos Valores competitivos de Quinn et al. (2003), na percepção dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas em Natal – RN................................... 125 Gráfico 09 - Box-plot representando a variabilidade entre as competências requeridas e efetivas..................................... 129 Gráfico 10 - Análise comparativa entre as competências requeridas e competências efetivas do nutricionista gestor de unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN ......... 130 Gráfico 11 - Análise comparativa dos papéis requeridos pela empresa e efetivo, diante do quadro de valores competitivos de Quinn et al. (2003) ............................................................... 132 15 LISTA DE QUADROS Quadro 01- A economia em transformação ............................................ 38 Quadro 02 - Conceitos de Competências ................................................ 47 Quadro 03 - Proposta de definição de competência ................................ 52 Quadro 04 - Classificando os gerentes .................................................... 61 Quadro 05 - O gerente em transformação ............................................... 63 Quadro 06 - Competências Centrais e Elementos Específicos ............... 67 Quadro 07 - Indicadores de Competências Gerenciais ........................... 68 Quadro 08 - Características dos quatro modelos gerenciais.................... 70 Quadro 09 - Perfis gerenciais eficazes e Perfis gerenciais ineficazes ..... 77 Quadro 10 - Competências gerenciais e Papéis dos líderes segundo Quinn et al. (2003) ............................................................... 82 16 LISTA DE TABELAS Tabela 01 - Número de Unidades de Alimentação e Nutrição em Natal – RN ..................................................................................... 80 Tabela 02 - Mapeamento de empresas de alimentação coletiva para aplicação da pesquisa ......................................................... 80 Tabela 03 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto ao sexo. .................................................... 86 Tabela 04 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto à faixa etária ............................................. 88 Tabela 05 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto ao tempo de graduação ........................... 89 Tabela 06 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto à formação ............................................... 90 Tabela 07 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto ao tempo de atuação na área de alimentação coletiva ............................................................ 92 Tabela 08 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto ao tempo de atuação em outra área da Nutrição. ............................................................................... 93 Tabela 09 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto à ocupação do cargo de gestor em outra empresa ............................................................................... 94 Tabela 10 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto ao salário recebido ................................... 95 17 Tabela 11 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto à atribuição do desenvolvimento da capacidade de gerenciar uma Unidade de Alimentação e Nutrição ................................................................................ 97 Tabela 12 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto ao tempo de atividade na empresa .......... 100 Tabela 13 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto ao tempo que ocupa o cargo de gestor .... 101 Tabela 14 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto à existência de uma estrutura de apoio gerencial .............................................................................. 102 Tabela 15 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto à existência de capacitação para o exercício do cargo ................................................................ 103 Tabela 16 - Competências gerenciais requeridas e efetivas, segundo o modelo de Quinn et al. (2003), na percepção do nutricionista gestor de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal ............................................ 105 Tabela17 - Teste t para verificação da diferença entre as médias dos papéis de acordo com as competências requeridas pela empresa ............................................................................... 111 Tabela 18 - Teste t para verificação da diferença entre as médias dos papéis de acordo com as competências efetivas do gestor.................................................................................... 119 Tabela 19 - Papéis gerenciais requeridos e efetivos, segundo a percepção dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN .............. 127 Tabela 20 - Teste t para verificação da diferença entre as médias das competências requeridas e efetivas em relação às competências estudadas ..................................................... 128 18 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABERC – Associação Brasileira das Empresas de Refeição Coletiva CFN – Conselho Federal de Nutricionistas CRN – Conselho Regional de Nutricionistas FNN - Federação Nacional dos Nutricionistas MERCOSUL – Mercado Comum do Sul PAT – Programa de Alimentação do Trabalhador PME - Pequenas e médias empresas R$ - Real SRCH - Sistema de remuneração e carreiras por habilidades UAN - Unidade de Alimentação e Nutrição 18 1 INTRODUÇÃO Diversas mudanças ocorreram na economia e no mercado mundial impactando de forma significativa na maneira das organizações estruturarem seus modos de gestão para que possam sobreviver no segmento econômico no qual estão atuando. Diante deste cenário, a mudança passou a ser assunto dominante nas organizações, de modo que as instituições lutam para sobreviver num ambiente cada vez mais inconstante, onde prevalece uma flexibilidade das relações comerciais. Observa-se, portanto, dentro das organizações, mudanças de estratégias e redefinições de estruturas no qual são priorizados os processos que envolvem a valorização do conhecimento em detrimento ao trabalho braçal, que assumiu um papel secundário neste novo modelo de economia, estando hoje a administração menos preocupada com a estrutura de comando e controle, sendo evidente a necessidade de se ter profissionais com competências que possam acompanhar as transformações que perpassam o mundo dos negócios. O trabalho não se configura mais apenas como o conjunto de tarefas associadas descritivamente ao cargo, mas torna-se o prolongamento direto da competência que o indivíduo mobiliza em face de uma situação profissional cada vez mais mutável e complexa (FLEURY e FLEURY, 2001). O setor de Alimentação Coletiva vem se tornando um mercado representativo na economia mundial, tendo o ritmo de vida moderno contribuído significativamente para este crescimento (MATOS, 2000), de forma que a cada dia este mercado vem se expandindo no Brasil e no mundo. Dentro da dinâmica das Unidades de Alimentação no mercado atual, Abreu et al. (2009) destacam que o mercado encontra-se cada vez mais competitivo, pois de um lado, têm-se clientes mais exigentes e sofisticados, e de outro, concorrentes mais agressivos e preparados. A combinação desses fatores passou a conduzir a atual dinâmica organizacional voltada para o aperfeiçoamento contínuo de produtos e serviços. 19 Ruas (2003) destaca que empresas do ramo alimentício deverão ter como competências organizacionais operações logísticas de forma a obter o menor custo, e melhor atendimento e maior flexibilidade, além de oferecer relacionamento e valor agregado aos clientes, através da orientação para os serviços. Assim, os profissionais devem não somente saber executar o que é prescrito, mas ir além da tarefa, agindo com competência nas situações de imprevisto, sendo destacada a necessidade de uma instrumentalização em saberes e capacidades, e o desenvolvimento das competências gerenciais dentro das organizações determinará um novo posicionamento estratégico no mercado, uma vez que o gestor será capaz de executar as ações em um nível de habilidade que seja suficiente para alcançar o sucesso desejado. 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO O mundo atual vive um momento de grande transição que se reflete na busca incessante pelo incremento da competitividade e sucesso organizacional, que segundo Wagner III (2000, p. 5), “baseia-se na habilidade de produzir algum produto ou serviço tido como valioso por algum grupo de consumidores, e fazer isso de tal modo que ninguém consiga imitá-lo”, tal necessidade reflete diretamente no comportamento das organizações em busca da qualidade, sendo este quesito essencial para a sobrevivência no mundo dos negócios, levando as empresas a constantemente mudarem suas estratégias, redefinirem seus mercados e repensarem suas estruturas. Diversas mutações foram sofridas pelo meio ambiente organizacional no qual o trabalho deixou de ser focado em meios e estruturas formalizadas e que hoje se têm, de acordo com Robbins (2000), o trabalho projetado em torno da aquisição e da aplicação das informações. Segundo Fischer (2002) in Fleury (2002), toda e qualquer organização depende, em maior ou menor grau, do desempenho dos seres humanos para seu sucesso, de modo que as pessoas representam um ativo importante para a 20 organização e o desenvolvimento de suas competências pode representar um importante diferencial competitivo (PRATA, 2008). O termo competência possui várias definições, a maioria voltada para a concepção da soma de conhecimentos e habilidades, ou na capacidade de um indivíduo para resolver problemas, através da realização de atos definidos, sendo utilizada para designar uma pessoa qualificada para realizar algum tipo de atividade, e passou a fazer parte das em discussões acadêmicas e empresariais, sendo associadas a diversos níveis de aplicação, pessoal e organizacional (FLEURY & FLEURY, 2001), tal concepção evidencia as diversas dimensões do conceito de competências, reforçando a idéia de que os recursos internos da empresa constituem um dos principais fatores de competição (PRATA, 2008). Quanto à atividade gerencial, de acordo com Boog (2004), está relacionada ao papel de tem a responsabilidade de atingir resultados com pessoas e inovação, estando o sucesso organizacional na sua dependência. Quinn et al. (2003) colocam para o gerente a necessidade de possuir a capacidade de explorar e utilizar competências e comportamentos específicos e intrínsecos a vários papéis gerenciais, de modo a garantir a excelência das competências necessárias para enfrentar os desafios do mundo dos negócios, e Prata (2008) ressalta que as competências e a atuação efetiva das gerências são fundamentais para garantir a manutenção e o crescimento da organização no mercado atual, no qual o alto nível de competição requer que as empresas sejam coesas, ágeis e competitivas. Desta forma, a partir do entendimento das exigências do mercado e dos desafios que são impostos às atividades gerenciais, este estudo buscou analisar as competências gerenciais dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação terceirizadas em Natal/RN, considerando a realidade deste mercado naturalmente competitivo. 1.2 PROBLEMA / QUESTÕES DA PESQUISA 21 As Unidades de Alimentação e Nutrição, de acordo com Teixeira et al. (2004), são órgãos de estrutura administrativa simples, porém de funcionamento complexo, visto que, em geral, neles são desenvolvidas atividades que se enquadram nas funções técnicas, administrativas, comerciais, financeira, contábil e de segurança, funções estas imprescindíveis a qualquer empresa, independente de seu tamanho ou personalidade jurídica. Dentro deste contexto, o Conselho Federal de Nutricionista através da Resolução nº 380/2005, ao definir as atribuições do Nutricionista por área de atuação (CFN, 2005) descreve que é de competência do Nutricionista na área de Alimentação Coletiva, no exercício de suas atribuições em Unidades de Alimentação e Nutrição, planejar, organizar, dirigir, supervisionar e avaliar os serviços de alimentação e nutrição. Mezomo (2002) destaca o desenvolvimento destas atividades como sendo relacionadas às Funções Administrativas descritas por Fayol, e que nas Unidades de Alimentação também são vistas as funções técnicas, comercial, contábil, financeira e de segurança, como descrito no estudo dos processos administrativos. Entretanto, sabe-se que os papéis gerenciais e as suas competências relacionadas vão muito mais além do desempenho das funções do processo administrativo, sendo os gerentes os agentes ou protagonistas deste processo. Os diversos estudos a respeito das competências levam a relacioná-los aos aspectos de desenvolvimento de conceitos, habilidades e atitudes; capacitação; práticas de trabalho, capacidade de mobilizar recursos; articulação de recursos; busca de melhores desempenhos; questionamento constante; processos de aprendizagem individual; e relacionamento com as outras pessoas (BITENCOURT, 2005). Em se tratando de cargos gerenciais, estes exercem um papel de responsabilidade quanto ao sucesso organizacional, uma vez que são os articuladores das pessoas e resultados, atuando como canal de comunicação mediante a coordenação das atividades de suas unidades com as demais unidades de uma organização. Uma das áreas onde a atuação do nutricionista brasileiro tem sido frequentemente requerida é a de produção de refeições para atendimento ao 22 trabalhador da indústria, do comércio e do setor de serviços (BOOG et al., 1988). Esta realidade retrata a nova configuração do mercado de trabalho do nutricionista, que de acordo com Ansaloni (1999), este se converteu de profissional liberal, focado na área da saúde, para profissional organizacional, necessitando de conhecimentos específicos da área de gestão, necessitando de possuir uma série de competências tanto do ponto de vista pessoal como do ponto de vista empresarial. No presente trabalho a questão a ser investigada é: Qual a percepção sobre as competências gerenciais, requeridas e efetivas, dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição que possuem a terceirização como modalidade de administração? Diante dessa problemática, algumas questões são necessárias serem investigadas para a compreensão do papel do nutricionista enquanto gestor de uma Unidade de Alimentação e Nutrição que tem como modo de administração da terceirização: - Qual a percepção do nutricionista a respeito das suas competências gerenciais? - Qual a percepção do nutricionista a respeito das expectativas da empresa em relação às suas competências gerenciais? - Qual a relação entre as competências percebidas pelos sujeitos e os papéis dos líderes a partir do modelo de Quinn et al. (2003) ? 1.3 JUSTIFICATIVA As transformações no mundo contemporâneo provocaram mudanças significativas em vários aspectos da vida humana, que podem também ser percebidas na alimentação e nos hábitos alimentares das pessoas. Fatores como a industrialização, a profissionalização das mulheres, a elevação do nível de vida e de educação, o acesso mais amplo da população ao lazer, a redução do tempo para o preparo e/ou consumo dos alimentos, o 23 aumento no número de viagens, fizeram com que as pessoas passassem a usufruir cada vez menos do universo doméstico, podendo relacionar isto ao aumento do mercado da alimentação fora de casa (AKUTSU et al., 2005). Na segunda metade do século XX, a sociedade brasileira passou por intenso processo de transformação devido ao desenvolvimento industrial. Dentre as mudanças, destacam-se os novos hábitos sociais e a mudança no padrão de consumo alimentar (SAVIO, 2002). O desenvolvimento do hábito de "comer fora" pode ser analisado a partir de duas perspectivas: a primeira enfoca o "comer fora" como atividade social; a segunda, como uma necessidade imposta pelo modelo de força de trabalho em que a mulher passou a ter papel relevante (AKUTSU et al., 2005). A refeição fora de casa deixou de ser uma opção de lazer e passou a ser uma questão de necessidade. É uma tendência inserida dentro do que se pode chamar de terceirização dos serviços familiares, o que impacta fortemente na geração de demanda pelos serviços de alimentação (REBELATO, 1997). A preferência atual dos consumidores por refeições mais convenientes influenciou o mercado da alimentação coletiva, de modo que no Brasil, estimase que, de cada cinco refeições, uma é feita fora de casa, na Europa duas em cada seis e, nos EUA, uma em cada duas. Esses números indicam que ainda pode haver um grande aumento e desenvolvimento dos estabelecimentos que produzem alimentos para consumo imediato no país (ZANDONADI et al., 2007). Segundo dados da Associação Brasileira de Refeições Coletivas (ABERC), o segmento de refeições coletivas, no qual as prestadoras de serviços estão inseridas, serviu em 2007 cerca de 7,5 milhões de refeições/dia, e em 3 anos apresentou um incremento de 25,3% neste número, servindo em 2010, 9,4 milhões de refeições diariamente. Estes números revelam claramente a força desse mercado, no qual se calcula para 2011 um aumento de 11,7% em relação ao ano anterior, podendo chegar a valores superiores de 10,5 milhões de refeições /dia, reafirmando ser este um segmento de mercado com grande potencial de expansão (ABERC, 2011). Diante deste cenário, visando atender à demanda do mercado de Alimentação Coletiva, têm-se as Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) 24 que de acordo com o CFN (2005), é definida como “unidade gerencial do serviço de nutrição e dietética onde são desenvolvidas todas as atividades técnico-administrativas necessárias para a produção de alimentos e refeições, até a sua distribuição para coletividades sadias e enfermas, além da atenção nutricional a pacientes na internação e em ambulatórios”. Assim, Ribeiro (2002) descreve a UAN como um conjunto de áreas com o objetivo de operacionalizar o provimento nutricional de coletividades, ocorrendo dentro destas todos os processos administrativos, operacionais e de controle, tal como uma unidade fabril ou indústria clássica, e que, segundo Teixeira et al., (2004), pode ser considerado um subsistema que é responsável por atividades fins ou meios. Alves (2005) destaca que as atividades do Setor de Alimentação Coletiva têm evoluído consideravelmente e que atualmente apresenta grande crescimento e uma competitividade expressiva, e com este crescimento do mercado de alimentação, torna-se imprescindível criar um diferencial competitivo nas empresas por meio da melhoria da qualidade dos produtos e serviços oferecidos, para que esse diferencial determine quais permanecerão no mercado (AKUTSU et al., 2005). As UANs estabelecidas em complexos industriais, empresas e escolas, ou em qualquer outra segmentação, pode se encontrar sob diversas formas de gerenciamento, dentre estas a auto-gestão e concessão, também conhecida como terceirização (ABREU et al., 2009). No sentido administrativo, terceirização significa descentralizar a terceiro processos auxiliares ou atividade principal, tendo as empresas recorrido a este tipo de administração, como meio de obter qualidade, produtividade e competitividade no mercado. Dentro da área de alimentação as empresas têm optado cada vez mais confiar as atividades de alimentação a empresas terceirizadas, considerando que, de acordo com Grangeiro (2000), a terceirização termina por ser uma parceria consciente entre as empresas especializadas em determinados ramos, e assim, nada mais coerente do que delegar esta atividade a empresas especializadas em produzir refeições dentro dos critérios de qualidade desejados, sendo necessário, neste modelo de empresa, um nutricionista que apresente um perfil profissional de um administrador. 25 Teixeira et al. (2004) destacam que os serviços de terceiros vem sendo largamente utilizado, não só nos refeitórios de indústrias, mas também por serviços hospitalares, e as empresas prestadoras de serviços em sua maioria foram criadas a partir de um esquema familiar, e posteriormente estruturadas como empresas, e que a qualificação do pessoal técnico, operacional e administrativo é que vai determinar uma maior ou menor possibilidade de atendimento eficaz. Em função disto, existe uma preocupação cada vez maior de se implantar um sistema administrativo conveniente mais profissional em Unidades de Alimentação, buscando a padronização e controle de qualidade em bons níveis (LOBO, 2009). Justifica-se a importância da presente pesquisa como forma de identificar as necessidades das Unidades de Alimentação e Nutrição Terceirizadas quanto ao perfil do seu gestor, podendo viabilizar estratégias que possam minimizar os problemas normalmente encontrados nestas Unidades. Outra forma de contribuição para o mercado será fornecer dados que permitam aos Nutricionistas Gestores/Gerentes um melhor gerenciamento de seus processos de capacitação e desenvolvimento de carreira, através da descrição do papel gerencial para este segmento. E por fim, o estudo da realidade local poderá servir como parâmetro para o entendimento da gestão de Unidades de Alimentação e Nutrição de outras localidades, contribuindo assim, com o crescimento científico sobre os processos de gerenciamento das Unidades de Alimentação e Nutrição. 1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Objetivo Geral 26 Avaliar a percepção dos nutricionistas de Unidades de Alimentação e Nutrição Terceirizadas sobre as suas competências gerenciais requeridas e efetivas para o exercício da gerência. 1.4.2 Objetivos Específicos Identificar a percepção do nutricionista a respeito das expectativas da empresa em relação às suas competências gerenciais; Identificar a percepção do nutricionista a respeito das suas competências gerenciais; Verificar a relação entre as competências requeridas pela empresa e as efetivas dos nutricionistas e os papéis gerenciais. 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: No capítulo especificidades 1 do é apresentada estudo, tendo introdução elementos do trabalho importantes e as como: contextualização, problema e questões da pesquisa, justificativa, assim como os objetivos gerais e específicos. O capítulo 2 consta do referencial teórico utilizado para o embasamento da pesquisa, no qual se levou em consideração a revisão de literatura, assim como a pesquisa de estudos recentes sobre o tema das competências gerenciais, objeto de estudo desta pesquisa. 27 Já o capítulo 3 descreve a metodologia adotada para a realização do estudo, sendo descrita em detalhes o tipo de pesquisa, as unidades de análises, o instrumento de pesquisa e plano de coleta de dados, bem como o tratamento dado aos resultados. O capítulo 4 apresenta a análise e interpretações dos resultados, sendo divididos de acordo com os objetivos propostos neste estudo, expondo as principais informações coletadas e analisando à luz dos diversos autores e estudos abordando o mesmo tema proposto nesta pesquisa. Em seguida, o capítulo 5 expõe as considerações finais, a limitação do estudo e sugestões para a realização de futuros trabalhos a serem desenvolvidos nesta temática, de modo que se possa aprofundar as questões e dirimir os possíveis vieses encontrados nesta pesquisa. Por fim, são contempladas as referências bibliográficas utilizadas como elementos norteadores das análises e reflexões realizadas no desenvolvimento deste estudo, bem como a apresentação dos apêndices necessários. 28 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O TRABALHO DO PROFISSIONAL NUTRICIONISTA NAS UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN), de acordo com Proença (2009), realiza o fornecimento de refeições, que devem equilibradas nutricionalmente, com bom nível de sanidade e adequada ao comensal. Teixeira et al. (2004) descreveram que a UAN é um subsistema que realiza atividades - fins ou meios. Sendo consideradas realizando atividadesfins, aquelas em que o serviço colabora diretamente para a consecução do objetivo final da organização, e como atividade-meio, quando suas ações colaboram para a realização das atividades fins das entidades no qual estão vinculadas. De acordo com Furtado (1982), as UANs começaram a ser implantadas no Brasil em 1940, determinando que empresas com mais de quinhentos funcionários deveriam fornecer alimentação em refeitório aos mesmos, tendo tido um crescimento significante em todo Brasil a partir de 1977, quando o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) passou a ser divulgado e implantado nas mais diversas empresas brasileiras (VEIROS, 2002). O sistema de alimentação industrial foi estruturado para atender ao PAT, podendo as empresas optar por diversas modalidades de serviços: a autogestão, ou serviço próprio, na qual a empresa beneficiária assume toda a responsabilidade pela elaboração das refeições, desde a contratação de pessoal até a distribuição aos usuários, e a terceirização, ou serviços de terceiros, no qual o fornecimento das refeições é formalizado por intermédio de contrato firmado entre a empresa beneficiária e as concessionárias (VEIROS, 2002; TEIXEIRA, 2004; OLIVEIRA, 2007; PROENÇA, 2009). As concessionárias da área de alimentação são hoje uma realidade no mercado de trabalho, tanto pela praticidade como pela economia e racionalização do trabalho, sendo pessoas jurídicas que desenvolvem suas 29 atividades na área de alimentação por autorização de contrato ou convênio (OLIVEIRA, 2007). “O processo de terceirização dos restaurantes pode ser considerado uma estratégia vantajosa na gestão dos Serviços de Alimentação Coletiva, favorecendo o funcionamento harmonioso e competente da empresa contratante, permitindo o alcance da qualidade em seu produto final ou do serviço a que se propõe” (MALLON e NEGRI, 2007). Segundo a Teixeira et al. (2004), para os serviços terceirizados podemse encontrar três tipos de modalidades: comodato, refeições prontas transportadas e refeições-convênios. Para os autores, na modalidade de comodato, a empresa contrata os serviços de uma empresa especializada, a qual utiliza as instalações da primeira para o preparo de refeições. Na modalidade de refeição pronta e transportada, a contratada entrega à empresa refeições já confeccionadas para o consumo, e na modalidade de refeição-convênio, a empresa mantém convênio com restaurantes comerciais para o fornecimento das refeições para os funcionários mediante a apresentação de senhas ou tickets. O número de empresas prestadoras de serviços que fornecem refeições coletivas cresce a cada ano. Em 2003 a autogestão representava 0,30 milhões de refeições por dia, e as prestadoras de serviços 5,2 milhões. Em estimativa de 2011, o número de refeições servidas em UANs cuja modalidade é a auto-gestão, reduziu em 50%, e em situação oposta, as prestadoras de serviços estão em franca expansão, tendo crescido mais de 50%, servindo neste ano cerca de 10,5 milhões de refeições (ABERC, 2011). A distribuição dos nutricionistas por setores e subáreas de atuação no Brasil revela que na alimentação coletiva em geral, 25% dos profissionais nutricionistas estão atuando em concessionárias de alimentos, ou seja, em empresas de terceirização, e quando se foca apenas a área de alimentação do trabalhador, este percentual se eleva para 92,5% (CFN, 2006). Em pesquisa realizada pelo CFN (2006) dentre as áreas de atuação profissional do nutricionista no Brasil, na alimentação coletiva, as Unidades de Alimentação e Nutrição se destacaram por absorver mais de 50% dos nutricionistas, estando 28,5% destes profissionais, atuando no PAT. 30 Nesta mesma perspectiva, Letro e Jorge (2010) identificaram 43,3% dos profissionais de nutrição atuando na área de alimentação coletiva. Assim, em decorrência de toda a importância da alimentação institucional, do incentivo do governo às empresas para participarem do PAT, entre outros aspectos relacionados à alimentação coletiva, fortaleceu-se a necessidade de formação de um profissional responsável pela alimentação e todos os cuidados que a produção da mesma envolve, considerando sua íntima relação com a saúde (VEIROS, 2002). No cenário mundial, a emergência do campo da Nutrição, seja como ciência, política social e/ou profissão, é um fenômeno relativamente recente, característico do início do século XX (VASCONCELOS, 2002). “No Brasil, a prática profissional do nutricionista tem envolvido ações diversas, não apenas voltadas para a doença, como para a promoção da saúde, como atesta a atuação do nutricionista nas áreas de esporte e também em comunidades. As leis e políticas que regem o setor, desde os anos 40, vêm organizando estas práticas no contexto da emergência de novos padrões de desenvolvimento econômico e industrial” (CRN, 2006). A profissão do nutricionista no Brasil passou por mudanças consideráveis devido ao plano de desenvolvimento adotado pelo país a partir da década de quarenta. O emergente parque industrial brasileiro proporcionou mudanças nas oportunidades de trabalho, o profissional antes com atuação exclusivas à esfera pública, passa a se inserir no setor privado. Neste contexto surgiu o Nutricionista-Administrador, ficando claro a interfaces da Nutrição com outras áreas do conhecimento, principalmente a Administração (ANSALONI, 1999). A regulamentação da profissão é datada de 24 de abril de 1967 pela Lei nº. 5.276 que foi revogada em 2005 por uma nova legislação (Resolução CFN n° 380/2005), na qual define as áreas de atuação do nutricionista como: alimentação coletiva, nutrição clínica, saúde coletiva, docência, indústria de alimentos, nutrição em esportes e marketing na área de Alimentação e Nutrição (CFN, 2005). A Resolução nº 380/2005, do Conselho Federal de Nutricionistas, evidencia as áreas de atuação do profissional que possuem atividades que 31 passam a ser exclusivas do nutricionista, destacando as atribuições específicas para cada área. Para a área de Alimentação Coletiva estão definidas como competências do profissional no exercício de suas atribuições em Unidades de Alimentação e Nutrição as atividades de planejar, organizar, dirigir, supervisionar e avaliar os serviços de alimentação e nutrição. Desta forma, são tidas como competências e atividades de caráter obrigatório do profissional nutricionista em Unidades de Alimentação e Nutrição: Planejar e supervisionar a execução da adequação de instalações físicas, equipamentos e utensílios, de acordo com as inovações tecnológicas; Planejar e supervisionar o dimensionamento, a seleção, a compra e a manutenção de equipamentos e utensílios; Planejar, elaborar e avaliar os cardápios, adequando-os ao perfil epidemiológico da clientela atendida, respeitando os hábitos alimentares; Planejar cardápios de acordo com as necessidades de sua clientela; Planejar, coordenar e supervisionar as atividades de seleção de fornecedores, procedência dos alimentos, bem como sua compra, recebimento e armazenamento de alimentos; Coordenar e executar os cálculos de valor nutritivo, rendimento e custo das refeições/preparações culinárias; Planejar, implantar, coordenar e supervisionar as atividades de prépreparo, preparo, distribuição e transporte de refeições e/ou preparações culinárias; Identificar clientes/pacientes portadores de patologias e deficiências associadas à nutrição, para o atendimento nutricional adequado; Coordenar o desenvolvimento de receituários e respectivas fichas técnicas, avaliando periodicamente as preparações culinárias; Estabelecer e implantar procedimentos operacionais padronizados e métodos de controle de qualidade de alimentos, em conformidade com a legislação vigente; 32 Coordenar e supervisionar métodos de controle das qualidades organolépticas das refeições e/ou preparações, por meio de testes de análise sensorial de alimentos; Elaborar e implantar o Manual de Boas Práticas, avaliando e atualizando os procedimentos operacionais padronizados (POP) sempre que necessário; Planejar, implantar, coordenar e supervisionar as atividades de higienização de ambientes, veículos de transporte de alimentos, equipamentos e utensílios; Planejar, coordenar, supervisionar e/ou executar programas de treinamento, atualização e aperfeiçoamento de colaboradores; Promover programas de educação alimentar e nutricional para clientes; Participar da elaboração dos critérios técnicos que subsidiam a celebração de contratos na área de prestação de serviços de fornecimento de refeições para coletividade; Acompanhar os resultados dos exames periódicos dos clientes/pacientes, para subsidiar o planejamento alimentar; Detectar e encaminhar ao hierárquico superior e às autoridades competentes, relatórios sobre condições da UAN impeditivas da boa prática profissional e/ou que coloquem em risco a saúde humana; Elaborar o plano de trabalho anual, contemplando os procedimentos adotados para o desenvolvimento das atribuições; Efetuar controle periódico dos trabalhos executados; e Colaborar com as autoridades de fiscalização profissional e/ou sanitária Como atividades complementares para este profissional a legislação prevê que ele pode: Participar do planejamento e gestão dos recursos econômicofinanceiros da UAN; Participar do planejamento, implantação e execução de projetos de estrutura física da UAN; 33 Implantar e supervisionar o controle periódico das sobras, do restoingestão e analise de desperdícios, promovendo a consciência social, ecológica e ambiental; Participar da definição do perfil, do recrutamento, da seleção e avaliação de desempenho de colaboradores; Planejar, supervisionar e/ou executar as atividades referentes a informações nutricionais e técnicas de atendimento direto aos clientes/pacientes; Planejar e/ou executar eventos, visando à conscientização dos empresários da área e representantes de instituições, quanto à responsabilidade dos mesmos na saúde coletiva e divulgando o papel do Nutricionista. Embora a legislação estabeleça diversas atividades técnicas para o profissional nutricionista, Gambardella, Ferreira e Frutuoso (2000) destacaram que a atuação do nutricionista tem se diversificado consideravelmente nos últimos anos, e que o mercado de trabalho tem exigido, cada vez mais, produtividade, criatividade e iniciativa, inovando os campos de atuação. Em pesquisa realizada por Meneses, Peres e Waissman (2007) apontaram que os nutricionistas relatavam o fato de as atividades exercidas na produção serem essencialmente administrativas, onde a principal preocupação patronal/mercadológica baseava-se na garantia de uma boa margem de lucro para a empresa pela qual é contratado, ao invés de preocupar em produzir uma alimentação saudável. Para Boog et al. (1988) esta situação é originada em função das empresas requererem do nutricionista para o atendimento às leis vigentes, mas necessitarem, de fato, de um administrador, profissional que garanta o atendimento às condições estabelecidas em um contrato de prestação de serviços, que lhe garanta a manutenção do fornecimento dos serviços e uma boa margem de lucro, assim, o compromisso do nutricionista, de fornecer refeições de boa qualidade, choca-se com o compromisso do administrador, de garantir uma boa margem de lucro à empresa. Cabendo ao nutricionista que faz papel de administrador, confrontar-se com seus conhecimentos e enquadrar-se no esquema da administração. 34 Diante disto, Ansaloni (1999) realizou uma pesquisa sobre a inserção do nutricionista no centro do processo produtivo das organizações, revestido de inúmeras ambigüidades ou dualidades, de modo que foi investigado se este é profissional liberal ou ator organizacional, agente de saúde ou administrador, trabalhador técnico ou gerente. Dentro dos resultados encontrados, noventa por cento dos nutricionistas da amostra se concentravam na área operacional das empresas de refeições coletivas, e embora estes estivessem ligados aos setores ou departamentos técnico-operacionais das empresas, situação que poderia sugerir um desempenho marcadamente técnico, foi notável que todos eles supervisionam outros empregados, além de desempenhar atividade administrativa ou mesmo gerencial, em escala variável segundo os cargos ocupados. De forma que, o grau de desempenho de atividades administrativas surgiu na pesquisa como um indicativo da posição ocupada na hierarquia das empresas: em posições mais elevadas é maior o desempenho de atividades administrativas - e gerenciais - e menor a atividade técnica. O autor concluiu que apesar da pressão para que assuma a função gerencial, o discurso dos nutricionistas sinaliza que eles rejeitam ou sentem dificuldade em atender alguns pressupostos básicos da função gerencial - a coordenação de coletividades de empregados, o trabalho em equipe, a supervisão de atividades, ou seja, os problemas que vivenciam, no exercício da chefia, ao lidar com grupos de empregados. A dificuldade apresentada pelos nutricionistas ao desempenhar a atividade gerencial de Unidades de Alimentação e Nutrição, de acordo com Boog et al. (1988), pode estar relacionado ao fato da formação do nutricionista estar direcionada a um perfil profissional generalista e liberal, calcado no modelo de profissões de saúde. Desta forma, Ansaloni (1999) destacou que na atividade do nutricionista em Alimentação Coletiva, há uma tendência ao abandono progressivo dos aspectos técnicos e educacionais inerentes à profissão, em prol do conhecimento administrativo e gerencial, sendo necessário um maior desenvolvimento de competências que possam atender à demanda do mercado. 35 2.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO MERCADO: AS MUDANÇAS NAS ORGANIZAÇÕES Diversas mudanças na economia e no mercado mundial ocorreram ao longo da história que geraram impactos significativos nas organizações e na maneira de administrá-las. Deste modo, Boog (2004) busca descrever e compreender as tendências do meio ambiente através da visão de John Naisbitt (Megatendências) e Alvin Tofler (A Terceira Onda). As dez megatendências definidas por Naisbitt, segundo Boog (2004), apesar de se referirem mais especificamente à realidade dos Estados Unidos, são muitos aplicáveis ao nosso contexto. Neste sentido, são descritas as mutações sofridas pelo meio ambiente organizacional como sendo: de uma sociedade industrial para uma sociedade de informação; de tecnologia forçada para alta tecnologia para grande contato humano; da economia nacional à economia mundial; de curto prazo para longo prazo; da centralização para a descentralização; da ajuda institucional para a auto-ajuda; da democracia representativa para a democracia participativa; das hierarquias para a comunicação lateral intensiva; do norte para o sul; do “isto ou aquilo” para a opção múltipla. (BOOG, 2004 p. 15) O futurista Alvin Toffler afirmava que a história da humanidade pode ser dividida em “ondas” (ROBBINS, 2000), das quais a primeira foi a agricultura, a segunda a industrialização e a terceira a informação (BOOG, 2004). Em relação à Primeira Onda, até o fim do século XIX, Robbins (2000, p.7) descreve que todas as economias eram agrárias, de forma que cerca de 90% das pessoas estavam empregadas em trabalhos relacionados com a agricultura. A Segunda Onda, a industrialização, que do final do século XIX até os anos 60, a maioria dos países desenvolvidos tiveram suas sociedades baseadas em máquinas (ROBBINS, 2000). Na sociedade da Industrial, os pressupostos da Segunda Onda, são bem caracterizados nos trabalhos de Max Weber e Frederick W. Taylor, no qual são defendidas as idéias de padronização (fabricação de milhões de 36 produtos idênticos via linha de produção); especialização (em todos os níveis de empresas, de hierarquia, de funções); sincronização (de horários, ritmos); concentração (criação de gigantes empresariais); maximização (crescimento sem limites) e centralização (centralização de poder) (BOOG, 2004). Dentro desta perspectiva os pensamentos de Frederick Taylor, Henry Fayol e Max Weber contribuíram para o desenvolvimento da Teoria Clássica, que nos finais do século XIX, basearam a organização do trabalho, a estrutura de relações de dependência hierárquica e estilo de gestão, que foram sintetizadas por Tachizawa et al. (2006) em: As organizações são entidades racionais destinadas a atingir determinados objetivos, por meios de estruturas formalizadas e diferenciadas; O design de uma organização é uma ciência, conseguida com observação e experimentação, sendo as organizações concebidas como máquinas, funcionando sem qualquer relação com o exterior; As pessoas são seres econômicos, as quais procuram o máximo dinheiro com o mínimo de trabalho, levando o trabalho a ser estruturado de forma que evite o arbítrio individual e maximize o controle; As emoções humanas devem ser eliminadas e afastadas do funcionamento das organizações, por esta razão, a forma mais apropriada de organizar o trabalho baseia-se na análise de funções e eliminação da discricionariedade. Nesta abordagem industrial nas organizações faz com que estas possam ser planejadas à imagem das máquinas, sendo esperado que os seus empregados se comportem essencialmente como se fossem partes destas (MORGAN, 2009). Entretanto, Toffler caracteriza os anos 90 como o fim da Segunda Onda e início da Terceira Onda, como sendo a revolução da informação, (BOOG, 2004) na qual está se “eliminando cargos industriais de baixa qualificação e, ao mesmo tempo, criando abundantes oportunidades de trabalho para especialistas técnicos cultos e qualificados, profissionais liberais e outros “trabalhadores do conhecimento” (ROBBINS, 2000, p. 9). Assim, Robbins (2000) reforça a idéia de que a informação encontra-se na crista da terceira onda, de forma que os trabalhos são projetados em torno da aquisição e da aplicação das informações, e as pessoas que atenderem a 37 estes requisitos de modo a preencher essas funções, serão bem remuneradas pelos seus serviços. O mundo do trabalho mudou, e vem ainda mudando, como destaca Boog (2004, p. 15.) que “a única coisa constante é a mudança”. “Entender as tendências socioculturais é importante, à medida que as empresas estão inseridas na sociedade e sofrem diretamente as influências dessas mudanças; e esse contexto de mudanças condiciona o modelo de gestão e os sistemas de apoio à gestão implantados” (COOPERS & LYBRAND, 1997, p. 27). Diante deste cenário, a mudança se tornou assunto dominante com que se defronta todo gerente (ROBBINS, 2000), de modo que tanto as instituições públicas e privadas lutam para traçar um caminho em um ambiente cada vez mais inconstante, onde a experiência perde rapidamente seu valor e as referências familiares já não servem mais como exemplo (PRAHALAD e HAMEL, 2005). Essas mudanças em escala mundial estão provocando a renovação das tecnologias aplicadas à gestão de negócios nas organizações em função da necessidade de sobrevivência no segmento econômico no qual estão atuando (TACHIZAWA et al., 2006). Diversos processos contemporâneos como os da globalização, a turbulência crescente, a complexidade maior das arquiteturas organizacionais e das relações comerciais, a exigência de maior valor agregado dos produtos e serviços, exigiram das organizações mais flexibilidade e maior velocidade de resposta na estruturação das concorrências internas e no enfrentamento de situações inusitadas e de complexidade crescente (DUTRA, 2007). Dada a relevância deste cenário, dirigir o trabalho e trabalhador intelectual vai exigir imaginação excepcional, coragem excepcional e liderança de alta qualidade (DRUCKER, 2002, p. 204). Desta forma, a administração hoje está menos preocupada com “comando e controle” e dedica-se mais a criar equipes autogeridas (ROBBINS, 2000), com mais autonomia, com o perfil bem diferente do exigido até então de obediência e submissão (DUTRA, 2007), sendo importantes, neste contexto, abordagens de liderança, equipes de trabalho, sistema de recompensa e 38 criação de culturas eficazes (ROBBINS, 2000), dando às empresas a oportunidade de moldar seu próprio destino, não estando fadada a ser retardatária (PRAHALAD e HAMEL, 2005). Nesta perspectiva as questões decisivas nas organizações, segundo Robbins (2000) são as de pessoal, tecnologia, globalização e liderança, sendo elas que determinam como as organizações irão competir e sobreviver. O mesmo autor destaca que no inconstante mundo do trabalho, no qual mudanças como a globalização, revoluções tecnológicas, crescimento ou declínio de alguns setores do trabalho, diversidade cultural, mudanças nas expectativas da sociedade, aumento do espírito empreendedor e clientes mais inconstantes e exigentes, impulsionaram o surgimento de uma nova economia, como descrito no quadro a seguir: Quadro 01 - A economia em transformação A Velha Economia Fronteiras nacionais limitam competição a A tecnologia reforça hierarquias rígidas e limita o acesso às informações As oportunidades de emprego se destinam aos trabalhadores industriais A população é relativamente homogênea A empresa é alienada ao seu ambiente. A economia é conduzida por grandes corporações. Os consumidores adquirem aquilo que as empresas decidem fornecer-lhes. A Nova Economia As fronteiras nacionais são quase insignificantes na definição dos limites de operação de uma organização As mudanças tecnológicas no modo como as informações são geradas, armazenadas, utilizadas e compartilhadas as tornam mais acessíveis. As oportunidades de trabalho se destinam a trabalhadores do conhecimento. A população é caracterizada pela diversidade cultural. A empresa aceita suas responsabilidades sociais. A economia é conduzida por empresas pequenas, empreendedoras. As necessidades do cliente conduzem os negócios. Fonte: Robbins (2000, p. 5) Em função das mutações da economia apresentadas por Robbins (2000), as organizações têm sofrido impactos que as tornaram mais flexíveis e 39 suscetíveis a seus ambientes, refletindo assim em algumas mudanças abaixo descritas: Primeiramente observa-se maior presença de cargos temporários no lugar dos empregos estáveis, uma vez que, os funcionários permanentes limitavam a flexibilidade da empresa, restringindo assim as opções gerenciais e aumentando os custos para empresas que sofrem com altos e baixos dos ciclos do mercado (ROBBINS, 2000). Outro aspecto importante refere-se à mão de obra que de homogênea, tornou-se diversificada. Essa diversidade, de acordo o mesmo autor, refere-se a gênero, idade, raça e etnia, etc., tendo, com isso, a administração adaptado sua prática de recursos humanos para refletir essas mudanças, merecendo destaque as ações de treinamento, buscando a consciência e a compreensão desta diversidade. A qualidade nas organizações também foi impactada pelas mutações da economia, uma vez que a reflexão tardia até então dominante, passou a assumir um papel de aprimoramento contínuo e a satisfação do cliente tornouse essencial. Ressaltando que faz parte deste grupo (clientes) todas as pessoas que atendem e interagem com outros na organização, sejam externos ou internos (ROBBINS, 2000). Este movimento em prol da qualidade provocou o surgimento da cultura participativa, gerando envolvimento das pessoas nas decisões direcionadas melhorias nos processos de trabalho, e a identificação de indicadores de desempenho, servindo como padrão para a mensuração do desempenho individual e das equipes (GRAMIGNA, 2002). No tocante à empregabilidade, Robbins (2000) destaca que as grandes corporações que outrora ofereciam a segurança no emprego, reduziram drasticamente o número de funcionários, havendo com isto, o que passou a ser conhecido como dowsinzing, que de acordo com Tachizawa et al. (2006), é um movimento orientado para o “emagrecimento” da organização pela redução dos custos com o pessoal. Neste contexto Tachizawa et al. (2006) destacam também a reestruturação ou reformulação do trabalho, que na verdade, tratou-se de uma reação à fragmentação das tarefas até então praticada nas organizações, e 40 que Robbins (2000) ressalta que o trabalho antes definido pelos cargos, agora são definidos em termos das tarefas a serem realizadas. Esta reformulação do trabalho, de acordo com o Tachizawa et al. (2006, p.173), pode “tornar-se a forma de rotação das funções quando o emprego passa a desempenhar um cargo do mesmo nível hierárquico; o alargamento de funções que traduz na agregação de diversas tarefas; finalmente o enriquecimento de funções, ao contrário do anterior, consiste no alargamento vertical do trabalho, significando aumento de autonomia e responsabilidade. Além do retorno à idéia de valorização e de retenção de talentos (GRAMIGNA, 2002). As mudanças na economia e no mercado ainda provocaram o redesenho dos processos, termo também conhecido como Reengenharia (ROBBINS, 2000) que Tachizawa et al. (2006, p. 185) descrevem a definição de Hammer e Champy como: “repensar fundamental e a reestruturação radical dos processos empresariais que visam alcançar drásticas melhorias em indicadores críticos e contemporâneos do desempenho, tais como custos, qualidade, atendimento e velocidade”. A empresa dos anos 1960 ou 1970 procurava possuir e controlar o máximo possível suas atividades operacionais, tendo a hierarquia responsável pela eficiência e controle, e hoje esta hierarquia foi desmantelada a fim de reduzir custos, melhorar e eficiência, aumentar a flexibilidade, de modo a permitir que se concentrem nas funções que conseguem desempenhar melhor. Assim, a empresa de hoje está terceirizando as funções; associando-se com outras empresas, fornecedores e clientes; descentralizando a tomada de decisões em unidades autônomas e substituindo departamentos independentes por equipes independentes (ROBBINS, 2000). O método tradicional de remunerar o trabalho das pessoas correspondente à época de estabilidade, muitas vezes determinado pelo tempo de serviço e pela posição hierárquica foi modificado para um pagamento flexível e de ampla faixa (ROBBINS, 2000). Sendo a ampliação de faixas salariais uma prática cada dia mais utilizada, principalmente por empresas que reduziram o número de níveis 41 hierárquicos, ganhando flexibilidade na administração de salários e carreiras (COOPERS & LYBRAND, 1997). “Colaboradores que trabalham segundo o sistema de remuneração e carreiras por habilidades (SRCH) têm seus salários relacionados à amplitude, profundidade e características das habilidades que são capazes de efetivamente utilizar. A remuneração deixa de ser vinculada ao cargo e passa a ser ligada diretamente a pessoa” (COOPERS & LYBRAND , 1997, p. 103). Por fim, outra mudança relevante apresentada por Robbins (2000), é as empresas que participavam de múltiplos negócios, a fim de dispersar os riscos, passaram a concentrar-se nas competências centrais. Neste sentido, as organizações prósperas de hoje estão liquidando os negócios periféricos, de modo a aproveitar seus pontos fortes, concentrandose, assim, naquilo que fazem melhor e que as torna especiais – suas competências centrais ou core competences (ROBBINS, 2000). Autores como Prahalad e Hamel (2005) mencionam que qualquer empresa que queira captar uma fatia desproporcional dos lucros dos mercados de amanhã, precisa desenvolver as competências que contribuirão de forma significativa para o valor futuro do cliente, no qual essas competências essenciais (core competences) são as portas para as oportunidades futuras. Uma competência essencial é um conjunto de habilidades e tecnologias que permite a uma empresa oferecer um determinado benefício ao cliente, podendo ser apresentadas, segundo Robbins (2000), através de pesquisa e desenvolvimento superiores, uma tecnologia exclusiva, eficiência industrial ou um excelente atendimento ao consumidor. De modo que a empresa possa ser vista não apenas como um portfólio de produtos ou serviços, mas também como um portfólio de competências (PRAHALAD & HAMEL, 2005). Para ser considerada uma competência "específica" da organização, uma habilidade precisa passar em três testes: (1) valor percebido pelo cliente; (2) diferenciação entre concorrentes e (3) capacidade de expansão (PRAHALAD & HAMEL, 2005). Para se ter a competência essencial, é preciso o treinamento constante dos funcionários, uso contínuo das competências, desdobrando e 42 reformulando-as de diversas formas e por último desenvolvendo as competências, rompendo as barreiras funcionais, organizacionais para haver trabalho em equipe (PRAHALAD & HAMEL, 2005). Isto posto, as mudanças do mundo do trabalho e na economia estão dando nova forma às organizações e principalmente redefinindo o cargo das pessoas (ROBBINS, 2000), deixando claro que as pessoas devem buscar mudanças de atitudes em suas práticas, e as empresas devem ter o compromisso com o desenvolvimento dessas competências, para que estas possam ser diferentes junto aos consumidores (PRAHALAD & HAMEL, 2005). Esta reflexão é reforçada por Le Boterf (2003) quando afirma que “a capacidade de inovação não reside mais prioritariamente no potencial industrial ou nas despesas de pesquisa-desenvolvimento, mas no investimento nos recursos raros que são as competências”. Assim, Zarifian (2001) analisa três mutações principais, ocorridas no mundo do trabalho, que justificam a emergência do modelo de competência para gestão das organizações. Primeiramente, é discutida a noção de incidente, como sendo aquilo que ocorre de forma imprevista, não programada, vindo a perturbar o desenrolar normal do sistema de produção, ultrapassando a capacidade rotineira de assegurar sua auto-regulação, implicando que a competência não pode estar contida nas predefinições da tarefa. Em segundo plano, encontra-se a noção da comunicação, que implica a necessidade de as pessoas compreenderem o outro e a si mesmas para partilharem objetivos e normas organizacionais. E por fim a noção dos serviços, trazendo à tona a necessidade central de atendimento do cliente externo ou interno à organização, que precisa estar presente em todas as atividades. Diante destas situações, o conceito de competência assume relevância, não só para se reverem as práticas de gestão de pessoas, mas colocar luz na relação entre a estratégia, as funções críticas, as competências essenciais e as competências das pessoas (FLEURY & FLEURY apud ZARIFIAN, 2001). 43 2.3 COMPETÊNCIAS 2.3.1 Origem De acordo com Fernandes (2006), a idéia de competência organizacional surgiu a partir da evolução da chamada “visão da empresa baseada em recursos”, no qual o trabalho pioneiro nessa área foi o livro Theory of the growth of the firm, publicado por Edith Penrose, em 1959. Nesta abordagem, a empresa é concebida como sendo um conjunto de recursos cuja utilização é organizada por um quadro de referência administrativo, no qual os produtos finais sendo produzidos pela empresa em um dado momento representam apenas uma das múltiplas possibilidades pelas quais a empresa poderia estar utilizando seus recursos (PENROSE, 1959, p. 150 apud FERNANDES, 2006). A partir da década de 80, a literatura e a prática na área de administração começam a enfatizar o papel da análise da indústria na formulação da estratégia, no qual, o melhor ou pior desempenho dependem fundamentalmente, do posicionamento dentro da indústria, e que retornos superiores são obtidos quando uma empresa alcança posição de maior rentabilidade e explora suas oportunidades (FERNANDES, 2006). Ainda de acordo com o mesmo autor, a visão do posicionamento no mercado foi dominante neste período e a excessiva atenção que se conferia às forças da indústria foi bastante criticada, de modo que, autores sugeriram a necessidade de que novas pesquisas desviassem o foco da questão do posicionamento e olhassem para o conjunto de recursos que geram riqueza à organização, retomando com isto as concepções iniciais de Penrose. Na oportunidade, foram destacadas as idéias que a administração estratégica consistia em desenvolver e explorar recursos valiosos e que as estratégias de diversificação ocorrem mais pelo desejo de explorar capacitações já existentes na empresa do que pelas imperfeições estruturais de mercados (FERNANDES, 2006). 44 A partir de então, destaca o autor, alguns pesquisadores voltaram-se à análise dessas características específicas, passando a adotar uma considerável quantia de terminologias como “recursos”, “competências”, “capacidades”, “ativos”, etc., que possuem semântica similar. Para Zarifian (2001), o aparecimento do modelo da competência se deu a partir da reflexão a respeito de um novo modelo de avaliação de mão-deobra. O autor descreve que o modelo surgiu a partir de uma pesquisa realizada em PME (pequenas e médias empresas) do setor moveleiro, nos anos 1985/86, na qual viu emergir o que propôs a chamar de “modelo da competência” enquanto modelo de gestão de recursos humanos. O ponto de partida da análise foi a constatação da mudança no modelo de julgamento avaliativo que as direções das empresas faziam da mão de obra, uma vez que no primeiro momento, o desempenho do trabalhador era avaliado pela sua aptidão física, passando então, a ser considerada a solicitação que era feita a seu entendimento do processo de trabalho. Ou seja, passo-se da solicitação do corpo à solicitação do cérebro. A partir deste momento, de acordo com Zarifian (2001, p.22), “o entendimento dos problemas de desempenho (qualidade, variedade, prazos) e a capacidade de iniciativa local passaram a ser vistos como qualidades, que os assalariados iriam precisar demonstrar, em ruptura com os modelos tayloristas que estas mesmas gerências tinham desenvolvido e mantido por muitos anos.” Em consequência disso, surgiu a nova avaliação da competência, que buscava eliminar o a abordagem categorizadora e homogeinizadora da mão de obra, em função da necessidade de se ter uma visibilidade mais fina e mais real das qualificações e dos comportamentos utilizados no trabalho. Outro ponto que impulsionou o surgimento do modelo da competência foi o questionamento da classificação dos assalariados e a gestão a partir do posto de trabalho, uma vez que estes apresentavam inconvenientes como a formalização de uma abordagem rígida de situações de trabalho que não traziam nenhuma informação pertinente e que valesse a pena explicitar “publicamente” sobre as competências dos indivíduos que ocupavam diferentemente os postos de trabalho (ZARIFIAN, 2001). 45 Deste modo, o autor destaca que, este novo modelo concernia a diversos componentes das práticas de gestão de recursos humanos, a saber: Novas práticas de recrutamento muito mais finas e rigorosas do que anteriormente. Surgindo, neste contexto, a exigência de diploma que pudesse garantir uma instrução mínima; Novo tipo de compromisso no que concerne à mobilidade interna, de forma que, a empresa comprometia-se a facilitar os desenvolvimentos de competências e a instaurar um sistema de promoção profissional (horizontal e vertical) que acompanhasse essas evoluções; Insistência inédita da “responsabilidade” dos assalariados, através da delegação de responsabilidades, nas funções mais atingidas por variações do processo de produção e do mercado, e em funções dos potenciais de cada indivíduo; E por último, a modificação dos sistemas de classificação e de remuneração. Já Dutra (2001) descreve o surgimento do modelo de Gestão de Pessoas com Base em Competências, a partir das transformações que a forma de gerir pessoas sofreu ao longo dos últimos vinte anos. Em especial, a alteração no perfil das pessoas exigido pelas empresas; o deslocamento do foco da gestão de pessoas por meio de controle para o foco por meio do desenvolvimento; e a maior participação das pessoas no sucesso da empresa. Fundamentado nestas informações, o que se pode constatar nos últimos anos, o tema competência entrou para a pauta das discussões acadêmicas e empresariais, associado a diferentes instâncias de compreensão, seja no nível da pessoa (a competência individual), das organizações (core competences) e dos países (sistemas educacionais e formação das competências) (FLEURY e FLEURY, 2001). 2.3.2 Definição e Evolução dos conceitos O termo Competência é um termo com origem no latim, sendo inicialmente relacionado à linguagem jurídica. Suas definições em dicionários 46 remetem primeiramente a esta associação, como descrito em Houaiss (2001, p. 775): “aptidão de uma autoridade pública de efetuar determinados atos”, ou “qualidade legítima de jurisdição ou autoridade, conferida a um juiz ou a um tribunal, para conhecer e julgar certo feito submetido à sua deliberação dentro de determinada circunscrição judiciária” e no Dicionário Aurélio (2004) como: “faculdade que a lei concede a funcionário juiz ou tribunal para apreciar ou julgar certos pleitos ou questões” Bitencourt (2005) destaca que no fim da Idade Média, a expressão competência era associada basicamente à linguagem jurídica, sendo relacionada à faculdade atribuída alguém ou a uma instituição para apreciar e julgar certas questões. Com sua vulgarização do termo, este encontrou outras acepções como as que são ainda descritas nos dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (HOUAISS, 2001): “soma de conhecimentos ou de habilidades”; “indivíduo de grande autoridade num ramo do saber ou do fazer”; ou “capacidade objetiva de um indivíduo para resolver problemas, realizar atos definidos e circunscritos”, e no Dicionário Aurélio (2004) como sendo: “capacidade” ou “aptidão” Deste modo, competência é uma palavra do senso comum, utilizada para designar uma pessoa qualificada para realizar alguma coisa, sendo seu oposto, não necessariamente uma negação desta capacidade, mas uma conotação pejorativa ou depreciativa (FLEURY e FLEURY, 2001). Dutra (2001) em primeiro momento define o que é competência, atribuindo-a a diferentes elementos, nos quais de um lado têm-se a organização como um conjunto próprio de competências, que são originadas da gênese e do processo de desenvolvimento da organização e são concretizadas no seu patrimônio de conhecimentos, e do outro lado as pessoas, com seu conjunto de competências que pode ou não estar sendo aproveitado pela empresa. Destacando que a organização e as pessoas, lado a lado, propiciam um processo contínuo de troca de competências. Neste sentido, Bitencourt (2005) apresenta as diferentes abordagens das diversas correntes de estudos (americana, latino-americana, francesa, australiana) e dos diversos autores sob a ótica da organização e das pessoas, conforme descrito no quadro 2: 47 Quadro 02 - Conceitos de Competências Autor Conceito 1. Boyatizis (1982, p.23) “Competência são aspectos verdadeiros ligados à natureza humana. São comportamentos observáveis que determinam, em grande parte, o retorno da organização” 2. Boog (1991, p.16) “Competência é a qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa; significa capacidade, habilidade, aptidão e idoneidade” 3. Spencer e Spencer (1993, p. 9) 4. Sparrow e Bognanno (1994, p 3) “Competência refere-se a características intrínsecas ao indivíduo que influencia e serve de referencial para seu desempenho no ambiente de trabalho” “Competências representam atitudes identificadas como relevantes para a obtenção de alto desempenho em um trabalho específico, ao longo de uma carreira profissional, ou do contexto de uma estratégia corporativa” “O desenvolvimento de competências compreende os aspectos intelectuais inatos adquiridos, conhecimentos, capacidades, experiências, maturidade. Uma pessoa competente executa ações adequadas e hábeis em seus afazeres, em sua área de atividade” “As competências se definem mediante padrões de comportamentos observáveis. São as causas dos comportamentos, e estes, por sua vez, são a causa dos resultados. É um fator fundamental para o desempenho” “Um agrupamento de conhecimentos, habilidades e atitudes correlacionados, que afeta parte considerável da atividade de alguém, que se relaciona com o desempenho, que pode ser medido segundo padrões preestabelecidos e que pode ser melhorado por meio de treinamento e desenvolvimento.” 5. Moscovicci (1994, p. 26) 6. Cravino (1994, p.161) 7. Parry (1996, p.411) 8. Sandberg (1996, p.48) “A noção de competência é construída a partir do significado do trabalho. Portanto, não implica exclusivamente na aquisição de atributos.” 9. Bruce (1996, p.6) “Competência é o resultado final da aprendizagem.” 10. Boterf (1997, p.267) 11. Magalhães et al. (1997, p.14) 12. Perrenoud (1998) 13. Durand (1998, p.3) 14. Hase et al. (1998, p.9) 15. Dutra et al. (1998, p.3) 16. Ruas (1999, p.10) “Competência é assumir responsabilidade frente a situações de trabalho complexas, buscando lidar com eventos inéditos, surpreendentes, de natureza singular.” “Conjunto de conhecimentos, habilidades e experiências que credenciam um profissional a exercer determinada função.” “A noção de competência refere-se a práticas do quotidiano que se mobilizam através do saber baseado no senso comum e do saber a partir de experiências.” “Conjuntos de conhecimentos, habilidades e atitudes interdependentes e necessárias à consecução de determinado propósito.” “Competência descreve as habilidades observáveis, conhecimentos e atitudes das pessoas ou das organizações no desenvolvimento de suas funções (...) A competência é observável e pode ser mensurada por meio de padrões.” “Capacidade da pessoa de gerar resultados dentro dos objetivos estratégicos e organizacionais da empresa, se traduzindo pelo mapeamento do resultado esperado (output) e do conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para seu atingimento (input).” “É a capacidade de mobilizar, integrar e colocar em ação conhecimento, habilidade e formas de atuar (recursos de competências), a fim de atingir/superar desempenhos configurados na missão da empresa e da área.” Ênfase Formação, comportamentos, resultados. Aptidão, Valores e Formação Formação e Resultado Estratégias, ação e resultados Aptidão e ação Ação e resultados Resultado, formação Formação e interação Aprendizagem individual e autodesenvolvimento Mobilização e ação Aptidão e formação Formação e ação Formação e resultados Ação e resultado Aptidão, resultados, formação Ação e resultados 48 Autor Conceito 17. Fleury e Fleury (2000, p.21) “Competência: um saber agir responsável e reconhecido que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo.” “O conceito de competência sintetiza a mobilização, integração e transferência de conhecimentos e capacidades em estoque, deve adicionar valor ao negócio, estimular um contínuo questionamento do trabalho e a aquisição de responsabilidades por parte dos profissionais e agregar valor em duas dimensões: valor econômico para a organização e valor social ao indivíduo.” “As competências descrevem de forma holística a aplicação de habilidades, conhecimentos, habilidades de comunicação com o ambiente de trabalho (...) São essenciais para uma participação mais efetiva e para incrementar padrões competitivos. Focaliza-se na capacitação e aplicação de conhecimentos e habilidades de forma integrada no ambiente de trabalho.” “A competência profissional é uma combinação de conhecimentos, de saber-fazer, de experiências e comportamentos que se exerce em um contexto preciso. Ela é constada quando de sua utilização em situação profissional a partir daí é passível de avaliação. Compete então á empresa identificá-la, avaliá-la, validá-la e fazê-la evoluir.” “Competências referem-se a conhecimentos individuais, habilidades ou características de personalidade que influenciam diretamente o desempenho das pessoas.” “Repertórios de comportamentos e capacitações que algumas pessoas ou organizações dominam melhor que outras, fazendo-as eficazes em uma determinada situação” “Saber administrar uma situação profissional complexa” 18. Hipólito (2000, p. 7) 19. Davis (2000, pp. 1 e 15) 20. Zarifian (2001, p.66) 21. Becker et al. (2001, p. 156) 22. Gramigna (2002) 23. Le Boterf (2003) 24. Boog (2004) 25. Ruas et al. (2005) “O termo competência tem muitos aspectos assemelhados ao termo competição. Competência é a qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa; significa capacidade, habilidade, aptidão e idoneidade”. “A noção de competência aproxima-se mais da capacidade de combinar e mobilizar adequadamente recursos já desenvolvidos de que um stock de conhecimentos e habilidades” Ênfase Ação e resultados Formação, resultados, perspectiva dinâmica Ação e resultados Aptidão, ação e resultados Formação e desempenho Formação, Aptidão, Resultados Ação, aptidão e desempenho Ação, qualificação e aptidão Ação e resultados Fonte: Adaptado de Bitencourt (2005) Deste modo, os diversos estudos a respeito das competências, levam a relacioná-los aos aspectos de: desenvolvimento de conceitos, habilidades e atitudes (formação); Capacitação (aptidão); Práticas de trabalho, capacidade de mobilizar recursos (ação); Articulação de recursos (mobilização); Busca de melhores desempenhos (resultados); Questionamento constante (perspectiva dinâmica); Processos de aprendizagem individual (auto-desenvolvimento); e relacionamento com as outras pessoas (interação) (BITENCOURT, 2005). Fleury e Fleury (2001) destacam que em sua maioria, autores norteamericanos relacionam as competências a um estoque de qualificações – conhecimentos, habilidades e atitudes, enquanto autores franceses defendem 49 que competência não é um conjunto de qualificações da pessoa, e sim as realizações da mesma em um determinado contexto. 2.3.3 Tipologias das competências É evidente que existe uma diversidade de definições e aplicações das competências, entretanto Fleury e Fleury (2001, p. 187) afirmam que a noção de competência aparece assim associada a verbos como: saber agir, mobilizar recursos, integrar saberes múltiplos e complexos, saber aprender, saber engajar-se, assumir responsabilidades, ter visão estratégica, e que tanto na literatura acadêmica, como nos textos que fundamentam a prática administrativa, a referência que baliza o conceito de competência é a tarefa e o conjunto de tarefas pertinentes ao cargo. Faz-se importante destacar que um elemento fundamental para a caracterização da idéia de competência é o âmbito no qual ela se exerce, uma vez que não existe uma competência sem a referência de um contexto no qual ela se materializa (PERRENOUD, 2002). Tomando como referência as dimensões da competência destacadas por Fleury e Fleury (2001), nas quais estão englobadas as competências no nível das pessoas (competência individual), das organizações (core competences) e dos sistemas educacionais (formação das competências), diversos autores dedicaram-se a descrevê-las de modo que é possível observar e compreender as diversas abordagens e modelos de competências, permitindo, assim, o entendimento do termo e suas respectivas aplicabilidades ao mundo do trabalho. Para Dutra (2007) a definição de competências como sendo o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para que a pessoa desenvolva suas atribuições e responsabilidade, possui um enfoque pouco instrumental, uma vez que esses requisitos não garantem que elas possam agregar valor à organização. Baseado nesta visão, o conceito de competência é discutido em paralelo com o conceito de entrega, uma vez que para efeitos de admissão, 50 demissão, promoção, aumento salarial, etc., a pessoa é avaliada e analisada em função de sua capacidade de entrega para a empresa. Durante os anos 80 e 90, autores como Le Boterf e Zarifian contestaram a definição de competência associada ao estoque de conhecimentos e habilidades das pessoas e procuraram associar este conceito às suas realizações e àquilo que elas provêem, produzem e /ou entregam. Para eles, o fato de a pessoa deter as qualificações necessárias para um trabalho não assegura que ela irá entregar o que lhe é demandado (DUTRA, 2007). Na reflexão a respeito das competências, inicialmente Le Boterf (2003) destaca que a competência do profissional é saber administrar uma situação profissional complexa, no qual o saber administrar está relacionado a saber agir com pertinência; saber mobilizar saberes e conhecimentos em um contexto profissional; saber integrar ou combinar saberes múltiplos e heterogêneos; saber transpor; saber aprender e aprender a aprender e saber envolver-se. Zarifian (2001) resume as mutações do conteúdo do trabalho em torno de três conceitos: evento, comunicação e serviço, e explica como se dá a aplicação das competências nestas situações impostas pelo mundo do trabalho. O evento é descrito pelo autor como sendo aquilo o que ocorre de maneira parcialmente imprevista, inesperada, vindo perturbar o desenrolar normal do sistema de produção, superando a capacidade da máquina de assegurar sua auto-regulagem. São exemplos destas situações: as panes, os desvios da qualidade, os materiais que faltam, as mudanças imprevistas na programação da fabricação, uma encomenda repentina de um cliente etc. Em resumo, tudo o que poderá ser chamado de acaso. A partir desta definição de evento Zarifian (2001) realiza uma reflexão sobre em que consiste o trabalho e quais competências são esperadas neste contexto, pois são em torno desses eventos que se recolocam as intervenções humanas mais complexas e mais importantes. Para o autor, trabalhar é, fundamentalmente, “estar em expectação atenta a esses eventos, é “pressenti-los” e enfrentá-los, quando ocorrem. 51 Enfrentá-los com sucesso, dominando o evento, permitindo que a produção seja retomada de acordo com os critérios previstos”. Em consequência disto, o indivíduo deve confrontar o evento, deve resolver os problemas que revela ou gera, de maneira que três procedimentos podem ser distinguidos: a) Antes do evento: sua expectação atenta, sua antecipação parcial; b) Durante o evento: a intervenção ativa e pertinente em situação de evento e c) Depois do evento: o debruçar-se reflexivo sobre o evento ocorrido, “com frieza”, para compreendê-lo, para analisar profundamente as causas e os motivos que fizeram com que esse evento ocorresse, para evitar que volte a ocorrer (ZARIFIAN, 2001, p. 41.). Le Boterf (2003) corrobora com esta reflexão quando relaciona o “saber agir com pertinência” como sendo um requisito essencial da competência profissional, defendendo a idéia de que o profissional deve não somente saber executar o que é prescrito, mas deve saber ir além do prescrito, uma vez que, segundo ele, a competência se revela mais no saber agir do que no “saber fazer”, uma vez que a competência existe verdadeiramente quando sabe encarar o acontecimento, o imprevisto. A competência requer uma instrumentalização em saberes e capacidades, mas não se reduz a essa instrumentalização, uma vez que não pode limitar-se ao estabelecimento de uma lista de conhecimentos ou de habilidades nem mesmo à constatação de sua aplicação (LE BOTERF, 2003). Em resumo, a competência só se manifesta na atividade prática, é dessa atividade que poderá decorrer a avaliação das competências nela utilizada (ZARIFIAN, 2001), e o profissional não é aquele que possui conhecimentos ou habilidades, mas aquele que sabe mobilizá-los em um contexto profissional (LE BOTERF, 2003). A competência é uma representação de uma ação efetiva e legitimada no ambiente de trabalho, uma vez que só pode ser reconhecida através de uma ação concreta na situação real de trabalho e na relação com um desempenho esperado (RUAS et al., 2005). Entretanto, a qualificação do trabalhador não pode ser considerada somente a efetivação prática das competências individuais, uma vez que o exercício da competência não existe sem a profundidade dos conhecimentos que poderão ser mobilizados na situação. Os conhecimentos não se limitam ao 52 nível de sua aplicabilidade, pois depende de um exercício reflexivo e pressupõe-se que o sujeito mobilize suas aprendizagens em favor das situações (RAMOS, 2000). Competência é “o tomar iniciativa” e “o assumir responsabilidade” do individuo diante de situações profissionais com as quais se depara, no qual Zarifian (2001) descreve a importância de cada palavra utilizada nesta definição, conforme quadro 03: Quadro 03 - Proposta de definição de competência Palavra Assumir Tomar Iniciativa Assumir responsabilidade Sobre situações Entendimento prático Se apóia em conhecimentos adquiridos E os transforma Quanto maior for a diversidade das situações, mais intensamente serão modificados os conhecimentos Mobilizar redes de atores Compartilhar as implicações de uma situação Importância A competência é “assumida”, resulta de um procedimento pessoal do indivíduo, que aceita assumir uma situação de trabalho e ser responsável por ela. É uma ação que modifica algo que existe, que introduz algo novo, que começa alguma coisa, que cria O assalariado responde pelas iniciativas que toma e por seus efeitos, não apenas em razão das avaliações sociais de que será objeto, mas também em virtude de sua “disposição para assumir responsabilidade” pela situação Uma situação comporta simultaneamente um conjunto de objetivos, implicações das ações e a maneira subjetiva que o indivíduo tem de aprender, se situar, enfrentar e determinar seu comportamento. Entender uma situação é saber avaliá-la levando em conta “comportamentos” de seus constituintes, sejam eles materiais (máquinas) ou humanos. não há exercício da competência sem um lastro de conhecimentos que poderão ser mobilizados em situação de trabalho A dialética que se instaura entre competência e conhecimentos faz precisamente com que estes últimos modifiquem-se ao contato com problemas e implicações da situação real de trabalho. o indivíduo aprende melhor e mais rápido na medida em que se deve fazer em face a situações variadas qualquer situação um pouco mais complexa excede as competências de um único indivíduo os assalariados só se comunicarão entre si e só disponibilizarão suas competências se experimentarem o sentimento de participar das mesmas implicações de uma situação, e se forem avaliados pela chefia à base dessas implicações Assumir campos de co- a responsabilidade não é compartilhada (sob o risco de responsabilidades enfraquecer) todas as situações nas quais apenas uma pessoa enfrenta um evento exigem necessariamente que a responsabilidade seja assumida individualmente Fonte: Adaptado de Zarifian (2001) 53 Entretanto, o profissionalismo, segundo Le Boterf (2003) se constrói na articulação de “três domínios”: o sujeito, as situações profissionais e as situações de formação, conforme esquematizado na figura 1: Figura 01 - A Mobilização Profissional Fonte: Le Boterf (2003, p. 50) Diversos autores descrevem uma variedade de definições e aplicações ao desenvolvimento da abordagem competência, nos quais serão apresentados a seguir. Rezende (2000) apresenta as competências dentro da perspectiva de classificação quanto ao domínio e aplicação de conhecimentos e habilidades, de modo que propôs as categorias de competências técnicas, competências intelectuais, competências cognitivas, competências relacionais, competências sociais e políticas, competências didáticas pedagógicas, competências metodológicas, competências de lideranças e competências organizacionais. Primeiramente, as competências técnicas referem-se ao domínio de especialistas, como exemplo, competências específicas de um determinado profissional, como um motorista de transporte de cargas. No que diz respeito às competências intelectuais, estas estão contidas na aplicação das aptidões mentais, como se pode requerer nas situações nas quais se necessitam de discernimento das situações. 54 Já as competências cognitivas estão relacionadas à capacidade intelectual e de domínio de conhecimentos, como o saber lidar com conceitos e teorias, aplicar terminologias e elaborar classificações. No tocante às competências relacionais, estas se desenvolvem nas habilidades práticas de relações e interações, como saber relacionar-se em diversos níveis e saber fazer-se representar em situações específicas, interagindo com diferentes áreas. Em relação às competências sociais e políticas, estas são voltadas para as relações e participações na sociedade, que podem ser exemplificadas com o saber manter relações e convivência com as pessoas, grupos, e associações. Para as competências didáticas pedagógicas, relacionam-se as questões educacionais de ensino/aprendizagem, como o saber ensinar e treinar a fim de obter resultados de aprendizagens. Saber planejar aulas de acordo com preceitos pedagógicos pode ser um exemplo destas competências. Nas competências metodológicas, estas estão inseridas no contexto da aplicação de técnicas e meios de organização de atividades de trabalho, como o saber organizar o trabalho da equipe e definir roteiros e fluxos de serviços, elaborando normas de procedimentos. Referente às competências de lideranças estas são as que reúnem habilidades pessoais e conhecimentos técnicos utilizados para influenciar e conduzir um grupo ou equipe. Por fim, as competências organizacionais, que são as competências aplicadas a diferentes objetivos e formas de organização e gestão empresarial que se classificam em: competências essenciais (core competences); competências de gestão (específicas do nível gerencial); competências gerenciais (de conhecimentos de técnicas de administração); competências requeridas pelos cargos (competências requeridas para ocupação de determinados cargos). Zarifian (2001) diferencia as seguintes competências em uma organização: Competência sobre processos, a qual inclui os conhecimentos do processo de trabalho; 55 Competências técnicas, onde estão presentes os conhecimentos específicos sobre o trabalho que deve ser realizado; Competências sobre a organização, implicando o saber organizar os fluxos de trabalho; Competências de serviço, que responderá o questionamento de qual o impacto que o produto e serviço terão sobre o consumidor final. Competências sociais, a qual na verdade é o “saber ser”, incluindo neste contexto, as atitudes que sustentam os comportamentos das pessoas a partir do domínio da: autonomia, responsabilização e comunicação. Gramigna (2002) descreve quatro tipos de competências: as competências diferenciais, essenciais, básicas e terciárias. As competências diferenciais são consideradas as competências estratégicas que estabelecem a vantagem competitiva da empresa, identificadas no estabelecimento da missão empresarial e descritas de forma genérica. Sendo constituídas por um conjunto de capacitações que auxiliam a empresa a alcançar seus resultados e fazer o diferencial no mercado. As competências essenciais são aquelas identificadas e definidas como as mais importantes para o sucesso do negócio e devem ser percebidas pelos clientes. São estas as competências essenciais (core competences) referidas por Prahalad e Hamel (2005) como sendo as portas para as oportunidades futuras, sendo descrita como uma trama, tecida com os fios de habilidades e tecnologias distintas, e o que faz uma determinada organização destacar-se perante as demais. Já as competências básicas são as necessárias para manter a organização funcionando, sendo mais percebidas pelo ambiente interno, quais as estimulam e alicerçam o clima de produtividade. Por fim, Gramigna (2002) cita as competências tercerizáveis como sendo as que não estão ligadas à atividade fim da organização e que podem ser repassadas a fontes externas com maior competência e valor agregado. Para descrever o desenvolvimento de competência do ser humano, a autora compara ao processo de crescimento de uma árvore, conforme descrito a seguir: 56 A raiz da árvore corresponde às atitudes que é determinado pelo conjunto de valores, crenças e princípios formados ao longo da vida. O tronco corresponde ao conhecimento no qual é formado pelo conjunto de informações que a pessoa armazena e lança mão quando precisa. Gramigna (2002) destaca que quanto maior este conhecimento, mas a competência se fortalece e permite que o profissional enfrente com flexibilidade e sabedoria os diversos desafios de seu dia-a-dia. Por último, a copa da árvore (com seus frutos, flores e folhas) está relacionada às habilidades, que é tida como a capacidade técnica para obter resultados positivos. Já Le Boterf (2003) apresenta determinadas tipologias de competência, tais como: Competência linguística: esta competência está relacionada ao processo de “saber falar”, havendo a necessidade do domínio linguístico, através do emprego do léxico e das regras gramáticas que possibilitarão a um desempenho linguístico satisfatório; Competência profissional: que está relacionado ao saber agir, caracterizado pelo domínio profissional através da aplicação de conhecimentos declarativos e também procedimentais, o que proporcionará práticas profissionais e desempenhos profissionais de excelência; Competência comportamental: relacionada à capacidade de iniciativa e resolução de problemas; Competência Coletiva: que surge quando se encontra situações de sinergia e cooperação entre as competências individuais; Competência Jurídica: é a competência vinculada aos critérios que permitem decidir sobre o sucesso da atividade; Competência Tática: é a competência reconhecida durante a atividade; Competência estética ou ética: é a competência cujos critérios de êxito não podem ser descritos “senão posteriormente”, pois há um julgamento posterior de conformidade a um “ideal”. A emergência da noção de competência atende pelo menos a três propósitos (RAMOS, 2000, p.39): 57 a) reordenar conceitualmente a compreensão da relação trabalhoeducação, desviando o foco dos empregos, das ocupações e das tarefas para o trabalhador em suas implicações subjetivas com o trabalho; b) institucionalizar novas formas de educar/formar os trabalhadores e de gerir o trabalho internamente às organizações e no mercado de trabalho em geral, sob novos códigos profissionais em que figuram as relações contratuais, de carreira e de salário; c) formular padrões de identificação de capacidade real do trabalhador para determinada ocupação, de tal modo que possa haver mobilidade entre as diversas estruturas de emprego em nível nacional e em nível regional. Perrenoud (2002) destaca que em uma sociedade na qual o conhecimento transformou-se no principal fator de produção, é natural que muitos conceitos transitem entre os universos da economia e da educação, e a qualificação torna-se um conceito central na relação trabalho-educação (RAMOS, 2001). Mesmo que o reconhecimento dos diplomas possuídos não tenha sido obtido enquanto tal, o fato de uma relação ter sido explicitamente estabelecida entre os níveis de emprego e os níveis de formação da Educação Nacional, contribuiu para certo reconhecimento social da importância dos diplomas e fez com que tanto as pessoas como os parceiros sociais percebessem o fato de que o diploma tornava-se um dos referenciais indispensáveis da qualificação profissional, de modo que, as carreiras de formação profissional estão mais explicitamente voltadas para a aquisição de competências (ZARIFIAN, 2001). O mesmo autor ainda destaca a diferença entre a escola e a situação de trabalho, de forma que ao trabalhar, o assalariado é envolvido por implicações de suas ações muito mais severas do que ao fazer um exercício escolar. Assim, a qualificação profissional deve, então, ser negociada, e seu conteúdo deve ser tornado publico (ZARIFIAN, 2001), uma vez que a qualificação estará apoiada sobre dois sistemas: a) as convenções coletivas, que classificam a hierarquizam os postos de trabalho; b) o ensino profissional, que classifica e organiza os saberes em torno dos diplomas (RAMOS, 2000). 58 2.4 COMPETÊNCIAS GERENCIAIS 2.4.1 Gerência A necessidade de gerenciar o trabalho humano vem sendo observada em todos os capítulos da história, desde a construção das pirâmides egípcias e da muralha da China, entretanto, é no surgimento do capitalismo industrial que a figura do gerente emerge tal como é conhecida hoje, tendo como objetivo principal, a geração de lucro (ESTHÉR, 2007). Nos primórdios da administração, definia-se administrador como alguém “responsável pelo trabalho de terceiros”, distinguindo-se assim a função do administrador da do proprietário da empresa, (DRUCKER, 2002) sendo os gerentes os trabalhadores instruídos, “de quem se esperam, em virtude de sua posição ou seu conhecimento, e no decorrer normal de seu trabalho, decisões que tenham impacto significativo no desempenho e nos resultados de conjunto” (DRUCKER, 1990 apud ESTHÉR, 2007). Buscando definição de gerentes, Robbins (2000) divide em duas categorias as pessoas que trabalham em uma empresa: gerentes e trabalhadores, no qual os gerentes são todas as pessoas que supervisionam atividades de outras, tendo estas se reportando a eles. Para Boog (2004) o termo gerente não significa apenas o título de cargo ou posição hierárquica, mas estes exercem um papel que tem uma única responsabilidade: atingir resultados com pessoas e com inovação. Estando o sucesso organizacional na dependência de seu quadro gerencial. Os gerentes constituem uma parcela significativa da força de trabalho de quase todos os países, não sendo uma categoria de cargo insignificante, uma vez que uma das coisas que os gerentes fazem é direcionar um grupo ou uma organização (ROBBIN, 2000). De acordo com Drucker (2002), os executivos compõem um recurso fundamental e mais caro da empresa, além de ser o que mais rapidamente se deprecia e mais constantemente precisa ser reposto. 59 Exemplificando esta reflexão, o mesmo autor refere que em uma fábrica automatizada, pode não haver quase nenhum funcionário comum, mas haverá sempre os gerenciadores. Robbins (2000) destaca que os gerentes estabelecem uma liderança formal esclarecendo as pessoas sobre o que se espera que elas façam, atuando como canal de comunicação mediante a coordenação das atividades de suas unidades com as demais unidades de uma organização. As primeiras tentativas de cuidar teoricamente dos problemas associados à organização do trabalho se deram com os economistas clássicos, sendo seu trabalho continuado na fase final da Revolução Industrial por pensadores como Andrew Ure e Charles Babbage (BRAVERMAN, 1977 apud ESTHÉR, 2007). Neste contexto é importante destacar a contribuição de Frederick Taylor através da sistematização da organização do trabalho e da produção através do Management Científico de Henri Fayol, pela definição do trabalho do gerente nas organizações e de Max Weber através do estudo do poder e da legitimidade como aparelho administrativo para servir de suporte à autoridade (TACHIZAWA et al., 2006; ESTHER, 2007). Para Taylor, o papel dos gerentes estava relacionado aos princípios do Scientific Management – planejamento, preparação, controle e separação entre a concepção e a execução do trabalho. De modo que os membros da direção deveriam criar e desenvolver métodos científicos por meio do estudo exaustivo de cada elemento do processo de trabalho, e após isto, selecionar cientificamente os operários e controlá-los de forma que seu trabalho fosse efetuado segundo os requisitos previamente definidos (TACHIWAZA et al., 2006). Já Fayol, através dos princípios da organização, foi quem efetivamente se preocupou em definir o trabalho do gerente, entendendo que as diversas atividades de uma empresa devem ser classificadas e separadas por função: técnica, comercial, financeira, de segurança, de contabilidade e administrativa (ESTHER, 2007). O autor descreve quatorze princípios, sendo considerados como universais, e que seriam mais observados e aplicados por ele em sua experiência gerencial: divisão do trabalho; autoridade e a responsabilidade; 60 disciplina; unidade de comando; unidade de direção; subordinação do interesse particular ao geral; remuneração do pessoal; centralização; hierarquia; ordem; equidade; estabilidade do pessoal; iniciativa; e união do pessoal (TACHIZAWA et al., 2006; ESTHER, 2007 ). No que se refere à função administrativa, constitui responsabilidade principal dos gestores a implementação destes princípios, tendo como obrigações do management o planejamento, organização, comando, coordenação e controle, e por fim, Max Weber procurou integrar o estudo das organizações no desenvolvimento histórico-social, descrevendo que cada época social caracterizou-se por determinado sistema político e por uma elite que, para manter o poder e a legitimidade, desenvolveu determinado aparelho administrativo para servir de suporte a sua autoridade (TACHIWAZA et al., 2006, p. 61). Para Weber (1999), nem toda a dominação se serve de meios econômicos, nem muito menos tem fins econômicos, mas toda dominação de pessoas requer normalmente um quadro de pessoas com cuja obediência se pode contar. Esse quadro administrativo pode estar vinculado à obediência ao senhor (ou aos senhores) por costume ou de modo puramente afetivo, ou por interesses materiais ou por motivos ideais (racionais referentes a valores) Para o autor (p. 141), há três tipos puros de dominação legítima: De caráter racional: baseada na crença na legitimidade das ordens estatuídas e do direito de mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercer a dominação (dominação legal); De caráter tradicional: baseada na crença cotidiana na santidade das tradições vigentes desde sempre e na legitimidade daqueles que, em virtude dessas tradições, representam a autoridade (dominação tradicional); De caráter carismático: baseada na veneração extra-cotidiana da santidade, do poder heróico ou do caráter exemplar de uma pessoa e das ordens por esta revelada ou criadas (dominação carismática). No caso da dominação baseada em estatutos, obedece-se à ordem impessoal, objetiva e legalmente estatuída e aos superiores por ela determinados; no caso da dominação tradicional, obedece-se à pessoa nomeada pela tradição em virtude de devoção aos hábitos costumeiros; e por último, no caso da dominação carismática, obedece-se ao líder 61 carismaticamente qualificado como tal, em virtude de confiança pessoal em revelação, heroísmo ou exemplaridade dentro do âmbito da crença nesse seu carisma (WEBER, 1999). No tocante à classificação dos gerentes, Robbins (2000) propõe uma estrutura conforme descrito no quadro 04: Quadro 04 - Classificando os gerentes Fonte: Robbins (2000, p. 30) Os gerentes operacionais ou de primeira linha são os de nível gerencial mais inferior e são conhecidos, geralmente, por supervisores; na média administração, encontram-se títulos de como chefe de departamento ou de unidade; e na cúpula, ou próximo à cúpula de uma organização, os gerentes, via de regra, têm títulos como presidente, presidente do conselho de administração, diretor-superintendente, vice-presidente, diretor executivo, administrativo ou operacional (ROBBINS, 2000). A determinação de quais os postos de direção necessários deve ser decorrência das operações e contribuições necessárias para que alcancem os objetivos da empresa. O posto de determinado administrador existe porque a tarefa com que a empresa se depara assim o exige (DRUCKER, 2002). 62 Ainda segundo o mesmo autor, cada posto deve contar sempre com amplitude e dimensões gerenciais, considerando que o dirigente é alguém que assume responsabilidades relativas aos resultados finais do empreendimento e colabora para sua concepção, os postos devem sempre abranger o máximo de desafio, de responsabilidade e de colaboração. 2.4.2 Definições e Modelos de Competências Gerenciais Desde que a noção de competência no nível organizacional ganhou destaque na pesquisa em administração, autores, consultores e executivos procuram compreender a idéia de competência e, sobretudo, desenvolvê-la na prática da organização (FERNANDES, 2006). Como já foi citado anteriormente, competência tem significados, tanto ligados à tarefa e aos seus resultados, como características das pessoas, podendo a mesma ser classificada sob o ponto de vista pessoal – competências essenciais – relacionadas ao indivíduo, à equipe e seu desenvolvimento, e do ponto de vista empresarial – competências organizacionais – essas relacionadas às estratégias corporativas (CUNHA e NETO, 2006). As organizações vivem hoje em um cenário de crescentes mudanças, que decorrem das transformações ocorridas tanto no ambiente externo, através dos processos de globalização (financeira, comercial e produtiva), como no ambiente interno, através da necessidade de migrar do modelo tradicional de gestão (taylorista-fordista) e do modelo hierárquico funcional (desenvolvido por Fayol), para um modelo em que o foco é o mercado e, por conseqüência, a atenção da gestão volta-se para os indivíduos e não para a estrutura, o cargo ou a linha de produção (BONILAURI & KARAM, 2004). Robbins (2000) ressalta o papel do gerente no contexto do mutável mundo do trabalho, no qual não é apenas a economia, as organizações e os cargos que estão passando por mudanças, mas o cargo gerencial também está mudando, conforme apresentado no quadro 05. 63 Quadro 05 - O gerente em transformação O Velho Gerente Opera em clima de previsibilidade e estabilidade O chefe Deseja autoridade Acumula informação Trata todas as pessoas como iguais Fonte: Robbins (2000, p. 37) O Novo Gerente Prospera no caos O treinador Dá poder Compartilha informação É sensível às diferenças É importante entender as competências dentro do contexto das complexidades e demandas organizacionais, uma vez que o grau de complexidade com que um indivíduo realiza seu trabalho depende de seu nível de maturidade profissional, entretanto, também depende das necessidades organizacionais, do espaço que a organização disponibiliza para o indivíduo exercer sua competência (FERNANDES, 2006). O conceito de complexidade permite-nos avaliar o nível da entrega e da agregação de valor das pessoas, uma vez ao associar os conceitos de complexidade às competências é possível definir, para cada competência, diferentes níveis de complexidade de entrega (DUTRA, 2001). Os postos de direção deve sempre ter por base uma tarefa que seja essencial à realização dos objetivos da empresa, devendo sempre compreender um serviço genuíno que contribua de modo visível e, se possível, mensurável para o êxito do empreendimento, devendo os administradores ser dirigidos e controlados pelos objetivos fixados para o desempenho, e não pelos seus superiores (DRUCKER, 2002). Ruas et al. (2005) destaca as competências gerenciais como sendo aquelas que se pretendem que coloquem as propostas e projetos organizacionais e funcionais (áreas) em ação. Pessoas que estudam e escrevem sobre administração há muito discutem sobre o melhor modo de qualificar o cargo de gerentes, (ROBBINS, 2000) de modo que várias abordagens são trazidas pelos diversos autores como sendo modelos de competências gerenciais. Tachizawa et al., (2006) destacam que Fayol em seus estudos atribui os papéis gerenciais de planejamento, organização, comando, coordenação e controle como sendo as responsabilidade principal dos gestores. 64 Entretanto, Maximiano (2006) refere que Mintzberg (1973) questiona o pensamento de Fayol no que diz respeito aos papéis gerenciais, uma vez que, em seus estudos, menciona que o administrador não apenas planeja, dirige, organiza e controla. Os gerentes têm outras responsabilidades gerenciais além do desempenho das funções do processo administrativo, sendo estes os agentes ou protagonistas do processo administrativo. O autor descreve que os estudos de Mintzberg permitem concluir que há três aspectos básicos no trabalho de qualquer gerente: decisões, relações humanas e processamento de informações; que o trabalho dos gerentes varia de acordo com nível hierárquico, especialidade, tamanho da empresa, conjuntura econômica e outros fatores; e o trabalho do gerente não consiste apenas em planejar, organizar, dirigir e controlar, onde as funções do processo administrativo diluem-se e combina-se com o desempenho dos papéis, especialmente com os que envolvem a administração de recursos e a tomada de decisões. O termo papéis gerenciais diz respeito a categorias específicas de comportamento gerencial, de forma que Henry Mintzberg, a partir de seus estudos, concluiu que os gerentes executam 10 papéis diferentes, porém muito inter-relacionados (ROBBINS, 2000). Os 10 papéis de Mintzberg podem ser agrupados em torno de três temas: relações interpessoais, transferência de informações e tomada de decisões (ROBBINS, 2000), conforme descrito na figura 02: Figura 02 - Dez papéis que os Gerentes desempenham segundo Mintzberg Fonte: Maximiano (2006) 65 Maciel e Mendonça (2000) descrevem que os papéis interpessoais decorrem do status e autoridade inerente aos cargos administrativos, são, em sua maioria, de natureza social e legal, implicando no relacionamento do gerente com representantes da organização, com os subordinados e com indivíduos ou grupos externos à organização. Já os papéis de informação, estes estão diretamente ligados às informações recebidas pelos gerentes, com a finalidade de se inteirar do que acontece na organização, e posteriormente transmitidas aos subordinados, tornando-se o porta-voz da organização. E por último, os papéis decisórios relacionam-se às tarefas de tomar decisões, seja através das atividades de planejamento, solucionador de problemas, alocador de recursos, negociador, dentre outras. Para Robbins (2000) os proponentes da abordagem das habilidades afirmam que não basta conhecer a administração de organizações e pessoas, é preciso estar preparado para praticá-la, estando as habilidades gerenciais envolvidas no contexto das aptidões ou comportamentos que são fundamentais ao sucesso num cargo gerencial. Deste modo, o autor propõe a identificação de habilidades gerais e, em seguida, de habilidades específicas relacionadas à eficácia. No que diz respeito às Habilidades Gerais, os gerentes eficazes devem ser proficientes em quatro áreas gerais: habilidades conceituais, habilidades interpessoais, habilidades técnicas e habilidades políticas, conforme descrito a seguir: (ROBBINS, 2000, p. 34) Habilidades conceituais: dizem respeito à aptidão mental para analisar e diagnosticar situações complexas, ajudando os gerentes a perceber como as coisas se relacionam e a tomar decisões acertadas. Habilidades interpessoais: incluem a capacidade para trabalhar em equipe, entender e motivar outras pessoas, tanto individualmente como em grupo. Habilidades técnicas: referem-se à aplicação de conhecimentos especializados ou experiência. Habilidade política: implicam a necessidade de ampliar sua posição, construir uma base de poder e fazer contatos corretos. 66 No tocante às Habilidades Específicas, Robbins (2000) destaca seis conjuntos de comportamentos que explicam mais de 50% da eficácia de um gerente, a saber: Controle do ambiente da organização e de seus recursos: através da habilidade (tanto nas reuniões de planejamento e distribuição de recursos como a tomada de decisão) na prevenção e na antecipação de mudanças ambientais. Implicando em fundar as decisões sobre recursos no conhecimento claro, atualizado e preciso dos objetivos organizacionais. Organização e coordenação: os gerentes se organizam em torno de tarefas, e sem seguida coordenam relações de interdependência entre as tarefas, onde quer que essas relações existam. Tratamento de informações: abrange a utilização de canais de informação e comunicação para identificar problemas, compreender um ambiente em transformação e tomar decisões eficazes. Previsão de crescimento e desenvolvimento: envolve a garantia do auto desenvolvimento, bem como o de seus funcionários, mediante a aprendizagem contínua no trabalho. Motivação dos funcionários: através do reforço dos aspectos positivos da motivação de forma que os funcionários se sintam impelidos a executar o trabalho, eliminando, ao mesmo tempo, os conflitos que possam desmotivá-los. Solução de problemas estratégicos: assumindo a responsabilidade por suas próprias decisões e certificando-se de que os subordinados utilizem efetivamente suas habilidades de tomada de decisão. Robbins (2000, p.35) ainda apresenta a abordagem das Competências Gerenciais originada no Reino Unido, conhecida como iniciativa de padronização gerencial ou MCI (management charter initiative), na qual fixa padrões genéricos de competências gerenciais. Deste modo, o padrão descrito para o gerente da média administração implica na relação das competências centrais e seus respectivos elementos específicos associados, conforme quadro a seguir: 67 Quadro 06 - Competências Centrais e Elementos Específicos Competência Central Iniciar e implementar mudanças e aprimoramento em serviços, produtos e sistemas Monitorar, manter e melhorar a entrega de serviços e produtos Monitorar o controlar o uso dos recursos Garantir a alocação eficaz de recursos para as atividades e projetos Recrutar e selecionar pessoal Desenvolver equipes, indivíduos e a si mesmo para melhorar o desempenho Planejar, distribuir e avaliar o trabalho realizado por equipes, indivíduos e por si mesmo Criar, manter e ampliar as relações eficazes de trabalho Procurar, avaliar e organizar informações para a ação Trocar informações para resolver problemas e tomar decisões Elementos Específicos Identificar oportunidades para aprimoramento nos serviços, produtos e sistemas Avaliar benefícios e desvantagens de mudanças propostas Negociar e estabelecer acordo na introdução de mudanças Implementar e avaliar mudanças nos serviços, produtos e sistemas Introduzir, desenvolver e avaliar sistemas de garantia de qualidade Estabelecer e manter suprimento de recursos na organização/departamento Negociar e estabelecer acordos quanto a exigência do cliente Manter e melhorar as operações segundo especificações de qualidade e funcionalidade Criar e manter as condições necessárias para o trabalho produtivo Controlar custos e ampliar valor Monitorar e controlar atividades de conformidade com os orçamentos Justificar propostas para despesas com projetos Negociar e estabelecer acordo quanto a orçamentos Definir futuras necessidades (requisitos) de pessoal Determinar especificações para reter pessoas de qualidade Avaliar e selecionar os candidatos segundo requisitos de equipe e da organização Desenvolver e melhorar as equipes ao longo do planejamento e das atividades Identificar, rever e melhorar atividades de desenvolvimento para os indivíduos Fixar e atualizar objetivos de trabalho para equipes e indivíduos Planejar atividades e determinar métodos de trabalho para alcançar objetivos Distribuir trabalho e avaliar equipes, indivíduos e a si mesmo segundo objetivos Fornecer feedback para as equipes e indivíduos sobre seu desempenho Estabelecer e manter a confiança e apoio dos subordinados Estabelecer e manter a confiança e apoio do gerente imediato Estabelecer e manter relacionamento com os colegas Identificar e minimizar conflitos interpessoais Implementar procedimentos disciplinares e de reclamações Aconselhar a equipe Obter e avaliar informações para ajudar na tomada de decisões Prever tendências e acontecimentos que afetarão os objetivos Registrar e armazenar informações Conduzir reuniões e discussões em grupo Contribuir com as discussões para resolver problemas e tomar decisões Aconselhar e informar os outros Fonte: Robbins (2000) Gramigna (2002) optou em descrever as competências gerenciais, categorizando em competências genéricas e especificas, apresentando indicadores de competências gerenciais, conforme quadro a seguir: 68 Quadro 07 – Indicadores de Competências gerenciais Competências Genéricas Indicadores de Competências Gerenciais Respeito aos objetivos organizacionais Qualidade nos contatos internos Qualidade nos contatos externos Formação e valorização dos colaboradores Expressão de liderança Sentido de interesse comum pela empresa e pelo grupo. Comunicação verbal e escrita Capacidade para resolução de problemas Planejamento e organização Delegação Formação de equipes Sensibilidade Uso da autoridade com responsabilidade e bom senso Tenacidade, persistência Habilidade negocial Capacidade de análise e síntese Sensatez Criatividade Aceitação de riscos Decisão Conhecimento técnico Energia Amplitude de interesses Iniciativa Tolerância ao estresse Adaptabilidade Autonomia Ética Fonte: Adaptado de Gramigna (2002) Qualidade de Fundo Personalidade/carisma Adaptabilidade Autonomia/capacidade de correr riscos Ambição Valorização dos demais colaboradores Valorização dos bens confiados Estabilidade diante do estresse Disponibilidade Atitude aberta Criatividade Atitude decisiva Honestidade/integridade Cultura pessoal O papel gerencial, na perspectiva de Boog (2004), é um papel complexo no qual engloba as atividades gerenciais (o que ele faz), resultados gerenciais (o que ele atinge) e as habilidades gerenciais (características dirigidas). Estas últimas podem ser agrupadas em três blocos: habilidades técnicas, habilidades humanas e habilidades conceituais. As habilidades técnicas representam o conhecimento específico de um cargo gerencial, normalmente associado à área funcional do gerente, como exemplo, conhecimento de métodos, processos, demonstrativos contábeis, legislação tributária, dentre outras relacionadas ao setor em que atua. Já as habilidades humanas, estas representam a habilidade que o gerente deve ter no trato com pessoas, englobando neste contexto, dimensões como liderança, motivação, comunicação, de forma que se possa saber trabalhar como uma equipe coesa. 69 Por fim, as habilidades conceituais, estas estão inseridas na necessidade de o gerente ter a visão do todo, ter uma visão “macro”. Implica na habilidade de olhar além das fronteiras de seu setor, entender as relações entre os diversos setores e saber como a organização se relaciona com o meio ambiente. Neste sentido, Boog (2004, p. 131) apresenta os estudos de Robert Katz, mostrando que estas habilidades mudam de peso relativo em função do nível hierárquico do gerente, conforme apresentado na figura 03. Figura 03 - Habilidades gerenciais em função do nível hierárquico do gerente de acordo com Robert Katz Fonte: Boog (2004, p. 131) Neste contexto, a carreira gerencial tem como características o domínio crescente de habilidades humanas e conceituais, o que requer investimentos em programas de treinamento e desenvolvimento de executivos, (BOOG, 2004) a fim de aperfeiçoar os saber - fazer cognitivos descritos por Le Boterf (2003, p. 114), ou seja, as operações intelectuais necessárias à formulação, à análise e à resolução de problemas, à concepção e à realização de projetos, à tomada de decisão, à criação ou à invenção. Nos últimos anos, surgiram vários rótulos diferentes para categorizar as habilidades de ótimos gerentes, dos quais os mais populares estão a inteligência emocional, competência interpessoal, inteligência social ou, puro e simplesmente, “lidar com pessoas” (BALDWIM et al., 2008). Para Ruas et al. (2005), competências gerenciais são um conceito teórico relativamente preciso, relacionado ao desempenho do gestor, sendo 70 possível destacar alguns conhecimentos, habilidades e atitudes que constituem um perfil gerencial atual, de modo que estão dentro deste contexto: Visão sistêmica e estratégica; Domínio pessoal; Capacidade de trabalhar em equipe; Habilidades humanas e interculturais; Criatividade; Flexibilidade; Capacidade de inovação Comportamento ético; e Capacidade de aprender, liderar e educar. 2.4.3 Competências gerenciais segundo o Modelo de Quinn et al. (2003) As competências gerenciais são trabalhadas por Quinn et al. (2003) dentro de um modelo baseado em uma concepção mais ampla e integrada, de forma que quatro modelos são desenvolvidos em um único arcabouço, conforme apresentado no quadro 08: Quadro 08 - Características dos quatro modelos gerenciais Metas racionais Processos internos Relações Humanas Sistemas abertos Símbolo $ Critérios de eficácia Produtividade, lucro Estabilidade, continuidade Compromisso, coesão, moral Adaptabilidade, apoio externo Teoria referente a meios e fins Uma direção clara leva a resultados positivos Rotinização leva à estabilidade Envolvimento resulta em compromisso Ênfase Explicitação de metas, análise racional e tomada de iniciativas Definição de responsabilidade, mensuração, documentação Participação, resolução de conflitos e criação de consenso Atmosfera Econômicoracional: “lucrolíquido” Hierárquico Orientado a equipes Adaptação e inovação contínuas levam à aquisição e manutenção de recursos externos Adaptação política, resolução criativa de problemas, inovação, gerenciamento da mudança. Inovadora, flexível Monitor e coordenador Mentor e facilitador Papel do gerente Diretor e produtor Inovador e negociador / mediador Fonte: Adaptado de Quinn et al. (2003) Os modelos apresentados por Quinn et al. (2003) são quatro perspectivas ou domínio inteiramente diverso, entretanto, pode-se detectar entre eles uma íntima inter relação e entrelaçamento, de modo que 71 representam quatro subdomínios de um construto maior: a eficácia organizacional. Todos os modelos desse arcabouço de eficácia organizacional são interligados e nenhum desses modelos, isoladamente, proporciona a gama de perspectivas, a amplitude de escolhas e a eficácia potencial decorrentes de se considerá-los todos como parte de um arcabouço maior (QUINN et al., 2003). Este construto é denominado por Quinn et al. (2003) de quadro de valores competitivos, conforme apresentado na figura 03: Figura 04 - Quadro de valores competitivos: critérios de eficácia. Fonte: Quinn (2003, p. 13) As relações entre os modelos podem ser entendidas em termos de dois eixos, no qual o eixo vertical vai da flexibilidade ao controle, e o eixo horizontal vai do foco organizacional interno ao foco organizacional externo, e cada modelo insere-se num dos quatro quadrantes (QUINN et al., 2003). De acordo com Quinn et al. (2003), cada modelo tem um oposto percebido: o das relações humanas entra em ângulo contraste com os das metas racionais; o modelo dos sistemas abertos opõe-se ao modelo dos processos internos. 72 É importante destacar que o paralelo entre os modelos também são importantes, considerando que: - Modelos de relações humanas e sistemas abertos: compartilham a preocupação com a flexibilidade; - Modelos dos sistemas abertos e o das metas racionais: dão relevo ao foco externo; - Modelos das metas racionais e de processos internos: salientam o controle; - Modelos de processos internos e das relações humanas: têm em comum a ênfase no foco interno. Os quatro modelos do arcabouço representam os valores invisíveis pelos quais pessoas, programas, políticas e organizações vivem e morrem, e desta forma, os gerentes tendem a aprisionar-se ao seu próprio estilo e aos valores culturais da organização, empregando estratégias muito similares numa ampla variedade de situações (QUINN et al., 2003). Diante da complexidade com que as pessoas se deparam no mundo real, Quinn et al. (2003) propõem 03 desafios que deverão ser solucionados para que se possa ampliar o pensamento e incrementar as possibilidades de escolha e eficácia: Desafio 1: Apreciar vantagens e desvantagens de cada um dos quatro modelos. Desafio 2: Adquirir e utilizar as competências de cada um dos modelos. Desafio 3: Integrar de maneira dinâmica as competências de cada um dos modelos às situações gerenciais encontradas. Baseado nestes desafios, Quinn et al. (2003) destacam que no momento em que o indivíduo vence o desafio 1 e passar a compreender e apreciar cada um dos quatro modelos, sugere que ele aprendeu algo no âmbito conceitual e aprofundou sua complexidade cognitiva no tocante à liderança gerencial. E, nesta mesma concepção, quando o líder gerencial ultrapassar os desafios 2 e 3, este estará adquirindo a complexidade comportamental, no qual poderá explorar e utilizar competências e comportamentos dos diversos modelos. 73 Fundamentado nestes modelos os autores descrevem oito papéis dos líderes inseridos no quadro de valores competitivos, de modo que cada um dos papéis compreende três competências, conforme descrito na figura 04. Figura 05 - As competências e papéis dos líderes no quadro de valores competitivos Fonte: Quinn et al. (2003, p. 17) Nesta abordagem, os autores mostram que nos modelos das metas racionais, nos quais estão inseridos os papéis de diretor e produtor. Considerando que estes visam produtividade e lucro, espera-se que estes desempenhem os papéis conforme descrito: No papel de diretor, o gerente deve explicitar expectativas organizacionais, de planejamento e delimitação de metas, por meio de processos; definir problemas; selecionar alternativas; gerar regras e políticas e fornecer instruções. No que diz respeito ao papel de produtor, este deve ser orientado para a tarefa; manter o foco no trabalho e exibir alto grau de interesse, motivação, energia e ímpeto pessoal. Dentro do modelo dos processos internos, têm-se os papéis de monitor e de coordenador. 74 No papel de monitor, o gerente deve saber o que se passa em sua unidade, observar se as pessoas estão cumprindo as regras, averiguar se o setor está fazendo sua parte; dominar todos os fatos e detalhes, ser bom analista, gostar de dados e formulários, valoriza a análise e respostas a informações de rotina, realiza inspeções e vistorias, revisa relatórios e outros documentos e ser analista. Para o gerente no papel de coordenador, espera-se que forneça sustentação à estrutura e ao fluxo do sistema, seja digno de confiança e crédito, tenha entre seus traços comportamentais recursos diversos para a facilitação do trabalho, como: agendamento, organização e coordenação dos esforços da equipe, o enfrentamento de crises e a resolução de dificuldades de ordem tecnológica, logística e doméstica. Na abordagem do modelo das relações humanas, encontram-se os papéis de facilitador e de mentor, de maneira que Quinn et al. (2003) descrevem as competências necessárias como sendo: No papel de facilitador, o gestor deverá fomentar os esforços coletivos, promover coesão e o trabalho em equipe, administrar conflitos interpessoais, ser orientado para processos, ter comportamento que incluem a intervenção em disputas interpessoais, usar técnicas de resolução de conflitos; reforçar a coesão e do moral coletivo, obter a colaboração e ter participação e ajuda na solução de problemas do grupo. No que tange ao papel de mentor, espera-se que o gerente possa dedicar-se ao desenvolvimento das pessoas mediante uma orientação cuidadosa e de empatia – papel do interesse humano, ser solícito, atencioso, sensível, afável, aberto e justo, escutar e apoiar reinvidicações legítimas, transmitir apreciações e distribuir elogios e reconhecimentos, considerar que as pessoas são recursos a serem desenvolvidos, podendo contribuir para o aprimoramento de competências, proporcionando oportunidades de treinamento e planejar o desenvolvimento individual dos empregados. Tomando como base o modelo dos sistemas abertos, Quinn et al. (2003) destacam os papéis de inovador e de negociador. Enquanto exercendo o papel de inovador, o gerente deveria apresentar as características de ser encarregado de facilitar a adaptação e a mudança, estar atento ao ambiente em transformação, poder identificar 75 tendências significativas, ser capaz de conceituar e projetar mudanças necessárias, além de tolerar as incertezas e riscos, ser indutivo, em idéias, e em insights intuitivos, ser sonhadores inteligentes e criativos, ser capazes de enxergar longe, poder vislumbrar inovações e apresentá-las em embalagens convidativas e convencer aos demais que são desejáveis e necessárias e ser visionário e empreendedor. No que diz respeito ao papel de negociador, o gestor deverá preocupar-se particularmente com a sustentação da legitimidade exterior e a obtenção de recursos externos, possuir imagem, aparência e reputação, ser astuto politicamente, ter capacidade de persuasão, influência e poder, encontra-se com pessoas de fora de sua própria unidade para representar, negociar e adquirir recursos, vender e servir de intermediários e porta-vozes. Desta forma, Quinn et al. (2003) descrevem que para atingir o que é chamado de capacidade plena na atividade gerencial, requer mais que o mero desenvolvimento de competências, mas requer a possibilidade de penetrar uma situação, enxergá-la de perspectivas contrastantes e lançar mão de competências antagônicas, sendo necessário mesclar competências opostas. Os autores relataram que um gerente tornar-se capaz quando este não só desempenham todos os oito papéis (no mínimo de maneira competente), mas que tenha a capacidade de mesclar e equilibrar os diferentes papéis de modo adequado, no qual essa capacidade envolve dois componentes: repertório comportamental e diferenciação comportamental. O repertório comportamental refere-se à quantidade de papéis de liderança que um gerente é capaz de usar de forma eficaz, e a diferenciação comportamental é a possibilidade de usar os papéis de seu repertório de diferentes modos, de acordo com a situação. Quinn et al. (2003) salientam que no século XXI, a complexidade comportamental será cada vez mais importante para os líderes globais, cuja habilidade para um desempenho corporativo superior deverão equilibrar a rentabilidade e produtividade, continuidade e eficiência, comprometimento e entusiasmo assim como a adaptabilidade e a inovação. Referindo-se à capacidade plena de um gestor, os autores referem que esta se dá através de um processo de aprendizagem e que só é possível acontecer com o passar do tempo, existindo cinco etapas até o alcance desta. 76 O primeiro estágio, denominado de novato, o gestor aprende os fatos e regras, sendo estas regras, como algo absoluto que nunca devem ser violado. Este estágio corresponde ao aprendizado das várias funções de tarefa e manutenção de grupo, e que o bom desempenho coletivo exige atenção de ambos. No segundo estágio, o principiante avançado, a experiência começa a ser crucial, uma vez que começa a se deparar com situações da vida real, havendo melhora no desempenho e é mostrada a capacidade de colocar em prática dos fatos e as regras aprendidas. E através da observação de determinados padrões básicos, há o reconhecimento dos elementos que não são mencionados nas regras. Neste momento, começa-se a descoberta da importância da compreensão das normas fundamentais, valores e culturas da organização, os elementos que não estão descritos nos livros. Quanto ao terceiro estágio, o gerente competente, este se dá na medida que se ganha a competência, desenvolvendo uma melhor apreciação da complexidade da tarefa e há o reconhecimento de um conjunto muito mais amplo de elementos a ser considerados. Desenvolve-se a capacidade de selecionar as tarefas mais relevantes e nelas se concentrar. Há uma confiança maior na própria intuição, se dispondo o gerente, a correr riscos ou sugerir novas abordagens. Já no quarto estágio, o gerente proficiente, começa a atuar de forma fluida e sem esforço, de forma que há uma leitura inconsciente da situação em andamento e a compreensão das situações de forma holística e intuitiva. Sendo considerados extremamente eficazes os gerentes que atingem esse estágio. Quinn et al. (2003) salientam que a proficiência não ocorre com facilidade, pois é preciso prática e habilidade para se desenvolver a sensibilidade a ponto de reconhecer padrões intuitivamente. Percebe-se que os novatos tendem a seguir modelos clássicos de tomada de decisão, e na medida em que aumentam a experiência e habilidades, esses modelos são abandonados. Por fim, o último estágio, o de gerente perito, tem o desempenho ótimo convertido numa segunda natureza. Os que alcançam esse estágio não têm mais consciência dos detalhes, pois adotam uma perspectiva holística, que 77 lhes proporcionam um entendimento profundo da situação. Estes gerentes vêem e sabem intuitivamente coisas que escapam às pessoas comuns, sendo capazes de elaborar e re-elaborar estratégias enquanto lêem indicadores em transformação. Neste caso, Quinn et al. (2003) apontam que o gerente transcende plenamente todas as suas limitações naturais, conseguindo alternar entre os vários papéis conforme necessário, estando apto a encarar se esforço as contradições da vida organizacional. Baseado no estudo dos valores competitivos, os autores apresentam diversos perfis de gestores, a partir dos papéis e competências que mais se fazem necessários no seu cotidiano. Descrevem o que denominam de perfis eficazes e perfis ineficazes, conforme descrito no quadro 09: Quadro 09 – Perfis gerenciais eficazes e Perfis gerenciais ineficazes Eficazes Ineficazes Perfil Papéis Perfil Realizadores agressivos Menor nível no papel de facilitador Adaptativos Caóticos Produtores Conceituais Menor nível para o papel de monitor Coordenadores irritantes Agregadores pacíficos Menores níveis para os papéis de negociador e produtor Workaholics sufocantes Mestres Níveis homogêneo nos oito papéis Improdutivos extremos Papéis Destaque para os papéis de facilitador, mentor, inovador e produtor Maior escala no papel de monitor e coordenador; Menor escala no papel de diretor. Destaque apenas para o papel de produtor Níveis homogêneos em escala inferior no desempenho dos oito papéis Fonte: Adaptado de Quinn et al. (2003, p. 378-379) Assim, Prata (2008) refere que o estudo desses oito papéis inseridos nos quatro modelos permite que as descrições possam aplicar-se tanto a gestores de primeiro escalão quanto àqueles situados em níveis mais operacionais, e que vários pesquisadores têm utilizado estes modelos e papéis 78 para estruturar programas de desenvolvimento gerencial, uma vez que trata de comportamentos específicos para a educação gerencial. Fundamentado neste modelo, delineia-se a seguir a metodologia de pesquisa percorrida para a realização deste estudo. 79 3 METODOLOGIA 3.1 TIPO DE PESQUISA De acordo com Cervo e Bervian (2002) e Gil (2009), o estudo trata-se de uma pesquisa de campo uma vez que busca aprofundamento das questões propostas, e também irá se estudar um único grupo em termos de estrutura social. Também pode considerar como de e natureza aplicada, pois visa atender a uma finalidade prática. Trata-se de um estudo do tipo descritivo, que possui como objetivo a descrição das características de determinada população ou fenômeno e estabelecer relações entre as variáveis e terá a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados (GIL, 2009). Segundo Vergara (2007), a pesquisa descritiva poderá expor características de uma determinada população ou de um determinado fenômeno, sendo possível estabelecer correlações entre variáveis e definir a sua natureza. 3.2 UNIDADES DE ANÁLISES / SUJEITOS DA PESQUISA No estudo realizado, as unidades de análise consistiam as Unidades de Alimentação e Nutrição cuja modalidade de administração é a terceirização, e que possuíssem registro junto ao Conselho Regional de Nutricionistas 6ª Região (CRN 6) no qual o estado do Rio Grande do Norte é vinculado. E como sujeitos da pesquisa, os nutricionistas gestores destas Unidades. Assim, de acordo com o CRN 6, na região de Natal existem 14 empresas que possuem Unidades de Alimentação e Nutrição com a modalidade de gestão de terceirização. As 14 empresas juntas possuíam um universo de 23 Unidades de Alimentação em Nutrição conforme tabela a seguir: 80 Tabela 01 - Número de Unidades de Alimentação e Nutrição em Natal-RN Empresa Número de UANs Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3 Empresa 4 Empresa 5 Empresa 6 Empresa 7 Empresa 8 Empresa 9 Empresa 10 Empresa 11 Empresa 12 Empresa 13 Empresa 14 Total 03 00 01 02 08 03 00 01 00 01 01 01 01 01 23 Fonte: Conselho Regional de Nutricionista 6ª Região (CRN 6) Tendo a informação de 14 empresas que atuam no ramo de alimentação coletiva e que são cadastradas no CRN-6, manteve-se contato com as mesmas para definir os campos de estudo conforme os critérios pré-estabelecidos: atuar na região de Natal/RN, possuir nutricionista atuando como gestor, de forma que o mapeamento destas informações está descrito na tabela 02. Tabela 02 – Mapeamento das empresas de alimentação coletiva para aplicação da pesquisa Situação da empresa Não estão atuando mais em Natal/RN Não possuem nutricionista atuando como gestor Empresas que atuam em Natal/RN e possuem nutricionista como gestor TOTAL Fonte: Dados da pesquisa Nº Empresas 03 02 09 Nº de UAN 00 04 19 14 23 Diante dos critérios previamente estabelecidos, foram contatados 19 nutricionistas, entretanto, apenas 15 concordaram em responder o questionário da pesquisa, correspondendo a cinco empresas. Da população que concordou em participar da pesquisa, três não devolveram os questionários, restando assim, 12 respondentes. 81 3.3 CARACTERÍSTICA DAS UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO ESTUDADAS As 12 Unidades de Alimentação e Nutrição pesquisadas estão situadas na cidade de Natal e nos municípios que compõem a grande Natal (Macaíba, Parnamirim e Extremoz), estando vinculadas a cinco empresas de alimentação coletiva cadastradas no CRN-6 e possuem nutricionistas que atuam na função de gerência. Todas as empresas estudadas eram vinculadas ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) e considerando que a modalidade de gerenciamento é a terceirização, todas estão inseridas dentro de outras empresas, em sua maioria indústrias. Das cinco empresas, duas são empresas regionais, que atuam no Nordeste, duas de atuação nacional, sendo uma a líder no mercado brasileiro, e uma empresa multinacional de grande tradição no mercado de alimentação. 3.4 INSTRUMENTO DE PESQUISA / PLANO DE COLETA DE DADOS Foi elaborado e aplicado um questionário estruturado, composto de duas partes: a primeira contendo questões fechadas e abertas, a fim de coletar as informações sócio-demográficas a respeito da população estudada. (APÊNDICE I); e a segunda parte, com o propósito de realizar a medição da percepção e do comportamento a respeito das possíveis competências gerenciais descritas no modelo teórico de Quinn et al. (2003), através de Escala Likert (1 - 7) A proposta foi desenvolver uma pesquisa nos moldes de um survey, que se caracteriza, segundo Gil (2009), pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Os levantamentos realizados na pesquisa apresentam caráter de estudo descritivo. Para estruturação do questionário, adaptou-se o modelo teórico de Quinn et al. (2003), que ancorou o trabalho na teoria das competências gerenciais, no 82 qual tem descrito os papéis gerenciais e suas respectivas competências (APENDICE I). Foram analisados os oito papéis gerenciais desenvolvidos por Quinn et al. (2003) e suas 24 competências relacionadas, conforme o quadro 10. Quadro 10 - Competências gerenciais e Papéis dos líderes segundo Quinn et al. (2003) Modelo Modelos dos Sistemas das Metas Racionais Modelo dos Processos Internos Papel Diretor Produtor Coordenador Monitor Modelos das Relações Humanas Facilitador Mentor Modelo dos Sistemas Abertos Inovador Negociador 1. 2. 3. 1. 2. 3. 1. 2. 3. 1. 2. 3. 1. 2. 3. 1. 2. 3. 1. 2. 3. 1. 2. 3. Competências Desenvolvimento e comunicação de uma visão Estabelecimento de metas e objetivos Planejamento e organização Produtividade do trabalho Fomento de um ambiente de trabalho produtivo Gerenciamento do tempo e do estresse Gerenciamento de projetos Planejamento de trabalho Gerenciamento multidisciplinar Monitoramento do desempenho individual Gerenciamento do desempenho e processos coletivos Análise de informações com pensamento crítico Constituição de equipes Uso de um processo decisório participativo Gerenciamento de conflitos Compreensão de si próprio e dos outros Comunicação eficaz Desenvolvimento dos empregados Convívio com a mudança Pensamento criativo Gerenciamento da mudança Constituição e manutenção de uma base de poder Negociação de acordos e compromissos Apresentação de idéias Fonte: Adaptado de Quinn et al. (2003) Cada grupo de três competências gerenciais delineia a característica de um papel gerencial, de forma que a presença mais marcante de uma ou mais competência poderá indicar qual papel melhor se evidencia na atividade gerencial do grupo estudado. É importante salientar que este modelo não tem o objetivo de apontar os acertos ou erros, e sim classificar os gestores diante de realidades distintas, como bem enfatiza Picchiai (2008) que a estrutura da organização, sua cultura, seus valores, sua lógica das atividades, determinarão as competências necessárias, de modo que as instituições selecionam o perfil necessário adequado para seus objetivos. 83 Cada questão foi dividida em dois aspectos, que foram julgados pelos respondentes: o que era requerido pela organização na visão deles; e o que era competência efetiva, ou seja, que eles achavam que possuíam, podendose estabelecer uma comparação entre o requerido e o efetivo segundo os respondentes. Para estudo do perfil em termos de eficácia dos papéis abordados no modelo de Quinn et al. (2003), de acordo com a percepção dos gestores pesquisados, adotou-se os critérios estabelecidos por Prata (2008), a saber: a) Se a resposta estivesse entre 1 e 3,5 (exclusive), o exercício do papel seria considerado como insatisfatório; b) Se a resposta estivesse entre 3,5 (inclusive) e 4,5 (exclusive), o exercício do papel seria classificado como mediano; c) Se a resposta estivesse entre 4,5 (inclusive) e 7, o exercício do papel seria tido como satisfatório. A coleta de dados se deu em primeiro momento pelo contato telefônico com os nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação Terceirizadas, explicando o objetivo da pesquisa. Após a resposta positiva por parte dos pesquisados, o instrumento de pesquisa (questionário) foi enviado por meio eletrônico (email) aos respondentes, que após responderem reenviaram o questionário ao pesquisador. 3.5 TRATAMENTO DOS RESULTADOS 3.5.1 Tratamento Estatístico Para a realização das análises estatísticas, primeiramente foi realizada a categorização das competências gerenciais de acordo com os seus respectivos papéis de líderes, em seguida, foi obtida a média de cada competência a partir da escala (1 – 7) percebido pelos nutricionistas respondentes da pesquisa e baseado nestas médias, foram obtidas as médias de cada papel. 84 3.5.2.1 Ferramenta Para a análise dos dados obtidos através da amostra obtida foi utilizado o programa computacional STATISTICA versão 7.0. 3.5.2.2 Teste t O teste t é um teste de hipótese que usa conceitos estatísticos para rejeitar ou não uma hipótese nula. Ele consiste em usar os dados da amostra para calcular a estatística t e depois compará-la com a distribuição t de Student para identificar a probabilidade de se ter obtido o resultado observado, caso a hipótese nula seja verdadeira. A importância deste teste está em que a distribuição t de Student surge naturalmente a partir de variáveis aleatórias que seguem a distribuição normal, principalmente quando as amostras têm dimensão inferior a 30 (FISCHER, 1987). Para tanto foi verificada a normalidade dos dados e escolhido o teste t para duas amostras independentes e para uma amostra. O teste t para duas amostras independentes aplica-se sempre que se pretende comparar as médias de uma variável quantitativa em dois grupos diferentes de sujeitos e se desconhecem as respectivas variâncias. Já o teste t para uma amostra testa se a média da população assume um determinado valor, ou de outra forma, se uma dada amostra provém de um universo com uma dada média 3.5.2.3 P – valor 85 Na estatística o p-valor ou nível descritivo é uma estatística utilizada para sintetizar o resultado de um teste de hipótese. Formalmente, o p-valor é definido como a probabilidade de se obter uma estatística de teste mais extrema quanto àquela observada em uma amostra, assumindo a verdadeira hipótese nula. O p-valor seria como a menor escolha que teríamos feito para o nível de significância de forma que rejeitaríamos a hipótese nula e seu valor torna-se significativo quando p-valor < 0,05 (HUBBARD, 2011). 3.5.2.4 Análise Gráfica Os gráficos escolhidos para representação dos dados obtidos foram: barra, histograma, box-plot e radar. O gráfico de barras foi gerado para verificação de uma possível visibilidade em diferenças significativas entre as habilidades requeridas e efetivas. Já o histograma para verificação da normalidade dos dados, enquanto que o box-plot e radar foram utilizados para verificação da variabilidade das informações obtidas. 86 4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 4.1 CARACTERIZAÇÃO DO NUTRICIONISTA GESTOR DE UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO TERCEIRIZADA A caracterização sócio-demográfica dos nutricionistas gestores das Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas foi segmentada em dois aspectos específicos: o primeiro no que diz respeito à caracterização do profissional, como: sexo, idade, tempo de graduação, formação, tempo de atuação na área de alimentação coletiva, atuação em outra área da nutrição, se ocupou o cargo de gestor em outras empresas faixa salarial, se já e a que atribuiu a capacidade de gerenciar uma Unidade de Alimentação. O segundo segmento da caracterização está relacionado à atividade profissional na empresa na qual o nutricionista é gestor atualmente, como: tempo que trabalha na empresa, tempo que ocupa o cargo, se na empresa em que trabalha existe alguma estrutura de apoio para o gerenciamento da unidade de alimentação e se a empresa forneceu algum tipo de capacitação para a ocupação do cargo. Os dados relacionados à distribuição do grupo estudado por sexo estão apresentados na tabela 03 abaixo. Tabela 03 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto ao sexo. Sexo Masculino Feminino Total % 0 12 0% 100% Fonte: Dados da pesquisa De acordo com a caracterização da população estudada, todos os 12 nutricionistas (100%) pertenciam ao sexo feminino. Este achado é compatível 87 com os resultados encontrados por Letro e Jorge (2010), que ao estudar a inserção dos nutricionistas egressos do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais em sua amostra de 38 nutricionistas, todas eram do sexo feminino. A predominância da mulher no exercício da profissão de nutricionista também é descrita nos estudos de Ansaloni (1999), no qual uma amostra de 40 profissionais apresentou um percentual de 92,5% de mulheres. Estes dados são também corroborados pelos resultados de pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Nutricionistas, sobre a inserção profissional dos nutricionistas no Brasil, por meio de um estudo estratificado com 2492 nutricionistas distribuídos pelo Brasil entre os anos de 2003 e 2006, constatou um percentual de 96,5% de profissionais do sexo feminino (CFN, 2006). Archanjo e Brito (2005) relata uma característica marcante dos cursos de Nutrição em todo o país como sendo a predominância de estudantes do sexo feminino, e na cidade de Curitiba/PR, o número de mulheres estudantes de nutrição no ano de 2001, nas 07 instituições superiores que oferecem formação em Nutrição, ultrapassa o percentual de 95%. Esta procura feminina pela Nutrição parece estar ligada ao surgimento da profissão, ainda na década de 50, quando os primeiros cursos de nutrição foram reconhecidos no Brasil, a profissão de nutricionista era apontada como apropriada para mulheres, já que se constituía como uma extensão das atividades femininas desenvolvidas no âmbito doméstico. E o profissional que atua na gestão de unidades de alimentação e nutrição está diretamente ligado ao espaço da cozinha, orientando e supervisionando os funcionários no preparo dos alimentos, o que remete às atribuições identificadas como afinidades naturalmente femininas à época do surgimento da profissão (ARCHANJO & BRITO, 2005). Assim como o nutricionista, outras profissões são tidas com predominância do sexo feminino entre os seus profissionais, verificando-se um crescimento da concentração das alunas em carreiras tidas como “femininas”, que por serem definidas culturalmente como mais apropriadas à mulher. Exemplificando esta reflexão, cabe citar os trabalhos de Castro e Yamamoto (1998), que refere esta realidade dentro da área de psicologia; Craveiro e Machado (2011) em relação ao assistente social; ou até mesmo a idéia de 88 Prado (1985), que as profissões de saúde são profissões predominantemente femininas. Em relação à idade, a distribuição percentual está apresentada na tabela 04: Tabela 04 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto à faixa etária Idade Total % 1 9 1 0 0 1 8% 75% 8% 0% 0% 8% 20 a 25 anos 25 a 30 anos 30 a 35 anos 35 a 40 anos 40 a 45 anos Acima de 45 anos Fonte: Dados da pesquisa Ao se analisar a faixa etária, as nutricionistas pesquisadas apresentaram uma característica predominante em relação à idade, na qual 83% possuíam idade inferior a 30 anos, revelando ser uma população jovem. Informações semelhantes foram descritas nos estudos de Ansaloni (1999), onde 85% dos nutricionistas estudados possuíam menos que 35 anos; do CFN (2006) com 52,6% de profissionais distribuídos em todo o Brasil tiveram idade inferior a 30 anos, e por Meneses, Peres e Waissman (2007) com 53,3% entre 25 e 29 anos. Boog et al. (1988) demonstram uma preocupação em relação à característica relacionada à idade dos profissionais que ocupam cargos de chefia em Unidades de Alimentação, uma vez que em serviços de alimentação institucionais, muitas vezes o jovem já entra numa posição de chefia para a qual ele ainda é imaturo, tendo como agravante para a situação o fato que, em cargos de chefia, o nutricionista sempre vai ter como subordinados indivíduos de baixo nível social e frequentemente muito mais experientes do que ele próprio, podendo ser um fator complicador para o seu desempenho enquanto gestor. A característica da juventude dos profissionais de nutrição em unidades de alimentação institucionais é também ressaltada em pesquisas de caráter 89 qualitativo, no qual Boog et al. (1988) apontam que as empresas demonstram interesse por pessoas mais inexperientes pelo fato de que, na visão de algumas empresas, o profissional quando amadurece, passa a pensar em ganhos financeiros, tornando difícil a manutenção de condições precárias de trabalho que são apontadas em diversos estudos, como baixos salários, inadequações físicas e estruturais nas UANs, além da possibilidade da “formação” deste profissional de acordo com as políticas de cada empresa. Os percentuais relacionados ao tempo de graduação dos nutricionistas estudados, estão apresentados na tabela 05. Tabela 05 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto ao tempo de graduação. Tempo de graduação Total % 1 6 4 0 1 8% 50% 33% 0% 8% Menos de 1 ano 1 a 3 anos 3 a 6 anos 6 a 9 anos mais de 9 anos Fonte: Dados da pesquisa Neste aspecto, mais que 50% dos indivíduos estudados possuíam um tempo de graduação menor que 3 anos, e o percentual sobe para 91% se considerar os formados há menos de 6 anos. Esta característica de pouco tempo de formação está compatível com os números encontrados por Letro e Jorge (2010) que em sua amostra, 55,3% tem de três a quatro anos de graduação, e 23,7% são recém formados; pelo CFN (2006) e por Meneses, Peres e Waissman (2007) com 49,9% e 69%, respectivamente, do total de nutricionistas graduados há menos de 5 anos; e por Vasconcelos (1991) que identificou 61% dos nutricionistas formados há menos de 3 anos. Letro e Jorge (2010) observaram a inserção dos recém-formados no mercado de trabalho evidenciando a busca por profissionais logo após a conclusão da graduação, e esta inserção prematura dos recém graduados no mercado de trabalho é objeto de reflexão no trabalho de Boog et al. (1988), no qual é destacado o fato que estes têm a preferência das empresas, por estas 90 terem a oportunidade de moldarem a sua formação de acordo com as políticas de cada instituição. Outro ponto relevante mencionado nos estudos destes autores é que a prematura inserção no mundo do trabalho dos profissionais recém formados poderá de alguma forma comprometer a “complementação” da formação destes, pois ao ingressarem em empresas prematuramente, perdem o contato frequente com outros nutricionistas, fato que não ocorre com profissionais de outras áreas como engenheiros, administradores, médicos, economistas, pois estes não ingressam no seu primeiro emprego já como chefes sem terem outros colegas da mesma profissão para discutir seus problemas. É importante salientar que esta característica do pouco tempo de graduação dos nutricionistas estudados é coerente com o achado em relação à idade, no qual se encontrou uma população relativamente jovem ocupando as funções de gestores de serviços de alimentação. Estes dados levam a crer que pessoas jovens e inexperientes no mercado de trabalho são mais bem aceitas pela conveniência de se manter condições de trabalho e remuneração incompatíveis com as que profissionais mais maduros e qualificados exigiriam para o exercício da mesma atividade, como apontam os estudos de Meneses, Peres e Waismann (2007). No aspecto formação acadêmica, investigou-se qual o nível em que se encontravam os profissionais: se possuíam apenas graduação, ou se tinham formação de pós-graduação lato ou stricto sensu, conforme apresentado na tabela 06: Tabela 06 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto à formação. Formação Graduaçaõ Especialização Total % 8 4 67% 33% Fonte: Dados da pesquisa No que diz respeito à formação, 67% dos nutricionistas pesquisados apresentavam apenas a graduação em nutrição, e 33% possuíam algum curso 91 de pós graduação, sendo que estes apenas em nível lato sensu. Não foi identificado nenhum indivíduo que possuísse mestrado ou doutorado. Cabe salientar que dos 04 nutricionistas que referem ter cursos de especialização, 03 deles encontram-se na área do conhecimento de gestão, como a Gestão de Negócios de Alimentos, Gestão de Pessoas e Gerenciamento em Serviços de Alimentação e Nutrição, o que pode indicar a necessidade de aperfeiçoamento profissional na área para um melhor desempenho na função de gestor, de forma que estes pudessem atender às demandas requeridas pela área de atuação. Meneses, Peres e Waissman (2007) identificaram 70% dos nutricionistas em formação lato sensu, e CFN (2006) aponta no Brasil percentuais de nutricionistas com especialização de 47,4%. É importante salientar que o CFN (2006) quando realizou o cruzamento dos dados da pesquisa com as áreas de atuação com relação aos cursos de especialização, a área que apresentou um menor percentual de profissionais com pós graduação, foi a área de alimentação coletiva. Dentro desta perspectiva, percebe-se que os profissionais que atuam na área de alimentação coletiva, pouco buscam a formação acadêmica complementar, dedicando-se muitas vezes ao exercício da profissão no mercado de trabalho. Diante dos dados apresentados, ao realizar a análise das informações de idade e tempo de graduação dos nutricionistas das Unidades de Alimentação terceirizadas em Natal-RN, entende-se a baixa incidência de pósgraduados, uma vez que a maioria dos profissionais é jovem e possuía menos de 03 anos de formado, características incompatíveis com a formação stricto sensu que requer cerca de dois a quatro anos para formação e obtenção do título de mestre ou doutor. Os dados referentes ao tempo de atuação na área de alimentação coletiva estão apresentados na tabela 07. 92 Tabela 07 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto ao tempo de atuação na área de alimentação coletiva. Tempo de atuação na área de alimentação coletiva Menos de 1 ano 1 a 3 anos 3 a 6 anos 6 a 9 anos mais de 9 anos Total % 0 8 3 0 1 0% 67% 25% 0% 8% Fonte: Dados da pesquisa A análise do tempo de atuação na área de alimentação coletiva do grupo estudado é coerente com os números em nível nacional (CFN, 2006), de modo que ambos os estudos apresentaram 75% dos nutricionistas atuando na área em tempo inferior a 5 anos. Convém ressaltar que o pouco tempo de atuação na área é compatível com o tempo de graduação que de forma semelhante, apresentou um percentual de 75% dos nutricionistas estudados. Ao observar os números de nutricionistas de forma isolada, pode-se observar que no grupo estudado, existe 01 profissional graduado a menos de 1 ano de graduação, entretanto, este tempo não é relatado no tempo de atuação, ou seja, não existe nenhum profissional com o tempo de atuação inferior a 1 ano. Fundamentado nestes dados, ficou evidenciado que este profissional, em específico, poderia ter iniciado sua atuação na área de alimentação coletiva antes mesmo de concluir o curso de graduação em nutrição. É importante uma experiência profissional antes da conclusão de um curso de graduação, uma vez que isto representa uma interface entre a vida universitária e a vida no mercado de trabalho, o que pode propiciar ao aluno a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos na vida universitária. Essa inserção do estudante no ambiente de trabalho tende a adequá-lo às exigências do mercado, familiarizando-o com o contexto empresarial e suas atividades na futura profissão. No entanto, cabe ressaltar que, no caso do profissional nutricionista, o exercício da responsabilidade técnica de uma Unidade de Alimentação e 93 Nutrição, por pessoas que não sejam graduadas em nutrição representa uma ilegalidade perante o Conselho Federal de Nutricionistas, pois a responsabilidade técnica no campo da alimentação e nutrição humanas é exclusiva do Nutricionista, não podendo ser assumida por outro profissional (CFN, 2005). Outra questão avaliada nesta pesquisa é o fato do profissional ter ou não atuado em outra área da nutrição que não seja em alimentação coletiva, os números encontrados estão apresentados na tabela 08: Tabela 08 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto ao tempo de atuação em outra área da Nutrição. Já atuou em outra área da Nutrição Sim Não Total % 4 8 33% 67% Fonte: Dados da pesquisa O número de nutricionistas que nunca atuou em outra área diferente da alimentação coletiva representou a maioria dentre os pesquisados, sendo compatível com as informações referentes ao pouco tempo de atuação profissional da maioria dos entrevistados. Esses dados indicam que a maioria dos profissionais nutricionistas estudados pode estar no seu primeiro emprego, se considerarmos o tempo de graduação dos mesmos. Cabe destacar os estudos de Meneses, Peres e Waissman (2007) no qual observaram que o primeiro local de trabalho de todos os nutricionistas estudados foi uma UAN, e mesmo aqueles que hoje não estão atuando como nutricionistas de produção, exercendo suas atividades em outras áreas, já trabalharam em uma cozinha industrial. A área de alimentação coletiva é uma área de grande importância na atuação do profissional nutricionista, a maioria das pesquisas realizadas com profissionais de nutrição, esta aparece como sendo uma das que mais absorve profissionais no mercado de trabalho, sendo encontrados percentuais significativos como os de Letro e Jorge (2010), 40%; Gambardella, Ferreira e Frutuoso (2000), 31% e Alves, Rossi e Vasconcelos (2003) com 28,9%. 94 Em relação às áreas de atuação, o CFN (2006) ao estudar a mobilidade dentro das diversas áreas da Nutrição, apontou que os profissionais que atuam na área de alimentação coletiva são os que apresentam menor mobilidade, ou seja, 63,8% dos profissionais não apresentam mobilidade para as outras áreas. Em contrapartida, esta área é a que mais recebe migração de outras áreas da nutrição, principalmente da nutrição clínica. Os resultados da presente pesquisa vão ao encontro desta realidade descrita, de modo que 33% da população estudada migraram de outra área para a área de alimentação coletiva. As áreas que os nutricionistas pesquisados atuavam anteriormente, segundo a pesquisa, foram a área da merenda escolar em primeiro lugar, com 17% (02 nutricionistas), seguidas da área de nutrição clínica e docência, ambas com 8% (01 nutricionista) cada. Na tabela 09 aparecem os números relacionados ao questionamento se o nutricionista já havia ocupado o cargo de gestor na outra empresa no qual já trabalhou. Tabela 09 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto à ocupação do cargo de gestor em outra empresa. Ocupação do cargo de gestor em outra empresa Sim Não Total % 4 8 33% 67% Fonte: Dados da pesquisa O número de profissionais que ocuparam o cargo de gestor em outra experiência profissional é exatamente o mesmo número dos que relataram ter tido outro emprego além do que está sendo o objeto de estudo, ou seja, todos os nutricionistas nas ocupações anteriores desempenharam papel de liderança como gestor. As pesquisas realizadas por Letro e Jorge (2010), e CFN (2006) apontam percentuais de nutricionistas que ocupavam cargos de chefia em 36,6% e 40% respectivamente. Dentro deste contexto, está o papel do nutricionista-administrador descrito por Boog et al. (1988); Ansaloni (1999); Gambardella; Ferreira e 95 Frutuoso (2000); e Meneses, Peres e Waissman (2007) que apontaram a forte relação da nutrição com a área da gestão no mercado das Unidades de Alimentação e Nutrição. Esta realidade retrata a nova configuração do mercado de trabalho no Brasil, que de acordo com Ansaloni (1999) o nutricionista de profissional liberal se converteu a profissional organizacional, e seu novo papel de gerente e supervisor passou a demandar conhecimentos específicos da área de gestão. Ocasionando assim, uma ambígua conciliação de papéis, de modo que um profissional da saúde passou a exercer atividade de caráter primordialmente econômico tal como é a gerência de uma Unidade de Alimentação empresarial. Ainda em relação aos aspectos pessoais do nutricionista, avaliou-se o nível salarial dos profissionais, cujos dados estão expostos na tabela 10: Tabela 10 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto ao salário recebido. Faixa salarial R$ 500,00 a R$ 1.000,00 R$ 1.000,00 a R$ 1.500,00 R$ 1.500,00 a R$ 2.000,00 R$ 2.000,00 a R$ 2.500,00 Acima de R$ 2.500,00 Total % 0 5 4 2 1 0% 42% 33% 17% 8% Fonte: Dados da pesquisa Tomando como referência o salário mínimo vigente no ano da pesquisa, como sendo de R$ 545,00, pode-se considerar o maior percentual (42%) de profissionais com salário variando de 1,8 a 2,8 salários mínimos, seguidos (33%) daqueles que recebem de 2,8 a 3,7 salários, e em terceiro lugar (17%) a faixa entre 3,6 a 4,6 salários, enquanto o maior salário recebido apenas por um profissional (8%) foi acima de 4,6 salários mínimos. De acordo com a Federação Nacional dos Nutricionistas (FNN, 2010) o piso salarial nacional de referência é de três salários mínimos, o que equivale no ano de 2011 a R$ 1.635,00. Isto posto, verifica-se que 42% dos nutricionistas estudados apresentam faixa salarial abaixo do recomendado pela Federação. 96 Estudos que relacionam a remuneração destes profissionais apontam grande variação entre os salários. Letro e Jorge (2010) identificaram que 36,6% dos profissionais recebem de um a três salários mínimos e 36,6% de três a cinco salários mínimos, 10% menos que um salário mínimo e 13,3% de 5 a 10 salários mínimos. Gambardella, Ferreira e Frutuoso (2000) encontraram resultados onde 59,1% dos nutricionistas recebiam salário igual ou acima do padrão, considerado o piso de dez salários mínimos e 5,6% possuíam faixa salarial inferior a seis salários mínimos, enquanto Vasconcelos (1991) aponta que 65% dos profissionais ganham menos de 10 salários. Se for considerado o padrão estipulado por estes autores, toda a população estudada está com salários muito aquém do padrão descrito. O estudo do CFN (2006) apontou que a área de alimentação coletiva possui a segunda menor remuneração das áreas de atuação do nutricionista, em todo Brasil, com uma média de 4,6 salários mínimos, em comparação com este parâmetro, 92% dos nutricionistas gestores de empresas de alimentação coletiva do tipo terceirizadas em Natal, está com remuneração inferior a esta. Há de se considerar que, este estudo foi realizado em nível de Brasil, no qual existem diferenças econômicas regionais que determinam de forma significativa diferenças salariais, assim, no mesmo estudo quando analisado por regionais, identificou-se que o CRN-6, no qual o Estado do Rio Grande do Norte está inserido, é a regional que possui a 3ª menor remuneração dentre as demais, tendo como valores médios em torno de 4,9 salários mínimos. Ainda assim, os salários encontrados na presente pesquisa se encontravam em um patamar inferior a este. Esta baixa remuneração descrita nos trabalhos são motivos de grande insatisfação por parte dos profissionais, de forma que Gambardella, Ferreira e Frutuoso (2000) constataram que 21,3% dos nutricionistas manifestaram-se insatisfeitos devido à baixa remuneração, e Letro e Jorge (2010) constaram que 30% dos profissionais mostraram-se insatisfeitos com a profissão e dos insatisfeitos, 89% referem-se à baixa remuneração. Em todas as áreas há salários mais altos e mais baixos. Os resultados levam a considerar que, não há uma área que remunere melhor, 97 provavelmente há uma seleção natural dos melhores profissionais que, em qualquer área acabam sendo mais bem remunerados (BOOG et al., 1988). É importante salientar que a renda média mensal varia de acordo com o tempo de formação, local de atuação e carga horária semanal trabalhada, de modo que o CFN (2006) observou que quanto maior o tempo de formação e de atuação, mais elevado é o provento médio recebido pelos nutricionistas, ao contrário dos que atuam há menos de cinco anos. Deve-se considerar também a permanência da relação entre a nutrição e as atividades consideradas naturalmente femininas, que segundo Archanjo e Brito (2005) contribui para a desvalorização social e salarial do profissional. Convém ressaltar também, a própria realidade do mercado de alimentação coletiva, em especial aquele que possui a terceirização como modelo de gestão, uma vez que a terceirização estaria intrinsecamente ligada à precarização do trabalho, pois tem acarretado: menores salários, diminuição dos níveis de proteção social do trabalho, ausência de benefícios ou salários indiretos e níveis mais altos de rotatividade (CHERCHGLIA, 1999). Dada a relevância da necessidade do desenvolvimento da capacidade de gerenciamento por parte do profissional nutricionista gestor de Unidades de Alimentação e Nutrição, estes foram questionados, de acordo com sua própria percepção, sobre o que contribuiu para o desenvolvimento desta habilidade, de modo que as repostas em termos percentuais estão apresentadas na tabela 11. Tabela 11 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto à atribuição do desenvolvimento da capacidade de gerenciar uma Unidade de Alimentação e Nutrição Quanto à atribuição do desenvolvimento da capacidade Total % Formação em Nutrição 6 50% Formação complementar à graduação 2 16,7% Capacitação oferecida pela empresa 5 41,7% Aprendizagem na prática profissional 12 100% de gerenciar uma Unidade de Alimentação e Nutrição Fonte: Dados da pesquisa 98 Observando os percentuais encontrados, considerando que alguns dos respondentes optaram por uma ou mais alternativa de resposta, o maior fator determinante no desenvolvimento da capacidade de gerenciamento apresentada pelos profissionais nutricionistas, foi a aprendizagem na prática profissional, seguidos pela formação em Nutrição, a capacitação oferecida pela empresa e formação complementar à graduação. A aprendizagem em situação prática profissional foi apontada por todos os nutricionistas e é destacada por diversos autores como sendo importante no desenvolvimento das competências, conforme descrito por Zarifian (2001) e Le Boterf (2003), quando mencionam que a competência profissional é a combinação de conhecimento, de saber-fazer e de experiências que só se manifestará diante de uma atividade prática em um contexto profissional. Corroborando com esta realidade, Gondim (2008) em seus estudos com gestores do setor hoteleiro, concluiu que a prática diária da profissão foi considerada pelos seus pesquisados, a forma de aprendizagem mais importante para o desenvolvimento de competências. Embora a graduação em Nutrição tenha sido apontada como tendo contribuído na formação da capacidade de gerenciamento por 50% dos nutricionistas estudados, existem críticas à formação do profissional que muitas vezes não direciona os conteúdos e currículos para o desenvolvimento destas competências. Ansaloni (1999) ressalta que, mesmo com as inúmeras adaptações curriculares efetuadas ao longo do tempo pelas escolas de Nutrição, prevalece um perfil de profissional generalista e liberal, calcado no modelo das profissões de saúde, e que segundo Boog et al. (1988), tal modelo atende aos requisitos de ocupação de várias áreas de atuação, o que pode ser relacionado como um dos possíveis responsáveis pelas deficiências do nutricionista no gerenciamento de Unidades de Alimentação e Nutrição industriais. A capacitação dada pela organização foi tida como importante por 41,7% dos respondentes, e esta contribuição na formação das competências é também destacada por autores que descrevem o papel da educação corporativa e da aprendizagem organizacional. 99 As empresas reconhecem no conceito de educação corporativa o “meio” que permite integrar um conjunto de ações capazes de estimular o desenvolvimento das pessoas (BONILAURI & KARAM, 2004). Meister (1999) destaca que a economia do conhecimento exige um aprendizado contínuo para desenvolver qualificações mais amplas, e assim os diversos setores da economia estão aumentando seu comprometimento com a aprendizagem e a educação. De forma que o treinamento está sendo encarado como um processo contínuo, e que as empresas estão começando a pensar em seus funcionários como um capital humano que vale a pena ser desenvolvido. Assim, Bolzan (2007), em seus estudos concluiu que o desenvolvimento das competências gerenciais, é em grande parte de responsabilidade das empresas, uma vez que é ela quem identifica as que são necessárias e faz com que seu funcionário seja estimulado a se desenvolver. Gondim (2008) chegou à mesma conclusão quando seus estudos mostraram que as competências mencionadas como relevantes pelos seus pesquisados, não estavam diretamente relacionadas à formação, mas foram resultantes de cursos oferecidos pela empresa ou de cursos buscados por iniciativa própria. A formação complementar à formação em Nutrição como sendo responsável pelo desenvolvimento da capacidade de gerenciar uma Unidade de Alimentação e Nutrição, foi apontada apenas por 16,7% dos nutricionistas pesquisados. Este número é coerente com o número de profissionais que relataram ter realizado pós-graduação que teve a administração como área do conhecimento. Neste sentido, os dados podem sugerir que a formação complementar buscada pelos profissionais para aperfeiçoamento profissional pode contribuir no processo de formação gerencial, sendo a educação continuada um importante instrumento que poderá auxiliar os profissionais no mercado de trabalho. Meister (1999) destaca que a educação não mais termina quando o aluno se forma na escola tradicional, e que na antiga economia, a vida de um indivíduo era dividida em dois períodos: aquele em que ele ia para a escola e o posterior a sua formatura, em que ele começava a trabalho. Agora, espera-se 100 que os trabalhadores construam sua base de conhecimento ao longo da vida, e nessa abordagem, o aluno passa a ser encorajado a lutar continuamente para adquirir novas qualificações e competência durante toda a vida profissional e a responsabilizar-se pelo aprendizado dessas novas qualificações. A segunda parte da caracterização está relacionada à atividade profissional na empresa na qual o nutricionista é gestor atualmente. Assim, os números relacionados ao tempo em que o nutricionista trabalha na empresa, estão apresentados na tabela 12. Tabela 12 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto ao tempo de atividade na empresa Tempo de trabalho na empresa Total % 1 4 5 2 0 0 8% 33% 42% 17% 0% 0% Menos de 1 Ano 1 a 2 anos 2 a 3 anos 3 a 4 anos 4 a 5 anos Acima de 5 anos Fonte: Dados da pesquisa A população estuda apresentou um tempo de serviço na empresa relativamente baixo, no qual 83% dos nutricionistas entrevistados trabalham a menos de 3 anos na Unidade de Alimentação e Nutrição pesquisada. Estes números são compatíveis com a característica da população em relação à idade jovem e ao tempo de graduação relativamente recente, levando a supor que se trata possivelmente do primeiro emprego de alguns dos profissionais pesquisados, assim como observado por Meneses, Peres e Waissman (2007), que identificaram as UANs como sendo o primeiro local de trabalho dos nutricionistas estudados. Ainda nos estudos destes autores, os nutricionistas que atuam em alimentação coletiva apontam certa rotatividade, uma vez que, em sua maioria, quando adquirem uma certa experiência ou aparece uma oportunidade, ele procura migrar para outras áreas de atuação. Esta rotatividade está muitas vezes relacionada às condiçoes de trabalho, no qual o nutricionista de produção, no exercício de suas atividades 101 no mercado de alimentação coletiva é mal remunerado, muito exigido e pouco valorizado (MENESES, PERES & WAISSMAN, 2007). No tocante ao tempo que ocupa o cargo de gestor, na tabela 13 estão descritos os percentuais encontrados na pesquisa. Tabela 13 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto ao tempo que ocupa o cargo de gestor Tempo que ocupa o cargo de gestor Menos de 1 ano 1 a 2 anos 2 a 3 anos 3 a 4 anos 4 a 5 anos Acima de 5 anos Total 1 4 5 2 0 0 % 8% 33% 42% 17% 0% 0% Fonte: Dados da pesquisa De acordo com a tabela 13, percebe-se que todos os nutricionistas já iniciaram as atividades nas empresas pesquisadas para ocupar o cargo de chefia, pois os tempos de ocupação dos cargos são exatamente iguais ao tempo em que os profissionais trabalham na empresa. Esta prematuridade na ocupação do cargo de gestor por parte dos nutricionistas pesquisados poderá ser um fator limitador no desempenho econômico das empresas, uma vez que de acordo com o perfil identificado neste estudo, a maioria é jovem, com pouca qualificação e inexperientes, podendo estar relacionado o que Quinn et al. (2003) definiu como “gestor novato”. Estes autores ressaltam que para atingir o que é chamado de capacidade plena na atividade gerencial, é necessário um processo de aprendizagem e que só é possível acontecer com o passar do tempo e com a aquisição de experiências práticas, de modo que os novatos tendem a seguir modelos clássicos de tomada de decisão, e na medida em que aumentam a experiência e habilidades, esses modelos são abandonados, até se tornarem o que é descrito como gerente perito. Ainda na perspectiva de identificar as condições de trabalho e de estrutura para o desenvolvimento da atividade gerencial, questionou-se sobre a 102 existência de alguma estrutura de apoio por parte da empresa para a administração do serviço, cujos percentuais estão apresentados na tabela 14. Tabela 14 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto à existência de uma estrutura de apoio gerencial. Existência de estrutura de apoio para a Unidade de Alimentação e Nutrição no qual está vinculado Sim Não Fonte: Dados da pesquisa Total % 10 2 83% 17% Para o gerenciamento da Unidade de Alimentação, a grande maioria dos nutricionistas possui uma estrutura de apoio vinculada à empresa ou sede o que poderá facilitar o desenvolvimento de algumas atividades técnicas e/ou administrativas. Para os nutricionistas que indicaram a existência de estruturas de apoio à unidade, pode-se destacar por ordem de maior freqüência a existência de sistemas de informática com sistemas de planejamento e controles, presença de um supervisor hierarquicamente superior a fim de tratar de questões estratégicas e a estrutura de um escritório regional com equipe multidisciplinar atuando como suporte técnico. Estas estruturas de apoio descritas nas entrevistadas apontam possível necessidade que as empresas têm em manter um funcionamento mais adequado e um gerenciamento mais eficaz das unidades de alimentação, se considerarmos que as características de gestores novatos, como destacado por Quinn et al. (2003), podem ser fator limitante para um bom desempenho financeiro e operacional da empresa. Por último, na tabela 15 estão explícitos os percentuais de profissionais nutricionistas que tiveram algum tipo de capacitação para o exercício do cargo de gestor de Unidades de Alimentação. 103 Tabela 15 - Distribuição percentual dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN quanto à existência de capacitação para o exercício do cargo. Existência de capacitação por parte da empresa para o exercício do cargo de gestor Total % 6 6 50% 50% Sim Não Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os nutricionistas, metade teve capacitação para o desempenho da função ao serem admitidos na empresa. Dentre as capacitações oferecidas, segundo as respostas, estas estavam dentro do âmbito do treinamento em relação a sistemas operacionais e/ou normas de procedimentos técnicos específicos da empresa, mas nenhum relatou ter recebido algum tipo de formação gerencial. A capacitação para o exercício de cargos específicos nas organizações, principalmente nos cargos de chefia, se faz necessária principalmente para o desenvolvimento de algumas competências específicas para o bom desempenho da organização. Dentre essas competências, ressaltam-se as Competências Organizacionais, que são competências críticas, na esfera empresarial, que precisam ser adquiridas e desenvolvidas em suas principais áreas ou segmentos de negócios, para dar sustentação às competências críticas empresariais (BONILAURI & KARAM, 2004). Em se tratando de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas, no qual o serviço de Alimentação tem o foco voltado para resultados (MALLON e NEGRI, 2007), a capacitação e o preparo do nutricionista para atuação como gestor é necessária para o sucesso e a manutenção da competitividade da empresa, principalmente se considerarmos que a formação de Nutricionista obtida na Universidade, fica aquém da necessidade do mercado quando se refere à capacidade gerencial (ANSALONI, 1999). Assim Boog et al. (1988) ressaltam a necessidade de um treinamento para o recém-formado, treinamento esse que, valorizando e respeitando as diretrizes da formação, e caracterizado por uma transparência de objetivos, aprimore o profissional, ministrando os conhecimentos adicionais que a empresa exige e que não podem ser priorizados no curso de graduação, que 104 tem as suas próprias diretrizes não determinadas unicamente pelo mercado de trabalho, mas, sobretudo, pela filosofia de ensino de cada instituição. 105 4.2 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DO NUTRICIONISTA A RESPEITO DAS COMPETÊNCIAS GERENCIAIS Na tabela 16 são apresentadas as médias relativas a cada uma das questões utilizadas nesta pesquisa com o objetivo de sondar em que nível as competências gerenciais são requeridas pela organização e o quão são efetivamente utilizadas no comportamento dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação terceirizadas, segundo as suas próprias percepções. Tabela 16 – Competências gerenciais requeridas e efetivas, segundo o modelo de Quinn et al. (2003), na percepção do nutricionista gestor de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal – RN REQUERIDAS PAPEL COMPETÊNCIAS Média Média Média Média Competências Papel Competências Papel Gerencia projetos da organização 5,42 Coordenador Planeja o trabalho da organização 5,33 Diretor Facilitador Inovador Mentor Monitor Negociador Produtor EFETIVAS 4,42 5,75 5,17 Gerencia a organização de forma multidisciplinar 6,50 5,33 Planeja e organiza as ações da empresa 6,50 5,83 Estabelece metas e objetivos para empresa 6,00 Desenvolve e comunica a visão da empresa 5,83 Adota um processo decisório participativo 6,00 6,11 4,67 5,33 6,25 Desenvolve gerenciamento de conflitos 5,75 5,25 Convive frequentemente com as mudanças 6,92 6,42 Possui e desenvolve pensamento criativo 6,42 Trabalha no gerenciamento das mudanças 5,92 5,92 Possui compreensão de si próprio e dos outros 5,67 5,92 Estimula o desenvolvimento dos empregados 6,00 Desenvolve comunicação eficaz 6,33 Analisa as informações com pensamento crítico 6,00 6,25 Monitora o desenvolvimento individual do empregado 6,50 Trabalha negociando acordos e compromissos 5,92 Apresenta idéias frequentemente 5,67 Busca manter uma base de poder 5,33 Estimula o desenvolvimento de um ambiente de trabalho produtivo Trabalha focado na produtividade do trabalho Trabalha no gerenciamento de tempo e de estresse Fonte: Dados da Pesquisa 6,00 6,42 6,00 6,08 6,25 5,75 6,00 5,61 6,03 6,06 6,25 5,58 6,25 6,08 5,81 5,75 5,75 5,64 5,33 5,14 4,33 6,58 6,50 6,42 5,31 5,42 Estimula a constituição de equipes Gerencia o desempenho e processos coletivos 4,97 6,33 6,50 5,75 6,28 106 Conforme se pode observar na tabela 16, nenhuma das médias apresentadas das competências requeridas e efetivas estava dentro do nível de classificação considerado insatisfatório. (abaixo de 3,5). As médias encontradas para os papéis dos líderes relacionados a cada competência avaliada foram organizadas graficamente e apresentadas no gráfico 01. Gráfico 01 - Representação em barras das médias das habilidades requeridas e efetivas. 7 6 5 4 3 2 1 PRODUTOR NEGOCIADOR MONITOR MENTOR INOVADOR FACILITADOR DIRETOR COORDENADOR 0 MÉDIA REQUERIDA MÉDIA EFETIVA Fonte: Dados da pesquisa Destaca-se dentro do cenário apresentado no gráfico 01 que com exceção das competências relacionadas ao papel de Mentor, todas as habilidades efetivas estão abaixo das requeridas, entretanto, verifica-se que essas diferenças não são tão acentuadas. O fato de não se visualizar diferença significativa entre as habilidades requeridas e efetivas, em primeiro momento, não se pode atribuir a algum papel específico como sendo característica predominante na população 107 estudada, de modo que se faz necessária a realização de testes estatísticos para verificação da presença, ou não, dessas diferenças. Para tanto foi realizado o teste estatístico de normalidade, pois segundo Cantelmo e Ferreira (2007), a necessidade de testar a hipótese de normalidade multivariada fica evidenciada quando o pesquisador pretende avaliar se as condições pressupostas para a validade da inferência que irá realizar foram atendidas. Assim a confirmação da normalidade dos dados foi verificada através do gráfico 02, no qual se pode afirmar que os dados obedecem a uma distribuição normal. Gráfico 02 - Histograma com representação da expectativa curva da distribuição normal para os dados dos papéis requerido e efetivo. Fonte: Dados da pesquisa A suposição de normalidade dos dados amostrais ou experimentais é uma condição exigida para a realização de muitas inferências válidas a respeito de parâmetros populacionais, de forma que os testes de hipóteses foram formulados sob a suposição de que a amostra tenha sido extraída de uma população normal (CANTELMO & FERREIRA, 2007). 108 Se os dados de amostra de uma variável qualquer obedecer à distribuição normal, isto significa que não se faz necessária uma amostra grande para a análise, uma vez que numa amostra de padrão normal, a tendência das amostras é obedecer à regra do desvio padrão. (CANTELMO & FERREIRA, 2007). Isto implica que no caso desta pesquisa, uma pequena amostra (menor que 30) já produz um efeito satisfatório quanto aos resultados. Com a confirmação da normalidade dos dados realizou-se o teste t e verificou-se que existe uma diferença significativa entre as habilidades requeridas e efetivas no geral. A partir destas análises, em busca de conclusões e visando atender aos objetivos desta pesquisa, analisou-se em primeiro momento a percepção dos nutricionistas quanto às competências requeridas pela empresa no qual os mesmos estão vinculados, de modo que se pudessem associar estas competências aos papéis gerenciais que deveriam ser desempenhado por eles. No segundo momento, foram avaliadas as competências e seus respectivos papéis, na percepção dos entrevistados, diante da ótica da presença efetiva das mesmas nas atividades desenvolvidas por estes gestores. E em seguida foi realizada a análise comparativa das competências requeridas e efetivas de forma que se pudesse analisar se as competências requeridas pela empresa estão efetivamente presentes no perfil gerencial do gestor. 4.2.2 Competências Gerenciais Requeridas pelas Empresas de Alimentação Coletiva Visando atender ao primeiro objetivo deste trabalho, analisaram-se as competências gerenciais requeridas para os gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas segundo suas próprias percepções. A partir dos scores atribuídos para as questões relacionadas às competências gerenciais, conforme apresentados anteriormente na tabela 16, percebe-se que todas as 24 competências pesquisadas apresentaram um nível de classificação satisfatória (entre 4,5 a 7,0), evidenciando uma visão e uma 109 percepção homogênea dos nutricionistas quanto às questões levantadas. Esses valores encontrados na pesquisa assemelham-se aos achados por Prata (2008) em seus estudos. Embora todas as competências gerenciais estudadas estivessem dentro do nível considerado satisfatório pelos respondentes, é importante destacar e analisar aquelas que foram consideradas, em média, como os extremos: “a mais requerida” e “a menos requerida” pelas empresas. Dentre as competências requeridas pela organização, a que, na opinião dos respondentes, obteve a maior média foi a necessidade do convívio frequente com as mudanças, obtendo uma média de 6,92, em uma escala de 1 a 7. A necessidade de conviver com as mudanças organizacionais foi percebida pelos nutricionistas como sendo uma competência de maior relevância requerida pela empresa. Isto posto, os dados indicam que estes gestores têm ciência da dinâmica da economia e do mercado, no qual vêm sofrendo constantes mutações, como bem aponta Boog (2004) quando refere que no mundo organizacional “a única coisa constante é a mudança”. A necessidade que as empresas vêm impondo aos seus gestores que estejam preparados para mudanças frequentes é justamente para atender às mutações em escala mundial que provocam renovação das tecnologias aplicadas à gestão nas organizações, e que determinam a sobrevivência no segmento econômico no qual atuam, fazendo com que as organizações tornem-se mais flexíveis e suscetíveis a seus ambientes, determinando a necessidade de se desenvolver habilidades que possam promover e facilitar a adaptação à mudança, identificar as tendências e estar atento ao ambiente em transformação (ROBBINS, 2000; TACHIZAWA et al., 2006). Analisando os extremos das médias encontradas na pesquisa, diante da percepção do nutricionista, duas competências gerenciais obtiveram a menor média (5,33) dentre as demais: a necessidade de se realizar o planejamento do trabalho da organização e a manutenção de uma base de poder. Estas competências apontadas como sendo as de menor relevância dentro da organização, possivelmente estão relacionadas com o tipo de atividade que o próprio profissional desenvolve dentro da empresa, uma vez 110 que geralmente este é um gestor de nível intermediário (ANSALONI, 1999), não lhe cabendo a definição das estratégias organizacionais e o estabelecimento de metas, ficando o profissional apenas com a tarefa de atingir as metas que são impostas. A pesquisa do CFN (2006) aponta que provavelmente por não ocuparem cargos de chefia, os nutricionistas consideram freqüentemente seu poder de decisão “médio”, como foi demonstrado em mais de 50% das respostas dos pesquisados, embora a ocupação dos cargos de chefia tenham atingido um percentual de cerca de 40%. O nutricionista na alimentação coletiva geralmente é chefiado por profissionais que não fazem parte da área de nutrição (BOOG et al. ,1988), e que muitas vezes, como descreveu Meneses, Peres e Waissman (2007), têm que travar uma verdadeira batalha com a direção no local de trabalho, insistindo em realizar um procedimento corretamente, sendo “obrigado” a enquadrar-se no esquema proposto pelo empregador, no qual o trabalho é puramente administrativo, controla custos, cumpre metas, que na maioria das vezes não é traçada por ele. Na área de alimentação institucional prevalecem atividades administrativas, na qual o volume de tarefas rotineiras impede, segundo os profissionais pesquisados por Boog et al. (1988), uma diversificação de atividades. As próprias empresas valorizam muito mais as atividades de controle ao nível burocrático, o profissional não e incentivado a se atualizar tecnicamente e nem chega a desempenhar todas as atividades técnicas inerentes a sua habilitação profissional. Após a análise das competências requeridas na percepção dos pesquisados, buscou-se identificar que papel gerencial se faz mais presente dentro do grupo, através da associação das competências e suas respectivas médias. Com a finalidade de confirmar ou refutar a validade desse agrupamento, utilizou-se o teste t para verificação da diferença entre as médias dos papéis para as competências requeridas pela empresa, de modo que se possa afirmar a possível prevalência de determinado papel como sendo predominante nos requisitos exigidos pela organização para a ocupação do 111 cargo de gestor de Unidade de Alimentação com tipo de gestão de terceirização. Tabela 17 - Teste t para verificação da diferença entre as médias dos papéis de acordo com as competências requeridas pela empresa. Variable Inovador Produtor Monitor Diretor Facilitador Mentor Coordenador Negociador Mean N t-value df p 6,420000 6,330000 6,250000 6,110000 6,000000 6,000000 5,750000 5,640000 3 3 3 3 3 22,23953 49,18914 43,30127 30,38585 41,56922 2 2 2 2 2 0,002016 0,000413 0,000533 0,001081 0,000578 3 3 31,49183 15,29667 2 2 0,001007 0,004247 3 32,98678 2 0,000918 Fonte: Dados da pesquisa. A partir da análise da tabela 17, verifica-se que dentro do grupo competências requeridas houve uma diferença significativa entre os papéis, de modo que se pode sugerir a existência de um papel predominante perante os demais como sendo necessário dentro do segmento estudado. Baseado nos dados das médias dos papéis requeridos pode-se representar graficamente (gráfico 03) a distribuição de cada papel diante da percepção da necessidade da empresa para em relação ao seu gestor. Adotou-se a forma de gráfico do tipo “radar” para visualizar a concentração de respostas de acordo com os agrupamentos realizados, estando os oito papéis gerenciais nos vértices do gráfico. 112 Gráfico 03 - Papéis das competências gerenciais requeridos, segundo o modelo de Quinn et al. (2003), na percepção dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas em Natal – RN Fonte: Dados da pesquisa Observando as médias encontradas em cada um dos oito papéis, fica evidente a predominância do índice satisfatório para todos os pontos abordados, os valores variam levemente em torno da média 6 a 6,42, com exceção dos scores obtidos para o papel coordenador e negociador, que se encontra com um discreto deslocamento para baixo, com as médias de 5,75 e 5,64 respectivamente. Resultados semelhantes foram encontrados por Prata (2008), no qual encontrou mais que 75% das respostas dentro da classificação satisfatória, evidenciando uma visão homogênea dos respondentes, com as médias variando levemente em torno de 6,4, e o papel apontado como sendo predominante na pesquisa é o de “produtores”, estando o papel de “monitor” em menor evidência. Embora os critérios de cada modelo pareçam ser conflitantes ou até mesmo excludentes, Quinn et al. (2003) defendem a coexistência e a complementaridade entre eles, pois diante da complexidade do mundo 113 corporativo contemporâneo, não só é possível como desejável um bom desempenho concomitante dos quatro modelos antagônicos. Apesar a homogeneidade das respostas relacionadas aos papéis requeridos pela empresa, ao se representar as informações através do Box-plot de variabilidade, percebe-se que existe uma considerável variabilidade das médias dos papéis apontados. Gráfico 04 - Box-plot representando a variabilidade entre os papéis das competências requerida pela empresa. Fonte: Dados da pesquisa. Diante da apresentação gráfica, verifica-se que o papel que se destaca por concentrar os maiores índices de competências requeridas é o de “Inovador”, pois possui a média em destaque e uma maior concentração das respostas. Já o papel que possui a menor média é o “Negociador”. Já a observação de Prata (2008) identificou que o perfil requerido pela empresa pesquisada foi o de “produtores conceituais” evidenciando as competências relacionadas a trabalho e o fomento a um ambiente de trabalho produtivo, administração de tempo e do estresse de demandas decorrentes. 114 O papel do inovador, que obteve maior destaque nesta pesquisa quando às competências requeridas, apresenta elementos importantes para o perfil do gerente, que é a liderança e o empreendedorismo, são apontados por Quinn et al. (2003) como necessários para facilitar a o processo de adaptação à mudança. A liderança é apontada por diversos autores como elemento fundamental no desenvolvimento da atividade gerencial, e que para se dirigir o trabalho e trabalhador intelectual atual se fazem importante a utilização de elementos importantes como imaginação, coragem e liderança de alta qualidade (DRUKER, 2002). Autores como Prahalad e Hamel (2005) destacaram que os gestores que não desenvolverem a capacidade de liderança e de se moldar aos processos em mutação constante, estarão fadados a ser retardatários no mercado competitivo. A liderança também é destacada por Boog (2004) quando referiu que o papel gerencial é um papel complexo no qual engloba as atividades gerenciais, resultados gerenciais e as habilidades gerenciais, no qual esta última pode ser agrupada em três blocos: habilidades técnicas, habilidades conceituais e habilidades humanas, sendo esta a responsável pelas dimensões como motivação e liderança, elementos importantes no desenvolvimento do papel de inovador. Dornelas (2003) atribui ao termo empreendedorismo, como sendo a criação de uma nova organização ou inovação dentro de uma existente, e a tarefa de um empreendedor no contexto atual é desafiadora, sendo que, mudase o cenário e as competências necessárias para fundar, gerir e perpetuar uma empresa no mercado, envolvendo assim a capacidade de adaptação e resposta ao ambiente externo e transição, envolve o uso da criatividade e o gerenciamento das transformações organizacionais (QUINN et al., 2003). Os gestores precisam estar preparados para pensar numa escala maior e mais global (BARROS, 2007), e de acordo com Byham (2003), o gestor deve utilizar o pensamento não-linear e holístico, criando as oportunidades de sinergia, iniciando as mudanças e tomando as decisões enriquecedoras, o que assegurará a sobrevivência da organização. 115 Para Robbins (2002), o empreendedor é aquele que percebe oportunidades de crescimento nas circunstâncias mais comuns, não se abate ao encontrar problemas, encara-os como desafios para o crescimento contínuo; entusiasma-se, pois acredita que se existe um problema há solução. A fim de aproveitar estas características, Barros (2007) concorda que a empresa deverá promover espaço de evolução e aplicação desta competência para seu corpo gerencial. No que tange o papel de negociador, que se destacou neste estudo por ter obtido a menor média, Quinn et al. (2003) descrevem que o seu foco são os dotes sociais, apresentação e negociação das idéias com eficácia. Neste sentido as competências atreladas ao papel de negociador podem ser descritas como sendo a construção e manutenção de uma base de poder, a negociação de acordos e compromissos e também apresentação de idéias, de forma que sua preocupação é voltada para a sustentação da legitimidade exterior e a obtenção de recursos externos. O papel de negociador é pouco requerido para perfil de gestor do nutricionista de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas, pelas inúmeras situações de e organizações de trabalho e perfil dos profissionais já referidos neste estudo, e apontado nas pesquisas de Boog et al. (1998), Gambardella (2000) e Meneses, Peres e Waissman (2007), como a falta de maturidade e pouca experiência profissional, assim como a falta de formação acadêmica específica para o desenvolvimento mais eficaz deste papel. Na perspectiva das competências gerenciais e dos papéis de líderes requeridos pela empresa, segundo a percepção dos nutricionistas avaliados em maior e em menor necessidade de aplicação na organização, se faz importante inseri-los no quadro de valores competitivos descritos por Quinn et al. (2003), conforme demonstrado no gráfico 05. 116 Gráfico 05: Papéis das competências gerenciais requeridos, diante dos valores competitivos de Quinn et al. (2003), na percepção dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas em Natal – RN Fonte: Dados da pesquisa Ao inserir os achados da pesquisa no modelo de valores competitivos estabelecido por Quinn et al. (2003), percebe-se que ambos os papéis, requeridos pela empresa, destacados como sendo o de maior e de menor médias apontadas segundo a percepção dos nutricionistas, encontram-se dentro classificação do “Modelo dos Sistemas Abertos . Embora possa parecer contraditório o fato do papel mais requerido (Inovador) e o menos requerido (Negociador) estarem inseridos dentro do mesmo contexto dos valores dos “Sistemas Abertos”, é importante ressaltar que estes papéis possuem competências distintas e complementares. No modelo dos sistemas abertos, as organizações se deparam com a necessidade de competir num ambiente ambíguo e competitivo, e os processos fundamentais são a adaptação política, a resolução criativa de problemas, a inovação e o gerenciamento da mudança (QUINN et al., 2003). Neste contexto, o gerente Inovador tem como principal desafio o gerenciamento do processo de adaptação às mudanças, estando atento ao 117 ambiente em transformação, sendo capaz de tolerar as incertezas e os riscos do mercado competitivo, além de ser visionário e empreendedor, como já destacado anteriormente. Em contrapartida o papel do Negociador, que é voltado para a sustentação da legitimidade exterior, obtenção de recursos externos, representação e negociação, não é normalmente requerido do nutricionista gestor destas Unidades de Alimentação, conforme já foi discutido e evidenciado neste estudo. Diante disto, os papéis acima destacados, embora estejam dentro do mesmo contexto de valor competitivo, possui focos distintos, de modo que possa justificar os resultados desta pesquisa. 4.2.3 O Nutricionista e a Percepção de suas Competências Gerenciais Atendendo ao terceiro objetivo da pesquisa, analisaram-se as competências gerenciais efetivas dos gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas segundo suas próprias percepções. Do mesmo modo que realizado para avaliar as competências requeridas pela empresa, as médias da percepção das competências gerenciais efetivas do nutricionista gestor de Unidades de Alimentação terceirizada foram apresentadas na tabela 16. Considerando os scores atribuídos pelos respondentes, das 24 competências pesquisadas 22 apresentaram um nível de classificação satisfatória (entre 4,5 a 7,0), e apenas 02 competências estão com o nível considerado como mediano (entre 3,5 a 4,5), não tendo nenhuma competência sido identificada como insatisfatória. As competências que foram classificadas como sendo de nível mediano, segundo os respondentes, foram “Busca manter uma base de poder” e “Gerencia projetos da organização” com as médias de 4,33 e 4,42 respectivamente. Assim como, em relação à percepção quanto aos requisitos requeridos pela empresa para o gestor, e os resultados apresentados por Prata (2008), as 118 competências tidas como efetivas nos nutricionistas gestores pesquisados, apresentaram-se dentro de uma visão e um comportamento homogêneo pela maioria. De todas as competências efetivas do gestor, segundo sua percepção, a que mais se destacou por apresentar maior média foi a “Estimula o desenvolvimento de um ambiente de trabalho produtivo”, cuja média obtida foi a de 6,58, em uma escala de 1 - 7. A visão de que uma das maiores competências efetivas no nutricionista gestor de Unidade de Alimentação e Nutrição é a necessidade de se estimular o desenvolvimento de um ambiente produtivo, no qual o gestor tem que ser orientado para a tarefa, mantendo o foco no trabalho, como bem descreve Quinn et al. (2003). A orientação para a tarefa é descrita por Robbins (2000) como sendo parte da reestruturação ou reformulação do trabalho, que, segundo Tachizawa et al. (2006), era anteriormente fragmentada dentro das organizações. Bitencourt (2005) destacando as diferentes abordagens do conceito competência das correntes de estudos de diversos autores, destaca que Boyatizis (1982), Spencer e Spencer (1993), Sparrow e Bognanno (1994), Cravino (1994), Parry (1996), Durand (1998), Hase et al. (1998), Dutra et al. (1998), Ruas (1999), Fleury e Fleury (2000), Hipólito (2000), Davis (2000) e Zarifian (2001), têm o resultado como sendo uma das ênfases de seus respectivos conceitos. Em relação à competência que apresentou a menor média dentre as demais, destaca-se novamente a que o gestor “busca manter uma base de poder”, uma vez que justamente esta competência foi a que apresentou menor média dentre as competências requeridas pela empresa. No momento em que os nutricionistas apontam que a manutenção da base de poder é a competência que menos é requisitada pela organização e ao mesmo tempo ela é pouco evidenciada nos seus próprios perfis gerenciais, percebe-se que há uma consciência, por parte dos profissionais, da estrutura organizacional no qual estão inseridos, quanto à limitação de sua autonomia, dentro das atividades impostas pelo mercado de alimentação coletiva, para o desempenho do papel de negociador como destacado anteriormente neste 119 estudo. E como não é requerida, não há esforço por desenvolvê-la, sendo um ajuste natural ao ambiente. Na aplicação do teste t, percebe-se que houve diferença significativa entre os papéis tidos como efetivos pelos nutricionistas, de acordo com a visão dos mesmos, ao responderem o questionário da pesquisa, conforme demonstrado na tabela 18, de modo que se pode sugerir a existência de um papel que pode ser considerado como predominante no perfil de competências efetivas dos gestores estudados. Tabela 18 - Teste t para verificação da diferença entre as médias dos papéis de acordo com as competências efetivas do gestor. Variable Inovador Produtor Monitor Diretor Facilitador Mentor Coordenador Negociador Mean N t-value df p 6,030000 6,276667 5,803333 5,306667 5,610000 6,056667 4,973333 5,136667 3 3 3 3 3 3 3 3 29,988 23,74431 39,53756 15,62512 17,48577 60,94022 17,73052 12,1964 2 2 2 2 2 2 2 2 0,001110 0,001769 0,000639 0,004071 0,003255 0,000269 0,003166 0,006656 Fonte: Dados da pesquisa. Os papéis percebidos como efetivos do nutricionista foram distribuídos graficamente, de acordo com os agrupamentos propostos por Quinn et al. (2003) e estão apresentados no gráfico 06. 120 Gráfico 06 - Papéis das competências gerenciais efetivos, segundo o modelo de Quinn et al. (2003), na percepção dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas em Natal – RN Fonte: Dados da pesquisa Baseado nas informações apresentadas no gráfico 06 percebe-se que as médias encontradas para os papéis gerenciais efetivos, apontam uma uniformidade menor do que aqueles apontados como sendo os requeridos, o que demonstra uma visão mais crítica, por parte dos nutricionistas, em relação às suas competências efetivas, uma vez que o gráfico apresenta mais pontos com tendências para os valores inferiores. Ao se representar as informações através do Box-plot de variabilidade, percebe-se que existe uma considerável variabilidade das médias dos papéis apontados como sendo características efetivas destes gestores. 121 Gráfico 07 - Box-plot representando a variabilidade entre os papéis das competências efetivas do gestor. Fonte: Dados da pesquisa. Baseados no que apresenta o gráfico 07 verifica-se que o papel que se destaca por concentrar os maiores índices de competências efetivas é o de “Produtor”, pois possui a média em destaque e uma maior concentração das respostas, enquanto o papel que possui a menor média verificada é o papel de “Coordenador”. Nas pesquisas realizadas, utilizando-se do mesmo referencial teórico para a construção dos objetivos desta pesquisa, Noro et al. (2007) encontraram resultados semelhantes do presente estudo, no qual 71% dos gerentes pesquisados se identificaram com as competências atreladas ao papel de produtor, e que em relação às competências analisadas acima se destaca a gerência do tempo e do estresse da equipe. Neste contexto, destaca-se que os papéis de diretor e produtor fazem parte do modelo de metas racionais no qual o fim almejado é a produtividade e seus meios estão relacionados com metas e ao direcionamento. (NORO et al., 2007) 122 Já Prata (2008) ao estudar as competências gerenciais efetivas em seu trabalho, identificou o papel de inovador como tendo a média mais baixa (5,2) e o papel de coordenador teve média mais elevada. O papel de produtor assim como descreve Quinn et al. (2003), deve remeter às atividades que sejam orientadas para as tarefas, mantenham o foco no trabalho e possam exibir um elevado grau de interesse, motivação, energia e ímpeto pessoal. Espera-se, deste modo, que o produtor aceite as responsabilidades, realizem tarefas e possam sustentar uma elevada produtividade pessoal, manifestando um desejo obsessivo pelo atingimento dos objetivos. Para tanto, o papel do produtor aborda três competências essenciais: o trabalho produtivo, o fomento a um ambiente de trabalho produtivo e a administração do tempo e do estresse/equilíbrio de demandas concorrentes (QUINN et al., 2003). Neste sentido, a percepção do nutricionista como sendo um gestor que desempenha o papel de produtor dentro de um serviço de alimentação é coerente com a realidade deste segmento de mercado, sendo organizações prestadoras de serviços e que possuem bastante complexidade no seu conceito de qualidade, e que de acordo com Magneé (2005), se trata de uma empresa ou uma organização como qualquer outra, complexa, dinâmica, repleta de processos cíclicos. As empresas de alimentação coletiva em busca de melhor desempenho organizacional impõem muitas vezes, um ritmo de trabalho desgastante, podendo levar os trabalhadores a situações de stress, que interferirão de forma significativa na saúde e na qualidade de vida das pessoas (MATOS, 2000) de modo que o gestor deverá possuir competências suficientes para administrar essas situações sem perder o foco na tarefa e no resultado, como é destacado no modelo das metas racionais estabelecidos no quadro de valores de Quinn et al. (2003). É importante considerar que as UANs podem ser comparadas a uma indústria que, a cada ciclo produtivo e a cada dia, produz um novo produto, que necessita seguir padrões de higiene e segurança alimentar e tem uma organização de produção relativamente dificultosa (SANTANA, 1996 apud ALVES, 2005). 123 Segundo Matos e Proença (2003), nas UANs há uma pressão com relação ao tempo da produção, pois o tempo é limitado e pouco flexível para se produzir às refeições, sendo ajustado de acordo com os horários de distribuição das refeições, que é predeterminada pelas funções desenvolvidas na empresa onde a Unidade de Alimentação e Nutrição encontra-se inseridas. Assim, a organização do trabalho em UAN é fortemente norteada por princípios taylorista-fordista, estruturada com base em rotinas, roteiros, normas técnicas e organogramas para a produção de refeições. O trabalho obedece a uma "linha de montagem", cujo objetivo é fazer com que a matéria-prima siga um fluxo contínuo pelas subáreas em tempo pré-determinado, sendo transformada em alimentação e ser servida aos comensais (COLARES e FREITAS, 2007). A variedade de tarefas, a concomitância de atividades, o imediatismo de processos e de produtos, a larga lista de insumos utilizados em cada atividade, aliado à heterogeneidade de hábitos, a falta de comprometimento, conhecimento, treinamento e adequação de colaboradores, acaba tornando o dia-a-dia das dos serviços de alimentação um complexo contexto de estudo e gerenciamento (RIBEIRO, 2002). No processo de produção de refeições em UANs, observa-se também que ocorre uma divisão de trabalho hierarquizada, envolvendo as diferentes categorias que compõem os trabalhadores do processo. Além disso, a produção na alimentação coletiva se diferencia de outros processos produtivos pelo fato de ser uma indústria que a cada ciclo produtivo e a cada dia, fabrica produtos diferentes, o que consequentemente leva a um aumento das dificuldades na organização de sua produção (PROENÇA, 2009). Assim, um bom gerenciamento geralmente consiste na habilidade de planejar a operação inteligentemente e de selecionar as pessoas corretas para desempenhar as tarefas de maneira adequada, para que as metas traçadas sejam alcançadas, competências estas que fazem relação direta com as desenvolvidas pelo gestor que desenvolve o papel de Produtor, conforme descreve Quinn et al. (2003). Em se tratando do papel que foi considerado como menor relevância dentre os presentes no perfil do nutricionista gestor estando inserido no modelo 124 dos processos internos descritos por Quinn et al. (2003), foi o papel do gestor coordenador. O papel de coordenador está voltado para as atividades que forneçam sustentação à estrutura e ao fluxo do sistema, e que estes sejam dignos de confiança e de crédito, no qual se espera deste profissional, traços comportamentais voltados à facilitação do trabalho, como agendamento, coordenação de esforço de equipe, enfrentamento de crises e resolução das dificuldades de ordem tecnológica, logística e doméstica (QUINN et al., 2003). De acordo com os autores, o papel do coordenador compreende a coordenação do trabalho de dois ou mais empregados, sendo atribuição cuidar para que o trabalho transcorra com tranqüilidade e as atividades sejam realizadas conforme sua importância relativa, com um mínimo de atrito entre os indivíduos, grupos e unidades de trabalho, de forma que as pessoas coordenadas por ele estejam corretamente colocadas em suas funções, devendo este desempenhar atividades que envolvam descrição de cargos, de tarefas e estruturação do trabalho. Neste sentido, esta competência tendo sido apontada pelos nutricionistas pesquisados como a que está menos presente em suas atividades de gestor de uma Unidade de Alimentação, pode estar relacionada à própria estrutura organizacional das empresas terceirizadas, no qual foi identificada neste estudo, de acordo com o relato dos gestores, a existência de setores específicos que tratam de processos burocráticos e funcionamento das unidades. Foi mencionado pelos pesquisados a existência de escritório central com equipes que atuam como suporte em todos os processos da empresa, e dentre eles, dos processos de coordenação da Unidade, fazendo com que o papel do gestor coordenador seja menos requisitado neste contexto. Inserindo os papéis identificados como efetivos nos gestores das Unidades de Alimentação dentro do quadro de valores competitivos, construiuse o gráfico 08. 125 Gráfico 08 - Papéis das competências gerenciais efetivas, diante dos Valores competitivos de Quinn et al. (2003), na percepção dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas em Natal – RN Fonte: Dados da pesquisa É importante ressaltar que os papéis de maior e menor média apontados na pesquisa dentre as competências efetivas do gestor, de acordo com a classificação de Quinn et al. (2003), estão inseridos dentro dos Modelos das Metas Racionais e o Modelo dos Processos Internos respectivamente. Segundo Noro et al. (2007) de todos os modelos de gestão no contexto histórico, o primeiro modelo a se destacar foi o modelo de metas racionais, cujo símbolo que melhor representa este modelo é o cifrão ($), uma vez que todas as decisões são baseadas por considerações quanto ao “lucro líquido”, como destaca Quinn (2003) na descrição de seus modelos de valores competitivos. O modelo das metas racionais no qual se encontra inserido o papel gerencial de “Produtor”, cuja presença foi identificada pelos pesquisados no presente estudo como sendo o de maior relevância em sua atuação como 126 gestor de uma Unidade de Alimentação e tem como premissa básica a produtividade e o lucro. Já o Modelo dos Processos Internos, no qual se encontra a menor média do papel gerencial efetivo dos nutricionistas pesquisados é o modelo onde estão presentes os papéis gerenciais de “Monitor” e “Coordenador”, que possuem como características os processos e mecanismos de controle e avaliação dos processos e serviços dentro das organizações. No caso dos serviços de alimentação coletiva terceirizados, como já descrito neste estudo, apresenta em seu funcionamento toda uma estrutura organizacional que apóia o gestor no sentido de fornecer toda uma condição de funcionamento, controle e avaliação, sendo assim, de certa forma dispensável esta atividade de forma efetiva ao nutricionista. Fundamentado nestes dados, percebe-se que os nutricionistas de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas apresentaram nesta pesquisa um comportamento de percepção coerente com a característica de requisitos de competência efetiva para um gestor deste modelo de serviço. 4.2.4 Papéis Gerenciais Requeridos x Papéis Gerenciais Efetivos Buscando atender ao último objetivo deste trabalho, foi realizada a análise a respeito dos papéis gerenciais requeridos perante os papéis gerenciais efetivos, ambos sob a percepção dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas. Para isto, a partir das médias das competências componentes de cada papel, realizou-se a média de cada papel requeridos e de todos os papéis efetivos conforme apresentado na tabela 19. 127 Tabela19 - Papéis gerenciais requeridos e efetivos, segundo a percepção dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN PAPEL GERENCIAL MÉDIA DOS PAPÉIS REQUERIDOS MÉDIA DOS PAPÉIS EFETIVOS 5,75 6,11 6,00 6,42 6,00 6,25 5,64 6,33 6,06 4,97 5,31 5,61 6,03 6,06 5,81 5,14 6,28 5,65 Coordenador Diretor Facilitador Inovador Mentor Monitor Negociador Produtor Média Geral Fonte: Dados da Pesquisa Considerando a classificação adotada neste trabalho, de acordo com os scores apresentados, pode-se constatar que todos os papéis tiveram suas médias classificadas como satisfatórias (entre 4,5 e 7), não tendo sido encontrado nenhum papel que correspondesse aos níveis mediano e insatisfatório, mesmo tendo sido destacados por esses profissionais nesta pesquisa a percepção de que não possuíam competências e formação suficiente para ocupar o cargo de gestor de forma satisfatória, seja pela falta de formação específica, imaturidade pessoal ou profissional. Tomando como referência as competências requeridas, as médias em níveis relativamente altos, configuram a consciência do profissional quanto à necessidade que o mercado impõe para o profissional desenvolver de forma satisfatória todas as atividades necessárias para um bom desempenho da organização diante do mercado competitivo. Diante do modelo apresentado por Quinn et al. (2003) o pleno domínio das diversas competências representa a possibilidade da eficácia organizacional, tão almejada pelas empresas, e desta forma, a percepção da amplitude destas necessidades por parte da empresa quanto ao perfil gestor do nutricionista, indica que estas possuem a noção da complexidade do a gestão organizacional. Na análise das competências efetivas do gestor, de acordo com a média encontrada, os níveis de competência percebidos estão dentro do que se pode classificar como satisfatório. Este achado pode parecer contraditório quando confrontados com as informações obtidas ao longo da pesquisa, no qual em alguns casos o profissional se diz pouco preparado para o 128 desempenho da função. Entretanto, deve-se considerar que por se tratar da avaliação da auto-imagem profissional, é conveniente para o pesquisado uma avaliação positiva de sua atuação enquanto gestor de uma Unidade de Alimentação e Nutrição. É importante mencionar que Chaves, Bastos e Nassif (2005) em seus estudos revelaram que a maioria dos gerentes se considerou preparada para o exercício da função gerencial. E ressaltam que os dados da pesquisa se baseiam tão somente na auto-avaliação dos gerentes, ou seja, em sua própria percepção, e neste sentido, deve-se considerar a possível ocorrência de um viés de conveniência ou de idealismo na auto-avaliação dos gerentes. E recomendam, para corrigir esse viés, a aplicação da pesquisa também com os subordinados e superiores desses gerentes. Teixeira (2006) em seus estudos observou que os gestores pesquisados, se avaliaram com seu melhor nível de domínio nas competências que foram apontadas por eles como sendo a de maior importância. O autor entendeu que este tipo de avaliação é conveniente para o profissional, onde mesmo tendo consciência de suas limitações, sempre tendem a se auto-avaliar de forma satisfatória. Neste sentido, Magalhães e Andrade (2001) apontam correlações entre auto e hetero-avaliação, e indicam que essas avaliações podem diferir quanto à intensidade, dependendo de quem julga. Na aplicação do teste t e verificou-se que existe diferença significativa entre as competências requeridas e efetivas, de acordo com a tabela 20, o que poderá validar os números encontrados na presente pesquisa. Tabela 20 - Teste t para verificação da diferença entre as médias das competências requeridas e efetivas em relação às competências estudadas. Group 1 vc. Mean Mean Group 2 Group 1 Group 2 Requerida vs 6,062500 5,649306 Efetiva Fonte: Dados da pesquisa tvalue df p Valid N Group 1 Valid N Group 2 2,768614 46 0,008087 24 24 129 Uma vez constatada a significância dos dados, e em busca da visualização da diferença das competências requeridas e efetivas, a variabilidade dos dados obtidos na pesquisa foi representada no gráfico 09. Gráfico 09 - Box-plot representando a variabilidade entre as competências requeridas e efetivas. Fonte: Dados da pesquisa A partir da análise do Box-plot (gráfico 09) é possível visualizar que a variabilidade existente entre os grupos papel requeridos e papel efetivo é bastante acentuada, de modo que o conceito máximo das competências efetivas está muito próximo ao conceito mínimo das competências requeridas pela empresa. O que se pode observar é que, de acordo com as médias gerais obtidas, as competências requeridas (6,06) são superiores às competências efetivas (5,65) para o perfil gerencial dos nutricionistas pesquisados, isto aponta que, na percepção das nutricionistas, estas não possuem as competências no mesmo nível em que elas são requisitadas para o bom desempenho enquanto gestor de serviços de alimentação com as características descritas neste estudo. Mesmo com as médias estando numericamente muito próximas (diferença de 0,41) uma da outra e estando classificadas como “satisfatórias”, é 130 importante destacar de acordo com o gráfico 09, nota-se que estas se encontram em níveis de percepção diferente, estando os níveis de competências efetivas aquém das competências requeridas,e olhando do outro ângulo, as competências solicitadas estão acima dos que elas podem oferecer. A concentração das respostas segundo os papéis gerenciais requeridos e efetivos, está representada no gráfico 10. Gráfico 10 - Análise comparativa entre as competências requeridas e competências efetivas do nutricionista gestor de unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN Fonte: Dados da pesquisa. O gráfico 10 apresenta os papéis e suas variações de médias entre os papéis gerenciais requeridos e efetivos, de forma que permite a visualização do quanto os nutricionistas se consideram ainda aquém do que é solicitado pela empresa para o desempenho da função de gestor. Entretanto, é importante destacar que as médias da necessidade e o atendimento destas necessidades das competências relacionadas ao papel de Produtor e de Mentor estão muito próximas, o que se pode considerar que há elevada utilização destas competências gerenciais requeridas no cotidiano de trabalho destes profissionais. As demais competências efetivas não se 131 apresentam uniformemente distribuídas quanto às competências requeridas, havendo consideráveis variações entre os diferentes papéis. A diferença entre os diversos papéis baseados nas competências efetivas é de se esperar, pois como apontou Picchiai (2008), quando referiu que do ponto de vista psicológico (afetivo e cognitivo) é muito pouco provável se encontrar uma pessoa que tenha possibilidade de desenvolver todas as competências gerenciais, pois, muitas são contraditórias entre si enquanto lógica ou racionalidade subjetiva, logo, a disparidade entre as competências é esperada. Morano (1973) apud Magalhães e Andrade (2001) descreveu que os empregados são conscientes de suas aptidões fracas e de seus desempenhos deficientes e além do mais, estão na melhor disposição para determinar suas próprias necessidades de treinamentos. Dentro desta lógica, o presente estudo apontou através da percepção dos entrevistados esta necessidade de treinamento e capacitação por parte da empresa com o objetivo de aprimorar o rol de competências efetivas e aproximá-las ao nível requerido pela organização. As nutricionistas quando questionadas que medidas poderiam ser adotadas para minimizar as dificuldades encontradas no gerenciamento de uma UAN, as respostas dadas apontaram como sendo necessária a capacitação para o desenvolvimento de atividades administrativas; treinamentos específicos e direcionados aos objetivos da empresa; mais incentivo da empresa às iniciativas de capacitação e reciclagem profissional para melhorar o desempenho individual e em conseqüência o resultado organizacional. Dias e Paiva (2011) identificaram em seus estudos que os enfermeiros quando se auto-avaliaram em relação às suas competências gerenciais efetivas, atribuíram parte da deficiência ao processo de formação dada pelas instituições de ensino superior. Esta realidade também pode ser aplicada à formação do nutricionista, como já descrito neste trabalho, ficando a formação mais específica para os processos de aprendizagem organizacional e na educação corporativa. Campos (2007) concluiu em seus estudos que os resultados encontrados nas pesquisas relacionadas ás competências poderiam servir 132 como base para treinamentos gerenciais que devem ser acrescentado em seu conteúdo além das experiências dos dirigentes da empresa pesquisada. Desta forma, Magalhães e Andrade (2001) apontaram o treinamento como sendo uma forma de educação especializada, uma vez que tem como propósito preparar o indivíduo para o desempenho eficiente de uma determinada tarefa que lhe é atribuída. Neste sentido, referem que o treinamento é uma função organizacional e compõe um somatório de atividade que vão desde a aquisição de habilidade motriz até o desenvolvimento de conhecimentos técnicos complexos, assim como à assimilação de novas atitudes administrativas e à evolução de comportamentos em função de situações complexas. O gráfico 11 apresenta as competências requeridas e efetivas inseridas no quadro de valores competitivos proposto por Quinn et al. (2003). Gráfico 11 - Análise comparativa dos papéis requeridos pela empresa e efetivo, diante do quadro de valores competitivos de Quinn et al. (2003) Fonte: Dados da pesquisa No gráfico 11, as competências requeridas e efetivas estão uniformemente inseridas entre os quatro valores competitivos descritos por Quinn et al. (2003), de forma que se possa analisar o comportamento das 133 competências e papéis gerenciais de forma isolada e em conjunto dentro deste construto. As relações destes modelos podem ser entendidas em termos dos eixos que vão da flexibilidade ao controle, e do foco organizacional interno ao foco organizacional externo, de modo que Quinn et al. (2003) estabelece 03 desafios para que se possa ampliar o pensamento e incrementar as possibilidades de escolha e eficácia: 1. Apreciar as vantagens e desvantagens de cada um dos quatro modelos; 2. Adquirir e utilizar as competências de cada um dos modelos e; 3. Integrar de maneira dinâmica as competências de cada um dos modelos às situações gerenciais encontradas. Assim, percebe-se que as competências requeridas estão uniformemente distribuídas entre os quatro valores competitivos, de modo que na percepção do nutricionista, as empresas de alimentação coletiva necessitam que o profissional gestor seja produtivo e lucrativo, promova estabilidade e continuidade da organização, tenham compromisso, coesão e moral e também sejam flexíveis e adaptáveis às mudanças do mercado, atendendo ao que Quinn et al. (2003) preconiza como Eficácia Organizacional. Este nível ótimo de desempenho requerido pelos Serviços de Alimentação e Nutrição, com o tipo de gestão terceirizado, de certa forma exige que as nutricionistas sejam plenas nas atividades gerenciais, e estas percebem claramente que as empresas cobram demais. Destaca-se que todos os papéis são importantes para a liderança gerencial eficaz, e a integração de saberes é um elemento importante, sendo o caminho para a capacidade plena, devendo o gestor possuir uma visão holística (PICCHIAI, 2008). Diante dos papéis gerenciais descritos pelos autores, o perfil gerencial requerido diante da percepção do nutricionista, sendo amplo e homogêneo nos oito papéis, assemelha-se ao que Quinn et al. (2003) denominou de perfil de “Mestre”, estando este classificado como um perfil gerencial eficaz. Em contrapartida, quando analisada a percepção das competências efetivas diante da análise, tendo os papéis de produtor, mentor, inovador, monitor e facilitador, se destacado perante os demais, o perfil gerencial efetivo está muito próximo ao que Quinn et al. (2003) denominaram de “Adaptativos Caóticos”, sendo classificado como um perfil ineficaz. 134 As competências efetivas quando analisadas dentro do quadro de valores competitivos, verifica-se que os maiores níveis de competências estão inseridos nos modelos das Relações Humanas e das Metas Racionais. É interessante analisar que estes dois modelos são considerados por Quinn et al. (2003) modelos antagônicos, pois estão em eixos opostos no quadro de valores e focam perspectivas diferentes, uma vez que enquanto o modelo das Relações Humanas está orientado para as equipes, o das Metas Racionais possui atmosfera econômico-racional, visando o lucro. Para entender esta ambigüidade, se faz necessário analisar o mercado de alimentação coletiva, como foi já realizado ao longo deste estudo. Assim, baseado nas informações apresentadas, percebe-se que na prática o profissional gestor de uma unidade de alimentação e nutrição é um profissional que desenvolve suas atividades profissionais focado no lucro e na produtividade, e para isto, ele necessita de uma atmosfera de equipe, de modo que possa resolver os conflitos existentes na dinâmica destes serviços, atendendo parte dos desafios propostos por Quinn et (2003) para o alcance da eficácia organizacional. 135 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme apresentado, o presente estudo teve como objetivo principal avaliar a percepção dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas de Natal/RN, sobre suas competências gerenciais conforme modelo proposto por Quinn et al. (2003), percebido como referencial de análise deste trabalho. No que diz respeito às características dos profissionais nutricionistas pesquisados, identificou-se que todas são do sexo feminino, sendo a maioria jovem e com pouco tempo de graduação. Poucas possuem uma formação além da graduação e também pouca experiência profissional, ocupando a função de gestor pela primeira vez, e no tocante à remuneração, a maioria dos pesquisados recebe o salário próximo ao limite mínimo recomendado para a categoria profissional. Quanto ao elemento responsável pelo do desenvolvimento da capacidade de gerenciar, todas as entrevistadas relacionaram a aprendizagem na prática profissional, em primeiro lugar, seguido pela formação em nutrição, capacitação oferecida pela empresa e a formação complementar à graduação. Para o gerenciamento da Unidade de Alimentação, a grande maioria dos nutricionistas apontou a existência de uma estrutura de apoio vinculada à empresa ou sede o que poderá facilitar o desenvolvimento de algumas atividades técnicas e/ou administrativas como a existência de sistemas de informática com sistemas de planejamento e controles, presença de um supervisor hierarquicamente superior a fim de tratar de questões estratégicas e a estrutura de um escritório regional com equipe multidisciplinar atuando como suporte técnico. De acordo com os respondentes, metade destes obteve capacitação para o desempenho da função ao serem admitidos na empresa, cujo foco foram os sistemas operacionais e/ou normas de procedimentos técnicos específicos da empresa, não havendo nenhuma capacitação para a formação gerencial. 136 Atendendo ao primeiro objetivo deste trabalho, na percepção das nutricionistas, as competências gerenciais requeridas para os gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas foram todas classificadas como “satisfatórias”, e a competência que mais se destacou dentre as demais, foi a necessidade do convívio frequente com as mudanças. Em relação aos papéis gerenciais requeridos pela empresa, na visão das nutricionistas, todos os papéis gerenciais apresentaram nível de classificação satisfatório e com uma extensa uniformidade de médias entre eles.Verificou-se que o papel que se destacou por concentrar os maiores índices de competências requeridas é o de “Inovador. Dentre as competências tidas como as menores médias requeridas pela empresa, apontaram-se a necessidade de se realizar o planejamento do trabalho da organização e a manutenção de uma base de poder. O papel que apresentou a menor média foi o de “Negociador”, que está atrelado às competências de construção e manutenção de uma base de poder, negociação de acordos e compromissos e também apresentação de idéias, de forma que sua preocupação é voltada para a sustentação da legitimidade exterior e a obtenção de recursos externos. Em resposta ao segundo objetivo da pesquisa, na percepção das competências gerenciais efetivas dos gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas, a maioria das competências apresentou um nível de classificação satisfatória, e apenas duas foram relacionadas ao nível considerado como mediano, não tendo nenhuma competência sido identificada como insatisfatória. Das competências efetivas do gestor, a percebida como a que mais se destacou por apresentar maior média foi a que exige do gestor a necessidade de se estimular o desenvolvimento de um ambiente produtivo, sendo orientado para a tarefa. Em contrapartida, as competências que foram classificadas como sendo de nível mediano, segundo os respondentes, foram “Busca manter uma base de poder” e “Gerencia projetos da organização”. O papel de produtor se destacou por concentrar os maiores índices de competências efetivas, já o papel de “Coordenador” foi o menos presente no perfil destes profissionais. 137 Os papéis, de maior e menor média, apontados na pesquisa das competências efetivas do gestor estão inseridos dentro dos Modelos das Metas Racionais e o Modelo dos Processos Internos respectivamente. Para o último objetivo deste trabalho, realizaram-se a análise a respeito dos papéis gerenciais requeridos perante os papéis gerenciais efetivos, ambos sob a percepção dos nutricionistas gestores de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas. Em todos os papéis analisados, as competências requeridas sempre se apresentaram em níveis maiores do que as competências efetivas do gestor. As competências efetivas mesmo estando em níveis inferiores às requeridas, ainda assim foram apontadas pelas nutricionistas, em sua maioria, como sendo satisfatório. Este paradoxo pode ser considerado como um viés desta auto-avaliação, uma vez que é conveniente para o pesquisado uma avaliação positiva de sua atuação enquanto gestor de uma Unidade de Alimentação e Nutrição. Ao se analisar os perfis dos gestores identificou-se que em relação às competências requeridas, estes podem ser classificados como “Gestores Mestres”, estando dentro do que é tido como um perfil eficaz, e já no tocante às competências efetivas, na percepção dos nutricionistas, estas estão próximas ao perfil denominado de “Adaptativos Caóticos”, sendo reconhecido como um perfil gerencial ineficaz. Quando analisados os papéis dentro dos valores competitivos percebese que as competências efetivas estão inseridos nos modelos das Relações Humanas e das Metas Racionais, enquanto que as competências requeridas estão uniformemente distribuídas entre os quatro valores competitivos. O estudo das competências gerenciais do nutricionista gestor de Unidades de Alimentação e Nutrição terceirizadas se fez importante por ser uma forma de se identificar as necessidades destes tipos de serviços quanto ao perfil de seu gestor, podendo, a partir do entendimento de suas necessidades minimizar os problemas encontrados na gestão destas Unidades. Outra forma de contribuição, desta pesquisa, é fornecer dados que permitam ao nutricionista gestores destes tipos de serviços um melhor gerenciamento dos seus processos de capacitação e desenvolvimento de carreira. 138 A limitação desta pesquisa está centrada na questão do tipo da pesquisa (survey) que dá ênfase nos aspectos perspectivos, no qual os levantamentos recolhem dados referentes à percepção que as pessoas têm acerca de si mesmas, e se considerar que a percepção é subjetiva, pode-se resultar em dados distorcidos. Após a realização deste estudo e a partir das constatações apresentadas, podem-se sugerir algumas linhas de pesquisas futuras que possam contribuir para o avanço científico e para o entendimento das competências e dos papéis gerenciais dentro das organizações. Sendo assim sugere-se que sejam desenvolvidos estudos futuros nos quais possam ser aplicadas hetero-avaliações, de modo que o profissional possa ser avaliado pelos seus superiores e subordinados, corrigindo assim o viés da auto-avaliação, que pode interferir na interpretação dos resultados diante da realidade encontrada no mercado. Outra sugestão de pesquisa que poderá ser desenvolvida é a avaliação dos componentes curriculares dos cursos de graduação e sua participação na formação de profissionais que tenham um perfil gerencial, considerando que a gestão de uma Unidade de Alimentação e Nutrição é uma atribuição regulamentada do profissional de nutrição, que muitas vezes não está preparado para tal atividade. 139 REFERÊNCIAS ABERC, Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas. Mercado Real de Refeições. Disponível em <http://www.aberc.com.br/mercadoreal.asp?IDMenu=21> Acesso em 30.nov.2011 ABREU, E. S. de, SPINELLI, M. G. N., PINTO, A. M. de S. Gestão de unidades de alimentação e nutrição: um modo de fazer. São Paulo: Editora Metha, 2009. AKUTSU, R.C; BOTELHO, R.A; CAMARGO, E.B; SÁVIO, K. E.O; ARAÚJO, W.C. Adequação das boas práticas de fabricação em serviços de alimentação. Revista de Nutrição, v. 18, n. 3, Campinas Mai/Jun. 2005. ALVES, F. S., A Organização da Produção de Unidades de Alimentação. 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O trabalho está sob a orientação da professora Dra. Fernanda Fernandes Gurgel e este preservará o sigilo de todas as informações dos participantes da pesquisa. Certos da vossa colaboração neste trabalho, agradecemos desde já. Atenciosamente Annamaria Barbosa do Nascimento Nóbrega (Aluno Pesquisador) Profª Dra Fernanda Fernandes Gurgel (Professor Orientador) 150 PARTE 01 Este questionário é composto por questões objetivas e subjetivas relacionadas ao perfil do Nutricionista gestor de Unidade de Alimentação Terceirizada. Por gentileza, assinale a resposta mais adequada ao seu caso e responda às questões que se seguem: 1. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 2. Idade: ___________ 3. Formação: ( ) Apenas Graduado ( ) Especialização * ( ) Mestrado* ) Doutorado* ( * Área: ____________________________ 4. Tempo de graduação: _______________ 5. Tempo de atuação na área de alimentação coletiva: _____________ 6. Atuou em outra área da nutrição? ( ) Sim* ( ) Não * Qual área? ____________________________________________________ 7. Tempo que trabalha nesta empresa: __________________________ 8. Qual o cargo que você ocupa nesta empresa? _________________ 9. Tempo que ocupa o cargo: _______________________________ 10. Já ocupou o mesmo cargo em outras empresas? ( Não * Quanto tempo?_____________ ) Sim* ( ) 151 11. Faixa salarial atual ( ) R$500,00 a R$1.000,00 ( ) R$1.000 a R$ 1.500,00 ( ) R$ 1.500,00 a R$2.000,00 ( ) R$2.000,00 a R$2.500,00 ( ) Acima de R$2.500,00 12. Na empresa que você trabalha existe alguma estrutura de apoio para o gerenciamento da Unidade de Alimentação e Nutrição que você está vinculado? ( ) Sim* ( ) Não *Quais? __________________________________________________ 13. Além da Graduação em Nutrição, possui alguma formação complementar? ( ) Sim* ( ) Não * Qual? _________________________________________________ 14. A empresa forneceu algum tipo de capacitação para você para ocupar este cargo? ( ) Sim* * Qual? ( ) Não _________________________________________________ 15. Você atribui que desenvolveu sua capacidade de gerenciar uma ( ) Formação em Nutrição ( ) Formação complementar à graduação ( ) Capacitação oferecida pela empresa ( ) Aprendizagem na prática profissional 16. Que tipo de ações você acha que poderiam melhorar sua atuação como gestor? 152 PARTE 02 Este questionário é composto por questões objetivas, das quais foram destacadas as principais competências gerenciais descritas por Quinn (2003) relacionadas ao papel do gestor nas organizações. Adotou-se uma escala de 1 a 7, onde o conceito 1 corresponde à opção de NUNCA e o 7 à opção de SEMPRE, e os demais dentro desta mesma lógica, descrevendo assim a realidade encontrada. A primeira coluna refere-se às competências que, na sua percepção, a empresa requer de seu gestor, e a segunda coluna diz respeito de como você se enxerga enquanto possuidor destas competências. Favor indicar antes de cada frase o número que melhor corresponda à sua realidade (requeridas pela empresa e efetiva do gestor), de acordo com a escala abaixo: 1 Nunca Requerida pela empresa 2 3 Efetiva do gestor 4 5 6 7 Sempre Descrição das habilidades 1. Possui compreensão de si próprio e dos outros 2. Analisa as informações com pensamento crítico 3. Adota um processo decisório participativo 4. Planeja e organiza as ações da empresa 5. Estimula o desenvolvimento de um ambiente de trabalho produtivo 6. Trabalha negociando acordos e compromissos 7. Estimula a constituição de equipes 153 8. Gerencia projetos da organização 9. Trabalha focado na produtividade do trabalho 10. Apresenta idéias frequentemente 11. Estimula o desenvolvimento dos empregados 12. Convive frequentemente com as mudanças 13. Gerencia o desempenho e processos coletivos 14. Trabalha no gerenciamento de tempo e de estresse 15. Planeja o trabalho da organização 16. Desenvolve gerenciamento de conflitos 17. Possui e desenvolve pensamento criativo 18. Gerencia a organização de multidisciplinar 19. Desenvolve comunicação eficaz 20. Estabelece metas e objetivos empresa 21. Busca manter uma base de poder 22. forma para Trabalha no gerenciamento das mudanças 23. Desenvolve e comunica a visão da empresa 24. Monitora o desenvolvimento individual do empregado