Customer Development – Desenvolvimento da Base de Clientes Em paralelo com a elaboração do nosso Modelo, vamos iniciar o processo de Desenvolvimento da Base de Clientes. Este processo vai-nos permitir reformular as hipóteses que utilizamos para elaborar o Modelo, testando-as e submetendo-as ao “filtro” mais importante: o da sua adequação à realidade, enquanto solução para “problemas” e “necessidades” dos potenciais clientes. Este processo vai obrigar-nos a “sair” da nossa secretária e contactar o mercado, em diversas fases. Isto é, temos agora, a par do nosso “trabalho de casa”, de fazer o inevitável “trabalho fora de casa”. É uma fase sempre desconfortável, mas essencial. Afinal, só assim as nossas soluções conseguirão “sair do papel”. Nota importante: apesar de este processo se adequar à generalidade dos modelos de negócio de empresas emergentes (start-ups), pode haver situações específicas em que o contacto com clientes e o mercado e a partilha da nossa solução não sejam adequados. Será o caso, por exemplo, quando existir risco elevado de revelar tecnologia inovadora ainda não protegida. O processo de Desenvolvimento da Base de clientes tem 4 fases distintas, que permitem ao empreendedor obter feed-back real e aprender o que o mercado e os seus segmentos-alvo de facto precisam e valorizam. Dessa forma poderá adaptar o seu modelo de negócio e o seu produto/serviço, que já idealizou no seu Modelo Canvas, às necessidades do mercado, de forma a viabilizar o seu negócio. Essas fases são: 1- Descoberta de Clientes: o produto/serviço resolve problema ou necessidades de um grupo identificável de potenciais clientes; 2- Validação de Clientes: é possível vender essa solução a um nº de potenciais clientes que assim viabiliza a criação de um negócio; 3- Criação da base de clientes: o modelo comercial permite o crescimento do negócio; 4- Desenvolvimento da empresa: a empresa estrutura-se para desenvolver o negócio e suportar o crescimento. A figura seguinte retrata estas 4 fases, conforme estabelecidas por Steve Blank em “The Four Steps to the Epiphany”. 1 Nesta etapa em que estamos do nosso modelo de negócio vamos concentrar a nossa atenção na primeira fase, a da Descoberta dos Clientes. A obtenção de feed-back “real” do mercado permitirá aos empreendedores evitarem o excessivo consumo de recursos no desenvolvimento do produto/serviço que “acham” que o mercado quer, possibilitando a sua adequação às necessidades do seu segmento-alvo. Existem dois tipos de decisões que a adoção deste processo permite considerar, e que só o empreendedor pode tomar: - Fazer iterações, melhoramentos e adaptações das várias componentes do seu Modelo de Negócio; - Alterar hipóteses de base do seu Modelo de Negócios (outros segmentos, outras propostas de valor, etc.), que neste processo se designam por “pivotar”. Comecemos assim com a fase 1: Descoberta de Clientes. 1º Passo: Uma vez que já refletiu sobre que potenciais clientes poderão precisar da sua solução e como valorizam a sua Proposta de Valor, tenha presente, para os próximos passos, qual é a sua hipótese básica de negócio, isto é: Clientes: quem são? Problema: qual o problema que têm e como o resolvem? Solução: como pode a sua solução resolver aqueles problemas? Este tipo de argumentos servirá também para comunicar o que é o seu negócio, para além da aplicação que aqui se sugere. Como já vimos anteriormente, o que nos interessa é obter a perspetiva de quem sente o problema, isto é, os potenciais clientes. 2 2º Passo: Qual o seu Mínimo Produto Viável, a propósito do qual poderá explorar o potencial de resolução e aceitação por parte de clientes? O MPV é o seu produto ou serviço de base, com um mínimo de características e atributos que permita obter informação no mercado quanto à sua utilidade e aceitação enquanto solução para um problema ou necessidade. Poderá ter várias versões, à medida que o feed-back de mercado permita o seu desenvolvimento. Pode ser, por exemplo, um protótipo, uma demonstração de como o produto resolve um problema, uma demonstração de como um serviço pode funcionar e de quais os seus benefícios, inclusivamente através de uma apresentação em PowerPoint. Chamamos “Viável” a este produto/serviço apesar de poder não estar (é mesmo desejável) ainda finalizado para ser comercializado. Tem essa designação pois permite demonstrar ou exemplificar como satisfaz as necessidades dos clientes, e a obtenção de feed-back do mercado sobre a sua real utilidade na resolução de problemas e o valor que apresenta. 3º Passo: Encontrar potenciais clientes representativos do seu segmento-alvo Este passo é essencial para conseguir obter feed-back realista e útil sobre a sua solução e como ela poderá ser desenvolvida ou reformulada nu produto ou serviço que viabilize a sua comercialização. Recorde que nesta fase não estamos a vender o produto/serviço, pois ainda nem está terminado! Queremos sim obter informação de mercado que nos ajude a tornar o produto/serviço adequado às necessidades do mercado. Assim, como encontrar com quem falar, que represente o típico potencial cliente do nosso segmentoalvo, e cuja opinião seja útil e relevante? Sugere-se que não se restrinja à opinião generosa de amigos e colegas, embora possa ser muito mais confortável. Deverá procurar pessoas cuja opinião não seja enviesada pelo facto de se relacionarem consigo. Poderá sim utilizar a ajuda de amigos e colegas na identificação dessas outras pessoas, e usar também esses contactos pessoais como referências na abordagem que vier a fazer. Poderá demorar algum tempo, mas faça uma lista de uns 25 contactos de pessoas representativas do seu segmento, e tente saber quais são acessíveis a partir de conhecimentos comuns com os seus amigos e colegas. Esses 25 contactos ou pessoas deverão representar o seu potencial cliente, isto é, deverão pertencer tipicamente ao seu segmento-alvo. Se conseguir falar com essas 25 pessoas (ou o nº que for possível), a informação que obtiver será muito importante para aferir e refletir sobre o estado atual do seu Modelo de Negócios e as hipóteses que considerou. 3 4º Passo: Contactar os potenciais clientes. É preferível contactar alguém com base numa referência pessoal de um seu conhecido, mas se não tiver essas referências deverá estabelecer contactos a “frio”. Apesar da dificuldade acrescida, é de tal forma importante que não devemos desistir. Deverá considerar que, nesta fase, não deverá procurar a opinião das pessoas na perspetiva de serem potenciais compradores, mas antes na perspetiva de poderem falar dos seus problemas e emitirem opinião quanto a isso. Nesta perspetiva as pessoas são geralmente mais recetivas e colaborantes (pense no seu próprio caso!). Para se inspirar, veja o seguinte exemplo de um email a estabelecer um contacto por parte de um hipotético empreendedor do setor dos serviços de avaliação de ações de marketing. Pretende obter informação por parte de um potencial cliente, representativo do seu segmento. Relembre que ainda está na fase de descoberta de clientes, e que ainda não tem produto para o mercado. Email de introdução: Assunto: Contacto de “fulano de tal” Bom dia José Silva “Fulano de tal” sugeriu-me que falasse consigo acerca de uma ideia que estou a desenvolver, que espero possa ajudar os gestores de marketing na avaliação mais eficiente do impacto das suas ações de marketing. Segundo apurei, as soluções existentes são dispendiosas, difíceis de implementar e as conclusões são de difícil aplicação. No nosso caso, esperamos oferecer soluções muito mais eficientes. Sendo necessário perceber melhor o problema, “Fulano de tal” recomendou o José Silva como alguém que terá opiniões muito relevantes acerca deste problema e das necessidades dos gestores de marketing. Asseguro-lhe que não estou a vender nenhum produto, mas somente esperava conversar consigo acerca deste mercado e compreender quais as verdadeiras necessidades a este respeito. Seria possível termos um encontro informal, convidando-o para tomar um café? Aguardo com expectativa a sua resposta e agradeço desde já a sua atenção. Com os melhores cumprimentos, “Seu nome” Adaptado de "The Entrepreneur’s Guide to Customer Development”, Cooper e Vlaskovits 4 Poderá usar uma estrutura semelhante para um contacto telefónico. Não tente vender nada (pois nem sequer tem nada para transacionar!) mas apele ao interesse que o assunto e a conversa podem ter para quem sente o problema ou a necessidade. Se descobrir que o problema ou necessidade não é sentida por essa pessoa, das duas, uma: ou a pessoa não representa o segmento, ou o seu segmento está mal definido por si, e deverá “pivotar”, remodelar a sua análise sobre segmentos de clientes. Escreva o que quer dizer ao telefone e proponha soluções para o encontro, que sejam viáveis e adaptáveis à conveniência da pessoa com quem quer falar. Pode ser, por exemplo, um encontro informal para um café, etc. Não tenha receio em estabelecer contactos para este fim; nada de mal lhe poderá acontecer! Apetece sugerir, “just do it”! 5º Passo: Encontrar-se com potenciais clientes. Seja eficiente na utilização do tempo que estas pessoas lhe concedem! O que quer saber? Relembre que o assunto é validar o problema e a solução. Faça perguntas exploratórias, abertas, sem emitir opinião. Afinal, o que pretende saber é as opiniões da outra pessoa. Averigue se, e como, a pessoa sente o problema, como este é resolvido atualmente, e se acharia útil uma solução como a sua, falando dela a propósito dos seus benefícios e não como a solução “funciona”. Averigue também que soluções para o problema/necessidade essa pessoa gostaria que existissem e que relevância essas soluções poderiam ter (seriam interessantes? Importantes?) Refira, se possível, os benefícios do seu Mínimo Produto Viável e esteja preparado para o apresentar, se houver interesse da pessoa com quem fala. Pode ser desadequado fazer perguntas específicas sobre preços, mas procure saber que expectativas existem sobre o custo das atuais soluções disponíveis no mercado. Ao fechar a conversa, considere o seguinte: - Agradeça o tempo que a pessoa lhe dedicou; - Se for óbvio o interesse da pessoa, pergunte se pode voltar a contactar quando tiver mais informações a dar; - Peça referências de outras pessoas que possam sentir o mesmo problema e necessidade, ou que possam ter interesse em partilhar opiniões a respeito do mesmo assunto; 5 - Envie posteriormente um email a essa pessoa, agradecendo novamente, sintetizando a conversa e a informação que obteve, e perguntando se existe mais alguma informação relevante que não tenha sido referida. Quando conseguir concretizar um número interessante de entrevistas (número esse que depende do mercado em questão) deverá avaliar o feed-back obtido e fazer adaptações ao seu Modelo de Negócio e, eventualmente, alterar alguma das suas hipóteses de base (qual o verdadeiro “problema”? como pode a sua Proposta de Valor resolver esse “problema”? O Segmento de Clientes está bem definido?) Deverá prosseguir com esta fase de Descoberta de Clientes até que o seu produto/serviço esteja adequado às necessidades do seu segmento-alvo principal. Se não existir essa adequação entre produto/serviço e as necessidades do segmento-alvo, então deverá considerar fazer alterações de fundo às hipóteses do seu Modelo de Negócio. No final desta fase (que poderá demorar algum tempo, semanas ou até meses) estará pronto para prosseguir para a fase seguinte, a de Validação de Clientes, que discutiremos em etapa mais avançada do nosso processo de construção do Modelo de Negócio. Nessa fase, será necessário testar comercialmente o seu produto/serviço. *** 6