Oftalmologia - Vol. 35
Nota do Editor
A nossa revista OFTALMOLOGIA
A oftalmologia portuguesa está, em muitas áreas, a par do que melhor se faz no mundo. Falta-nos maior divulgação. O
facto de o fazermos em Português não tem a mesma penetração no mundo científico. A OFTALMOLOGIA a revista da SPO
– Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, pode ser um veículo da nossa afirmação.
Vemos como missão da revista OFTALMOLOGIA: ser um elemento da formação médica contínua e divulgação científica da Oftalmologia clínica e básica ou de assuntos directamente relacionados com a prática clínica da nossa especialidade;
divulgar outros documentos de interesse para a SPO, como por exemplo, guidelines/boas práticas, os resumos do seu congresso nacional, etc.; divulgar a actividade científica da oftalmologia portuguesa, artigos científicos originais dos oftalmologistas, particularmente dos colegas internos, como estímulo à sua aprendizagem; marcar a presença e o prestígio SPO como
sociedade Científica; contribuir para a internacionalização da Oftalmologia Portuguesa, nomeadamente nos PALOP; passar
a ser uma revista que se deseja que chegue a nossas casas e que seja lida com prazer.
A visão para a OFTALMOLOGIA é a de uma revista indexada. Estamos a fazer o trabalho de casa e temos pessoas conhecedoras do processo a trabalhar neste objectivo elevado.
Como valores, consideramos que todos os oftalmologistas terão o seu lugar na revista, seniores e mais experientes, mais
novos e criativos, oftalmologistas privados, públicos e do terceiro sector; estimulamos todos os que quiserem publicar na
revista, tendo em conta a qualidade do trabalho e o espaço de que dispomos. No respeito pela ética e deontologia na investigação e na informação e publicidade, estaremos também abertos ao contributo da indústria farmacêutica e de dispositivos
médicos e equipamentos como suporte à actividade da revista. Também respeitamos e agradecemos o trabalho de quem nos
antecedeu. Apoiada no trabalho, dedicação e conhecimento de todos os que nos antecederam, e apoiada na estrutura já existente, vai a revista OFTALMOLOGIA, a partir deste número, ficar um pouco diferente, como podereis avaliar. A equipa do
conselho redactorial deu o seu contributo precioso e que gostaria de realçar.
Off Label
É um assunto de grande actualidade. Temos um artigo de revisão do Prof . José Faria de Abreu sobre este tema e que
nos permite reflectir sobre o papel fundamental do médico na decisão clínica. Um número apreciável de actos médicos de
prescrição são off label, nomeadamente em Pediatria. E se falarmos de manobras cirúrgicas? Contudo, deveremos continuar
a ajustar a nossa prática pela evidência clínica. Somos médicos e cientistas. Com base na evidência da eficácia que nos é
dada pelos ensaios clínicos prospectivos, randomizados, ocultos, multicêntricos, devemos procurar adaptar a resposta terapêutica à realidade do nosso doente que, na grande maioria dos casos, não cabe nos critérios de inclusão ou de exclusão do
ensaio clínico que mostrou evidência de eficácia. Esta situação corresponde às condições de efectividade, ou seja de prática
clínica concreta, perante o nosso doente que apresenta normalmente só algumas semelhanças com os doentes incluídos no
ensaio clínico. Temos que usar o senso clínico, a experiência, a intuição por vezes, embora tendo por base o conhecimento da
evidência científica. Este papel do médico é fundamental e não podemos deixar de o exercer. Estaremos a ser médicos e não
simples autómatos que fazem prescrição.1,2
Outra questão que merece reflexão é a investigação clínica e a investigação de novos fármacos que se não forem rentáveis
(preço considerado aceitável para quem os investiga) corremos algum risco de não haver empenho no seu desenvolvimento
por parte das companhias farmacêuticas. Mas isso é uma questão que tem a ver com a responsabilidade social das empresas
e da forma como estas e a sociedade civil querem lidar com a promoção e protecção de um bem precioso – a saúde. Merece
uma resposta civilizacional global ponderada de todos os “stakeholders”!
Vol. 35 - Nº 1 - Janeiro-Março 2011 |
V
Retinopatia Diabética – os oftalmologistas sabem muito bem do que se trata!
A diabetes é uma ameaça. É a epidemia do século XXI. Perante os números assustadores (12,3% entre 20-79anos; um
terço da população diabética ou pré-diabética) há que planear a resposta e emponderar o doente, primeiro responsável pela
sua saúde e recurso barato que urge “usar”.3
Só os oftalmologistas conhecem bem a complicação ocular da diabetes, a Retinopatia Diabética (RD). Sabem os seus
efeitos deletérios na função visual, as consequências e os custos do tratamento se este for tardio, as possibilidades fantásticas
de controlar a doença e de manter boa acuidade visual se for realizada a detecção precoce e o tratamento atempado. E sabem
também a possibilidade de economizar recursos humanos e de estrutura, fármacos e actos terapêuticos com a terapêutica
precoce.4,5
Por isso têm responsabilidade social em divulgar essa informação e fazê-la chegar aos centros de decisão e planeamento
da saúde.
O laser, ou mais correctamente, as várias modalidades de terapêutica laser, são um recurso eficaz e eficiente. Associadas
aos anti-VEGF’s e corticóides, a chamada terapêutica combinada da RD, complementadas com o controlo metabólico, o controlo da TA e do colesterol e os novos fármacos que estão em “pipeline”, são uma esperança, quase certeza, de melhoria ou
manutenção da visão no longo prazo. Mas isto só resulta com detecção precoce e terapêutica precoce de proximidade, junto
das pessoas com diabetes e envolvendo os médicos de família.
Há pois que planear saúde (estamos em plena discussão pública do PNS 2011-2016), respondendo localmente às necessidades e usando os recursos já existentes, públicos primeiramente e terceiro sector ou privados de seguida, pois o financiamento
da saúde tende a ser cada vez mais escasso6,7 e não somos assim tão ricos que possamos continuar a multiplicar estruturas e
não rentabilizar o que já temos em funcionamento….
Dr. José Henriques
1. Nigel Starey, What is clinical governance? www.evidence-based-medicine.co.uk
2. Clinical Governance: in the new NHS , Health Service Circular Executive Series number: HSC 1999/065 Issue date: 16th
March 1999 ; Review date: 16th March 2001
3. Diabetes- factos e números 2010 – Relatório do Observatório Nacional da Diabetes – DGS Fev 2011
4. Guidelines da Retinopatia Diabética – GER -Grupo de Estudos de Retina, Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Dez de
2009.
5. James M, Turner DA, Broadbent DM, Vora J, Harding SP. Cost effectiveness analysis of screening for sight threatening
diabetic eye disease.BMJ. 2000 Jun 17;320(7250):1627-31.
6. Ana Escoval, Tãnia Matos – A Contratualização e Regulação nos Hospitais, in Governação dos Hospitais, Luis de Campos, Margarida Borges, Rui Portugal, 1ª edição Casa das Letras Lisboa 2009
7. ANEXOS Contrato-Programa 2009 Hospitais SNS - Metodologia para a definição de preços e fixação de objectivos, Administração Central do Sistema de Saúde - Unidade Operacional de Financiamento e Contratualização Anexo V - Gestão
Integrada da Doença Renal Crónica – Diálise – 2009.
VI
| Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia
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