XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. ANÁLISE COMPARATIVA DO TEOR NUTRICIONAL E DAS PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DO LEITE DE ORIGEM ANIMAL E EXTRATO DE SOJA Marcilio Wagner Fontes Silva1, José Antônio Marques Lins Neto2, Marília Elizabeth Pinto Gomes Pereira3, Juliana Maria da Conceição4, Lourinalda Luiza Dantas da Silva Selva de Oliveira5. Introdução De acordo com Behemer, (1984) o leite obtido em condições naturais é uma emulsão branca que pode ser ligeiramente amarelada de odor suave e gosto adocicado. O leite é composto por água, lipídios, lactose, proteínas e sais minerais, é um produto rico em vitaminas A, B e D (SILVA; INMETRO, 2009, 1997). Sendo por isso uma fonte nutricional de grande importância nos primeiros dias ou meses de vida dos animais (mamíferos). Diversos fatores podem variar a composição percentual do leite, como espécie, ambiente, raça, fisiologia (individualidade, diferenças entre os quartos do úbere, idade), alimentação, estações do ano, doenças, período de lactação, ordenhas (número, intervalo e processo), fraudes e adulterações (SILVA, 1997). O leite pode ser comercializado na forma líquida ou em pó podendo ser desnatado ou integral, sendo inserido em bebidas como achocolatado, sucos, vitaminas, entre outros. O leite em pó e obtido a partir da desidratação do leite de vaca integral, desnatado ou parcialmente desnatado e apto para a alimentação humana, mediante processos tecnologicamente adequados (MAPA, 2008). Este mesmo processo pode ser empregado ao produto, obtido de outros mamíferos como, por exemplo, o leite de cabra ou até os extratos vegetais, como é o caso da soja. A soja é um grão rico em proteína utilizado tanto na alimentação de humanos como de animais. Além de ser amplamente utilizada na produção de óleos, que são bastante utilizados no preparo de alimentos. Atualmente, o extrato aquoso de soja esta sendo inserido em bebidas (Fernandes, 1998), como sucos, sendo estes intitulados pelas empresas fabricantes como “leite de soja”. O leite em pó deverá conter somente as proteínas, açúcares, gorduras e outras substâncias minerais do leite e nas mesmas proporções relativas, salvo quando ocorrem modificações originadas por um processo tecnologicamente adequado como, estabilizantes, antioxidantes, emulsificantes (MAPA; BEHMER, 1997, 1984). Além do lugar de destaque na alimentação, o leite em pó possui grande importância sob o ponto de vista econômico. Somente em 1997, o Brasil importou mais de US$ 400 milhões em produtos lácteos, dos quais aproximadamente 60% deste valor, foram de leite em pó, mostrando o potencial deste mercado consumidor dentro do país (INMETRO, 2009). Tendo em vista a importância nutricional e econômica deste produto alimentício, o presente trabalho busca analisar a o valor nutricional e as características físico-químicas do leite em pó de origem animal (bovino e caprino) e extrato vegetal. Material e métodos O material de estudo foram os leites em pó de origem caprina e bovina e o extrato vegetal de soja, obtidos comercialmente em supermercados ou farmácias. A análise nutricional foi realizada, através da comparação com os rótulos de embalagens de cada produto, onde foram avaliados os seguintes constituintes: proteínas; carboidratos; vitaminas; gorduras totais, saturadas e trans; fibra alimentar; sais minerais; e outros componentes que foram adicionados durante o processo de industrialização. Foram avaliadas as seguintes propriedades: cor; sabor; aroma; textura; pH e aspectos de cada variedade de leite em pó. Para avaliar estas propriedades, foi necessário solubilizar as amostra de acordo com o requerido pela embalagem de cada produto. Os critérios a serem analisados foram os seguintes: pH- solubilizou-se o produto em água destilada e foi aferido feita a aferição do pH com um pHmetro digital; Cor- foi avaliada a coloração da solução final após a dissolução; Saborfoi avaliado a sabor das amostras quanto ao critério de edulcorância; Textura- foi avaliada a viscosidade da solução final de cada produto; Aroma- foi observado o critério de edulcorância; Aspecto- será avaliada a formação de fase na 1 Primeiro Autor é Graduando em Licenciatura em Química, Departamento de Química, Universidade Federal Rural de Pernambuco R. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife – PE, CEP 52171-900 E-mail: [email protected]. 2 Segundo Autor é Graduando em Agronomia, Departamento de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco R. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife – PE, CEP 52171-900. 3 Terceira Autora é Graduanda em Licenciatura Plena em Química, Departamento de Química, Universidade Federal Rural de Pernambuco R. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife – PE, CEP 52171-900. 4 Quarta Autora é Graduanda em Licenciatura em Química, Departamento de Química, Universidade Federal Rural de Pernambuco R. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife – PE, CEP 52171-900. 5 Quinta Autora é Professora Adjunta do Departamento de Química, Universidade Federal Rural de Pernambuco R. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife – PE, CEP 52171-900. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. solução, e a solubilidade do produto; Resultados e Discussão De acordo com a Portaria N. 369 de 1997 os componentes básicos que devem conter no leite em pó são, açúcares (carboidratos), proteínas, gorduras, e sais minerais. Tais substâncias são de extrema importância para a manutenção das atividades metabólicas e a constituição do organismo humano. Através dos dados coletados, por meio da análise nutricional foi montada a tabela 1. Ao observar os resultados percebesse que o valor nutricional do leite de cabra se sobre sai perante os demais, seja pela sua elevada quantidade de proteínas, pela alta quantidade de gorduras totais e baixa quantidade de gorduras saturadas, além da baixa quantidade de sódio. Pois, baixa quantidade de gorduras saturadas e de sódio reduzindo a possibilidade de ocorrência de problemas cardíacos e colesterol, além, de ser uma ótima fonte proteica e consequentemente de aminoácidos. A fibra alimentar se encontra apenas no extrato de soja, por que este é oriundo de um grão, justificando-se assim a ausência nos demais leites. As fibras alimentares encontram-se presente em legumes, cereais, grão e frutas. No que diz respeito à disponibilidade de sais minerais, o extrato de soja apresenta maior quantidade de cálcio (importante no combate à osteoporose) e menor quantidade de sódio e baixa quantidade de gordura saturada e contém fibra alimentar, em contra partida apresenta baixa quantidade de proteínas e gorduras. Para a realização das análises físico-químicas foi necessário solubilizar as amostras em água. Para realizar este processo foram utilizadas as instruções para o preparo de cada embalagem do leite em pó. De acordo com o rótulo das embalagens o modo de preparo se procedeu da seguinte forma: Leite em pó bovino – o modo de preparo teórico se baseia na dissolução de 30 g do produto em 200 mL de água. Na prática foi solubilizado cerca de 15 g do produto em 100 mL de água; Leite em pó caprino – o modo de preparo sugerido pelo fabricante foi de solubilizar 125 g do produto em 1000 mL de água. Na prática foram solubilizados cerca de 12,5 g do leite em 100 mL de água; Extrato de soja em pó – o modo de preparo sugerido foi de 30 g do produto em 180 mL de água. Na prática foram solubilizados cerca de 15 g em 90 mL de água (Tabela 2). A cor branca do leite é devido à dispersão da luz pelos glóbulos de gordura e pelas partículas coloidais. O leite em pó de origem bovina apresentou coloração branca bastante intensa, enquanto o leite em pó proveniente de caprinos apresenta uma coloração bege, devido à presença de pigmentos de caroteno. Já o extrato de soja apresentou coloração amarelada. A respeito da coloração obtida pelo leite de cabra após a dissolução, não confere com a coloração deste in natura, segundo Mendes, (2009) a cor do leite de cabra é mais branca que o leite bovino, por causa da ausência de βcaroteno. O aroma fortemente adocicado do extrato de soja é proveniente dos adoçantes artificiais introduzidas na mesma para melhorar seu aroma. Já o aroma proveniente dos leites de origem animal é originário da lactose. Quanto à textura avaliou-se a viscosidade de cada produto. A viscosidade do leite é maior que a da água por causa da presença de lipídios e proteínas (Silva, 1997). Os resultados demonstram que o leite de origem caprina é mais viscoso que o extrato de soja e o leite de origem bovina. Isso pode ser explicado pela quantidade de gorduras totais e de proteínas no leite de cabra por porção, ser maior que os demais justificando assim a viscosidade do mesmo. A baixa quantidade de proteínas e de gordura no extrato de soja faz com que este tenha baixa viscosidade. Para Valsechi (2001) o sabor adocicado do leite deve-se a presença dos açúcares do leite que é representado essencialmente pela lactose. As análises revelaram que o leite bovino se mostrou pouco doce, o leite caprino mostrou ser levemente doce, enquanto o extrato de soja fortemente doce. O sabor doce do leite é atribuído a quantidade de lactose presente nele, o leite de cabra apresenta menor quantidade de lactose de acordo com Mendes et al (2009) este leite apresenta um percentual de lactose menor que 0,2-0,5% do leite de vaca. Logo, se esperava que o leite de vaca apresenta-se um sabor mais doce, que o leite de caprino. A provável explicação para isso possa ser a utilização de algum adoçante que não conste no rótulo da embalagem. Já, o resultado obtido para o extrato de soja explicado pela presença de adoçantes artificiais utilizados para tornar o produto mais palatável. Os adoçantes utilizados foram sacarina sódica, e ciclamato de sódio. Não há presença de lactose, pois ela existe apenas em produtos de origem animal como a soja é um grão não há presença de lactose. Quanto ao pH os resultados mostraram que o leite de cabra apresentou maior acidez que os demais (pH de 6,42) o resultado confere com trabalhos na literatura (Mendes, et al. 2009). Sendo o extrato de soja o mais básico de todos (pH de 8,48). De acordo com Zenebon O. et al (2008), e Mendes et al, (2009) a acidez do leite em pó vai aumentando devido ao ataque de micro-organismo do leite a lactose transformando esta em acido láctico, a acidez aumenta com envelhecimento do leite. Como o leite de cabra já tinha mais de uma de fabricado explica-se o pH tão baixo. A alcalinidade do extrato de soja é atribuída a: primeiro a ausência de acido láctico, o que causa a acidez do leite e; segundo a presença de ânions básicos de sacarina e ciclamato. Os resultados obtidos para os aspectos visuais da solução final (após a dissolução do leite em pó e do extrato de soja em pó) foram os seguintes: Leite em pó bovino- totalmente solúvel e solução homogênea; Leite em pó caprinototalmente solúvel, solução heterogênea formação de fases (nata); Extrato de soja-solúvel, mas houve a formação de uma solução coloidal; A formação de nata no leite de cabra era esperado, por causa da grande quantidade lipídios existente neste, que por sua vez são apolares logo, não se solubilizam em água. Através das análises realizadas pode-se concluir que o leite em pó de cabra é bastante nutritivo seguido do leite em pó de origem bovina e do extrato de soja. A grande maioria dos resultados das análises físico-químicas realizadas foi XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. condizente ao que se encontrou na literatura e ao que se disponibilizou na embalagem de cada produto. A única surpresa a encontrada foi o resultado do pH obtido para o extrato de soja e o sabor adocicado do leite de cabra. Referências BEHMER, M. L.A. Tecnologia do leite: produção, industrialização e análise. São Paulo. Livraria Nobel. 1984. 320p. Brasil. Ministério da Agricultura. Decreto n° 30.691 de 29/03/1952 e alterado pela última vez pelo Decreto nº 6.385, de 27 de fevereiro de 2008. Regulamento da inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal – RIISPOA. Diário Oficial da União, Brasília, p. 10785, 27 fev. 2008. Seção 1 Brasil. Ministério da Agricultura. Decreto n. 30.961 de 29 de março de 1952; PORTARIA Nº 369, de 4 de setembro de 1997. Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite em Pó. Diário Oficial da União, Brasília, p.19699, 08 de set. 1997. Seção 1. FERNANDES, J. I. C. A soja na Bahia: desafios e estratégias competitivas no agrobusiness. Fortaleza: Banco do Nordeste, 1998. 116p. Leite em pó integral, INMETRO, http://www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/leitepo.asp.html. 14 Out. 2013. Mendes C. G., Silva J. B. A. *, Abrantes M. R.; Caracterização organoléptica, físico-química, e microbiológica do leite de cabra: UMA REVISÃO. Revista Acta Veterinária Brasílica, v.3, n.1, p.5-12, 2009.<http://periodicos.ufersa.edu.br/revistas/index.php/acta/article/download/1173/701>14 Out. 2013 Silva P. H. F. Leite: Aspectos de Composição e Propriedades, Revista Química Nova na Escola, n.6, p.3-5, novembro de 1997. <http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc06/quimsoc.pdf> 14 de out. 2013. Valsechi O. A., O leite e seus derivados. Araras (SP): Universidade Federal de São Carlos, 2001. 2p. Zenebon O., Pascuet N.S., Tiglea P. Métodos físico-químicos para análise de alimentos. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008. 282 e 831p. Tabela 1. Informações nutricionais do Leite em pó de origem bovina e caprina e do extrato de soja. Informação nutricional Composição/Porção Carboidratos Proteínas Gorduras totais Gorduras saturadas Gorduras trans Fibra alimentar Sódio Cálcio Tabela 2. Resultados Amostra Leite em pó Bovino Leite em pó caprino Extrato de soja em pó Leite de vaca (Marca A) Leite de Cabra (Marca B) Extrato de soja (Marca C) porção 26g 9,9g 6,7 g 7,4g 4,5g 0g 0g 240mg 92mg porção 26g 8,5 7g 8g 1,2g 0,1g 0g 47 mg - porção 30 g 24g 2,5g 2,1g 0,26 0g 2,1g 24mg 300mg obtidos para as análises físico-químicas. Cor Muito Branco Bege Aroma Levemente adocicado Adocicado Amarelo Fortemente adocicado Análise Físico-química Textura Sabor Viscoso Pouco doce Bastante viscoso Pouco viscoso Levemente doce Fortemente doce pH 6,62 Aspecto Homogêneo 6,42 Formação de nata 8,48 Formação coloidal