A EDUCAÇÃO EM NÚMEROS (José Godoy* pela CBN) A educação em números Vamos falar de números. Afinal, são eles que sustentam as letras, não é verdade? Leio os cadernos de economia. É consenso entre os especialistas que o PIB cresce em 2010 mais de 7%. Há uma euforia muricyana, ou seja, comemora-se, mas todos sabem que o futuro reserva dias complexos para o país. Faltam aeroportos, portos, enfim, estrutura básica. Mas nem a mais mirabolante das obras tem a complexidade do bem mais escasso por aqui: a educação. Vamos falar de educação a partir de números. A educação em números II Na semana passada, o resultado do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), assim como há um mês, os dados do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), da ONU, mostrou o que só as estatísticas são capazes de sinalizar: a real fotografia do país. Avançamos, mas seguimos na rabeira. Realizado com jovens de 15 anos de 65 países, o teste cobre avaliações em matemática, ciências e leitura, divididas em seis níveis. A maior parte dos nossos alunos não passa do primeiro nível. Em matemática, 70% não atingem o mínimo exigido. Vamos falar de números para falar de educação. A educação em números III Entre nossos vizinhos de América Latina, o país segue atrás de México, Uruguai e Chile. Na ponta da lista, os asiáticos dão mais um prova da mudança de eixo mundial para leste. Quatro entre os cinco primeiros países são da região, capitaneados pela China. O gigante asiático ainda investe em educação proporcionalmente pouco, menos de 4% do PIB. O Brasil investe algo em torno de 5%, a recomendação da UNESCO é de 6%. A invejada transformação sul-coreana, que mudou o país de patamar após a Segunda Guerra, consistiu em uma década com investimentos na faixa de 10% do PIB. Colhem frutos até hoje. A educação em números IV A Times Higher Education publica uma das mais conceituadas avaliações de universidades do mundo. Seu ranking lista os duzentos principais centros de estudo no planeta, ano a ano. Em 2010, nenhuma universidade latino-americana figurou na relação. Das 200, 81 estão na América do Norte, 72 nos Estados Unidos e 9 no Canadá. O Egito, a Turquia e África do Sul têm escolas na lista, o Brasil, não. Um dos principais pontos negativos do ensino latinoamericano é a educação em meio-período. Nenhum país que se quer competitivo tem cargas horárias tão pequenas quanto a nossa. Em “A rede social”, o filme sobre a criação do Facebook, o protagonista, aluno de Harvard (a primeira do ranking) desdenha da namorada que estuda na Boston University. A BU, como é conhecida a universidade de Boston, é número 59 no ranking da Times. A USP, nossa primeira, é número 232. Quer mais números? A educação em números V Outro número que sempre me faz pensar é o referente às doações recebidas pelas principais universidades americanas. O processo de devolver à sociedade, via instituição de formação, as oportunidades que o ensino de ponta possibilita. Os fundos de endowment (doação) movimentam anualmente valores gigantescos por lá. Por aqui, a saga de Roberto Civita, dono da Editora Abril, para criar um curso de pós-graduação em jornalismo, a partir de doações, é um claro sinal do engessamento do país, de nossa falta de visão estratégica em lidar com esse tema fundamental. Há dinheiro no país, gente interessada em doar, ideias para serem aplicadas, mas não há a percepção da urgência. Do quanto está em jogo neste momento crucial para o país. Falta gente, com sensibilidade, para ler os números. QUER VER DETALHES? ENTRE NOS SITES ABAIXO: ►http://www.timeshighereducation.co.uk/world-university-rankings/20102011/top-200.html ►http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,civita-enfrenta-maratonajuridica-para-criar-curso-de-pos-em-jornalismo,647382,0.htm ************************************************************************ *José Godoy é escritor e editor. Mestre em teoria literária pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), é editor da área de não-ficção da Globo Livros. Colabora com diversos veículos, como a revista Legado, da qual é colunista, e o jornal Valor Econômico. Desde 2006, apresenta o programa Fim de Expediente, junto com Dan Stulbach e Luiz Gustavo Medina. O blog do programa está no portal G1. Entre em contato pelo e-mail [email protected] www.cbn.com.br