Cimento e tinta para sarar as
feridas da guerra
Capital...
15-07-06
Só mesmo no interior da cidade o
visitante pode ter uma ideia clara de
como a guerra feriu as infra-estruturas
do Huambo. Quatro anos depois do
alcance da paz, as marcas da guerra
ainda estão bem visíveis nas estradas
por reabilitar ou nos edifícios por
reconstruir. Mas tudo aponta para uma
mudança a breve trecho, tal como
estima a administradora municipal,
Bem-vinda Cassele, abordada pelo
semanário A Capital. «Há um empenho
conjugado,
do
Governo
e
da
população, para que se possa apagar
as marcas mais dolorosas da guerra»,
disse.
Como dar vida a uma cidade onde nem
um único edifício, um único sinal de
trânsito foi poupado pela fúria da
guerra? Esta é, com certeza, a
pergunta de momento cuja resposta
pode, na
verdade,
estar num
significativo programa actualmente em
curso na sede da província do Huambo
e que é susceptível de ajudar a
determinar o grau do empenho do
Governo local em ressuscitar aquela
que já foi chamada de «cidade vida»,
Huambo, Cimento e Tinta.
É assim que o executivo de Paulo
Kassoma decidiu chamar um programa
desenhado justamente com o objectivo
de dar mais dignidade à cidade do
Huambo. Trata-se, na verdade, de uma
iniciativa que une esforços do Governo
e dos cidadãos em busca de uma nova
imagem para a cidade com a
reabilitação dos edifícios e residências
mais afectados pelos sucessivos
confrontos bélicos que o Huambo
testemunhou. O trabalho, que já
decorre
neste
momento,
visa
essencialmente a reabilitação de
edifícios públicos mas prevê, também,
um apoio aos cidadãos financeiramente
incapazes de apagar das paredes das
suas residências marcas de balas.
Quem sai do Aeroporto Albano
Machado, por exemplo, não pode
deixar de notar que na avenida
conducente ao aeroporto os edifícios
começam a ser reabilitados um a um
graças ao esforço de homens
abnegados que se servem de cimento
e tinta como se de armamentos se
tratassem para vencer mais esta
batalha.
José Solta é um desses homens.
Recebeu do Governo a incumbência de
liderar um grupo de 37 pessoas, todos
operários civis, no âmbito do programa
Huambo, Cimento e Tinta. A ideia, é
simples: «retocar e pintar». Mas é esta
mesma ideia que comanda, desde o
último dia 09 de Maio, o grupo de
pintores e pedreiros que recomeçou a
pintar os edifícios da rua adjacente à
sede do Governo provincial. A avenida
da República, por exemplo, está como
nova e é apontada como prova do êxito
de tão original programa. Êxito que,
aliás, é reconhecido pelos próprios
populares. No dizer da adolescente
Jurelma, de 18 anos, a província tem
de facto muitos problemas. Mas insiste
ela que não deixa de ser notória a
diferença entre os anos que se
seguiram ao fim do conflito armado e a
nova fase que a província começa
agora a viver. «A cidade está cada vez
mais limpa, muitos edifícios pintados,
começa a haver uma nova imagem»
considerou a jovem.
Reconhece que o município, por ser a
sede da província, precisa de mais
dignidade, mas também sabe que nem
tudo depende só do Governo. «É
preciso
o
esforço
de
todos»,
acrescentou ao deixar, no entanto, um
apelo para o Governo de Paulo
Kassoma. «A mudança de imagem não
pode parar os outros bairros também
precisam de reabilitação, que não se
fique
apenas pela baixa da cidade».
Mas, para essa preocupação, o
executivo local também tem uma
resposta. Henriques Mendes Teixeira,
que dirige o GEPE (Gabinete de
Estudos, Planeamento e Estatística),
indicou
que
o
programa
será
implementado até meados de 2007,
altura em que se estima que os
vestígios
da
guerra
deixarão
completamente de existir.
Várias zonas, a semelhança da rua 5
de Outubro, que a guerra deixou
completamente destruídas na cidade
do Huambo, vão mudar completamente
de aparência para acompanhar a
dinâmica de crescimento que agita um
município que abriga quase 80 por
cento da população total da província.
«Vamos, sobretudo, apoiar aqueles
cidadãos que não têm capacidade de
intervir nas respectivas residências».
«Apesar de alguns problemas, Huambo
vai ganhando vida», enfatizou a
administradora municipal inebriada pelo
frenesim de viaturas, motorizadas e de
outras máquinas que conferem à sede
da província confiança tal que, num
ápice, vê nascer a cada dia novos
empreendimentos. A criação de
dependências de quatro bancos
comerciais - Banco de Poupança e
Crédito (BPC), Banco Sol (BS), Banco
Africano de Investimento (BAI) e Banco
de Fomento Angola (BFA) - acelera a
criação de pequenos negócios
sobretudo de carácter comercial, sem
descurar de pequenas indústrias como
moagens e padarias e do sector
hoteleiro bem representado por
pequenos restaurantes e dois hotéis
que oferecem algum conforto ao
visitante..
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