2015, Carpe diem! Os gregos datavam o começo da sua vida coletiva a partir das primeiras olimpíadas (776 a.C), os romanos a partir da fundação da cidade de Roma (cerca de 753 a.C), os hebreus a partir da criação do mundo (7 de outubro de 3.761 a.C), os muçulmanos a partir da Hégira, a fuga do profeta Maomé para a cidade de Medina (16 de julho de 622 d.C). Hoje distanciamo-‐nos do lamat dos Maias (tempo cíclico com a duração de 260 anos) e utilizamos os ioctossegundos, para, por exemplo, medir o tempo 39 percorrido desde o BigBang. Um número tão grande (17x10 ioctossegundos) que não “cabe” nas máquinas de calcular dos nossos filhos, e não tem outra utilidade prática que não seja a de reduzir à sua insignificância o tempo de vida de um ser humano, ou para explicar a diferença entre um número imenso e o infinito. A sofisticação da contagem do tempo cronológico, implementado pelos hebreus e generalizado pelos cristãos, está relacionado com as nossas necessidades de sobrevivência. Hoje trazemos o tempo nos nossos pulsos (e nos nossos telefones) ao segundo. Fazemo-‐lo na expetativa de o dominar mas, na prática, estamos a ser seus escravos, porque é o tempo da condição humana da efemeridade, porque nos recorda, a cada instante, que somos mortais. Que, apesar da luta diária dos nossos átomos em nos manterem intactos, é o tempo que nos faz envelhecer e faz desaparecer quem mais queremos. Estamos condenados a este tempo cronológico (devorador) onde a velocidade dos segundos tira velocidade à nossa alma, mas, felizmente persiste o tempo kairológico (criador)! O tempo da natureza, do nascer e do pôr-‐do-‐sol, dos miradouros e dos “admiradouros”. Da viagem e da conversão, da intuição e da sensibilidade, da música e dos enfeites, da superstição e da graça. O tempo onde não existe instante presente (por não ter uma duração precisa), onde o passado já aconteceu e o futuro ainda não é. O tempo que fica suspenso ou anulado no momento brilhante em que contemplamos o nascimento ou uma criação. Um tempo relativo que devemos aproveitar e valorizar como faziam os romanos (carpe diem), para induzir a não gastar o tempo em coisas fúteis e inúteis. “Aproveite o seu dia”, aproveitemos este novo ano. Aproveitemos o nosso tempo, aproveitemos cada instante como se fosse único, porque de pouco importa a forma como contamos o tempo, quando importa a forma como o vivemos. Sabem, melhor que ninguém, os tratantes na ocasião, os pecadores na tentação, os enganadores na oratória, os “Roncadores” na arrogância, os “Pegadores” no parasitismo, os “Voadores” na presunção e os “Polvos” na traição, que existe um tempo para tudo. Sabe também o “Peixe de Tobias” na cura, o “Rémora” na força, o “Torpedo” na vingança e o “Quatro Olhos” na providência, que Existe um tempo próprio para tudo, e há uma época para cada coisa debaixo do céu: um tempo para nascer e um tempo para morrer; um tempo para plantar e um tempo para colher o que se semeou; um tempo para matar, um tempo para curar as feridas; um tempo para destruir e outro para reconstruir; um tempo para chorar e um tempo para rir; um tempo para se lamentar e outro para dançar de alegria. um tempo para espalhar pedras, um tempo para as juntar; um tempo para abraçar, um tempo para afastar quem se chega a nós; um tempo para procurar e outro para perder; um tempo para armazenar e um para distribuir; um tempo para rasgar e outro para coser; um tempo para estar calado e outro tempo para falar; um tempo para amar, um tempo para odiar; um tempo para a guerra, e um tempo para a paz1. APCRSI, jan.2015 Eclesiastes 3 1