ACÇÃO de FORMAÇÃO Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores Formador: Doutor Paulo Simeão DFFCUP Outubro 2009 ACTIVIDADE PROPOSTA: Construção e calibração de um termómetro de fio de cobre recorrendo à calculadora gráfica e sensores de corrente, diferença de potencial e temperatura. Formandas: Maria da Luz Pinho da Silva Costa Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores Rosa de Fátima Garcia Pais 2 Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores 1. Objectivos • Determinar a resistividade de um condutor metálico (fio de cobre) • Concluir que a resistividade do cobre varia linearmente com a temperatura • Determinar o coeficiente de temperatura do cobre • Calibrar um termómetro de resistência 2. Introdução Teórica Há vários tipos de termómetros, todos eles baseados na variação de uma propriedade física com a temperatura. Idealmente, essa propriedade termométrica deverá variar linearmente com a temperatura, pelo menos no intervalo de temperaturas onde se pretende utilizar o termómetro. Neste caso, a propriedade que se considera a variar é a resistência eléctrica do condutor. A resistência de um condutor filiforme é dada pela expressão [1]. R =ρ A A [1] em que R é a resistência do condutor, ρ é a resistividade, A é o comprimento e A a área de secção recta. A resistividade, a uma dada temmperatura, é uma característica do condutor. Enquanto que a resistência eléctrica de um condutor depende não só do material de que é feito o condutor, mas também da sua forma, a resistividade traduz uma característica do material do condutor. Por exemplo, a 20ºC, a resistividade do cobre é 1,7x10-8 Ωm. Verifica-se experimentalmente que, numa gama alargada de temperaturas (mas não muito baixas), a resistividade dos metais aumenta linearmente com a temperatura, de acordo com a expressão [2]. ρ = ρ 0 [1 + α (T − T0 )] [2] em que ρ é a resistividade do metal à temperatuta T, ρ0 é a resistividade à temperatura T0 e α é o coeficiente de temperatura do material (para o cobre, a 20ºC, α = 3,9x10-3 K-1). De um modo geral, a resistividade dos metais e ligas metálicas aumenta com a temperatura, uma vez que o coeficiente de temperatura, α, é positivo. A expressão da variação da resistividade com a temperatura pode ser excrita em termos da resistência do condutor dado que as variações do comprimento do condutor (A) e 3 Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores da área de secção recta (A), com a temperatura são desprezáveis, uma vez que os coeficientes da variação da resistividade são muito superiores aos coeficientes de dilatação dos materiais. 3. Questões Pré-Laboratorias 3.1. Dê exemplos de condutores que tenham uma resistência constante a temperatura constante. 3.2. Se tiver um fio metálico, como poderá medir, experimentalmente, através de uma medição directa e de uma medição indirecta, a sua resistência? 3.3. Sabendo o valor da resistência eléctrica de um fio metálico, como poderá determinar a sua resistividade? 3.4. A resistividade de um condutor metálico varia com a temperatura. Escreva a expressão matemática que indica essa variação. Estabeleça a correspondente representação gráfica. 3.5. Que informação pode retirar do coeficiente de temperatura de um material? 4. 4.1. Actividade Laboratorial Material e Equipamento • Calculadora TI 84 Plus com aplicação DATAMATE • Interface de recolha de dados CBL2 (Calculator Based Laboratory) • Cabo de ligação calculadora - CBL2 • Cabos de ligação • Crocodilos • Sensor de temperatura • Sensor de corrente • Sensor de diferença de potencial • Bobina de fio de cobre envernizado (A=50 m e φ=0,20 mm) enrolada em tubo de cobre) • Fonte de alimentação regulável • Disco eléctrico de aquecimento 4 Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores 4.2. • Copo de vidro Pyrex ou metal • Água e gelo • Suporte e garras Esquema de Montagem G - (5V DC) + Vermelho Sensor Temperatura R I cobre Sensor Voltagem Preto Sensor Corrente Figura 1. Representação esquemática do circuito. 4.3. Procedimento experimental Figura 2. Montagem laboratorial. 5 Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores 4.3.1. Software A calculadora deve ter a aplicação DATAMATE instalada para estar disponível nas Aplicações (tecla APPS da calculadora). 4.3.2. 1) Procedimento Monte o circuito de acordo com o esquema da Figura 1. Respeite a polaridade das ligações indicada nos sensores. Não ligue, para já, a fonte de tensão. 2) Ligue o sensor de corrente ao canal 1, o sensor de voltagem ao canal 2 e o sensor de temperatura ao canal 3 do CBL2. 3) Com um cabo adequado, conecte a calculadora à interface CBL2. 4) Ligue a calculadora. Execute o programa DATAMATE em APPS. Seleccione o programa com a teclas de navegação. Prima ENTER e seguidamente CLEAR. 5) O CBL2 deverá ter detectado os sensores nos respectivos canais aos quais foram ligados: o sensor de corrente no canal 1, o sensor de voltagem no canal 2 e o sensor de temperatura no canal 3. 6) Calibre o zero dos sinais recebidos nos três canais. Para tal, ainda com a fonte de tensão desligada: • • • • Seleccione SETUP no menu principal. Seleccione ZERO no menu SETUP. Seleccione ALL CHANNELS no menu SELECT CHANNEL. Prima ENTER. 7) No ecrã principal observam-se as leituras da intensidade da corrente, da diferença de potencial e da temperatura, actualizadas a cada segundo. Regule a fonte de tensão DC para 0 V e aumente gradualmente o valor da tensão de forma a que o valor da intensidade do circuito não ultrapasse os 500 mA (tenha em atenção que o sensor de corrente tem um alcance máximo de 600 mA). 8) Altere o modo de recolha de dados, de modo a que sejam guardados valores apenas quando o pretender: • • • • Seleccione SETUP no écrã principal. Usando as teclas de navegação, seleccione MODE e prima ENTER. Escolha SELECTED EVENTS no menu SELECT MODE. Seleccione OK para voltar ao menu principal. 6 Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores 9) Para o primeiro conjunto de valores: • Seleccione START no écrã principal. • Pressione ENTER. 10) Para obter mais conjuntos de pontos: • Seleccione START no écrã principal. • Pressione ENTER. • Após o último ponto, pressione STO X. 11) Desligue a fonte de alimentação. 5. Questões pós-laboratoriais 5.1. Na sua calculadora ou numa folha de cálculo computacional, construa uma V⎞ ⎛ lista em que figurem os valores da resistência da bobina de cobre ⎜ R = ⎟ I⎠ ⎝ em função da temperatura. 5.2. Tendo em conta as características geométricas do fio, construa uma outra lista em que figurem os valores da resistividade da bobina de cobre em A⎞ ⎛ função da temperatura ⎜ ρ = R ⎟ . A⎠ ⎝ 5.3. Represente o gráfico da resistividade em função da temperatura e determine a linha que melhor se ajusta aos pontos experimentais. O resultado está de acordo com as previsões? Sugere-se um rearranjo da expressão [2], de modo a ser possível determinar directamente o valor do coeficiente de temperatura do cobre, que é numericamente igual ao declive da recta de regressão linear. ρ = ρ 0 [1 + α (T − T0 )] ρ = 1 + α (T − T0 ) ρ0 Fazendo o ajuste de ρ/ρ0 em função de (T-T0), prevê-se obter uma recta cuja ordenada na origem é 1 e cujo declive é α. 7 Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores 5.4. A partir da recta de regressão obtida, determine a resistividade do cobre para 20ºC. 5.5. A partir da recta de regressão obtida, e com os valores determinados anteriormente, como poderia obter o coeficiente de temperatura para o cobre? Qual o erro percentual associado? 5.6. Determine a temperatura de outro líquido usando o termómetro de fio de cobre. 5.7. Pesquise quais são os termómetros de resistência mais utilizados. Analise a tabela de coeficientes de temperatura para vários metais e justifique a respectiva utilização. 8 Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores Proposta de resolução das questões pré-laboratoriais 1. Todos os condutores ditos óhmicos, como os metais. 2. Com um multímetro, na função do ohmímetro, obtém-se directamente a resistência do fio, ligando os terminais do fio aos terminais do aparelho. Esta medição é feita em circuito aberto, pois o próprio ohmímetro cria uma diferença de potencial nos terminais do fio. Caso não haja um multímetro com esta função, introduz-se o fio metálico num circuito e mede-se a intensidade de corrente que por ele passa (amperímetro montado em série) e a diferença de potencial nas suas extremidades com um voltímetro (instalado em paralelo). O quociente da diferença de potencial pela intensidade de corrente dá-nos a resistência. A , basta conhecer o comprimento e a área da secção transversal do fio. A 3. Como , R = ρ 4. Varia de acordo com a expressão ρ = ρ0 [1 + α (T - T0)], ou ρ = ρ0 (1 + α T) se tomarmos como referência a temperatura T0 = 0°C. Neste último caso, a representação gráfica é uma recta com ordenada na origem igual a ρ0 e declive igual a ρ0α. 5. O coeficiente de temperatura indica se a resistividade aumenta ou diminui com o aumento de temperatura: se for positivo, como nos metais e ligas metálicas, aumenta; se for negativo, como nos semicondutores, diminui. 9 Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores Proposta de resolução das questões pós-laboratoriais 1. e 2. Completar a tabela, tendo em conta as características geométricas do fio (comprimento e área da secção); calcular a resistência e a resistividade para cada temperatura, utilizando os valores da d.d.p. e da corrente eléctrica. Bobina de fio de cobre envernizado (A=50 m e φ=0,20 mm) Tabela 1. Resistividade do cobre em função da temperatura. Amostra T (ºC) V (V) I (A) R (Ω) ρ (Ωm) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 7,297 9,026 10,077 11,205 13,925 15,610 20,000 25,227 28,186 31,279 35,073 38,900 43,211 46,778 49,529 54,258 65,667 69,682 74,750 77,111 78,235 80,177 82,400 85,071 89,539 91,500 93,182 94,273 95,800 96,182 96,546 97,300 97,300 97,700 98,100 98,500 98,900 98,900 99,333 99,333 5,846 5,865 5,865 5,865 5,865 5,865 5,865 5,865 5,865 5,865 5,865 5,865 5,865 5,865 5,865 5,885 5,865 5,865 5,885 5,885 5,885 5,885 5,885 5,865 5,885 5,885 5,865 5,865 5,885 5,885 5,885 5,865 5,885 5,885 5,885 5,885 5,885 5,885 5,885 5,865 0,5144 0,5120 0,5095 0,5083 0,5010 0,4985 0,4912 0,4814 0,4765 0,4814 0,4729 0,4680 0,4643 0,4607 0,4435 0,4387 0,4448 0,4423 0,4154 0,4154 0,4228 0,4167 0,4130 0,4228 0,4191 0,4277 0,4154 0,4044 0,4167 0,4032 0,4142 0,4081 0,4106 0,4081 0,4106 0,4118 0,4081 0,4069 0,4093 0,4130 11,36 11,46 11,51 11,54 11,71 11,76 11,94 12,18 12,31 12,18 12,40 12,53 12,63 12,73 13,22 13,42 13,19 13,26 14,16 14,16 13,92 14,12 14,25 13,87 14,04 13,76 14,12 14,50 14,12 14,59 14,21 14,37 14,33 14,42 14,33 14,29 14,42 14,46 14,38 14,20 7,136E-09 7,194E-09 7,229E-09 7,246E-09 7,352E-09 7,388E-09 7,499E-09 7,651E-09 7,729E-09 7,651E-09 7,789E-09 7,870E-09 7,933E-09 7,996E-09 8,304E-09 8,425E-09 8,281E-09 8,327E-09 8,895E-09 8,895E-09 8,741E-09 8,869E-09 8,948E-09 8,712E-09 8,818E-09 8,641E-09 8,866E-09 9,107E-09 8,869E-09 9,165E-09 8,922E-09 9,025E-09 9,001E-09 9,055E-09 9,001E-09 8,975E-09 9,055E-09 9,082E-09 9,028E-09 8,918E-09 10 Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores 3. O gráfico de dispersão obtido indica que a linha de ajuste é uma recta, tal como se previa teoricamente, e a equação dessa recta dá a função ρ/ρ0(T), de onde se pode obter o valor de α (a partir do declive da recta). Gráfico 1. Representação da razão entre a resistividade à temperatura T e a resistividade à temperatura inicial (ρ/ρ0) em função da diferença de temperaturas (T-T0). 4. A partir da função anterior obtêm-se os valores pedidos. ρ = 1 + 2,988 x 10 −3 (T − T0 ) ρ0 Para a temperatura de 20ºC, tendo em conta os valores de T0 e ρ0 (Tabela 1), obtemse o valor de 7,407x10-9 Ωm para a resistividade. O valor tabelado a 20ºC é de 1,68x10-8 Ωm, o que corresponde a um erro percentual de 55,9%. Este erro, embora elevado, pode ser justificado no facto de a bobina de cobre não ser de cobre puro e também no facto de a bobina ter já sido usada muitas vezes em trabalhos experimentais podendo ter ocorrido a sua deformação em vários pontos. 11 Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores 5. Da forma como a regressão foi feita, o valor numérico do declive da recta corresponde ao valor do coeficiente de temperatura para o cobre. α = 2,988x10-3 ºC-1. Assumindo que o coeficiente de temperatura é praticamente constante na gama de temperaturas estudada pode-se calcular o erro percentual relativamente ao valor tabelado (3,93x10-3 ºC-1). O erro determinado foi de 24,0 %. 6. Pretende-se implementar a função R = R0 [1 + α (T - T0)]. Para o efeito, usam-se os valores experimentais de R0 e α, sugerindo-se um passo na temperatura de 1 °C (por exemplo para um intervalo de 0 °C a 40 °C). Deste modo, quando introduzir a bobina noutro líquido e ler o valor da resistência no ohmímetro, recorrerá à tabela anterior e, de imediato, terá, com alguma aproximação, o valor da temperatura. Esta bobina funcionará de termómetro para temperaturas entre 0 °C e 40 °C com recurso à tabela construída. Pretende-se que o aluno compreenda que um termómetro de resistência mede directamente uma grandeza que não é a temperatura e faz a conversão dessa grandeza para uma escala de temperaturas (medição indirecta da temperatura). O termómetro de resistência, por ser linear, pode ser utilizado, embora com as devidas reservas, para medir temperaturas próximas de 100 °C, extrapolando os resultados da calibração. 12 Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores Recomendações Os resultados poderão ser melhorados se for usada uma bobina com resistência maior (mais comprida). No entanto, uma resistência maior implica uma massa de cobre maior e, portanto, um termómetro que demora mais tempo a reagir às variações de temperatura. O sensor da temperatura não deve tocar no fundo do recipiente nem no agitador. O banho de água em que a bobina de cobre está mergulhada deve ser homogéneo em termos da temperatura, pelo que pode ser usada a agitação magnética para garantir este efeito. O aquecimento deve ser gradual e em recipiente resistente à temperatura (“Pyrex” ou recipiente metálico, mas que não interfira com a agitação magnética (por exemplo, o alumínio). É desejável que se use um metal com elevado coeficiente de temperatura. O ferro embora apresente um coeficiente de temperatura elevado não é aconselhável pois oxida com facilidade; é preferível utilizar a platina. O silício e o germânio não são indicados para este trabalho porque a sua massa volúmica varia linearmente com a temperatura. Conclusões O coeficiente de temperatura de um material, num intervalo de temperaturas, ∆T, indica a variação relativa da resistividade por grau celsius de variação de temperatura. α= ρ − ρ0 ρ 0 ΔT O coeficiente de temperatura, obtido experimentalmente (α = 2,988x10-3 ºC-1), apresenta um erro percentual de 24%, que poderá ser minimizado optimizando as condições experimentais e usando fio de cobre calibrado. Por outro lado, o coeficiente de temperatura está tabelado numa gama de temperaturas próxima dos 20ºC e para cobre puro. Portanto, a comparação dos valores de α, só faz sentido nas mesmas condições. Neste caso, a diferença entre o valor obtido experimentalmente e o valor tabelado, é fundamentalmente explicado tendo em conta que o material da bobina não é cobre puro e 13 Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores que o intervalo de temperaturas estudado (7 a 99ºC) é demasiado alargado para garantir que o coeficiente de temperatura seja constante neste intervalo. A utilização de sensores (T,V e I) ligados à calculadora permite uma medição mais precisa das grandezas. Podendo haver uma visualização on-line, dos valores experimentais, utilizando o viewscreen. O tratamento de dados foi feito numa folha de cálculo EXCEL embora tenham sido recolhidos com a aplicação DATAMATE da TI-84 Plus. A utilização de sensores, calculadora e computador permitem diversificar as ferramentas de trabalho e promover a aprendizagem dos alunos. Bibliografia VENTURA, Graça et al (2009). 12 F Física. Lisboa: Texto Editores. SIMEÃO, Paulo (2009). Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores. Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Departamento de Física. Anexo Figura 3. Cobre em banho com gelo. Figura 4. Esquema de montagem a cerca de 10ºC. 14 Actividades de sala de aula com a calculadora gráfica e sensores Figura 5. Cobre em banho próximo da ebulição. Figura 6. Registo de determinações experimentais. 15