ANAIS
EFEITO BORBOLETA: AS PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS E SUA RELAÇÃO
COM A MULTINACIONALIDADE DA EMPRESA
VINICIUS ANTONIO MACHADO NARDI ( [email protected] , [email protected] )
UNISINOS - UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
IURI GAVRONSKI ( [email protected] , [email protected] )
UNISINOS - UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
Resumo
Objetivo: Identificar a relação existente entre as práticas sustentáveis da empresa, as
condições econômicas, sociais e ambientais do país de origem e a multinacionalidade da
firma.
Achados: O desenvolvimento ambiental do país de origem e a adesão da companhia à práticas
sustentáveis possuem relação positiva com a multinacionalidade. Não há correlação existente
entre o desenvolvimento sócio-econômico do país de origem com a multinacionalidade.
Originalidade/Valor: O estudo contribui para a literatura examinando os efeitos do país de
origem sobre a multinacionalidade das companhias, alargando para a área de operações a
discussão acerca da influência de práticas sustentáveis para a inserção internacional.
Palavras-Chave:
Corporativa.
Multinacionalidade
–
Sustentabilidade
1/14
–
Responsabilidade
Social
ANAIS
INTRODUÇÃO
Conforme a teoria do caos há, em qualquer sistema dinâmico, complexo e adaptativo
uma consistente interligação entre eventos supostamente distintos. Inserido nesse contexto
Lorenz (1963) verificou que pequenas alterações em determinados dados estão
correlacionadas com grandes eventos meteorológicos. A consciência popular passou a
identificar essa correlação como a possibilidade de um simples bater de asas proporcionarem
uma tempestade em outro local do globo, comumente chamado de “efeito borboleta”.
As organizações causam à sociedade um impacto muito maior do que o movimento
de uma borboleta especialmente por sua expansão multinacional no contexto do século XXI.
A empresa carrega para o mercado internacional seus recursos e capacidades utilizando-se
deles para obter vantagem competitiva. Um importante elemento neste contexto é a
responsabilidade social corporativa. O compromisso social da empresa tomou corpo a partir
da metade do século XX alavancando o quantitativo de pesquisas sobre o tema (Bansal &
Roth, 2000; Porter & Kramer, 2007; M. E. Porter & Vanderlinde, 1995). No final do século
passado esta linha de estudos ganhou popularidade através da vertente da sustentabilidade
(Brundtland, 1987; Elkington, 1999)
Neste contexto, um fator importante se apresenta como interveniente na relação: a
participação em mercados globais. A multinacionalidade da firma tem sido pontuada pela
literatura como um fator gerador de transformações sociais face à quebra de fronteiras gerada
por empresas em busca de recursos e mercados (Kirca et al., 2011; Thomas & Eden, 2004).
No entanto, há escassez na literatura de estudos empíricos que avaliem a relação da
multinacionalidade da firma com suas práticas socialmente responsáveis e com as condições
econômicas, sociais e ambientais de seu país de origem (Chapple & Moon, 2005).
A participação em mercados internacionais pressupõe o desenvolvimento de
competências adicionais que possibilitem alcançar o objetivo básico de acessar recursos,
internalizá-los e desfrutar de suas vantagens competitivas. Este estudo é relevante por
diagnosticar a relação entre a postura social da empresa e sua expansão internacional. Para
tanto questiono: Qual a relação entre as práticas sustentáveis da empresa e as condições
econômicas, sociais e ambientais do país de origem sobre a multinacionalidade da firma?
O objetivo deste estudo é de contribuir na identificação de fatores condicionantes do
processo de internacionalização e dos efeitos gerados pela adoção de práticas sustentáveis.
Para tanto são identificadas as companhias com maior índice de multinacionalidade e
avaliados aspectos relativos às suas práticas sustentáveis e as condições sócio-ambientais de
seu país de origem.
TEORIA E HIPÓTESES
Multinacionalidade
A globalização dos mercados impôs sensíveis mudanças às estratégias empresariais.
Muito embora seus efeitos sejam mais sensivelmente percebidos no mundo contemporâneo,
as implicações de vantagens competitivas entre nações e sua relação com o comércio
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internacional foram percebidas desde David Ricardo quando este concebeu a teoria sobre as
vantagens comparativas das nações.
A multinacionalidade, aqui reconhecida como a “pegada internacional da empresa”,
é expressa pela proporção de ativos, de empregados e de vendas fora de seu país de origem
proporciona economia de escala, obtenção de melhores e mais flexíveis recursos, redução de
risco e acesso ao conhecimento, gerando efeito positivo sobre o desempenho da firma. O
construto captura, em síntese, o nível de envolvimento da empresa em fora de seu país de
origem (Hennart, 2011; Kirca et al., 2011; Thomas & Eden, 2004).
As empresas multinacionais possuem grande relevância social. Além de
apropriarem-se de recursos e vantagens dos mercados de destino elas também influenciam as
condutas de outras empresas e estimulam o desenvolvimento destes mercados. Esse duplo
papel que exercem faz com que sejam discutidas na literatura questões quanto a sua
integração social e as transformações institucionais causadas em razão de sua atuação
(Cantwell & Zhang, 2011; Ghoshal & Bartlett, 1990).
A multinacionalidade da firma é especialmente motivada pelas características
pessoais de seus executivos, especialmente pela sua experiência internacional. Também
impactam neste grau de comprometimento fatores ligados ao corpo de diretores - seu
tamanho, heterogeneidade e grau de educação -, fatores relativos a características internas da
empresa – tamanho, experiência internacional, intensidade de capital – e fatores relativos ao
seu ambiente de atuação – nível de concorrência e desenvolvimento no país de origem (Carpenter & Fredrickson, 2001; Goerzen & Beamish, 2005; Sanders & Carpenter, 1998;
Wiersema & Bowen, 2008).
É neste escopo de direcionadores do processo que estão abarcados elementos mais
recentemente estudados, como a responsabilidade social corporativa, que será analisada a
seguir.
Responsabilidade social corporativa (RSC) e sustentabilidade
A Responsabilidade social corporativa (RSC) despertou grande interesse de
acadêmicos e gestores especialmente a partir da segunda metade do século XX. O início da
percepção sobre os reflexos da atuação das empresas na comunidade deu-se a partir de um
período histórico marcado pelo crescimento exponencial das companhias em tamanho e
participação social e de um avanço das exigências sociais por melhores condições de trabalho
e por uma atuação socialmente adequada das organizações.
A partir do alargamento dos debates sobre o tema duas linhas distintas foram
originadas: a baseada na teoria dos shareholders e seu contraponto, baseada na teoria dos
stakeholders.
A primeira delas, derivada do texto seminal que aponta que a empresa deve ter como
objetivo principal o aumento do valor ao acionista não devendo adotar posturas
assistencialistas (Friedman, 1970). Esta linha de argumentação preconiza a existência de
outras instituições (governo, sindicatos, igrejas, organizações civis) com o objetivo de atender
a funções sociais, não havendo tempo ou interesse da empresa em fazê-lo (Jones, 1995).
Em contraponto a esta análise, a linha teórica alicerçada sobre o texto de Carroll e
ampliada posteriormente pelo estabelecimento da teoria dos stakeholders (Carroll, 1979;
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Freeman, 1984), concebe a empresa como participante ativo na sociedade, devendo
preocupar-se com os sentimentos exarados por seus interessados acerca de sua atuação. As
dimensões de RSC apresentadas por Carroll permanecem sendo amplamente utilizadas pelos
estudos na área. Estes níveis devem ser cumpridos de modo simultâneo não sendo, por
exemplo, a execução de atividades filantrópicas um elemento que eximiria a empresa do
cumprimento de suas responsabilidades econômicas ou legais (Carroll, 1999).
Esta avaliação recebeu importantes contribuições com os estudos que propuseram a
integração das teorias até então vigentes em um modelo de Desempenho Social das Empresas
(Wartick & Cochran, 1985). Este trabalho foi base para a análise de que apresentou o conceito
de Corporate Social Performance (CSP) incluindo na avaliação das companhias o efetivo
resultado de suas ações de responsabilidade social (Wood, 1991).
A partir da década de 80 um importante conceito – originado desta matriz – passou a
proliferar na literatura e no debate mundial: a sustentabilidade. O desenvolvimento
sustentável - definido como o que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades (Brundtland, 1987)ampliou o debate sobre a RSC e o próprio conjunto de stakeholders reconhecendo como tais
todos os indivíduos da presente ou de futuras gerações que possam direcionar as ações da
firma ou serem atingidos por suas externalidades. Esta abordagem se sustenta sobre três áreas:
econômica, social e ambiental (Elkington, 1999).
O avanço no processo de industrialização e o alargamento das operações fez nascer
uma nova realidade competitiva. A sustentabilidade econômica diz respeito a sustentação de
retornos econômicos para a empresa, princípio basilar a que se destina, através da adoção de
práticas que ao mesmo tempo sejam positivas para a sociedade e para o ambiente (Orsato,
2006).
Nesta esteira, muito embora a postura sustentável da companhia continue sendo
visualizada como um custo por algumas empresas, outras passaram a utilizá-la como elemento
estratégico, especialmente através da certificação ou comunicação de suas ações (Collins,
Lawrence, Pavlovich, & Ryan, 2007; Delmas & Pekovic, 2013).
A sua relação mais estudada sem dúvida é com a performance corporativa. Tais
pesquisas dividem-se em estudos que avaliaram aspectos isolados de sustentabilidade social
ou ambiental (Klassen & McLaughlin, 1996; Waddock & Graves, 1997) e outros que
utilizaram a combinação destes fatores na investigação (Lankoski, 2009; Wagner, 2010). Os
resultados, no entanto, não são conclusivos, em face de diferentes formas de mensuração,
sendo necessária a ampliação das medidas para fatores além do simples retorno financeiro
(Goyal, Rahman, & Kazmi, 2013; Poolthong & Mandhacitara, 2009).
Práticas sustentáveis e multinacionalidade
A adoção de práticas sustentáveis é um fator importante para a multinacionalidade da
firma. As empresas multinacionais estão mais propensas a adotar práticas de RSC para afastar
restrições governamentais e diferenciar-se no mercado global (Chapple & Moon, 2005;
Crouch, 2006; Rondinelli, 2003).
As observações existentes na literatura preconizam a existência de uma grande
competitividade internacional baseada em práticas de responsabilidade social. Isso porque a
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adoção de tais estratégias causariam efeitos diretos (percepção do consumidor, acesso a novas
oportunidades) bem como efeitos indiretos como o incremento da qualidade de produtos e
processos. ((M. E. Porter & Vanderlinde, 1995)
Na mesma esteira, estudos apontaram como necessárias competências
complementares para a atuação em mercados internacionais sendo cabível conceber as
práticas de RSC como pertencentes a este rol, especialmente quando adotada como estratégia
defensiva contra críticas públicas pela operação em países de baixo custo. (Laudal, 2011;
Serra, 2008).
Estas empresas ao possuírem redes globais estão expostas a diferentes níveis de
expectativa social acerca de suas práticas empresariais, fazendo com que necessitem alcançar
a excelência neste campo (Scherer & Palazzo, 2008).
Além disso, as multinacionais são importantes para a disseminação da RSC
exercendo influência sobre outras empresas em face do isomorfismo mimético (Amran
(Amran & Siti-Nabiha, 2009; Dimaggio & Powell, 1983). Todavia são escassos os estudos
que avaliaram empiricamente esta relação emergindo desta lacuna a primeira hipótese de
pesquisa:
H1: A adoção de práticas sustentáveis está positivamente relacionada com a
multinacionalidade da companhia
O efeito país de origem
A relevância de aspectos institucionais do país de origem para a internacionalização
das empresas é um tema secular. Este elemento se torna mais relevante ao passo que avançam
as facilidades de comércio internacional derivando deste cenário a construção teórica "efeito
do país de origem".
Empiricamente a constatação de que o país do qual procede um bem ou serviço
influencia na percepção dos consumidores restou definida na década de 60 (Schooler, 1965).
A partir de então estudos foram ampliados e estabeleceu-se que três componentes estariam
conectados ao construto: o afetivo (ligação emocional entre o consumidor e o país de origem),
o cognitivo (são as crenças que o indivíduo possui sobre aquela nação) e o conativo (suas
intenções com aquela nação) (Zeugner-Roth & Diamantopoulos, 2010).
A expressão "made in" conecta consumidores a aspectos de qualidade nacional,
influenciando em sua avaliação sobre um bem ou serviço. Desta relação emerge a segunda
hipótese de pesquisa:
H2: O desenvolvimento sócio-econômico do país de origem está positivamente relacionado
com a multinacionalidade da companhia
Este mesmo efeito é apresentado quando analisadas as operações das empresas.
Fatores institucionais relativos ao país de origem estão relacionados com a conduta das
empresas, especialmente quando relevados aspectos regulatórios (Porter & Kramer, 2007)).
Deste modo, é plausível afirmar que empresas originárias de países com maior nível
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regulatório na esfera ambiental terão uma jornada internacional facilitada em razão da maior
adequação de seus produtos e processos.
No entanto, são escassos na literatura os estudos empíricos que analisaram o efeito das
condições econômicas, sociais e ambientais do país de origem
origem sobre as práticas sustentáveis
internacionalização das companhias (Chapple & Moon, 2005). Desta lacuna emerge a
hipótese 3 deste estudo:
H3: O desenvolvimento ambiental do país de origem está positivamente relacionado com a
multinacionalidade da companhia
A figura 1 identifica o modelo teórico de investigação com as respectivas hipóteses de
pesquisa.
Práticas sustentáveis da
companhia
H1
Desenvolvimento sóciosócio
econômico do país de
origem
H2
H3
Desenvolvimento ambiental
do país de origem
Multinacionalidade
Figura 1: Modelo teórico e hipóteses de pesquisa
Fonte: Elaboração própria
MÉTODO
Amostra – Coleta e tratamento dos dados
A amostra pesquisada consistiu no universo de empresas caracterizadas como as que
possuem maior índice de multinacionalidade. Estes dados secundários estão disponíveis em
seu website (www.unctad.org
w.unctad.org).
). Após a primeira análise, relativa ao ano de 2012, constituiu-se
constituiu
um corpo amostral de 101 empresas.
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Em uma segunda amostragem, foram analisados dados secundários relativos à
publicação de relatórios de sustentabilidade no padrão GRI dessas empresas. A listagem foi
obtida através da consulta pública disponível do website mundial da iniciativa.
(www.globalreporting.org).
Após esta análise restaram 82 empresas que tiveram seu país de origem identificado
e consistiram em nossa amostra definitiva. Posteriormente, com o auxílio do software SPSS
versão 21, os dados foram analisados com o uso de técnicas para identificação de correlação
(R de Pearson e análise de regressão linear).
Variáveis
Variáveis independentes
A sustentabilidade da companhia foi avaliada através de um proxy composto pelos
elementos abaixo descritos. Todas as variáveis foram obtidas a partir da coleta de dados
secundários junto aos organismos responsáveis pelos índices ou certificações:
- Participação no índice Dow Jones de sustentabilidade: Variável coletada através de
análise de dados secundários –relatório anual – e avaliada quanto ao valor atribuído pelo
índice a empresa (não faz parte = 0; membro = 1; bronze = 2; silver = 3; gold = 4);
- Participação no índice Ftse4 good: Variável dicotômica caracterizada pela presença
no índice que analisa a conduta social da empresa. (não = 0, sim = 1);
- Nível de publicação de relatório no formato GRI: Variável analisada a partir da
consulta a dados secundários do projeto (não declarado = 0; C = 1; C+ = 2; B=3; B+=4; A=5;
A+=6);
- Certificação OECD: Variável dicotômica caracterizada pela participação ou não
como membro da organização para a cooperação e desenvolvimento econômico (não = 0, sim
= 1);
- Certificação UNGC: Variável dicotômica caracterizada pela certificação ou não
quanto à cidadania empresarial (não = 0, sim = 1);
- Certificação CDP: Variável dicotômica caracterizada pela certificação das suas
práticas quanto à emissão de carbono (não = 0, sim = 1);
- Certificação IFC: Variável dicotômica caracterizada pela certificação de suas
práticas de governança e desempenho ambiental (não = 0, sim = 1);
- Certificação ISO: Variável dicotômica caracterizada pela certificação de suas
práticas de qualidade e desempenho ambiental (não = 0, sim = 1);
Desta maneira o proxy utilizado (SUST) restou composto por oito variáveis que
somadas apresentaram o nível consolidado de práticas sustentáveis da companhia para este
estudo, sendo tal padrão variável entre 0 e 16.
A variável desenvolvimento sócio-econômico do país de origem (DSEPO) restou
caracterizada pela averiguação do índice de desenvolvimento humano da nação (fator que
analisa os indicadores de educação, expectativa de vida e renda) através de dados secundários
obtidos junto ao banco mundial (data.worldbank.org) e referendado pela literatura (Chapple &
Moon, 2005).
Por sua vez a variável desenvolvimento ambiental do país de origem (DAPO) foi
analisada a partir do estudo “Environmental Performance Index” (índice anualmente
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publicado pela universidade de Yale que avalia posturas ambientais da nação, tais como
poluição do ar e da água, preservação do ambiente, biodiversidade) disponível online através
do site epi.yale.edu.
Variável dependente
A multinacionalidade, variável dependente deste estudo, restou analisada a partir de
três indicadores básicos: quantidade de receitas obtidas fora do país de origem versus receitas
totais da companhia, valor total dos ativos no exterior versus valor total dos ativos das
empresas e número de funcionários no exterior versus número total de funcionários da
empresa. A média geral dos três índices (variável MULT) estabelece o valor considerado para
o comprometimento internacional da companhia sendo reconhecido como proxy válido pela
literatura (Hennart, 2011; Kirca et al., 2011)
Variáveis de controle
Com o interesse de controlar fatores evitando sua interferência na relação entre as
variáveis e no teste das hipóteses, o presente estudo avaliou como variáveis de controle o
tamanho da empresa, verificado através do número total de empregados da companhia e a
idade da empresa verificada a partir da análise da sua data de fundação.
RESULTADOS
As estatísticas descritivas das variáveis apresentadas na pesquisa estão apresentadas
na tabela 1. É possível identificar a partir desta análise que dentre as variáveis estudadas a que
apresenta maior variância e desvio padrão é a multinacionalidade, evidenciando a
heterogeneidade da amostra para este fator. Com relação ao perfil da amostra percebe-se que
a média de idade das companhias é de 84 anos, sendo que a média de empregados das
companhias é de 154.174.
Tabela 1: Estatísticas descritivas
Mínimo
Idade
Ativos totais
Vendas totais
Empregados totais
DSEPO
DAPO
MULT
SUST
Máximo
Média
Desvio Padrão
4,00
347,00
84,2317
58,71574
36808
409257
124012,51
83879,644
10311
467153
90003,09
94592,609
5713
2200000
154174,49
251689,688
73
100
90,65
3,829
49
77
64,42
6,064
29
97
65,57
17,439
1,0
16,0
7,585
4,5050
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa
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Finalizando as análises preliminares da base, analisou-se a correlação linear entre as
variáveis (R de Pearson). Com base nessa avaliação, pode-se visualizar uma relação positiva e
significativa (p < 0,05) entre as práticas sustentáveis das companhias e sua multinacionalidade
(R = 0,339) e das condições do país de origem com a pegada internacional de suas empresas,
sendo que o desenvolvimento sócio econômico apresentou uma correlação mais fraca (R =
0,221) do que o desenvolvimento ambiental do país de origem (R = 0,330), restando
demonstrada a inexistência de colinearidade excessiva entre os construtos. Os resultados
obtidos podem ser visualizados na tabela 2.
Tabela 2: Análise de correlação entre as variáveis (R de Pearson)
DSEPO
DSEPO
Correlação de Pearson
DAPO
1
Sig. (2 extremidades)
N
DAPO
82
Correlação de Pearson
MULT
-,116
-,221
-,134
,298
,046
,230
82
82
82
1
**
Sig. (2 extremidades)
N
MULT
82
Correlação de Pearson
SUST
*
,330
**
,002
,002
82
82
1
Sig. (2 extremidades)
,339
**
,002
N
SUST
,343
82
Correlação de Pearson
82
1
Sig. (2 extremidades)
N
82
** A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades)
* A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades)
Após as análises preliminares passou-se ao teste das hipóteses de pesquisa com o uso
da análise de regressão linear. Os testes relativos às hipóteses são apresentados na tabela 3. Os
resultados apontam para a significância da relação, apresentando um coeficiente de
determinação ajustado (R²) de 0,181, ou seja, 18,1% da variação da multinacionalidade das
companhias é explicada pelas variáveis independentes apresentadas.
Após esta constatação passou-se a analisar individualmente a influência de variação
ocasionada pelas variáveis independentes. Neste sentido, a adoção de práticas sustentáveis
pelas companhias foi a que apresentou maior significância (Beta = 0,237). Por sua vez os
fatores relativos ao país de origem da companhia (seu desenvolvimento sócio-econômico e
ambiental) apresentaram resultados distintos. Enquanto que o desenvolvimento ambiental do
país de origem apresentou significância positiva (Beta = 0,225), o mesmo não ocorreu com a
variável relativa ao desenvolvimento sócio econômico do país de origem.
Também é oportuno destacar a correlação existente entre o desenvolvimento ambiental
do país de origem e as práticas sustentáveis das companhias, fato que corrobora com a
literatura existente (Chapple & Moon, 2005), muito embora não seja objeto da presente
investigação. Importante constatação pode ser feita a partir da inexistência de significância na
amostra entre o desenvolvimento econômico e social do país de origem e as práticas
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sustentáveis de suas companhias, fato que se contrapõe a achados teóricos e que carece de
novas investigações.
Quanto à interferência causada pelas variáveis de controle não foram notados efeitos
significativos gerados pelo tamanho e idade sobre a relação existente.
IDADE
TAMANHO
Idade x Tamanho
SUST
DSEPO
DAPO
R²
R² Ajustado
F
Tabela 3: Análise de regressão linear
Modelo 1
,057
,-365
,247
,062
,026
17,212
Modelo 2
,116
-,223
,121
,237*
-,153
,225*
,242
,181
3,991
Variável dependente: Multinacionalidade
** A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades)
* A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades)
DISCUSSÃO
Os resultados apresentados na seção precedente são convergentes com os estudos de
Laudal (2011) que apontaram uma robusta relação entre as práticas de sustentabilidade
ambiental da companhia e sua multinacionalidade. Todavia, significativa divergência pode ser
encontrada quando analisadas as relações do país de origem sobre o mesmo construto.
Se de um lado é possível verificar que o nível de desenvolvimento ambiental possui
relação com a participação internacional das suas companhias, o mesmo não é registrado para
o desenvolvimento sócio econômico do país de origem.
Isso pode ser explicado pela internalização destes fatores. Se de um lado a
companhia se vê obrigada a cumprir os regulamentos ambientais como condição para sua
legitimação frente à comunidade e as instituições, o mesmo não ocorre quando avaliados os
fatores que compõe o índice de desenvolvimento humano (renda, expectativa de vida e
alfabetização).
Estes fatores, embora sejam explicativos do nível de desenvolvimento do país não
são internalizados na companhia, especialmente quando esta atua de modo multinacional
tendo acesso a recursos e diminuindo os possíveis efeitos negativos do subdesenvolvimento
nesta área.
O objetivo principal de uma empresa ir para fora de seu país de origem é acessar
novos recursos e mercados aumentando o seu potencial de geração de valor para os acionistas.
Contudo, como apresentado, este efeito será aumentado por fatores ambientais. Assim, os
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resultados encontrados oferecem suporte para as variáveis H1 e H3, não tendo sido
confirmada a hipótese H2.
LIMITAÇÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS
A primeira limitação do presente estudo diz respeito ao período de coleta dos dados.
Todos eles foram obtidos apenas para o ano de 2012, o que pode significar a influência de
outras variáveis não percebidas pela pesquisa. Este fator poderá ser refutado a partir de novos
estudos que contemplem uma análise longitudinal dos dados.
O segundo aspecto diz respeito à amostra. As empresas escolhidas foram
selecionadas a partir da disponibilidade de dados secundários e são grandes corporações com
reconhecida presença internacional, oriundas em sua maioria de países com alto grau de
desenvolvimento. Novos estudos poderão oferecer visões complementares ao apurar a
existência dos efeitos aqui apresentados para empresas de pequeno e médio porte,
especialmente em países emergentes.
Embora não tenha feito parte do escopo deste estudo, a relação existente entre o nível
de desenvolvimento ambiental do país de origem com as práticas sustentáveis de suas
companhias não deixou de ser percebido e poderá ser aprofundado em estudos futuros.
CONCLUSÃO
Muitas linhas têm sido escritas ao longo da história sobre a existência do efeito
borboleta. Assumindo por vezes outros nomes para explicar o mesmo conceito (teoria do
caos, dependência de trajetória), este fenômeno intriga a humanidade por dar conta da
causalidade sobre o desconhecido.
As organizações convivem com uma atmosfera cercada pelo desconhecido. Para
minimizar este caos emerge a ciência, provida de instrumentos com os quais é possível
analisar o passado e indicar tendências e caminhos mais acertados para a tomada de decisão.
Assim se reveste o tema aqui estudado. As tendências verificadas poderão servir para
gestores públicos que tendo consciência da influência do país de origem poderão voltar sua
atuação para o incremento do controle ambiental fortalecendo suas companhias e
especialmente para gestores privados, que poderão perceber nas ações sustentáveis um
caminho fértil para diferenciação e inserção internacional.
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