ANAIS EFEITO BORBOLETA: AS PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS E SUA RELAÇÃO COM A MULTINACIONALIDADE DA EMPRESA VINICIUS ANTONIO MACHADO NARDI ( [email protected] , [email protected] ) UNISINOS - UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS IURI GAVRONSKI ( [email protected] , [email protected] ) UNISINOS - UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS Resumo Objetivo: Identificar a relação existente entre as práticas sustentáveis da empresa, as condições econômicas, sociais e ambientais do país de origem e a multinacionalidade da firma. Achados: O desenvolvimento ambiental do país de origem e a adesão da companhia à práticas sustentáveis possuem relação positiva com a multinacionalidade. Não há correlação existente entre o desenvolvimento sócio-econômico do país de origem com a multinacionalidade. Originalidade/Valor: O estudo contribui para a literatura examinando os efeitos do país de origem sobre a multinacionalidade das companhias, alargando para a área de operações a discussão acerca da influência de práticas sustentáveis para a inserção internacional. Palavras-Chave: Corporativa. Multinacionalidade – Sustentabilidade 1/14 – Responsabilidade Social ANAIS INTRODUÇÃO Conforme a teoria do caos há, em qualquer sistema dinâmico, complexo e adaptativo uma consistente interligação entre eventos supostamente distintos. Inserido nesse contexto Lorenz (1963) verificou que pequenas alterações em determinados dados estão correlacionadas com grandes eventos meteorológicos. A consciência popular passou a identificar essa correlação como a possibilidade de um simples bater de asas proporcionarem uma tempestade em outro local do globo, comumente chamado de “efeito borboleta”. As organizações causam à sociedade um impacto muito maior do que o movimento de uma borboleta especialmente por sua expansão multinacional no contexto do século XXI. A empresa carrega para o mercado internacional seus recursos e capacidades utilizando-se deles para obter vantagem competitiva. Um importante elemento neste contexto é a responsabilidade social corporativa. O compromisso social da empresa tomou corpo a partir da metade do século XX alavancando o quantitativo de pesquisas sobre o tema (Bansal & Roth, 2000; Porter & Kramer, 2007; M. E. Porter & Vanderlinde, 1995). No final do século passado esta linha de estudos ganhou popularidade através da vertente da sustentabilidade (Brundtland, 1987; Elkington, 1999) Neste contexto, um fator importante se apresenta como interveniente na relação: a participação em mercados globais. A multinacionalidade da firma tem sido pontuada pela literatura como um fator gerador de transformações sociais face à quebra de fronteiras gerada por empresas em busca de recursos e mercados (Kirca et al., 2011; Thomas & Eden, 2004). No entanto, há escassez na literatura de estudos empíricos que avaliem a relação da multinacionalidade da firma com suas práticas socialmente responsáveis e com as condições econômicas, sociais e ambientais de seu país de origem (Chapple & Moon, 2005). A participação em mercados internacionais pressupõe o desenvolvimento de competências adicionais que possibilitem alcançar o objetivo básico de acessar recursos, internalizá-los e desfrutar de suas vantagens competitivas. Este estudo é relevante por diagnosticar a relação entre a postura social da empresa e sua expansão internacional. Para tanto questiono: Qual a relação entre as práticas sustentáveis da empresa e as condições econômicas, sociais e ambientais do país de origem sobre a multinacionalidade da firma? O objetivo deste estudo é de contribuir na identificação de fatores condicionantes do processo de internacionalização e dos efeitos gerados pela adoção de práticas sustentáveis. Para tanto são identificadas as companhias com maior índice de multinacionalidade e avaliados aspectos relativos às suas práticas sustentáveis e as condições sócio-ambientais de seu país de origem. TEORIA E HIPÓTESES Multinacionalidade A globalização dos mercados impôs sensíveis mudanças às estratégias empresariais. Muito embora seus efeitos sejam mais sensivelmente percebidos no mundo contemporâneo, as implicações de vantagens competitivas entre nações e sua relação com o comércio 2/14 ANAIS internacional foram percebidas desde David Ricardo quando este concebeu a teoria sobre as vantagens comparativas das nações. A multinacionalidade, aqui reconhecida como a “pegada internacional da empresa”, é expressa pela proporção de ativos, de empregados e de vendas fora de seu país de origem proporciona economia de escala, obtenção de melhores e mais flexíveis recursos, redução de risco e acesso ao conhecimento, gerando efeito positivo sobre o desempenho da firma. O construto captura, em síntese, o nível de envolvimento da empresa em fora de seu país de origem (Hennart, 2011; Kirca et al., 2011; Thomas & Eden, 2004). As empresas multinacionais possuem grande relevância social. Além de apropriarem-se de recursos e vantagens dos mercados de destino elas também influenciam as condutas de outras empresas e estimulam o desenvolvimento destes mercados. Esse duplo papel que exercem faz com que sejam discutidas na literatura questões quanto a sua integração social e as transformações institucionais causadas em razão de sua atuação (Cantwell & Zhang, 2011; Ghoshal & Bartlett, 1990). A multinacionalidade da firma é especialmente motivada pelas características pessoais de seus executivos, especialmente pela sua experiência internacional. Também impactam neste grau de comprometimento fatores ligados ao corpo de diretores - seu tamanho, heterogeneidade e grau de educação -, fatores relativos a características internas da empresa – tamanho, experiência internacional, intensidade de capital – e fatores relativos ao seu ambiente de atuação – nível de concorrência e desenvolvimento no país de origem (Carpenter & Fredrickson, 2001; Goerzen & Beamish, 2005; Sanders & Carpenter, 1998; Wiersema & Bowen, 2008). É neste escopo de direcionadores do processo que estão abarcados elementos mais recentemente estudados, como a responsabilidade social corporativa, que será analisada a seguir. Responsabilidade social corporativa (RSC) e sustentabilidade A Responsabilidade social corporativa (RSC) despertou grande interesse de acadêmicos e gestores especialmente a partir da segunda metade do século XX. O início da percepção sobre os reflexos da atuação das empresas na comunidade deu-se a partir de um período histórico marcado pelo crescimento exponencial das companhias em tamanho e participação social e de um avanço das exigências sociais por melhores condições de trabalho e por uma atuação socialmente adequada das organizações. A partir do alargamento dos debates sobre o tema duas linhas distintas foram originadas: a baseada na teoria dos shareholders e seu contraponto, baseada na teoria dos stakeholders. A primeira delas, derivada do texto seminal que aponta que a empresa deve ter como objetivo principal o aumento do valor ao acionista não devendo adotar posturas assistencialistas (Friedman, 1970). Esta linha de argumentação preconiza a existência de outras instituições (governo, sindicatos, igrejas, organizações civis) com o objetivo de atender a funções sociais, não havendo tempo ou interesse da empresa em fazê-lo (Jones, 1995). Em contraponto a esta análise, a linha teórica alicerçada sobre o texto de Carroll e ampliada posteriormente pelo estabelecimento da teoria dos stakeholders (Carroll, 1979; 3/14 ANAIS Freeman, 1984), concebe a empresa como participante ativo na sociedade, devendo preocupar-se com os sentimentos exarados por seus interessados acerca de sua atuação. As dimensões de RSC apresentadas por Carroll permanecem sendo amplamente utilizadas pelos estudos na área. Estes níveis devem ser cumpridos de modo simultâneo não sendo, por exemplo, a execução de atividades filantrópicas um elemento que eximiria a empresa do cumprimento de suas responsabilidades econômicas ou legais (Carroll, 1999). Esta avaliação recebeu importantes contribuições com os estudos que propuseram a integração das teorias até então vigentes em um modelo de Desempenho Social das Empresas (Wartick & Cochran, 1985). Este trabalho foi base para a análise de que apresentou o conceito de Corporate Social Performance (CSP) incluindo na avaliação das companhias o efetivo resultado de suas ações de responsabilidade social (Wood, 1991). A partir da década de 80 um importante conceito – originado desta matriz – passou a proliferar na literatura e no debate mundial: a sustentabilidade. O desenvolvimento sustentável - definido como o que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades (Brundtland, 1987)ampliou o debate sobre a RSC e o próprio conjunto de stakeholders reconhecendo como tais todos os indivíduos da presente ou de futuras gerações que possam direcionar as ações da firma ou serem atingidos por suas externalidades. Esta abordagem se sustenta sobre três áreas: econômica, social e ambiental (Elkington, 1999). O avanço no processo de industrialização e o alargamento das operações fez nascer uma nova realidade competitiva. A sustentabilidade econômica diz respeito a sustentação de retornos econômicos para a empresa, princípio basilar a que se destina, através da adoção de práticas que ao mesmo tempo sejam positivas para a sociedade e para o ambiente (Orsato, 2006). Nesta esteira, muito embora a postura sustentável da companhia continue sendo visualizada como um custo por algumas empresas, outras passaram a utilizá-la como elemento estratégico, especialmente através da certificação ou comunicação de suas ações (Collins, Lawrence, Pavlovich, & Ryan, 2007; Delmas & Pekovic, 2013). A sua relação mais estudada sem dúvida é com a performance corporativa. Tais pesquisas dividem-se em estudos que avaliaram aspectos isolados de sustentabilidade social ou ambiental (Klassen & McLaughlin, 1996; Waddock & Graves, 1997) e outros que utilizaram a combinação destes fatores na investigação (Lankoski, 2009; Wagner, 2010). Os resultados, no entanto, não são conclusivos, em face de diferentes formas de mensuração, sendo necessária a ampliação das medidas para fatores além do simples retorno financeiro (Goyal, Rahman, & Kazmi, 2013; Poolthong & Mandhacitara, 2009). Práticas sustentáveis e multinacionalidade A adoção de práticas sustentáveis é um fator importante para a multinacionalidade da firma. As empresas multinacionais estão mais propensas a adotar práticas de RSC para afastar restrições governamentais e diferenciar-se no mercado global (Chapple & Moon, 2005; Crouch, 2006; Rondinelli, 2003). As observações existentes na literatura preconizam a existência de uma grande competitividade internacional baseada em práticas de responsabilidade social. Isso porque a 4/14 ANAIS adoção de tais estratégias causariam efeitos diretos (percepção do consumidor, acesso a novas oportunidades) bem como efeitos indiretos como o incremento da qualidade de produtos e processos. ((M. E. Porter & Vanderlinde, 1995) Na mesma esteira, estudos apontaram como necessárias competências complementares para a atuação em mercados internacionais sendo cabível conceber as práticas de RSC como pertencentes a este rol, especialmente quando adotada como estratégia defensiva contra críticas públicas pela operação em países de baixo custo. (Laudal, 2011; Serra, 2008). Estas empresas ao possuírem redes globais estão expostas a diferentes níveis de expectativa social acerca de suas práticas empresariais, fazendo com que necessitem alcançar a excelência neste campo (Scherer & Palazzo, 2008). Além disso, as multinacionais são importantes para a disseminação da RSC exercendo influência sobre outras empresas em face do isomorfismo mimético (Amran (Amran & Siti-Nabiha, 2009; Dimaggio & Powell, 1983). Todavia são escassos os estudos que avaliaram empiricamente esta relação emergindo desta lacuna a primeira hipótese de pesquisa: H1: A adoção de práticas sustentáveis está positivamente relacionada com a multinacionalidade da companhia O efeito país de origem A relevância de aspectos institucionais do país de origem para a internacionalização das empresas é um tema secular. Este elemento se torna mais relevante ao passo que avançam as facilidades de comércio internacional derivando deste cenário a construção teórica "efeito do país de origem". Empiricamente a constatação de que o país do qual procede um bem ou serviço influencia na percepção dos consumidores restou definida na década de 60 (Schooler, 1965). A partir de então estudos foram ampliados e estabeleceu-se que três componentes estariam conectados ao construto: o afetivo (ligação emocional entre o consumidor e o país de origem), o cognitivo (são as crenças que o indivíduo possui sobre aquela nação) e o conativo (suas intenções com aquela nação) (Zeugner-Roth & Diamantopoulos, 2010). A expressão "made in" conecta consumidores a aspectos de qualidade nacional, influenciando em sua avaliação sobre um bem ou serviço. Desta relação emerge a segunda hipótese de pesquisa: H2: O desenvolvimento sócio-econômico do país de origem está positivamente relacionado com a multinacionalidade da companhia Este mesmo efeito é apresentado quando analisadas as operações das empresas. Fatores institucionais relativos ao país de origem estão relacionados com a conduta das empresas, especialmente quando relevados aspectos regulatórios (Porter & Kramer, 2007)). Deste modo, é plausível afirmar que empresas originárias de países com maior nível 5/14 ANAIS regulatório na esfera ambiental terão uma jornada internacional facilitada em razão da maior adequação de seus produtos e processos. No entanto, são escassos na literatura os estudos empíricos que analisaram o efeito das condições econômicas, sociais e ambientais do país de origem origem sobre as práticas sustentáveis internacionalização das companhias (Chapple & Moon, 2005). Desta lacuna emerge a hipótese 3 deste estudo: H3: O desenvolvimento ambiental do país de origem está positivamente relacionado com a multinacionalidade da companhia A figura 1 identifica o modelo teórico de investigação com as respectivas hipóteses de pesquisa. Práticas sustentáveis da companhia H1 Desenvolvimento sóciosócio econômico do país de origem H2 H3 Desenvolvimento ambiental do país de origem Multinacionalidade Figura 1: Modelo teórico e hipóteses de pesquisa Fonte: Elaboração própria MÉTODO Amostra – Coleta e tratamento dos dados A amostra pesquisada consistiu no universo de empresas caracterizadas como as que possuem maior índice de multinacionalidade. Estes dados secundários estão disponíveis em seu website (www.unctad.org w.unctad.org). ). Após a primeira análise, relativa ao ano de 2012, constituiu-se constituiu um corpo amostral de 101 empresas. 6/14 ANAIS Em uma segunda amostragem, foram analisados dados secundários relativos à publicação de relatórios de sustentabilidade no padrão GRI dessas empresas. A listagem foi obtida através da consulta pública disponível do website mundial da iniciativa. (www.globalreporting.org). Após esta análise restaram 82 empresas que tiveram seu país de origem identificado e consistiram em nossa amostra definitiva. Posteriormente, com o auxílio do software SPSS versão 21, os dados foram analisados com o uso de técnicas para identificação de correlação (R de Pearson e análise de regressão linear). Variáveis Variáveis independentes A sustentabilidade da companhia foi avaliada através de um proxy composto pelos elementos abaixo descritos. Todas as variáveis foram obtidas a partir da coleta de dados secundários junto aos organismos responsáveis pelos índices ou certificações: - Participação no índice Dow Jones de sustentabilidade: Variável coletada através de análise de dados secundários –relatório anual – e avaliada quanto ao valor atribuído pelo índice a empresa (não faz parte = 0; membro = 1; bronze = 2; silver = 3; gold = 4); - Participação no índice Ftse4 good: Variável dicotômica caracterizada pela presença no índice que analisa a conduta social da empresa. (não = 0, sim = 1); - Nível de publicação de relatório no formato GRI: Variável analisada a partir da consulta a dados secundários do projeto (não declarado = 0; C = 1; C+ = 2; B=3; B+=4; A=5; A+=6); - Certificação OECD: Variável dicotômica caracterizada pela participação ou não como membro da organização para a cooperação e desenvolvimento econômico (não = 0, sim = 1); - Certificação UNGC: Variável dicotômica caracterizada pela certificação ou não quanto à cidadania empresarial (não = 0, sim = 1); - Certificação CDP: Variável dicotômica caracterizada pela certificação das suas práticas quanto à emissão de carbono (não = 0, sim = 1); - Certificação IFC: Variável dicotômica caracterizada pela certificação de suas práticas de governança e desempenho ambiental (não = 0, sim = 1); - Certificação ISO: Variável dicotômica caracterizada pela certificação de suas práticas de qualidade e desempenho ambiental (não = 0, sim = 1); Desta maneira o proxy utilizado (SUST) restou composto por oito variáveis que somadas apresentaram o nível consolidado de práticas sustentáveis da companhia para este estudo, sendo tal padrão variável entre 0 e 16. A variável desenvolvimento sócio-econômico do país de origem (DSEPO) restou caracterizada pela averiguação do índice de desenvolvimento humano da nação (fator que analisa os indicadores de educação, expectativa de vida e renda) através de dados secundários obtidos junto ao banco mundial (data.worldbank.org) e referendado pela literatura (Chapple & Moon, 2005). Por sua vez a variável desenvolvimento ambiental do país de origem (DAPO) foi analisada a partir do estudo “Environmental Performance Index” (índice anualmente 7/14 ANAIS publicado pela universidade de Yale que avalia posturas ambientais da nação, tais como poluição do ar e da água, preservação do ambiente, biodiversidade) disponível online através do site epi.yale.edu. Variável dependente A multinacionalidade, variável dependente deste estudo, restou analisada a partir de três indicadores básicos: quantidade de receitas obtidas fora do país de origem versus receitas totais da companhia, valor total dos ativos no exterior versus valor total dos ativos das empresas e número de funcionários no exterior versus número total de funcionários da empresa. A média geral dos três índices (variável MULT) estabelece o valor considerado para o comprometimento internacional da companhia sendo reconhecido como proxy válido pela literatura (Hennart, 2011; Kirca et al., 2011) Variáveis de controle Com o interesse de controlar fatores evitando sua interferência na relação entre as variáveis e no teste das hipóteses, o presente estudo avaliou como variáveis de controle o tamanho da empresa, verificado através do número total de empregados da companhia e a idade da empresa verificada a partir da análise da sua data de fundação. RESULTADOS As estatísticas descritivas das variáveis apresentadas na pesquisa estão apresentadas na tabela 1. É possível identificar a partir desta análise que dentre as variáveis estudadas a que apresenta maior variância e desvio padrão é a multinacionalidade, evidenciando a heterogeneidade da amostra para este fator. Com relação ao perfil da amostra percebe-se que a média de idade das companhias é de 84 anos, sendo que a média de empregados das companhias é de 154.174. Tabela 1: Estatísticas descritivas Mínimo Idade Ativos totais Vendas totais Empregados totais DSEPO DAPO MULT SUST Máximo Média Desvio Padrão 4,00 347,00 84,2317 58,71574 36808 409257 124012,51 83879,644 10311 467153 90003,09 94592,609 5713 2200000 154174,49 251689,688 73 100 90,65 3,829 49 77 64,42 6,064 29 97 65,57 17,439 1,0 16,0 7,585 4,5050 Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa 8/14 ANAIS Finalizando as análises preliminares da base, analisou-se a correlação linear entre as variáveis (R de Pearson). Com base nessa avaliação, pode-se visualizar uma relação positiva e significativa (p < 0,05) entre as práticas sustentáveis das companhias e sua multinacionalidade (R = 0,339) e das condições do país de origem com a pegada internacional de suas empresas, sendo que o desenvolvimento sócio econômico apresentou uma correlação mais fraca (R = 0,221) do que o desenvolvimento ambiental do país de origem (R = 0,330), restando demonstrada a inexistência de colinearidade excessiva entre os construtos. Os resultados obtidos podem ser visualizados na tabela 2. Tabela 2: Análise de correlação entre as variáveis (R de Pearson) DSEPO DSEPO Correlação de Pearson DAPO 1 Sig. (2 extremidades) N DAPO 82 Correlação de Pearson MULT -,116 -,221 -,134 ,298 ,046 ,230 82 82 82 1 ** Sig. (2 extremidades) N MULT 82 Correlação de Pearson SUST * ,330 ** ,002 ,002 82 82 1 Sig. (2 extremidades) ,339 ** ,002 N SUST ,343 82 Correlação de Pearson 82 1 Sig. (2 extremidades) N 82 ** A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades) * A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades) Após as análises preliminares passou-se ao teste das hipóteses de pesquisa com o uso da análise de regressão linear. Os testes relativos às hipóteses são apresentados na tabela 3. Os resultados apontam para a significância da relação, apresentando um coeficiente de determinação ajustado (R²) de 0,181, ou seja, 18,1% da variação da multinacionalidade das companhias é explicada pelas variáveis independentes apresentadas. Após esta constatação passou-se a analisar individualmente a influência de variação ocasionada pelas variáveis independentes. Neste sentido, a adoção de práticas sustentáveis pelas companhias foi a que apresentou maior significância (Beta = 0,237). Por sua vez os fatores relativos ao país de origem da companhia (seu desenvolvimento sócio-econômico e ambiental) apresentaram resultados distintos. Enquanto que o desenvolvimento ambiental do país de origem apresentou significância positiva (Beta = 0,225), o mesmo não ocorreu com a variável relativa ao desenvolvimento sócio econômico do país de origem. Também é oportuno destacar a correlação existente entre o desenvolvimento ambiental do país de origem e as práticas sustentáveis das companhias, fato que corrobora com a literatura existente (Chapple & Moon, 2005), muito embora não seja objeto da presente investigação. Importante constatação pode ser feita a partir da inexistência de significância na amostra entre o desenvolvimento econômico e social do país de origem e as práticas 9/14 ANAIS sustentáveis de suas companhias, fato que se contrapõe a achados teóricos e que carece de novas investigações. Quanto à interferência causada pelas variáveis de controle não foram notados efeitos significativos gerados pelo tamanho e idade sobre a relação existente. IDADE TAMANHO Idade x Tamanho SUST DSEPO DAPO R² R² Ajustado F Tabela 3: Análise de regressão linear Modelo 1 ,057 ,-365 ,247 ,062 ,026 17,212 Modelo 2 ,116 -,223 ,121 ,237* -,153 ,225* ,242 ,181 3,991 Variável dependente: Multinacionalidade ** A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades) * A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades) DISCUSSÃO Os resultados apresentados na seção precedente são convergentes com os estudos de Laudal (2011) que apontaram uma robusta relação entre as práticas de sustentabilidade ambiental da companhia e sua multinacionalidade. Todavia, significativa divergência pode ser encontrada quando analisadas as relações do país de origem sobre o mesmo construto. Se de um lado é possível verificar que o nível de desenvolvimento ambiental possui relação com a participação internacional das suas companhias, o mesmo não é registrado para o desenvolvimento sócio econômico do país de origem. Isso pode ser explicado pela internalização destes fatores. Se de um lado a companhia se vê obrigada a cumprir os regulamentos ambientais como condição para sua legitimação frente à comunidade e as instituições, o mesmo não ocorre quando avaliados os fatores que compõe o índice de desenvolvimento humano (renda, expectativa de vida e alfabetização). Estes fatores, embora sejam explicativos do nível de desenvolvimento do país não são internalizados na companhia, especialmente quando esta atua de modo multinacional tendo acesso a recursos e diminuindo os possíveis efeitos negativos do subdesenvolvimento nesta área. O objetivo principal de uma empresa ir para fora de seu país de origem é acessar novos recursos e mercados aumentando o seu potencial de geração de valor para os acionistas. Contudo, como apresentado, este efeito será aumentado por fatores ambientais. Assim, os 10/14 ANAIS resultados encontrados oferecem suporte para as variáveis H1 e H3, não tendo sido confirmada a hipótese H2. LIMITAÇÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS A primeira limitação do presente estudo diz respeito ao período de coleta dos dados. Todos eles foram obtidos apenas para o ano de 2012, o que pode significar a influência de outras variáveis não percebidas pela pesquisa. Este fator poderá ser refutado a partir de novos estudos que contemplem uma análise longitudinal dos dados. O segundo aspecto diz respeito à amostra. As empresas escolhidas foram selecionadas a partir da disponibilidade de dados secundários e são grandes corporações com reconhecida presença internacional, oriundas em sua maioria de países com alto grau de desenvolvimento. Novos estudos poderão oferecer visões complementares ao apurar a existência dos efeitos aqui apresentados para empresas de pequeno e médio porte, especialmente em países emergentes. Embora não tenha feito parte do escopo deste estudo, a relação existente entre o nível de desenvolvimento ambiental do país de origem com as práticas sustentáveis de suas companhias não deixou de ser percebido e poderá ser aprofundado em estudos futuros. CONCLUSÃO Muitas linhas têm sido escritas ao longo da história sobre a existência do efeito borboleta. Assumindo por vezes outros nomes para explicar o mesmo conceito (teoria do caos, dependência de trajetória), este fenômeno intriga a humanidade por dar conta da causalidade sobre o desconhecido. As organizações convivem com uma atmosfera cercada pelo desconhecido. Para minimizar este caos emerge a ciência, provida de instrumentos com os quais é possível analisar o passado e indicar tendências e caminhos mais acertados para a tomada de decisão. Assim se reveste o tema aqui estudado. As tendências verificadas poderão servir para gestores públicos que tendo consciência da influência do país de origem poderão voltar sua atuação para o incremento do controle ambiental fortalecendo suas companhias e especialmente para gestores privados, que poderão perceber nas ações sustentáveis um caminho fértil para diferenciação e inserção internacional. REFERÊNCIAS Amran, A., & Siti-Nabiha, A. K. (2009). Corporate social reporting in malaysia: a case of mimicking the west or succumbing to local pressure. Social Responsibility Journal, 5, 358-375. 11/14 ANAIS Bansal, P., & Roth, K. (2000). Why companies go green: A model of ecological responsiveness. Academy of Management Journal, 43(4), 717-736. doi: 10.2307/1556363 Brundtland, G. H. (1987). OUR COMMON FUTURE - CALL FOR ACTION. Environmental Conservation, 14(4), 291-294. Cantwell, J., & Zhang, Y. L. (2011). Innovation and location in the multinational firm. 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