MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE CARGAS 1º Ten CUSTÓDIO MOURA CASTRO DO NASCIMENTO AVALIAÇÃO DE ALTERNATIVAS DE PROCESSOS CONSTRUTIVOS DE FERROVIAS SOBRE SOLOS MOLES Rio de Janeiro 2008 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA 1º Ten CUSTÓDIO MOURA CASTRO DO NASCIMENTO AVALIAÇÃO DE ALTERNATIVAS DE PROCESSOS CONSTRUTIVOS DE FERROVIAS SOBRE SOLOS MOLES Monografia de Especialização apresentada ao Curso de Especialização em Transporte Ferroviário de Cargas do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Transporte Ferroviário de Carga. Orientadora: Profª. Maria Esther Soares Marques – D. Sc. Rio de Janeiro 2008 i INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA 1º Ten CUSTÓDIO MOURA CASTRO DO NASCIMENTO AVALIAÇÃO DE ALTERNATIVAS DE PROCESSOS CONSTRUTIVOS DE FERROVIAS SOBRE SOLOS MOLES Monografia de Especialização apresentada ao Curso de Especialização em Transporte Ferroviário de Cargas do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Transporte Ferroviário de Carga. Orientadora: Profª. Maria Esther Soares Marques – D. Sc. Aprovada em 14 de outubro de 2008 pela seguinte Banca Examinadora: _______________________________________________________________ Profª. Maria Cristina de Fogliatti Sinay – D. Sc. _______________________________________________________________ Profª. Vânia Gouveia Barcelos Campos – D. Sc. _______________________________________________________________ Profª. Maria Esther Soares Marques – D. Sc. Rio de Janeiro 2008 ii À minha noiva, pela paciência e apoio em todos os momentos. iii AGRADECIMENTOS A Deus, Pai e Criador, pela oportunidade desta reencarnação. Aos meus pais, pela educação desde o berço. Aos amigos, pelo companheirismo e incentivo. Ao Instituto Militar de Engenharia, pela minha formação e aperfeiçoamento. iv RESUMO As mais importantes ferrovias brasileiras de heavy haul são usadas para exportação de minério, partindo das minas no interior do país até os portos litorâneos, onde o minério é embarcado para seus destinos. Nesse caminho, a via férrea freqüentemente é obrigada a cruzar espessos depósitos de argila mole de origem flúvio-marinha em baixadas alagadas nos arredores de lagoas, margens de rios ou fundo de vales. Os aterros construídos sobre essas áreas devem ser corretamente dimensionados para que os recalques da argila mole não prejudiquem a geometria e funcionalidade da via. Há muitas técnicas de melhoramento de solo possíveis para uso em argilas moles, e sua aplicação depende de um adequado plano de investigações geotécnicas. Este trabalho apresenta dados de ensaios geotécnicos em argilas moles de uma região da Estrada de Ferro Carajás, com discussão de técnicas e prazos para duas soluções possíveis para a duplicação da via nesse trecho: drenos fibroquímicos verticais e estacas reforçadas com geogrelha. v ABSTRACT The most important heavy haul lines in Brazil are used for ore exportation, taking the products from inland to coastal harbors, where they are shipped to their final destiny. On its way, the track has to cross thick compressive deposits of fluvial-marine clays found on lowland areas surrounding lagoons or at plain river borders, as well at the bottom of valeys. In order to maintain geometrical and functional design, the embankments built on these areas must be correctly designed to present adequate displacements and stability. There are many different ground improvement techniques used to occupy lowland areas, and they are, in general, very expensive and demand high-quality geotechnical investigation. This paper presents regional geotechnical data on soil characteristics and discussion about construction techniques commonly used in Brazil, illustrated through a case history from the duplication of part of the “Estrada de Ferro Carajas” railway. vi SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 10 1.1. RELEVÂNCIA DO ESTUDO ........................................................................................ 10 1.2. OBJETIVOS DO ESTUDO ............................................................................................ 11 1.3. DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS .................................................................................. 12 2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 13 2.1. DEFINIÇÃO DE TERMOS GEOTÉCNICOS UTILIZADOS NO TRABALHO ......... 13 2.1.1. ELEMENTOS CONSTITUINTES DE UM SOLO ........................................................ 13 2.1.2. CONSISTÊNCIA E PLASTICIDADE DOS SOLOS .................................................... 14 2.1.3. TENSÕES E RESISTÊNCIA DO SOLO ....................................................................... 15 2.1.4. ADENSAMENTO........................................................................................................... 16 2.1.5. TEORIA DO ADENSAMENTO .................................................................................... 16 2.2. TÉCNICAS CONSTRUTIVAS SOBRE SOLOS MOLES ............................................ 18 2.2.1. SUBSTITUIÇÃO OU DESLOCAMENTO DE SOLO MOLE...................................... 20 2.2.2. ATERRO CONVENCIONAL ........................................................................................ 22 2.2.3. ATERRO SOBRE DRENOS VERTICAIS .................................................................... 23 2.2.4. ATERRO SOBRE ESTACAS E COM REFORÇO DE GEOGRELHA........................ 25 2.2.5. ATERRO SOBRE LAJE DE CONCRETO ARMADO E ESTACAS ........................... 28 2.2.6. COLUNAS DE BRITA ................................................................................................... 29 2.3. INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS ............................................................................. 30 2.4. INSTRUMENTAÇÃO .................................................................................................... 31 3 ENSAIOS GEOTÉCNICOS ANALISADOS ............................................................. 32 3.1. ENSAIOS REALIZADOS .............................................................................................. 32 3.2. PERFIS GEOTÉCNICOS ............................................................................................... 33 3.3. RESULTADO DOS ENSAIOS DE LABORATÓRIO E CAMPO................................ 34 3.4. GRÁFICO DE PLASTICIDADE ................................................................................... 36 3.5. CORRELAÇÕES ENTRE PARÂMETROS .................................................................. 37 vii 4 FORMULAÇÃO DO MODELO GEOTÉCNICO..................................................... 39 4.1. ÍNDICE DE VAZIOS ..................................................................................................... 39 4.2. COMPRESSIBILIDADE ................................................................................................ 40 4.3. PESO ESPECÍFICO NATURAL.................................................................................... 41 4.4. RESISTÊNCIA NÃO-DRENADA ................................................................................. 42 4.5. COEFICIENTE DE ADENSAMENTO VERTICAL..................................................... 44 4.6. MODELO GEOTÉCNICO ............................................................................................. 45 5 ANÁLISE DO MODELO GEOTÉCNICO ................................................................ 46 5.1. ATERRO SOBRE DRENOS VERTICAIS .................................................................... 46 5.1.1. PREVISÃO DE RECALQUES....................................................................................... 46 5.1.2. PRAZO CONSTRUTIVO............................................................................................... 47 5.1.3. ANÁLISE DE ESTABILIDADE .................................................................................... 49 5.1.3.1. ETAPA 1 ......................................................................................................................... 50 5.1.3.2. ETAPAS 2 A 4 ................................................................................................................ 51 5.1.3.3. REMOÇÃO DA SOBRECARGA .................................................................................. 53 5.1.3.4. CARGA DO PAVIMENTO............................................................................................ 53 5.1.4. EVOLUÇÃO DO FATOR DE SEGURANÇA .............................................................. 54 5.1.5. IMPACTO AMBIENTAL .............................................................................................. 55 5.1.6. CUSTOS.......................................................................................................................... 55 5.2. ATERRO SOBRE ESTACAS E REFORÇO DE GEOGRELHA .................................. 57 5.2.1. DIMENSIONAMENTO ................................................................................................. 57 5.2.2. PRAZO CONSTRUTIVO, IMPACTO AMBIENTAL E CUSTO................................. 58 6 CONCLUSÕES ............................................................................................................. 61 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 63 viii ix 1 INTRODUÇÃO 1.1. RELEVÂNCIA DO ESTUDO As mais importantes ferrovias brasileiras de heavy haul são usadas para exportação de minério, partindo das minas no interior do país até os portos litorâneos, onde o minério é embarcado para seus destinos. Nesse caminho, a via férrea freqüentemente é obrigada a cruzar espessos depósitos de argila mole de origem flúvio-marinha em baixadas alagadas nos arredores de lagoas ou margens de rios. A presença desses depósitos de argila mole de formação recente é uma constante em algumas regiões do Brasil, ressaltando-se as formações da Baixada Fluminense e da Baixada Santista, além de outras menos conhecidas no litoral do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Sergipe. Além disso, a extensa rede hidrográfica brasileira, com rios de planície de grande porte, favorece a existência de inúmeros depósitos aluviais compressíveis também no interior do país (Oliveira, 2006). No projeto geométrico de estradas sempre se procurou evitar as formações de argilas moles devido às dificuldades inerentes ao emprego deste tipo de solo como fundação (Oliveira, 2006). Tais formações possuem, em geral, baixa capacidade de suporte, grande deformabilidade e baixa permeabilidade, estando, por regra, saturadas. Os mecanismos de deformação de solos saturados são conhecidos há muito tempo, tendo sido descritos por Terzaghi (1943) em sua teoria de adensamento. Entretanto, o desenvolvimento tecnológico levou ao surgimento de novos materiais, viabilizando técnicas executivas para o controle da estabilidade e dos recalques por adensamento de aterros em regiões de solos moles. Os aterros convencionais e com sobrecarga temporária são exemplos de soluções que demandam longos períodos para o completo adensamento da argila, o que os torna extremamente limitados para regiões de camadas espessas de solos moles (Almeida e Marques, 2004). Métodos de aceleração de recalques envolvem o uso de drenos granulares ou sintéticos aplicados durante a construção do aterro. Entretanto, os deslocamentos por 10 adensamento primário e secundário podem inviabilizar a sua aplicação para determinados perfis geotécnicos. O uso de aterros estaqueados reforçados com geossintéticos surge como uma alternativa, especialmente quando uma construção possui um prazo construtivo curto e necessita que os recalques pós-construtivos sejam de pequena magnitude (Spotti, 2006). No caso específico de aterros ferroviários, há grande dificuldade de convivência com recalques de subleito em prazos longos, em função dos problemas que o alinhamento incorreto da via permanente acarreta ao material rodante da ferrovia. Assim, deve-se ter atenção especial à escolha da melhor técnica executiva quando da implantação e duplicação de ferrovias em regiões de solos moles. Do ponto de vista ambiental, técnicas convencionais necessitam de maiores volumes de aterro para se atingirem as cotas determinadas em projeto, devido aos recalques ocorridos em sua fase construtiva, ocasionando grandes impactos ambientais negativos na retirada de material das jazidas. No aterro estaqueado, a carga gerada pelo aterro é transferida para camadas de solo mais competentes através das estacas, minimizando consideravelmente os recalques. Desta forma, consegue-se atingir as cotas de projeto com volumes menores de aterro, minimizando os distúrbios ao meio ambiente e economizando os recursos naturais (Spotti, 2006). Observa-se, portanto, a importância da avaliação das diversas alternativas construtivas para ferrovias em regiões de solos moles. 1.2. OBJETIVOS DO ESTUDO O objetivo desta pesquisa é apresentar uma breve revisão bibliográfica das técnicas executivas de aterros de ferrovias construídos sobre solos moles e avaliar duas dessas alternativas, determinado a mais adequada, sob o ponto-de-vista técnico e de prazo construtivo. 11 1.3. DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS No capítulo 2, são apresentadas definições de alguns termos geotécnicos e teorias que serão mencionadas durante o trabalho. São também descritas as principais técnicas construtivas de aterros ferroviários sobre solos moles, abordando as peculiaridades, vantagens e desvantagens de cada uma, com apresentação de exemplos de utilização das mesmas, no Brasil e no exterior. O capítulo 3 apresenta o resultado dos ensaios utilizados para a caracterização geotécnica do depósito estudado, que consistiu no projeto básico da duplicação de um trecho da Estrada de Ferro Carajás, na região Nordeste do Brasil. A análise dos resultados dos ensaios é realizada no capítulo 4, onde são mostrados os valores de projeto que definirão o modelo geotécnico analisado. No capítulo 5 é apresentada a estimativa de magnitude e tempo de recalques e a análise de estabilidade de cada uma das etapas construtivas de um aterro sobre drenos fibroquímicos. Analisa-se, também, as dimensões dos elementos constitutivos de um aterro sobre estacas e com reforço de geogrelha. Uma estimativa de custos de construção de cada uma das alternativas é apresentada. As conclusões do presente estudo são apresentadas no capítulo 6, juntamente com as recomendações para estudos futuros. 12 2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS O objetivo deste capítulo é descrever sumariamente as principais técnicas de construção de aterros sobre solos altamente compressíveis e de baixa resistência, abordando as peculiaridades, vantagens e desvantagens de cada uma e, sempre que possível, exemplificando sua utilização dentro e fora do Brasil. Serão abordadas as exigências geométricas e funcionais do transporte ferroviário, que limitam a utilização de algumas destas técnicas. 2.1. DEFINIÇÃO DE TERMOS GEOTÉCNICOS UTILIZADOS NO TRABALHO Com o objetivo de familiarizar aqueles que não conheçam em profundidade os termos getécnicos utilizados neste trabalho, serão apresentados a seguir alguns conceitos cujo entendimento é fundamental para a correta compreensão e avaliação do presente trabalho. 2.1.1. ELEMENTOS CONSTITUINTES DE UM SOLO O solo é um material constituído por um conjunto de partículas sólidas, deixando entre si vazios que poderão estar parcial ou totalmente preenchidos pela água. É, pois, no caso mais geral, um sistema disperso formado por três fases: sólida, líquida e gasosa. (Caputo, 1988) A fase sólida é constituída por grãos minerais provenientes da decomposição das rochas pela ação de agentes físicos ou químicos, podendo ou não conter matéria orgânica. Segundo as dimensões de suas partículas, convencionou-se dividir o solo em suas frações constituintes que, de acordo com a NBR 6502 (ABNT, 1995), são: a) Pedregulho: solos formados por minerais ou partículas de rocha, com diâmetro compreendido entre 2,0 mm e 60 mm; 13 b) Areia: solo não coesivo e não plástico formado por minerais ou partículas de rochas com diâmetros compreendidos entre 0,06 mm e 2,0 mm. De acordo com a dimensão, recebe a subdivisão em areia grossa (0,6 mm e 2,0 mm), média (0,2 mm e 0,6 mm) e fina (0,06 mm e 0,2 mm). c) Silte: Solo que apresenta baixa ou nenhuma plasticidade, formado por partículas com diâmetros compreendidos entre 0,002 mm e 0,06 mm. d) Argila: Solo de granulação fina constituído por partículas com dimensões menores que 0,002 mm, apresentando coesão e plasticidade. A fase líquida é a água contida no solo, que dá origem à sua umidade. Define-se umidade natural de um solo (w0) à relação onde Pw é o peso da água contida no interior do solo e Ps é o peso do solo. A fase gasosa é composta pelos gases (gás carbônico, vapor d’água, entre outros) que preenchem os vazios das demais fases. 2.1.2. CONSISTÊNCIA E PLASTICIDADE DOS SOLOS Consistência é a propriedade de um solo argiloso ser menos ou mais deformável (ABNT, 1995), de acordo com a umidade a que está submetido. Com teor de umidade muito baixo, o solo se comporta mais como sólido, enquanto que, com umidade alta, solo e água podem fluir como um líquido (Das, 2007). Portanto, dependendo do teor de umidade, o solo pode se comportar de quatro maneiras: sólido, semi-sólido, plástico e líquido. Os teores de umidade nos quais ocorrem as transições de um estado para o outro são os chamados limites de Atterberg, definidos como: a) Limite de contração: teor de umidade no qual ocorre a transição do estado sólido para o semi-sólido; b) Limite de plasticidade (wP): idem, do estado semi-sólido para o plástico; c) Limite de liquidez (wL): idem, do estado plástico para o líquido. 14 Plasticidade é a propriedade que um solo apresenta, em determinadas condições de umidade, de poder sofrer grandes deformações permanentes, sem sofrer ruptura, fissuramento ou apreciável variação de volume (ABNT, 1995). Trata-se de uma das mais importantes propriedades das argilas. Define-se índice de plasticidade (IP) conforme a equação: As argilas moles, foco do presente estudo, costumam apresentar valores elevados de umidade natural, limites de liquidez e plasticidade e índice de plasticidade. Valores obtidos em ensaios realizados em amostras de argilas moles serão apresentados no capítulo 3. 2.1.3. TENSÕES E RESISTÊNCIA DO SOLO Simplificadamente, as tensões existentes em uma massa de solo podem ser classificadas como tensão total (σ), tensão efetiva (σ’) e pressão neutra (u), relacionadas através da equação proposta por Terzaghi (1925): A tensão total é o esforço total por área unitária, atuando dentro de um solo (ABNT, 1995). A tensão efetiva é aproximadamente a força por unidade de área suportada pelo esqueleto de um solo. A pressão neutra é a suportada pela água nos espaços vazios do solo, sendo também chamada de poropressão. O princípio da tensão efetiva é um dos conceitos mais importantes na engenharia geotécnica, uma vez que, em uma massa de solo, a tensão efetiva controla sua mudança de volume e resistência. A resistência ao cisalhamento de uma massa de solo é a resistência interna por área unitária que ela pode oferecer para resistir a rupturas e a deslizamentos ao longo de qualquer plano no seu interior (Das, 2007). Ela é importante para a análise dos problemas de estabilidade de solo, e pode ser apresentada simplificadamente através do Critério de ruptura de Mohr-Coulomb: 15 onde τres é a resistência ao cisalhamento, c é a coesão, σ’ é a tensão efetiva e φ é o ângulo de atrito interno do solo. Coesão é parcela de resistência ao cisalhamento de um solo provocada pela atração físico-química entre partículas ou pela cimentação destas (ABNT, 1995), e possibilita a classificação dos solos em coesivos e não-coesivos (ou granulares). Em solos coesivos saturados, a resistência ao cisalhamento fica apenas dependente da coesão, sendo então chamada de resistência ao cisalhamento não-drenada, Su, cujo valor pode ser obtido através do ensaio de cisalhamento de palheta (vane test), realizado in-situ, ensaios triaxiais tipo UU, realizado em laboratório, entre outros. 2.1.4. ADENSAMENTO Segundo a ABNT (1995), adensamento é a redução progressiva, ao longo do tempo, do volume de uma massa de solo, resultante da diminuição do seu volume de vazios, devido à expulsão de ar ou água, causada por efeito do peso próprio ou acréscimo de tensão externa. É comum a divisão didática em adensamento primário e secundário. No adensamento primário, a redução de volume é devida, principalmente, à expulsão de água dos vazios do solo, acompanhada por uma transferência da pressão suportada pela água intersticial (poropressão) para o esqueleto sólido. No secundário, a redução é devida a fenômenos viscosos do solo, não relacionados com a dissipação das poropressões. 2.1.5. TEORIA DO ADENSAMENTO A equação diferencial básica da teoria de adensamento de Terzaghi (1925) é dada por: Onde: u – poropressão ou pressão neutra; cv – coeficiente de adensamento vertical. A situação tridimensional que considera o fluxo combinado vertical e radial é representada por: 16 Onde: ch – coeficiente de adensamento horizontal. A teoria do adensamento para o projeto de instalação de drenos verticais de areia levou à equação de adensamento tridimensional em coordenadas cilíndricas. Nela, é desprezada a drenagem vertical, levando à drenagem radial pura: A partir da equação do adensamento para drenagem radial pura, assumindo a condição de deformações verticais iguais temos que: Sendo definido: onde: Uh – grau de adensamento devido ao fluxo radial; Th – fator tempo horizontal; F(n) – função relativa ao diâmetro de influência de um dreno e ao seu diâmetro efetivo; de – diâmetro efetivo; dw – diâmetro equivalente, conforme figura 2.1. 17 dw = 2( a + b ) π (Hansbo,1979) b a dw = a+b (Rixner et al., 1986) 2 Figura 2.1 – Diâmetros dw de um dreno pré-fabricado. Carrillo (1942) demonstrou que o adensamento tridimensional poderia ser resolvido com análise em separado, originando para o grau de adensamento médio combinado, a seguinte relação: onde: Uvh – grau de adensamento combinado; Uv – grau de adensamento devido a fluxo vertical; Uh - grau de adensamento devido a fluxo horizontal. 2.2. TÉCNICAS CONSTRUTIVAS SOBRE SOLOS MOLES Para a construção sobre solos compressíveis, duas condições devem ser atendidas: garantia de estabilidade, isto é, deve-se evitar o rompimento do aterro e das fundações; e manutenção das deformações, tanto verticais (recalques) como horizontais, dentro de limites adequados, de acordo com as características da obra (Oliveira e Almeida, 2004). Na Figura 2.2 são apresentadas algumas técnicas executivas utilizadas para solucionar ou minimizar estes dois problemas associados à execução de aterros sobre solos moles. 18 Figura 2.2 – Técnicas executivas de aterros sobre solos moles (adaptado de Leroueil, 1997). 19 2.2.1. SUBSTITUIÇÃO OU DESLOCAMENTO DE SOLO MOLE A substituição de solos moles consiste na retirada da camada compressível através de escavadeiras (figura 2.3) ou dragas e a posterior colocação de materiais de maior resistência, até que seja atingida a altura pretendida. Figura 2.3 – Escavação de solo mole. Esta técnica é freqüentemente empregada quando existem solos moles, sejam eles turfosos ou não. Turfa é o nome dado à argila com elevadíssimo teor de matéria orgânica e umidade, que pode chegar a 1000%. Como regra geral, os solos moles possuem, além da elevada compressibilidade, baixa resistência ao cisalhamento, o que faz com que as escavações tenham que ser realizadas em taludes bastante suaves (da ordem de 1V:6H a 1V:8H, dependendo da resistência do material), aumentando muito o volume do solo a ser escavado. Assim, a técnica somente será viável para baixas espessuras de solo mole, sendo comum o limite de 3 ou 4 metros (Sandroni, 2006). Após a retirada do material de baixa resistência, é executado o aterro com material adequado, compactado em camadas, até a altura referida em projeto. Deve-se garantir que toda a camada foi escavada ou então prever o comportamento do material remanescente. Em aterros ferroviários, é uma técnica viável desde que as espessuras de material mole sejam compatíveis com os limites anteriormente mencionados. Em locais onde a resistência da argila aumenta com a profundidade, é comum a remoção parcial do solo, sendo retiradas as camadas superiores e mantidas as inferiores, sobre as quais é executado o aterro com material de melhor qualidade. Nesse caso, deve ser feito o cálculo da previsão dos recalques, bem como do tempo necessário para dissipação das poropressões, e eventual utilização de 20 sobrecargas, que serão descritas no item 2.2. Nos casos de duplicação de vias existentes ou interface com obras adjacentes, deve ser verificada a estabilidade dos aterros adjacentes, em função do desconfinamento lateral provocado pela escavação do solo mole, que altera o coeficiente de segurança e pode causar danos às vias ou construções vizinhas. O deslocamento de solos moles com o emprego de explosivos baseia-se na construção prévia de um aterro sobre a camada compressível, com posterior instalação de cargas explosivas dentro do solo mole que, após detonadas, provocam a liquefação do mesmo, com sua expulsão lateral pelo peso próprio do aterro, que acaba por ocupar o lugar do solo mole. Na prática, a expulsão pode não ser completa, permanecendo resquícios de solo mole sob forma de bolsões, o que acaba por afetar o leito da via, provocando ondulações no decorrer do tempo (Massad, 2003). Por esse motivo, não é aconselhado o emprego desta técnica em aterros ferroviários. Outra técnica muito utilizada antigamente, mas que tem sido menos utilizada em obras de porte, é o chamado aterro de ponta, que consiste no avanço de uma ponta de aterro em cota mais elevada que a do aterro projetado, que vai empurrando e expulsando parte da camada de solo mole, através da ruptura do solo de fundação argiloso de baixa resistência, deixando em seu lugar o aterro embutido. A expulsão é facilitada pelo desconfinamento lateral e frontal do aterro de ponta, enquanto este avança (Zaeyen et al., 2003). A falta de controle de qualidade da execução não garante que toda camada muito mole seja removida, o que causa freqüentemente recalques diferenciais, que se manifestam através de ondulações na superfície do aterro, com conseqüente risco de descarrilamentos em operações ferroviárias. Tal técnica, entretanto, ainda é a única possível em aterros de conquista para execução de campanhas de ensaio em terrenos com camada superficial turfosa, bem como para a entrada dos equipamentos de cravação de drenos ou estacas, necessários para a execução das técnicas que serão descritas nos itens 2.3 a 2.6. Em alguns casos, a resistência da camada superior é tão baixa que se torna necessário o emprego de geotêxtil como reforço até para o aterro de conquista (Almeida et al., 2008). 21 2.2.2. ATERRO CONVENCIONAL Denomina-se aterro convencional aquele executado sem quaisquer dispositivos aceleradores de recalque ou modificadores de estabilidade. É uma técnica amplamente difundida no Brasil e no exterior, por ser de baixo custo, uma vez que envolve apenas a aquisição e compactação do aterro, mas que depende de disponibilidade de tempo no cronograma de obras. Quando se constrói sobre argilas moles, a altura de aterro necessária para se partir de uma cota inicial e atingir uma cota final deve levar em conta o recalque do aterro, ou seja, a espessura de material que sofrerá recalque abaixo da cota do terreno original, em função da compressibilidade do solo mole. Em regiões de argilas moles saturadas com nível d’água (N.A.) superficial, que são os depósitos mais freqüentes, há ainda o efeito de submersão do aterro recalcado, o que, com o passar do tempo, diminui a tensão total aplicada, fazendo com que a tensão efetiva final após a dissipação das poropressões seja menor. Isso provoca a necessidade de maior altura de aterro para compensar os recalques. Esta é, portanto, uma das desvantagens da técnica, pois há necessidade de volume de material para compensar os recalques sofridos pelo aterro. Provavelmente a mais significativa desvantagem refere-se ao tempo necessário para a ocorrência dos recalques, como será visto com mais profundidade no capítulo 5. Muitas vezes torna-se necessária a construção do aterro em etapas, com grandes intervalos de tempo entre elas, para que possa haver dissipação da poropressão da camada compressível, com seu conseqüente ganho de resistência, antes do novo alteamento do aterro. Assim, o fator de segurança é menor ao final de cada etapa de carregamento, aumentando com o tempo. Cabe ressaltar que esta discussão não leva em consideração a ruptura por creep. Uma vez que os recalques poderão levar anos para ocorrer, a opção por este partido de projeto deve levar em conta a possibilidade de convivência com recalques, com os constantes retrabalhos de alteamento de piso ou plataforma, em amplitudes que variarão com os parâmetros de compressibilidade do solo. Assim sendo, esta técnica somente poderá ser utilizada em aterros ferroviários se a espessura e a compressibilidade da argila mole forem suficientemente baixas para que os recalques na grade ferroviária não causem problemas de circulação dos trens. 22 Denomina-se sobrecarga ou pré-carregamento a espessura adicional de aterro que é aplicada temporariamente ao aterro propriamente dito. Passado o tempo necessário de atuação, ela é retirada. Sua função principal é acelerar os recalques, já que a presença de uma carga extra modifica a curva tempo x recalque do aterro, fazendo com que os recalques previstos inicialmente ocorram em um tempo menor. Outra função da sobrecarga é combater os recalques secundários, que ocorrem mais lentamente que os primários e são causados pelo ajustamento da estrutura interna da massa de solo, depois que todo esforço de compressão tenha sido transferido da água intersticial para o esqueleto sólido. 2.2.3. ATERRO SOBRE DRENOS VERTICAIS Denomina-se aterro sobre drenos a técnica de cravação de drenos sintéticos verticais e posterior execução do aterro sobre o solo mole. Os drenos diminuem a distância de drenagem dentro da massa de solo compressível, o que dissipa as poropressões mais rapidamente, acelerando os recalques. Os drenos verticais de areia foram pioneiramente utilizados em fins de 1920, na Califórnia, nos Estados Unidos (Oliveira e Almeida, 2004). Posteriormente, surgiram os primeiros drenos pré-fabricados, que foram evoluindo até os modelos atualmente utilizados, chamados geodrenos ou drenos fibroquímicos (figura 2.4), que consistem em um núcleo de plástico com ranhuras em forma de canaleta envolto em um filtro de geossintético não tecido de baixa gramatura (Sandroni, 2006). Figura 2.4 – Geodreno ou dreno fibroquímico. 23 Sua instalação é realizada por meio de equipamentos de cravação (figura 2.5) que apresentam produtividade de 1000m a 2000m por dia, por máquina cravadora (Sandroni, 2006). Figura 2.5 – Perfuratriz para cravação de geodreno (Costa Fortuna, 2008) Os parâmetros envolvidos na análise das propriedades dos drenos verticais, tais como eficiência, diâmetro equivalente, área de influência, espaçamento, amolgamento (efeito smear) e resistência hidráulica foram discutidos em Bedeschi (2004). O pré-carregamento também é aplicado aos aterros sobre drenos, para se atingir os mesmos objetivos mencionados no item anterior. A utilização da técnica no Brasil é freqüente, podendo ser encontradas referências na literatura em Almeida et al. (2001) e Bedeschi (2004), entre outros. Igualmente, há vários casos relatados de emprego desta solução no exterior (Moh e Lin, 2005; Indraratna et al., 2005; Bergado et al., 1996; entre outros). 24 2.2.4. ATERRO SOBRE ESTACAS E COM REFORÇO DE GEOGRELHA No aterro sobre estacas com reforço de geogrelhas utilizam-se capitéis para transferir a carga do aterro para as estacas e para camadas de solo com maior capacidade de carga. As geogrelhas são utilizadas na base do aterro para redistruibuir os esforços para as estacas. Seu esquema típico está mostrado na figura 2.6. Figura 2.6 – Esquema típico de um aterro estaqueado reforçado com geogrelha. No cálculo da transmissão dos esforços às estacas e à geogrelha, considera-se o efeito de arqueamento dos solos descrito por Terzaghi (1943). Trata-se da transferência de tensões tangenciais da porção de solo com maior deformação para a porção adjacente com menor deformação, que serve de elemento de suporte (ABNT, 1995). Hewlett e Randolph (1988) mostraram que a eficácia do arqueamento aumenta com o aumento da altura de aterro, com conseqüente distribuição do carregamento para os capitéis/estacas. Uma abrangente revisão bibliográfica foi realizada por Spotti (2006) para estudar e analisar o atual estado da arte sobre os métodos de dimensionamento de aterros estaqueados reforçados. A técnica apresenta como principal vantagem a significativa redução dos recalques construtivos quando comparados a obras de aterros convencionais ou sobre drenos verticais. Os recalques associados à técnica são referentes à deformação da geogrelha (figura 2.7) e, portanto, muito menores do que os de adensamento em aterros convencionais. 25 Figura 2.7 – Recalque no topo da camada de aterro (Almeida et al., 2008). Outro fator importante é a diminuição do tempo de execução do aterro, já que não há necessidade de aguardar a dissipação do excesso de poropressão e conseqüente mobilização da resistência na argila mole para o alteamento do aterro, podendo este ser feito em uma só etapa, já que não há preocupação com a instabilidade da argila mole. As desvantagens da técnica estão relacionadas aos custos dos equipamentos necessários à cravação das estacas e confecção dos capitéis, bem como ao custo da aquisição e instalação da geogrelha e ao convívio com os recalques apresentados na figura 2.7. Um estudo de viabilidade econômico-financeira deve ser realizado a fim de se obter uma real comparação entre os aterros sobre drenos e os sobre estacas. Esse estudo deve levar em conta, além dos custos de construção e manutenção pós-construtiva, as receitas previstas quando da utilização do local para as suas atividades finalísticas. Isso faz com que o resultado da análise varie com o empreendimento a ser realizado no local do aterro, sem que haja uma resposta única para todos os casos. Há grande aplicabilidade da técnica em aterros ferroviários, tanto em implantações de vias novas, quanto em duplicações de existentes, em função da minimização dos recalques pós-construtivos, que podem gerar instabilidade do material rodante em função das condições geométricas via. As ferrovias modernas de alta velocidade toleram recalques muito pequenos, 26 em função do impacto que deformações na via podem causar ao material rodante e à operação. Tomando-se como exemplo a especificação do projeto de implantação de via dupla ligando Ipoh a Rawang, na Malásia, com comprimento aproximado de 150km, e que, por motivos geométricos, apresentava aterros variando de 2 a 11m de altura (Raju et al., 2004): • Recalque pós-construtivo máximo de 25mm após período de 6 meses de operação comercial da via; • Recalque diferencial máximo de 10mm em 10m de comprimento de via (1:1000), medido ao longo do centro do aterro; • Fator de segurança global mínimo do aterro FS=1,4 para etapas construtivas intermediárias e FS=1,5 para a última etapa construtiva. No capítulo 5 serão analisados os recalques totais de um aterro projetado para uma região de uma ferrovia de carga. Apesar de tanto a finalidade quanto as características de operação de uma ferrovia de alta e uma de baixa velocidades serem completamente distintos, o valor ΔH=25mm servirá de referência para os valores a serem mostrados no capítulo 5. Spotti (2006) mostra exemplos de aplicação da técnica em diversos países, tanto em obras rodoviárias (Austrália, Panamá, Inglaterra e Holanda), ferroviárias (Alemanha, Malásia e Brasil), aeroportuárias (Inglaterra) e urbanas (Brasil). No Brasil, a obra ferroviária citada é de um trecho da Ferronorte em Chapadão do Sul, MS (figura 2.8), onde foi executado um aterro de 7 a 8m de altura, com utilização de micro estacas de aço auto-perfurantes de 7,3cm de diâmetro, 8 a 10m de comprimento, em malha quadrada, com capitéis pré-moldados de concreto e 1 camada de geogrelha de poliéster com 400kN/m. 27 Figura 2.8. Estacas metálicas e capitéis de concreto em aterro ferroviário sobre solo mole (Spotti, 2006). 2.2.5. ATERRO SOBRE LAJE DE CONCRETO ARMADO E ESTACAS Os aterros sobre laje e estacas são compostos por uma laje plana executada sobre uma malha de estacas com capitéis (laje cogumelo). São muito semelhantes aos estaqueados reforçados com geogrelha, possuindo as mesmas vantagens em relação aos aterros convencionais quanto a recalques, prazo de execução e estabilidade do aterro. As desvantagens de sua utilização também se referem aos custos do material, equipamento e execução, que devem ser comparados em um estudo de viabilidade, conforme mencionado no item anterior. Comparada com a geogrelha, a laje de concreto armado apresenta vantagem de não apresentar risco de deformações ou trincamentos do aterro a médio e longo prazo. Outra vantagem da laje de concreto é o enrijecimento (engastamento) que propicia à cabeça das estacas, favorecendo o equilíbrio de cargas horizontais na periferia e afastando, em definitivo, o risco de flambagem das mesmas, desde que executadas com atenção quanto ao alinhamento e às excentricidades (Sandroni, 2006). 28 2.2.6. COLUNAS DE BRITA Denomina-se vibrosubstituição a técnica usada para melhorar solos arenosos com mais de 15% de finos (Raju et. al., 2004) e solos coesivos, como siltes e argilas. Neste método, colunas de brita são instaladas no solo mole (ou fofo) com o uso de um vibrador profundo. A sequência de execução em solos saturados é mostrada na figura 2.9: (1) Posiciona-se o equipamento no local e carrega-se o silo com a brita; (2) o silo sobe e descarrega a brita na câmara própria no topo do vibrador; (3) o vibrador penetra o solo mole até a produndidade de projeto, através de vibrações, ar comprimido e esforço vertical para baixo; (4) na profundidade desejada, a brita é liberada e compactada por pequenos movimentos do vibrador para cima e para baixo; (5) com adição da brita necessária em cada estágio do processo construtivo, cria-se uma coluna de brita íntegra, intertravada e integrada ao solo circundante, que vai desde a camada resistente até a superfície. Figura 2.9 – Sequência de execução de coluna de brita em solo mole saturado (McCabe et al., 2007) O diâmetro da coluna formada depende das condições de confinamento do solo. Raju et al. (2004) cita que, em geral, as colunas possuem diâmetro de 70cm a 110cm. O método de cálculo mais utilizado para dimensionamento do espaçamento da malha de colunas, bem como do recalque estimado pós-tratamento, é o de Priebe (1995), e que tem se mostrado funcionar muito bem para a maioria das aplicações (McCabe et al., 2007). Outros métodos usualmente utilizados são os de Baumann & Bauer (1974) e Goughnour & Bayuk (1979). 29 Segundo Almeida (1996), o principal objetivo do tratamento por vibrosubstituição é produzir uma malha de colunas granulares que atuem como estacas relativamente rígidas assentes na camada subjacente e em condições de absorver grande parte da carga transmitida pelo aterro ao solo mole. Por conseguinte o método apresenta menores deslocamentos horizontais e verticais do aterro em comparação a um aterro convencional ou sobre drenos. As colunas granulares também promovem a dissipação de poropressões por drenagem radial, acelerando os recalques. Finalmente, elas aumentam a resistência ao cisalhamento da massa de solo de fundação, permitindo a construção de aterros mais altos ou com maiores fatores de segurança. Exemplos de aplicação da técnica em diversas ferrovias na Ásia podem ser encontrados em Raju et al. (2004). No Brasil, a técnica ainda é incipiente. 2.3. INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS A execução de um programa de caracterização geotécnica ou um programa de investigação geotécnica objetiva determinar as condições geológicas, geotécnicas, hidráulicas e outras informações relevantes a um determinado projeto de engenharia. (Coutinho, 2008) As investigações geotécnicas podem ser de laboratório ou de campo (in situ). Ensaios de laboratório incluem aqueles que testam os elementos (corpos de prova) dos materiais, tais como ensaios triaxiais e aqueles que testam modelos protótipos, tais como ensaios de centrífuga. Ensaios de campo incluem sondagem, amostragem, ensaios in situ, ensaios em verdadeira grandeza e ensaios geofísicos. (Coutinho, 2008) Investigação insuficiente, interpretação inadequada dos resultados e falha em descrever as informações obtidas de forma clara e objetiva tem contribuído para diversos problemas de projeto e de construção. (Coutinho, 2008) Maiores detalhes do processo de caracterização geotécnica podem ser visto em Becker (2001), Clayton et al. (1995), Gomes Correia et al. (2004), Schnaid (2005, 2008), Powell (2005), Viana da Fonseca e Coutinho (2008). Informações sobre qualidade de amostragem podem ser encontradas em Ladd (1973), Coutinho (1976, 1986, 2007); Hight (2000); Hight e Leroueil (2003), Tanaka (2008). 30 2.4. INSTRUMENTAÇÃO Seja qual for a técnica escolhida, é fundamental realizar instrumentação para avaliar o desempenho da técnica. Os objetivos de um programa de instrumentação são acompanhar movimentações verticais e horizontais, monitorar amplitude e velocidade de dissipação das poropressões e monitorar a estabilidade dos aterros. A instrumentação a ser empregada em cada caso varia com a importância e a complexidade do problema, podendo ser empregados piezômetros, placas de recalque, extensômetros, inclinômetros e referências de nível. Deve existir acompanhamento de equipe especializada na instalação e leitura dos resultados da instrumentação, que devem ser analisados por profissional experiente, que verificará se há variação entre o comportamento previsto e o ocorrido. O plano de monitoramento deve estabelecer claramente a localização dos instrumentos e os procedimentos de instalação, bem como os parâmetros de alerta. Sempre que possível, deve-se prever redundância para as leituras. Desta forma, é possível comparar os valores lidos e não há perda de informação em caso de falha de um dos instrumentos. 31 3 ENSAIOS GEOTÉCNICOS ANALISADOS O objetivo deste capítulo é apresentar o resultado dos ensaios utilizados para a caracterização geotécnica do depósito estudado. Trata-se da duplicação de um trecho de uma ferrovia brasileira, onde se encontra um depósito de argila muito mole de grande espessura, o que exige um estudo aprofundado das possíveis soluções geotécnicas a serem utilizadas no local. 3.1. ENSAIOS REALIZADOS Os ensaios foram realizados em amostras coletadas do km 18+340 ao km 22+360 da Estrada de Ferro Carajás, para o projeto básico da duplicação da via nesse trecho, onde o solo é de baixa consistência. Das investigações geotécnicas realizadas para o projeto de 1978 e que estão hoje disponíveis e puderam ser consultadas, foram aproveitados apenas os ensaios de caracterização (granulometria com sedimentação, limites de liquidez e plasticidade, massa específica das partículas e umidade natural) e os ensaios de palheta (vane test – VT) . Os laudos de sondagens a trado (ST), percussão (SP) e rotativas mistas (SPR) não foram fornecidos e, portanto, não puderam ser consultados. Os ensaios de adensamento de 1978 foram descartados, pois as técnicas utilizadas àquela época eram precárias comparadas com as atuais, causando amolgamento excessivo das amostras, e conseqüente falta de confiabilidade dos resultados. Em virtude dessa escassez de resultados, foram necessárias novas investigações geotécnicas para elaboração do Projeto Básico de Duplicação, realizadas recentemente. Este estudo baseou-se nos resultados de tais investigações, que podem ser divididas em estudos de campo e de laboratório. Em campo foram executados: 32 a) 40 sondagens a percussão (SP), entre o km 18+000 e o km 22+260; b) 26 sondagens a trado (ST), entre o km 18+740 e o km 19+120; c) 14 ensaios de piezocone (CPTu), associados a 25 ensaios de dissipação de poro pressões (DPP), entre o km 18+465 e o km 19+960; d) 33 ensaios de vane test (VT) (13 locais), entre o km 18+740 e o km 22+200. Foram retiradas e encaminhadas para laboratório 16 amostras tipo Shelby, com 4” de diâmetro, com as quais foram realizados os seguintes ensaios geotécnicos: a) 15 ensaios de adensamento; b) 29 ensaios de compressão simples; c) 16 ensaios de granulometria com sedimentação; d) 16 ensaios de massa específica das partículas; e) 15 ensaios de limites de consistência (LL e LP); f) 16 determinações de teor de umidade e peso específico natural. 3.2. PERFIS GEOTÉCNICOS Em função das alternativas construtivas adotadas à época da implantação da ferrovia, o perfil geotécnico apresenta significativas diferenças ao longo do trecho estudado. No trecho em que as alturas de aterro eram maiores do que 5,2m, optou-se por remover totalmente as camadas de solos moles e substituí-las por areia. Esta alternava foi adotada entre o km 18+340 e o km 19+440, onde as alturas de aterro variam entre 8,9m e 5,2m (diminuindo no sentido crescente da quilometragem). O perfil geotécnico típico e a seção transversal do aterro adotado para esse trecho estão mostrados na figura 3.1. 33 Figura 3.1 – Seção transversal e perfil geotécnico típicos do trecho onde houve remoção total da camada mole do solo. Nos locais onde a altura de aterro era menor do que 5,2m, optou-se por executar o aterro sobre a camada mole e aguardar sua estabilização por adensamento. Esta foi a alternativa adotada entre o km 19+440 e o km 22+360, onde os aterros possuem entre 5,2m e 2,0m. Foram utilizadas sobrecargas para abreviar o tempo de ocorrência, e bermas de equilíbrio, para garantir a estabilidade do aterro. O perfil geotécnico típico e a seção transversal do aterro adotado para esse trecho estão mostrados na figura 3.2. Figura 3.2 – Seção transversal e perfil geotécnico típicos do trecho onde não houve remoção da camada mole do solo. 3.3. RESULTADO DOS ENSAIOS DE LABORATÓRIO E CAMPO Os resultados dos ensaios de laboratório e campo são apresentados na Tabela 3.1. 34 Tabela 3.1 - Resumo dos resultados dos ensaios geotécnicos recentes realizados na camada de argila mole do trecho em estudo Amostras Shelby km Afast. LE (m) 18+740 60 18+740 60 18+800 55 18+800 55 19+000 55 19+000 55 19+200 50 19+400 50 19+800 30 20+200 20 20+800 15 20+800 15 21+600 15 21+600 15 22+000 15 22+000 15 w0: umidade natural Índices físicos das amostras indeformadas Prof. (m) w0 (%) γnat γs γG (kN/m3) (kN/m3) (kN/m3) 3,0 a 3,5 5,0 a 5,5 2,0 a 2,5 4,0 a 4,5 2,0 a 2,5 3,0 a 3,5 3,0 a 3,5 2,5 a 3,0 2,5 a 3,0 2,0 a 2,5 2,5 a 3,0 4,0 a 4,5 2,0 a 2,5 4,0 a 4,5 2,0 a 2,5 3,0 a 3,5 73,9 40,3 95,3 104,4 99,5 72,2 70,4 33,6 67,5 125 68,7 108 51,9 123,3 78,7 14,4 17,1 14,4 13,9 13,6 15,3 8,3 12,2 7,4 6,8 6,8 8,9 γG: peso específico próprio wP: limite de plasticidade Cr: coeficiente de recompressão 27 26,9 29,9 27,2 25 28,1 27,2 16,2 9,5 26,4 16,8 12,6 27,5 15,7 9,4 27,2 14,2 6,3 27,6 16 9,5 28,9 13,3 6,4 27 15,8 10,4 27,4 13,6 6,1 27,2 15,2 8,5 28,3 γnat : peso específico aparente natural e0: índice de vazios IP: índice de plasticidade Cc: coeficiente de compressão Limites de consistência Adensamento e0 wL (%) wP (%) 2,27 1,2 3,03 2,99 2,68 2,16 1,78 1,19 1,89 3,41 2,04 3,23 1,63 3,46 2,32 47 34 89 83 73 54 35 43 41 92 48 77 36 91 58 24 23 60 0,15 1,17 15 19 44 0,05 0,41 35 54 76 0,21 1,49 31 52 41 0,2 1,34 27 46 30 0,15 1,28 25 29 28 0,06 0,72 20 15 20 23 20 0,08 0,61 40 0,07 0,29 17 24 31 0,09 0,76 31 61 36 0,18 1,45 22 26 70 0,1 0,95 30 47 41 0,23 1,47 21 15 32 0,06 0,5 31 60 20 1,46 0,22 24 34 31 0,1 0,98 γs : peso específico aparente seco IP (%) σ'pa (kPa) Cr Cc wL: limite de liquidez σ'pa: tensão de sobreadensamento CP: corpo de prova 35 Resistência nãodrenada Su (kPa) CP1 CP2 CP3 20,6 10,2 19,1 16,9 9,4 10,9 11,4 13,6 12 11,6 11,1 18,4 11 17,5 5 9,1 4,5 10,7 11,4 7,5 11,3 10 17,3 13 21,2 7,4 10,1 5,7 9,6 - A tabela 3.2 mostra os valores de coeficiente de adensamento vertical (cv) obtidos nos ensaios. Tabela 3.2 – Resultados de cv obtidos nos ensaios de adensamento de laboratório km 19+000 19+000 19+400 19+800 20+200 20+800 20+800 Afast. LE (m) 55 55 51 30 20 16 16 Prof. (m) 2,0 a 2,5 3,0 a 3,5 2,5 a 3,0 2,5 a 3,0 2,0 a 2,5 2,5 a 3,0 4,0 a 4,5 cv (m2/s) 8,00E-09 7,40E-08 2,10E-07 2,90E-07 2,00E-07 1,10E-08 9,00E-08 3.4. GRÁFICO DE PLASTICIDADE Os limites de liquidez e de plasticidade dos solos são determinados em laboratório através de ensaios relativamente simples, fornecendo informações sobre a natureza dos solos coesivos. A partir de suas propriedades, busca-se classificar os solos em categorias que apresentem comportamentos semelhantes. Uma das relações mais conhecidas entre índices físicos é o Sistema Unificado de Classificação de Solos (SUCS). Segundo Das (2007), a forma original do SUCS foi proposta por Casagrande em 1942 para uso nos trabalhos de construção de aeroportos sob responsabilidade do U. S. Army Corps of Engineers durante a Segunda Guerra Mundial. Em cooperação com o U. S. Bureau of Reclamation, esse sistema foi revisto em 1952. Apesar de ter sido criado a partir do estudo de solos de regiões temperadas, o SUCS sugere parâmetros que podem ser coerentemente analisados e adaptados para a situação dos solos tropicais do Brasil. Esse sistema classifica os solos em duas amplas categorias: solos grossos e solos finos. O foco deste estudo era apenas a fração fina do solo, a ser analisada a partir do gráfico de plasticidade. No gráfico de plasticidade, a linha “A”, de equação IP=0,73(wL-20), é uma fronteira arbitrária proposta por Casagrande para separar as argilas inorgânicas (acima da linha) dos siltes inorgânicos (abaixo dela). As argilas orgânicas podem aparecer tanto acima quanto abaixo da linha “A”. As argilas e siltes são ainda divididas em alta e baixa plasticidade de acordo com o limite de liquidez wL, através da linha “B”. Os solos de baixa plasticidade ficam à esquerda da linha “B”, enquanto os solos de alta plasticidade ficam à sua direita. A linha 36 “U”, de equação IP=0,9(wL-8), representa o limite admissível dos resultados, e qualquer ponto localizado acima dela apresenta fortes indícios de falha na caracterização, devendo ser revisto. A figura 3.3 mostra o resultado dos ensaios de caracterização no gráfico de plasticidade. Figura 3.3 – Gráfico de plasticidade das amostras de argila mole estudadas A figura 3.3 mostra que os solos ensaiados correspondem a argilas de baixa a alta plasticidade. 3.5. CORRELAÇÕES ENTRE PARÂMETROS O estudo das correlações existentes entre os parâmetros geotécnicos do solo é importante, entre outras coisas, para possibilitar a estimativa de um parâmetro de difícil obtenção em ensaio através de outro mais facilmente conseguido em campanhas de ensaios. O coeficiente de compressão (Cc) para o cálculo do recalque de campo provocado pelo adensamento de uma argila mole é um exemplo de parâmetro de difícil obtenção, uma vez que é obtido a partir do resultado do ensaio de adensamento. Tal ensaio requer cuidados 37 especiais com a amostra de argila mole na sua obtenção, transporte, armazenamento e execução do ensaio, a fim de evitar amolgamento da amostra, o que falsearia o resultado do ensaio. Por outro lado, um parâmetro de fácil obtenção é a umidade natural do solo (w0), conseguida através do ensaio de umidade, que pode ser realizado com a amostra amolgada. É possível a obtenção de uma correlação entre Cc e w0, uma vez que ambos os parâmetros são controlados pela composição e estrutura do solo, os quais, por sua vez, controlam tanto o índice de vazios (e0) quanto a compressibilidade na faixa normalmente adensada (Terzaghi et al., 1996). A partir dos dados da tabela 3.1, buscou-se uma correlação entre tais parâmetros, sendo apresentada na figura 3.4. O ponto triangular foi descartado da análise, por apresentar fortes indícios de erro de amostragem ou de execução de ensaio. Para fins de comparação, foram inseridas na mesma figura as correlações obtidas por Futai et al. (2008) em seus estudos com argilas orgânicas marinhas da região metropolitana do Rio de Janeiro, bem como as obtidas por Almeida et al. (2008), incluindo resultados de ensaios realizado em amostras de argilas orgânicas marinhas da região oeste da cidade do Rio de Janeiro. Figura 3.4 – Curva de correção entre coeficiente de compressão e umidade natural A semelhança das curvas obtidas mostra que para as argilas brasileiras há pouca diferença na relação do coeficiente de compressão com a umidade natural do solo. 38 4 FORMULAÇÃO DO MODELO GEOTÉCNICO Os resultados dos ensaios em uma região podem ser mais ou menos dispersos, dependendo da homogeneidade ou heterogeneidade do depósito, sua origem, os agentes externos que atuaram durante sua formação, as tensões às quais ele foi submetido, entre outros fatores. Assim, após uma campanha de ensaios, é fundamental uma avaliação dos resultados e a adoção de valores de parâmetros de projeto, que serão adotados nos cálculos a serem realizados. O critério para adoção desses valores é variável de acordo com a experiência do projetista. Para os casos de pouca variabilidade dos resultados, pode ser adotada a média dos valores. Entretanto, no caso de grande variabilidade, deve-se buscar uma estimativa que, estando a favor da segurança, não seja demasiadamente conservadora a ponto de inviabilizar a obra em prazo ou custo. O objetivo deste capítulo é apresentar a formulação de um modelo geotécnico a partir dos resultados dos ensaios mostrados no capítulo 3. O modelo será formulado através dos valores médios de projeto de cada um dos parâmetros importantes para a análise do recalque, da estabilidade e do prazo da construção de um aterro sobre o solo mole estudado. 4.1. ÍNDICE DE VAZIOS O solo é um material constituído por partículas sólidas permeadas por vazios que podem estar preenchidos por água ou ar. Denomina-se índice de vazios (e0) de um solo à razão entre o volume de vazios e o volume ocupado pela parte sólida. Não cabe a este trabalho relatar as técnicas de ensaio utilizadas para se obter tal índice. A figura 4.1 mostra o perfil do índice de vazios do local ensaiado, com a indicação dos valores adotados para os cálculos das etapas posteriores do trabalho, em cada faixa de profundidade. 39 Presente estudo Figura 4.1 – Perfil de índice de vazios do trecho estudado 4.2. COMPRESSIBILIDADE As argilas moles, em virtude do seu elevado índice de vazios, são muito compressíveis. Quando submetidas a carregamentos superiores à sua tensão de sobreadensamento (maior tensão à qual já estiveram submetidas), apresentam recalques que devem ser adequadamente avaliados, a fim de se obter uma boa estimativa de projeto, e poder tomar as medidas necessárias em resposta a esses deslocamentos verticais. A compressibilidade de uma argila mole é medida através do parâmetro Cc/(1+e0), que é diretamente proporcional ao valor do recalque e aparece na expressão simplificada do recalque primário unidimensional, como a seguir: onde ΔH: recalque primário H0: espessura inicial da camada considerada σ0': tensão efetiva atuante inicial Δσ’: variação da tensão efetiva por ocasião do carregamento 40 A figura 4.2 mostra o perfil de compressibilidade do trecho estudado, bem como os valores adotados para projeto em cada faixa de profundidade. Presente estudo Figura 4.2 – Perfil de compressibilidade e valores de projeto do trecho estudado 4.3. PESO ESPECÍFICO NATURAL Peso específico natural (γnat) é a razão entre o peso do solo e o seu volume, na umidade em que se encontra na natureza. A figura 4.3 mostra o perfil do peso específico natural obtido nos ensaios realizados no trecho em estudo, bem como o valor adotado para o modelo a ser utilizado nas análises a serem realizadas. 41 Presente estudo Figura 4.3 – Perfil de peso específico natural do trecho estudado 4.4. RESISTÊNCIA NÃO-DRENADA A resistência não-drenada (Su) de argilas saturadas é a resistência ao cisalhamento do solo quando este é submetido a um carregamento sem que haja tempo de haver drenagem. Sua determinação é importante para a verificação da estabilidade de projetos de obras sobre argilas saturadas compressíveis. A figura 4.4 mostra o perfil da resistência não-drenada obtido nos ensaios de palheta realizados no trecho em estudo, bem como o valor base adotado para o modelo. 42 Presente estudo Figura 4.4 – Perfil médio de resistência não-drenada do trecho estudado Bjerrum (1972) estudou rupturas de aterros, fundações rasas e escavações e concluiu que o valor de Su obtido pelo ensaio de palheta era mais elevado que o obtido nas retroanálises de rupturas, e por isto o valor obtido no campo deveria ser corrigido para o projeto através da expressão onde μ é um fator de correção que pode ser expresso por Assim, para o estudo em questão, com os ensaios indicando IP médio próximo de 50%, adotou-se o fator de correção μ = 0,8, obtendo-se Su estudo = 8kPa. 43 4.5. COEFICIENTE DE ADENSAMENTO VERTICAL O coeficiente de adensamento vertical (cv) é um valor experimental que indica a velocidade com a qual há a dissipação de poropressões no solo. Seu valor é diretamente proporcional à permeabilidade do solo, e pode ser obtido através de diferentes formas: a) No ensaio de adensamento, sendo chamado de cv normalmente adensado (cv n.a.); b) No ensaio de piezocone, sendo obtido o coeficiente de adensamento horizontal (ch) e, através de correlações, obtém-se o cv sobreadensado (cv s.a.); c) Através da retroanálise da curva de recalque de aterros instrumentados, sendo também chamado de cv normalmente adensado. Os valores de cv apresentados na tabela 3.1 se referem a ensaios de adensamento e a valores normalmente adensados. A figura 4.5 mostra o perfil do coeficiente de adensamento vertical obtido a partir dos resultados dos ensaios realizados no trecho em estudo, juntamente com o valor adotado para o modelo geotécnico do local. Presente estudo Figura 4.5 – Perfil do coeficiente de adensamento vertical do solo 44 4.6. MODELO GEOTÉCNICO As análises dos resultados dos ensaios levaram aos parâmetros que serão adotados no modelo geotécnico, conforme mostrado na figura 4.6. Profundidade γnat C /(1+e0) (kN/m3) c (m) e0 cv (m2/s) Su (kPa) 1 2 0,3 2,5 3 15 7,0E-08 8 4 5 0,18 1,5 6 Figura 4.6 – Parâmetros geotécnicos utilizados na análise 45 5 ANÁLISE DO MODELO GEOTÉCNICO O objetivo deste capítulo é apresentar a análise de alternativas de projeto de um aterro sobre drenos verticais e de um aterro estaqueado reforçado com geogrelha, ambos considerando os parâmetros geotécnicos apresentados no capítulo 4. 5.1. ATERRO SOBRE DRENOS VERTICAIS A primeira alternativa construtiva analisada foi o aterro construído sobre drenos verticais. Conforme mencionado no capítulo 2 deste trabalho, essa alternativa consiste na cravação de geodrenos no solo a ser drenado, com posterior execução do aterro em etapas espaçadas em um período de tempo que permita a dissipação do excesso de poropressão gerada pela construção do aterro. 5.1.1. PREVISÃO DE RECALQUES O cálculo dos recalques primários foi feito com o auxílio de uma planilha eletrônica, que possibilitou as iterações necessárias para a consideração do efeito de submersão do aterro embutido, uma vez que o nível d’água do terreno é elevado (0,5m abaixo da superfície). O recalque primário calculado para a altura de aterro de 9,0m foi ΔH=1,89m. O cálculo do recalque secundário foi baseado na expressão de Martins et al. (1997) Com isso, chegou-se ao valor de ΔHsec=0,24m. Não foram encontradas especificações para recalque pós-construtivo limite nas ferrovias de carga brasileiras. Uma vez que se deseja minimizar os recalques secundários pós-construtivos, será adotada uma sobrecarga de 3,5m, capaz de pré-adensar o aterro e minimizar os recalques secundários. 46 Os valores previstos para os recalques primário e secundário são elevados para operações ferroviárias, tornando-se necessária a estabilização do aterro, ou seja, deve-se aguardar o tempo necessário para que no mínimo 95% dos recalques previstos ocorram. O aterro será calculado para ser realizado em 4 etapas, com intervalo entre elas tal que a dissipação de poropressões possa ser de, no mínimo, 80%. Isso permitirá um ganho de resistência da argila mole, possibilitando o alteamento da próxima etapa do aterro sem que haja comprometimento do fator de segurança quanto a rupturas globais. A espessura de cada etapa e o seu recalque estão mostrados na tabela 5.1. Tabela 5.1 – Espessura, recalque e cota final das etapas construtivas Cota final (m) Etapa Espessura (m) Recalque (m) 2,60 1 3,80 1,20 5,84 2 3,70 0,46 9,16 3 3,60 0,28 12,50 4 3,54 0,20 9,00 Remoção -3,50 A carga do lastro, dormentes e trilhos é inferior à tensão de pré-adensamento gerada pela sobrecarga aplicada, fazendo com que não haja recalques quando da construção do pavimento. O efeito dinâmico da carga de tráfego não foi considerado para o cálculo do recalque primário, mas é parâmetro fundamental para a análise de estabilidade, como será mostrado no item 5.1.2. 5.1.2. PRAZO CONSTRUTIVO Para cálculo do prazo construtivo, deve-se considerar o tempo para alteamento do aterro e o tempo necessário para dissipação das poropressões. Para o alteamento do aterro, foram previstos os tempos conforme a tabela 5.2. O cálculo do tempo para dissipação das poropressões foi feito considerando drenagem combinada (vertical e radial). A drenagem é dupla, uma vez que o perfil geotécnico mostra presença de areia sob a camada de argila. A drenagem radial é por drenos fibroquímicos verticais, considerados em malha triangular com espaçamento de 1,5m, diâmetro de contribuição de=1,575m e diâmetro equivalente dw=0,0525m. Foram obtidos os valores de tempo de dissipação de poropressões mostrados na tabela 5.3. 47 Tabela 5.2 – Tempo de construção e dissipação de poropressões das etapas construtivas Etapa Tempo de construção (mês) 1 2 3 4 Remoção Pavimento Subtotal 1,0 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 3,0 Tempo de dissipação de poropressões (mês) 4,0 4,0 4,0 4,0 16,0 Dos tempos referidos na tabela 5.2, apenas os de construção são variáveis em função da quantidade ou produtividade das equipes de terraplenagem utilizadas na obra. Isso mostra que cerca de 85% do tempo necessário para a alternativa executiva é independente da força de trabalho disponível. A curva do recalque em função do tempo está mostrada na figura 5.1. Figura 5.1 – Curva tempo x recalque, com as etapas de carregamento do aterro e os valores de dissipação de poropressões. 48 5.1.3. ANÁLISE DE ESTABILIDADE O modelo adotado para a análise da estabilidade é mostrado na figura 5.2. O perfil aterro e material de fundação é simétrico, sendo suficiente a verificação da estabilidade em apenas uma das faces do talude. Para possibilitar a execução de todas as camadas, foi preciso calcular a largura da base do aterro necessária para que o mesmo pudesse atingir a cota final da etapa 4 com largura de 3,0m, suficiente para que os equipamentos de terraplenagem pudessem trabalhar. Considerando a soma das espessuras e recalques ocorridos até a construção da etapa 4, e garantindo uma inclinação de talude de 1V:1,5H, chegou-se à necessidade de uma largura de base do aterro na etapa 1 de 48m, sem considerar a berma, que será descrita posteriormente. Cabe ressaltar que a campanha de ensaios foi realizada a um afastamento de 15m a 60m da via existente, uma vez que a premissa do projeto básico era a da execução de duplicação com entrevia elevada. Tal condição foi adotada para evitar que os acréscimos de tensões gerados pela construção do aterro de duplicação levassem a recalques na via existente, o que obrigaria a paralisação no tráfego para manutenções de via permanente, a fim de se evitar acidentes. Figura 5.2 – Parâmetros e geometria adotados para a análise da estabilidade do aterro sobre drenos verticais. 49 A análise de estabilidade foi efetuada através dos métodos de Bishop Simplificado (equilíbrio de momentos), Janbu Simplificado (equilíbrio de forças) e Morgenstern-Price (equilíbrio de forças e momentos) (Abramson et al., 1995). Foram consideradas superfícies de ruptura circulares, com pesquisas realizadas por software comercial, que apontou a superfície com fator de segurança (FS) mínimo. Para cada etapa, foram consideradas as situações extremas de segurança: fim do alteamento do aterro, quando o FS é mínimo, e dissipação de 80% das poropressões, quando o FS é máximo. O ganho de resistência da argila ao final de cada etapa foi calculado pela expressão proposta por Mesri (1975). Para Δσ’ foi considerada a submersão do aterro e o percentual de adensamento ao final de cada etapa. 5.1.3.1. ETAPA 1 A primeira etapa terá espessura de 3,80m e será realizada juntamente com uma berma de equilíbrio de 2,0m de altura e 15m de largura. A superfície de ruptura e o FS ao final do carregamento são mostrados na figura 5.3. Su=8kPa Figura 5.3 – Superfície de ruptura e FS para o final do carregamento da etapa 1 A dissipação das poropressões provoca o adensamento da argila, e o conseqüente recalque do aterro sobre ela executado. Conforme foi dito no item anterior, foram calculados os FS para a dissipação de 80% das poropressões para cada uma das etapas. As análises, neste caso, levaram em conta a submersão do aterro gerado pelo seu recalque, bem como o ganho 50 de resistência não-drenada da argila, constante com a profundidade, já que foram utilizados drenos verticais. A figura 5.4 mostra o resultado dessa análise. Su=18kPa Su=16kPa Su=8kPa Figura 5.4 – Círculo de ruptura e FS da etapa 1 após a dissipação das poropressões 5.1.3.2. ETAPAS 2 A 4 Para as etapas 2 a 4, foram efetuados os mesmos procedimentos descritos anteriores, quais sejam: a) alteamento do aterro na altura projetada; b) verificação da condição de segurança para o final do carregamento da etapa; c) consideração do recalque e do ganho de resistência da argila; d) verificação do FS para a dissipação de poropressões. As figuras 5.5 a 5.7 mostram as condições geométricas, a resistência da argila, a superfície de ruptura e o fator de segurança para cada etapa do alteamento do aterro. 51 Su=18kPa Su=16kPa Su=8kPa Figura 5.5 – Superfície de ruptura e FS para o final do carregamento da etapa 2 Su=31kPa Su=26kPa Su=16kPa Figura 5.6 – Superfície de ruptura e FS para o final do carregamento da etapa 3 Su=45kPa Su=31kPa Su=28kPa Su=18kPa Figura 5.7 – Superfície de ruptura e FS para o final do carregamento da etapa 4 52 5.1.3.3. REMOÇÃO DA SOBRECARGA Após a dissipação das poropressões da etapa 4, ocorre a remoção da sobrecarga utilizada para minimizar o recalque secundário pós-construtivo. O cálculo da estabilidade não é necessário nesta etapa, uma vez que há alívio de carga nas fundações do aterro. Entrentanto, para fins didáticos e comparativos, foi verificado o FS, chegando-se à figura 5.8. Su=58kPa Su=31kPa Su=28kPa Su=18kPa Figura 5.8 – Círculo de ruptura e fator de segurança para a etapa de descarregamento 5.1.3.4. CARGA DO PAVIMENTO Para consideração da carga do pavimento, foi aplicado um aterro de 20cm correspondente ao lastro e, sobre ele, duas cargas pontuais de 175kN cada, correspondentes a uma carga por eixo de 350kN, um pouco superior ao limite atualmente adotado na EFC, que é de 300kN/eixo. O resultado da análise de estabilidade é mostrado na figura 5.9. 53 Su=58kPa Su=31kPa Su=28kPa Su=18kPa Figura 5.9 – Superfície de ruptura e FS para carga do pavimento e tráfego ferroviários 5.1.4. EVOLUÇÃO DO FATOR DE SEGURANÇA Lançando-se todos os valores de FS obtidos nas análises em um gráfico que considere o tempo para a construção dos aterros e dissipação das poropressões geradas, obtém-se a figura 5.10. Ela mostra que, em nenhum momento o fator de segurança ficou abaixo do limite estabelecido, que foi de FS=1,3 para as etapas intermediárias (1 a 3) e de FS=1,5 para a etapa final. Figura 5.10 – Evolução dos fatores de segurança para o aterro sobre drenos 54 5.1.5. IMPACTO AMBIENTAL O impacto ambiental gerado pela alternativa refere-se à necessidade de material de aterro para as etapas construtivas. A quantidade de material deve ser suficiente para executar o corpo do aterro, as bermas e a sobrecarga, e ainda compensar o recalque do aterro que sofrerá submersão. Isso implica na localização e legalização de jazida de empréstimo capaz de fornecer tal volume de material. Por ser temporária, a sobrecarga deve ser disponibilizada em algum local apropriado após a sua utilização. Isso deve ser considerado nos estudos de impacto ambiental, pois pode ocorrer de não ser possível o bota-fora na própria jazida de empréstimo. 5.1.6. CUSTOS CONSTRUTIVOS A avaliação dos custos construtivos foi efetuada levando-se em conta a aquisição e execução do volume de aterro necessário (corpo do aterro, bermas, submersão e sobrecarga), a aquisição e instalação dos geotêxteis e geodrenos e os serviços de monitoramento. Tal avaliação se encontra na tabela 5.3. 55 Tabela 5.3 – Estimativa de custos de construção do aterro sobre drenos verticais Item Serviços 1 2 3 4 Unidade Quantidade Mobilização de equipamentos Execução de reforço com geotêxtil 30x30 em 1 camada. Inclusive forneciamento do geotêxtil. Execução de colchão drenante de areia executado como aterro compactado mecanicamente, inclusive fornecimento de material. (Aterro de conquista) Instalação de drenos verticais pré-fabricados, em malha triangular de 1.5m de distância, diâmetro equivalente de 0.06 m, inclusive fornecimento dos drenos. unid 1 m2 482.400 m3 241.200 m 763.334 5 Aterro com material de primeira categoria, compactado a 95% do Proctor Normal. Inclusive fornecimento de material, DMT 4,0km. Considerado empolamento de 35%. (Etapas 1 a 4) m3 2.756.916 6 Escavação, carga e transporte de material de primeira categoria, DMT 4km. (Remoção da sobrecarga) m3 204.797 Valor unitário (R$) Valor do serviço (R$) 18.000,00 18.000,00 14,34 6.917.616,00 37,99 9.163.188,00 5,70 4.351.004,00 12,27 33.827.359,32 10,28 2.105.309,73 R$ 56.382.477,06 Total estimado 56 5.2. ATERRO SOBRE ESTACAS E REFORÇO DE GEOGRELHA A outra alternativa construtiva considerada foi a construção do aterro sobre estacas de concreto e com reforço de geogrelha. Conforme mencionado no capítulo 2, trata-se de uma técnica que traz como principal vantagem a minimização dos recalques, uma vez que a carga do aterro não é transmitida ao solo mole, mas diretamente à camada de areia existente abaixo, através de estacas de concreto. 5.2.1. DIMENSIONAMENTO O aterro sobre estacas com reforço de geogrelha foi considerado com as dimensões mostradas na figura 5.11. Para dimensionamento das estacas foi utilizado o método de Hewlett e Randolph (1988). Além das dimensões mostradas na figura 5.11, foram ainda considerados a sobrecarga por tráfego de 20kPa e a deformação máxima na geogrelha de 6,0%. γ=18kN/m3 φ=25° 9m 0,8m 0,3m 2,5m 2,5m Figura 5.11 – Dimensões consideradas para o aterro sobre estacas reforçado com geogrelha O cálculo da eficiência da distribuição das cargas verticais mostra que o efeito de arqueamento dos solos é capaz de distribuir 67% da carga vertical para as estacas, enquanto 33% vai para a geogrelha, causando a solicitação e deformação da mesma. A figura 5.12 mostra o esquema da distribuição de cargas verticais para as estacas e o reforço. 57 Figura 5.12 - Distribuição da carga vertical para as estacas e o reforço (Kempfert et al., 1997). O resultado da análise do dimensionamento das estacas e da geogrelha se encontra na tabela 5.4. Tabela 5.4 – Parâmetros de saída do dimensionamento das etacas e geogrelha Carga na estaca Tração atuante no reforço 963 251 kN kN/m Com esses valores, há condições de entrar em contato com fornecedores para se conseguir o material com as dimensões e resistência necessárias para a resposta adequada em campo. 5.2.2. PRAZO CONSTRUTIVO E IMPACTO AMBIENTAL O prazo construtivo considerado para a cravação das estacas, instalação da geogrelha e alteamento do aterro foi de 2,0 meses. Tal prazo é variável com a composição e produtividade das equipes de estaqueamento, geossintéticos e terraplenagem. Por haver baixo carregamento da camada de argila, não há necessidade de se aguardar a dissipação das poropressões. O impacto ambiental da alternativa construtiva se refere à necessidade de jazidas de empréstimo para o material do corpo do aterro. Como a técnica não necessita de bermas de equilíbrio ou sobrecarga e não envolve submersão do aterro, o impacto ambiental é menor do que no caso dos aterros sobre drenos. 58 5.2.3. CUSTOS CONSTRUTIVOS Para o cálculo dos custos de construção, foram consideradas a aquisição dos materiais, cravação das estacas, execução dos capitéis, instalação da geogrelha e execução do corpo do aterro. A estimativa dos custos construtivos do aterro sobre estacas com reforço de geogrelha encontra-se na tabela 5.5. 59 Tabela 5.5 – Estimativa de custos de construção do aterro sobre estacas com reforço de geogrelha Item Serviços Unidade Quantidade unid 1 Execução de reforço com geotêxtil 30x30 em 1 camada. Inclusive forneciamento do geotêxtil. Execução de aterro de saibro executado como aterro compactado mecanicamente, inclusive fornecimento de material. (Aterro de conquista) Cravação de estacas de concreto pré-moldadas, carga de trabalho 100tf, seção quadrada 30x30. Inclusive fornecimento de estacas. m2 201.000 m3 241.200 m 321.600 5 Capitéis de concreto 80x80x20cm. Inclusive fornecimento do material m3 4.116 6 Execução de reforço com geogrelha Fortrac 150x150kN/m, em 2 camadas. Inclusive forneciamento da geogrelha m2 402.000 7 Aterro com material de primeira categoria, compactado a 95% do Proctor Normal. Inclusive fornecimento de material, DMT 4,0km. Considerado empolamento de 35%. (Etapas 1 a 4) m3 956.760 1 2 3 4 Mobilização de equipamentos Total estimado Valor unitário (R$) Valor do serviço (R$) 20.000,00 20.000,00 14,34 2.882.340,00 37,99 9.163.188,00 170,40 54.800.640,00 300,00 1.234.944,00 46,50 18.693.000,00 12,27 11.739.445,20 R$ 98.533.557,20 60 6 CONCLUSÕES No projeto geométrico de uma ferrovia, deve-se evitar trechos a serem construídos sobre depósitos de argilas muito moles. Quando isso não for possível, deve ser realizado amplo estudo geológico-geotécnico no depósito encontrado, com ensaios de laboratório (caracterização, adensamento, triaxiais, entre outros) e de campo (sondagens, palheta, piezocone, entre outros), projetos básico e executivo e monitoramento da solução adotada. As alternativas construtivas devem ser analisadas quanto à técnica (recalques construtivos e pósconstrutivos), prazos construtivos, exigências ambientais (jazidas de empréstimo e bota-fora, materiais utilizados) e custos (de construção e manutenção) associados. Foram avaliadas duas alternativas de processos executivos de aterros de ferrovias sobre solos moles para um determinado modelo geotécnico: aterro sobre drenos verticais e aterro sobre estacas com reforço de geogrelha. Quanto à técnica, o aterro sobre drenos verticais apresenta recalque primário estimado em 1,89m, valor este extremamente elevado em termos de operações ferroviárias, necessitando de ser estabilizado antes da via entrar em operação. O recalque secundário foi estimado em 0,24m, sendo elevado, uma vez que exigiriam diversas intervenções na via para alteamento da grade e recompletamento do lastro. Não foram encontradas especificações de recalques pós-construtivos limites para as ferrovias de carga brasileiras, mas servem como parâmetro de comparação o valor exigido por uma ferrovia de alta velocidade na Malásia, onde os recalques pós-construtivos foram limitados a 0,025m (Raju et al., 2004). Quanto ao prazo, o aterro estaqueado necessita de cerca de 2 meses para ser concluído, prazo este que pode diminuir com o emprego de maior quantidade de equipes trabalhando paralelamente. Já o aterro sobre drenos requer cerca de 19 meses para estabilização dos recalques, e cerca de 85% desse prazo é devido ao tempo necessário para dissipações das poropressões geradas pelo alteamento do aterro, não sendo possível a sua redução pela contratação de maior força de trabalho. Quanto ao impacto ambiental, a alternativa sobre drenos necessita de mais aterro pois, além do corpo do aterro, há ainda as bermas, a perda por submersão e a sobrecarga que, apesar de ser temporária, tem de ser retirada e depositada em algum local, o que implica impactos ambientais quanto a empréstimos e bota-foras. 61 As estimativas de custos construtivos realizadas mostraram que o aterro sobre drenos custaria cerca de R$ 56 milhões, enquanto o aterro sobre estacas custaria aproximadamente R$ 98 milhões. Com a análise, foi possível concluir que, para ferrovias, a alternativa do aterro sobre drenos somente será possível de ser implantada se a espessura e os parâmetros geotécnicos (umidade, coeficiente de compressão, índice de vazios, coeficiente de adensamento vertical, entre outros) da camada de argila mole forem tais que os recalques primários e secundários possam ser estabilizados em sua totalidade antes da ferrovia entrar em serviço. Caso contrário, a restrição técnica do recalque aponta o aterro sobre estacas com reforço de geogrelha como solução. Recomenda-se que estudos futuros sejam realizados com avaliação de outras alternativas construtivas para aterros de ferrovias, como colunas de brita ou aterros sobre laje de concreto armado e estacas. 62 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT (1995) NBR 6502: Rochas e solos – terminologia. Abramson, L. W., Lee, T. S., Boyce, G. M., Sharma, S. S. (1995) Slope stability and stabilization methods, John Wiley and Sons, New York, 552 p. Almeida, M. 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