O PAPEL DOS OS ESPAÇOS PEDAGÓGICOS ESCOLARES
NO DESENOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DAS PRÁTICAS
DE LEITURA
SAMPAIO, Wany Bernardete de Araujo1 - UNIR
Grupo de Trabalho – Práticas e Estágios nas Licenciaturas
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Este trabalho apresenta um relato de experiência vivenciada com estagiários da Prática de Ensino
de Língua Portuguesa e Literatura do curso de Letras-Português da Universidade Federal de
Rondônia, durante os anos de 2010 e 2011. a partir da realização do Projeto Integrado de Ensino
Pesquisa e Extensão “Redes de Leitura”, cujo objetivo primeiro se voltava para a mobilização da
leitura e a ressignificação da sala de leitura como espaço de estímulo e valorização das práticas da
leitura literária no contexto escolar. Durante o ano de 2010, as atividades do Projeto foram
desenvolvidas em duas escolas públicas estaduais e, em 2011 foi agregada mais uma escola,
totalizando, assim, três escolas; são escolas grandes, das mais antigas na cidade, funcionam nos
três turnos, com um grande número de alunos, professores e funcionários. As escolas campo que
se dispuseram a participar do projeto, entretanto, não possuíam salas de leitura (ou, se possuíam,
subutilizavam-nas): em uma das escolas a sala de leitura era utilizada como depósito de livros e
materiais didáticos raramente utilizados pelos professores e alunos; em outra, a sala de leitura
permanecia sempre fechada por falta de funcionário e, por isso, os estagiários não poderiam ter
acesso a esse espaço, dado que não haveria ninguém na escola para fazer o acompanhamento dos
estagiários; a terceira escola desativou a sala de leitura para transformá-la em sala de aula, tendo
sido o material de leitura colocado na biblioteca escolar, à disposição dos alunos e professores.
Por tal motivo, o projeto precisou ser redimensionado para outros espaços escolares; tal
redimensionamento, de certa forma, contribuiu bastante para o enriquecimento dos estágios
supervisionados, pois proporcionou aos estagiários e seus orientadores uma nova reflexão sobre a
educação escolar, em especial sobre a sustentabilidade das práticas de leitura literária nos espaços
pedagógicos no interior da escola.
Palavras-Chave: Espaços pedagógicos; Sustentabilidade das práticas de leitura literária na
escola; Prática de ensino.
1
Doutora em Linguística; Doutora em Educação, Pós-Doutora em Psicologia da Linguagem. Líder do Grupo de
Estudos em Cultura, Educação e Linguagens/UNIR/CNPq. Universidade Federal de Rondônia, Brasil.
[email protected]
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Introdução
A formação de leitores tem sido uma das grandes preocupações da educação escolar,
considerando-se que a leitura é condição básica para o acesso aos bens culturais da
humanidade. É função da escola, portanto, proporcionar espaços e tempos para a leitura e, em
especial, para a prática da leitura literária enquanto bem cultural. Para grande parte dos alunos
que frequentam as redes públicas de ensino, a escola é o único espaço em que poderão ter
acesso a tal prática, visto que, em suas casas, no seio familiar muitas vezes desestruturado,
não há espaço para o estudo, tampouco é cultivado o habitus de ler.
Fui professora da disciplina de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, orientadora de
estagiários e também coordenadora dos estágios supervisionados do curso de Letras da
Universidade Federal de Rondônia durante mais de dez anos, trabalhando sempre em parceria
com as professoras da disciplina de Prática de Ensino de Literatura. Nossa preocupação foi
sempre com a formação de alunos leitores e escritores; por isso, sempre procuramos trabalhar
com os estagiários no sentido de que eles, nas suas práticas de ensino, buscassem incentivar
nos seus alunos as práticas de leitura, escrita e análise linguística. Assim, criamos, em
conjunto, um projeto integrado de ensino, pesquisa e extensão, chamado Redes de Leitura, o
que nos proporcionou uma reflexão maior sobre o papel dos espaços pedagógicos escolares
no desenvolvimento sustentável das práticas de leitura.
O Projeto Redes de Leitura tem como objetivo geral o desenvolvimento de práticas de
ensino, pesquisa e extensão através do Estágio Supervisionado das disciplinas de Prática de
Ensino de Língua Portuguesa I e II e Prática de Ensino de Literatura I e II, introduzindo o
estagiário no contexto do cotidiano escolar (SAMPAIO, 2011).
Como objetivos específicos, o projeto busca:
(i)
mobilizar a leitura e a escrita na escola;
(ii)
ressignificar as salas de leitura no contexto escolar; estimular a valorização da
leitura e da escrita no cotidiano escolar;
(iii)
oportunizar o acesso à literatura enquanto arte popular e letrada.
Neste trabalho, pretendo relatar a experiência vivenciada a partir do Projeto Redes de
Leitura, durante os anos de 2010 e 2011. Para fins da exposição deste relato, organizei o
presente texto em duas seções: na primeira, apresento o relato das atividades do projeto
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desenvolvido e, na segunda, teço uma breve reflexão sobre a questão da sustentabilidade das
práticas de leitura nos espaços pedagógicos no interior da escola.
O Projeto Redes de Leitura
Durante o ano de 2010, as atividades do projeto Redes de Leitura foram desenvolvidas em
duas escolas públicas estaduais e, em 2011 foi agregada mais uma escola, totalizando, assim, três
escolas, sendo uma delas localizada na região central (mas que atende, na maioria, alunos
oriundos de bairros da periferia), uma em um bairro próximo ao centro e outra em um bairro da
zona sul da cidade. São escolas grandes, das mais antigas na cidade, funcionam nos três turnos,
com um grande número de alunos, professores e funcionários.
Com o projeto Redes de Leitura, nós, professores orientadores e estagiários, pensávamos
em mobilizar o espaço pedagógico chamado sala de leitura, pois sabíamos que este era um
espaço subutilizado em muitas escolas. Queríamos dar significado a este espaço, como um lugar
em que os alunos se sentissem incentivados e estimulados às práticas de leitura, já que nas
observações de aulas feitas pelos estagiários havia sido detectada a pouca prática de leitura nas
aulas de língua portuguesa, tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio; as aulas eram
quase que totalmente destinadas a conteúdos de gramática.
No Ensino Fundamental, a leitura literária é praticamente inexistente; raros são os
professores que fazem atividades de leitura em sala de aula, tais como roda de leitura, círculo de
livros, biblioteca de classe, caixinha da leitura, cantinho da leitura, etc. Quando os alunos lêem um
livro (muitas vezes apenas um livro no bimestre), tal leitura é pouco aproveitada, servindo apenas
para se fazer um resumo, uma prova, ou uma atividade didática menos relevante.
Nas aulas de literatura, no Ensino Médio, dedica-se a maior parte da carga horária aos
estudos da História da Literatura, estilos de época, biografias dos autores, características das obras
e personagens. A leitura e a discussão das obras literárias, de fato, não acontecem; os estudantes
só conhecem as obras através de resumos disponíveis na internet.
Assim, pensávamos que ressignificar a sala de leitura poderia contribuir muito para
mobilizar a leitura literária no interior do ambiente escolar, estendendo a leitura, quem sabe, ao
espaço doméstico em que vivem os alunos, atingindo também suas famílias.
Para minha surpresa, enquanto uma das orientadoras dos estagiários, as escolas não
utilizavam as salas de leitura para tal fim: uma das escolas usava a sala de leitura como
depósito de materiais didáticos (especialmente livros didáticos) que raramente são utilizados
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pelos professores e alunos; em outra, a sala de leitura permanece sempre fechada por falta de
funcionário e, por tal fator, os estagiários não poderiam ter acesso a esse espaço, pois não
haveria ninguém na escola para fazer o acompanhamento dos estagiários enquanto eles
estivessem naquele espaço; a terceira escola precisou desativar a sala de leitura para
transformá-la em sala de aula, tendo sido o material de leitura colocado na biblioteca escolar,
à disposição dos alunos e professores.
Diante disso, os estagiários ficaram atônitos: como encaminhar um projeto que se
centrava nas salas de leitura se as escolas não têm salas de leitura? O que fazer? Neste
momento, então, redimensionamos todo o trabalho e voltamo-nos para o conceito de espaço
pedagógico no interior da escola; é claro que o objetivo do trabalho deixou de ser a
ressignificação da sala de leitura e passou a ser a ressignificação da leitura literária no
ambiente escolar; assim, foram utilizados todos os espaços disponíveis nas escolas: biblioteca
escolar, sala de vídeo, auditório, quadra, pátio, salas de aula, laboratórios de informática.
Assim, com um novo propósito, através do Projeto Redes de Leituras, foi
desenvolvido um trabalho de incentivo à leitura e escrita com os alunos da Educação Básica,
nas modalidades de Ensino Regular e EJA, nos turnos matutino, vespertino e noturno. A
mobilização da leitura e da escrita nas escolas, através da ressignificação das salas de leitura e
outros espaços escolares foi desenvolvida em quatro eixos temáticos:
Contos, Mitos e Lendas – tal eixo buscou envolver não apenas os clássicos, mas
também (e, sobretudo) enfocar os textos relativos às culturas amazônicas;
Narrativas – este eixo procurou aprofundar os conhecimentos acerca dos elementos
estruturais da narrativa, com vistas a possibilitar aos alunos mais habilidade na arte de narrar,
sendo sujeitos narradores de suas próprias histórias;
Poesia – este eixo procurou valorizar a poesia, pois este gênero tem sido pouco lido,
pouco aproveitado na escola;
Autores atuais da Literatura Infanto-Juvenil – este eixo procurou trazer aos alunos
conhecimento sobre obras de autores contemporâneos.
Tais eixos temáticos foram selecionados pelos estagiários e professores orientadores
dos estágios; a partir destes eixos, os estagiários, em pequenos grupos, elaboraram seus
próprios subprojetos a serem por eles aplicados na escola em que estavam inseridos.
Tomando a leitura literária como elemento norteador das práticas pedagógicas, os
estagiários atuaram no ensino de língua e literatura de forma a desenvolver as três práticas
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preconizadas pelos parâmetros Curriculares Nacionais: Práticas de Leitura; Práticas de
Escrita; Práticas de Análise Lingüística. Através de tais práticas, os alunos do Ensino
Fundamental e Médio foram estimulados à leitura e produção de textos orais e escritos,
verbais e não-verbais, de diferentes tipos e gêneros em circulação na sociedade, utilizando de
forma adequada as variações linguísticas do português; além disso, as práticas de leitura
oportunizaram a apreciação da literatura enquanto arte nas suas formas popular e letrada.
Resultados Alcançados
Nos dois anos em que participei do projeto, as atividades do primeiro semestre foram
desenvolvidas com alunos do sexto ao nono ano do Ensino Fundamental; no segundo
semestre, com alunos do primeiro ao terceiro ano do Ensino Médio. A cada semestre, o
trabalho se dava em duas fases. A primeira fase (mais ou menos um mês) era destinada à
realização de visitas às escolas para conhecimento da estrutura física e administrativa; quais
os programas e projetos desenvolvidos; o corpo técnico, docente e discente. Depois disso,
eram realizadas duas reuniões em cada escola, envolvendo as equipes técnicas e os
professores de língua portuguesa e literatura, os coordenadores do projeto Redes de Leitura e
os alunos universitários, a fim de definir cronogramas e demais particularidades dos trabalhos.
A segunda fase (mais ou menos três meses letivos) se destinava à mobilização da leitura no
interior do ambiente escolar. Diante da indisponibilidade de sala de leitura nas escolas, as
atividades foram desenvolvidas em outros espaços escolares, tais como: biblioteca escolar,
sala de vídeo, auditório, quadra, pátio, salas de aula e laboratórios de informática.
De certo modo, a utilização desses espaços foi muito produtiva. Os estagiários
conseguiram realizar, com os alunos da Educação Básica, muitas atividades interessantes e
diferenciadas, anteriormente pouco vivenciadas pelos alunos, tais como:
• exposição de livros
• feira de leitura
• debates sobre obras lidas
• aulas campo
• palestras com os professores e alunos
• produção textual verbal e não-verbal pelos alunos
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• exposição de textos em varais, cordéis e murais, envolvendo diferentes gêneros e
suportes textuais
• criação de grupos de teatro nas escolas a partir de trabalhos de dramatização de textos
lidos e/ou produzidos pelos alunos.
Além disso, foram desenvolvidas aulas de leitura para “reforço” com alunos que
apresentavam baixo rendimento em outras disciplinas, em decorrência de dificuldades na
leitura, o que prejudicava a compreensão dos conteúdos, especialmente em Matemática,
História e Geografia.
De acordo com os nossos registros, foram diretamente beneficiados pelo projeto,
durante os anos de 2010 e 2011, cerca de 3.000 alunos da Educação Básica e 54 estagiários do
Curso de Letras.
Avaliação do projeto Redes de Leitura
Embora o projeto Redes de Leitura tenha sido redimensionado quanto ao espaço,
seus objetivos foram atingidos, visto que a maioria dos alunos da Educação Básica participou
ativamente de todas as atividades propostas, realizando leituras e empréstimos de livros,
expondo seus textos, debatendo, dramatizando, etc. Até mesmo os professores das escolas
participantes comentaram a respeito de melhorias no rendimento escolar dos estudantes. Isto
sugere que os alunos gostam de ler, sim, mas a escola “não tem tempo nem espaço” para as
práticas de leitura literária.
Por outro lado, a ação integradora de ensino/pesquisa/extensão vinculada ao
estágio supervisionado proporcionou aos estudantes universitários uma visão diferenciada do
fazer pedagógico no que toca ao significado da leitura para a formação e desenvolvimento
humano e social da pessoa.
O projeto foi avaliado pelos professores regentes (língua portuguesa e literatura)
das três escolas parceiras, através de instrumento fornecido pela coordenação dos estágios
supervisionados do Curso de Letras; todos os professores consideraram o projeto
extremamente positivo e se dispuseram a dar continuidade ao trabalho nos anos seguintes.
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Reflexão: qual o papel dos os espaços pedagógicos escolares no desenvolvimento
sustentável das práticas de leitura?
Muitas questões foram motivadas pelo fato de que as escolas não possuíam o espaço
“sala de leitura”. Como estimular as práticas de leitura no ensino de língua e literatura,
instituídas pelos PCN e tão largamente preconizadas aos estagiários, futuros professores?
Como aliar as teorias aprendidas na formação acadêmica à prática pedagógica no espaço
escolar? Como dar sustentabilidade às práticas da leitura literária na escola se a escola não
tem tempo nem espaço para tais práticas?
Para realizar esta reflexão junto aos estagiários, foi necessário, antes de tudo, retomar
duas noções fundamentais: (i) espaço e espaço pedagógico; (ii) sustentabilidade e
desenvolvimento humano sustentável.
Sobre as noções de espaço e espaço pedagógico
Todo espaço se constitui como um lugar físico que possui uma estrutura cultural; tal
estrutura, por sua vez, organiza as relações sociais que acontecem neste espaço. A escola,
enquanto espaço pedagógico, se caracteriza pelas suas práticas pedagógicas. Segundo Estrela
(2002) a escola é um lugar físico destinado a transmitir um SABER, mas é também uma
estrutura de origem cultural que favorece, apoia e organiza a relação pedagógica.
Como um espaço educativo, a escola se constitui de espaços meramente pedagógicos;
espaços de lazer; espaços administrativos; espaços comuns; espaços mistos; espaços
privados/restritos. Os espaços pedagógicos têm, entre outras, as seguintes funções: (i)
desenvolver competências e habilidades; (ii) promover a identidade pessoal, as oportunidades
de crescimento, a interação social, a segurança e confiança (ESCALLIER, 2010).
No
contexto escolar, a sala de aula é um local de socialização, um lugar da vida, da descoberta do
humano, na qual se constrói e se negocia a realidade na trama das relações sociais.
(FREITAS, 2003).
Muito embora a escola seja o espaço socialmente legitimado como espaço pedagógico,
qualquer espaço, tanto no interior quanto além da escola, pode se tornar pedagógico. Com
base neste princípio, não seria algo difícil redimensionar o projeto para outros espaços
escolares, pois a organização do espaço físico e do tempo é uma decisão pedagógica.
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Assim, se a escola não organiza o tempo e o espaço que permitam a sustentabilidade
das práticas de leitura literária, é porque não tomou uma decisão pedagógica no sentido de
estabelecer a leitura como uma política da própria escola, visando permitir o acesso dos
alunos à literatura como um bem cultural, artístico, necessário ao desenvolvimento e à
autonomia dos estudantes enquanto cidadãos, leitores e pessoas humanas.
Vimos, em nossa reflexão que, se a escola adotar uma política de leitura, ela pode
aproveitar-se não apenas dos espaços físicos interiores e/ou exteriores, mas também os
espaços pedagógicos virtuais e os espaços sociais em rede através das tecnologias de
informação e comunicação; constatamos, porém, que os espaços como sala de informática e
sala de vídeo são pouquíssimo utilizados, mormente porque os professores, na maioria, não
sabem, ou não gostam, ou não destinam tempo ao seu uso.
Desta forma, os espaços pedagógicos no interior da escola, da forma como são
utilizados (ou melhor, não são), não têm contribuído muito para o desenvolvimento
sustentável das práticas de leitura literária no contexto escolar, tampouco para o
desenvolvimento humano social e sustentável dos estudantes.
Sobre as noções de sustentabilidade e desenvolvimento humano sustentável
A noção de Desenvolvimento que eu trago para esta reflexão é a do Desenvolvimento
Humano, Social e Sustentável (PAULA, 2001) porque esta noção me parece bastante atual,
em termos filosóficos e sociológicos. É claro que suas metodologias têm sofrido
reformulações e adaptações ao longo dos anos. O Desenvolvimento Humano, Social e
Suste1ntável compreende um processo de articulação entre os capitais: humano (pessoas),
social (comunidade), natural (bens naturais) e empresarial (capacidade empreendedora). É
somente pela articulação indispensável desses componentes que podemos assumir o
desenvolvimento e sua sustentabilidade.
Segundo Franco (2002), para haver desenvolvimento “é necessário que haja alteração
do capital humano e do capital social; tais alterações devem garantir uma congruência
dinâmica com o meio, uma capacidade continuamente construída e reconstruída de adaptação
e de conservação da adaptação”. Para o autor, o conceito de sustentabilidade é inerente ao
conceito de desenvolvimento e todo desenvolvimento é social. Segundo ele, “quando se diz
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que todo desenvolvimento é social, é isso, precisamente, o que se está dizendo:
desenvolvimento das pessoas, de todas as pessoas, das que estão vivas hoje e das que viverão
amanhã. Em outras palavras: desenvolvimento humano, social e sustentável”. (FRANCO,
2002, p. 53)
Depreende-se daí, portanto, que a noção de desenvolvimento apenas como
crescimento econômico, não é satisfatória, pois não pode dar conta de combater a pobreza e a
exclusão social; se as pessoas não desenvolvem sua capacidade de buscar seus sonhos e ideais
particulares e também de buscar, coletivamente, os ideais das comunidades em que vivem,
visando o bem-estar para todos, no hoje e no amanhã, não há desenvolvimento sustentável.
Assim, o desenvolvimento social sustentável é, acima de tudo, uma questão política.
Ora, se temos a leitura como condição sine qua non para o desenvolvimento humano e
se tais práticas não são sustentadas pela escola, então não estamos formando leitores;
portanto, não estamos investindo no desenvolvimento humano, social e sustentável, ou seja,
não estamos desenvolvendo as pessoas.
A pessoa que sabe ler tem a oportunidade de se tornar mais humana, mais
participativa, mais esclarecida; aprender a ler é sair da cegueira, da escuridão. Ensinar a ler
(não apenas a decodificar) é oportunizar às pessoas o acesso ao conhecimento acumulado no
mundo, aos bens culturais, à arte, enfim. Ler é uma atividade fundamental na vida das
pessoas.
A leitura literária, por seu turno, revela-nos mundos outros em que podemos viajar,
conhecer personagens, fatos, espaços, tempos, atitudes narrativas, sons, imagens, poesia... A
literatura mostra o uso artístico da língua, o belo.
Como a instituição socialmente responsável pela educação, a escola precisa investir
mais esforços na formação de leitores, garantindo espaços, tempos e ações para a
sustentabilidade das práticas de leitura.
Considerações finais
Com a aplicação do Projeto Redes de Leitura (especialmente pela necessidade de seu
redimensionamento espacial), podemos afirmar que todos os espaços no interior da escola
podem se transformar em espaços pedagógicos que propiciem aos estudantes o acesso à
leitura literária e à literatura como bem cultural.
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Vimos que, no interior da escola, unicamente a sala de aula tem sido tomada como um
espaço eminentemente pedagógico; porém, neste espaço, não há tempo para a leitura literária,
pois isto prejudicaria o andamento dos conteúdos escolares; os demais espaços, por sua vez,
são espaços “inexistentes e invisíveis” para as práticas de leitura.
Um fato deveras relevante e que, possivelmente, traz sérias contribuições para que a
sala de aula seja esse espaço unicamente de transmissão de conteúdos, com baixo índice de
mobilização de práticas de leitura, é que as escolas públicas estão sucateadas, professores
tomados pelo mal-estar docente, ameaçados pela violência escolar, submetidos a trabalhar por
baixos salários e vitimados socialmente pela desvalorização profissional. Há muita
indisciplina desrespeito interpessoal e falta de humanidade no interior dos espaços escolares.
Por outro lado, não podemos olvidar o fato de que os alunos que frequentam as escolas
públicas são oriundos das classes e frações de classes menos privilegiadas economicamente;
são alunos de famílias pobres, com baixo poder aquisitivo. Tais alunos, provavelmente, têm
na escola a única referência para as práticas de leitura: a escola, portanto, não pode lhes negar
esta oportunidade.
Os alunos GOSTAM de ler; faltam-lhes o incentivo e os espaços escolares que
garantam o acesso ao direito de aprender a apreciar a literatura como arte, como bem cultural
e ter a leitura como condição fundamental para o seu desenvolvimento humano e social.
O redimensionamento espacial do projeto Redes de Leitura fez com que os estagiários
pudessem perceber que teoria e prática se constituem como um binômio inalienável e que é
possível, pela tomada de decisão político-pedagógica, transformar os espaços disponíveis em
espaços que proporcionem a sustentabilidade das práticas da leitura literária na escola,
promovendo o desenvolvimento humano social e sustentável.
REFERÊNCIAS
ESCALLIER, C. Arquitectura escolar e identidade: o espaço pedagógico como instrumento
de aprendizagem. CRIA e Universidade da Madeira,
Madeira, Portugal, 2010, disponível em www3.uma.pt/blogs/christineescallier/.../cubaped.pdf. acesso em 2010.
ESTRELA, M. T. Relação pedagógica, disciplina e indisciplina na aula. Porto: Porto Editora,
2002 (Coleção Ciências da Educação).
23509
FREITAS, T.M.C. O fracasso dos jovens frente ao processo de leitura e escrita: suas
causas, implicações e consequências.
http://www.dislexia.org.br/material/artigos/artigo010.html, acesso em 2010.
FRANCO, Augusto de. Pobreza & Desenvolvimento Local. Brasília: ARCA, Sociedade do
Conhecimento, 2002.
PAULA, Juarez de. Democracia e desenvolvimento. In: Aminoá-c-idos, n. 01. Brasília: AED,
2001, p. 104-112.
SAMPAIO, W. B. A. Relatório final de projeto de extensão universitária Redes de Leitura.
Porto Velho: UNIR/PROCEA, 2011. (Relatório).
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o papel dos os espaços pedagógicos escolares no desenolvimento