ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO Maj Art CARLOS ALBERTO CAMPOS CASTILHO O Projeto Estratégico Defesa Antiaérea e o seu alinhamento com a Estratégia Nacional de Defesa Rio de Janeiro 2015 Maj Art CARLOS ALBERTO CAMPOS CASTILHO O Projeto Estratégico Defesa Antiaérea e o seu alinhamento com a Estratégia Nacional de Defesa Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares. Orientador: Ten Cel Art JORGE RICARDO DE PAULA LAMELLAS Rio de Janeiro 2015 C352p Castilho, Carlos Alberto Campos O Projeto Estratégico Defesa Antiaérea e o seu alinhamento com a Estratégia Nacional de Defesa. / Carlos Alberto Campos Castilho. − 2015. 52 f. : il ; 30cm. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2015. Bibliografia: f. 49-52. 1. Estratégia Nacional de Defesa. 2. Defesa Antiaérea. I. Lamellas, Jorge Ricardo de Paula. II. Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. III. Título. CDD 355.45 Maj Art CARLOS ALBERTO CAMPOS CASTILHO O Projeto Estratégico Defesa Antiaérea e o seu alinhamento com a Estratégia Nacional de Defesa Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares. Aprovado em _____ de _____________ de 2015. COMISSÃO AVALIADORA __________________________________________________________ JORGE RICARDO DE PAULA LAMELLAS - Ten Cel Art- Ms. Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ___________________________________________ HARYAN GONÇALVES DIAS - Maj Art – Ms. Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ________________________________________________ DOUGLAS MACHADO MARQUES – Maj Art – Ms. Membro Comando da 5ª Divisão de Exército À minha esposa Arlene e minha filha Larissa. Uma sincera homenagem pelo carinho, compreensão, apoio e paciência demonstrados durante a realização deste trabalho. AGRADECIMENTOS À minha amada esposa, Arlene Aparecida Terra Pacini Castilho, pelo carinho e amor demonstrados em nossas vidas. A ti, meu eterno amor e gratidão. À minha filha, Larissa Pacini Castilho, por entender a difícil tarefa do seu pai durante a realização deste trabalho e a ausência por diversas vezes, mesmo estando de corpo presente. Amo você! À minha mãe, e professora de português e literatura, Ana Maria Campos Castilho, pelo amor, constante apoio, incentivo, e pela revisão ortográfica e gramatical do presente trabalho. Ao Tenente-Coronel Jorge Ricardo de Paula Lamellas, orientador deste TCC, meu sincero agradecimento pelo auxílio, paciência e confiança depositada no meu trabalho. Ao General-de-Brigada Guido Amin Naves, ex-Comandante da 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea, pela orientação e auxílio no início do presente trabalho. Ao Tenente-Coronel Robson Lapoente Novaes, do Escritório de Projetos do Exército, ao Major João Travassos de Albuquerque Junior, ao Capitão George Koppe Eiriz e ao Capitão Carlos Roberto Pauloni, instrutores da EsACosAAe, pelo pronto atendimento e a prestimosa colaboração com ideias, sugestões e preciosas informações. Ao Major Pedro Henrique Luz Gabriel, ex-instrutor da seção de pós-graduação da EsAO e companheiro de curso, pela paciência, amizade e auxílio na concretização deste trabalho. RESUMO Em 2005, o governo federal lançou a Política Nacional de Defesa, estabelecendo objetivos e orientações para o preparo e o emprego dos diversos setores da sociedade, em favor da Defesa Nacional. Nesse contexto, foi aprovada, em 2008, a Estratégia Nacional de Defesa, buscando, com ações de médio e longo prazo, modernizar a estrutura nacional de defesa, por meio da reorganização das Forças Armadas, da reestruturação da indústria brasileira de defesa e da atuação na política de composição de efetivos das Forças Armadas. Para atender ao estabelecido na Estratégia Nacional de Defesa, o Exército Brasileiro estabeleceu diversos projetos estratégicos, dentre os quais o que visa à reestruturação da Defesa Antiaérea, por meio do desenvolvimento e da aquisição de novos materiais de emprego militar. Palavras-chave: Estratégia Nacional de Defesa; Defesa Antiaérea. ABSTRACT In 2005 , the federal government launched the National Defence Policy, establishing objectives and guidelines for the preparation and the use of various sectors of society, in favor of National Defence. In this context, was approved, in 2008, the National Defense Strategy, seeking, with shares of medium and long term, to modernize the national defense structure through the reorganization of the Armed Forces, the restructuring of the Brazilian defense industry and acting in the effective composition policy of the Armed Forces. To achieve the established in the National Defense Strategy, the Brazilian Army established several strategic projects, among which aimed at the restructuring of Antiaircraft Defense, through the development and acquisition of new materials for military use. Keywords: National Defense Strategy ; Antiaircraft Defense. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AAAe Artilharia Antiaérea Bda AAAe Brigada de Artilharia Antiaérea Bda Cav Bda Brigada de Cavalaria Blindada Bda Inf Bda Brigada de Infantaria Blindada Bx Altu Baixa Altura CF/88 Constituição Federal de 1988 CINDACTA Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo Cmt Comandante COAAe Centro de Operações de Artilharia Antiaérea COLOG Comando Logístico COMDABRA Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro COMGAR Comando Geral do Ar CONDOP Condicionante Doutrinária e Operacional CTEx Centro Tecnológico do Exército DA Ae Defesa Antiaérea D Aepc Atv Defesa Aeroespacial Ativa D Mat Diretoria de Material EB Exército Brasileiro ECEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exército EME Estado-Maior do Exército EMG Estrutura Militar de Guerra END Estratégia Nacional de Defesa EPEx Escritório de Projetos do Exército EsACosAAe Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea EsAO Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais ESG Escola Superior de Guerra EVTE Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica FA Forças Armadas FAB Força Aérea Brasileira FAC Força Aérea Componente FINEP Financiadora de Estudos e Projetos GT Grupo de Trabalho GTI Grupo de Trabalho Interministerial HE Hipótese de Emprego MB Marinha do Brasil MD Ministério da Defesa Me Altu Média Altura Msl Míssil OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte PCTEG Polo de Ciência e Tecnologia do Exército em Guaratiba PEE Projeto Estratégico do Exército PND Política Nacional de Defesa PRODE Produto de Defesa PROFORÇA Projeto de Força do Exército Brasileiro PROTEGER Sistema Integrado de Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres RBS Robotik System RDA Região de Defesa Aeroespacial RECOP Recuperação da Capacidade Operacional da Força Terrestre RFI Request for Information RIS DA Ae Reunião de Integração Sistêmica do Sistema Operacional Defesa Antiaérea ROC Requisitos Operacionais Conjuntos ROB Requisitos Operacionais Básicos RTB Requisitos Técnicos Básicos SCh Subchefia SIAAEB Projeto do Sistema Integrado de Artilharia Antiaérea SIDOMT Sistema de Doutrina Militar Terrestre SISDABRA Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro SISFRON Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras TCC Trabalho de Conclusão de Curso TI Tecnologia de Informação TN Território Nacional TO Teatro de Operações VANT Veículos Aéreos Não-Tripulados VBC Viatura Blindada de Combate ZI Zona de Interior SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 12 1.1 PROBLEMA .............................................................................................. 13 1.2 OBJETIVOS ............................................................................................. 13 1.2.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 13 1.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 13 1.3 HIPÓTESE ............................................................................................... 13 1.4 VARIÁVEIS ............................................................................................... 14 1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ................................................................... 14 1.6 RELEVÂNCIA DO ESTUDO .................................................................... 14 2 METODOLOGIA ...................................................................................... 16 2.1 TIPO DE PESQUISA ................................................................................ 16 2.2 UNIVERSO E AMOSTRA ......................................................................... 17 2.3 COLETA DE DADOS ............................................................................... 17 2.4 TRATAMENTO DOS DADOS .................................................................. 17 2.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ..................................................................... 18 3 ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA – DESCRIÇÃO ....................... 19 3.1 HISTÓRICO .............................................................................................. 19 3.2 A POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA ..................................................... 19 3.3 A ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA ............................................... 22 4 O PROJETO ESTRATÉGICO DEFESA ANTIAÉREA ............................ 28 4.1 CRONOLOGIA ......................................................................................... 28 4.1.1 Ano de 2008 ............................................................................................ 28 4.1.2 Ano de 2010 ............................................................................................ 28 4.1.3 Ano de 2011 ............................................................................................ 28 4.1.4 Ano de 2012 ............................................................................................ 29 4.1.5 Ano de 2013 ............................................................................................ 30 4.1.6 Ano de 2014 ............................................................................................ 30 4.2 OBJETIVOS DO PROJETO ..................................................................... 31 4.2.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 31 4.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 31 4.3 O PROJETO ESTRATÉGICO .................................................................. 32 4.4 A ARTILHARIA ANTIAÉREA DE BAIXA ALTURA ................................... 36 4.4.1 Sistema AAe GEPARD ........................................................................... 37 4.4.2 Sistema AAe RBS 70 .............................................................................. 39 4.5 A ARTILHARIA ANTIAÉREA DE MÉDIA ALTURA .................................. 41 4.6 RADAR SABER M60 ................................................................................ 42 4.7 RADAR SABER M200 .............................................................................. 43 5 CONCLUSÃO .......................................................................................... 46 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 49 12 1 INTRODUÇÃO Em 2005, o governo federal lançou a Política Nacional de Defesa (PND), voltada ao planejamento de ações que têm por objetivo a defesa nacional. Tendo como foco principal as ameaças externas, estabeleceu objetivos e orientações para o preparo e o emprego dos diversos setores da sociedade, em favor da Defesa Nacional (BRASIL, 2005). Nesse contexto, em 18 de dezembro de 2008, foi aprovada, pelo então Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por intermédio do Decreto nº 6.703, a Estratégia Nacional de Defesa (END). Este documento é baseado em ações de médio e longo prazo que têm por finalidade modernizar a estrutura nacional de defesa, atuando na reorganização das Forças Armadas (FA), na reestruturação da indústria brasileira de defesa e na política de composição de efetivos das Forças Armadas (BRASIL, 2008). Buscando atender ao estabelecido a cada Força pela Estratégia Nacional de Defesa, o Comandante do Exército entregou ao Ministério da Defesa (MD), em 2009, a Estratégia Braço Forte, constando planos de estruturação e equipamentos (BRASIL, 2010). A Estratégia Braço Forte abarcou, dentre outros, Projetos Estratégicos do Exército (PEE), a saber: Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON), Sistema Integrado de Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres (PROTEGER), Defesa Cibernética, Projeto Guarani, Defesa Antiaérea (DA Ae), Projeto Estratégico Astros 2020 e Recuperação da Capacidade Operacional da Força Terrestre (RECOP). Dentre os PEE, destaca-se o Projeto Estratégico Defesa Antiaérea, destinado: [...] à atualização do sistema de Defesa Antiaérea existente, já bastante defasado, com vistas a atender às exigências da Estratégia Nacional de Defesa e às do Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA), particularmente em face das necessidades de defesa das estruturas estratégicas (infraestruturas críticas) e das obrigações decorrentes da realização no Brasil de grandes eventos internacionais como a Copa das Confederações, em 2013; a Copa do Mundo de Futebol, em 2014; e os Jogos Olímpicos de 2016. (NOVAES, 2011, p. 30) O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) analisou o Projeto Estratégico Defesa Antiaérea e o seu alinhamento com a Estratégia Nacional de Defesa. 13 1.1 O PROBLEMA É possível notar, no contexto acima descrito, que a END e o PEE DA Ae, mesmo estando relacionados, apresentam-se em momentos distintos: a primeira pressupõe a necessidade de modernização das Forças Armadas, e, o segundo pretende atender a objetivos mais imediatos, como a realização de grandes eventos no País. Nesse sentido, emergiu a problemática do presente trabalho: de que forma o Projeto Estratégico Defesa Antiaérea está, de fato, alinhado com a Estratégia Nacional de Defesa? 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Geral Este TCC verificou, de uma maneira geral, o alinhamento entre um projeto político, a Estratégia Nacional de Defesa, e um dos projetos estratégicos para a Força, o projeto Defesa Antiaérea. 1.2.2 Objetivos Específicos Este TCC, ainda, de uma forma mais específica, descreveu: a Estratégia Nacional de Defesa, com enfoque nas diretrizes atinentes ao Exército Brasileiro (EB) e, em especial, à Defesa Antiaérea; e, o Projeto Estratégico Defesa Antiaérea, analisando o seu alinhamento com a Estratégia Nacional de Defesa. 1.3 HIPÓTESE Em razão da Estratégia Nacional de Defesa ser um documento elaborado por uma comissão composta pelo Ministério da Defesa e pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, e aprovado pelo Presidente da República, e o Projeto Estratégico Defesa Antiaérea ter sido produzido no âmbito do Comando 14 do Exército, em princípio, deveriam estar alinhados, uma vez que há uma hierarquia entre estes documentos (GOMES FILHO, 2014). Neste sentido, formulou-se a seguinte hipótese: um documento de Estado, a Estratégia Nacional de Defesa, obriga que os projetos das Forças estejam alinhados consigo. 1.4 VARIÁVEIS Considerando que o tema do presente TCC relacionou o Projeto Estratégico Defesa Antiaérea com a Estratégia Nacional de Defesa, as circunstâncias que influenciaram o presente trabalho foram o Projeto Estratégico Defesa Antiaérea – variável dependente – e a Estratégia Nacional de Defesa – variável independente. 1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO Este TCC delimitou-se, cronologicamente, a partir de 2008, quando da publicação da Estratégia Nacional de Defesa e dos Projetos subsequentes, os quais surgiram em decorrência da primeira, até os dias atuais. Com relação ao tema, este TCC limitou-se ao Projeto Estratégico Defesa Antiaérea, seus documentos oficiais (fontes primárias) e a textos acadêmicos, como artigos e monografias relacionadas ao tema. 1.6 RELEVÂNCIA DO ESTUDO O presente TCC justificou-se, na medida em que possibilitou compreender as intenções político-estratégicas da Estratégia Nacional de Defesa, explorar o processo de transformação do Exército Brasileiro e aumentar o cabedal de conhecimentos acerca do Projeto Estratégico do Exército Defesa Antiaérea. Ademais, foi importante, pois permitiu ampliar a compreensão das relações civis-militares no Brasil contemporâneo, a partir da análise de documentos de Estado e de âmbito institucional do Exército Brasileiro. 15 Desse modo, enfatiza-se que o problema levantado pôde trazer benefícios para a Força Terrestre, uma vez que apresentou reflexões e novas ideias com vistas ao conhecimento sobre Defesa Nacional, e trouxe à tona a questão dos Projetos Estratégicos da Força em relação ao seu direcionamento provido pelo Estado. 16 2 METODOLOGIA O presente trabalho de pesquisa foi efetuado em duas fases distintas: em um primeiro momento, estabeleceu-se os aspectos mais importantes da Estratégia Nacional de Defesa, a partir do estudo sistemático deste documento e de outros, como a PND; em um segundo momento, direcionou-se a investigação ao PEE DA Ae a partir de uma pesquisa eminentemente bibliográfica em documentos oficiais, artigos, trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses disponíveis na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), na Escola Superior de Guerra (ESG), na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) e na Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe). 2.1 TIPO DE PESQUISA De acordo com Minayo et al. (2004, p. 43), o presente TCC se caracterizou por ser qualitativo, uma vez que não calcou-se em critérios numéricos de forma a garantir representatividade, mas no estudo de trabalhos acadêmicos e publicações versando sobre a END e o PEE DA Ae. Este trabalho pôde, ainda, ser considerado como exploratório, tendo em vista que abarcou levantamento bibliográfico e documental, com foco no proporcionar desenvolvimento, esclarecimento e modificação de conceitos, visando à formulação de problemas mais precisos que servissem de suporte para futuros estudos. (GIL, 2008, p. 27). Ainda conforme Gil (2008, p. 27), quanto à sua finalidade, pôde ser caracterizado como aplicado: [...] pois depende de suas descobertas e se enriquece com o seu desenvolvimento; todavia, tem como característica fundamental o interesse na aplicação, utilização e consequências (sic.) práticas dos conhecimentos. Sua preocupação está menos voltada para o desenvolvimento de teorias de valor universal que para a aplicação imediata numa realidade circunstancial. Como o presente TCC trabalhou com o desenvolvimento do PEE DA Ae e sua correlação com a END, ficou evidenciado o caráter aplicado, uma vez que está intimamente ligado à aplicação prática dos conceitos constantes dos documentos. 17 Este trabalho desenvolveu-se baseado em material já elaborado, composto, primordialmente de livros, artigos científicos e monografias em geral, adequando-se ao que fora proposto. Como meio de investigação, o presente TCC classificou-se como documental, pois pôde utilizar de consultas a documentos e legislações que estivessem relacionados ao PEE DA Ae e à END, além de documentação interna e oficial, tais como manuais, portarias e mais diversos documentos. 2.2 UNIVERSO E AMOSTRA Em virtude do trabalho ter sido eminentemente bibliográfico, metodologicamente não coube o levantamento de universo e amostra, conforme a metodologia acima descrita. 2.3 COLETA DE DADOS O trabalho de pesquisa bibliográfica foi realizado por meio de consultas às bibliotecas da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, da Escola Superior de Guerra, da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Também foi realizada uma pesquisa documental nos arquivos do Ministério da Defesa e do Exército Brasileiro. O objetivo principal foi levantar informações em documentos que permitissem a análise do alinhamento entre o PEE DA Ae e a END. 2.4 TRATAMENTO DOS DADOS No que tange ao tratamento dos dados, o presente TCC foi guiado tendo como base a análise de conteúdo. O método sugerido possuiu como principais objetivos, conforme proposto por Gil (2002, p. 77), o seguinte: identificação das informações e dos dados constantes do material textual obtido; estabelecimento das 18 relações entre as informações e os dados obtidos com o problema proposto; e, por fim, análise da consistência das informações a respeito do alinhamento entre o PEE DA Ae e a END. A leitura das obras coletadas obedeceu, de acordo com a análise de sua importância para o assunto da pesquisa, o método preconizado por Gil (2002, p. 77– 80), isto é, foram executadas as leituras exploratórias, seletivas, analíticas e interpretativas das obras monográficas e dos artigos científicos obtidos. Como instrumento de coleta de dados, foram realizados os fichamentos das obras coletadas, de maneira a identificá-las, registrar o seu conteúdo, efetuar o registro dos comentários a seu respeito e ordenar os registros (GIL, 2002, p. 81). 2.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO Segundo Gil (2002, p. 45) a pesquisa bibliográfica é limitada, por possuir: [...]uma contrapartida que pode comprometer em muito a qualidade da pesquisa. Muitas vezes, as fontes secundárias apresentam dados coletados ou processados de forma equivocada. Assim, um trabalho fundamentado nessas fontes tenderá a reproduzir ou mesmo a ampliar esses erros. Esta pesquisa utilizou-se de trabalhos apresentados à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, à Escola Superior de Guerra, à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e à Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea, o que foi uma limitação. A fim de minimizar esta limitação, foram utilizadas, para fins de pesquisa, fontes primárias, como Portarias do Exército Brasileiro e a própria END. 19 3 ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA - DESCRIÇÃO 3.1 HISTÓRICO A Estratégia Nacional de Defesa, ora vigente, é datada de 2013. Porém, o processo de transformação pelo qual passa o Exército Brasileiro, dentro do qual estão incluídos seus diversos Projetos Estratégicos, está balizado, em grande parte, pela Estratégia Nacional de Defesa aprovada pelo presidente Lula em 2008. Desta forma, antes de descrevê-la, é primordial que seja traçado um breve histórico da cultura nacional de defesa. Segundo Ramos (2014), sua cronologia é a seguinte: - A primeira vez que o assunto “defesa” foi tratado em nosso País foi em 1980, quando do surgimento da Política Militar Brasileira; - Em 1993, a Política Militar Brasileira foi atualizada; - Em 1996, foi instituída Política de Defesa Nacional e, em 1998, a Estratégia Militar Brasileira; - Em 1999, foi criado o Ministério da Defesa e, em 2001, estabelecida a Doutrina Militar de Defesa; - Em 2002, foram instituídas a Política Militar de Defesa e a Estratégia Militar de Defesa; - Em 2005, foram estabelecidas a Política Nacional de Defesa, por meio Decreto nº 5.484, de 30 de junho de 2005, e a atual Política Militar de Defesa; - Em 2006, seria instituída uma nova Estratégia Militar de Defesa e, no ano seguinte, a atual Doutrina Militar de Defesa; - Em 2008, foi estabelecida a Estratégia Nacional de Defesa que norteou o processo de transformação do Exército Brasileiro; - Em 2010, foi instituída a atual Estratégia Militar de Defesa e foi criado o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas; e - Em 2013, sob o governo da presidente Dilma Rousseff, foram instituídas a atual Política Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Defesa. 3.2 A POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA 20 A atual Política Nacional de Defesa, instituída por intermédio do Decreto Legislativo nº 373, de 25 de setembro de 2013, durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, é: [...] o documento condicionante de mais alto nível do planejamento de ações destinadas à defesa nacional coordenadas pelo Ministério da Defesa. Voltada essencialmente para ameaças externas, estabelece objetivos e orientações para o preparo e o emprego dos setores militar e civil em todas as esferas do Poder Nacional, em prol da Defesa Nacional. (BRASIL, 2013) É importante ressaltar que a Política Nacional de Defesa trata da Defesa Nacional como sendo de interesse dos setores militar e civil, não dissociando estas duas parcelas da sociedade. Outro aspecto relevante a ser levantado é que a Política Nacional de Defesa trata da Defesa Nacional como assunto pertinente a todos os campos do Poder Nacional, não sendo exclusividade da esfera Militar. A Política Nacional de Defesa pressupõe que a defesa do Brasil é indissociável do seu desenvolvimento, servindo-lhe como escudo (BRASIL, 2013). Na última década, o País passou por um período de grande prosperidade, chegando a alcançar a sexta colocação entre as nações mais ricas do mundo. O Brasil viveu, ainda, um período de grande importância no cenário internacional, com uma política externa bastante atuante em assuntos, por vezes, delicados. A crescente projeção do País no concerto das nações deve ser acompanhada de uma política de defesa adequada, a fim de que disponha de poder dissuasório suficiente para não sofrer ingerências de ameaças externas. Entretanto, para que um nível adequado de segurança ante as ameaças externas seja alcançado, é importante que todos os segmentos da sociedade brasileira sejam conscientizados (BRASIL, 2013). A percepção de ameaças está apagada da memória da maioria esmagadora da população brasileira, em razão de que a última vez em que nosso território e nossa soberania foram ameaçados ter sido na segunda metade do século XIX, por ocasião da Guerra da Tríplice Aliança. A conjuntura atual mostra que os conflitos do século XXI serão em virtude de disputas por áreas marítimas, pelo domínio aeroespacial, por fontes de água doce, por segurança alimentar e por energia, escassos cada vez mais (BRASIL, 2013). O Brasil possui um litoral com mais de 7 mil Km de extensão e uma plataforma continental de cerca de 4,5 milhões de Km2, rica em petróleo e pesca. Possui, também, duas das maiores reservas mundiais de água doce: o Aquífero Alter do 21 Chão, na região Amazônica, e o Aquífero Guarani, na região centro-sul do País. É, ainda, um dos maiores produtores mundiais de alimentos e pioneiro na tecnologia de biocombustíveis. Assim, é um erro acreditar que o Brasil esteja imune a ameaças externas. Desta forma, cresce de importância a adoção de uma política voltada à defesa nacional. Além do já citado, permanece como uma das grandes preocupações mundiais a questão ambiental. O Brasil, possuidor de grande biodiversidade, de enormes reservas de recursos naturais e de grandes áreas a serem incorporadas ao sistema produtivo, pode tornar-se alvo da cobiça internacional (BRASIL, 2013). Nesse contexto, avulta de importância a Defesa Nacional, a qual, para ser atingida em toda sua plenitude, necessita de políticas e estratégias capazes de resguardar os interesses do Brasil no cenário internacional. Como já citado, defesa e desenvolvimento caminham lado a lado. Sendo assim, é primordial o domínio cada vez maior e autônomo de tecnologias sensíveis, em especial nos setores estratégicos espacial, cibernético e nuclear, a fim de que o desenvolvimento e a autonomia do Brasil sejam obtidos (BRASIL, 2013). As dimensões continental, marítima e aeroespacial, esta sobrejacente às duas primeiras são de suma importância para a Defesa Nacional. O controle do espaço aéreo e a sua boa articulação com os países vizinhos, assim como o desenvolvimento de nossa capacitação aeroespacial, constituem objetivos setoriais prioritários. (BRASIL, 2013) Para que estes objetivos setoriais prioritários sejam plenamente alcançados, é necessário grandes investimentos em tecnologias de ponta na Força Aérea Brasileira (FAB), nos sistemas de defesa antiaérea, dentre outros. Estas tecnologias, entretanto, devem ser de domínio nacional, a fim de que o Brasil não fique refém de outros países. A Política Nacional de Defesa elenca uma série de Objetivos Nacionais de Defesa, dentre os quais, para a execução deste trabalho, destacam-se os seguintes: VII – manter Forças Armadas modernas, integradas, adestradas e balanceadas, e com crescente profissionalização, operando de forma conjunta e adequadamente desdobradas no território nacional; VIII – conscientizar a sociedade brasileira da importância dos assuntos de defesa do País; IX – desenvolver a indústria nacional de defesa, orientada para a obtenção da autonomia em tecnologias indispensáveis; X – estruturar as Forças Armadas em torno de capacidades, dotando-as de pessoal e material compatíveis com os planejamentos estratégicos e operacionais; (BRASIL, 2013) 22 Destacam-se, ainda, duas orientações contidas na Política Nacional de Defesa: a de que o “País deve dispor de meios com capacidade de exercer vigilância, controle e defesa: das águas jurisdicionais brasileiras, do seu território e do seu espaço aéreo” e a de que “a capacitação da indústria nacional de defesa, incluído o domínio de tecnologias de uso dual, é fundamental para alcançar o abastecimento de produtos de defesa” (BRASIL, 2013). 3.3 A ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA A Estratégia Nacional de Defesa que norteou o processo de transformação do Exército Brasileiro foi aprovada pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, em seu segundo mandato, por intermédio do Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008, três anos após a instituição da Política Nacional de Defesa então em vigor (BRASIL, 2008). Um ano antes, o Decreto Presidencial de 6 de setembro de 2007, havia criado o Comitê Ministerial de Formulação da Estratégia Nacional de Defesa, o qual era presidido pelo Ministro de Estado da Defesa, coordenado pelo Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos e constituído pelos Ministros do Planejamento, Orçamento e Gestão, da Fazenda e da Ciência e Tecnologia, assessorados pelos Comandantes da Marinha do Brasil (MB), do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira (BRASIL, 2008). Por se tratar de um tema de interesse do Estado brasileiro e de todas as parcelas da sociedade, o Comitê Ministerial supracitado foi assistido por especialistas de diversas áreas afins à END, integrantes de instituições públicas e privadas, além de cidadãos reconhecidamente conhecedores da área de defesa, a fim de que o resultado final alcançado fosse um retrato, o mais fiel possível, dos anseios da nação brasileira (BRASIL, 2008). A END é focada: [...] em ações estratégicas de médio e longo prazo e objetiva modernizar a estrutura nacional de defesa, atuando em três eixos estruturantes: reorganização das Forças Armadas, reestruturação da indústria brasileira de material de defesa e política de composição dos efetivos das Forças Armadas. (BRASIL, 2008) 23 No mesmo contexto, a Constituição Federal do Brasil de 1988 (CF/88), em seu artigo 4º, cita os princípios que regem as relações internacionais do País: Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I – independência nacional; II – prevalência dos direitos humanos; III – autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V – igualdade entre os Estados; VI – defesa da paz; VII – solução pacífica dos conflitos; VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X – concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. (BRASIL, 1988). O Brasil, por se tratar de um país tradicionalmente pacífico, que vive em paz com seus vizinhos sul-americanos, e que tem sua política externa calcada pelos princípios constitucionais da não intervenção, da defesa da paz e da solução pacífica dos conflitos, nunca havia realizado, em sua história, um debate amplo acerca do tema defesa nacional. O que ocorria, de tempos em tempos, era a aquisição de material de emprego militar e a introdução, nas Forças Armadas, de reformas pontuais (BRASIL, 2008). A fim de alcançar seu objetivo – modernizar a estrutura nacional de defesa – a Estratégia Nacional de Defesa, devidamente alinhada à Política Nacional de Defesa, foi estruturada da seguinte forma: Formulação Sistemática e Medidas de Implementação. A Formulação Sistemática busca: [...] orientar de forma sistemática a reorganização e reorientação das Forças Armadas; a organização da indústria de material de defesa, com a finalidade de assegurar a autonomia operacional para as três Forças: a Marinha, o Exército e a Aeronáutica; e a política de composição dos seus efetivos, sobretudo a reconsideração do Serviço Militar Obrigatório. (BRASIL, 2008) As Medidas de Implementação, as quais complementam a formulação sistemática da Estratégia Nacional de Defesa, têm três propósitos: O primeiro é contextualizá-la, enumerando circunstâncias que ajudam a precisar-lhe os objetivos e a explicar-lhe os métodos. O segundo é aplicar a Estratégia a um espectro, amplo e representativo, de problemas atuais enfrentados pelas Forças Armadas e, com isso, tornar mais claras sua doutrina e suas exigências. O terceiro é enumerar medidas de transição que 24 indiquem o caminho que levará o Brasil, de onde está para onde deve ir, na organização de sua defesa. (BRASIL, 2008) Alinhada à Política Nacional de Defesa, a estratégia de defesa nacional é indissociável da estratégia nacional de desenvolvimento, sendo a primeira a proteção para a segunda. Sem um projeto de defesa devidamente adequado, o País jamais terá capacidade de moldar seu modelo de desenvolvimento, uma vez que não poderá enfrentar as grandes potências, quando for necessário fazê-lo (BRASIL, 2008). A Estratégia Nacional de Defesa trata-se de uma valiosa ferramenta para buscar a transformação de corações e mentes em prol da defesa do Brasil. Não basta injetar capital e equipar as Forças Armadas. É necessário cooptar a opinião pública em favor do tema em questão e transformar as três Forças para melhor defenderem o País. Para bem cumprir o propósito a que se destina, a Estratégia Nacional de Defesa deve ser capaz de assegurar a independência nacional em todos os campos do Poder Nacional. O conceito de independência nacional é guiado pelos seguintes princípios: a) Independência nacional, efetivada pela mobilização de recursos físicos, econômicos e humanos, para o investimento no potencial produtivo do País. Aproveitar a poupança estrangeira, sem dela depender; b) Independência nacional, alcançada pela capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos estratégicos setores espacial, cibernético e nuclear. Não é independente quem não tem o domínio das tecnologias sensíveis, tanto para a defesa como para o desenvolvimento; e c) Independência nacional, assegurada pela democratização de oportunidades educativas e econômicas e pelas oportunidades para ampliar a participação popular nos processos decisórios da vida política e econômica do País. O Brasil não será independente enquanto faltar para parcela do seu povo condições para aprender, trabalhar e produzir. (BRASIL, 2008) Reequipar as Forças Armadas por meio da aquisição de material de defesa estrangeiro, sem a devida transferência de tecnologia, afeta de maneira considerável a soberania nacional. Além de não permitir o desenvolvimento da indústria nacional de defesa, e, por consequência, do restante do setor secundário, torna o País refém dos seus provedores de material. Exemplos não faltam na história mundial. Em 1982, por ocasião da Guerra das Malvinas, a Argentina utilizou mísseis antinavio Exocet, os quais haviam sido adquiridos junto à França, para alvejar navios de guerra britânicos. A França e o 25 Reino Unido eram membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), e o primeiro se viu obrigado a fornecer ao segundo os códigos que desativavam o Exocet em fase operacional, o que contribuiu sobremaneira para a derrocada Argentina na guerra. Sendo assim, a Estratégia Nacional de Defesa é o elo de ligação entre a independência nacional e as Forças Armadas, as quais têm a missão constitucional de resguardá-la. A Estratégia Nacional de Defesa está estruturada em três eixos: o primeiro diz respeito a “como as Forças Armadas devem se organizar e se orientar para melhor desempenharem sua destinação constitucional e suas atribuições na paz e na guerra”; o segundo refere-se à “reorganização da indústria nacional de material de defesa, para assegurar que o atendimento das necessidades de equipamento das Forças Armadas apoie-se em tecnologias sob domínio nacional”; e a terceira diz respeito à “composição dos efetivos das Forças Armadas e, consequentemente, sobre o futuro do Serviço Militar Obrigatório” (BRASIL, 2008). Ressalta-se que um aspecto que permeia toda a Estratégia Nacional de Defesa é o binômio defesa e desenvolvimento. O Brasil apenas conseguirá obter êxito na sua missão de defesa, se, a ela, estiverem atreladas políticas e estratégias que alavanquem o desenvolvimento nacional, particularmente nos setores de ciência e tecnologia. Para que o almejado êxito seja obtido, a Estratégia Nacional de Defesa é pautada por uma série de diretrizes, dentre as quais, para o presente trabalho, destaca-se: [...] O Comandante de Força, no âmbito das suas atribuições, exercerá a direção e a gestão da sua Força, formulará a sua política e doutrina e preparará seus órgãos operativos e de apoio para o cumprimento da destinação constitucional. (BRASIL, 2008) O Comandante do Exército, no intuito de alinhar o Exército Brasileiro à Estratégia Nacional de Defesa, formulou, nos últimos anos, estratégias para a reformulação da Força, materializadas pelo Projeto de Força do Exército Brasileiro (PROFORÇA), O Processo de Transformação do Exército, dentre outros. Destaca-se, dentre as diretrizes, também: “Capacitar a indústria nacional de material de defesa para que conquiste autonomia em tecnologias indispensáveis à defesa” (BRASIL, 2008). 26 Nesse contexto, a parceria entre o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) e a BRADAR Indústrias S.A., empresa nacional de base tecnológica, pertencente ao grupo Embraer Defesa e Segurança, especializada em sensoriamento remoto e radares de vigilância aérea e terrestre (BRADAR, 2014), com apoio financeiro da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), já rendeu como fruto o radar SABER M60, o primeiro 100% produzido no Brasil (BRASIL, 2014). No que tange especificamente ao Exército, a Estratégia Nacional de Defesa preconiza que a Força Terrestre deve ser constituída “por meios modernos e por efetivos bem adestrados”. Nesse cenário, o Exército vem desenvolvendo dezessete projetos, denominados Projetos Estratégicos do Exército, os quais dividem-se em projetos que entregam capacidade e que estruturam a força (GOMES, 2014). Os projetos estratégicos estruturantes são: Governança de Tecnologia de Informação (TI), Novo Sistema de Doutrina Militar Terrestre (SIDOMT), Sentinela da Pátria, Amazônia Protegida, Novo Sistema de Operações Militares Terrestres, Nova Logística Militar Terrestre, Polo de Ciência e Tecnologia do Exército em Guaratiba (PCTEG), Novo Sistema de Educação e Cultura, Força da Nossa Força, Novo Sistema de Engenharia, e Gestão e Inovação (GOMES, 2014). Os projetos estratégicos que entregam capacidade são: Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras, Sistema Integrado de Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres, Defesa Cibernética, Projeto Guarani, Defesa Antiaérea, Projeto Estratégico Astros 2020 e Recuperação da Capacidade Operacional da Força Terrestre, todos em consonância com a ideia de modernização dos meios e de efetivos bem adestrados (GOMES, 2014). A Estratégia Nacional de Defesa preconiza, ainda, que o Exército Brasileiro deverá ter presença nacional e que esta presença, nos grandes centros estratégicos, deverá concorrer para o objetivo de assegurar a capacidade de defesa antiaérea, principalmente de média altura (BRASIL, 2008). A aquisição de novos equipamentos pelas três Forças, quando do seu planejamento, deverá contemplar a compensação comercial, industrial e tecnológica (BRASIL, 2008), com vistas a permitir a independência nacional em todos os campos do Poder Nacional. Desta forma, o Exército deverá priorizar: [...] os meios necessários ao completamento dos sistemas operacionais das brigadas; o aumento da mobilidade tática e estratégica da Força Terrestre, sobretudo das Forças de Ação Rápida Estratégicas e das forças estacionadas na região amazônica; os denominados “Núcleos de Modernidade”; a nova família de blindados sobre rodas; os sistemas de 27 mísseis e radares antiaéreos (defesa antiaérea); a produção de munições e o armamento e o equipamento individual do combatente, entre outros, aproximando-os das tecnologias necessárias ao combatente do futuro. (BRASIL, 2008) Um aspecto de grande importância quanto à aquisição de equipamentos e sistemas de defesa é o seu emprego dual, ou seja, que sejam empregados quer em situação de paz, quer em situação de conflito. Em síntese, a Estratégia Nacional de Defesa almeja o desenvolvimento do País, por meio do crescimento da indústria nacional de defesa e do incremento de pesquisas voltadas à área de defesa, cujo emprego seja dual, aliado à sua proteção. 28 4 O PROJETO ESTRATÉGICO DEFESA ANTIAÉREA 4.1 CRONOLOGIA 4.1.1 Ano de 2008 Antes mesmo do Projeto Estratégico do Exército Defesa Antiaérea ter início, já se discutia, no âmbito do Exército Brasileiro, a necessidade de aquisição de um Sistema de Defesa Antiaérea de Média Altura, conforme a Condicionante Doutrinária e Operacional (CONDOP) nº 03/2008, aprovada pela Portaria nº 046-EME/Res, de 16 de junho de 2009 (BRASIL, 2009). 4.1.2 Ano de 2010 O ano de 2010 marcou o início do Projeto Estratégico Defesa Antiaérea, com a expedição da Diretriz Especial nº 001, do Chefe do Estado-Maior do Exército (EME), aprovada por intermédio da Portaria nº 047-EME, de 27 de abril de 2010, a qual tinha por finalidade regular a implementação da Diretriz do Comandante do Exército para aquele ano. Dentre as várias ações a realizar, a citada Portaria previa: - ratificar ou retificar a seleção inicial dos quatro macroprojetos Necessidade Emergencial de Recompletamento (Nível Mínimo) do Equipamento, Blindados Sobre Rodas, SISFRON e Artilharia Antiaérea - a serem lançados ainda no primeiro semestre de 2010, alinhados com as Diretrizes nº 014/2009 e 015/2009, de 09 Nov 09, do MD. (BRASIL, 2010) No mês de maio, foi realizada a Reunião de Integração Sistêmica do Sistema Operacional Defesa Antiaérea (RIS DA Ae). Em julho, foram definidos os projetos prioritários da Estratégia Braço Forte, dentre os quais figurava o Sistema de Defesa Antiaérea, e constituído o Grupo de Trabalho (GT) inicial para sua implementação, por intermédio da Portaria Nr 099 – EME, de 27 de julho de 2010 (BRASIL, 2010). 4.1.3 Ano de 2011 Em janeiro, foi emitida pela Diretoria de Material (D Mat) a “Request for Information” (RFI) nº 01/2011, endereçada a várias empresas, solicitando informações de materiais para atender o escopo visualizado para o então Projeto do 29 Sistema Integrado de Artilharia Antiaérea (SIAAEB), antiga designação do PEE DA Ae. Em fevereiro, por intermédio da Portaria nº 08-EME/1ª Subchefia (SCh), de 11 de fevereiro de 2011, o EME constituiu um GT para elaborar e conduzir o Macroprojeto Sistema de Defesa Antiaérea, atribuindo o gerenciamento do projeto ao Comandante (Cmt) da 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea (1ª Bda AAAe). Em maio, foi realizada uma reunião para análise das respostas às RFI e, ao seu término, foi gerado um documento denominado Ata da Reunião de Análise da RFI, constando a necessidade de alterar o cronograma inicial para que fosse realizada a elaboração de elementos de definição para o Sistema Operacional Defesa Antiaérea. Em junho, foi realizada uma análise das Portarias em vigor e realizada a revisão da Portaria nº 092-EME, de 20 de julho de 2005, que havia aprovado a Diretriz para a Reestruturação da 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea e Reorganização das Baterias de Artilharia Antiaérea (BRASIL, 2011) e, ainda, verificou-se a necessidade de edição e/ou reedição dos Elementos de Definição compreendidos por: Requisitos Operacionais Básicos (ROB), Requisitos Técnicos Básicos (RTB), Anteprojeto, e Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE). Em julho, foi aprovada, por intermédio da Portaria nº 020-EME-Reservada, de 21 de julho de 2011, a CONDOP nº 01/2011 – Sistema Operacional Defesa Antiaérea. No mês de setembro, houve uma reunião no Comando Logístico (COLOG), para padronização de conhecimentos, que contou inclusive com a participação de representantes do Ministério da Defesa. Em novembro, o Gerente do Projeto apresentou a situação atualizada ao Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, que criou um GT no MD sobre o assunto. 4.1.4 Ano de 2012 Em fevereiro, a Ordem Fragmentária do Comandante do Exército nº 001-A/3.2, de 27 de fevereiro de 2012, que versava sobre a Diretriz Especial (Gestão Orçamentária e Financeira) para o ano de 2012, publicou ordens que afetavam diretamente a implantação do Projeto Estratégico Defesa Antiaérea. 30 No 1º semestre, a gerência do projeto focou na elaboração dos requisitos, na elaboração do projeto, no auxilio ao MD para elaborar os Requisitos Operacionais Conjuntos (ROC) e o plano orçamentário. No mês de junho, foi apresentado ao Comandante do Exército o Projeto Estratégico Defesa Antiaérea e entregue os ROB com 1006 páginas e 3075 requisitos. 4.1.5 Ano de 2013 No 1º semestre, foi aprovada a Diretriz para aquisição e implantação do Sistema Antiaéreo GEPARD dentro do Projeto Estratégico do Exército – Defesa Antiaérea, por intermédio da Portaria nº 31-EME, de 7 de março de 2013 (BRASIL, 2013). Em junho, a Portaria Interministerial nº 1.808-MD, de 12 de junho de 2013, constituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) com as finalidades de fundamentar o processo de aquisição de um sistema de defesa antiaéreo de média e baixa altura e propor medidas de fomento para ampliar a capacidade da indústria nacional e garantir a sua autonomia no fornecimento de produtos às Forças Armadas, em relação ao Sistema de Defesa Antiaérea (BRASIL, 2013). O referido GTI contou com 1 (um) integrante da equipe do PEE DA Ae. Em setembro, a Portaria nº 2.555-MD, de 4 de setembro de 2013, autorizou a abertura de processos de negociação com vistas à aquisição de: I - Sistema de Artilharia Antiaérea, composto basicamente por duas baterias de baixa altura, de origem russa - IGLA, por dispensa de licitação, baseada na padronização requerida pelas estruturas logísticas das Forças; II - Sistema de Artilharia Antiaérea, de origem russa, com transferência irrestrita de tecnologia, por dispensa de licitação, baseado no comprometimento da segurança nacional, composto de três baterias antiaéreas de média altura, de origem russa - PANTSIR-S1, com demais itens logísticos, de simulação e capacitação de operação e manutenção; III - Subsistema de controle e alerta do Sistema de Artilharia Antiaérea de média altura, composto de três sensores e três centros de operações de artilharia antiaérea, nacionais, em fase de desenvolvimento, que integrem as referidas baterias ao Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro. (BRASIL, 2013) 4.1.6 Ano de 2014 31 No 1º semestre, por intermédio da Portaria nº 21 – EME, de 6 de fevereiro de 2014, foi aprovada a Diretriz para aquisição e implantação do Sistema de Armas de Seção de Míssil Telecomandado integrante do Projeto Estratégico do Exército Defesa Antiaérea (BRASIL, 2014). Ainda no 1º semestre, foi aprovada a nova Diretriz para Implantação do Projeto Estratégico do Exército Defesa Antiaérea e revogada a diretriz anterior, por meio da Portaria nº 42-EME, de 11 de março de 2014. 4.2 OBJETIVOS DO PROJETO 4.2.1 Objetivo Geral O objetivo geral do Projeto Estratégico do Exército Defesa Antiaérea é: Recuperar e obter a capacidade do Sistema Operacional Defesa Antiaérea de Baixa e Média Altura, respectivamente, para permitir a proteção das estruturas estratégicas terrestres brasileiras, áreas sensíveis e da Força Terrestre, quando de seu emprego. (BRASIL, 2014) 4.2.2 Objetivos Específicos Os objetivos específicos do Projeto Estratégico do Exército Defesa Antiaérea são os seguintes: a) Modernizar os meios de DA Ae da 1ª Bda AAAe, das Brigadas de Infantaria e de Cavalaria e da Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe), realizando o desenvolvimento e a obtenção de Produtos de Defesa (PRODE) de Defesa Antiaérea de Baixa Altura e de Defesa Antiaérea de Média Altura e possibilitar o emprego do Sistema Operacional DA Ae no TO, na ZI e em Operações de Não-Guerra, atendendo às Hipóteses de Emprego (HE) e ao Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro. b) Atender as demandas futuras de interdição do espaço aéreo em grandes eventos internacionais, tais como visitas de Chefes de Estado e competições esportivas de vulto. c) Construir e adequar a infraestrutura física da EsACosAAe necessária para o recebimento dos PRODE e do Simulador do Sistema Operacional Defesa Antiaérea. d) Desenvolver e adquirir simuladores para o Sistema Operacional Defesa Antiaérea. e) Planejar, implantar e executar o suporte logístico integrado necessário. f) Viabilizar a infraestrutura física para o suporte logístico integrado. g) Prever as sucessivas modernizações do sistema e a sua respectiva desativação. h) Capacitar recursos humanos para operação e manutenção das novas necessidades do Sistema Operacional DA Ae. (BRASIL, 2014) 32 4.3 O PROJETO ESTRATÉGICO Os conflitos contemporâneos têm assistido ao aumento da relevância do Poder Militar Aeroespacial como fator fundamental para o desenvolvimento das batalhas e da própria guerra, sendo a superioridade aérea, ou supremacia aérea, no caso de grandes potências militares, o primeiro objetivo a ser alcançado pelos contendores (BRASIL, 2014). Isso pôde ser observado por ocasião da Primeira Guerra do Golfo (1990-1991), quando as forças de coalizão só iniciaram a campanha terrestre após terem conquistado a supremacia aérea. A defesa aeroespacial de um país abarca uma grande variedade de meios distintos. Com a finalidade de reunir todos os meios existentes sob uma organização sistêmica, sem que houvesse a necessidade de alterar suas estruturas tradicionais, provendo a defesa aeroespacial do território do Brasil, com o mínimo de dispêndio e o máximo de eficiência, foi criado o SISDABRA, o qual é composto por um órgão central, o Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA), e de meios especificamente alocados para exercerem atividades relacionadas à defesa aeroespacial (BRASIL, 2001). O SISDABRA compreende, entre outros, os meios de detecção, telecomunicações, controle, defesa aeroespacial ativa (D Aepc Atv) e defesa aeroespacial passiva (BRASIL, 2001). A defesa aeroespacial ativa engloba “as aeronaves de interceptação e os elementos de AAAe” (BRASIL, 2001). O Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro possui dupla função: atua como Órgão Central do SISDABRA, sendo responsável pela orientação normativa dos Elos do SISDABRA, e como Comando Operacional, sendo um grande Comando Combinado, diretamente subordinado ao ComandanteSupremo, e componente da Estrutura Militar de Guerra (EMG). Em tempo de paz, o COMDABRA integra-se à Força Aérea Brasileira, com subordinação direta ao Comandante do Comando Geral do Ar (COMGAR). Em ambos os casos, sua ação de comando sobre os elementos alocados ao SISDABRA se faz mediante o controle operacional, fundamentado na autoridade para empregar operacionalmente esses meios, sem responsabilidade logística sobre os mesmos e sem prejuízo da subordinação administrativa a que estejam obrigados. (BRASIL 2001) O COMDABRA, único grande comando combinado ativo desde o tempo de paz, 33 está estruturado para cumprir ações de defesa aeroespacial do território nacional, em caráter permanente, possibilitando sua transição da paz para a guerra, apenas, com o necessário acréscimo de recursos materiais e humanos e a elevação do seu nível de comandamento. (BRASIL, 2001) A Defesa Antiaérea - realizada, em conflito ou em operações de não-guerra, por meio da Artilharia Antiaérea – é um componente da defesa aeroespacial ativa e “compreende um conjunto de medidas e de ações terrestres adotadas e conduzidas com o fim de impedir, neutralizar ou reduzir as ações aéreas inimigas contra objetivos no solo” (BRASIL, 2014). De acordo com a Condicionante Doutrinária e Operacional nº 01 – Sistema Operacional Defesa Antiaérea (CONDOP 01/2011), aprovada pela Portaria nº 020EME-Res, de 21 de julho de 2011, o sistema operacional Defesa Antiaérea é composto por quatro sistemas - armas, controle e alerta, comunicações e logística – podendo ser dividido em baixa e média alturas. Ainda de acordo com a CONDOP 01/2011, o sistema só estará apto a cumprir sua missão, se tiver todos os sistemas integrados (BRASIL, 2011). Nesse sentido, cabe uma observação: apesar de ser doutrinariamente prevista, o Exército Brasileiro não possui artilharia antiaérea de média altura, estando, assim, impossibilitado de cumprir a missão de prover defesa antiaérea ao País, quer em tempo de paz, quer em tempo de guerra. Em consonância com o atual momento de renovação doutrinária pelo qual as Forças Armadas vêm passando, com o surgimento da Doutrina Militar Terrestre e da Doutrina Militar Conjunta, a defesa antiaérea deve ser apta a atuar em operações conjuntas, de forma eficiente e eficaz, permitindo a “interoperabilidade entre as Forças Singulares, desde o tempo de paz, permitindo a sua evolução planejada para estruturas utilizadas durante os conflitos armados” (BRASIL, 2014). A defesa aeroespacial do Território Nacional (TN), desde o tempo de paz, é responsabilidade do SISDABRA, assim como no Teatro de Operações (TO) é missão da Força Aérea Componente (FAC), a qual, por delegação do Comandante do Comando Conjunto, planeja e executa as ações de defesa aérea e antiaérea, a fim de resguardar o Poder Nacional (BRASIL, 2014). Sob controle operacional do COMDABRA, a artilharia antiaérea da Força Terrestre organiza-se em brigadas de artilharia antiaérea, integrantes do SISDABRA. O Território Nacional, por sua vez, na organização da defesa aeroespacial, é dividido em Regiões de Defesa Aeroespacial Doutrinariamente, cada RDA é defendida por uma Bda AAAe (BRASIL, 2014). (RDA). 34 Hoje, o Brasil é dividido em quatro RDA. Cada Cada RDA possui um Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA), (CINDACTA) o qual é capaz de realizar ar as duas funções simultaneamente, defesa aérea e controle do tráfego aéreo, utilizando, dentro do possível, os mesmos meios de detecção, detecç telecomunicações e controle (EsACosAAe, 2011). Desta forma, apesar de cada RDA possuir um CINDACTA, pode-se pode constatar que o Brasil possui um déficit de três Bda AAAe, uma vez que possui apenas uma, a 1ª Bda AAAe, localizada no Guarujá-SP. Guarujá FIGURA 1: 1 divisão do Território Nacional em RDA e localização localiza do COMDABRA e dos CINDACTA. Fonte: EsACosAAe, 2011 A função de combate combate proteção, da qual a defesa antiaérea é parte integrante, necessita cumprir as missões operacionais previstas nas Hipóteses de Emprego (HE), tanto no TO quanto na ZI; como elo permanente do SISDABRA; e em Operações de Não-Guerra, Guerra, tais como a participação, junto com a Força Aérea Brasileira (FAB), no controle do espaço aéreo em eventos internacionais de vulto. (BRASIL, 2014) Nos últimos anos, a AAAe brasileira foi empregada na defesa aeroespacial de eventos de grande vulto, como a Copa das Confederações Confederações da FIFA, em 2013, e a Copa do Mundo da FIFA, em 2014. Será empregada, ainda, por ocasião dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Ao longo da história, história pôde-se constatar que não há possibilidade de improvisos ou mobilização de recursos humanos e de materiais, quando do emprego da AAAe em situação real, em função da importância estratégica, necessidade de adestramento constante, complexidade de funcionamento dos sistemas e constante evolução 35 tecnológica e operacional dos meios envolvidos na D Aepc. Assim, os conflitos que exijam reação imediata, como descreve a Concepção de Transformação do Exército, deverão contar com AAAe preparada e adestrada anteriormente. (BRASIL, 2014) Nesse contexto, verifica-se que o Brasil pode não estar dando a devida importância para a sua defesa aeroespacial, na medida em que, apesar de ter seu território dividido em quatro RDA, cada qual com um CINDACTA, possui apenas uma brigada de artilharia antiaérea, a 1ª Bda AAAe, localizada no Guarujá-SP. Dentro da Zona de Interior (ZI) e do TO, a defesa antiaérea é estruturada para ser empregada nas diversas faixas de altura e de alcance, para fazer frente aos diferentes tipos de ameaça. O Projeto Estratégico diz respeito aos sistemas de DA Ae para emprego nas faixas de Bx Altu (até 3000m) e Me Altu (entre 3000m e 15000m), cuja ameaça aérea inclui, entre outros tipos de vetores, as aeronaves de ataque ao solo, caças-bombardeiros, helicópteros, veículos aéreos não-tripulados (VANT), mísseis (Msl) balísticos e de cruzeiro, foguetes e morteiros. (BRASIL, 2014) Para a faixa de emprego de baixa altura (Bx Altu), o Exército Brasileiro já adquiriu o material GEPARD 1A2, canhão antiaéreo 35 mm sobre viatura blindada, de origem alemã, e o míssil antiaéreo portátil SAAB RBS-70 MK II, de origem sueca. A defesa antiaérea empregada contra vetores aéreos nas faixas de emprego de média e grande alturas, como aeronaves e mísseis, utiliza apenas mísseis antiaéreos, dividindo o espaço aéreo com as aeronaves de interceptação (BRASIL, 2014). Para a faixa de emprego de média altura (Me Altu), o Exército Brasileiro está em processo de aquisição do material de origem russa PANTSIR-S1 (BRASIL, 2013). O combate contemporâneo é palco de constante evolução tecnológica, o que o torna cada dia, além de especializado e complexo, mais oneroso. Essa tendência faz com que as Forças Armadas (FA) busquem soluções simples, eficazes e com a melhor relação custo-benefício, para atender as suas necessidades operacionais. Para simplificar procedimentos e minorar custos se faz necessária a adoção de sistemas de DA Ae compatíveis com o emprego dual, ou seja, capacidade de atuar tanto na ZI, como no TO, o que facilitará a execução das tarefas logísticas, principalmente as de suprimento e manutenção, a formação do pessoal e o adestramento para o combate das unidades de AAAe. (BRASIL, 2014) O Brasil é um país em desenvolvimento, com diversas carências, tais como educação, saúde, segurança pública, dentre outras. Destarte, os recursos a serem empregados em defesa são escassos. Entretanto, a necessidade de alocação de 36 parcela do orçamento da União em material de defesa é um fator do qual o próprio desenvolvimento do País é dependente. É dentro desse contexto que o Exército Brasileiro tem buscado a modernização de sua artilharia antiaérea, com materiais de emprego dual, que possam ser empregados tanto em combate, nos mais diversos TO, bem como sob controle operacional do COMDABRA, organizado em brigadas de artilharia antiaérea, integrantes do SISDABRA, na defesa antiaérea da ZI. A adoção de equipamentos e de estruturas semelhantes facilita e agiliza o apoio logístico, pela padronização de armamentos, equipamentos e munição, e também favorece o desdobramento tático e técnico da defesa, inclusive quando os meios AAe do escalão superior forem postos em reforço ao escalão subordinado. (BRASIL, 2011) Os meios aéreos, nos últimos anos, apresentaram uma evolução considerável, com vários países, inclusive do subcontinente sul-americano, apresentado a capacidade de efetuar ataques aéreos nos mais diversos pontos estratégicos do território nacional (BRASIL, 2011). Esses vetores aéreos são aeronaves, mísseis e VANT, capazes de desencadear ações diurnas e noturnas, de alturas superiores a 3.000m e de distâncias superiores a 6.000m, ou seja, dimensões que são superiores ao teto e ao alcance de emprego da DA Ae de Bx Altu existente no Exército Brasileiro (EB). (BRASIL, 2014) Aliada à capacidade dos vetores aéreos supracitados, está a imensidão do territorial brasileira, com mais de 8 milhões de Km2, possibilitando, a um eventual agressor, efetuar ataques ao TN, evitando os sistemas de defesa aeroespacial existentes (BRASIL, 2014). Nesse contexto, a fim de consolidar o papel de destaque que o País obteve no cenário internacional na última década, é imprescindível que o Brasil disponha de um sistema antiaéreo capaz de atuar na faixa de emprego de Me Altu, faixa esta que se inicia em 3.000 m e termina 15.000 m, tornando-se um poderoso fator dissuasório, ao lado do projeto Astros 2020, da artilharia de campanha. 4.4 A ARTILHARIA ANTIAÉREA DE BAIXA ALTURA 4.4.1 Sistema AAe GEPARD 37 O Sistema AAe GEPARD, adquirido junto à empresa alemã Krauss-Maffei Wegmannn, um dos principais fornecedores do sistema, integra o sistema de DA Ae para emprego na faixa de Bx Altu, estando apto a efetuar a defesa antiaérea tanto na ZI, protegendo estruturas estratégicas terrestres brasileiras e áreas sensíveis, como no TO, protegendo a Força Terrestre, contra ameaças aéreas que incluem, entre outros tipos de vetores, as aeronaves de ataque ao solo, caças-bombardeiros, helicópteros, VANT, mísseis balísticos e de cruzeiro, foguetes e morteiros (BRASIL, 2013). A aquisição do Sistema AAe GEPARD é fruto de sua desmobilização pelo Exército Alemão, ocasião em que o Brasil entendeu como uma oportunidade de equipar a 5ª Brigada de Cavalaria Blindada (5ª Bda Cav Bld), localizada em Ponta Grossa – PR, e a 6ª Brigada de Infantaria Blindada (6ª Bfa Inf Bld), situada em Santa Maria – RS, com uma DA Ae compatível com o material, tanto em mobilidade e proteção blindada, quanto em facilidade de apoio logístico, tendo em vista o carro possuir chassi semelhante ao alemão CC LEOPARD. O GEPARD é um sistema de armas autônomo e altamente móvel, com alta prontidão operacional, pequeno tempo de reação e capaz de fazer frente a uma variada gama de ameaças. (BRASIL, 2013) O Sistema AAe GEPARD 1A2 adquirido pelo Brasil foi modernizado há cerca de quatro anos, o que lhe permite ser empregado até 2030. Um dos objetivos, quando do seu projeto, foi prover a DA Ae da Viatura Blindada de Combate (VBC) LEOPARD (BRASIL, 2013). A VBC GEPARD 1A2 possui dois canhões de 35 mm, com uma cadência de tiros de 1.100 tiros por minuto (550 cada canhão). Tem capacidade para 640 tiros antiaéreos e 40 terrestres (metade em cada canhão). Possui alcance de 5 Km e um radar de busca com alcance de 15 Km, o qual faz uma varredura no espaço aéreo, juntamente com o radar de tiro, também com alcance de 15 Km (FRAGA e FAN, 2013). O chassi da VBC GEPARD 1A2 é similar ao do VBC LEOPARD 1, do qual o Exército Brasileiro já possuía duas versões: o LEOPARD 1A1, em sua maior parte em desativação, e o LEOPARD 1A5Br, o qual possui melhor blindagem e sistema de tiro com visor termal incorporado. O fato de possuírem elementos comuns, tais como motor, transmissão, lagartas e suspensão, será um facilitador da sua logística (FRAGA e FAN, 2013). 38 FIGURA 3: Desenho do GEPARD 1A2. Fonte: FRAGA e FAN, 2013. 39 FIGURA 2 - Blindado Antiaéreo GEPARD 1A2. Fonte: Portal Brasil, 2014. 4.4.2 Sistema AAe RBS 70 O Sistema AAe Robotik System (RBS) 70, foi projetado, na década de 70 do século passado, com a finalidade de defender o espaço aéreo sueco ante a ameaça soviética, no contexto da Guerra Fria. Sua modularidade permite-lhe receber modernizações constantemente, o que o torna atual, consagrado e respeitado em todo o mundo (VEIGA JR, 2010). A versão adquirida pelo Brasil, junto à empresa sueca SAAB Dynamics, é o RBS 70 MK II, baseado na 3ª Geração do RBS 70, produzido entre os anos de 1990 e 2004, porém, com atualizações que também estão na última geração (5ª), o RBS NG (DÜRING, 2014). O RBS 70 MK II possui um sistema de guiamento por feixe de raios laser, podendo ser aplicado a múltiplas configurações de sistemas que variam desde o clássico sistema MANPADS (Sistema de Defesa Aérea Portátil), para uso por infantaria, como integrado em veículos ou sistema de defesa aérea local baseado em um radar de alerta como o BRADAR SABER 60 com o Centro de Operações de Artilharia Antiaérea (COAAe), bem como sistemas de defesa aérea de navios integrados operando remotamente. (DÜRING, 2014) 40 O RBS 70 MK II aceita uma série de configurações que lhe torna adequado à defesa antiaérea estática de infraestruturas importantes, de unidades móveis e de grandes eventos. É um material compatível para ser operado em áreas urbanas, em razão de sua operação telecomandada e de sua opção de autodestruição (DÜRING, 2014). O RBS 70 MK II é um míssil antiaéreo portátil, que emprega uma guarnição de três homens, os quais são empregados no seu transporte a pé e para as entradas e saídas de posição. Para operação, utiliza apenas um homem. Pesa 85 Kg e, em sua configuração original, é constituído de pedestal, aparelho de pontaria e míssil (VEIGA JR, 2010). O seu alcance de utilização é de 200 m a 8 Km, chegando a uma altitude de mais de 5.000 m, ou seja, além do limite superior da AAe de Bx Altu (3.000 m). Alcança uma velocidade de Mach 2 em 4 segundos. É capaz de engajar os mais variados vetores aéreos, de aeronaves de asa rotativa a mísseis de cruzeiro. Seu tempo de acionamento é bem reduzido, passando da posição de marcha para a de tiro em menos de 30 segundos (VEIGA JR, 2010). FIGURA 4: RBS 70 posicionado no telhado de um prédio, em área urbana, defendendo uma área portuária. Fonte: VEIGA JUNIOR, 2010. 41 FIGURA 5: Esboço comparativo da DAAe proporcionada por Msl de atração passiva (figura da esquerda) e pelo RBS 70 (figura da direita). Fonte: VEIGA JUNIOR, 2010. 4.5 A ARTILHARIA ANTIAÉREA DE MÉDIA ALTURA O Sistema de Mísseis Antiaéreos PANTSIR-S1, de origem russa, foi o escolhido pelo governo brasileiro como o sistema de média altura a ser adquirido pelas Forças Armadas brasileiras. O sistema PANTSIR-S1 é capaz de engajar alvos como mísseis antirradares, mísseis de cruzeiro, aviação tática, veículos aéreos não tripulados, aviões Stealth e helicópteros, a qualquer hora do dia ou da noite, em quaisquer condições climáticas ou de interferências (LOGITEC, 2013). Dentre as principais características do sistema PANTSIR-S1 destacam-se seu módulo de combate com capacidade para 12 mísseis, seu alcance de 15 Km em altura e 20 Km em alcance, sua capacidade de engajar alvos a velocidade de até 1000 m/s, sua possibilidade de atacar até 4 alvos simultaneamente, seu tempo de resposta entre 4 e 6 segundos, além de sua possibilidade de fazer fogo em movimento (LOGITEC, 2013). 42 FIGURA 6: PANTSIR-S1. Fonte: LOGITECH, 2013. 4.6 RADAR SABER M60 O SABER M60 é um radar, de fabricação 100% nacional, destinado a “integrar um sistema de defesa antiaérea de baixa altura visando à proteção de pontos críticos e áreas sensíveis, como indústrias, usinas e instalações governamentais” (BRASIL, 2013). O SABER M60 foi desenvolvido pelo Centro Tecnológico do Exército, e possui tecnologia de ponta, o que o posiciona entre os equipamentos mais modernos de sua classe no mercado internacional (BRASIL, 2013). Em razão do seu baixo peso (200 Kg), elevada mobilidade e capacidade de operar nas mais diversas condições climáticas existentes no subcontinente sul- 43 americano, o SABER M60 torna-se altamente indicado para atuar nas operações no amplo espectro (BRASIL, 2013). O SABER M60 possui um alcance máximo de 60 Km (75 Km com Identificação Amigo-Inimigo), fornece informações sobre o alvo em três dimensões (alcance, azimute e elevação), possui uma resolução de 75 m em alcance e classifica as aeronaves em asa rotativa ou asa fixa (BRASIL, 2013). Além do seu emprego dentro de um sistema de defesa antiaérea de baixa altura, o SABER M60 tem operado na vigilância na faixa de fronteira, tendo sido instalado no 3º Pelotão Especial de Fronteira do 7º Batalhão de Infantaria de Selva, em Pacaraima – RR, no 2º Pelotão Especial de Fronteira do 5º Batalhão de Infantaria de Selva, em Querari – AM, no Centro Integrado de Proteção da Amazônia, em Tabatinga – AM, no 17º Batalhão de Fronteira, em Corumbá – MS e na Usina Hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu – PR (BRASIL, 2013). FIGURA 7: Radar SABER M60. Fonte: BRASIL, 2014. 4.7 RADAR SABER M200 O SABER M200 é outro radar inteiramente fabricado no Brasil, com vistas a integrar sistemas de defesa antiaérea de média altura. É composto por um radar 44 primário, o P200, e por um secundário, o S200, os quais funcionam de maneira independente (BRASIL, 2014). O radar SABER M200 é um “radar definido por software que pode desempenhar diversas funções: vigilância; designação de alvos para sistemas de armas; controle de tráfego aéreo; e radar meteorológico” (BRASIL, 2014). O SABER M200 possui características únicas, conferidas pelo emprego de tecnologias avançadas, dentre as quais se destacam: varredura eletrônica ativa por matriz de fases; arranjo de antenas; Digital Beamforming; operação em Banda S; ajuste de operação dinâmico; hardware modular; alto grau de imunidade eletrônica; formas de ondas programáveis; e transportável em veículos terrestres, marítimos e aéreos compatíveis com containers de 20 pés. (BRASIL, 2014) FIGURA 8: Radar SABER M200. Fonte: BRASIL, 2014. FIGURA 8: Sistema Completo (Radares primário e secundário) Fonte: BRASIL, 2014. 45 FIGURA 10: Radar secundário SABER S200. Fonte: BRASIL, 2014. FIGURA 11: Módulo primário P200. Fonte: BRASIL, 2014. básico do radar 46 5 CONCLUSÃO O Brasil passou a ter consciência, ainda que de forma insipiente, para os assuntos voltados à área de defesa a partir de 1980, quando surgiu a Política Militar Brasileira. Entretanto, foi somente em 2005 e 2008, com o estabelecimento da Política Nacional de Defesa e da Estratégia Nacional de Defesa, respectivamente, que o tema “defesa” passou a ter destaque na pauta dos políticos brasileiros. No intervalo de vinte e cinco anos, entre a Política Militar de Defesa e a Política Nacional de Defesa, algumas medidas no campo da defesa foram tomadas, como a criação do Ministério da Defesa, em 1999, sem, contanto, representarem uma transformação efetiva das Forças Armadas. A estabilização da economia brasileira, a partir da segunda metade da década de 1990, permitiu ao Brasil obter um relativo crescimento no início da primeira década do século XXI, tornando o País um ator global de relevância. Este aumento de importância do Brasil no cenário internacional atraiu a atenção do mundo para o País. Ressalta-se, ainda, que, no contexto da América do Sul, países como Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela podem vir a se tornarem ameaças reais, por meio do emprego de aeronaves de asa fixa, em virtude de suas recentes aquisições de vetores aéreos (PEDRO, 2014). Era necessário, desta forma, proteger-se em face de possíveis ameaças externas, dentre as quais as ameaças aéreas, o que foi materializado por intermédio da Política Nacional de Defesa e da Estratégia Nacional de Defesa. Estas iniciativas alteraram a mentalidade até então em voga, de que “defesa” era assunto exclusivo à esfera militar, permitindo aos civis, assim, terem consciência de sua importância para a defesa nacional. A Estratégia Nacional de Defesa de 2008, aprovada por intermédio do Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro daquele ano (BRASIL, 2008), e posteriormente atualizada em 2013, foi de fundamental importância para a reestruturação, transformação e modernização das Forças Armadas e, no caso particular deste trabalho, da artilharia antiaérea brasileira. A Estratégia Nacional de Defesa deve ser capaz de assegurar a independência nacional em todos os campos do Poder Nacional. Nesse contexto, destaca-se o seguinte princípio: 47 Independência nacional, alcançada pela capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos estratégicos setores espacial, cibernético e nuclear. Não é independente quem não tem o domínio das tecnologias sensíveis, tanto para a defesa como para o desenvolvimento. (BRASIL, 2008) Ainda, destaca-se, dentre as diretrizes constantes na Estratégia Nacional de Defesa, “Capacitar a indústria nacional de material de defesa para que conquiste autonomia em tecnologias indispensáveis à defesa” (BRASIL, 2008). No que tange ao Projeto Estratégico Defesa Antiaérea, tem se buscado essa capacitação tecnológica autônoma, por meio de parcerias entre o setor público e privado, como a existente entre o Centro Tecnológico do Exército e a BRADAR indústrias S.A., com recursos oriundos da FINEP. O Radar SABER M60, destinado a integrar sistemas de defesa antiaérea de baixa altura, e o Radar SABER M200, destinado a compor sistemas de defesa antiaérea de média altura, ambos totalmente desenvolvidos no Brasil, são exemplos da busca incessante por desenvolvimento tecnológico. A Estratégia Nacional de Defesa atua em três eixos estruturantes, dentre os quais se destaca a “reestruturação da indústria brasileira de material de defesa” (BRASIL, 2008). A busca por capacitação tecnológica autônoma, além de possibilitar a independência nacional no campo do poder científico e tecnológico, possibilita o desenvolvimento da indústria nacional de defesa e a geração de empregos, contribuindo com os campos econômico e psicossocial. Desta forma, o Projeto Estratégico Defesa Antiaérea atinge um aspecto que permeia toda a Estratégia Nacional de Defesa: o binômio defesa e desenvolvimento. Ainda, em relação aos três eixos estruturantes de atuação da Estratégia Nacional de Defesa, verifica-se a “reestruturação das Forças Armadas” (BRASIL, 2008). Nesse aspecto, o Projeto Estratégico Defesa Antiaérea está em sinergia com a Estratégia Nacional de Defesa, na medida em que tem reestruturado e modernizado o sistema de defesa antiaérea nacional, por intermédio da aquisição de sistemas de armas de baixa altura, como o GEPARD 1A2, de origem alemã, e o RBS 70 MK II, de origem sueca, e de média altura, como PANTSIR-S1, de origem russa, além de sistemas de controle e alerta, como os radares SABER M60 e M200, ambos de fabricação nacional. Da coleta de dados realizada e dos resultados aqui apresentados, conclui-se que o Projeto Estratégico Defesa Antiaérea está plenamente alinhado à Estratégia 48 Nacional de Defesa ora vigente, tendo em vista que tem proporcionado a reestruturação das Forças Armadas e da indústria nacional de material de defesa, independência nacional, por meio da capacitação tecnológica autônoma, e a geração de empregos, conforme preconizado na segunda. Uma oportunidade de melhoria a ser levantada diz respeito aos sistemas de armas de baixa e média altura, uma vez que todo o material adquirido é de procedência externa, deixando o País dependente desta tecnologia. A indústria nacional de material de defesa deveria investir em pesquisas para o desenvolvimento dos armamentos em questão, como forma de minimizar as possibilidades de sujeição do Brasil aos interesses internacionais. __________________________________________ CARLOS ALBERTO CAMPOS CASTILHO – Maj Art Escola de Comando e Estado-Maior do Exército 49 REFERÊNCIAS BRADAR. O Grupo. < http://www.bradar.com.br/o-grupo.html> Acesso em 3 maio 2014. BRASIL. Constituição da república Federativa do Brasil; promulgada em 5 de outubro de 1988. CF 1988 ______. Decreto nº 5.484, de 30 de junho de 2005. Política Nacional de Defesa. ______. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Estratégia Nacional de Defesa. ______. Decreto Legislativo nº 373, de 25 de setembro de 2013. Estratégia Nacional de Defesa. ______. Decreto Legislativo nº 373, de 25 de setembro de 2013. Política Nacional de Defesa. ______. Exército. Estado-Maior do Exército. C 44-1: emprego da artilharia antiaérea. 4. ed.Brasília, DF, 2001. ______. Exército. Estado-Maior do Exército. Portaria nº 047-EME, de 21 de abril de 2010, Diretriz Especial nº 01, do Chefe do Estado-Maior do Exército. Boletim do Exército, Brasília, DF, nº 18, p. 12, 7 maio 2010. ______. Exército. Estado-Maior do Exército. Portaria nº 099-EME, de 27 de julho de 2010, Os projetos prioritários da Estratégia Braço Forte para 2010 e constituição dos grupos de trabalho iniciais para sua implantação. Boletim do Exército, Brasília, DF, nº 30, p. 24, 30 julho 2010. ______. Exército. Estado-Maior do Exército. Portaria nº 08-EME/1ª SCh, de 11 de fevereiro de 2011, Constitui Grupo de Trabalho para elaborar e conduzir o Macro Projeto Sistema de Defesa Antiaérea. 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