2015 ANOXXII | NÚMERO25 JULHO2015 www.ceapia.com.br a i c n â f n i a d a A exigênci 28 e 29/Agosto/2015 AMRIGS/Av. Ipiranga, 5311 TA PONTO DE VpgIS . 08 E 09 AL O TURNO INTEGR S LA CO ES S NA ATUALIDADE pg. 04 e 05 ADOLESCÊNCIA LÍTICOS E MOVIMENTOS PO L ESPAÇO CULTUpgR. 12Ae 13 MARCA PÁGINA SESSÃO PIPOCA & AUTISMO, AMBIENTOTERAPIA E PSICANÁLIS.E14 pg 1 EDITORIAL Bem vindos ao Boletim 2015! É com grande satisfação que apresentamos ao leitor nosso informativo anual, recheado de temáticas interessantes e importantes informações sobre o que tem acontecido em nossa Instituição. Primeiramente, a Presidente do CEAPIA, Cátia Mello, nos apresenta um texto reflexivo sobre a cultura na qual estamos inseridos e as hiperdemandas da atualidade, principalmente no que se refere à infância, estimulando o leitor a pensar sobre o papel do psicoterapeuta de crianças e adolescentes no atual contexto, introduzindo o leitor ao assunto da nossa próxima Jornada “A exigência da Infância”. Na coluna Atualidade, a psicóloga Luciane David escreve sobre os jovens e as manifestações políticas, refletindo sobre a importância da participação da juventude nos movimentos sociais, tendo em vista o processo adolescente e os aspectos desenvolvimentais. Dando seguimento às temáticas da atualidade, Paula Milagre e Norma Escosteguy compartilham com o leitor algumas ideias de Boris Cyrulnik, a partir de uma entrevista que este autor concedeu a um jornal francês, após os violentos acontecimentos ocorridos no início deste ano, na França. Como vimos no ano passado, em nossa última Jornada, as tecnologias estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano. No ambiente escolar não pode ser diferente. Ana Margarida Chiavaro nos fala sobre como os tablets estão sendo aproveitados nas salas de aula, a partir da Educação Infantil. Falando em salas de aula, contamos também com o Ponto de Vista da nossa colega ceapiana Márcia Fridman e de Mônica Timm de Carvalho sobre uma nova proposta educacional que implementa o turno integral nas escolas de Ensino Fundamental, exigindo mudanças de todos os envolvidos nos processos educacionais. Como já mencionamos, nossa XXXVI Jornada Anual versará sobre o tema “A Exigência na Infância”. E para entramos no clima das discussões e trocas de experiências que teremos nos dias 28 e 29 de agosto, as psicanalistas, professoras e supervisoras do CEAPIA, Lisiane Cervo e Magali Fischer, convidadas da Jornada, compartilham conosco suas ideias e percepções sobre esse atual e instigante tema. No Espaço Cultural, a Sessão Pipoca conta com um texto da colega Luciana Grillo sobre o lindo e sensível filme francês “Família Belier”, que esteve em cartaz nos cinemas no verão. Já na coluna Marca Página, Cláudia de Carli escreve uma resenha do tocante e intenso livro “O Castelo de Vidro”. Ainda contamos com dicas de filmes e livros para o entretenimento do leitor! Também, ao longo do Boletim, temos notícias de alguns setores de nossa Instituição, que escreveram sobre o que têm estudado e sobre alguns eventos que participaram ou organizaram. O tema “Autismo” tem sido muito estudado no CEAPIA, visto o curso que tivemos ao longo de todo o ano passado. E por ser um tema tão relevante, nossas colegas e integrantes da equipe de Ambientoterapia, Vanessa Giaretta e Paula Milagre, dividem com os leitores suas convicções e experiências na intersecção autismo e psicanálise no contexto ambientoterápico. Parabenizamos a colega Paula Milagre pelo trabalho premiado na Jornada Interna dos alunos de 2014, que tinha o título “Uma mente em construção: reflexões sobre a evolução de uma criança no processo psicoterapêutico”. Para finalizar, o leitor encontrará informações sobre os nossos próximos eventos, cursos e grupos de estudos. Agradecemos a todos os colegas que gentilmente aceitaram nosso convite para escrever ao Boletim e também a Natália Kämpf e a Renata Pechansky Axelrud, que integram nossa comissão, colaborando diretamente para organização deste informativo junto conosco! Esperamos que tenham uma agradável leitura! Grande abraço! 2 *Os conteúdos dos textos e as produções científicas são de responsabilidade dos autores. CEAPIA - Centro de Estudos, Atendimento e Pesquisa da Infância e Adolescência. O Boletim CEAPIA é uma publicação do CEAPIA. Rua Cel. Bordini, 434 Bairro Auxiliadora CEP 90.440-002 - Porto Alegre / RS Fones: (51) 3343.6490 - (51) 3342.7974 [email protected] www.ceapia.com.br Diretoria - Gestão 2015 Presidente Psic. Cátia Olivier Mello Vice-Presidente Psic. Caroline Milman Secretária Psic. Ana Marta Mariath Diretora Administrativa Psic. Tânia Wolff Codiretora Administrativa Psic. Valéria Rocha Diretora de Ensino Psic. Patrícia Cohn Codiretora de Ensino Psic. Paula Pecis Diretora de Atendimento Psic. Viviane Amaro da Silveira Codiretora de Atendimento Psic. Roberta Breda Diretora Científica Psic. Aline Restano Codiretora Científica Psic. Andrea Nieckele Diretora de Pesquisa Psic. Silvia Hallberg Codiretora de Pesquisa Psic. Milene Merg Coordenadora de Divulgação Psic. Cristiane Feil Comissão Científica e de Divulgação Aline Bruschi, Aline Restano, Andrea Nieckele, Cristiane Feil, Denise Botti, Débora Laks, Fernanda Amorim, Fernanda Matte, Juliana Garofalo, Mariana Santin, Marília Schmidt, Paula Milagre, Philip Brew, Renata Kreutz, Renata Pechansky e Vanessa Giaretta Comissão de Currículo Norma Escosteguy, Lisiane Cervo e Inta Muller Comissão de Ensino Patricia Cohn, Paula Pecis, Ana Rita Taschetto, Cibele Fleck, Henriqueta Sonaglio Editora da Revista Publicação CEAPIA Psic. Andrea Pereira Comissão Editorial Andréa Zelmanowicz e Luciana Grillo Comissão de Pesquisa Angélica Bernardy, Cristiane Feil, Eduarda Lenz, Fernanda Amorim, Fernanda Porto, Laura Arnoni, Luísa Mello e Vanessa Giaretta Conselho Editorial Coordenadoras Ana Luiza Bittencourt Berni e Letícia Orengo Integrantes Natália Kämpf e Renata Axelrud Designer Gráfico Bárbara Gurgel da Silva Revisora Português Mônica Gomes Vico Tiragem 500 exemplares PALAVRA DA PRESIDENTE CÁTIA OLIVIER MELLO Vivemos numa época definida como a da hipermodernidade, caracterizada por uma cultura do excesso. Tudo é urgente, tudo deve ter muita variedade de cada coisa. Sempre. Agora. Porém, como a subjetividade não consegue acompanhar as transformações exigidas por esta cultura, a flexibilidade exagerada e a fluidez aparecem como tentativas de seguir o ritmo alucinante que a vida impõe. Hiperconsumo, hipertexto, hipercorpo, hipersexualidade: tudo é elevado à maior potência possível. Assistimos hoje ao consumo exagerado de todo o tipo de artigo e relacionamento, à banalização dos sentimentos, da violência e à diluição do tempo e da distância promovidos pela espetacular utilização da Internet em todas as instâncias do cotidiano. A hipermodernidade põe a descoberto, portanto, o paradoxo da sociedade contemporânea: a cultura do excesso versus a cultura da moderação. Dentre as muitas modificações que se comprovam no que diz respeito à vida de todos, destaco, para fins deste texto, o fato de que já se observa que a realidade, imperfeita e inacabada por definição, vem sendo substituída por imagens e simulacros mais bem terminados e perfeitos (fotos ou vídeos maravilhosos, pessoas sempre felizes, bem sucedidas e sem nenhum sofrimento, por exemplo), impedindo assim que nos defrontemos com a frustração de ter que terminar, corrigir, refazer, nos desculpar ou mesmo abrir mão de algo que não deu certo, não ficou tão bom, não era bem isso, não era nada disso... Mas cabe a nós, que trabalhamos com crianças e adolescentes, pensar se essa nova realidade está alterando ou não o desenvolvimento tal como se conhece até agora. Uma maneira de refletir sobre isso é nos perguntar o que é ser criança hoje. Sabemos que considerar os anos iniciais da vida como um período distinto física e psicologicamente da idade adulta é algo historicamente recente (séc. XVIII). Caberia a pergunta acerca de se ainda há espaço e tempo para que ocorra a infância ou se já necessitamos de outros parâmetros para contar o desenvolvimento do ser humano. Será mesmo...? O que se espera de uma criança nos dias de hoje...? Que cresça, se desenvolva e seja feliz, poderíamos responder. Mas e as que não podem crescer ou se desenvolver porque estão detidas em seu desenvolvimento por questões físicas ou psicológicas? Essas não são crianças...? E as que não são felizes...? Muitas crianças e, sem dúvida, todas as crianças em algum momento da vida não são felizes. Por isso deixam de ser crianças, ou ao menos deixam de ser as crianças que exigimos que sejam...? Temos um modelo de criança em mente atualmente? Ou ele é apenas um holograma do tempo em que vivemos, no qual a realidade criada é mais interessante do que a que “apenas” existe...? E os pais, como enfrentam a diferença de gerações quando são protagonistas de uma cultura na qual também deles é exigido que se desempenhem perfeitamente como pais? Na Jornada Anual do CEAPIA 2015: A exigência da infância, além dessas questões também procuraremos refletir sobre a nossa prática como terapeutas. Nós, que trabalhamos com crianças, não estaremos exigindo demais das nossas crianças? Sabemos o que é exigir demais ou já perdemos a medida do que é bom ou pertinente? Queremos uma “cura” mais real do que é possível se esperar da realidade? Quando foi mesmo que a realidade virtual, perfeita, substituiu a vivida e imperfeita? Dirigir uma Instituição na qual se deve, penso eu, promover a subjetividade de crianças e adolescentes junto com suas famílias é um desafio nos tempos atuais. É necessário que não se perca de vista que as necessidades dessas crianças e adolescentes não são as mesmas de nossas infâncias, e, por isso, devemos auxiliá-los a acompanhar o seu tempo. E o seu tempo é rápido, é ágil, é dinâmico, é o tempo da imagem, como já discutimos na Jornada Anual do CEAPIA de 2014. Mas também é mister que seja proporcionado, a exemplo de tantas outras épocas, que haja espaço e tempo para a subjetividade se instalar. Quem sabe um outro tipo de subjetividade, mas ainda assim uma subjetividade possível, que dê conta da alma humana em desenvolvimento. No momento em que estamos nos aproximando de mais uma Jornada Anual do CEAPIA 2015, nos propomos a refletir este ano sobre A exigência da infância de um modo abrangente. Faremos isso como no ano passado: sem respostas definitivas, mas empenhados em discutir as questões propostas entre nós que trabalhamos na clínica, entre colegas que, como nós, partilham das mesmas dúvidas, que vivem os mesmos ou outros impasses. A nossa época marca o fim das certezas, o que é bom e pode promover a diversidade de pensamento e a complementariedade de ideias e opiniões. Pensar sobre como estamos enfrentando a mudança de paradigma na qual estamos imersos é algo que cada terapeuta de crianças e adolescentes precisa refletir. E discutir com seus colegas, trocar ideias e fazeres do dia-adia do convívio profissional com esta questão pode ser uma maneira de trilhar esse caminho de forma não tão solitária. 3 ATUALIDADE DESVENDANDO A TERRA DOS GIGANTES: ADOLESCÊNCIA E MOVIMENTOS POLÍTICOS crédito foto: dollarphotoclub LUCIANE ROMBALDI DAVID - Psicóloga, Especialista em Psicoterapia da Infância e Adolescência pelo CEAPIA. Os movimentos políticos e sociais têm estado em evidência na mídia. É possível observar a participação crescente de jovens em tais movimentos, organizados e convocados através das redes sociais, locais de grande domínio dos mesmos, veículos de liberdade e comunicação. Pensarmos sobre esse tema se faz necessário para que possamos, enquanto psicoterapeutas, compreender a importância desses movimentos para o social e para o exercício de cidadania dos adolescentes, além do que, o engajamento dos jovens em movimentos políticos e sociais pode ser um instrumento na avaliação do que é esperado nessa fase do ciclo vital. Para essa reflexão proponho uma incursão analógica pelo que chamarei de terra dos gigantes. A terra dos gigantes tem um solo arenoso, movediço, onde brotam altos e baixos a cada instante. Avançar para dentro de suas fronteiras é tarefa árdua. Diria que, para adentrá-la, é preciso conversar com o gigante que habita dentro si, para alguns há muito adormecido, para outros nem tanto. Observemos sua rotina antes de tomar qualquer atitude ou julgamento. Todos os dias há uma batalha travada em 4 suas terras. Um dos objetivos de tais batalhas é matar os pais de sua pequenez. Sim, porque os gigantes um dia já foram pequenos. E tiveram pais detentores de todo o saber. Têm que exterminá-los para que possam enxergar novos referenciais e modelos que habitam em terras longínquas. Precisam matar os pais para poderem enxergar além dos muros e ultrapassar a miopia endogâmica. Os gigantes têm o hábito de esbravejar, reclamar, brigar. Há épocas em que se reúnem em bandos e tomam os principais caminhos arenosos, em marcha, bradando em coro seus descontentamentos. Os governantes das terras longínquas se atrapalham com tais manifestações gigantescas, observam de longe, esperando para ver até onde seus gritos alcançam. Estremecem as bases, mas não fazem ruir. Outra característica observada na terra dos gigantes é que eles costumam andar em bandos. Têm necessidade de estar sempre conectados, seja pessoal ou virtualmente. Precisam se comunicar e o fazem de vários modos, desde a sutileza até a concretude. Escrevem, escutam música, tocam instrumentos, desenham, batem portas, socam paredes, choram, gritam, calam, entre outras formas. Não será possível listar todos os modos de comunicação, pois muitas vezes nem se percebe que estão se comunicando. Há épocas nas quais os gigantes ficam sonolentos e dispersos, oscilando entre o contato com outros gigantes e o contato consigo mesmo. Dão um respiro aos governantes. Estes, porém, ficam ressabiados, pois não conseguem prever quando os gigantes vão acordar novamente. Em terra de gigantes é preciso de tradutores. Não é possível observar muito diálogo entre gigantes e governantes. A alfândega é muito turbulenta, não falam a mesma língua. Os adolescentes, temíveis gigantes causadores de alvoroço, têm um papel muito importante no cenário político e democrático. Ao participarem de movimentos sociais e políticos (se bem que todos os movimentos sociais são políticos em alguma medida), como os que têm sido observados no Brasil nos últimos anos, mais especificamente desde as jornadas de junho de 2013, surgindo uma nova onda de manifestações desde as últimas eleições, questionam a ordem e buscam revisar as relações objetais onipotentes de uma infância bem próxima, da qual estão lutando por desvencilhar-se, pois é impossível seguirem submetidos a esses objetos detentores de todo o saber. Os nossos gigantes procuram fora representações dos objetos internos, com que possam lutar e confrontar. Nesse momento é que entra o papel da sociedade, dos governantes. A função da sociedade é resistir a essa sacudida e não sucumbir, mas sim amadurecer e se reconstituir. O que o jovem grita, coloca para fora, é um reflexo do seu mundo interno, das batalhas com seus pais internalizados, com o enfrentamento das proibições da infância, projetando no mundo, na sociedade e suas instituições suas questões, que são universais. Conforme Peter Blos (1985), o adolescente nos fala, por meio de seu comportamento mal-adaptado, sobre esse estado de arrojado desarranjo da função social, chamado de anomia (falta de objetivos e perda de identidade, provocada pelas intensas transformações que ocorrem no mundo social moderno). É esse estado de acontecimentos que o adolescente expressa, embora ele não seja capaz de articular a natureza real de sua causa, nem as medidas necessárias para a regeneração social. Os gigantes não falam a mesma língua que os governantes/adultos e é nosso trabalho enquanto tradutores/psicoterapeutas absorver, conter, decodificar o grito e devolver em forma de entendimento e palavra mais elaborada. É nosso trabalho compreender e conter este gigante pulsional, chamá-lo para perto, desmistificar o turbilhão de conflitos através da universalização de suas questões e desejos, sem menosprezar tais questões. É preciso adolescer junto com ele, o que reativa as questões adolescentes do próprio psicoterapeuta. Os adolescentes provocam em nós nosso próprio gigante, em alguns adormecido. Cutucam as feridas dessa transição tão essencial que nos leva ao mundo adulto. As manifestações políticas e sociais são uma forma de dar vazão e colocar no mundo, a céu aberto, o que se passa no mundo interno do adolescente/gigante. Essa reverberação, quando enxergada, escutada, acolhida e traduzida pode ser extremamente proveitosa ao ser posto em debate e revisto o que não está bem em nossa sociedade. Poderíamos dizer que houve certa mudança entre as primeiras manifestações (em 2013) e as atuais. Nas primeiras, não ficava em evidência o desejo de “matar o pai” e tirá-lo de seu poder, ou seja, tirar os governantes do poder e instaurar uma nova ordem a partir de sua queda. Os gritos que pediam impeachment eram esparsos e tímidos. Nas últimas manifestações fica-se com a impressão de que esses gritos ganharam forma e estão mais fortes. Os altos e baixos próprios da fase adolescente e suas revisões de valores, somados à queda da confiança na ordem vigente fizeram com que, além de serem contra a corrupção, as manifestações passassem a ter como pauta derrubar o governante, incluindo pedidos de intervenção militar. É possível questionar se o público é o mesmo em todas estas manifestações, tanto em 2013 quanto em 2015 ou em 1992 (impeachment de Collor). Ao acurar o olhar com o qual observamos as mesmas, sem dúvida chega-se à conclusão de que se trata de gigantes. E refletir sobre como se tratam os gigantes, seja em uma sala de atendimento psicológico, seja a céu aberto em sociedade, é de extrema importância. Aos adolescentes é imprescindível exercitar sua liberdade de expressão e democracia na medida certa. Reprimir com policiais, suas armas de bala de borracha e gás lacrimogêneo só faz com que a força adolescente (o nosso gigante) pulse com mais vontade ainda, vide comparação com o funcionamento do aparelho psíquico, no qual a pulsão exerce sua força para vir à consciência e, em contrapartida, a repressão faz força contrária para conter a pulsão, o que causa um desgaste de energia psíquica. Mas uma repressão também é necessária e só acontece saudavelmente quando têm bons pais internalizados, pais cuidadores e não rígidos. É preciso de cuidadores suficientemente bons em nível familiar e em nível social. É importante que o governo possa agir como “pais suficientemente bons”, tomando emprestado o conceito de Winnicott (1965). O governo precisa poder ser tomado como um bom exemplo, como um modelo a ser seguido, ao contrário do modelo falho e corrompido que vigora atualmente. É preciso de uma nova ordem, que seja honesta, transparente e democrática de fato, que venha de cima para baixo, dos pais para os filhos, do governo para os cidadãos. As manifestações dos gigantes têm sido escutadas e consideradas em alguma medida, pois a partir dessas foi reativada a ideia de um pacote anticorrupção, proposta pela presidente durante a campanha presidencial. Tal pacote permitirá a participação de partidos e movimentos sociais nas discussões. Os gigantes estão se fazendo ouvir. Fica a esperança de que os gritos e pedidos sejam contidos, traduzidos e considerados cada vez mais. 5 VIOLÊNCIA, CULTURA E VULNERABILIDADE NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: PONTO DE VISTA DE BORIS CYRULNIK NORMA ESCOSTEGUY - Psiquiatra de Crianças e Adolescentes (ABP), Membro Pleno do CEAPIA PAULA KERN MILAGRE - Psicóloga, aluna do terceiro ano do Curso de Especialização do CEAPIA Em janeiro de 2015, o mundo voltou sua atenção à França, após os atentados realizados na sede da revista Charlie Hebdo e em outros locais do país. Poucos dias depois desses ocorridos, Boris Cyrulnik participou de uma entrevista no canal TV7 Bordeaux da televisão francesa e transmitiu seu ponto de vista sobre esses acontecimentos. Cyrulnik é estudioso do trauma e da resiliência. Sua motivação em estudar esses temas relaciona-se com sua própria história: quando criança, teve seus pais mortos em campos de concentração nazistas e foi, aos seis anos, denunciado como criança judia em troca de pagamento. Apesar das adversidades, tornou-se um destacado neuropsiquiatra, autor de numerosos livros. Em seu último, “Les âmes blessées” (“As almas feridas”), relata sua história. Nosso objetivo é expor brevemente neste espaço os principais tópicos por ele levantados, tendo em vista a relevância desse tema nos dias atuais. De acordo com Cyrulnik, o que aconteceu na França não foi um acidente, mas o resultado de um fenômeno político-cultural que vem se organizando há tempos. Ele fala de grupos políticos capazes de utilizar o terrorismo como arma eficaz para alcançarem seus objetivos e aponta que movimentos semelhantes já ocorreram ao longo da história da humanidade, dentre os quais a Inquisição Cristã, o Nazismo e outros regimes totalitários. Um dos vários pontos da entrevista que mais nos chamou atenção diz respeito ao aliciamento de combatentes que ocorre ainda na infância ou adolescência. Como, afinal, ingressam nesse sistema? Cyrulnik refere que os grupos terroristas semeiam intencionalmente o ódio nas comunidades de risco e identificam crianças com vulnerabilidade psíquica e social (consideradas “mais fáceis de fanatizar”) para lhes oferecerem viagens e cursos de treinamento militar para a guerra e para enviarem-nas ao sacrifício dos outros à custa de sua própria existência. Trata-se, portanto, de jovens (e não monstros) abandonados pela sociedade e com imensa fragilidade psíquica, que foram recrutados e manipulados por uma minoria que busca poder. Nesse contexto, slogans são inseridos lentamente na cultura para transmitirem representações que as pessoas reproduzem de forma mecânica e sem julgamento crítico. Elas assimilam ideologias (religiosas, políticas, científicas) como verdades absolutas, às quais se submetem - e podem até matar para defender o que acreditam. Na nossa cultura, Cyrulnik destaca que a televisão, a internet e as redes sociais podem se tornar armas, pois muitas vezes veiculam representações parciais da realidade que nos tornam reféns da recitação do que chama de “pensamento preguiçoso”. 6 Diante de tragédias como as ocorridas na França, ele alerta que a pior resposta seria a vingança, quando os massacres incitam novas ondas de violência, ódio e preconceito, assim como ocorreu com muçulmanos inocentes que foram vítimas de ataques com rótulos xenofóbicos. Sendo assim, ele destaca que se torna de suma importância investir na cultura e na educação, sobretudo das crianças e adolescentes com vulnerabilidade psíquica e social. Em suma, Cyrulnik reforça que a solução passa pela promoção de espaços de encontros em que circulem opiniões diferentes, com o objetivo de conscientizar que aquele que possui uma crença diferente da nossa (seja qual for sua natureza) não é nosso inimigo, nem alguém inferior a nós. É apenas outra pessoa, cujas ideias são tão respeitáveis quanto as nossas. Trata-se de podermos nos enriquecer pela visão do mundo do outro, ao invés de temê-la, ou, pior, atacá-la e pretender destruí-la. Ao discutir o valor desses espaços, ele exemplifica que na Grécia Antiga os artistas encenavam em peças de teatro os problemas da cidade. Os cidadãos não saíam do teatro após as apresentações, pois a discussão das questões e dificuldades apresentadas era parte essencial da participação da plateia. Nos dias atuais, cabe nos questionarmos se temos tido espaços satisfatórios de encontro que promovam discussão. As escolas são locais privilegiados para a promoção de debates sobre assuntos polêmicos entre os alunos. São um contexto ímpar em que crianças e adolescentes podem experimentar papéis e descobrir novos pontos de vista. Enfim, ataques terroristas são algumas das manifestações da ausência de consideração pela existência do outro diferente: a alteridade. E, se observarmos nosso contexto mais próximo, podemos perceber que a intolerância à diferença está na raiz de muitos fenômenos: o rompimento de vínculos de amizades de longa data nas recentes eleições pela não aceitação da ideologia política do outro, com seus consequentes rótulos e slogans (“coxinha” e “petralha”); a violência nos estádios de futebol, como ocorreu no futebol argentino, pela impossibilidade de convivência com um rival, etc. Nossa realidade (em diferentes proporções) também tem remetido à importância da troca de ideias, evitando os atos, especialmente os violentos e destrutivos. Sabemos que a proposta de Cyrulnik não é simples: discutir, analisar e combater ideias demanda lucidez, responsabilidade, decisão e tempo - mas esse é o nosso desafio! O USO DE TABLETS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ANA MARGARIDA CHIAVARO A Educação Infantil vem ocupando uma importância significativa na história da educação desde o início do século XX, visando atender muito além das demandas do cuidar. Atualmente, exigem-se profissionais especializados e preparados para desenvolver competências essenciais no atendimento de crianças de 0 a 5 anos, tendo em vista os direitos e as necessidades dos alunos no que se refere à alimentação, à saúde, à higiene, à proteção e ao acesso ao conhecimento sistematizado. Os instrumentos tecnológicos utilizados na educação desde o marco da sua História estão evoluindo nas salas de aula. A visão inovadora na comunicação e transmissão de informações trazida pelas tecnologias propiciam o surgimento de um novo sentido no processo de ensinar. Muitas atividades da vida moderna têm se modificado com o aparecimento das tecnologias de comunicação. As crianças estão inseridas em um ambiente digital, utilizando com frequência em seu cotidiano celulares, câmeras digitais, Ipad, Ipod, incluindo alguns brinquedos com tecnologias mais avançadas. A escola precisa acompanhar a evolução e aproveitar a nova realidade para também trabalhar com seus alunos na mesma velocidade da informação que acontece fora das paredes da sala de aula e influencia todo processo de ensino e de aprendizagem. O computador pode exercer um dos seus papéis mais fundamentais, promovendo redes comunicativas de acesso à informação e a construção partilhada de saberes. Segundo Amante (2011), as crianças se mostram confortáveis e confiantes ao usarem computadores e revelam várias competências na sua utilização, o que não indica que tenham dificuldade em operar com a sua linguagem simbólica. Com efeito, uma administração que se preocupe essencialmente em criar condições que favoreçam a melhoria do contexto de aprendizagem, que se preocupe com o desenvolvimento profissional dos seus docentes, tenderá a constituir-se como um contexto organizacional facilitador dos processos de integração e do seu sucesso (AMANTE, 2011, p. 65) crédito foto: dollarphotoclub Mestre em Gestão Educacional, Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil do Colégio Israelita Brasileiro Nesse contexto, a utilização de tablets em sala de aula aparece como um instrumento auxiliar do processo de ensino e de aprendizagem e, portanto, um recurso que o aluno utilizará para, por meio de jogos e outras atividades, criar, pensar e selecionar informações necessárias para a solução de problemas propostos. Ao mesmo tempo, será um recurso a mais para o desenvolvimento da autonomia e da cooperação. O tablet surge então, como uma nova ferramenta de apoio ao professor, ligado à proposta pedagógica da escola e como um novo recurso a ser utilizado principalmente em sala de aula. Por sua mobilidade, evitam-se deslocamentos e, além disso, insere-se dentro dos projetos já existentes no próprio ambiente dos alunos, favorecendo a contextualização do trabalho. Contextualizar o conhecimento de forma que ele faça sentido na vida da criança e trabalhar com elementos que façam parte dela são elementos que contribuem para o sucesso do ensino. O computador é uma tecnologia que faz parte do cotidiano dos nossos alunos. As crianças estão muito familiarizadas com ele e apresentam facilidade no uso. Muito atrativo, o tablet precisa ser aproveitado pela escola de modo a ser utilizado no processo educativo, pois contribui com uma nova forma de aprender, onde o aluno, ao interagir com essa ferramenta, aprende brincando e constrói conhecimentos. As crianças lidam com as mais diversas informações ao mesmo tempo, de forma natural, pois estão bastante familiarizadas com essa tecnologia. Além disso, o professor, ao utilizar o Ipad em sala de aula, oportuniza situações dinâmicas de aprendizagem, facilitando o diálogo, a troca e a valorização das potencialidades e das habilidades de cada aluno. Na interação que se estabelece com o uso dessa ferramenta, professor e alunos tornam-se parceiros na aprendizagem. Vale salientar que o uso da tecnologia não substitui os livros, o objeto concreto, a massinha de modelar, os jogos e as brincadeiras ao ar livre. A criança precisa brincar, correr, pular e interagir com a família e amigos. O tablet poderá ser utilizado apenas como um diferencial, como uma nova estratégia de ensino, mas jamais preencher muito tempo da rotina dos pequenos. O adulto precisa mediar a utilização dos tempos e espaços desse equipamento para que o uso do Ipad continue favorecendo seus benefícios e facilidades, porém que não prejudique o desenvolvimento infantil. 7 QUAL É O SEU PONTO DE VISTA SOBRE A IMPLEMENTAÇÃO DE TURNO INTEGRAL NO ENSINO FUNDAMENTAL? SE ATÉ O MOUSSE DE CHOCOLATE DA MINHA MÃE NÃO É UNÂNIME... A ESCOLA INTEGRAL, É? MÁRCIA FRIDMAN Pedagoga com ênfase em Pré-escola/UFRGS, Especialista em Psicopedagogia/Clínica Desenvolver, Coordenadora do Setor de Psicopedagogia do CEAPIA, Mestranda em Educação/PUCRS Escrever sobre a minha opinião a respeito do turno integral nas escolas é como recomendar o mousse de chocolate da minha mãe dizendo que ele é o melhor, que é imperdível. Para os apreciadores e para os chocólatras, obviamente não restará dúvida sobre a concordância comigo. Para os que não apreciam tanto assim o chocolate, a resposta já vai ser um pouco mais constrangedora, para não dizer antipática... Afinal, estão falando mal da minha mãe! Há ainda os magros e nada preocupados com a balança, que vão achar que vale experimentar, pois o máximo que vai acontecer é não ser tão bom. Há também aqueles que lutam constantemente com os tracinhos medidores de cada grama da balança, que vão ponderar muito antes de provar... Há ainda aqueles que sempre dirão que os mousses das suas mães são melhores do que o da minha! Assim, não querendo simplificar um assunto tão complexo como educação integral, mas já deixando claro que se trata de algo que envolve diferenças e perspectivas muito individuais, introduzo este texto. Educação integral – Traz consigo um significado de algo que reúne muitas áreas do conhecimento. Quando pensamos em oferecer uma educação integral queremos oportunizar que o aluno possa investir em suas potencialidades de diferentes formas, com inúmeros recursos dentro da instituição escolar e fora dela. Temos que compreender que a Instituição escolar não pode, sozinha, abarcar com o compromisso de contribuir solitariamente para a formação e para a informação dos novos cidadãos do mundo. Imagino que educação integral significa trazer a comunidade para trabalhar junto com a escola na realização desse compromisso. As famílias, mais do que nunca, devem ocupar seu lugar de levar, buscar, opinar, participar de atividades integradas, conviver no espaço escolar dentro das cantinas, das comissões de pais, promovendo atividades como feiras de livros usados, de uniformes que estão em boas condições e que não servem mais para seus filhos, quermesses para arrecadação de verbas para novos projetos pedagógicos, ocupando, assim, espaços dentro da escola, estando na rotina diária dos filhos. Obviamente as famílias precisam 8 desempenhar também seus papéis em casa, aqueles que sempre lhes couberam: o de acompanhar, como pais, o desenvolvimento dos filhos, o papel de afeto, de limite, de doçura, de organização e de exemplo. As instituições culturais da cidade têm um papel extremamente importante, pois elas deverão apoiar e oferecer às escolas projetos de música, de dança, de teatro, de cinema, de exposições, de museus, de bibliotecas, de estádios e de praças que possam complementar o que as escolas incentivam em seus alunos. É importante dividir, durante as horas a mais que os alunos estão dentro do turno escolar, a formação básica com a formação do indivíduo como um todo, dando oportunidade para que as inúmeras capacidades e interesses dos alunos possam se desenvolver. Isso tudo não é possível dentro dos muros de uma única instituição. Conhecer os espaços da cidade, bem como as oportunidades de lazer ou a falta dessas, por si só já é uma grande aprendizagem! Os professores, bem, esses têm uma super responsabilidade, pois acabam sendo um exemplo de vida ainda maior para os alunos, que agora terão mais tempo de convivência diária com eles. Para dar conta dessa responsabilidade, é condição indispensável uma formação docente voltada para a nova realidade. Impossível imaginar os mesmos professores apenas com mais horas disponíveis dentro da instituição. Esses docentes precisam se renovar, se realimentar de novos olhares sobre si mesmos, sobre o seu papel na sociedade, no desenvolvimento humano e no pedagógico de hoje. O professor não pode sentir-se sozinho, com uma função gigantesca para dar conta. Precisa de uma rede de apoio que, na minha opinião, começa com sua própria formação. Escola de turno integral não acontece do dia para noite. Ela precisa ser construída como um projeto muito maior, onde a qualidade do que será feito dentro da escola valha a pena. O acréscimo de horas por si só não me parece ter fundamento, nem no ensino privado nem no público. Os alunos de classes mais favorecidas não precisam ser acolhidos mais horas por não terem para onde ir. Precisam, sim, ser melhor vistos, melhor investidos. Precisam de menos correria no vai e vem do trânsito atrás dos horários do inglês, do esporte, da aula particular, precisam de mais tempo para reconhecerem em si suas preferências, suas facilidades e suas demandas. Os alunos das classes menos favorecidas, além de todos esses aspectos, precisam deixar de estar a mercê da sorte, da rua, do improviso. Estar na escola é ter a oportunidade de estar mais cuidado e mais protegido. Mas, para isso, a escola precisa se preparar, senão irá reproduzir, como muitas vezes já faz, a violência e o abandono da rua. Concluo este texto dizendo que turno integral é papo sério, não é opinião sobre receita de mousse de chocolate... Turno integral é um repensar a educação como um todo e os papéis de cada um de nós nesse processo de transformação de um projeto pedagógico. Muito mais do que quantidade de horas, estamos falando de qualidade de cidadãos para nosso mundo. crédito foto: dollarphotoclub PONTO DE VISTA UMA NOVA ARQUITETURA PEDAGÓGICA NA ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL MÔNICA TIMM DE CARVALHO Licenciada em Letras/UFRGS, Especialista em Gestão Empresarial/UFRGS, Mestre em Gestão Educacional/ Unisinos, Diretora Geral do Colégio Israelita Brasileiro. “...ainda nossas escolas se debatem e lutam em melhorar. A questão é que a maioria das salas de aula é estruturada para uma educação monolítica em lotes. Portanto os alunos, em sua maioria, não estão aprendendo ou estão aprendendo de forma ineficiente.” (CLAYTON CHRISTENSEN, 2012) Ao desconsiderar o fato de que as pessoas aprendem em ritmos e formas diferentes, o ensino em lotes praticado na maioria das instituições de ensino não está efetivamente comprometido com a aprendizagem e o desenvolvimento de todos os estudantes. Parece descabido desejar manter essa abordagem educacional. Restam, então, duas perspectivas: melhorar e/ou inovar o que hoje é feito. Os novos tempos, dada a complexidade do mundo, exigem maior dedicação à participação produtiva na vida em sociedade para o desenvolvimento de habilidades e competências fundamentais. Esse contexto impõe às instituições de ensino a revisão da organização de seus tempos e espaços, a readequação do currículo e a aplicação de novos métodos de ensino. A ousadia que se propõe é, portanto, a migração para o novo paradigma, marcadamente feito por interdependências na infraestrutura de ensino: temporal (sequências didáticas), lateral (interdisciplinaridade) e física (arquitetura modular). Essas interdependências se estabelecem para dar sustentação a um ensino mais customizado, em que são respeitados e valorizados os diferentes estilos e ritmos de aprendizagem. As práticas pedagógicas dessa nova arquitetura pedagógica buscam não apartar os conteúdos da vida dos alunos, oportunizando que os processos de ensino e de aprendizagem se realizem predominantemente através de problematização, pesquisa e experiência. Uma proposta pedagógica alicerçada nesses valores precisa de um tempo necessariamente maior do que o praticado pelas escolas brasileiras em geral, tempo esse que já é realidade nos melhores sistemas educacionais do mundo. Agora, as escolas de regime de tempo integral também estão nas metas das políticas públicas brasileiras e esse parece ser um caminho sem volta. O Colégio Israelita Brasileiro, que implementou, em 2015, no 1º ano do Ensino Fundamental 1, o Regime de Tempo Integral, estabeleceu o aumento da carga horária letiva com o propósito de efetivar uma arquitetura pedagógica constituída por: ALUNOS PROTAGONISTAS: reconhece os alunos como seus participantes centrais, incentivando seu engajamento ativo e desenvolvendo uma compreensão de sua própria atividade como aprendizes. ENSINO CUSTOMIZADO: valoriza as diferenças individuais para potencializar a aprendizagem e o desenvolvimento de cada um dos alunos. VALORIZAÇÃO DA COOPERAÇÃO: enfatiza a natureza social da aprendizagem, estimulando o surgimento de redes de colaboração. ÊNFASE NA INTERDISCIPLINARIDADE: promove a integração entre todas as áreas do conhecimento, bem como o relacionamento com a comunidade local e de outras partes do mundo. USO DE NOVOS MODELOS DE INTERVENÇÃO: oportuniza um ensino que proporcione, sempre que possível, a aplicação dos conhecimentos aprendidos (metodologias ativas), aprimorando o desenvolvimento dos conteúdos procedimentais e atitudinais, com acentuação no uso de novas tecnologias educacionais. USO DE ESTRATÉGIAS DE AVALIAÇÃO EFICIENTES: explicita com clareza o desenvolvimento das expectativas firmadas, dando ênfase ao feedback formativo. Essa arquitetura pedagógica considera a proposição dos Quatro Pilares da Educação, de Jacques Delors: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver juntos. Fundamenta-se nas teorias da aprendizagem de base interacionista, que postulam que as pessoas aprendem na experiência com o objeto de conhecimento (Piaget), mediada por outros seres humanos (Vygotsky). A esse arcabouço teórico, acrescenta a concepção da teoria das Inteligências Múltiplas (Howard Gardner), que aponta para a existência de diferentes perfis cognitivos e para o fato de que a inteligência tem mais a ver com a capacidade de resolver problemas e criar produtos em ambientes propícios do que com as demonstrações acadêmicas referentes unicamente às competências leitora e lógico-matemática. Essa teoria dá sustentação à ideia de que é preciso investir na lógica do ensino customizado, respeitando os diferentes estilos e tempos de aprendizagem para garantir a todos a permanente auto-superação. Os achados das neurociências vêm também contribuir para o conhecimento dos processos de aprendizagem, aspecto fundamental na formação de professores para uma escola do século XXI. A transformação bem sucedida exige das escolas um novo profissional, um professor interdisciplinar que, de modo crescente, tenha foco em resultados, se baseie em pesquisa e aprenda coletiva e continuamente, o que levou o Israelita a contratar professores-tutores por 39h semanais de trabalho, 19h das quais destinadas a estudos, orientação, planejamento, avaliação da prática pedagógica e realização de docência compartilhada, para o atendimento mais individualizado aos alunos. Esse professor assume as funções de designer de currículo, estruturando práticas de ensino que promovam o potencial máximo de cada aluno. Há objetivos educacionais de referência e uma bagagem cultural a ser constituída com todos os estudantes, mas o percurso de construção do conhecimento de cada aluno sempre será diferente. Um professor designer de currículo entende e acredita que todos efetivamente podem aprender e superar a si mesmos. A escola de Regime de Tempo Integral não pode fazer o mesmo em mais tempo. Ela precisa estar a serviço de uma nova lógica em educação. Nossas crianças necessitam da inovação das instituições de ensino que as acolhem. Assim será possível fugir da realidade denunciada por Ricardo Semler, sócio e fundador do Instituto Lumiar: “os alunos fazem de conta que entenderam, a escola finge que ensinou, e os pais fingem que acreditam.” 9 a i c n â f n i a d ia c A exigên SCHER VO E MAGALI FI ER C N A M IL M E POR LISIAN É universal: toda criança, em qualquer época, circunstância cultural, sócioeconômica e familiar, terá que enfrentar-se com as exigências da vida. A Psicanálise vai abordar essa questão de diversas formas, desde as concepções de Freud - todo o bebê a princípio está dominado pelo Princípio do Prazer (tudo o que lhe dá prazer lhe pertence e o que lhe dá desprazer é sentido como externo, algo que o bebê quer “se livrar”). Porém, como um bebê não se cria sozinho e estabelece laços de intensa dependência com a mãe e a família, aos poucos vão sendo apresentados a ele a realidade externa, as inevitáveis frustrações, os códigos sociais (esses sim, específicos de cada contexto). Assim, o bebê vai desenvolvendo aos poucos um novo princípio, o Princípio da Realidade, que vai permitir que se garantam as trocas ao seu redor, modulando as demandas pulsionais, o ingresso no processo civilizatório e, mais tarde, a capacidade de relacionar-se socialmente. Winnicott, psicanalista que se dedicou muito ao estudo do desenvolvimento infantil, descreveu em sua própria linguagem esse processo em que as exigências da vida vão sendo gradualmente apresentadas à criança. Ele destacou a importância da ilusão na constituição psíquica de cada criança. No início da vida, o bebê necessita que seus cuidadores atendam exatamente as suas necessidades infantis, para que possa ter a ilusão de que é ele que está criando o mundo ao seu redor. Essa ilusão, que inicialmente está ligada à órbita de onipotência do bebê que ainda desconsidera a realidade externa, será a base futura para todas as experiências criativas posteriores. Contudo, para que o bebê avance a um estágio em que passe a ter um brincar compartilhado e a ter um reconhecimento do mundo externo, ele precisará experimentar a desilusão, sem a qual não pode haver crescimento emocional. A desilusão, ocasionada pelas falhas do ambiente, impulsionará o bebê a criar dispositivos simbólicos para lidar com as decepções da vida: se a mãe não está presente para atendê-lo, o bebê pode atribuir a um objeto manipulável, como um ursinho de pelúcia, por exemplo, algo dessa função materna que atenua a ansiedade face à separação. Trata-se de uma permanente dialética ilusão/desilusão (num primeiro tempo: eu preciso da mãe e ela aparece, então eu criei a mãe; mais tarde, nem sempre que eu preciso da mãe ela me atende, eu me desiludo, 10 então encontro alguma saída para transitoriamente lidar com essa falta – nova ilusão: nesse momento, o ursinho de pelúcia é a mãe). É a forma como cada família possibilita e tolera essa dialética que vai fazendo com que as exigências da vida possam ser melhor ou pior processadas por cada criança. Quando algo na família está muito perturbado e um bebê não pode ser atendido nas suas necessidades inatas de cuidados e compreensão, ele não poderá se constituir a partir da experiência primária de ilusão – sua capacidade de brincar e de criar ficará comprometida. Por outro lado, se não puder vivenciar a experiência, também imprescindível, de gradual desilusão, se houver uma disposição incondicional de atender a todas as demandas do bebê, que ao longo do crescimento não pode ser frustrado ou conhecer limites, essa criança ficará detida em seu desenvolvimento, não conseguirá ingressar numa etapa de um brincar compartilhado ou de socialização, porque as exigências da vida extrafamiliar serão muito contrastantes com sua eterna condição de “sua majestade – o bebê”. Portanto, as exigências da infância, que seriam naturais e necessárias para que alguém se constitua como um Ser Humano, transformam-se em demandas excessivas, que, como todo o excesso, não podem ser processadas por uma criança, ameaçando a experiência de continuidade de ser do bebê, sua espontaneidade, sua possibilidade de brincar, criar e o próprio sentido da infância. E aqui entramos no que é singular, que modula o cenário de vida de cada criança junto a seu entorno, pensando primeiro em sua relação com a mãe e com a família e, a seguir, numa órbita que vai cada vez se ampliando mais, com a escola, com a comunidade, com o contexto sócio-cultural que a envolve... No documentário “A Invenção da Infância”, dirigido por Liliana Sulzbach, são retratadas crianças submetidas a exigências excessivas, pondo em cheque o próprio conceito de infância. Numa dimensão histórica, o curta-metragem destaca que a idéia de infância nem sempre esteve presente na cultura. Na Pré-Modernidade não havia diferenciação entre os encargos das crianças e dos adultos, nem consideração pelas necessidades inatas e fragilidades das crianças, como era evidente pelos próprios índices elevados de mortalidade infantil. A infância, vista como uma etapa de vida em que a criança está protegida, ocupando-se do brincar como tarefa essencial, é uma invenção da Modernidade. O filme, produzido no ano 2000, mostrava depoimentos de crianças brasileiras e abarcava situações muito contrastantes: algumas, vindas de regiões paupérrimas do sertão, desde cedo precisavam trabalhar para garantir a sobrevivência da família e tinham escassas oportunidades para brincar e estudar. Outras, num contraponto, eram crianças provenientes de grandes cidades, mas que também estavam expostas a exigências excessivas, com agenda lotada, repleta de responsabilidades, sendo também vítimas de um processo de “adultização”. O curta retratava a interferência da mídia, especialmente de programas de TV, que mesmo sendo voltados ao público infantil, promoviam uma erotização que borrava as diferenças entre crianças e adultos. A tese principal do filme: “ser criança não significa ter infância” apresentava a ameaça que a Pós-Modernidade introduziu no universo das crianças, comprometendo o próprio conceito de infância. Parece que se passaram bem mais do que quinze anos desde o momento em que o filme foi produzido devido aos vertiginosos avanços tecnológicos ocorridos, como o acesso a informações promovido pelas várias modalidades de comunicação virtual. A velocidade das transformações na contemporaneidade é inegável; a quantidade de estímulos vindas das telas que magnetizam sensorialmente as crianças é enorme; a pluralidade de ofertas que requerem escolhas se ampliou imensamente, como nas excessivas opções de atividades extra-escolares. Estamos no tempo da aceleração, em que a cultura da imagem e da visibilidade podem representar novas exigências às crianças. O ser visível é condição para o existir, condição essa que, muitas vezes, ignora as fronteiras do íntimo, do privado e legitima a exibição contínua do EU. Nesse ideal cultural, o Fazer e o Ter podem restringir as áreas de experiências do Ser. Diante da demanda de mudança permanente e de uma busca inesgotável do prazer, o risco se dá quando a continuidade histórica e o contato emocional são substituídos pela intensidade e fluidez das relações virtuais. No entanto, esse panorama atual não traz necessariamente uma repercussão negativa ou catastrófica. O que pode neutralizar os excessos dependerá do desejo e das necessidades dos pais, da capacidade de trocas afetivas dentro da estrutura pessoal e familiar e de seus desdobramentos no universo escolar. A tentação do ser humano de substituir o mundo da subjetividade pelo mundo das imagens sempre existiu, mas pode ser incrementada pelos recursos virtuais quando se está diante de lacunas parentais, em que predomina um sentimento de vazio, com a consequente incapacidade de sentir e expressar emoções. Muitas vezes os pais não conseguem filtrar os excessos de estímulos (internos e externos), por eles próprios estarem sendo “tragados” pelo apelo tecnológico, submersos em suas demandas narcísicas. Algumas vezes precisam tomar uma distância excessiva da virtualidade, demonizando-a, tornando-se retaliadores ou intrusivos, não conseguindo criar uma conexão com as necessidades da criança e estabelecer uma linguagem que os aproxime. Em um polo oposto, há pais que se colocam no papel de pais amigos e, sem poder dizer “não”, borram as diferenças geracionais, funcionando como realizadores dos desejos (do filho e de seus próprios desejos infantis), tentando evitar sofrimento psíquico, preencher vazios, mas assim deixando o vazio da “completude.” Como repercussão podemos encontrar crianças ilusioriamente superpoderosas, que dirigem seus pais, os quais ficam empalidecidos nas funções de proteção e de cuidados. Configura-se então uma inversão e, diante da fragilidade dos pais, pode haver a terceirização de seu papel, delegando a educação dos filhos a babás, professores, psicoterapeutas... Por outro lado, não podemos nos esquivar dos importantes problemas sociais, como no universo das crianças vítimas de violência, maltratos, abusos ou que precisam trabalhar para garantir o sustento, como o filme trazido já denunciava. O que vemos em comum em todas essas situações atuais são crianças super exigidas, infâncias abortadas, cuidadores impossibilitados psíquica e materialmente de cuidar e garantir a infância. Crianças desamparadas, “desalojadas do seu lugar de filhos”. No que diz respeito às possibilidades dos pais, educadores, psicoterapeutas, o que cabe ser feito para contrabalançar essas exigências e contemplar as necessidades da infância? Um aspecto fundamental seria o asseguramento de duas funções essenciais a serem desenvolvidas pelos cuidadores: a maleabilidade e a apresentação de limites. A elasticidade é necessária para acompanhar as crianças em seu universo em expansão. Para estabelecer limites é importante tolerar a incompletude. O que as crianças necessitam é da presença, do olhar atento do adulto num terreno seguro de cuidado e proteção, em que seja possível haver encontros, contar e criar histórias impregnadas de fantasias, criar espaços para o brincar. Precisam ter a sensação descrita no desejo de Monteiro Lobato: “ainda acabo fazendo um livro onde as crianças possam morar”. Estão aí os alicerces para a imaginação, criação, simbolização e, com isso, a possibilidade da criança expressar suas angústias, suas dores e seus sonhos. Como ilustração, trazemos o fragmento do encontro analítico com uma criança para quem era muito difícil ter amigos, relacionar-se, ser acarinhada e acarinhar. Após dias entrando com seu Ipad e pedindo para não ser atrapalhada, é questionada: mas assim fica tu sozinha aí, eu sozinha aqui e nada está acontecendo. “Eu to criando a minha cidade. Tenho uma cidade inteira só para mim, e eu que fiz todinha ela. E tu, fica bem quietinha aí”. Depois de um tempo: “Droga, só que ta difícil, porque eu não to conseguindo fazer o sol, não encontro o sol”. E se eu tentasse te ajudar a encontrar o sol? “Não adianta, tu não sabe jogar o minecraft”. Não sei mesmo, mas achar o sol... talvez. “Então, como se acha o sol aqui no jogo?” Nesse eu não sei, mas se a gente pudesse montar, o nosso jogo para encontrar o sol na tua cidade... “Jogo para encontrar o sol? “Ta louca!!!” Vamos tentar? Tá, tu começa. Desenha como se encontra o sol”. Foi feito desenho, corpo de crianças e cabeças de sol. Ela continuou fazendo muitas crianças com a cabeça-sol. Mostrou a cidade construída no jogo: É uma cidade grande, bonita, mas tão vazia. “É, não tem nenhuma gente, nem criança”. Tive uma ideia: vamos por estas crianças-sol na cidade? “Como será que a gente faz?”. Podemos imaginar elas na cidade. “Boa ideia”. Foi dando o nome para as crianças-sol e íamos criando histórias e brincadeiras na escola, na lancheria, no ônibus escolar da cidade, agora não mais vazia (...) Um tempo depois: “Sabia que ontem eu fui numa amiga e hoje vou pedir prá minha mãe se a minha outra amiga pode ir lá em casa? E daí, depois, se a gente não brigar, vou pedir outra amiga, outra amiga, assim de amigas. (...) A profe disse que sala de aula sem brinquedo e sem amigo é igual a uma sala bem fria, bem triste, como gaiola. Casa sem amigas também, né?” Esperamos que essa vinheta ilumine o sentido de estar com uma criança e, com ela, co-construir e desfrutar da ilusão compartilhada de permanentemente inventar e reinventar o mundo. 11 ESPAÇO CULTURAL SESSÃO PIPOCA A FAMÍLIA BÉLIER LUCIANA GRILLO Psicóloga, Especialista em Psicoterapia da Infância e Adolescência, Preceptora do CEAPIA A Família Bélier não é um filme comum... Não é aquele tipo de enredo que ficamos apenas pensando e construindo associações a respeito. A Família Bélier é uma história que nos toca de um modo muito especial, talvez sensorialmente, pois trata-se de uma obra poética na qual podemos sentir a humanidade dos personagens e viver suas emoções. Sua densa trama ganha leveza e, por vezes, humor no encontro de seus sujeitos, sem com isso perder a profundidade de seu argumento: a vivência de uma família, seus conflitos e a busca de identidade de uma jovem que descobre um grande talento. O filme ganha verdade e autenticidade ao tratar de um tema difícil, sob uma ótica sensível, através da música e do espírito de liberdade que essa evoca. Paula, a protagonista, é uma adolescente de 16 anos não muito típica. Pouco lembra meninas de sua idade, pois, no auge do que supostamente seria o turbilhão desta fase, parece já ter determinado o rumo de sua vida. Ela trabalha na fazenda de sua família, situada no interior na França, e tem a função (ou peso) de servir como intérprete do pai Rodolphe, da mãe Gigi e de seu irmão mais novo Quentin. Todos, menos Paula, são deficientes auditivos e, em razão disso, dependem integralmente dela para fazer uma ponte com o mundo. Paula adapta-se a esse lugar, nem sempre muito confortável, e segue os desígnios familiares. No desenrolar do filme, assim como costuma acontecer na vida, surgem oportunidades de mudança para Paula. Ela se apaixona por um colega e, incentivada por sua melhor amiga, passa a frequentar o coral da escola para ficar perto dele. É lá que, pela primeira vez, a partir da escuta atenta de um professor de música chamado Thomasson, a jovem descobre seu extraordinário talento para o canto. Paula possui uma voz exuberante e logo encanta seu professor, o qual reconhece seu dom e a incentiva a participar de um concurso em Paris na Radio France, onde ela teria a oportunidade de aprender a aperfeiçoar seu canto. Thomasson, inicialmente desmotivado com a própria carreira de músico e com o desinteresse dos alunos, recupera a esperança e acaba sendo o maior incentivador da jovem a cantar. Parece haver certa realização pessoal do professor no sucesso de Paula, mas, sobretudo, vemos em seu encorajamento um genuíno interesse de ver a adolescente apropriar-se de sua vida e se encontrar como pessoa. Ao descobrir uma voz poderosa, Paula vê-se imersa num grande conflito: buscar seu sonho e separar-se de sua família ou permanecer junto a ela. Na trama, a ambivalência de Paula com relação a seguir o seu rumo e o impacto dessa escolha na vida familiar ganham destaque. Do mesmo modo, os pais se deparam com a própria necessidade de independizarem-se da filha e de aprender a viver sem ela. Entre cenas memoráveis está uma em que Rodolphe, o pai, confronta amorosamente a esposa quando essa menciona que Paula não saberia sobreviver sem eles em Paris, afirmando a Gigi que o maior medo deles era o desamparo 12 que experimentariam sem a filha. O amor acalorado entre os membros dessa família supera o medo do desconhecido e Paula ganha asas... Na cena final, em que a jovem participa da audição na Radio France, vivemos o ápice da emoção desse filme. Paula canta “Je Vole”, “Eu vôo” de Michel Sardou, artista francês, tocando a alma do público. A canção diz: “Queridos pais, vou partir. Amo vocês, mas vou partir. Não terão filha esta noite... Eu não vou fugir, vou voar, entenda bem: vou voar... sem beber, sem fumar, vou voar, vou voar...”! Paula sincroniza o canto com a linguagem dos sinais, dirigindo especialmente a seus pais um hino de liberdade, ao qual aplaudem, arrebatados. Conseguem escutar o que a emoção da filha desperta e é justamente essa sintonia que lhes permite aceitar o seu vôo! A Família Bélier mostra não ser apenas um filme sobre comunicação (ou a falta dela), mas especialmente sobre escolhas, libertação e seguir em frente, tanto para filhos quanto para pais. Repleto de personagens fortes, com características humanas, esse é um filme primoroso, no qual nos encontramos e nos descobrimos, seja no som, seja no silêncio. DICAS RUDDERLESS LUCAS VALLADARES O filme trata a jornada de um pai abalado com a perda de seu filho. Em virtude desse acontecimento, o pai muda drasticamente sua rotina de vida, mas não esperava que, ao entrar em contato novamente com o mundo de seu filho, pudesse estar conectando-se com um canal de lembranças, conflitos e arte, mais precisamente a música. A PELE QUE HABITO ANGÉLICA BERNARDY Obra realizada com o roteiro e direção de Pedro Amodóvar, filme espanhol, produzido em 2011, apresenta relações familiares com drama e suspense. O cirurgião plástico Robert vive com a filha Norma. Ela possui problemas psicológicos, motivados também pelo suicídio da mãe. Traumatizada, Norma ficou por seis anos aos cuidados de uma clínica psiquiátrica. Os médicos da jovem convencem Robert, seis anos depois, a tentar uma ressocialização da filha, assistida por muitos medicamentos. Norma e Robert vão a uma festa, em que ela encontra Vicente, que se drogava. Ambos, com as percepções alteradas, decidem ir ao jardim da festa. Robert encontra a filha desmaiada. Esta acorda em surto psicótico e passa a associar a imagem do pai àquela do agressor. A partir disso Robert inicia um plano para se vingar do suposto estuprador. MARCA PÁGINA O CASTELO DE VIDRO CLÁUDIA GIACOMET DE CARLI Psicóloga, Professora e Supervisora do CEAPIA Eu peguei fogo. Assim Jeannette Walls começa a contar suas memórias de infância. Seu livro “O Castelo de Vidro” descreve um relato intenso, honesto e corajoso. Uma vida difícil e os consequentes movimentos e recursos da autora para superar as adversidades da infância. A forma como ela vai revelando sua própria história permite ao leitor deparar-se com emoções variadas e intensas. Permanece ao longo da leitura uma oscilação entre a incredulidade e a raiva provocadas pela perversão, bem como admiração e perplexidade com relação à luta pela sobrevivência física e psíquica. O título do livro “O Castelo de Vidro” tem origem num projeto mirabolante do pai de construir, em pleno deserto, um castelo de vidro onde a família moraria. O mérito da narrativa fica evidente nas emoções e ambivalências provocadas no leitor. Os pais são descritos como pessoas muito perturbadas emocionalmente. O pai alcoolista, violento, sempre criando planos fora da realidade alicerçados em um pensamento mágico e maníaco. Ao mesmo tempo a autora descreve-o com uma idealizada admiração. A incredulidade é provocada no leitor pela surpresa com relação ao sentimento da menina, que fica encantada e seduzida pelo pai, necessitando defendê-lo para não perder a fé nele, quando, segundo ela mesma diz, ninguém mais tinha. Uma árdua luta para manter a ideia de um bom objeto. O pai a chama carinhosamente de “cabrita montesa”, uma analogia à capacidade da menina de “sempre manter-se em pé, equilibrarse bem, mesmo nos terrenos mais íngremes”. Isso é verdade. Jeannette Walls, de fato, mostra-se uma “cabrita montesa” na vida. Seu “equilíbrio” é constantemente posto à prova. A mãe é descrita como imatura, completamente alienada da realidade, negligente, abusadora e, ao mesmo tempo, uma pessoa com uma cultura e conhecimentos que não combinavam com sua miséria emocional. Sem contar que, no final, revela-se que essa mãe teria uma condição econômica segura e estável, não fosse pela loucura que colocava tudo sempre a perder. Um cenário típico das contradições e estranhezas próprias da doença mental. Acompanhar o processo de Jeannette de discriminar-se de seus pais, aguentar a desilusão protetora da infância e manter sua saúde e integridade física e mental é algo que emociona de várias formas. A vida é descrita todo tempo como uma tentativa de transformar perigo, abuso e negligência em aventura. O risco e o absurdo, ficam mascarados pela emoção do triunfo. A autora conta sobre uma coleção de pedras que foi juntando em suas expedições e aventuras pelo deserto. Encanta-se com a beleza e diversidade das rochas. Quando pensa em vendê-las, coloca um preço muito alto. É bonita a analogia com seu mundo interno. Dura, resistente, bela e valiosa. Assim é Jeannette Walls. Embora, em mais uma fuga da família Walls, ela seja obrigada a deixar para trás sua coleção, o mais importante: a sensação de algo valioso e sua capacidade de resiliência, ela carregou sempre dentro de si. As condições de vida são péssimas. As crianças passam fome, frio, não têm condições básicas de higiene e encontram2 Isso ela nos irá contar em seu segundo livro, “Meus Desacontecimentos” se sempre em situações de ameaça a sua integridade física e mental. A violência é banal e generalizada. Os pais são sádicos, enlouquecedores. Como não recebem do casal parental os cuidados mínimos necessários, os irmãos vão desenvolvendo um senso de cuidado uns com os outros e consigo muito delicado, forte e bonito. Em muitos momentos, ainda enquanto crianças, eles tem que cuidar dos pais. A fraternidade se sobrepõe ao desamparo. São quatro filhos: três meninas e um menino. Este, o grande companheiro e defensor de Jeannette em muitas situações. A mobilização dos irmãos para ajudarem-se uns aos outros a sair da cidade e buscar algo melhor é tocante. Os aspectos positivos da fraternidade são exercidos ao máximo. O amor e o cuidado entre eles permitem a instalação da esperança em bons objetos. O pacto é “se um conseguir sair daquela cidade e afastar-se dos pais, busca o outro”. Eles conseguem, não sem antes enfrentarem o boicote perverso dos pais. Mas enquanto os filhos estão se organizando para viver uma vida melhor, os pais resolvem ir ao encontro deles. Ainda assim, com exceção da filha caçula, que acaba tendo problemas psiquiátricos, os irmãos conseguem se organizar, crescer e prosperar. É comovente a tentativa da autora de descrever sua vida tão difícil como uma grande aventura. Aos leitores cabe a possibilidade de se emocionar ao ler a história da família Walls. Uma amostra do quanto os sentimentos amorosos permitem a possível elaboração dos afetos mais destrutivos e hostis. É uma história de luta, esperança, adaptação e superação. Encerro com as palavras de Boris Cyrulnik: “O traumatizado submete-se a sua história ou dela se liberta utilizando-a. É essa sua escolha: compulsão a repetir ou a se libertar.” (Cyrulnik, pg 123). Jeannette parece ter-se libertado quando consegue expressar seus sentimentos e memórias mais íntimos, escrevendo sua história. Integra dor e afeto, amor e ódio, com delicadeza, numa narrativa que permite ao leitor a empatia com seus sentimentos. O leitor agradece as emoções compartilhadas com tamanha sinceridade. DICAS CASA DAS ESTRELAS: O UNIVERSO CONTADO PELAS CRIANÇAS Seleção de Javir Naranjo / Editora Foz FERNANDA MATTE Essa pequena joia literária reúne as ideias de algumas crianças sobre diversos temas, abordando palavras como ancião (“É uma coisa muito boa, porque aparecem rugas na pessoa” – Juliana, 10 anos), brincadeira (“É estar contente e amado” – Ricardo, 10 anos), medo (“Um menino que está triste” – Juliana, 6 anos), mãe (“Mãe é a pele da gente” – Ana, 5 anos), presença (“Uma moça pressentindo amor” – Julio, 7 anos)... As respostas dos infantes variam conforme a faixa etária e a fase do desenvolvimento em que se encontram, o que faz de Casa das Estrelas um livro doce e divertido, através do qual podemos mergulhar na mente da criança e no universo infantil. 13 AUTISMO, AMBIENTOTERAPIA E PSICANÁLISE PAULA MILAGRE - Psicóloga, Aluna do terceiro ano do Curso de Especialização do CEAPIA, Membro da Equipe de Ambientoterapia do CEAPIA VANESSA GIARETTA - Psicóloga, Especialista em Psicoterapia da Infância e Adolescência, Co-coordenadora da Ambientoterapia do CEAPIA A Ambientoterapia é um tratamento em grupo, que sempre foi muito bem recomendado para casos em que há claras dificuldades com limites, frustração, agressividade e comportamento intencionalmente opositor e negativista com figuras de autoridade. Sintomas estes que nos levam muitas vezes a diagnósticos de transtornos do humor, de personalidade e de conduta. Há, no entanto, outro grupo de pacientes que por vezes chega até essa modalidade de atendimento, cujas dificuldades de socialização se devem a padrões de interações precárias e disfuncionais, mas porque sequer foi estabelecida uma noção de si mesmo como pessoa, que dirá de um outro. Dentro desse perfil estão as crianças do espectro do autismo. Embora historicamente na Ambientoterapia do CEAPIA haja relatos de atendimento a esse perfil de pacientes nos últimos anos a demanda para crianças com TEA (Transtorno do Espectro do Autismo) aumentou muito, especialmente para os quadros em que as habilidades cognitivas estão preservadas. Hoje, com as inúmeras pesquisas das neurociências e de outras áreas, tem-se obtido cada vez mais informações sobre o autismo, inclusive com reformulações nos critérios diagnósticos do DSM-V, o que tem implicado em um crescente número de diagnósticos precoces. Em decorrência disto, a procura pela Ambientoterapia como alternativa de tratamento também tem aumentado, chegando por vezes a superar o número de pacientes com outras patologias. Mesmo assim, alguns profissionais ainda questionam sua indicação para esses casos, perguntando-nos: “Vocês fazem psicanálise com crianças do espectro do autismo dentro da Ambientoterapia? Como?”. E respondemos: “Sim, fazemos!”. Isso não quer dizer que esperamos de maneira passiva que associem livremente ou que interpretemos os conteúdos do seu mundo interno. O fato é que, para muitas pessoas, no imaginário cultural, a psicanálise para crianças com autismo é ficção. Contudo, ela tem muito a oferecer, desde que seja levado em consideração que cada funcionamento mental exige um enfoque terapêutico especial. Não são os pacientes que devem se adaptar à técnica, mas a técnica ao paciente, como já nos alertava Winnicott. Em outras palavras, a clássica interpretação de conflitos inconscientes é eficaz com pacientes cuja estrutura psíquica é mais integrada. Diante de estados mentais primitivos, como é o caso das crianças a quem estamos nos referindo, a escuta do inconsciente não é abandonada, mas nossas intervenções devem ser ajustadas a sua demanda e a sua singularidade. Se, obviamente, a técnica no atendimento ambulatorial com esses pacientes precisa sofrer adaptações, na Ambientoterapia isso não seria desigual. Em muitas circunstâncias, nossos manejos diferem daqueles utilizados nos quadros tratados por desvios de conduta, por exemplo. Ou seja, um soco de uma criança com autismo que esteja representando uma busca de contato e um reconhecimento da pessoa que está ao seu lado não requer manejos “disciplinadores”. No lugar disso, pontuamos seu movimento, nosso corpo, a dor, e oferecemos outras possibilidades de interação, tendo em vista que o limite é fundamental para adquirirem a noção do eu e do outro e 14 aprenderem a administrar seus impulsos e emoções. Nosso método de trabalho com as crianças do espectro do autismo, portanto, engloba intervenções não interpretativas, que visam à sua integração emocional. Priorizamos uma linguagem simples, lúdica, com foco nos afetos, ajudandoas a nomear sentimentos e a organizar internamente o que sentem, por vezes, de forma tão caótica. Somos muito corporais, vivos, ativos, reivindicadores da presença delas na nossa rotina, como nos orienta Anne Alvarez, e, mais atualmente, Richard Solomon. Temos como objetivos ampliar seu universo de interesse e diminuir sua necessidade de busca pela zona de conforto – que se refere normalmente a padrões de comportamento obsessivos ou estimulações sensoriais repetitivas –, porém respeitando seus sinais para não as invadirmos. Interessanos, mais do que adaptá-las, compreender como veem o mundo, como funciona sua mente e como se desenvolve seu psiquismo, para, dessa maneira, sermos capazes de ajudálas. Antecipar acontecimentos da rotina, prever suas reações e agregar significado emocional aos seus comportamentos, sem rotulá-los, são estratégias fundamentais de holding, que têm como objetivo acolher, conter, metabolizar e transformar suas angústias. Cabe ressaltar que valemo-nos muitas vezes de técnicas comportamentais e que frequentemente trabalhamos no nível sensorial, fazendo uso de instrumentos que contemplem estímulos visuais, táteis e sonoros. Também nosso tom de voz, ritmo, postura e olhar podem ser entendidos como estímulos. Assim, narrar e associar elementos verbais às manifestações não-verbais dos pacientes são formas de aumentar sua capacidade de integrar suas experiências, caminhando de expressões concretas para mais simbólicas. Através do contato pele a pele, olho a olho, buscamos espelhá-los como pessoas, desenhando seus contornos e sua imagem corporal. O terapeuta apresenta-se a essas crianças como uma pessoa interessante e confiável, com quem podem compartilhar atividades e experiências emocionais significativas que preenchem pouco a pouco seus abismos internos com conteúdos humanos: a brincadeira, a voz, o choro, a dor, o riso, a falta, o desejo. Na nossa experiência de trabalho com esses pacientes, temos observado neles uma ampliação do espaço mental, com consequente aumento da capacidade de autopercepção, de controle emocional e de autorregulação sensorial, levando-os a brincar mais, interagir melhor e assim estabelecer vínculos mais positivos com os demais. Claro que esses resultados são muito mais eficazes quando estão associados a outros atendimentos: psiquiatra, neurologista, fonoaudiólogo, acompanhante terapêutico e/ou outros. Por fim, a busca pelo prazer nas relações interpessoais tem sido acima de tudo nosso principal foco com as crianças do espectro do autismo. A satisfação em fazer coisas com os outros as leva a gostar de estar na companhia deles, reconhecêlos como pessoas inteiras e perceber a si mesmas como parte do universo desse outro, com sensações e sentimentos humanos. Isto é psicanálise! SETORES ATENDIMENTO COLATERAL A PAIS O Setor de Atendimento Colateral a Pais segue em suas atividades de atendimento e estudo sobre a Parentalidade. Este conceito é por nós entendido como um termo que designa um processo de construção e de exercício de funções de cuidado e de interação dos pais com seus filhos, cuja base fundamental deve ser o vínculo afetivo que se forma entre as partes e que pode ou não coincidir com os laços de consanguinidade/parentesco. Neste sentido, os atendimentos psicoterápicos realizados pelo Setor têm como foco essas questões da parentalidade, procurando construir uma relação de confiança e de empatia para com os pacientes-pais e, assim, desvendar os significados que para eles têm o ser mãe e o ser pai. Sabemos que o exercício da parentalidade é um aprendizado constante e que a mulher que vai ser - ou já é - mãe e o homem que vai ser - ou já é - pai trazem consigo uma bagagem emocional próprias, advinda de suas trajetórias de vida. Há, portanto, toda uma carga afetiva envolvida na experiência de ser mãe/pai, antes mesmo do bebê nascer. Essa carga afetiva sofre um impacto importante com o advento da paternidade/maternidade e é com ela que vamos lidar no atendimento terapêutico aos pais. Examinar, com cada um dos pais, como ele, pai, e como ela, mãe, se enxergam enquanto filhos de seus pais, como veem o modo como foram tratados por estes, o que passaram de dificuldades ou de facilidades em suas vidas familiares no passado, com quem puderam - ou não - contar na infância e na adolescência, como toleram seus próprios aspectos frágeis e dependentes, entre outras questões, é tarefa importante para desvelar o sentido de ser mãe ou pai para cada um e desfazer conflitos do passado atualizados na relação com os filhos. São pontos que buscam abrir oportunidade para o contato emocional dessa mulher e desse homem - agora pais - com suas próprias vivências afetivas. Poder estabelecer essa ponte de ligação deles consigo mesmos abre caminho para poderem ser empáticos com os filhos, pois podem passar a percebêlos como seres com necessidades afetivas próprias, com demandas típicas de cada fase do desenvolvimento e como crianças/adolescentes dependentes deles, pais. Com isso, podem enxergar melhor seu lugar junto aos filhos, seus papéis de pai/mãe. É na relação terapêutica, com alguém empático a eles, que podem viver uma experiência de compartilhamento de seu mundo emocional e que podem sentir-se sustentados mentalmente por alguém - o terapeuta. Às vezes, é a primeira vez que experimentam esse tipo de vínculo. Assim, a experiência transferencial de serem cuidados e sustentados emocionalmente também fornece boas ferramentas para desenvolverem sua capacidade cuidadora e criar ou ampliar sua competência parental. O que temos visto em nossa experiência terapêutica é que, em muitos casos, a abertura interna de um espaço para desenvolver esse ser pai e ser mãe melhora a saúde mental das crianças-filhos, bem como a autoestima e outras capacidades dos próprios pais. PSICOPEDAGOGIA O SIGNIFICADO DA PSICOPEDAGOGIA MARTA RIBAS SANTOLIM Para comentar sobre Psicopedagogia, é importante retomar o conceito sobre este campo de conhecimento, que tem como objeto de estudo a aprendizagem e que, mesmo tendo surgindo da fronteira entre psicologia e pedagogia, não é uma fusão entre as duas, como, erroneamente, muitos acreditam. Enquanto área de conhecimento interdisciplinar, interessa à Psicopedagogia compreender como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada a vários fatores, como se produzem alterações nesse processo, bem como reconhecê-las, tratálas e preveni-las. Nesses tempos líquidos, em que tudo é realizado com muita rapidez, é preciso compreender que, assim como para o andar, o falar, o se alimentar sozinho, entre outras atividades importantes para o desenvolvimento do ser humano, para aprender também é preciso tempo, dedicação, reflexão e investimento. O trabalho psicopedagógico busca um olhar mais amplo para a aprendizagem da criança ou do adolescente, buscando um entendimento e compreensão maior não só das fraturas que o paciente apresenta, como também das suas possibilidades de aprendizagem, sempre considerando que muitas das nossas capacidades se alteram de acordo com inúmeros fatores. Daí a importância de um trabalho interdisciplinar com outros profissionais. Quando o paciente chega ao consultório psicopedagógico, na maioria das vezes, já vem com a “etiqueta” de que não é inteligente o suficiente. Além disso, os pais, como sabemos, depositam grande expectativa na vida escolar de seus filhos e para eles é uma grande frustração esses filhos não “estarem indo bem na escola”. Já nesses primeiros contatos com paciente e família, o profissional da psicopedagogia deve atuar mostrando que as possibilidades de cada um vão muito além das notas do colégio e que dificuldades na escola podem ser decorrentes de aspectos cognitivos e/ou afetivos. Uma ação psicopedagógica eficiente busca interferir na relação no paciente com a sua aprendizagem, resgatando ou até mesmo criando um vínculo com o prazer de aprender. Cabe ao psicopedagogo fotografar e investigar o seu paciente, de todos os lados, para uma maior compreensão da individualidade de cada um, sempre tendo presente que o seu paciente é único, como também os seus saberes e dificuldades. 15 INTERVENÇÕES PRECOCES Recktenvald e Juliana Abulé trouxeram sua experiência de viagem a Budapeste (Hungria), quando tiveram a oportunidade de estudar e visitar o Instituto Loczy. A palestra “A constituição da criança e a filosofia de Emmi Pikler” nos propiciou importante troca. No final do ano, a psicóloga Adriana Ribas, que por catorze anos esteve na Coordenação do Setor, despediu-se desta função. Nossa querida colega e amiga, profissional exemplar, segue, porém, nos acompanhando no Setor eventualmente. A Coordenação passou, então, para a psicóloga Inta Muller, profissional que participa do Setor há mais de vinte anos, que tem toda sua trajetória associada a esta Instituição. A co-coordenação será da psicóloga Daniela Raskin. Sejam bem vindas! Atualmente nosso grupo conta com oito profissionais da área da psicologia. Além das coordenadoras, também participam Adriana Ribas, Bruna Detoni, Desirée Trois, Giuliana Chiapin, Lisandra Fuchs, Luciane Kruse e Natália Leusin. Damos as boas vindas às terapeutas Fernanda Amorim e Viviane Silveira, que passaram a compor nossa equipe. Ao longo deste novo ciclo do nosso Setor, buscamos cada vez mais pensar nas bases do desenvolvimento infantil, podendo assim auxiliar as famílias que nos procuram, assim como contribuir com o ensino na nossa Instituição. COMUNIDADE escolas. Nessa oportunidade, o público pôde participar de uma vivência de terapia comunitária integrativa, manifestando satisfação e grande envolvimento. Em abril, a advogada Herta Grossi falou sobre Mediação Familiar. Esta prática vem sendo cada vez mais utilizada, tanto no meio jurídico quanto na clínica privada e objetiva possibilitar o diálogo e a discussão dos conflitos, tendo como função primordial a manutenção dos vínculos familiares. No primeiro semestre, contamos ainda com a equipe da Ambientoterapia do CEAPIA, que abordou formas de lidar com crianças de difícil manejo e com a psicóloga Denise Bandeira, que falou sobre o comportamento agressivo na infância. Tem sido uma satisfação organizar esses encontros ricos e com temas diversificados e relevantes. Durante o segundo semestre do ano de 2014, o Setor de Intervenções Precoces seguiu com as atividades de atendimento a pais e bebês (0 a 3 anos), estudos teóricos e reuniões clínicas. Nossas reuniões clínicas são abertas a profissionais do CEAPIA e de áreas afins e ocorrem no horário em que esse grupo se reúne, nas sextasfeiras, das 15h até às 16h30min. Contamos com a participação de profissionais da área da saúde que vieram compartilhar conosco suas experiências, visando assim enriquecermos e ampliarmos nossos conhecimentos no que diz respeito ao desenvolvimento e interação das crianças pequenas com seus pais e/ou cuidadores. Essas atividades estender-se-ão igualmente ao longo do ano de 2015. Em 2014 estiveram conosco a psicóloga Maíra Meimes, para falar sobre sua dissertação de Mestrado intitulada “Mãe-criança e autismo: a contribuição dos fatores psicossociais” e o médico gastroenterologista Cesár Augusto Detoni e sua esposa, para falarem sobre sua experiência com a Escola de Pais, que visa a medidas preventivas dentro do convívio pais/filhos. Neste primeiro semestre de 2015, as psicólogas Karina ADRIANA FERREIRA, LEONORA BELLINI E KÁTIA LUDWIG (COORDENADORA) Os Encontro da Comunidade têm reunido um grande número de participantes. Eles acontecem no CEAPIA, um sábado por mês. A escolha dos temas é feita a partir das sugestões dos presentes que prestigiam regularmente este evento, fazendo dele um momento de troca de experiências e construção de novas ideias e formas de pensar. O primeiro encontro do ano, no mês de março, contou com a participação da psicóloga Cláudia Buarque, que trouxe sua experiência em Terapia Comunitária com as ADOÇÃO Desde o ano passado, o Setor de Adoção, a partir de uma parceria estabelecida com o Ministério Público, vem pensando e discutindo a respeito do Programa de Apadrinhamento Afetivo. Este programa tem como objetivo propiciar às crianças, afastadas de seu contexto familiar original, experiências e referências afetivas além das vivenciadas no ambiente de acolhimento institucional. Tivemos a oportunidade de participar da seleção dos padrinhos em um projeto piloto e, tendo em vista a importância dessas figuras na vida dos afilhados, ficamos com a convicção de que tal processo deva ser bastante criterioso, para que haja um encontro exitoso em que laços de confiança e afeto possam ser construídos. A adoção é uma das formas para a constituição de uma família. No entanto, algumas crianças, pela idade mais elevada, por problemas de saúde, por pertencerem a um grupo grande de irmãos, dentre outros motivos, acabam não TRANSTORNOS ALIMENTARES 16 O Setor de Transtornos Alimentares do CEAPIA surgiu em dezembro de 2012, com o intuito de atender crianças, adolescentes e adultos que apresentam problemas relacionados à alimentação, excesso ou redução preocupante de peso, assim como outros comportamentos alimentares com padrão tendo a chance de serem adotadas. São essas as crianças que podem ser apadrinhadas. Assim como ocorre com pais adotivos, os padrinhos precisam estar dispostos a assumir uma função terapêutica, ressignificando histórias de abandono e oferecendo a seus afilhados um ambiente continente e estruturante. Dentre nossos casos do Setor de Adoção, há alguns de crianças abrigadas, em que os padrinhos afetivos se responsabilizam financeiramente pelo tratamento. Há outros em que padrinhos tiveram tamanho envolvimento com seus afilhados que buscaram habilitar-se e vieram a adotar as crianças. O que nos fica claro é que ser Padrinho Afetivo requer muita disponibilidade emocional, capacidade de escuta e de assumir a função de cuidador dessas crianças e adolescentes que já vivenciaram tantas perdas e privações. Acreditamos que essa é uma oportunidade verdadeira para que os afilhados afetivos possam conviver com uma família, tendo a possibilidade de reestruturar conceitos familiares e afetivos que possibilitarão o estabelecimento de relações duradouras e significativas. repetitivo que possam comprometer o seu desenvolvimento. Nossa equipe é multidisciplinar, composta por nutricionistas, psicólogas e médicas. O Setor vem atendendo casos que se deslocam do interior do Estado para realizar acompanhamento especializado. A dinâmica do tratamento dos pacientes consiste no atendimento nutricional semanal e atendimento psiquiátrico e psicológico, cuja frequência de consultas varia conforme a gravidade do caso, podendo aumentar se necessário. AMBIENTOTERAPIA PROJETO PORTO ALEGRANDO Na nossa Ambientoterapia, além das atividades habituais da rotina – lanche, pátio, hora do conto, psicopedagogia, dentre outras – com certa regularidade realizamos passeios externos com as crianças. A realização de passeios oportuniza aos pacientes que eles se experimentem em locais fora do setting da Ambiento, com a segurança de que estarão devidamente acompanhados pela equipe de terapeutas. Isto é fundamental especialmente porque a maior parte de nossas crianças apresenta pouca interação com a cidade e com sua comunidade, ficando limitada ao convívio com sua família e com um grupo restrito de pessoas. Portanto, visamos acima de tudo ajudar nossos pacientes a retomarem o vínculo com a comunidade e conectarem-se com o ambiente por onde circulam. Em vista disso, este ano elaboramos um projeto muito querido e investido por toda a equipe da Ambientoterapia, o qual tem sido muito bem recebido pelos nossos pacientes. É o projeto “Porto Alegrando”, que tem por objetivo apresentar os pontos turísticos da nossa cidade, estabelecendo elos afetivos dos pacientes com esses locais. A ideia é possibilitar que possam conhecer e/ou perceber esses lugares de maneira diferente, ressignificando suas vivências pela cidade e tornando-as parte da sua identidade. Como ponto de partida para o projeto, contamos a história “Um dia especial”, da autora Léa Cassol, na qual ela apresenta detalhes e encantos sobre os bairros de Porto Alegre através do olhar dos personagens. Depois, ouvimos músicas temáticas a respeito da cidade. A finalidade foi instigar a curiosidade dos pacientes quanto aos espaços e PESQUISAS EM CLÍNICAS-ESCOLA Clínicas–escola são serviços de atendimento que funcionam nas instituições de ensino superior de psicologia e nas instituições de formação em psicoterapia com o objetivo de praticar a clínica e atender a população de baixa e média renda1. Nesses serviços de atendimento os alunos completam a formação, realizando a prática clínica sob a orientação de um professor-supervisor2. As clínicas-escola promovem ações e procedimentos que possibilitam o ensino e a pesquisa, contribuindo para a formação do aluno e o atendimento à comunidade2. As clínicas-escola foram criadas pela lei de regulamentação da profissão e de cursos de Psicologia3. Existem vinte e três clínicas-escola em todo os estado do Rio Grande do Sul4. Muitos estudos colocam em evidência a necessidade de que sejam produzidas pesquisas nas clínicas–escola, principalmente pesquisas de caracterização de clientela2. Estudos de caracterização de clientela buscam melhorar o COORDENAÇÃO: RENATA KREUTZ E VANESSA GIARETTA (PSICÓLOGAS) - EQUIPE FIXA: FERNANDA AMORIM, PAULA MILAGRE E PHILIP BREW (PSICÓLOGOS); ADRIANA FERREIRA (PSICOPEDAGOGA); RAQUEL BRODACZ (FONOAUDIÓLOGA) E GABRIELA FARIAS (ASSISTENTE SOCIAL) - TRAINEES: FERNANDA MATTE E MARÍLIA SCHMIDT (PSICÓLOGAS) ao cotidiano da cidade. No mês de março escolhemos fazer um passeio na Redenção, em comemoração aos 243 anos do aniversário de Porto Alegre. Para tal, as crianças realizaram um mapeamento prévio do parque através de imagens, com a identificação das suas zonas (Monumento ao Expedicionário, Buda, Lago dos Pedalinhos...). Fomos de ônibus até o Parque Farroupilha e lá, após um tour a pé pelos locais pesquisados, sentamos na grama, cantamos parabéns para nossa querida cidade e desfrutamos de um maravilhoso piquenique embaixo das árvores. Cada criança pôde tirar fotos suas em diferentes locais do parque, para que essas imagens venham a compor um álbum individual que será construído no desenrolar do projeto, com fotos delas em todos os lugares visitados. Em maio, fizemos um city tour de van. Antes desse passeio traçamos a rota e construímos juntos um mapa que nos guiou por todos os pontos da cidade que nos interessam: Usina do Gasômetro, Arena do Grêmio, Estádio Beira-Rio, Laçador, Orla de Ipanema, dentre outros. Foi escolhido um desses lugares para descermos e, mais uma vez, tirarmos fotos, lancharmos, brincarmos e vivermos juntos experiências emocionais enriquecedoras. Nos próximos meses, novos passeios serão programados. Acreditamos que a cidade é um espaço de encontros possíveis e de experimentação da sociabilidade. Poder retomar vivências sociais e culturais é, sem dúvida, algo vital e fundamental para o desenvolvimento! atendimento psicológico das clínicas-escola e desenvolver estratégias de ação para elaboração de intervenções mais eficazes5. Além disso, a clínica-escola pode contribuir para produção de conhecimento psicológico, fundamentando novas formas de atendimento4. O CEAPIA, enquanto clínica-escola com mais de 30 anos de existência, pode ser pensado como um importante fornecedor e produtor de bases para o conhecimento do atendimento emocional de crianças e adolescentes6. A Comissão de Pesquisa do CEAPIA estima que a Instituição possua cerca de cinco mil prontuários em seu arquivo permanente. A coleta e estudo desse acervo vêm sendo desenvolvidos há oito anos pela Comissão de Pesquisa do CEAPIA. Ao finalizar esse estudo, o CEAPIA, além de aprender mais sobre sua história e o perfil de sua clientela, terá mais ferramentas para aprimoramento de seus serviços clínicos. SÍLVIA HALLBERG E MILENE MERG Direção de Pesquisa CEAPIA REFERÊNCIAS 1) Löhr, S. & Silvares, E. (2006) Clínica-escola: Integração da formação acadêmica com as necessidades da comunidade. In: Silvares, E. F. M. (Org.) Atendimento Psicológico em Clínicas-escola (p.11-22). Campinas: Alínea. 2) Gauy, F. &; Fernandes, L. (2008) Um panorama do cenário brasileiro sobre atendimento psicológico em clínicas-escola Paidéia (Ribeirão Preto) vol.18 no.40. 3) Brasil (27 de agosto de 1962). Lei no 4.119, que dispõe sobre a formação em Psicologia e regulamenta a profissão de Psicólogo. Capítulo IV (Artigo 16, p. 3). Disponível em http://www.pol.org.br/legislaçao/pdf/lei_n_4.119.pdf 4) Campezatto, P.& Nunes, M. L. Caracterização da clientela das clínicas-escola de cursos de Psicologia da região metropolitana de Porto Alegre. Psicol. Reflex. Crit. vol.20 no.3 Porto Alegre 2007 5) Merg, M. (2008). Caracterização da clientela infantil em clínicas-escola. Diss. de Mestrado. Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul. 6) Lucas, B. ; Matos, C. ; Feil, Cristiane Friedrich ; VESCOVI, G. ; SA, I. ; MERG, M. M. G. ; AXELRUD, R. ; Hallberg, S. (2013). Perfil da clientela que buscou atendimento no CEAPIA: estudos iniciais da comissão de pesquisa. Publicação CEAPIA, v. 22, 102-113. 17 ESTÁGIO ANELISE MARIATH RECHIA Trabalhar no Setor de Estágio tem sido uma experiência gratificante e enriquecedora. Muitas reflexões e questionamentos têm surgido a partir desses encontros tão instigantes e mobilizadores com os estagiários. Refirome a eles com essas palavras porque acredito que os alunos, jovens na idade e/ou na profissão, são especialistas em questionar, desacomodar o estabelecido e provocar movimento. Envolvidos com a atividade de estágio, estamos implicados diretamente nos primórdios das experiências profissionais dos alunos, as quais ligam-se diretamente à questão das escolhas. Dentro do currículo das universidades, diversos estágios são obrigatórios, em diferentes áreas da Psicologia, mas o que mais temos observado é que os alunos que “escolhem” o CEAPIA, na sua grande maioria, já estão identificados com a clínica, desejam dela se aproximar e experimentarem-se como “psicoterapeutas”. Nesse espaço, que envolve leituras, estudos teóricos, técnicos e supervisões, vivem momentos muito intensos, sobretudo pela possibilidade de encontro com o nosso principal instrumento de trabalho: nossa mente e a mente de um outro que nos procura! Vivemos experiências intensas, momentos de incertezas, dúvidas, desafios e angústias mobilizadoras. Não se passa por aqui sem levar na bagagem marcas que, se bem digeridas, poderão fazer parte de nosso arsenal de recursos teóricos, técnicos e pessoais. Bem, não temos como prever a repercussão da experiência de estágio nos alunos e que efeitos ela terá sobre seu desenvolvimento profissional e emocional, pois muitas são as possibilidades de vínculos mentais que cada um pode fazer dentro de si. Para Grolnick (1993), a prática inicial é sempre portadora de ansiedades e essas podem tornar-se úteis quando geram movimentos de busca pelo que falta. É lógico que não se pode conceber que o estudante, ou mesmo o profissional, chegará no momento em que não lhe faltará nada, estará pronto, acabado. Acredito que isso equivaleria a estar morto. A cada novo estágio, a cada nova leitura, avistamos um horizonte de conhecimentos e experiências que ainda nos faltam... Entretanto, sabemos que certos requisitos são básicos nessa caminhada e que, ainda que a formação acadêmica e muito estudo sejam indispensáveis, a formação pessoal do profissional, através de sua análise, experiências, práticas e uma vida rica de vivências pessoais, fundamentam um processo individual de crescimento e transformação. Pensando nessa busca pela identidade profissional e desenvolvimento pessoal, gostaria de transcrever para o leitor uma poesia de Cyro Martins, psicanalista e escritor, que diz o seguinte: “Pois fica decretado a partir de hoje, que terapeuta é gente também. Sofre, chora, ama e sente e, às vezes, precisa falar. O olhar atento, o ouvido aberto, escutando a tristeza do outro, quando, às vezes, a tristeza maior está dentro do seu peito. Quanto a mim, fico triste, fico alegre e sinto raiva também. Sou de carne e sou de osso e quero que você saiba isto de mim. E agora, que já sabes que sou gente, quer falar de você para mim?” Um grande abraço! (CYRO MARTINS) NÚCLEO DE ESTUDANTES VANESSA GIARETTA O Núcleo de Estudantes foi criado em 2010 com o objetivo de estabelecer um elo entre o CEAPIA e os estudantes de psicologia (estagiários e ex-estagiários da Instituição) que, através desse espaço, comunicam seus interesses de estudo e atuação, ajudando a criar grupos de estudo, seminários e outros eventos voltados para o público universitário dentro da Instituição. O Núcleo tem se mostrado um espaço de valorização e entrada para as renovações, evidenciando-se também como um vínculo importante para a Instituição, já que muitos ex-estagiários acabam mantendo um contato frequente com o CEAPIA e, até mesmo, seguindo sua trajetória profissional no Curso de Especialização. Coordenar essa comissão de universitários tem sido uma grande alegria, pois a turma que compõe o Núcleo atualmente é engajada, cheia de ideias criativas e com muita ânsia de crescer e aprender sempre mais e mais! Eles têm participado ativamente das diversas atividades do CEAPIA e, em 2014, o espaço que eles foram conquistando 18 levou ao fato de que a Jornada dos Estagiários no final do ano ocorreu concomitante à dos alunos do Curso de Especialização. Aqueles que prestigiaram as apresentações dos estagiários surpreenderam-se com a qualidade técnica dos trabalhos, que em nada deixaram a desejar para o nível ao qual se propuseram. Confesso, no entanto, que a mim não surpreendeu... Fiquei apenas com os olhos brilhantes de orgulho e já ansiosa com o que eu teria que correr atrás em 2015, pois essa turma não se cansa de desejar, felizmente! Este ano já temos três grupos de estudo em andamento e muitos planos pela frente. Na primeira semana de julho será nossa 1ª Jornada Interna dos Estagiários de 2015, que ainda estamos organizando e em breve divulgaremos com maiores detalhes. A 2ª Jornada ocorrerá no final do ano, quando novamente faremos parceria com os alunos do Curso de Especialização! Valeu Adriana, Aline, Angélica, Júlia, Laura, Marina, Rafaela e Victória, minha querida comissão! PRÊMIO CEAPIA DIVULGAÇÕES Inscriç õe de Julh s abertas para o o a Outubro proce da 36º sso seletivo turma. Curso de Especialização em Psicoterapia da Infância e Adolescência (Início em Dezembro de 2015) Objetivo Desenvolver a capacitação teórica e clínica para o exercício da especialidade de psicoterapeuta de orientação analítica da infância e adolescência, através do estudo do desenvolvimento normal e patológico, desde as relações precoces pais-bebê, passando pela infância até a adolescência, havendo seu complemento pela abordagem clínica de todas essas faixas etárias. Carga Horária 1940 horas, em 3 anos letivos Foi com imensa alegria que recebi a notícia de que tinha ganhado o Prêmio CEAPIA com o trabalho “Uma mente em construção: reflexões sobre a evolução de uma criança no processo psicoterapêutico”. A partir do caso clínico de um paciente, teci considerações sobre a possibilidade de construção e de ampliação do espaço mental no trajeto da psicoterapia infantil. Discorri sobre pontos-chave do tratamento em termos de estruturação psíquica, através de vinhetas ilustrativas. Integradas com a poesia de Vinícius de Moraes “O Operário em Construção”, elas foram pensadas com base na literatura científica de autores contemporâneos e na teoria de Winnicott e de Green. Gostaria muito de agradecer à Magali Fischer, orientadora do meu trabalho, e à Lisiane Cervo, minha supervisora, pela disponibilidade e pelo carinho que tiveram comigo que foram fundamentais na elaboração da minha escrita. Também agradeço à Norma Escosteguy por suas ricas contribuições. Por fim, queria agradecer ao CEAPIA pela valorização e pela premiação. O `reconhecimento e a oportunidade de compartilhar meu trabalho com outros colegas é muito gratificante e estimulante! Paula Kern Milagre, Psicóloga Aluna do terceiro ano do Curso de Especialização do CEAPIA Título: Desafios da Clínica Atual de Crianças e Adolescentes: Subjetividade e Virtualidade Coordenação: Psic. Ana Cristina Guimarães Dia: Quintas-feiras 11h15min às 12h30min Título: Winnicott Coordenação: Caroline Milman Dia: Terças-feiras 12h40min às 13h50min Últimas se xt Fique atent as-feira de cada o à progra mês mação através do site www .ceapia.com .br Visite nosso blog ceapia.blogspot.com.br Curta a nossa página: facebook.com/curtaceapia Agende-s e! 10 - 14/11 / 17 9 0 12/ 28/08 - informações, acesse s r re .b Para maio www.ceapia.com e o nosso sit udo para ão t s e e d Grupos es de graduaç t estudan de lanie Klein e M e d o ent o Pensam chia a o ã ç u d e o Título: Intr Anelise Mariath R 30min ão: s 9h Coordenaç -feira - 8h15min à as Dia: Quint itivo nal Prim io c o m E nto envolvime tina Guimarães s e D : lo u ít is in T o: Ana Cr às 9h30m ã Coordenaç as-feira - 8h15min d n u Dia: Seg o l Primitiv a n io c o m to E nvolvimen Muller e s e D : lo u in Tít Inta às 15h30m ção: Psic. Coordena as-feira - 14h15min nd Dia: Segu 19 28/Agosto - Sexta-feir a 15h Temas Livres 17h15min Encontro com a Comunidade Título: Sobre a Escola - Exigente ou exigida? Convidada: Rosália Alvim Saraiva (Mestre em Educação) Adriana Longoni Moreira (Mestre em Educação) 19h Coffee Break 19h30min Abertura e entrega do Prêmio Temas Livres Cátia Olivier Mello - Presidente CEAPIA Aline Restano - Diretora Científica CEAPIA 20h Sobre a Infância: Há tempo? Convidadas: Maria Lucrécia Zavaschi (Psicanalista SPPA e FAMED-UFRGS) Olga Falceto (Psiquiatra INFAPA e FAMED-UFRGS) Coordenação: Abraham Turkenicz (Psicanalista CEAPIA) 29/Agosto - Sábado 20 9h Discussão Clínica Supervisoras: Lisiane Cervo (Psicanalista SBPdePA e CEAPIA) Magali Fischer (Psicanalista SPPA e CEAPIA) Coordenação: Ineida Aliatti (Psicóloga CEAPIA) 14h Sobre ser Pais Convidadas: Eluza Enck (Psicanalista SBPdePA) Tânia Wolff (Psicóloga CEAPIA) Coordenação: Cláudia Giacomet De Carli (Psicóloga CEAPIA) 10h30min Coffee Break 15h30min Coffee Break 11h Sobre ser Criança Convidadas: Alice Lewkowicz (Psicanalista SPPA) Vera Mello (Psicanalista SBPdePA) Coordenação: Paula Pecis (Psicóloga CEAPIA) 16h Sobre ser Psicoterapeuta de Crianças Convidadas: Nara Caron (Psicanalista SPPA) Norma Escosteguy (Psiquiatra CEAPIA) Coordenação: Ester Litvin (Psicanalista SBPdePA e CEAPIA) 12h30min Intervalo para Almoço 17h30min Encerramento da Jornada Cátia Olivier Mello - Presidente CEAPIA Inscrições: www.ceapia.com.br Rua Cel. Bordini, 434 - (51) 3342.7974