UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS CÍNTIA SOUZA DA SILVA FOTOPROTEÇÃO: UM CUIDADO PARA TODOS OS TIPOS DE PELE CRICIÚMA, JULHO DE 2009 CÍNTIA SOUZA DA SILVA FOTOPROTEÇÃO: UM CUIDADO PARA TODOS OS TIPOS DE PELE Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC, para a obtenção do título de especialista em Ciências Farmacêuticas. Orientadora: Profª. Msc. Marilucia Rita Pereira. CRICIÚMA, JULHO DE 2009 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha família, por estarem sempre ao meu lado em mais essa conquista. AGRADECIMENTO Agradeço a Deus. A minha família pelo incentivo de continuar estudando. A Professora Marilúcia por ter aceitado me orientar na elaboração deste trabalho. E a todas as pessoas que de alguma forma me ajudaram a concluir não só este trabalho, mas que estiveram ao meu lado em mais essa conquista. “A Pele negra tem suas vantagens em relação à pele branca, por conta da alta quantidade de melanina, mas suas desvantagens também existem e devem ser conhecidas. A pele negra tem particularidades que pedem cuidados específicos”. Autora: Profª. Mafalda Ruiz Domingues. RESUMO Inicialmente a pele corresponde a 16% do peso corporal e exerce várias funções. A seguir, fizemos uma breve explanação de como é formada as camadas da pele. Logo mostra como se forma a melanina nas células da pele. Posteriormente o ponto de vista dermatológico o determinismo genético da pigmentação cutânea não é bem conhecido. Com isso, a dermatologia utiliza uma classificação para cada cor de pele. Aponta também, as particularidades estruturais, biológicas e funcionais da pele negra. Finalmente destaca como a importância do uso do FPS na prevenção do câncer de pele e do envelhecimento. Explicando a diferença que existem entre os dois tipos de raios ultravioletas raios UVA e UVB. Neste contexto a intenção foi de ressaltar que todos os tipos de pele independente de sua tonalidade devem e precisam o uso de protetor solar. Palavras chaves: Pele; pigmentação; protetor solar; raios ultravioletas UVA e UVB. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01 - Epiderme corada com ricrômio de Masson, evidenciando as suas diferentes camadas: C – Camada Córnea; G – Camada Granulosa; S – Camada Espinhosa; B – Camada Basal; D – Derme ............................................................... 13 Figura 02 - Classificação do fototipos de acordo com Fitzpatrick............................... 17 Figura 03 – Capacidade de penetração dos raios solares ao nível da pele ............... 24 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Classificação do fototipo de acordo com Fitzpatrick.................................. 18 Tabela 02 - Tipos de pele e o FPS adequado para cada tipo .................................... 29 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9 2. OBJETIVOS ........................................................................................................... 10 2.1. Objetivo Geral................................................................................................ 10 2.2. Objetivos específicos ................................................................................... 10 3. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ........................................................................ 11 3.1. Pele ................................................................................................................. 11 3.1.1. Camadas da pele ........................................................................................ 11 3.1.2. Tipos de pele .............................................................................................. 13 3.1 3. Funções da pele ......................................................................................... 14 3.2. Diferenças raciais e etnias ........................................................................... 15 3.3. Fotoproteção ................................................................................................. 22 3.4. Filtros solares................................................................................................ 26 3.4.1. Formulações de protetores solares.......................................................... 27 3.4.2. Fator de proteção solar ............................................................................. 28 4. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 31 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 33 9 1. INTRODUÇÃO A pele é considerada um dos órgãos mais complexos, sendo o maior do corpo humano. É o principal órgão de comunicação com o meio externo, tendo muitas funções essenciais, como proteção, termo-regulação, resposta aos estímulos imunológicos, detecção sensorial e comunicação social e sexual. As pessoas de pele negra representam à maioria da população do mundo, ainda assim, na literatura é limitado sobre as características das pessoas com esta característica. Ao longo das últimas décadas, vários grupos vêm tentando decifrar as diferenças, estruturas, funções nas diferentes origens étnicas e tipos de pele. A mais óbvia diferença refere-se à cor da pele, que é dominada pela presença da melanina. Atualmente existe uma grande preocupação dos dermatologistas e dos meios de comunicação, principalmente na estação mais quente, que é o verão, com a fotoproteção da pele. Há uma importância do uso de protetores solar, devido os riscos que os raios UVA e UVB causam à pele, principalmente para as pessoas de pele mais clara. Ao contrário das pessoas com hiperpigmentação que não são mencionadas para este tipo de cuidados. Desta forma, o presente trabalho tem como justificativa estudar as diferentes características da pele humana e, buscar esclarecer a necessidade ou não de cuidados com a proteção da pele negra, assim como acontece com as pessoas de pele clara. 10 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo Geral Estudar a necessidade de fotoproteção pela pele negra. 2.2. Objetivos específicos a) Estudar a fisiologia da pele humana; b) Estudar as diferenças raciais em relação a pele; c) Estudar a importância da fotoproteção para a pele humana; d) Estudar se a pele negra precisa de fotoproteção. 11 3. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO 3.1. Pele A pele é o órgão que envolve o corpo determinando seu limite com o meio externo. Corresponde a 16 % do peso corporal e exerce diversas funções, como: regulação térmica, defesa orgânica, controle do fluxo sanguíneo, proteção contra diversos agentes do meio ambiente e funções sensoriais (calor, frio, pressão, dor e tato). É o único órgão que apresenta dois tipos de envelhecimento: o cronológico ou intrínseco comum a todos os outros órgãos, relacionado com a idade; e o envelhecimento causado por fatores ambientais, principalmente pelo sol, chamado de fotoenvelhecimento. (AZULAY; AZULAY; 2004). 3.1.1. Camadas da pele Sua formação possui três camadas distintas: epiderme, derme e hipoderme, da mais externa para a mais profunda, respectivamente. (SAMPAIO; RIVITI; 2001). A epiderme é a camada mais externa, constituída por células diferenciadas, como queratinócitos, que se dispõe em quatro ou cinco camadas e produzem a proteína queratina. Sendo que, a queratina é uma proteína fibrosa e dura que ajuda a proteger a pele e os tecidos subjacentes do calor, microrganismos e substâncias químicas. Os queratinócitos também produzem grânulos lamelares, que liberam uma substância seladora hidrorrepelente. As células de Langerhans que participam das respostas imunes preparadas contra os microrganismos que invadem a pele. Essas células são facilmente danificadas pela radiação ultravioleta (UV). Cerca de 8 % das células epidérmicas são melanócitos, que produzem o pigmento melanina. Suas projeções longas e delgadas se estendem entre queratinócitos, para os quais transferem os grânulos de melanina. A melanina é um pigmento marromescuro que contribui para a cor da pele e absorve a luz UV prejudicial. Ainda que os 12 queratinócitos ganhem alguma proteção dos grânulos de melanina, os próprios melanócitos são especialmente suscetíveis ao dano causado pela luz UV. Também é constituída por epitélio estratificado, cuja espessura apresenta variações topográficas desde 0,04 mm nas pálpebras até 1,6 mm nas regiões palmo-plantares. Formada por cinco camadas celulares que, do centro para a periferia, são: estrato germinativo ou camada basal, estrato espinhoso, estrato granuloso, estrato lúcido e estrato córneo (Figura 01). É na camada basal, onde ocorrem as divisões celulares através das mitoses, tendo papel fundamental na regeneração da epiderme. Na camada espinhosa, possui ainda, mas em menor número, células com atividade mitótica. Nesta camada os queratinócitos são caracterizados por apresentar expansões citoplasmáticas que contém tolofilamentos de queratina. Apresentam também aspecto de “células com espinhos” que a caracteriza. A camada granulosa possui grãos de queratoialina (precursora de uma proteína, a filagrina), que aumenta a resistência da queratina e que se decompõe numa mistura de aminoácidos, dando origem ao fator de hidratação natural (natural moisturizing factor). Já na camada clara ou estrato lúcido, as células são achatadas dispostas sobre um ou dois estratos, e contêm uma substância lipídica: a eleidina. E a camada córnea, compreende células completamente queratinizadas, sem núcleo. A filagrina, sintetizada na camada granulosa sob a forma de profilagrina, degrada-se na camada córnea e participa da formação de pequenas moléculas hidrossolúveis como: aminoácidos, uréia, ácidos pirrolidônico carboxílico (PCA), ácido úrico e ácido lático, que fazem parte do fator de hidratação natural. Já a derme ou cório, é a camada intermediária, constituída por fibras de colágeno, elastina e reticulina. Promove a flexibilidade, elasticidade da pele e mantém a homeostase. Esta camada é bem vascularizada e inervada, e é onde se encontram também as glândulas sudoríparas, sebáceas e os folículos pilosos. E a hipoderme, é a camada mais profunda e constituída de células adiposas. Considerada um isolante térmico, cuja atividade é basicamente amortizar traumas físicos ou mecânicos e atuar como reservatório de gordura (função energética). (SAMPAIO; RIVITI; 2001. TORTORA; GRABOWSKI; 2006). 13 Figura 01 - Epiderme corada com ricrômio de Masson, evidenciando as suas diferentes camadas: C – Camada Córnea; G – Camada Granulosa; S – Camada Espinhosa; B – Camada Basal; D – Derme. Fonte: Macedo, 2001. 3.1.2. Tipos de pele A pele varia de pessoa para pessoa, assim convencionou-se dividi-las em: Normal ou eudérmica: pele ideal, secreções equilibradas. Pele lipídica ou oleosa: espessura aumentada, pH ácido, aspecto oleoso e com brilho intenso. Pele seca ou alípica: secreção sebácea insuficiente, pessoas de pele muito clara, fina e sensível, frágil e facilmente irritável. Pele mista: pele oleosa na zona T, restante aspecto ressecado. (RIBEIRO; 2006). 14 3.1 3. Funções da pele A pele tem como principal função a proteção, que é exercida das mais diversas maneiras contra as agressões do meio exterior. Tem uma resistência relativa aos agentes mecânicos, por sua capacidade moldável e elástica (fibras colágenas, elásticas e hipoderme). No sentido físico, essa proteção se faz pela capacidade de, através de seu sistema melânico, impedir e absorver as radiações ultravioletas e, até mesmo, ionizantes (parcialmente). (AZULAY; AZULAY; 2004). A melanina, o caroteno e a hemoglobina são três pigmentos que conferem uma ampla gama de cores à pele. A quantidade de melanina é responsável pela variação da cor da pele, do amarelo-claro, ao bronzeado e ao preto. A biossíntese da melanina ocorre no interior da unidade metabólica dos melanócitos, que são mais abundantes na epiderme do pênis, nos mamilos mamários e na área que os circundam (aréolas), face e membros, estando também presentes nas túnicas mucosas. Uma vez que o número de melanócitos é quase o mesmo em todas as pessoas, as diferenças na cor da pele são devidas essencialmente à quantidade de pigmento que os melanócitos produzem e transferem para os queratinócitos. Em algumas pessoas, a melanina se acumula em manchas denominadas sardas. (TORTORA; GRABOWSKI; 2006). A exposição à luz UV estimula a produção de melanina, que aumenta em quantidade e intensidade de cor, dando à pele uma aparência bronzeada e, adicionalmente, protegendo o corpo contra a radiação UV. Desse modo, dentro de certos limites, a melanina tem uma função protetora. Todavia, a exposição repetida da pele à luz UV pode causar câncer de pele. O bronzeado é perdido, quando os queratinócitos que contêm melanina são descamados do estrato córneo. (TORTORA; GRABOWSKI; 2006). A pele também possui função de regulação da temperatura corporal, onde contribui para a regulação homeostática da temperatura corporal, liberando o suor em sua superfície e ajustando o fluxo sanguíneo da derme. Os lipídios liberados pelos grânulos lamelares retardam a evaporação da água da superfície da pele, protegendo assim, o corpo da desidratação. O sebo impede os pêlos de ressecarem e contém substâncias bactericidas que eliminam as bactérias das superfícies. O pH ácido da perspiração retarda o crescimento de alguns microrganismos. 15 As sensações cutâneas são aquelas que se manifestam na pele, incluindo as táteis – toque, pressão, vibração e cócegas – e as térmicas, por exemplo, de calor e frio. A dor, outra sensação cutânea, é uma indicação de dano tecidual iminente ou real. A excreção e absorção da pele normalmente têm um pequeno papel. Na excreção, a eliminação de substâncias do corpo, e na absorção, a passagem de materiais do ambiente externo para as células corporais. A síntese da vitamina D, que é estimulada pela exposição da pele à luz UV, que após a exposição da pele ao sol a vitamina D é convertida em sua forma ativa, um hormônio denominado calcitriol, que auxilia a absorção do cálcio e do fósforo do trato gastrintestinal para o sangue. (SAMPAIO; RIVITI; 2001. TORTORA; GRABOWSKI; 2006). 3.2. Diferenças raciais e etnias O conceito relativo a “raças humanas” compreende as diferenças morfológicas entre os povos. Cada raça tem características particulares (cor da pele, tipo do cabelo, conformação cranial e facial, ancestralidade, genética, etc.), desenvolvidas num processo de adaptação a determinado espaço geográfico e ecossistema ao longo de várias gerações. Do ponto de vista biológico, porém, raças humanas não existem, existe apenas o Homo-sapiens – a espécie humana. O termo raça é construção racial e divide a humanidade em cinco categorias: caucasóide: europeus, os povos do Oriente Médio e na Índia. Os mongolóides: oriente asiático, indonésios, polinésios, micronesianos, ameríndios, e os esquimós. Os australóides: aborígenes, melasianos, tribos indígenas. Os negróides: negros africanos, africanos americanos e africanos do Caribe. E os capóide: tribos africanas. O conceito de raça é associado ao de etnia, diferindo-se, entretanto, pelo fato de um grupo étnico ser uma comunidade humana definida por afinidades lingüísticas e culturais, e semelhanças genéticas. (ALCHORNE; ABREU; 2008. RAWLINGS, 2005). Enquanto nos Estados Unidos negro é todo aquele que tem um ancestral negro (mesmo em ponto remoto da árvore genealógica), independente do tom da pele, no Brasil, levam-se em conta a cor da pele e a aparência física, não a ancestralidade. Desse modo, a população brasileira se divide em: brancos, pretos, 16 pardos, amarelos e indígenas. O termo pardo aplica-se ao fruto da miscigenação entre índios, branco e negro, ou seja, pessoas com ancestralidade indígena, européia e africana. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) consideram os pardos negros, sendo, portanto, a população negra no Brasil a soma de pardos e pretos. (ALCHORNE; ABREU; 2008). Devido ao alto grau de miscigenação da população brasileira, há pouca precisão em identificar quem pode ser chamado de negro, prevalecendo para fins estatísticos o critério da autodeclaração. A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo IBGE em 2005, apontou que a população brasileira é composta por 93.096 milhões de brancos, 79.782 milhões de pardos, 12.908 milhões pretos, 919 mil amarelos e 519 mil indígenas. Em relação ao censo de 2000, o número de pardos aumentou de 38,5% para 42,6%, e o de pretos de 6,2% para 6,9%. Desse modo, a população negra do Brasil alcança, atualmente, o índice de 49,5 % da população total. A composição étnica dos brasileiros não é uniforme por todo o país. Devido ao longo fluxo de imigrantes europeus para o sul do Brasil, no século XIX, a maior parte da população nessa região é branca (79,6 %). Na região nordeste, em decorrência do grande número de africanos que trabalhavam nos engenhos de cana-de-açúcar, o número de pardos e pretos, 62,5 % e 7,8 %, respectivamente. Na região norte, devido ao importante componente indígena, a maior parte das pessoas é de cor parda (69,2%). Nas regiões sudeste e centro-oeste as porcentagens dos diferentes grupos étnicos são bastante similares, havendo na região sudeste 32,5 % de pardos, 7,7 % de pretos, enquanto na região centro-oeste 42,6 % da população é composto por pardos e 6,9 % por pretos. (ALCHORNE; ABREU; 2008). As pessoas de pele negra representam à maioria da população do mundo, ainda assim, na literatura é limitado sobre as características das pessoas com pele hiperpigmentada. Ao longo das últimas décadas, vários grupos vêm tentando decifrar as diferenças, estruturas, funções nas diferentes origens étnicas e tipos de pele. (RAWLINGS, 2005). A cor da pele, sob o ponto de vista dermatológico e, o determinismo genético da pigmentação cutânea não é bem conhecido. Como não existe um consenso internacional quanto ao que é “pele negra” (por exemplo, conceitualmente, um indivíduo negro nos Estados Unidos pode ser considerado branco no Brasil), é 17 difícil definir o que é e, qual grupo populacional tem “pele negra”. (ALCHORNE; ABREU; 2008). Para tentar uma uniformização, a dermatologia utiliza um sistema de classificação para a cor da pele, mas nenhum usado como padronização para a “pele negra”. O mais usado é o de Fitzpatrick, que define o fototipo (Figura 02; Tabela 01). Esse sistema de classificação foi criado para categorizar a pele branca; toda pele escura foi classificada inicialmente como fototipo V. Mas, como a pele escura abrange várias gradações de cores, subseqüentemente, foi dividida nos fototipos IV, V e VI que raramente queimam ou nunca queimam pelo sol e que facilmente bronzeiam. (ALCHORNE; ABREU; 2008). Figura 02 - classificação do fototipos de acordo com Fitzpatrick. Fonte: Revista Cosmetics & Toiletries, Temática Proteção Solar, mar/2008. 18 Tabela 1: Classificação do fototipo de acordo com Fitzpatrick. * Tipo de pele I Reação à exposição solar Cor da pele Queima facilmente, nunca bronzeia Branca II Queima facilmente, levemente bronzeia Branca III Queima moderadamente, bronzeado Branca uniforme IV Queimadura mínima, bronzeado moderado Morena clara V Raramente queima bronzeado abundante e Morena escuro VI Nunca queima, possui pigmentação Escura profunda * Classificação baseada nos primeiros 45 – 60 minutos de exposição solar após o inverno. Fonte: Revista Cosmetics & Toiletries, mar - abr 2004. Entretanto, esse sistema nunca pretendeu definir a etnicidade. Ele foi desenvolvido para definir a resposta de tipos diferentes de pele à luz UV, através de queimadura ou de bronzeamento. Um sistema de classificação baseado na propensão da pele a se tornar hiperpigmentada por estímulo inflamatório e sustentar essa hiperpigmentação por período prolongado pode ser de valor, já que essa característica é exclusiva da pele pigmentada. (ALCHORNE; ABREU; 2008). Reconhecendo as limitações de um sistema desenvolvido para avaliar pele clara, que é aplicado para avaliar pele de outras raças, Kawasa em (1986) (apud Rawlings, 2005)1, adaptou o sistema para melhor categorizar os tipos de pele de indivíduos japoneses. Ele criou um sistema de classificação em três categorias, baseado no nível de sensibilidade à luz ultravioleta. Outros sistemas de classificação de pele, baseados em outros fatores que não a radiação UV deve ser encarada. O Lancer Ethnicity Scale (LES) é um sistema de classificação desenvolvido para calcular tempo e eficácia de cura em pacientes submetidos a procedimentos cosméticos químicos ou a laser. A cor da pele do paciente é um importante fator a ser considerado devido ao risco que envolve esses procedimentos. (TAYLOR; 2002). Indivíduos com pele escura poderiam ser mais bem avaliados por um sistema de classificação de pele baseado em outros critérios que não a sensibilidade 1 RIENERTSON e WHEATLEY apud RAWLINGS, 2006, p. 28 19 a radiação UV ou eficácia de cura. Por exemplo, um sistema de classificação baseado na propensão da pele de se tornar hiperpigmentada por estímulo inflamatório e de sustentar essa hiperpigmentação por períodos prolongados pode se tornar válida. Profissionais relacionados a dermatologia estão conscientes da reatividade dos melanócitos e da tendência de hiperpigmentação como características exclusivas da pele pigmentada. (TAYLOR; 2002). A pele negra tem suas particularidades estruturais, biológicas e funcionais. A epiderme, a quantidade de melanina é maior nos indivíduos negros, sem diferenças no número de melanócitos. Aquela se deve a variações no número, tamanho e agregação de melanossomas. A pele negra tem melanossomas grandes, não-agregados, com número aumentado na camada basal e distribuídos por todas as camadas da epiderme. Já na pele branca, possui melanossomas pequenos e agregados, alguns nas camadas basal e malpighiana, estando ausentes nas camadas superiores da epiderme. A derme não apresenta diferença na espessura entre negros e brancos, mas parece haver em alguns aspectos celulares. Os fibroblastos da pele negra são maiores, bi ou multinucleados, em maior número e hiperativos, o que, combinado à diminuição da atividade da colagenase, pode originar a formação de quelóide, de incidência maior em negros. Os feixes de fibras colágenas são menores e dispostos mais paralelamente à epiderme, notando-se muitas fibrilas colágenas e fragmentos de glicoproteínas no interstício dérmico. Os macrófagos são maiores e mais numerosos, não havendo diferenças de origem racial nos mastócitos. (ALCHORNE; ABREU; 2008). A diferença racial na estrutura do estrato córneo, de acordo com o número de camadas de células de corneócitos no estrato córneo, em média, verificou-se que o estrato córneo da pele negróide contém maior número de camadas de corneócitos do que a pele caucasiana (média de 21.8 versus 16.7 camadas de células). Desde que não foi encontrada diferença significativa na espessura do estrato córneo entre brancos e negros, verificou-se que as camadas de células da pele negróide são mais compactas, talvez refletindo uma maior coesão intercelular. Comparando indivíduos com tipos de pele V e VI aos tipos II e III demonstrou-se que aqueles com pigmentação escura precisam de uma lesão maior para que houvesse ruptura da barreira epitelial, sugerindo assim, que o fenótipo mais escuro tinha um maior número de camadas celulares. (RAWLINGS, 2005). 20 Já o tamanho dos corneócitos do estrato córneo não houve diferenças entre indivíduos brancos, negros e asiáticos (911, 899 e 909 µm2, respectivamente). Entretanto, a taxa de descamação foi maior nos indivíduos negros: 26.500, 11.800, 10.400 corneócitos por cm2, ou seja, a descamação espontânea foi aumentada em aproximadamente 2,5 vezes nos indivíduos negros. Todavia, encontrou-se o oposto, com um índice maior de descamação em bochechas e fronte dos brancos em comparação com os negros. Segundo Manuaskiatti et al, relataram não haver diferenças na descamação entre mulheres negras e brancas. (RAWLINGS, 2005 apud TAYLOR, 2002). Análise do tamanho, qualidade e fenótipo dos corneócitos é importante, pois pequenas células geralmente estão relacionadas com hiperproliferação e a tendência ao desenvolvimento de uma pele seca correspondendo às mudanças nos níveis lipídicos. Há mais lipídios por unidade de área nos tecidos com os menores corneócitos. O estrato córneo sofre um processo de maturação induzida pela enzima transglutaminase em direção à superfície da pele. O rosto é heterogêneo em relação ao tipo de corneócito que está presente, e um número aumentado de células é observado na pele seca de todos os grupos étnicos. (RAWLINGS, 2005 apud TAYLOR, 2002). Os primeiros estudos de Rienertson e Wheatley em 1959 e Weigand e colaboradores (1974) (apud Rawlings, 2005)2, sugeriram que o conteúdo em lipídios do estrato córneo de pele negra é mais alto que o de pele branca. Também foi avaliada a perda hídrica transepidérmica e valores de conteúdo de água com concentrações de esfingolipídios e ceramidas na pele de negros, brancos, asiáticos e espânicos. Encontraram diferenças nos valores de perda hídrica transepidérmica entre os quatros grupos étnicos. Em ordem crescente, a quantidade de ceramidas foi maior em: Asiáticos > Espânicos > Caucasianos > Negros. Os níveis totais de ceramidas foram 50% mais baixos no estrato córneo de negróides comparando com caucasianos e Espânicos (10.7µg mg-1 versus 20.4 e 20 µg mg-1, respectivamente). Isso corresponde ao mais baixo valor de perda hídrica transepidérmica e ao mais alto valor de conteúdo hídrico para Asiáticos e o contrário para indivíduos negros. Contudo, as diferenças de perda hídrica transepidérmica são contraditórias com os resultados dos outros, que não encontraram diferenças significativas na perda 2 RIENERTSON e WHEATLEY apud RAWLINGS, 2006, p. 28 21 hídrica transepidérmica entre indivíduos negros, brancos e espânicos do norte da Califórnia. (TAYLOR, 2002). O câncer de pele é menos comum em indivíduos negros, pois o conteúdo de melanina e o padrão de dispersão dos melanossomos são fatores de proteção para os efeitos carcinogênicos da luz solar. Portanto, a radiação ultravioleta não é fator relevante para o seu aparecimento, exceto no caso do carcinoma basocelular (CBC), que se desenvolve mais em áreas expostas ao sol; a ocorrência do carcinoma espinocelular (CEC) e do melanoma é maior nas áreas não foto expostas. Os índices de morbidade e mortalidade são maiores em indivíduos negros. O CEC é o mais freqüente, representando 30 % dos cânceres em negros. São fatores de risco os processos crônicos cicatriciais, a inflamação crônica, o albinismo, as verrugas virais, a epidermodisplasia verruciforme, a imunodepressão e os carcinógenos químicos, tais como o arsênico e o coaltar. O CBC é o segundo câncer cutâneo em freqüência na pele negra. Apenas cerca de 1,8 % dos casos de CBC ocorrem em indivíduos negros, sendo característica clínica freqüente das lesões a pigmentação presente em 50 % dos casos. Suspeita-se que a presença de alterações na imunidade e na vigilância tumoral possa ser fator etiológico importante para o CBC em indivíduos negros, o que poderia aumentar também o risco do desenvolvimento de malignidades não cutâneas simultâneas. O melanoma é o terceiro, representando de 1 % a 8 % do total dos cânceres cutâneos na população negra. É menos pigmentado e geralmente de localização mucosa ou acral (nas palmas, nas plantas e no leito subungueal). Fatores de risco incluem albismo, cicatrizes de queimadura, radioterapia, traumas, imunodepressão e lesões pigmentadas preexistentes (especialmente nas regiões acral e mucosa). A história familiar não parece ser fator predisponente. É provável que outros fatores, talvez imunológicos e ambientais, desempenhem papel no desenvolvimento do melanoma em negros. As causas possíveis para o prognóstico pior incluem a demora no diagnóstico, a presença freqüente de lesões primárias já mais espessas e os tumores acrais intrinsecamente mais agressivos. (ALCHORNE; ABREU; 2008) A fotoproteção, o conteúdo de melanina e o padrão de dispersão dos melanossomas ocasionam envelhecimento cutâneo mais tardio em indivíduos negros, que costumam ter pele mais firme e mais lisa do que a de indivíduos brancos da mesma idade. As alterações histológicas, como dano do tecido colágeno e elástico, aparecem em intensidade menor, mas, mesmo assim, recomenda-se 22 fotoproteção quando uma exposição acentuada no trabalho ou no lazer. (ALCHORNE; ABREU; 2008). 3.3. Fotoproteção Diferentemente de hoje, até o século XIX as pessoas evitavam a excessiva exposição ao sol. Somado a isso, nesse período, os estilos de vida, roupas e assessórios utilizados serviam como meios de proteção solar. A pele clara, ao contrário do que se observa hoje, era considerada ideal, bonita e desejável, enquanto a pele morena era um estigma social. Nesse período ainda, não havia conhecimento da associação da luz solar com o câncer de pele. As primeiras formulações de protetores solares consistiam de misturas de petrolato, zinco e óxido de bismuto. No ano de 1928 foi introduzida, no mercado americano, uma emulsão comercial contendo dois filtros orgânicos, o salicilato de benzila e o cianamato de benzila. Do início do século XX até o final dos anos 70 houve uma evolução lenta na área de fooproteção. A partir da década de 80 este mercado cresceu com o advento de fotoproteção total. Mesmo com esse crescimento, porém, estima-se que apenas 22 % da população brasileira usam filtro solar, predominando o uso dos protetores com alto fator de proteção solar. A fotoproteção hoje é recomendada por dermatologistas como importante na prevenção do câncer cutâneo e do envelhecimento. Está bastante claro que a radiação ultravioleta (UV) pode provocar na pele queimadura, tanto após a exposição aguda e intensa ao sol, como os efeitos tardios que a UV pode produzir. As pessoas de pele, cabelos e olhos claros, chamados tecnicamente de fototipo baixos, estão mais propensas a desenvolver malefícios pela exposição à radiação solar por apresentarem menos melanina para proteção. A melanina age como um fotoprotetor natural que minimiza os efeitos do sol. (RIBEIRO; 2006). Já as pessoas com fototipos mais alto de pele, cabelos e olhos escuros produzem mais melanina, com isso, os sinais externos de envelhecimento que estamos acostumados como rugas, manchas na pele e lábios, etc., também são menos propensos a desenvolver câncer de pele (TORTORA; GRABOWSKI; 2006). 23 Protetor solar ou filtro solar tem como objetivo proteger a pele da radiação UV, diminuindo as chances de câncer de pele. Existem dois tipos de protetor solar: químicos e físicos. Do ponto de vista fisiológico, os filtros químicos agem como a melanina, absorvendo a UV. Além disso, este tipo de proteção não interfere na produção de vitamina D e, geralmente, são resistentes à água. (SAMPAIO; RIVITTI; 2001). O sol é essencial para a vida na terra e seus efeitos sobre o homem dependem das características individuais da pele exposta, intensidade, freqüência e tempo de exposição, que por sua vez dependem da localização geográfica, estação do ano, período do dia e condição climática. Estes efeitos trazem benefícios ao ser humano, como sensação de bem-estar físico e mental, estímulo à produção de melanina com conseqüente bronzeamento da pele, tratamento de icterícia (cor amarela da pele e do branco dos olhos de bebês, causada pelo excesso de bilirrubina no sangue), etc., porém, a radiação solar também pode causar prejuízos ao organismo, caso não se tome os devidos cuidados quanto à dose de radiação solar recebida. (FLOR; DAVOLOS; CORREA; 2007). O espectro solar que atinge a superfície terrestre é formado predominantemente por radiações ultravioletas (100 – 400 nm), visíveis (400 – 800 nm) e infravermelhas (acima de 800 nm). Nosso organismo percebe a presença destas radiações do espectro solar de diferentes formas. A radiação infravermelha é percebida sob a forma de calor, a radiação visível através das diferentes cores detectadas pelo sistema óptico e a radiação ultravioleta (UV) através de reações fotoquímicas. Tais reações podem estimular a produção de melanina cuja manifestação é visível sob a forma de bronzeamento da pele, ou pode levar desde a produção de simples inflamações até graves queimaduras. Também, há a possibilidade de ocorrerem mutações genéticas e comportamentos anormais das células, cuja freqüência tem aumentado nos últimos anos. A energia da radiação solar aumenta com a redução do comprimento de onda, assim, a radiação UV é a de menor comprimento de onde e, conseqüentemente, a mais energética, ou seja, a mais propensa a induzir reações fotoquímicas. Outra consideração importante diz respeito à capacidade desta radiação permear a estrutura da pele. A radiação UV de energia menor penetra mais profundamente na pele e, ao atingir a derme, é responsável pelo fotoenvelhecimento. (FLOR; DAVOLOS; CORREA; 2007). 24 Da totalidade da radiação solar que atinge a terra, apenas 5 % corresponde à UV, no entanto, praticamente todos os efeitos positivos e negativos do sol ao nível da pele são devidos a este tipo de radiação. (FLOR, DAVOLOS; CORREA; 2007). O comprimento de onde é diretamente proporcional à capacidade de penetração na pele da radiação UV (UVA>UVB), mas inversamente proporcional à capacidade energética (UVA<UVB). A radiação UVC é a mais agressiva, mas é retida pela camada de ozônio. Os UVB são, sobretudo, absorvidos ao nível da epiderme, enquanto que a UVA consegue penetrar mais profundamente, com uma ação máxima ao nível da derme. (Figura 03). (CRAVO; MORENO; TELLECHEA et al, 2008). Figura 03 – Capacidade de penetração dos raios solares ao nível da pele (adaptado de Roelandts R. Rayonnement solaire. Ann Dermatol Venereol 2007;134 Suppl 4:S7-8. Fonte: CRAVO, M; MORENO, A; TELLECHEA, O. et al; 2008. Os efeitos da radiação solar ao nível da pele são em 80 % devidos aos UVB e em 20 % à UVA. No entanto, no espectro da radiação UV, os UVB representam 5% e a UVA 95 %, por este motivo, podemos admitir que, durante a exposição solar, recebemos cerca de 100 vezes mais radiação UVA que UVB. (CRAVO; MORENO; TELLECHEA et al, 2008). De modo geral, considera-se que a radiação solar ao atingir a pele provoca algumas alterações perceptíveis, como o espessamento da camada córnea, 25 a indução da sudorese (com conseqüente formação de ácido urocânico) e produção de melanina. Quando um indivíduo se expõe ao sol, cerca de 24 a 36 horas após a irradiação UV, há uma hiperpigmentação, com conseqüente espessamento da epiderme, cuja finalidade é absorver parte da radiação incidente. (RAWLINGS, 2005). A agressão do sol é cumulativa e irreversível, capaz de produzir alterações normalmente imperceptíveis aos nossos olhos, tais como induzir a diversas alterações bioquímicas, inclusive alterações das fibras colágenas e elásticas, perda de tecido adiposo subcutâneo e fotocarcinogênese. A radiação UVB atua sobre as fibras colágenas, o que pode ser considerado como o primeiro mecanismo do envelhecimento prematuro. Além disso, suspeita-se que a radiação UVA atue sinergicamente com a UVB, na formação de cânceres de pele. Os efeitos nocivos da radiação estão relacionados diretamente com a dose de radiação UV recebida e indiretamente com a pigmentação. Podem ser divididos em agudos e crônicos. Os primeiros são o eritema calórico, a queimadura solar, a fotossensibilidade induzida por drogas e o agravamento de doenças, enquanto os crônicos são o envelhecimento prematuro e o câncer de pele. O envelhecimento prematuro provocado pela exposição ao sol manifesta-se por alterações do colágeno e da elastina, originando atrofia de pele e rugas precoces. E também sob a forma de lesões pigmentadas, tais como a queratose actínica, uma alteração pigmentária hiperqueratinizada, que é conhecida como elastose actínica e considerada como lesão pré-cancerosa. O câncer de pele é o mais comum dos problemas malignos da radiação solar. O espectro de absorção para a carcinogênese parece coincidir com o espectro da forma de eritema, ou seja, apresentam espectros semelhantes na faixa de comprimento de onda da ordem de 290 a 320 nm. Dos vários tipos de câncer de pele, somente o carcimona de células escamosas foi claramente relacionado à exposição da radiação ultravioleta, embora outros, como o carcinoma baso-celular tenha distribuição que apóie o papel indutor da luz solar. O bronzeamento induzido pela radiação UVB confere maior proteção contra o eritema, quando comparado ao bronzeado produzido pela radiação UVA; porém, as manifestações bioquímicas resultantes são idênticas: o nível de lesão do DNA é o mesmo. (SAMPAIO; RIVITTI; 2001). 26 3.4. Filtros solares Os filtros solares devem ser compatíveis com os numerosos ingredientes usados na formulação, devem ser estáveis e conservar suas propriedades quando exposta à luz, devem ser inócuos para a pele sadia e devem ser atóxicos. Também devem apresentar boa relação custo-benefício e fácil processabilidade. (RANGEL; CORREA; 2002). Entende-se por filtros solares substâncias químicas com propriedades de absorver, refletir e dispersar a radiação que incide sobre a pele. (OLIVEIRA, D. A. G. C.; DUTRA, E. A.; SANTORO, M. I. R. M. et al. 2004). Além da classificação por categoria química os filtros orgânicos podem, ainda, ser divididos em lipofílico ou hidrofílicos, sólidos ou líquidos. Uma última divisão pode ser feia levando em consideração o espectro de absorção, onde podemos dividir os filtros em absorvedores ou refletores/refratores de radiação UVA/UVB. (RIBEIRO; 2006). Os filtros orgânicos são formados por moléculas orgânicas capazes de absorver a radiação UV (alta energia) e transformá-las em radiações com energias menores e inofensivas ao ser humano. Já os filtros solares inorgânicos, são representados por dois óxidos, óxido de zinco (ZnO) e dióxido de titânio (TiO2). Estes filtros solares representam a forma mais segura e eficaz para a proteção da pele, pois apresentam baixo potencial de irritação, sendo inclusive, os filtros solares recomendados no preparo de fotoprotetores para uso infantil e pessoas com pele sensíveis. (FLOR; DAVOLOS; CORREA; 2007). Para melhor entendimento, segue as diferenças entre protetor, bloqueador, bronzeador e autobronzeador: o bloqueador solar é o único que reflete a luz do sol e a impede de penetrar na pele. Seu maior inconveniente é o estético, pois, como não é absorvido pela derme, deixa um visual branco sobre o local aplicado; Normalmente, bloqueador também é encontrado na composição de protetores solares, cuja combinação é feita a partir de um agente químico que absorve a luz ultravioleta e outro que reflete. O protetor solar tem como tarefa principal impedir a ação do UVA e do UVB. Ele absorve os raios solares e impede a penetração mais intensa na pele. O sol age sobre nossa pele em qualquer horário do dia, mas de diferentes maneiras. Assim, o ideal é optar por protetores solares que 27 combatam os dois tipos de raios. Quanto mais clara a pele, maior deve ser o fator de proteção solar. Acima do FPS 15, os protetores também são chamados de bloqueadores. Os bronzeadores têm o objetivo de bronzear, esse tipo de produto não apresenta em sua composição filtros de raios UVA e UVB. O bronzeador contém substâncias que estimulam a pigmentação, mesmo que a pessoa não se exponha ao sol. O simples reflexo da radiação na areia da praia, conhecido como mormaço, já é o suficiente para produzir o efeito esperado. Por oferecer baixa proteção, o uso indevido pode causar sérias queimaduras na pele. E por fim os autobronzeadores, com eles o bronzeado é garantido do dia para noite. A formulação é composta por substâncias que oxidam as células da camada mais superficial da derme e produzem um efeito semelhante ao da melanina. A vantagem é que não causa danos à saúde. A maioria dos autobronzeadores não possui filtros solares, funcionam como uma maquiagem, por isso, não é aconselhado à exposição ao sol após sua aplicação sem a proteção adequada. (MACEDO; 2001). 3.4.1. Formulações de protetores solares A eficácia do produto solar e os resultados estéticos são influenciados pela escolha do fabricante do veículo de liberação dos ingredientes ativos. (RIBEIRO; 2006). Além de química, fotoquímica e termicamente inertes os protetores devem apresentar características como ser atóxico, não ser sensibilizantes, irritante ou mutagênico, não ser volátil, possuir características solúveis apropriadas, não ser absorvido pela pele, não alterar sua cor, não manchar a pele e vestimentas, ser incolor, ser compatível com a formulação e material de acondicionamento e ser estável no produto final. (FLOR; DAVOLOS; CORREA; 2007). Diversos são os veículos possíveis a serem utilizados no preparo de protetores solares, envolvendo soluções simples a estruturas complexas como emulsões. Os principais veículos empregados para preparações de fotoprotetores podem ser: loções e cremes: são para pessoas com pele normal e oleosa, as loções tendem a serem as preferidas por apresentarem menor viscosidade, por espalharem com mais facilidade e serem menos oleosas. A pele mista também é adaptável a 28 loções, mas pacientes com peles secas dão preferência aos cremes. Esses produtos constituem os protetores solares ideais, pois a maioria dos ingredientes ativos pode ser introduzida na fase lipídica de uma emulsão. Os produtos com FPS mais alto, entretanto, contêm mais fotoprotetores lipofílicos, gerando uma sensação oleosa mais forte. (RIBEIRO; 2006). É claro que há vários tipos de formulações são comercializados e escolhidos de acordo com as preferências individuais, mas para ser utilizado para a pele negra seriam as loções e/ou cremes devido ao tipo de pele sendo geralmente oleosa. (FLOR, J.; DAVOLOS, M. R.; CORREA, M. A. 2004). 3.4.2. Fator de proteção solar O conceito de fator de proteção solar (FPS) surgiu na década de 60 e foi adotado pela Food and Drugs Administration (FDA) em 1978. Atualmente, há uma metodologia padronizada não apenas para determinar o FPS de um produto, mas também para indicá-lo para cada tipo de pele. (MACEDO; 2001). Considerando por exemplo, as localizações geográficas, estações do ano, condições climáticas e período do dia, uma pessoa de pele clara que pode ficar 20 minutos exposta ao sol sem protetor solar, poderá ficar 300 minutos exposta ao sol com um protetor de FPS igual a 15, pois 20 x 15 = 300. Quanto maior o FPS maior será a proteção da pele. (FLOR; DAVOLOS; CORREA; 2007). Para entender melhor o conceito de fator de proteção solar é necessário conhecer o conceito de dose eritematosa mínima (DEM), a dose de radiação solar capaz de produzir um eritema mínimo na pele, expresso em minutos. Os múltiplos de DEM são capazes de produzir desde uma dor aguda até a formação de bolhas. Seu padrão é um eritema com bordas bem marcadas, e com esse dado é realizado um método in vivo, pelo qual se determina a razão entre DEM sem proteção (ao natural) e o produto a ser testado. (MACEDO; 2001). FPS = DEM na pele com anti-solar DEM na pele sem anti-solar 29 A tentativa de relacionar a capacidade de um filtro solar e a quantidade de energia necessária para produzir uma DEM originou uma escala denominada FPS. De uma forma simplificada, o FPS é o fator multiplicativo do tempo de exposição ao ultravioleta em relação à proteção dada por um filtro solar. A escala do FPS pode ser resumida da seguinte forma: (Tabela 02). Tabela 02: Tipos de pele e o FPS adequado para cada tipo: Tipo de pele Sem protetor FPS 03 FPS 05 Pele Clara Pele morena Clara Pele Morena Pele Negra 10 minutos 15 minutos 20 minutos 25 minutos 30 minutos 45 minutos 1h 15 minutos 1 hora 1h 40 minutos 2h 40 minutos 1h 15 minutos 3h 45 minutos 5 horas 6h 15 minutos 5 Horas 6h 40 minutos 8h 20 minutos 7 h 30 minutos 10 horas 12h 30 minutos 50 minutos FPS 08 FPS15 FPS 20 FPS 30 1h 20 minutos 2h 30 minutos 3h 20 minutos 5 horas 2 horas 2h 05 minutos 3h 20 minutos Fonte: Macedo, 2001. Há pessoas que acreditam que os filtros solares somente precisam ser usados durante a exposição direta ao sol, e na verdade o sol não escolhe dia ou hora para atingir a pele. Mesmo em dias nublados e chuvosos a luz solar atravessa as nuvens, e de 70 a 80 % dos raios solares podem atingir a pele. Inclusive nas pessoas de pele negra que não tem o menor hábito de cuidarem de suas peles por não serem informadas que por mais que tenham uma proteção natural oferecida pela melanina também precisam usar protetor solar. (OLIVEIRA; DUTRA; SANTORO, et al ; 2004). Estes produtos têm a vantagem de formar filme totalmente transparente após a aplicação. (OLIVEIRA; DUTRA; SANTORO et al, 2004). Um protetor solar ideal deve apresentar algumas características: predomínio de agentes fotoprotetores físicos, para diminuir as reações de irritação e alergias que os químicos possam acarretar; capacidade de absorver as radiações 30 ultravioletas; ser estável, não se alterar com a luz e calor. Ser de preferência inodoro; ser insolúvel em água, para assegurar maior permanência na pele frente ao suor, banhos de mar e de piscina; ter espalhamento adequado quando aplicado sobre a pele; não manchar a pele e vestimentas; ter inocuidade. (OLIVEIRA; DUTRA; SANTORO; et al, 2004). Há uma grande preocupação dos dermatologistas e do meio de comunicação enfatizando a importância d utilização de proteção solar somente para as pessoas com fototipo baixo. Com isso, faz com que as pessoas com hiperpigmentação não cuidam de sua pele da mesma forma, por acharem que por ter uma pele mais escura, e pelo fato de não haver uma conscientização no meio em geral não precisarem fazer uma fotoproteção. (FLOR; DAVOLOS; CORREA; 2007). No Brasil, a análise de dados das campanhas de prevenção de câncer de pele, promovidas pela Sociedade Brasileira de Dermatologia de 1999 a 2005, evidenciou 17.980 casos (8,7%) de diferentes tipos câncer de pele em meio aos 205, 869 indivíduos examinados. A proporção de câncer nos indivíduos negros foi de 5% (1,6% nos com pele mais escura e 3,4% nos com a pele um pouco mais clara) contra 3,2% nos amarelos e 12,7% nos brancos. Com relação ao melanoma, a heterogeneidade dos tipos de pele da população brasileira torna sua epidemiologia variável, de acordo com a região estudada. Além disso, levando-se em conta grupos sociais diferentes, um estudo verificou que a freqüência de melanoma na casuística assistencial (maioria da população brasileira0 é significativamente maior em pacientes não brancos, em faixa etária mais elevada, com percentagem alta de melanoma acrolentiginoso, enquanto na casuística da clínica privada a doença predomina em indivíduos brancos, em faixa etária não elevada, com pequena percentagem de melanoma acrolentiginoso. Isso sugere que a epidemiologia do melanoma cutâneo no Brasil, em população acima de 50 anos, pode ser decorrente da diferença racial e étnica em relação aos países de população predominante branca. (ALCHORNE; ABREU, 2008). Para todos os tipos de pele, em maior ou menor escala, estão sujeitos às queimaduras, por isso necessitam de uma proteção efetiva. Alguns especialistas sugerem o uso de filtros de proteção solar acima de 15, mesmo para peles mais escuras. (RAWLINGS, 2005). 31 4. CONCLUSÃO Todos os tipos de pele, em maior ou menor escala, estão sujeitos a ardência, descamação, ressecamento e queimaduras, por isso precisam de uma proteção efetiva. Alguns especialistas sugerem o uso de filtros com fator de proteção solar acima de 15, mesmo para as pessoas com a pele mais hiperpigmentadas. O motivo é que esses filtros dão uma proteção quase completa contra os raios UVB e permitem o bronzeamento progressivo de uma maneira mais segura. Apesar de suas particularidades estruturais, biológicas e funcionais a pele negra contém maior número de camadas de corneócitos do que a pele branca. Não chega a ser uma diferença significativa na espessura do estrato córneo entre brancos e negros, mas, sim, camadas de células da pele negra sendo mais compactas ou talvez uma coesão intercelular maior. O tamanho dos corneócitos do estrato córneo não tem diferença entre pessoas de pele negra ou branca, mas a taxa de descamação foi maior na pele negra. A importância da análise do tamanho, qualidade e fenótipo dos corneócitos é devido às pequenas células que geralmente estão relacionadas com hiperproliferação tendendo assim, ao desenvolvimento de uma pele seca alterando os níveis lipídicos. Com isso, o estrato córneo sofre uma maturação induzido pela enzima transglutaminase em direção a superfície da pele. Em uma ordem crescente foi avaliado a quantidade de ceramidas entre os quatro grupos étnicos. Nesta escala, os negróides tiveram os níveis totais de ceramidas no estrato córneo 50% mais baixo do que os outros grupos. O câncer de pele é incomum, pois, as pessoas que possuem pele negra têm a vantagem em relação às pessoas de pele mais clara na hora de se exporem ao sol: a alta quantidade de melanina existente na epiderme, que funciona como um filtro solar natural aumenta a resistência cutânea para algumas doenças, como o câncer de pele. Mas isso não é desculpa para ter menos cuidado com a proteção solar. É importante lembrar que o protetor solar seja de amplo espectro, ou seja, proteção contra UVB e UVA. A pele negra tem uma maior possibilidade de formar melanina, devido aos melanossomas que são grandes, não-agregados, com número aumentado na camada basal e distribuídos por todas as camadas da epiderme. O que lhes 32 conferem maior proteção natural. Assim, entende-se que a necessidade do uso de medidas fotoprotetoras, como o uso de protetores solares é uma realidade indiscutível. Precisa-se fazer com que esta preocupação com a proteção com a pele seja feita para todos os tipos de pele independente de ser do fototipo baixo ou alto, pois ambos estarão propensos as doenças causadas pela falta de cuidado e, principalmente, pela falta de informação dos especialistas na área e pelos meios de comunicação. 33 REFERÊNCIAS ALCHORNE, M. M. A.; ABREU, M. A. M. M.. Dermatologia na pele negra. Anais Brasileiro de Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 83, n. 1, p. 7-20, jan. /fev. 2008. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/abd/v83n1/a02.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2008. AZULAY, R. D.; AZULAY, D. R.. Dermatologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. BAUMANN, L.. Dermatologia cosmética: princípios e prática. Rio de Janeiro: Revinter, 2004. CRAVO, M; MORENO, A; TELLECHEA, O. et al. Fotoproteção na criança. Acta Pediátrica Portuguesa, Lisboa, v. 39, n. 4, p. 158-62, jul./ago. 2008. 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