XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
GESTÃO E PRÁTICA AMBIENTAL EM
EMPRESAS DE SÃO LEOPOLDO, RS:
UMA ANÁLISE DO PERFIL AMBIENTAL
Giselly Santos Mendes (FEEVALE)
[email protected]
dusan schreiber (FEEVALE)
[email protected]
A constante demanda por cuidados para com o meio ambiente têm
direcionado as organizações industriais a adequar seus processos e
produtos no sentido de reduzir ou eliminar os impactos ambientais. A
temática ambiental converteu-se, nas últimas décadas, em uma das
principais bases para a constituição de diferencial competitivo,
especialmente entre as organizações orientadas ao segmento
industrial. Dado o contexto, este trabalho tem como objetivo geral
analisar como as práticas ambientais influenciam a construção do
perfil ambiental de duas empresas localizadas no município de São
Leopoldo/RS. São objetivos específicos deste estudo também: (1)
investigar noções conceituais sobre gerenciamento, práticas e
competitividade ambiental; (2) estabelecer o nível de interação entre
prática industrial e abordagem ambiental e (3) identificar aspectos
motivadores, limitantes e benefícios nos casos estudados. Os dados
deste estudo foram coletados por meio de observação não participante
e entrevistas semiestruturadas. A partir de uma análise comparativa
entre as empresas participantes foi possível evidenciar a preocupação
em estimular práticas internas que reduzam o impacto ambiental de
suas atividades. No tocante ao perfil ambiental observaram-se práticas
entre o nível mínimo de adequação, isto é, reativo até o preventivoestratégico. Ainda, constatou-se que as empresas participantes adotam
um número relevante de práticas ambientais, evidenciando esforços
para adequar seus processos, estruturas e práticas para atender os
critérios de preservação ambiental.
Palavras-chave: Gestão ambiental, competitividade, perfil ambiental.
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1. Introdução
A prática ambiental deixou de ser apenas uma atividade de controle, passando a ser uma
função estratégica, solicitando, assim, às empresas a reavaliação de práticas, de modo a
potencializar a relação meio ambiente, produção e desenvolvimento (NAIME, 2004;
BARBIERI, 2011).
Objetiva-se com este estudo analisar como as práticas ambientais influenciam o perfil
ambiental de duas empresas localizadas no município de São Leopoldo/RS. O perfil ambiental
utilizado foi baseado no modelo (reativo-preventivo-estratégico) de Barbieri (2011). Sendo
este desdobrado nos seguintes objetivos específicos: investigar noções conceituais sobre
gerenciamento, práticas e competitividade ambiental; estabelecer o nível de interação entre
prática industrial e abordagem ambiental; e identificar aspectos motivadores, limitantes e
benefícios nos casos estudados.
De modo a atingir os objetivos foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa, a partir do estudo
de caso em duas organizações industriais. A coleta de dados ocorreu entre os meses de Agosto
e Setembro de 2014, através de observação não participante e entrevistas semiestruturadas.
Compreende a estrutura deste estudo: referencial teórico, metodologia, caracterização
multicaso, discussão de resultados, considerações finais seguidas das referências consultadas.
2. Referencial teórico
As empresas passaram a perceber que o ato de preservar pode ser uma oportunidade de
investimento e ganhos futuros, e que paradoxalmente, pode se converter em vantagem
competitiva; cujo valor possa ser percebido externamente e praticado internamente (NAIME,
2004; JUNIOR; DEMAJOROVIC, 2006). Autores como Paulo, Dias e Rangel (2009),
possuem uma visão similar ao indicarem mudança no tipo de relação entre empresas e meio
ambiente, sob esta ótica estas passam a ser vistas como instituições sociopolíticas,
responsáveis para com o meio ambiente e a sociedade.
Assim observa-se o surgimento de uma nova postura, na qual as empresas devem considerar o
meio ambiente não como problema, e sim como parte da solução. O grande diferencial da
prática ambiental reside na possibilidade de conversão do custo em benefício. Ou seja, o que
seria antes considerado um problema passa a ser uma vantagem (NAIME, 2004; BARBIERI,
2011).
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Seguindo este raciocínio, fica evidente que não só o produto deve ser sustentável, a estratégia
também deve ser. A inclusão da variável ambiental na estratégia não deve apenas estar
expressa na missão, visão e objetivos organizacionais. Ser estratégico e sustentável implica na
sinergia entre programas ambientais e processos, bem como, na percepção desta sinergia pelo
mercado. Somente assim, a questão ambiental agregará valor ao negócio e atuará como
catalisador de mudanças (NAIME, 2004; BARBIERI, 2011).
A partir da década de 80 a legislação brasileira passou a solicitar, com maior intensidade, a
proatividade ambiental industrial, evoluindo do simples cumprimento normativo ao senso de
responsabilidade alinhado à lucratividade e proteção ambiental (MOREIRA, 2005; COELHO;
PRZEYBILOVICZ; CUNHA, 2010; SEIFFERT, 2011).
A prática ambiental permite identificar e reduzir o impacto ambiental das atividades
industriais sobre o meio ambiente e seus recursos, sem inviabilizar, conduto, a capacidade
produtiva e o incremento econômico (NAIME, 2004; ROBLES Jr.; BONELLI, 2006;
BERNARDO; CAMAROTTO, 2012). Esta também contribui ao desenvolvimento
estratégico, alinha aspectos ambientais aos interesses econômicos, promove ações positivas
sobre meio ambiente, bem como objetiva conformidade ambiental, atendimento as partes
interessadas, adequação de processos, certificações, comprometimento e reconhecimento
(NAIME, 2004; JUNIOR; DEMAJOROVIC, 2006; BARBIERI, 2011).
A abordagem ambiental pode ser classificada em controle da poluição, prevenção da poluição
e estratégica. Na primeira abordagem as práticas são vistas como custos, atua reativamente
sob os efeitos da poluição gerada, buscando atender exigências legais e pressões das partes
interessadas, sem, no entanto, alterar processos ou produtos. Caracteriza-se por práticas
corretivas de fim de linha, onde os investimentos são justificáveis mediante a necessidade de
adequação.
A segunda abordagem atua sobre processos e produtos, evitando e reduzindo a geração de
poluição, com vistas a uma produção eficiente e econômica, a postura assumida é reativa
(ações corretivas), mas já são observadas ações preventivas periódicas. Práticas como
diminuição do volume de resíduos gerados, revisão de projetos de produtos, análise do ciclo
de vida, uso de tecnologias limpas, substituição de materiais, insumos e equipamentos, uso
eficiente de recursos, adoção de atividades de manutenção preventiva, e o reaproveitamento
de resíduos industriais, exemplificam esta abordagem.
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Na terceira abordagem os problemas ambientais são tratados como questões estratégicas e
neutralizadoras de riscos existentes e futuros. Nesta procura-se o aproveitamento de
oportunidades mercadológicas nos diferentes estágios de produção, distribuição, aplicação e
disposição. Ação ambiental é global, compartilhada e disseminada por todos (BARBIERI,
2011).
Conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas: ABNT – NBR ISO 14001 (2004)
compreendem requisitos de um sistema da gestão ambiental: política ambiental voltada à
regulação e melhoria ambiental; planejamento das ações e programas ambientais; implantação
e operação; monitoramento; e análise crítica quanto a sua adequação e eficácia.
Compreendem aspectos motivadores à prática ambiental: a obrigatoriedade legal, a
regulamentação de mercado, a diferenciação, a criação de oportunidades, a sobrevivência
ecológica, a redução de riscos e custos, e a implantação de sistemas de gestão ambiental
(GONÇALVES; BIANCHI; AGUIAR, 2007; BERNARDO; CAMAROTTO, 2012;
GIMENES; MOROZINI, 2012).
Frente aos benefícios da prática ambiental encontram-se: redução de custos e passivo
ambiental, acesso a mercados restritos e linhas de crédito, eficiência operacional, melhoria das
condições de trabalho e imagem organizacional. Destacando-se aqui ações como: economia
de recursos naturais, substituição de produtos, seleção de fornecedores, e diminuição de
resíduos (BARBIERI, 2011).
Deliberal e colaboradores (2013) destacam como barreiras à implantação de programas
ambientais o pouco conhecimento na área, a carência de recursos humanos, o foco excessivo
nos custos de investimentos e a dificuldade de quantificação dos resultados.
Um dos principais desafios da gestão ambiental empresarial reside em sua representatividade,
sendo estes alcançados pela contínua educação e conscientização ambiental, onde desde os
colaboradores com atribuições mais simples até os principais executivos, estejam
comprometidos com as práticas e objetivos definidos (MOREIRA, 2005). Nesta mesma linha
de raciocínio Junior e Demajorovic (2006) esclarecem que a educação ambiental corporativa
busca disseminar a todos o conhecimento ambiental, bem como desenvolver o senso de
corresponsabilidade.
3. Metodologia
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O presente estudo é aplicado, uma vez que, o conhecimento gerado pode ser direcionado à
solução do problema em estudo (ROESCH, 2010). Descritivo quanto aos objetivos ao
descrever o fenômeno em seu contexto (GIL, 2009). Tal descrição compreendeu a análise de
conteúdo de narrativas e observação não participante, construídas a partir de duas entrevistas
gravadas e semiestruturadas, realizadas com representantes das empresas ALFHA e BETHA
localizadas no município de São Leopoldo/RS, entre os meses de Agosto e Setembro de 2014.
No que tange os procedimentos técnicos trata-se de uma pesquisa bibliográfica, documental e
estudo de caso, orientados a prática industrial com vistas à temática ambiental. Quanto à
abordagem e análise do problema caracteriza-se como qualitativa, sendo a análise dividida em
duas etapas: descrição e análise individual dos casos, e análise comparativa entre as duas
organizações, utilizando a técnica de separação, categorização, comparação e redução de
dados de Collis e Hussey (2005).
4. Contextualização ALFHA
A empresa ALFHA, no mercado brasileiro, atua a mais de 15 anos na transformação de
plásticos, orientada aos segmentos automobilístico, alimentício, aeronáutico, civil, entre
outros. Atualmente, conta com 120 colaboradores, 04 processos produtivos, produção média
de 200 toneladas/mês e faturamento médio mensal de 2, 5 milhões de reais, possuindo
certificação ISO 9001 desde 2000. A certificação ISO 14001, no momento, não compreende o
escopo estratégico da organização, porém, a mesma é flexível quanto à adoção de práticas
ambientais baseadas na legislação vigente, de modo a atender às solicitações de clientes e a
estar alinhada às práticas de sua concorrência.
A ALPHA possui uma política ambiental orientada ao uso consciente de recursos, em
atendimento à legislação ambiental e à redução do impacto ambiental. Esta realidade reflete
os resultados dos investimentos que a organização em tela realiza sobre a variável ambiental,
o que repercute, principalmente, na redução de seus resíduos. Além dos recursos financeiros
disponibilizados em orçamento anual para a adequação de seu espaço físico e parque fabril,
destacando-se junto à contribuição decorrente da análise e melhoria contínua de seus
processos.
Ao destacar a relevância da prática ambiental em nível de diferenciação, a ALFHA conseguiu
obter o comprometimento de seus colaboradores nas práticas propostas. O que também
influenciou sua cultura organizacional por meio de atitudes voltadas à redução do desperdício
de recursos. Controles de 2014 evidenciam a redução de custos operacionais como consumo
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de água (redução de R$ 913,00), energia (redução de R$25.371,04) e gás natural (redução de
R$ 3.032,10).
A ALFHA possui um programa de coleta seletiva estruturado, em conjunto às cooperativas de
reciclagem do município. Quanto à disseminação de conhecimento específico, a mesma
disponibiliza material relativo às práticas de economia de recursos como energia, água e
papel. A gestão de resíduos na ALFHA objetiva a disposição apropriada e o atendimento às
exigências legais, compreendendo os processos de reciclagem, reaproveitamento e doação de
materiais recicláveis para empresas habilitadas.
A empresa ALFHA não atua sobre sua cadeia produtiva, mas desenvolve atividades
colaborativas junto a fornecedores de reprocessamento e transporte de resíduos. Controles
internos de resíduos sólidos industriais gerados pela ALFHA evidenciam que a mesma gera,
em média, 3.800 Kg/ano de papel, 3.000 Kg/ano de plástico, 148.000 Kg/ano de resíduos
industriais dos quais 53% são reprocessados para reuso e 47% são comercializados e
81m3/ano de resíduos de classe II destinados ao aterro industrial. Cumpre destacar que a
organização demonstra preocupação frente ao montante de material destinado ao aterro
industrial, uma vez que implica em custos e geração de passivo ambiental, atualmente,
conforme relatado busca-se o desenvolvimento de um segmento que possa reutilizar este
resíduo em seus processos.
5. Contextualização BETHA
A empresa BETHA, atualmente maior produtora e exportadora de papéis do país, produz e
comercializa papéis, cartões para embalagens, papelão ondulado, sacos industriais e madeira
em toras. Após 115 anos de história, a BETHA conta com 16 unidades produtivas, e capital
100% brasileiro. Suas áreas de negócios compreendem: florestal, papel e conversão, sendo
esta última a especialidade da unidade analisada. As áreas de aplicação de seus produtos
compreendem os seguintes segmentos: alimentos, bebidas, químico, eletroeletrônicos,
produtos de higiene e limpeza, entre outros.
A gestão da BETHA visa o desenvolvimento sustentável, o que pode ser evidenciado pelo seu
comprometimento frente à rentabilidade, desenvolvimento social e compromisso ambiental. A
gestão dos impactos ambientais na BETHA é realizada por meio de políticas e diretrizes
alinhadas ao seu planejamento estratégico, e tem por objetivos: uso racional de recursos
naturais, monitoramento de riscos ao negócio, preservação da biodiversidade e recursos
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naturais, e gerenciamento de resíduos. A sustentabilidade é um dos principais fundamentos da
BETHA, bem como, representa um compromisso de longo prazo com as partes interessadas e
com todos aqueles que integram sua cadeia produtiva, os quais são solicitados a compartilhar
os mesmos princípios.
Frente aos requisitos legais e diferenciais competitivos, observou-se que a BETHA atua
fortemente em certificações específicas ao seu segmento, e demais certificações que
sustentem seus princípios organizacionais. Para a BETHA certificações são relevantes
instrumentos no auxílio às melhorias em processos e produtos, bem como auxiliam no
atendimento às demandas de clientes por produtos de qualidade, ambientalmente corretos e
socialmente justos. Foi a primeira organização do segmento a obter a certificação FSC® Forest Stewardship Council®, pela qual atesta seu compromisso frente à conservação de
recursos naturais, biodiversidade e às condições justas de trabalho. Entre as demais
certificações de sistema e políticas observam-se a ISO 14001, a ISO 9001, a aplicação do
conceito 3R’s (reduzir, reutilizar e reciclar) e a política de sustentabilidade, cujos princípios
abordam: qualidade competitiva, fornecimento sustentável, proteção a ecossistemas naturais,
reciclagem, prevenção à poluição, redução de impactos ambientais, desenvolvimento de
pessoas, responsabilidade social e atendimento à legislação e normas aplicáveis.
A aplicação do conceito 3R’s pela BETHA aborda os seguintes pontos: energia, emissões
atmosféricas, materiais, resíduos e recursos hídricos, sendo os dados de controle ambiental
disponibilizados em portal específico por unidade produtiva.
Ao longo dos três últimos anos, a atuação ambiental da BETHA implicou no investimento
maciço de recursos financeiros, contudo, estes foram convertidos em ganhos ambientais e na
redução de custos operacionais, tais como: investimento ambiental de R$ 51 milhões para 23
milhões, consumo de água de 40m3 para 37m3 por tonelada produzida, emissão total de CO2
por mil toneladas produzidas de 539 para 489, redução de resíduos gerados por mil toneladas
produzidas de 1.118 para 978, o índice de resíduos reciclados, reusados e reutilizados de 88%
para 95%. No tocante ao investimento ambiental foi possível, com base nos comentários de
entrevista e dados secundários de relatório de sustentabilidade exercício 2013, observar que
este permeia as seguintes esferas: gerenciamento de resíduos, tratamento de emissões
atmosféricas, prevenção e manutenção do sistema de gestão ambiental.
6. Discussão dos resultados
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Quanto à identificação de prática ambiental nas empresas pesquisadas, tendo como base
transcrições das entrevistas, a ALFHA indica “possuir somente práticas ambientais. Não
sendo formalizadas ou controladas”, enquanto a BETHA a destaca como “pilar fundamental
de seu empreendimento. Possuindo um sistema formalizado, estruturado e auditado
periodicamente”. O teor das narrativas facultou evidenciar a preocupação destas em estimular
práticas que reduzam o impacto ambiental de suas atividades.
No entanto, observa-se que, a gestão ambiental na ALFHA não está formalizada, mas
encontra-se respaldada por uma política orientada ao uso consciente de recursos, em
atendimento à legislação ambiental e à redução do impacto ambiental, conforme preconizado
por autores como Naime (2004) e Barbieri (2011). Destaca-se também que a ausência de uma
estrutura formalizada de gestão ambiental na ALFHA, dificulta a consolidação de práticas
ambientais em seu ambiente interno, tal constatação é apontada nos estudos de Naime (2004),
Junior e Demajorovic (2006), como fundamental à internalização da variável ambiental
enquanto prática organizacional.
Frente ao posicionamento estratégico e competitivo a ALFHA indica ser “relevante uma
atuação ambiental, mas não estratégico. Pode-se ser competitivo atendendo somente o
previsto em lei”, enquanto a BETHA comenta que “ser verde é ser competitivo. A abordagem
ambiental compreende nosso planejamento estratégico. Em nosso segmento não atuar
ambientalmente é insucesso”. No que tange a competitividade, a BETHA considera a variável
ambiental relevante à sua estratégia e modelo de gestão. Já a ALFHA não aplica em sua
totalidade tais conceitos, ainda centralizando sua estratégia na qualidade e preços.
Apesar das fragilidades identificadas é possível distinguir na ALFHA um conjunto de
iniciativas que efetivamente contribuem à redução de seu impacto ambiental. Portanto,
embora sem um programa de gestão ambiental formalizado, é possível afirmar com base na
literatura revisada, que a ALFHA possui uma estrutura propícia à implantação de programas
de gestão ambiental, conforme justificado por Naime (2004), Moreira (2005), Barbieri (2011).
No que tange a sensibilização e capacitação ambiental a ALFHA indica que seus treinamentos
“são focados conforme necessidade de conscientização para a redução de um determinado
insumo”, enquanto a BETHA procura constantemente capacitar seus colaboradores,
destacando que em seu “relatório de sustentabilidade são indicadas as horas e custos
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destinados à capacitação ambiental”. Em ambas as organizações observam-se ações de
sensibilização ambiental, com destaque para a BETHA, que estende sua atuação aos parceiros
de negócio, os quais também são solicitados a compartilhar os mesmos princípios.
No que diz respeito à sensibilização ambiental, a ALFHA consegue obter o comprometimento
de seus colaboradores, por meio de atitudes direcionadas à redução do desperdício de
recursos. Ações de sensibilização são relevantes para internalizar determinadas práticas
organizacionais, de modo que estas sejam efetivamente compreendidas e operacionalizadas,
conforme destacado pelos autores Junior e Demajorovic (2006). Logo, as atividades de
sensibilização ambiental realizadas pelas organizações, suscitam o seu comprometimento em
relação ao tema, mesmo destinando recursos que, a princípio, não contribuam ao seu resultado
econômico final (NAIME, 2004; DELIBERAL et. al., 2013).
Quanto à atuação sobre sua cadeia de fornecimento é possível observar que na ALFHA o
“principal controle ambiental sobre fornecedores, está relacionado ao controle de suas
licenças de operações”, enquanto na BETHA o seu “compromisso para com o meio ambiente
é estendido a toda a [...] cadeia de fornecedores”. Assim, observa-se que estas procuram
estender suas práticas e princípios ambientais, estabelecimento de uma rede colaborativa com
foco ambiental conforme destacado nos trabalhos de Naime (2004) e Barbieri (2011).
Para a efetividade de práticas ambientais Barbieri (2011) indica que recursos necessários à sua
implantação devem ser mantidos. A disposição de recursos financeiros na ALFHA é vista
como um custo, “no geral [...] rateados entre os processos produtivos. Não há uma previsão de
orçamento exclusivo neste sentido”, já a BETHA “possui recursos destinados a ações
ambientais”. Na ALFHA não foi evidenciada a existência de um orçamento específico, no
entanto quando necessárias adequações, este é prontamente disponibilizado pela alta direção.
Perante o estabelecimento de metas e indicadores ambientais que inexistem nesta
organização, os principais controles ambientais são direcionados aos registros necessários à
obtenção de renovações de licenças. No tocante ao investimento ambiental, a BETHA
estabelece investimentos em gerenciamento de resíduos, tratamento de emissões atmosféricas,
custos com prevenção e despesas com gestão ambiental.
No tocante aos controles operacionais foi possível evidenciar a existência e a
operacionalização de tais práticas, em ambos os casos alinhados à redução de custos e ao
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desenvolvimento de atividades de menor impacto ambiental. A convergência entre os
benefícios ambientais e os econômicos, foi explorada por autores como Naime (2004) e
Barbieri (2011). Neste sentido, citam-se ações como redução do consumo de água, energia
elétrica, gás natural, emissão total de CO2 e redução ou reaproveitamento de resíduos gerados.
A literatura revisada destaca selos ou certificados ambientais como diferenciais competitivos
para as organizações (BARBIERI, 2011). Nesta perspectiva, foi possível perceber que a
ALFHA não possui certificações do gênero, apenas certificação para a conformidade de
produtos. No entanto, mostra-se flexível quanto à adoção de práticas ambientais baseadas na
legislação vigente. A BETHA, em contrapartida, atua fortemente em certificações, como a
declaração FSC® e certificações como ISO 14001 e ISO 9001, para esta certificações
constituem diferencial competitivo, bem como são relevantes a melhorias em processos e
produtos.
Quanto à realização de ações socioambientais, destaca-se na ALFHA a doação de material
reciclável para cooperativas gerando renda e emprego local, e na BETHA o apoio aos
produtores rurais nas atividades de replantio e recuperação de áreas. Este tipo de iniciativa
encontra respaldo nas constatações de Naime (2004), Barbieri (2011).
A questão ambiental na ALFHA ainda não desponta como prioridade, sendo esta atrelada a
requisitos de auditorias, condicionantes de clientes, atendimento à legislação vigente e
manutenção de licenças. No entanto, executa práticas ambientais que em médio prazo podem
ser convertidas em ações institucionalizadas.
Assim, consideram-se as práticas ambientais da ALFHA no nível mínimo de adequação, ou
seja, reativo. Já a análise das ações da BETHA indica uma atuação ambiental de preventiva à
estratégica, cujas melhorias em processos e produtos são orientadas à variável ambiental.
7. Considerações Finais
O presente estudo teve como tema a gestão e prática ambiental em duas empresas localizadas
no município de São Leopoldo/RS, nas quais se procurou analisar como suas práticas
contribuíam à construção de seu atual perfil ambiental.
Nas organizações em estudo foi possível observar as práticas ambientais preconizadas na
literatura, ambas às organizações apresentaram entendimento sobre o tema ambiental e,
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visivelmente buscam reforçá-lo em seus modelos de gestão conforme sua realidade e
posicionamento estratégico.
Entre as empresas analisadas a BETHA é a que possui maior frequência de práticas
ambientais, com posicionamento ambiental entre preventivo a estratégico. Enquanto a
ALFHA as apresenta em menor número, demonstrando uma abordagem reativa a preventiva.
Isso pode estar relacionado ao fato da BETHA possuir um sistema de gestão estruturado e
certificado sob este contexto. Cumpre destacar que a ALFHA já percebe a necessidade de
atuar ambientalmente para manter-se competitiva e, que não deixa de contribuir e atuar em
função de seu atual modelo de negócio.
Frente aos objetivos deste estudo também fica evidente que a adoção de práticas ambientais
empresariais pode contribuir à redução de riscos ambientais e custos operacionais, ao aumento
da satisfação de partes interessadas, assim como, à melhoria de imagem organizacional.
Compreendem aspectos limitantes à generalização dos resultados deste trabalho o estudo
multicaso com apenas duas empresas e a realização de entrevistas com apenas um
representante, o que habilitou apenas um ponto de vista. Contudo, entende-se que este traz
importantes contribuições no tocante à compreensão da realidade organizacional ao conceber
e implantar processos de gestão ambiental.
Como trabalhos futuros sugerem-se ampliar o número de empresas abordadas, bem como,
aplicar a mesma metodologia aos demais distritos industriais do município. Sugere-se
também, realizar um número maior de entrevistas por organização, tanto de cunho qualitativo
como quantitativo.
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