O NOME SANTO
DO TODO
PODEROSO
“O SEU NOME PERMANECERÁ ETERNAMENTE; O SEU NOME SE IRÁ
PROPAGANDO DE PAIS A FILHOS ENQUANTO O SOL DURAR, E OS
HOMENS SERÃO ABENÇOADOS NELE; TODAS AS NAÇÕES LHE
CHAMARÃO BEM-AVENTURADO. BENDITO SEJA YHWH ELOHIM, O
ELOHIM DE ISRAEL, QUE SÓ ELE FAZ MARAVILHAS. E BENDITO SEJA
PARA SEMPRE O SEU NOME GLORIOSO; E ENCHA-SE TODA A TERRA
DA SUA GLÓRIA. AMÉM E AMÉM.” (SL 72:17-19)
Introdução................................................................................................................................ 4
O Seu Nome .......................................................................................................................... 10
Os Possíveis Significados de ‘Shem’ ................................................................................ 10
Ehyeh Asher Ehyeh ........................................................................................................... 15
Memorial: Fazer Lembrança/Mencionar ........................................................................... 15
Um Mal Entendido ............................................................................................................ 17
A Estima de hwhy pelo Seu Nome..................................................................................... 21
O Terceiro Mandamento.................................................................................................... 23
Jurar pelo Nome ................................................................................................................ 26
Porquê o Encobrimento? ....................................................................................................... 27
A Septuaginta e o Novo Testamento ................................................................................. 34
A Pronunciação IAUE – Parte 1............................................................................................ 36
O Valor das Letras – Os Académicos Dividem-se ............................................................ 38
O Tetragrama é Composto por Vogais .......................................................................... 38
O Tetragrama é Composto por Consoantes................................................................... 39
A Transliteração Para Caracteres Ocidentais .................................................................... 40
A Origem do Nome ‘JEOVÁ’ ....................................................................................... 41
As 3 Formas do Nome ................................................................................................... 43
Nomes Teofóricos – Evidência nos Nomes Próprios .................................................... 44
Testemunhos Antigos .................................................................................................... 45
A Pronunciação IEOUA / IEOVA ........................................................................................ 49
Pressuposto 1: O Nome não tem Vogais de Outras Palavras ............................................ 50
Pressuposto 2: Os Nomes YAH e YAHU não Representam as Primeiras Sílabas de hwhy
........................................................................................................................................... 51
Os Nomes Teofóricos .................................................................................................... 52
A Influência Aramaica................................................................................................... 54
Pressuposto 3: Os Pontos Vogais Traduzem a Pronúncia Antiga ..................................... 54
Análise dos Restantes Argumentos Para YAHWEH ........................................................ 54
“Os Samaritanos Chamam-lhe IABE” .......................................................................... 55
Conjugações Verbais ..................................................................................................... 56
O Nome “Conforme Escrito” e as Quatro Vogais de Josefo......................................... 57
Os “Testemunhos Antigos” ........................................................................................... 58
Deduzindo a Pronúncia IEOUA / IEOVA......................................................................... 59
A Pronunciação IAUE – Parte 2............................................................................................ 61
O Que é a Peshitta?............................................................................................................ 61
‘MarYah’ e o Prefixo ‘Mar’ .......................................................................................... 62
O Nome ‘YAH’ ................................................................................................................. 64
Argumentação Adicional................................................................................................... 68
A Pronunciação Correcta................................................................................................... 69
O Nome do Filho ................................................................................................................... 71
A Origem do nome ‘Jesus’ ................................................................................................ 76
Pagã?.............................................................................................................................. 76
Ou Não?......................................................................................................................... 77
Considerações Acerca da Lingua Grega........................................................................ 80
Seja Como For... ............................................................................................................ 85
O Nome do Messias nas Escrituras ................................................................................... 87
Baptizar ou Orar em Nome de Quem? .............................................................................. 91
A Importância dos Nomes Correctos..................................................................................... 95
E a Igreja Primitiva? .............................................................................................................. 98
A Missão............................................................................................................................ 98
A Tentação de Yeishua.................................................................................................... 100
O Julgamento de Yeishua ................................................................................................ 100
A Crucificação de Yeishua .............................................................................................. 103
A Morte de Estevão ..................................................................................................... 104
Outras Evidências ............................................................................................................ 105
Mateus, O Evangelho Hebraico................................................................................... 105
Acusações contra Paulo ............................................................................................... 107
As Palavras de Pedro ................................................................................................... 107
O Apocalipse ............................................................................................................... 107
O Talmude ....................................................................................................................... 108
Os Títulos ‘Deus’, ‘God’ e ‘Senhor’ ................................................................................... 111
Senhor.............................................................................................................................. 111
God .................................................................................................................................. 112
Deus ................................................................................................................................. 113
Conclusão ........................................................................................................................ 114
Anexo A – Citações............................................................................................................. 117
Introdução
Nas últimas décadas têm surgido no seio do cristianismo/messianismo algumas
congregações que procuram divulgar o Nome de Deus, usando-o na sua liturgia e
na sua literatura. Enquanto considero isto algo de muito louvável, o que é certo é
que, de entre estas, algumas sustentam que a correcta pronúncia do Nome do
nosso Deus e do seu Filho são imprescindíveis para a nossa salvação. Tal postura
de defesa do Nome valeu a ambos os grupos o título de Organizações do Nome
Sagrado (SNO – Sacred Name Organisations)1. Note-se que dos dois grupos
referidos, os que doravante designaremos por SNO serão os segundos, também
conhecidos por “Sacred Name Only”. Saliente-se desde já que não é essa a
posição sustentada pelo autor deste trabalho, mas sim a primeira.
Existem essencialmente duas posições extremas quanto a este assunto:
1. O facto de existirem milagres realizados e orações atendidas em nome de
Jesus ou de qualquer outra forma do seu nome, prova que a pronúnica do
seu nome não é importante;
2. A menos que o seu nome seja exacta e correctamente pronunciado, não
poderá existir salvação (SNO).
Ambas estas posições são, no entender do autor, erradas.
O que verdadeiramente conta para o nosso Pai é uma relação sincera, de coração,
com Ele. Pela Sua graça ele cobre os nossos erros derivados da nossa ignorância.
Porém, a partir do momento em que somos informados ou corrigidos acerca da
verdade, temos a obrigação de, por amor e respeito a Ele, proceder em
conformidade com essa verdade. Ele cobre a nossa ignorância, não a nossa
teimosia. Pensemos em quantas vezes já não nos enganámos acerca do nome de
alguém e no que fizemos após sermos rectificados. A partir desse momento
passámos a empregar o nome correcto, ou não? Ora se temos esse cuidado e
respeito para com outras pessoas, não deveremos ter muito mais para com o
nosso Pai celestial?
Por outro lado, adoptar a posição das SNO é dar um perigoso passo em direcção à
idolatria pois ao afirmar que os Nomes em si – coisas criadas – têm algum poder
inerente é colocá-los ao nível do Seu Criador.
Isto não significa que o Nome do nosso Pai não seja importante, pelo contrário, as
Escrituras revelam-nos o quão zeloso Ele é por ele e Ele próprio o estabelece
como um memorial e como uma marca de propriedade sobre os seus filhos.
[hwhy] é o meu Nome eternamente, e este é o meu memorial de geração em geração.” (Êx
3:15)
1
Este movimento surge na década de 30 como um rebento da ‘Church of God 7th Day’.
“A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei
sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que
desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome.” (Ap 3:12)
“e nas suas testas estará o seu nome.” (Ap 22:4)
Significa isso sim que, ao contrário do que afirmam as SNO, não devemos fazer a
nossa salvação depender da correcta vocalização do Seu Nome.
Ainda assim, o Seu Nome é claramente importante. No entanto, se é verdade que
todas estas congregações (não só as SNO) estão de acordo quanto à importância
desse Nome, já não o é que todas estejam de acordo quanto à forma de o
pronunciar. Assim, mesmo dentro das chamadas Organizações do Nome Sagrado,
surgem formas distintas de pronunciar o Nome do Todo Poderoso, dependendo
das diferentes transliterações2 que cada uma faz do Tetragrama (as quatro letras
hebraicas – ‘Yud’, ‘Hey’, ‘Waw’, ‘Hey’ [YHWH] – que em hebraico se escrevem
hwhy)3. Por este motivo, é comum vermos formas tão distintas do Nome, como
sejam: YAHWEH, YAHWAH, YAHVAH, YAHVEH, YAHOUH, YAHOWAH,
YAHUWEH, YAHUEH, YEHOVAH, YEHOWAH e claro, o tão comum JEOVÁ. É até
frequente em encontros interministeriais e mesmo, mas mais raramente, dentro da
mesma congregação, encontrar pessoas que pronunciam o Nome de formas
distintas.
Este trabalho, sem ter a pretensão de ser detentor da verdade absoluta, pretende
demonstrar a importância que o Todo Poderoso coloca no Seu Nome e pretende
ainda chegar a uma conclusão quanto à forma mais correcta de o pronunciar de
acordo com os conhecimentos actuais.
Ao contrário do que acontece nas culturas ocidentais, no Médio Oriente em geral e
na cultura hebraica em particular, um nome tem uma grande importância porque é
pleno de significado.
É impossível separar o Nome de Deus da Sua Palavra:
“...engrandeceste a Tua Palavra e o Teu Nome acima de todas as coisas.” (Sl 138:2)
“58 Se não tiveres cuidado de guardar todas as palavras desta lei, que estão escritas neste
livro, para temeres este Nome glorioso e temível, hwhy teu Deus, 59 Então hwhy fará
espantosas as tuas pragas, e as pragas de tua descendência, grandes e permanentes pragas, e
enfermidades malignas e duradouras; ...porquanto não destes ouvidos à voz de hwhy teu
Deus.” (Dt 28:58-59, 62)
2
Transliterar consiste em transpôr os sons de uma palavra de uma lingua para outra. Traduzir consiste em
transpôr o significado de uma palavra de uma lingua para outra ou de um conjunto de caracteres para outro
conjunto de caracteres. Nomes próprios são quase sempre transliterados, ao passo que as restantes palavras são
quase sempre traduzidas. Exemplo 1: a palavra ‘Baptismo’ é uma transliteração da palavra grega ‘baptizw’
(baptizo). A sua tradução seria ‘imersão’. Exemplo 2: o compositor italiano Verdi é tratado dessa forma em
qualquer língua (transliterando, portanto) e não pela tradução do seu nome que seria Verde.
3
Em português invertemos a ordem dos caracteres uma vez que o hebraico se lê da direita para a esquerda.
“De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos;
porque isto é o dever de todo o homem.” (Ec 12:13)
O Cristo4 disse:
“Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e
em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.” (Jo 4:23)
“Agora, pois, temei a hwhy, e servi-o com sinceridade e com verdade...” (Js 24:14)
A partir do momento em que determinamos que os nomes que a humanidade
atribui a Deus e ao Seu Filho, não são, na realidade, os Seus verdadeiros Nomes
mas meros substitutos que, deliberadamente ou não, ocultam os Seus Nomes,
então deveremos agir em conformidade para voltarmos a adorar “em verdade”.
Devemos voltar ao único Nome pelo qual somos salvos (At 4:12) – hwhy.
Este mesmo Nome é o Nome do Seu Filho:
“Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um Nome que é sobre todo o
nome;” (Fp 2:9)
“Louvem o nome de hwhy, pois só o seu nome é exaltado...” (Sl 148:13)
“5 ...Levantai-vos, bendizei a hwhy vosso Deus de eternidade em eternidade; e bendigam o
teu glorioso nome, que está exaltado sobre toda a bênção e louvor. 6 Só tu és hwhy...” (Ne
9:5-6)
Se só o Nome de hwhy é exaltado, que outro nome poderia ter sido dado ao Cristo,
visto que “o exaltou soberanamente, e lhe deu um Nome que é sobre todo o nome”?
Em João 17:17, o Cristo pede ao Pai que santifique para Si um povo com base na
Sua Palavra5 que é a verdade.
“7 Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou hwhy vosso Deus. 8 E guardai os meus
estatutos, e cumpri-os. Eu sou hwhy que vos santifica.” (Lv 20:7-8)
A Palavra diz-nos que hwhy pretende para Si um povo peculiar, separado ou
santificado por e para Si. Uma coisa é certa, se começarmos a anunciar o Seu
Nome e a cultuar usando esse mesmo Nome, seremos certamente considerados
peculiares pelo mundo que nos rodeia. Estejamos preparados para isso se é que,
efectivamente, é nosso propósito servir a hwhy “em espírito e em verdade”.
O verdadeiro Nome de Deus tem estado oculto nos últimos 2000 anos. Estejamos
preparados para enfrentar resistência do adversário agora que, mais uma vez,
esse Nome está a ser revelado no final dos tempos. Notemos o que os profetas
4
Neste trabalho empregamos “Cristo” antecedido pelo artigo definido ‘o’ ou ‘do’ uma vez que a palavra
“Cristo” resulta da tradução para grego da palavra hebraica “Moshiach” (Messias) que foi entretanto
transliterada para português. “Cristo” tem o mesmo significado de “Messias”, ou seja, ‘ungido’ e trata-se de
um título e não de um nome próprio. Por esta razão deve ser empregue da mesma forma que “Messias”.
5
‘Palavra’ é sinónimo de Tora – Instrução, lei, mandamentos, preceitos e estatutos.
nos dizem acerca do Milénio e que parece estar-se já a cumprir em parte nos
nossos dias:
“E direis naquele dia: Dai graças a hwhy, invocai o seu nome, fazei notório os seus feitos
entre os povos, contai quão excelso é o seu nome.” (Is 12:4)
“Portanto o meu povo saberá o meu nome; pois, naquele dia, saberá que sou eu mesmo o
que falo: Eis-me aqui.” (Is 52:6)
“Portanto, eis que lhes farei conhecer, desta vez lhes farei conhecer a minha mão e o meu
poder; e saberão que o meu nome é hwhy.” (Jr 16:21)
“Porque todos os povos andam, cada um em nome do seu deus; mas nós andaremos em
nome de hwhy nosso Deus, para todo o sempre.” (Mq 4:5)
“Porque então darei uma linguagem pura aos povos, para que todos invoquem o nome de
hwhy, para que o sirvam com um mesmo consenso.” (Sf 3:9)
“E farei passar esta terceira parte pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a
provarei, como se prova o ouro. Ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo;
e ela dirá: hwhy é o meu Deus.” (Zc 13:9)
“Mas desde o nascente do sol até ao poente é grande entre os gentios o meu nome; e em
todo o lugar se oferecerá ao meu nome incenso, e uma oferta pura; porque o meu nome é
grande entre os gentios, diz hwhy dos Exércitos.” (Ml 1:11)
“Porque eu vos digo que desde agora me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem
em nome de hwhy 6.” (Mt 23:39)
“Quem te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o teu nome? Porque só tu és santo; por
isso todas as nações virão, e se prostrarão diante de ti, porque os teus juízos são manifestos.”
(Ap 15:4)
Até mesmo a passagem que nos define o Concerto Renovado do Cristo (que só se
cumpre integralmente no Milénio) nos afirma claramente que a primeira
consequência de pertencermos ao ‘remanescente salvo de Israel’ (Rom. 9:27) é
virmos a conhecer hwhy.
“31 Eis que dias vêm, diz hwhy, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a
casa de Judá. 32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela
mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os
haver desposado, diz hwhy. 33 Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois
daqueles dias, diz hwhy: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu
serei o seu Deus e eles serão o meu povo. 34 E não ensinará mais cada um a seu próximo,
nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei a hwhy; porque todos me conhecerão, desde o
menor até ao maior deles, diz hwhy; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me
lembrarei dos seus pecados.” (Jr 31:31-34)
6
No texto da passagem aparece ‘Senhor’ mas trata-se de uma citação do Salmo 118:26 onde o termo usado é
hwhy.
‘Conhecer a hwhy’ implica conhecer o Seu Nome!
A seguinte passagem que nos fala também da restauração de Israel diz-nos que,
nesse tempo, as duas casas de Israel virão, chorando, não para se unirem a
Hashem (que significa ‘o Nome’ e é a forma como Deus é actualmente tratado pela
casa de Judá) nem para se unirem ao Senhor (como Deus é actualmente tratado
pela casa de Efraim) mas sim para se unirem a hwhy:
“4 Naqueles dias, e naquele tempo, diz hwhy, os filhos de Israel virão, eles e os filhos de
Judá juntamente; andando e chorando virão, e buscarão a hwhy seu Deus. 5 Pelo caminho de
Sião perguntarão, para ali voltarão os seus rostos, dizendo: Vinde, e unamo-nos a hwhy,
numa aliança eterna que nunca será esquecida.” (Jr 50:4-5)
“Certamente as ilhas me aguardarão, e primeiro os navios de Társis, para trazer teus filhos
de longe, e com eles a sua prata e o seu ouro, para o nome de hwhy teu Deus, e para o Santo
de Israel, porquanto ele te glorificou.” (Is 60:9)
“Mas quando ele vir seus filhos, obra das minhas mãos no meio dele, santificarão o meu
nome; sim, santificarão ao Santo de Jacó, e temerão ao Deus de Israel.” (Is 29:23)
É verdade que Deus sabe o que vai nos nossos corações quando nos dirigimos a
Ele em oração mesmo não usando o Nome. Não pretendemos com este trabalho
questionar a salvação de milhões de pessoas que pelo mundo fora não conhecem
nem nunca conheceram esse Nome, mas uma maior responsabilidade nos será
certamente exigida a partir do momento em que temos esse conhecimento. O
apóstolo Paulo, ao falar aos atenienses acerca do “Deus desconhecido” afirmou
que durante um tempo determinado, Deus fechou os olhos à ignorância. Essa
ignorância certamente que abrange também o conhecimento do Seu Nome.
“22 E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um
tanto supersticiosos; 23 Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também
um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais,
não o conhecendo, é o que eu vos anuncio... Deus, não tendo em conta os tempos da
ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam.” (At
17:22-23,30)
As Escrituras dizem-nos que Ele atribui grande importância ao conhecimento e à
correcta utilização do Nome que Ele deu como memorial à humanidade e que é o
único Nome pelo qual podemos ser salvos. Muitos falam em estabelecer uma
relação intíma com Deus, no entanto, a grande maioria da cristandade ou pura e
simplesmente desconhece o Seu Nome ou não o considera importante no
estabelecimento dessa relação íntima e pessoal com o Criador. Como é possível
ser íntimo com alguém quando se desconhece o mais básico – o Seu Nome?
“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro Nome há,
dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (At 4:12)
“E há de ser que todo aquele que invocar o nome de hwhy será salvo...” (Jl 2:32)
“Porque eu sou hwhy teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador... eu sou hwhy, e fora de
mim não há Salvador.” (Is 43:3, 11)
“Mas em hwhy será justificada, e se gloriará toda a descendência de Israel.” (Is 45:25)
“...e saberás que eu sou hwhy, o teu Salvador, e o teu Redentor, o Poderoso de Jacó.” (Is
60:16)
“Todavia, eu sou hwhy teu Deus... não há Salvador senão eu.” (Os 13:4)
“Torre forte é o nome de hwhy; a ela correrá o justo, e estará em alto refúgio.” (Pv 18:10)
“Derrama a tua indignação sobre os gentios que não te conhecem, e sobre as gerações que
não invocam o teu nome....” (Jr 10:25)
“Espere Israel em hwhy, porque em hwhy há misericórdia, e nele há abundante redenção. E
ele remirá a Israel de todas as suas iniquidades.” (Sl 130:7-8)
“Pois hwhy, por causa do seu grande nome não desamparará o seu povo; porque aprouve a
hwhy fazer-vos o seu povo.” (1Sm 12:22)
Quando consideramos as profecias acima enunciadas segundo as quais Israel
despertará para o conhecimento do Seu Nome no Reino do Cristo, é caso para
perguntar porque é que hwhy permitiu e ainda permite um tão generalizado
desconhecimento do Seu Nome se a Sua intenção é voltar a revelá-lo nesse
tempo? Não há uma resposta concreta a esta pergunta. Só hwhy sabe e ninguém
conhece os Seus desígnios. No entanto, consideremos a seguinte possibilidade: o
Terceiro Mandamento é bastante claro ao dizer que “hwhy não terá por inocente o que
tomar o Seu Nome em vão”. O desconhecimento generalizado do verdadeiro Nome
de hwhy nos últimos 2000 anos, certamente tem impedido que esse Nome seja
blasfemado a torto e a direito. Quando dizemos por tudo e por nada ‘por amor de
Deus’ ou quando na lingua inglesa se pronuncia o tão vulgar ‘God damn’ ou
simplesmente ‘Jesus’ não estamos a blasfemar o santo Nome de hwhy uma vez
que nenhuma dessas expressões contém o Seu Nome. Se esse Nome fosse
conhecido, certamente que aconteceria o que aconteceu em Babilónia.
“E agora, que tenho eu que fazer aqui, diz hwhy, pois o meu povo foi tomado sem nenhuma
razão? Os que dominam sobre ele dão uivos, diz hwhy; e o meu nome é blasfemado
incessantemente o dia todo.” (Is 52:5)
“19 E espalhei-os [Israel] entre os gentios, e foram dispersos pelas terras... 20 E, chegando
aos gentios para onde foram, profanaram o meu santo nome, porquanto se dizia deles: Estes
são o povo de hwhy, e saíram da sua terra. 21 Mas eu os poupei por amor do meu santo
nome, que a casa de Israel profanou entre os gentios para onde foi. 22 Dize portanto à casa
de Israel: Assim diz o Senhor hwhy: Não é por respeito a vós que eu faço isto, ó casa de
Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes. 23 E eu
santificarei o meu grande nome, que foi profanado entre os gentios, o qual profanastes no
meio deles; e os gentios saberão que eu sou hwhy, diz o Senhor hwhy, quando eu for
santificado aos seus olhos. 24 E vos tomarei dentre os gentios, e vos congregarei de todas as
terras, e vos trarei para a vossa terra.” (Es 36:19-24)
É interessante notar que mesmo as promessas de restauração que são feitas ao
povo são feitas por amor do Seu Nome e não por qualquer outra razão. É assim
fácil de concluir que hwhy não tem em conta os tempos da ignorância e tem
permitido o desconhecimento generalizado do Seu Nome durante os últimos 2000
anos para que esse Nome não voltasse a ser profanado entre as nações como já
aconteceu no passado. Para além disto, as próprias más acções (iniquidade /
transgressão da Tora) por um povo que é chamado pelo Seu Nome, profanam
esse mesmo Nome.
“E da tua descendência não darás nenhum para fazer passar pelo fogo perante Moloque; e
não profanarás o nome de teu Deus. Eu sou hwhy.” (Lv 18:21)
É curioso notar, no entanto, que no que diz respeito aos louvores que lhe são
devidos, o Seu Nome nunca saiu dos nossos lábios. Sempre que pronunciamos a
palavra ‘Aleluia’ estamos a pronunciar o Seu Nome pois esta palavra significa
simplesmente ‘louvado seja YAH’. O Rei David disse-nos que hwhy habita “entre os
louvores de Israel” (Sl 22:3). Ezequiel também nos diz:
“E farei conhecido o meu santo nome no meio do meu povo Israel, e nunca mais deixarei
profanar o meu santo nome; e os gentios saberão que eu sou hwhy, o Santo em Israel.” (Ez
39:7)
O Seu Nome
“Quem subiu ao céu e desceu? Quem encerrou os ventos nos seus punhos? Quem amarrou as águas
numa roupa? Quem estabeleceu todas as extremidades da terra? Qual é o Seu Nome? E qual é o
Nome de Seu filho, se é que o sabes?” (Pv 30:4)
A grande maioria das traduções bíblicas apresentam-nos a Deus através do uso
das palavras SENHOR & DEUS, em português; LORD & GOD, no inglês; HERR &
GOTT, no alemão, etc. Pouca referência fazem, no entanto, ao Seu Nome,
deixando a pergunta feita por David, aparentemente sem resposta.
Porém, antes de entrarmos propriamente na questão do Nome do nosso Pai
Celestial, convém analisarmos o significado da palavra hebraica que é traduzida
por ‘nome’ – ‘Shem’.
Os Possíveis Significados de ‘Shem’
Passagens como as seguintes são frequentemente usadas pelas SNO para
sustentar a sua doutrina:
“E há de ser que todo aquele que invocar o nome de hwhy será salvo...” (Jl 2:32)
“Salva-me, ó Deus, pelo teu nome, e faze-me justiça pelo teu poder.” (Sl 54:1)
“Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse
aceitareis.” (Jo 5:43)
“10 Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo,
o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos,
em nome desse é que este está são diante de vós. 11 Ele é a pedra que foi rejeitada por vós,
os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina. 12 E em nenhum outro há salvação,
porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual
devamos ser salvos.” (At 4:10-12)
Porém, o que estas passagens nos transmitem é uma ideia de autoridade, poder,
fama, reputação e memorial . O Salmo 54:1 é claramente um paralelismo em que a
ideia transmitida pela palavra ‘nome’ na primeira parte surge traduzida por ‘poder’
na segunda parte e o que Pedro nos diz em Actos 4:12 é que o poder / autoridade
para a salvação reside somente no Cristo.
O profeta Joel diz-nos não que temos de pronunciar o nome do Criador para
sermos salvos mas sim que para sermos salvos devemos clamar ao verdadeiro
Deus que é hwhy.
Por outro lado, a passagem de João 5:43, usada por muitos para defender que o
nome do Cristo tem de ser composto, pelo menos em parte, pelo Nome do Pai, não
deve ser entendida dessa forma mas sim como sinónimo de autoridade. O que o
Cristo aqui nos diz é que ele veio com a autoridade que lhe foi conferida pelo Pai7.
O Dr. David Bivin, director da “Jerusalem School of Synoptic Research” diz-nos o
seguinte:
“Outro texto chave dos ‘nomes sagrados’ é Salmos 9:10, ‘Em ti confiarão os que conhecem
o teu nome.’ Esta passagem parece indicar a estes estudiosos [SNO] não ser possível confiar
em Deus a menos que se saiba pronunciar devidamente o Seu Nome... no entanto, ‘o teu
nome’ é mais provavelmente uma forma de evitar o mais directo ‘tu’.
“Outro texto apresentado... é ‘Até quando sucederá isso no coração dos profetas que
profetizam mentiras, e que só profetizam do engano do seu coração? Os quais cuidam fazer
com que o meu povo se esqueça do meu nome pelos seus sonhos que cada um conta ao seu
próximo, assim como seus pais se esqueceram do meu nome por causa de Baal.’ A
conclusão a que chegam com base nesta passagem é que esquecer o nome de Deus é um
horrivel pecado. Na realidade, no entanto, a passagem seria melhor traduzida por ‘Os quais
cuidam fazer com que o meu povo se esqueça de mim pelos seus sonhos que cada um conta
ao seu próximo’.
7
David, por exemplo, também foi enviado em nome de YHWH, mas o seu nome não contém quaquer parte do
Nome do Todo-Poderoso:
“Davi, porém, disse ao filisteu: Tu vens a mim com espada, e com lança, e com escudo; porém eu venho a ti
em nome de hwhy dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado.” (1Sm 17:45)
“‘O nome de YHWH’ pode ser equivalente a ‘YHWH’ e ‘o teu nome’ pode ser um sinónimo
para ‘tu’. Isto prova-se por passagens paralelas nas Escrituras nas quais surge uma expressão
idêntica, uma vez com ‘nome’ e outra sem. Por exemplo Sofonias 3:12 diz, ‘eles confiarão
no nome de YHWH’, mas Salmos 5:11 diz ‘todos os que confiam em ti’.
“Uma expressão hebraica semelhante, ‘chamar o seu nome’, surge no Novo Testamento
(Lucas 1:13,31) e é usualmente traduzida literalmente: ...‘o chamarás com o nome de
Jesus’8. Muito embora isto seja uma bela expressão idiomática hebraica, em inglês diriamos
simplesmente ‘o chamarás Jesus’. A palavra ‘nome’ desaparece de tais idiomas hebraicos
em boas traduções inglesas.” (David Bivin em “The Fallacy of Sacred Name Bibles” –
Jerusalem Perspective, Nov-Dez de 1991)
A palavra ‘shem’ aparece quase sempre traduzida nas nossas bíblias por ‘nome’ e
se por um lado a palavra tem esse significado, por outro, ‘shem’, como é habitual
nas palavras hebraicas, pode assumir um vasto leque de significados. O facto dos
tradutores quase sempre traduzirem esta palavra por ‘nome’ ou se limitarem a
reproduzir uma expressão idiomática hebraica que a emprega, de uma forma
literal, tem dado origem às doutrinas das SNO segundo as quais o conhecimento e
correcta pronunciação do Nome é essencial para a nossa salvação.
A palavra ‘shem’ pode, de facto, significar simplesmente ‘nome’, como na
passagem seguinte:
“E as vizinhas lhe deram um nome [shem], dizendo: A Noemi nasceu um filho. E deram-lhe
o nome [shem] de Obede. Este é o pai de Jessé, pai de Davi.” (Rt 4:17)
Também pode ser um nome próprio:
“E gerou Noé três filhos: Sem [Shem], Cão e Jafé.” (Gn 6:10)
Mas também pode ser algo mais...
“...e fiz grande o teu nome [shem], como o nome dos grandes que há na terra.” (2Sm 7:9)
Nesta passagem, hwhy engrandece o ‘shem’ de David no sentido de tornar o seu
nome um nome conhecido ou famoso, como na passagem seguinte:
“Também Davi ganhou nome [shem], voltando ele de ferir os sírios no vale do Sal, a saber,
a dezoito mil.” (2Sm 8:13)
“Vale mais ter um bom nome [shem] do que muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do
que a riqueza e o ouro.” (Pv 22:1)
‘Ganhar nome’ ou ‘engrandecer o nome’ são expressões sinónimas de ‘tornar-se
famoso’ ou de ‘ter boa reputação’. Pelo contrário, ‘divulgar um mau nome’ significa
difamar essa pessoa. A JFA traduz e bem, ‘shem’ por ‘fama’ nas seguintes
passagens:
8
Versão Português Corrente.
“... contra ela divulgar má fama [shem], dizendo: Tomei esta mulher, e me cheguei a ela,
porém não a achei virgem... E o multarão em cem siclos de prata, e os darão ao pai da moça;
porquanto divulgou má fama [shem] sobre uma virgem de Israel. E lhe será por mulher, em
todos os seus dias não a poderá despedir.” (Dt 22:14,19)
O “Brown-Driver-Briggs Hebrew-English Lexicon” dá os seguintes significados
adicionais para a palavra ‘shem’:
Reputação; fama; glória; memorial; monumento
O dicionário de Strong dá-nos ainda:
Honra; autoridade; carácter
Um significado também comum para ‘shem’ nas Escrituras, é o de traduzir uma
característica de alguém.
“O soberbo e presumido, zombador é o seu nome, trata com indignação e soberba.” (Pv
21:24)
“Porque não te inclinarás diante de outro deus; pois o nome de hwhy é Zeloso; é um Deus
zeloso.” (Êx 34:14)
“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus
ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz.” (Is 9:6)
“E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores.” (Ap
19:16)
Nem o nome dos homens soberbos é ‘zombador’ nem o nome de hwhy é ‘zeloso’
nem o Messias se chama ‘Maravilhoso’, ‘Conselheiro’, ‘Deus Forte’, ‘Pai da
Eternidade’, ‘Principe da Paz’ nem ‘Rei dos reis e Senhor dos senhores’.
Todos estes ‘s’hmot’ (plural de ‘shem’) apontam para características ou atributos
inerentes à personalidade do seu detentor e não para os seus nomes próprios.
Por outro lado, ‘bendizer o nome de’ ou ‘confiar no nome de’, são expressões que
apontam não para o nome em si mas para a pessoa que é alvo do louvor ou da
confiança.
“Cantai a hwhy, bendizei o seu nome...” (Sl “...confie no nome de hwhy, e firme-se sobre
o seu Deus.” (Is 50:10)
96:2)
“...louvai-o, e bendizei o seu nome.” (Sl “...eles confiarão no nome de hwhy.” (Sf
3:12)
100:4 )
Bendize, ó minha alma, a hwhy, e tudo o que “E no seu nome os gentios esperarão.” (Mt
há em mim bendiga o seu santo nome.” (Sl 12:21)
103:1 )
“A minha boca falará o louvor de hwhy, e
toda a carne louvará o seu santo nome pelos
séculos dos séculos e para sempre.” (Sl
145:21 )
Estas expressões, apesar de empregarem o nome como sujeito da frase, apontam
não para o nome em si mas para a entidade por detrás do nome, ou seja, para
Deus. O Salmo 145:1-2 ilustra isso bem:
“1 Eu te exaltarei, ó Deus, rei meu, e bendirei o teu nome pelos séculos dos séculos e para
sempre. 2 Cada dia te bendirei, e louvarei o teu nome pelos séculos dos séculos e para
sempre.” (Sl 145:1-2)
Quem está a ser exaltado e bendito é Deus. Está a sê-lo através do Seu Nome é
certo, mas o alvo do louvor é Deus e não o Nome em si. Bendizer ou louvar o Seu
nome é uma expressão que aponta para a Sua pessoa.
Uma expressão idiomática é uma frase que tem um significado diferente daquele
que as palavras da frase sugerem. A expressão portuguesa ‘prego a fundo’, por
exemplo, é sinónima de ‘acelerar ao máximo’ e nada tem a ver com pregar pregos.
Não há pesquisa alguma que só por si seja capaz de determinar o seu significado
pois a análise das palavras não sugere nada de semelhante ao seu verdadeiro
sentido. O significado de uma expressão idiomática é aprendido num contexto
onde o seu significado é óbvio.
Uma expressão bastante comum nas Escrituras é ‘em nome [shem] de’, expressão
essa que também existe em português e que significa simplesmente ‘com a
autoridade de’ como é bem patente pelas seguintes passagens em que Mardoqueu
escreve cartas em nome do rei Assuero:
“Escrevei... em nome do rei, e selai-o com o anel do rei; porque o documento que se escreve
em nome do rei, e que se sela com o anel do rei, não se pode revogar... E escreveu-se em
nome do rei Assuero e, selando-as com o anel do rei, enviaram as cartas...” (Et 8:8,10)
Ensinar no nome de alguém significa ou que estamos a ensinar pela sua
autoridade ou que o conteúdo do ensinamento provém dessa pessoa. Quando nos
é dito que há salvação, cura, bençãos, etc. ‘no Seu Nome’ isso significa não que o
Seu Nome tenha propriedades intrínsecas mas sim que Ele, O detentor desse
Nome, é a fonte de todas essas coisas. ‘Nome’ aqui, é sinónimo da Sua pessoa.
Interpretar estas passagens de forma literal leva-nos a pensar que as maravilhosas
promessas feitas àqueles que conhecem o Seu Nome, só se cumprem para
aqueles que, depois de muito estudar, descobrem a sequência e pronúncia
correctas das letras que compõem o Seu Nome. Pelo contrário, o significado
destas expressões idiomáticas hebraicas é o de uma relação íntima com o nosso
Pai.
O Dr. David Bivin diz ainda:
“A afirmação de que andamos no erro a menos que usemos exclusivamente ‘Yahweh’
quando nos referimos a Deus é uma forma de legalismo. O uso de fórmulas e pronúncias
correctas é muito importante em ritos de magia mas não na nossa relação com o Deus de
Israel que é ‘misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e
verdade’ (Êx 34:6).
“A teologia [das SNO]... é um bom exemplo de como traduções excessivamente literais de
passagens bíblicas nos podem levar em direcções erradas. Neste caso, numerosos textos das
Escrituras encarados literalmente combinaram para produzir uma via que está mais
preocupada com o nome de Deus e a sua pronunciação correcta ou original do que com O
próprio Deus.”
Isto tudo não significa, no entanto, que o uso correcto do Seu Nome não seja
importante...
Ehyeh Asher Ehyeh
“14 E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de
Israel: EU SOU me enviou a vós. 15 E Deus disse mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de
Israel: hwhy Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, me
enviou a vós; este é o meu Nome eternamente, e este é o meu memorial de geração em
geração.” (Êx 3:14-15)
O termo traduzido “EU SOU O QUE SOU” na JFA, é “Ehyeh Asher Ehyeh” que
também pode ser traduzido por “EU SEREI O QUE EU SEREI”.
No versículo 14, Deus diz a Moisés para dizer aos israelitas que “EU SEREI”
(EHYEH) o enviou. ‘EHYEH’ é uma forma do verbo ‘ser’ em hebraico que é ‘Hayah’
e aparece aqui no versículo 14 na primeira pessoa do singular, ou seja, temos
Deus a falar de sí próprio – “EU SOU” ou “EU SEREI”.
No versículo 15, Deus diz a Moisés para dizer aos israelitas que hwhy o enviou.
hwhy é também uma forma do verbo ‘Hayah’ mas aparece aqui na terceira pessoa
do singular, significando “ELE É” ou “ELE SERÁ”. Assim, o nome hwhy é o nome
que deverá ser usado por terceiros para se referirem ao Todo Poderoso. Só Ele
pode dizer “EU SOU”, nós dizemos “ELE É”.
Memorial: Fazer Lembrança/Mencionar
Mas no versículo 15 Ele diz ainda: “este é meu Nome eternamente [hwhy], e este é meu
memorial de geração em geração.”
Vejamos em primeiro lugar a palavra ‘nome’. Apesar do que dissemos atrás, não é
correcto dizer, como muitos, que a palavra ‘nome’ indica apenas carácter ou
autoridade como quando Cristo diz que veio em nome de Seu Pai (Jo. 5:43).
A palavra traduzida por ‘nome’ é a palavra hebraica ‘shem’ que de acordo com
Strong significa:
‘Shem’: ...uma apelação, como marca ou memorial de individualidade; por implicação
honra, autoridade, carácter...
De acordo com esta definição o Nome de Deus não representa apenas9 o Seu
carácter ou autoridade mas é antes do mais, a Sua Marca. É também o Seu
memorial de individualidade. Isto está perfeitamente de acordo com a Palavra de
Deus:
“este é meu Nome eternamente [hwhy], e este é meu memorial de geração em geração.” (Êx.
3:15)
“Sim, hwhy, o Deus dos Exércitos; hwhy é o seu memorial.” (Os 12:5)
A palavra traduzida por ‘memorial’ em ambas estas passagens é ‘zeker’ que
provém de ‘zakar’.
De acordo com Strong:
‘Zeker’ significa: lembrança, memorial, memória, lembrar;
‘Zakar’ significa: lembrar, mencionar, fazer menção de, lembrança, recordar...
Portanto, o conceito de ‘memorial’ e de ‘lembrança’ está, na lingua hebraica
intimamente associado a ‘mencionar’. A palavra ‘zakar’ aparece precisamente
traduzida como ‘mencionar’ noutro mandamento:
“Prestai atenção a tudo o que vos tenho dito, e não fareis menção10 do nome de outros
deuses: nem se ouça da vossa boca.” (Êx 23:13 BJ)
De acordo com Êxodo 23:13, não devemos mencionar/fazer memória dos nomes
de outros deuses, ao passo que Êxodo 3 nos diz para fazer memória/mencionar o
Nome de hwhy. No entanto, graças ao que os escribas judeus e cristãos fizeram ao
longo dos séculos, é o Nome de Deus que quase nunca é mencionado pelos
crentes.
A palavra ‘ignomínia’ significa ‘aviltamento, baixeza, afronta ou descrédito’ mas se
analisarmos a sua etimologia latina constatamos que significa ‘perda de nome’.
O homem ergue inúmeros memoriais a si próprio e às suas façanhas através de
estátuas e monumentos. Se alguém destruisse um desses memoriais seria
9
‘Nome’ em muitas passagens significa também carácter, personalidade, autoridade ou fama. Muitas vezes,
dependendo do contexto, é mesmo esse o seu significado (ver Pro 22:1 ou Ne 9:10 ou ainda o capítulo sobre o
significado de ‘Shem’ ).
10
Na JFA esta mesma palavra nesta mesma passagem aparece traduzida por ‘lembrar’. Uma vez que os nomes
de outros deuses aparecem nas Escrituras, é certo que este mandamento diz respeito a mencionar ou lembrar
em culto.
certamente castigado. Ora se nós não destruimos os memoriais humanos porque
haveríamos de querer profanar o memorial do nosso Deus – o Seu Nome!? Não
temos esse direito.
“...apregoarei o nome de hwhy; engrandecei a nosso Deus.” (Dt 32:3)
“O teu nome, ó hwhy, dura perpetuamente, e a tua memória, ó hwhy, de geração em
geração.” (Sl 135:13)
Um Mal Entendido
Muitos alegam que hwhy revelou o Seu Nome, pela primeira vez a Moisés no Monte
Sinai. Esta afirmação baseia-se na acentuação errónea do seguinte versículo:
“E eu apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó, como o Deus Todo-Poderoso [El Shadai]; mas
pelo meu nome, hwhy, não lhes fui perfeitamente conhecido.” (Êx 6:3)
Esta passagem tal como se apresenta leva-nos a crer que Moisés foi o primeiro ser
humano a quem hwhy revelou o Seu Nome e que anteriormente a todos os Seus
servos Ele seria apenas conhecido como ‘El Shadai’ (Deus Todo-Poderoso).Tal
não é verdade. O Nome hwhy era conhecido mesmo antes do dilúvio.
“E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Alcancei
de hwhy um homem.” (Gn 4:1)
“E a Sete também nasceu um filho; e chamou o seu nome Enos; então se começou a
invocar11 o nome de hwhy.” (Gn 4:26)
Após o dilúvio o Santo Nome de Deus continuou a ser conhecido pelos Seus
servos. Abraão nomeou o Monte Moriah como ‘hwhy Yireh’ que significa ‘hwhy
proverá’.
“E chamou Abraão o nome daquele lugar: hwhy PROVERÁ; donde se diz até ao dia de hoje:
No monte de hwhy se proverá.” (Gn 22:14)
“Então disse Abrão: Senhor hwhy, que me hás-de dar, pois ando sem filhos, e o mordomo da
minha casa é o damasceno Eliézer?... Eu sou hwhy, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te
a ti esta terra, para herdá-la.” (Gn 15:2,7)
Existem duas explicações possíveis e perfeitamente plausíveis para explicar a
afirmação feita em Êxodo 6:3.
A primeira é de que não se trata de uma afirmação mas, muito possivelmente, de
uma interrogação. Já há traduções bíblicas que apresentam esta passagem desta
11
O contexto desta passagem (Gn 6:5) determina que este uso do Nome era feito de forma perversa. O Targum
do Pentateuco estipula acerca de Gn 4:26 que o povo dava o Nome Divino aos seus ídolos como fizeram
tambem mais tarde (Êx 32:4-5). De qualquer das formas prova que já nesta altura o Nome era conhecido.
forma. O que hwhy está a dizer a Moisés é precisamente que ele não é o primeiro
homem a conhecê-Lo como ‘hwhy’. Se convertermos a afirmação numa
interrogação a frase já faz sentido (lembremo-nos que o hebraico não tinha
acentuações).
“E eu apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó, como o Deus Todo-Poderoso; e pelo meu nome,
hwhy, não lhes fui perfeitamente conhecido?” (Êx 6:3)
A resposta,obviamente, é SIM!
A segunda explicação, tem a ver não com o Nome em si mas sim com as
implicações por detrás do mesmo. Essas, começariam a ser conhecidas no tempo
de Moisés. Começemos de trás quando Moisés se queixa a hwhy de que Ele nada
fez para livrar o povo dos problemas que Ele próprio causou:
“Porque desde que me apresentei a Faraó para falar em teu nome, ele maltratou a este povo;
e de nenhuma sorte livraste o teu povo.” (Êx 5:23)
A resposta foi:
“1 Então disse hwhy a Moisés: Agora verás o que hei de fazer a Faraó; porque por uma mão
poderosa os deixará ir, sim, por uma mão poderosa os lançará de sua terra. 2 Falou mais
Deus a Moisés, e disse: Eu sou hwhy. 3 E eu apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó, como o
Deus Todo-Poderoso; mas pelo meu nome, hwhy, não lhes fui perfeitamente conhecido.”
(Êx 6:1-3)
Ora nós já vimos que os patriarcas conheciam Deus pelo Seu Nome e as
Escrituras não se contradizem (João 10:35). Qual é então o significado deste
versículo? Continuemos a ler:
“4 E também estabeleci a minha aliança com eles, para dar-lhes a terra de Canaã, a terra de
suas peregrinações, na qual foram peregrinos. 5 E também tenho ouvido o gemido dos
filhos de Israel, aos quais os egípcios fazem servir, e LEMBREI-ME da minha aliança. 6
Portanto dize aos filhos de Israel: Eu sou hwhy, e vos TIRAREI de debaixo das cargas dos
egípcios, e vos LIVRAREI da servidão, e vos RESGATAREI com grandes juízos. 7 E eu
vos TOMAREI por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou hwhy vosso Deus,
que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios; 8 E eu vos LEVAREI à terra, acerca da
qual levantei minha mão, jurando que a daria a Abraão, a Isaque e a Jacó, e vo-la darei por
herança, eu hwhy.” (Êx 6:4-8)
Note-se:
•
•
•
•
Ele (hwhy) lembrar-Se-ia do concerto;
Os tiraria, livraria e resgataria da servidão;
Os tomaria por Seu povo; e,
Os levaria à terra da promessa.
Ou seja, Ele seria tudo para eles. Tudo o que eles necessitassem.
O Seu Nome – “Ele É” ou “Ele Será” – que pode ser entendido no presente,
passado ou futuro, traduz assim não só a eternidade de YHWH como a Sua
omnipotência. Ele É ou Será tudo o que for necessário para os seus filhos.
É claro pelas Escrituras que os patriarcas conheciam o Nome de Deus mas
também se torna claro que Ele não lhes tinha ainda revelado o total significado ou
porquê desse Nome. Eles não o conheciam como o Resgatador, Libertador ou
Redentor do Seu povo pelo simples facto de que nessa altura ainda não havia um
povo sujeito a tirania e opressão e a carecer de libertação. Essas condições
apenas existem ao tempo de Moisés com a servidão egípcia. Só as gerações que
viveram estes acontecimentos é que estavam numa posição de, pela primeira vez
na história, verdadeiramente compreender o alcance do Seu Nome pois só elas
viram o Egipto a ser humilhado, as águas do mar abrirem-se e fecharem-se sobre o
exército de Faraó e só elas testemunharam como hwhy os sustentou durante 40
anos no deserto.
Os patriarcas conheciam de facto a hwhy pelo Seu Nome mas não O tinham ainda
visto em acção excepto nalguns episódios pontuais. No Egipto hwhy faz-se
conhecido ao Seu povo e também aos egípcios. Note-se nesta série de passagens
retiradas de episódios relacionados com a saída do Egipto, que a grande
preocupação de hwhy é manifestar o Seu Nome:
“Assim diz hwhy: Nisto saberás que eu sou hwhy: Eis que eu com esta vara, que tenho em
minha mão, ferirei as águas que estão no rio, e tornar-se-ão em sangue.” (Êx 7:17 )
“...E Moisés disse: Seja conforme à tua palavra, para que saibas que ninguém há como hwhy
nosso Deus.” (Êx 8:10 )
“E naquele dia eu separarei a terra de Gósen, em que meu povo habita, que nela não haja
enxames de moscas, para que saibas que eu sou hwhy no meio desta terra.” (Êx 8:22 )
“Porque esta vez enviarei todas as minhas pragas sobre o teu coração, e sobre os teus servos,
e sobre o teu povo, para que saibas que não há outro como eu em toda a terra.” (Êx 9:14 )
“Então lhe disse Moisés: Em saindo da cidade estenderei minhas mãos a hwhy; os trovões
cessarão, e não haverá mais saraiva; para que saibas que a terra é de hwhy.” (Êx 9:29 )
“E para que contes aos ouvidos de teus filhos, e dos filhos de teus filhos, as coisas que fiz no
Egito, e os meus sinais, que tenho feito entre eles; para que saibais que eu sou hwhy.” (Êx
10:2 )
“Mas entre todos os filhos de Israel nem mesmo um cão moverá a sua língua, desde os
homens até aos animais, para que saibais que hwhy fez diferença entre os egípcios e os
israelitas.” (Êx 11:7 )
“E eu endurecerei o coração de Faraó, para que os persiga, e serei glorificado em Faraó e
em todo o seu exército, e saberão os egípcios que eu sou hwhy...” (Êx 14:4 )
“E os egípcios saberão que eu sou hwhy, quando for glorificado em Faraó, nos seus carros e
nos seus cavaleiros.” (Êx 14:18 )
“Então disseram Moisés e Arão a todos os filhos de Israel: À tarde sabereis que hwhy vos
tirou da terra do Egito,” (Êx 16:6 )
“Tenho ouvido as murmurações dos filhos de Israel. Fala-lhes, dizendo: Entre as duas
tardes comereis carne, e pela manhã vos fartareis de pão; e sabereis que eu sou hwhy vosso
Deus.” (Êx 16:12 )
“Agora sei que hwhy é maior que todos os deuses; porque na coisa em que se
ensoberbeceram, os sobrepujou.” (Êx 18:11 )
De cada vez que hwhy interveio pelo Seu povo, Ele revelou cada vez mais o Seu
Nome e os Seus atributos.
O comentário da Tora “The Torah: A Modern Commentary” dá a seguinte
explicação elucidativa:
“Moisés e o povo conheciam desde os tempos patriarcais o Nome YHVH como o Nome de
Deus, mas até então este conhecimento em pouco mais se traduzia do que numa apelação
habitual. Aquando da primeira revelação na sarça ardente, a Moisés é-lhe confiada a sua
missão mas – apesar de lhe ser facultado acesso ao Nome Divino Ehyeh – ele não se
aproxima de nenhuma forma mais radical da essência do Deus que pretende conhecer... no
entanto, após as suas primeiras tentativas e erros, Moisés confronta novamente a Divindade
e desta vez Deus revela o Seu Nome de uma forma mais completa, o que é o mesmo que
dizer que Moisés vê o Divino de uma forma mais clara que antes... Moisés, no entanto,
começa a ver Deus com uma nova luz: Ele é fiel, misericordioso e compassivo; Ele lembrase do Seu povo e – o mais importante – Ele os redimirá porque Ele se revelará superior a
todos os poderes no céu e na terra. Diante Dele, como o segundo12 mandamento afirma
especificamente – não há nenhum outro e qualquer adoração a outros deuses é portanto uma
acção idólatra, inútil para as nações e ilegítima para Israel.” (“The Torah: A Modern
Commentary” – trad. livre)
O capítulo 34 de Êxodo transmite-nos esta mesma ideia:
“E hwhy desceu numa nuvem e se pôs ali junto a ele; e ele proclamou o nome de hwhy.” (Êx
34:5)
Como é que Ele o proclamou? Proclamando os Seus atributos.
“5 E hwhy desceu numa nuvem e se pós ali junto a ele; e ele proclamou o nome de hwhy. 6
Passando, pois, hwhy perante ele, clamou: hwhy, hwhy Deus, misericordioso e piedoso, tardio
em irar-se e grande em beneficência e verdade; 7 Que guarda a beneficência em milhares;
que perdoa a iniquidade, e a transgressão e o pecado; que ao culpado não tem por inocente;
que visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira e
quarta geração.” (Êx 34:5-7)
12
A divisão dos chamados “Dez Mandamentos” é feita de forma distinta no judaísmo. O que é habitualmente
considerado pelo cristianismo como o primeiro e o segundo é considerado pelo judaísmo como um único
mandamento, o segundo. O primeiro que consiste em conhecer a Deus traduz-se na afirmação inicial “Eu sou
hwhy teu Deus que tirei da terra do Egipto.”
A Estima de hwhy pelo Seu Nome
“Eu sou hwhy; este é o meu nome13; a minha glória, pois, a outrem não darei...(Is 42:8)
“Por amor de mim, por amor de mim o farei, porque, como seria profanado o meu nome? E
a minha glória não a darei a outrem.” (Is 48:11)
“Se não ouvirdes e se não propuserdes, no vosso coração, dar honra ao meu nome, diz hwhy
dos Exércitos, enviarei a maldição contra vós... já as tenho amaldiçoado, porque não aplicais
a isso o coração.” (Ml 2:2)
“E engrandeça-se o teu nome para sempre, para que se diga: hwhy dos Exércitos é Deus
sobre Israel...” (2Sm 7:26)
“Eu louvarei a hwhy segundo a sua justiça, e cantarei louvores ao nome de hwhy altíssimo.”
(Sl 7:17)
“Em ti me alegrarei e saltarei de prazer; cantarei louvores ao teu nome, ó Altíssimo.” (Sl
9:2)
“Dai a hwhy a glória devida ao seu nome...” (Sl 29:2)
“Engrandecei a hwhy comigo; e juntos exaltemos o seu nome.” (Sl 34:3)
“Farei lembrado o teu nome de geração em geração; por isso os povos te louvarão
eternamente.” (Sl 45:17)
“Louvai a hwhy, e invocai o seu nome; fazei conhecidas as suas obras entre os povos.” (Sl
105:1)
“Louvai a hy. Louvai, servos de hwhy, louvai o nome de hwhy. 2 Seja bendito o nome de
hwhy, desde agora para sempre. 3 Desde o nascimento do sol até ao ocaso, seja louvado o
nome de hwhy.” (Sl 113:1-3)
“Portanto assim diz o Senhor hwhy:... zelarei pelo meu santo Nome.” (Ez 39:25)
“... o nome de hwhy é Zeloso; é um Deus zeloso.” (Êx 34:14)
Relativamente a esta última passagem e considerando esta tradução, isso não
significa que o Nome de Deus seja, na realidade ‘zeloso’. O texto desta forma
enuncia uma característica ou atributo de hwhy e não propriamente um nome. É um
pouco o que se passa com a passagem de Isaías 9:6
13
Note-se bem a incoerência desta passagem conforme aparece na JFA: “Eu sou o SENHOR; este é o meu
nome...” Passa-se o mesmo em Êxodo 3:15 e 6:3.
“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus
ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz.” (Is 9:6)
No entanto, e apesar da grande maioria das traducões apresentarem esta
passagem desta forma, há margem para dúvida. O texto hebraico é simplesmente:
“hwhy shem qanna qanna El”
–
“hwhy nome zeloso zeloso Deus”
Da forma que o texto se apresenta é perfeitamente lícito traduzir como muitos
fazem, da seguinte forma:
“hwhy que é zeloso do Seu Nome é um Deus zeloso”
Notemos ainda o que nos é dito acerca do Templo de Salomão:
“16 Desde o dia em que eu tirei o meu povo Israel do Egito, não escolhi cidade alguma de
todas as tribos de Israel, para edificar alguma casa para ali estabelecer o meu nome; porém
escolhi a Davi, para que presidisse sobre o meu povo Israel. 17 Também Davi, meu pai,
propusera em seu coração o edificar casa ao nome de hwhy Deus de Israel. 18 Porém hwhy
disse a Davi, meu pai: Porquanto propuseste no teu coração o edificar casa ao meu nome
bem fizeste em o propor no teu coração. 19 Todavia tu não edificarás esta casa; porém teu
filho, que sair de teus lombos, edificará esta casa ao meu nome. 20 Assim confirmou hwhy a
sua palavra que falou; porque me levantei em lugar de Davi, meu pai, e me assentei no trono
de Israel, como tem falado hwhy ; e edifiquei uma casa ao nome de hwhy Deus de Israel. 21
E constituí ali lugar para a arca em que está a aliança de hwhy , a qual fez com nossos pais,
quando os tirou da terra do Egito... 26 Agora também, ó Deus de Israel, cumpra-se a tua
palavra que disseste a teu servo Davi, meu pai. 27 Mas, na verdade, habitaria Deus na terra?
Eis que os céus, e até o céu dos céus, não te poderiam conter, quanto menos esta casa que eu
tenho edificado. 28 Volve-te, pois, para a oração de teu servo, e para a sua súplica, ó hwhy
meu Deus, para ouvires o clamor e a oração que o teu servo hoje faz diante de ti. 29 Para
que os teus olhos noite e dia estejam abertos sobre esta casa, sobre este lugar, do qual
disseste: O meu nome estará ali; para ouvires a oração que o teu servo fizer neste lugar.”
(1Rs 8:16-21, 26-29)
Porém o Tabernáculo/Templo foi construído para albergar o Nome ou a Glória de
hwhy no meio do Seu povo?
“34 Então a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória de hwhy encheu o tabernáculo;
35 De maneira que Moisés não podia entrar na tenda da congregação, porquanto a nuvem
permanecia sobre ela, e a glória de hwhy enchia o tabernáculo.” (Êx 40:34-35)
Precisamente o mesmo aconteceu quando Salomão dedicou o Templo:
“10 E sucedeu que, saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a casa de hwhy.
11 E os sacerdotes não podiam permanecer em pé para ministrar, por causa da nuvem,
porque a glória de hwhy enchera a casa de hwhy.” (1Rs 8:10-11)
Estas e outras passagens como estas equacionam o Nome de hwhy com a Sua
Glória:
“Se não tiveres cuidado de guardar todas as palavras desta lei, que estão escritas neste livro,
para temeres este nome glorioso e temível, hwhy teu Deus...” (Dt 28:58)
“E bendito seja para sempre o seu nome glorioso; e encha-se toda a terra da sua glória.
Amém e Amém.” (Sl 72:19)
O Nome de hwhy e a Sua Glória são dois conceitos indissociaveis um do outro!
O Terceiro Mandamento
O terceiro mandamento foi traduzido da seguinte forma para português e de forma
muito semelhante para a maior parte das linguas:
“Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão; porque o SENHOR não terá por
inocente o que tomar o seu nome em vão.” (Êx 20:7)
A leitura deste texto, só por si, levanta mais dúvidas do que proporciona respostas.
Mas afinal que nome é que não deve ser pronunciado em vão? ‘SENHOR’ é algum
nome que deva ser reverenciado? Da forma como geralmente aparece escrito, o
terceiro mandamento acaba por ser incoerente consigo próprio.
Se colocarmos o Nome nos locais de onde ele foi abusivamente retirado, tal já não
acontece.
“Não tomarás o Nome de hwhy teu Deus em vão; porque hwhy não terá por inocente o que
tomar o Seu Nome em vão.” (Êx 20:7)
Mas as questões relacionadas com este mandamento não se ficam por aqui. De
uma maneira geral fomos ensinados que ele significa que não se deve usar o
Nome de Deus de uma forma irreverente, por tudo e por nada ou mesmo de uma
forma desrespeitosa e sem dúvida que tal interpretação está correcta... mas
incompleta!
De acordo com o ‘Webster´s Dictionary’ a palavra ‘vão’ define-se da seguinte
forma:
“Vão: 1. Não tendo real substância, valor ou importância; vazio; sem valor; não
satisfatório;... 2. Destituido de força ou eficácia; sem propósito; sem fruto; ineficaz...
A palavra hebraica original em Êx. 20:7 é ‘shav’ (awv).Vejamos o que vários
dicionários bíblicos nos dizem acerca dela:
Strong: (H7723) desolação, vão, vaidade, falso, mentira, vazio, nada, fala vazia.
Brown-Driver-Briggs: vazio, nada, vaidade.
Theological Wordbook of the Old Testament: designa qualquer coisa sem
substância, irreal, sem valor material ou moral.
A mesma palavra ‘shav’ aparece noutras passagens e até mesmo mandamentos
traduzida ou equiparada a ‘falsidade’:
“Não dirás falso [shav] testemunho contra o teu próximo.” (Dt 5:20)
“Cuja boca fala vaidade [shav], e a sua mão direita é a destra de falsidade.” (Sl 144:8)
Claramente se vê pelo paralelismo da última passagem que vaidade é equiparada
a falsidade. A Bíblia de Jerusalém traduz mesmo da seguinte forma:
“Sua boca fala mentiras [shav], e sua direita é direita de perjúrio.” (Sl 144:8 BJ)
O mesmo se passa na passagem de Ezequiel 13:7 que aparece aqui nas versões
JFA e Português Corrente:
“Porventura não tivestes visão de vaidade [shav], e não falastes adivinhação mentirosa...”
(Ez 13:7 JFA)
“Eis o que lhes digo: ‘Essas visões que vocês têm, são falsas [shav] e as profecias que fazem
são mentira...’” (Ez 13:7 PC)
Facilmente se depreende então que falar vaidade ou falar em vão é equivalente a
falar mentiras ou falar falsamente. Tal se vê até num dos 10 Mandamentos:
“Não dirás falso [shaquer] testemunho contra o teu próximo.” (Êx 20:16)
“Não dirás falso [shav] testemunho contra o teu próximo.” (Dt 5:20)
A palavra ‘shaquer’ usada em Êxodo 20:16 provém da raiz ‘shav’. O mesmo
mandamento parafraseado em Deuteronómio 5:20 já usa a palavra ‘shav’.
Por outro lado, a expressão ‘tomar’ é a palavra hebraica ‘nasa’ que é sinónima de
‘dizer’ ou ‘proferir’. A mesma palavra aparece traduzida nas seguintes passagens
como tal:
“E proferiu [nasa] a sua parábola, e disse...” (Nm 24:3)
“Então proferiu [nasa] a sua parábola, e disse...” (Nm 24:15)
A mesma frase ‘tomar... em vão’ usada em Êxodo 20:7 aparece em Êxodo 23:1
traduzida da seguinte forma pela BJ:
“Não espalharás [nasa] notícias falsas [shav]...” (Êx 23:1 BJ)
Facilmente se compreende então porque é que também se pode traduzir o terceiro
mandamento das seguintes formas:
“Não falsificarás o Nome de hwhy teu Deus; porque hwhy não terá por inocente quem
falsificar o Seu Nome” (Êx 20:7)
“Não proferirás o Nome de hwhy teu Deus por forma a reduzi-lo a nada; porque hwhy não
terá por inocente quem reduzir o Seu Nome a nada” (Êx 20:7)
É caso para perguntar como é que se faz isso? Como é que se reduz o nome de
hwhy a nada tornando-o vão ou como é que se falsifica esse Nome? Muito
simplesmente seguindo a tradição judaica pós-exílica que, embora por outros
motivos, foi continuada na cristandade, ao substituir o Nome que Deus deu como
memorial para ser mencionado por todas as gerações14 por títulos e eufemismos
com o intuito de o esconder, tendo como consequência o desconhecimento
generalizado do Nome nos dias de hoje. O incumprimento deste mandamento
transforma hwhy num Deus desconhecido, pois enquanto os outros deuses todos
têm nomes, hwhy é anónimo. hwhy colocou o Seu Nome nas Escrituras quase 7000
vezes e em cada uma dessas 7000 vezes o homem substitui-o por um título ou um
eufemismo na grande maioria da traduções bíblicas chegando ao ponto de produzir
passagens absurdas como estas que se seguem:
“Eu sou o SENHOR; este é o meu nome...” (Is 42:8)
Ao invés de:
“Eu sou hwhy; este é o meu nome...” (Is 42:8)
Ou esta:
“...pelo meu nome, o SENHOR, não lhes fui perfeitamente conhecido.” (Êx 6:3)
Ao invés de:
“...pelo meu nome, hwhy, não lhes fui perfeitamente conhecido.” (Êx 6:3)
Ou ainda esta:
“Assim dirás aos filhos de Israel: O SENHOR Deus de vossos pais... me enviou a vós; este é
meu nome eternamente, e este é meu memorial de geração em geração.” (Êx 3:15)
Ao invés de:
“Assim dirás aos filhos de Israel: hwhy Deus de vossos pais... me enviou a vós; este é meu
nome eternamente, e este é meu memorial de geração em geração.” (Êx 3:15)
SENHOR não é o Seu Nome! O Seu Nome é hwhy!
Pensemos nisto: que autoridade tem o homem para alterar o Nome do Criador de
todas as coisas? Não temos esse direito! Nas Escrituras claramente se vê que
quem altera nomes é sempre alguém que detém autoridade sobre aquele cujo
14
Êx. 3:15; Ós 12:5
nome é alterado. Assim, Deus renomeou Abrão para Abraão e Adão nomeou os
animais, para citar apenas dois exemplos.
Ao persistir nesse erro estamos a transgredir a Lei de hwhy.
O salmista chega mesmo a associar o esquecimento do Nome de hwhy com o
pecado da idolatria:
“20 Se nós esquecemos o nome do nosso Deus, e estendemos as nossas mãos para um deus
estranho, 21 Porventura não esquadrinhará Deus isso?” (Sl 44:20-21)
hwhy considera o Seu Nome de tal forma importante que o salvaguardou num dos
Dez Mandamentos colocando inclusivé uma advertência de que não seríamos
considerados inocentes se o transgredíssemos. Quem, de forma consciente,
remove o Seu Nome das Escrituras, transgride o terceiro mandamento tal como
qualquer um de nós transgride se após tomar conhecimento desta verdade,
continuar a usar títulos e eufemismos no lugar do Seu Nome. Portanto, e apesar do
que outros possam pensar, coloquemos de lado as tradições humanas que
contrariam a vontade de hwhy e guardemos os Seus Mandamentos, restaurando o
Nome que hwhy lá colocou originalmente.
O rabi messiânico David Pollina, diz, no seu livro “Reuniting the Covenant”:
“A não pronunciação do Seu Nome, conforme ele nos manda fazer, mesmo que tal seja uma
tentativa para sacralizar o Seu Nome, reduze-o a nada pois o Seu Nome desaparece. É uma
falsa humildade usar uma palavra diferente quando lê-mos ‘Yahweh’, seja essa palavra ‘o
Senhor’ na cristandade, ‘Adonai’ ou ‘haShem’ (‘O Nome’) no judaísmo... Ele disse que quer
que o Seu Nome seja conhecido e nós somos os que são separados com o Seu selo de
propriedade, para fazer isso mesmo; para fazer conhecido o Seu SHEM, não apenas o som
do Seu Nome, mas a Sua reputação, glória, tudo acerca dele que o identifica como o
soberano Criador do Universo. Identificá-Lo individualmente pelo Seu Nome pessoal é uma
parte importante desta tarefa. Distingue-O como um ‘Deus’ muito específico num mundo
que necessita de o conhecer pessoalmente.”
Jurar pelo Nome
O terceiro mandamento nos textos judaicos é muitas vezes traduzido da seguinte
forma:
“Não jurarás falsamente pelo Nome de hwhy teu Deus; porque hwhy não perdoará a quem
jurar falsamente pelo Seu Nome.” (Êx 20:7 versão da Jewish Publication Society15)
Uma leitura bastante diferente daquela a que estamos habituados, feita por rabinos
judaicos que dominam muito bem o hebraico bíblico. Neste caso, o entendimento é
que ‘tomar o Nome’ é ou pode ser no sentido de o tomar em juramento. É evidente,
no entanto, que o sentido do terceiro mandamento não se limita a juramentos. Se
os rabinos o traduzem desta forma é porque já têm uma norma que proibe
15
Considerada uma das melhores traduções do AT à data. Tradução livre.
pronunciar o Nome sem uma boa razão, conforme veremos mais adiante. Seja
como for, traduzido desta forma o terceiro mandamento é concordante com o que
se encontra em Levítico:
“Nem jurareis falso pelo meu nome, pois profanarás o nome do teu Deus. Eu sou hwhy.” (Lv
19:12)
Outras passagens da Tora instruem-nos no mesmo sentido:
“hwhy teu Deus temerás e a ele servirás, e pelo Seu nome jurarás.” (Dt 6:13)
“A hwhy teu Deus temerás; a ele servirás, e a ele te chegarás, e pelo seu nome jurarás.” (Dt
10:20)
Temos vários exemplos nas Escrituras de servos de Deus a fazerem tais
juramentos:
“E jurou o rei Salomão por hwhy, dizendo: Assim hwhy me faça...” (1Rs 2:23)
“E jurou Saul: Vive hwhy, que não morrerá.” (1Sm 19:6)
“Então Davi tornou a jurar, e disse: ... vive hwhy....” (1Sm 20:3)
Jeremias chega mesmo a fazer depender a restauração do Reino a Israel, do povo
voltar à Tora e a fazer juramentos em Nome de hwhy.
“E será que, se diligentemente aprenderem os caminhos do meu povo, jurando pelo meu
nome: Vive hwhy, como ensinaram o meu povo a jurar por Baal; então edificar-se-ão no
meio do meu povo.” (Jr 12:16)
Porquê o Encobrimento?
Antes do cativeiro babilónico, o Nome de hwhy era comummente usado na
linguagem do dia a dia quer pelos sacerdotes quer pelo povo de uma maneira
geral. O Nome era conhecido e usado inclusivé em saudações. O seu uso era, no
entanto, sempre feito de forma absolutamente respeitosa.
“E eis que Boaz veio de Belém, e disse aos segadores: hwhy seja convosco. E disseram-lhe
eles: hwhy te abençoe.” (Rt 2:4)
O rabi A. Marmorstein, no seu livro “The Old Rabbinic Doctrine of God” diz:
“Tempos houve em que esta proibição de não usar O Nome Divino era completamente
desconhecida entre os Judeus... nem no Egipto nem em Babilónia, Israel conheceu ou
guardou uma lei que proibisse o uso do nome de Deus, o Tetragrama, em conversação
comum ou saudações”.
No entanto, a partir, sensivelmente, do séc.III a.C. essa proibição surge e vai
ganhando uma força tal que, por alturas do séc.I d.C, ele estava practicamente
arredado da boca e dos ouvidos do povo, estando reservado apenas ao SumoSacerdote no Dia da Expiação, podendo quem o pronunciasse, incorrer numa pena
de morte se alguém testificasse contra ele no Sinédrio16. Até chegar a este
extremo, no entanto, levou algum tempo. A Mishna (a primeira parte do Talmude)
diz-nos o seguinte:
“No santuário pronuncia-se o Nome como está escrito; nas províncias [fora do Templo,
portanto], com eufemismos.”17
Isto revela que, por esta altura, os sacerdotes ainda pronuciavam o Nome no
Templo mas fora dele pronunciavam-no de modo distinto por forma a disfarçá-lo.
Uma outra passagem do Talmude que revela uma fase transitória desta política é a
seguinte:
“O que é que se entende pelo versículo, ‘Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o
sol da justiça?’[Mal.4:2] Isto refere-se àquelas pessoas que temem usar o Nome de Deus
sem uma boa razão.”18
Nesta altura o Nome ainda podia ser usado quando necessário mas já não sem
uma boa razão. A proibição absoluta veio a ser escrita mais tarde pelo Rabi Abba
Saul por volta de 150 d.C.
“As seguintes pessoas não terão porção no mundo vindouro: Abba Saul diz: ‘o mesmo se
aplica àquele que pronuncia o Nome conforme se escreve.’”19
O porquê destas medidas prende-se com o facto de, durante o cativeiro babilónico,
os judeus se terem habituado a assistir à constante profanação do Nome de hwhy20.
Por esse motivo, após o cativeiro, eles envidaram esforços para ocultar o Nome de
hwhy das Escrituras para evitar que este fosse profanado ou blasfemado por outros.
Para tal basearam-se em Lev. 24:10-16, 23 onde um israelita, ao lutar com outro
israelita, blasfema do Nome de hwhy. Como a palavra hebraica traduzida
‘blasfemar’ também pode significar ‘pronunciar distintamente’, eles interpretaram o
texto por forma a que quem sequer pronunciasse o nome de hwhy estaria a
blasfemar e a incorrer numa pena de morte.
Estas Leis Orais judaicas vieram efectivamente ‘invalidar’ as Leis dadas pelo
próprio hwhy. É contra isto que Y’shua se insurge em Mat.15:3,6,9 e Mar. 7:7-9,13.
Um outro episódio relatado no Talmude Babilónico dá-nos mais uma axa para a
fogueira:
“Os gregos [seleucidas – as forças de Antíoco Epifanes] decretaram que o nome de Deus
não podia ser pronunciado em voz alta; mas quando os Asmonianos [os Macabeus]
16
Sinédrio 56a do Talmud
m.Sotah 7:6; b.Sotah 38b; m.Tamid 7:2
18
Talm.Babil., Nedarim 8b
19
Mishna Sanhedrin 10:1
20
Isa. 52:5
17
cresceram em força e os derrotaram, decretaram que o nome de Deus fosse usado em
contractos... Quando os rabinos souberam disto, disseram,´Amanhã esta pessoa pagará a sua
dívida e o contracto será atirado para um monte de lixo’ por isso proibiram o seu uso em
contractos.” 21
A proibição por parte de Antíoco Epifanes (em 168 a.C.) de pronunciar o nome do
Deus de Israel fazia parte da sua política para helenizar os judeus. O mesmo
decreto proibia a circuncisão e a guarda do Sábado e obrigava a que todos os
judeus participassem em sacrificios de porcos a Zeus e a Apolo realizados no
Templo.
Quando os Macabeus derrotaram os gregos e rededicaram o Templo em 165
a.C.22 decretaram eles próprios uma lei para restaurar o uso do nome de hwhy entre
os judeus mas os rabinos proibiram tal medida23.
Mas os fariseus não foram os únicos a banir o uso do nome de hwhy. Os essénios,
naquele que é o príncipal documento encontrado em Qumran – intitulado “Regra da
Comunidade” que, como o próprio nome indica, definia os regulamentos internos
da própria comunidade – também o fizeram e de forma muito rigorosa:
“Quem quer que pronunciar em voz alta o M[ui] Santo Nome de Deus, [quer em...] ou em
blasfémia ou como desabafo em tempos de tribulação ou por qualquer outra razão, ou
enquanto estiver a ler um livro ou a orar, deve ser expulso para nunca mais regressar ao seio
da comunidade.”24
A proibição essénia relativamente ao uso do Nome explica também porque é que
ele aparece escrito de forma distinta de todas as outras palavras nos seus rolos.
Os rolos encontram-se escritos em escrita Ashuri (os caracteres hebraicos ditos
quadrados idênticos aos usados hoje em dia e que passaram a ser usados após o
cativeiro babilónico). O Nome, no entanto, encontra-se escrito em caracteres paleohebraicos (em uso antes do cativeiro). Ou seja, ao invés do Nome aparecer escrito
como hwhy, usando os mesmos caracteres das restantes palavras, ele aparece
como hwhy. A razão de ser de tal opção parece não ter sido para glorificar o
Nome mas antes para impedir que o leitor médio o pronunciasse pois o judeu
médio nesta altura (finais do período do Segundo Templo) não sabia já ler estes
caracteres pois estes tinham caído em desuso no terceiro século a.C. Nalguns
rolos essénios os escribas vão mesmo ao ponto de substituir o Nome por quatro
pontos (“....”).
O acto de escrever o Nome em caracteres paleo-hebraicos para ocultar a sua
pronunciação não se limitou aos escritos essénios, tendo sido uma solução
também adoptada pelos escribas fariseus e que se repercutiu, por exemplo, nos
primeiros manuscritos da Septuaginta, conforme veremos mais adiante.
21
Talm.Bab.Rosh Hashannah 18b
A primeira Chanukah.
23
Esta foi uma das muitas coisas que deu origem à oposição entre os fariseus (rabinos) e os saduceus. Estes
últimos baseavam-se apenas na Tora escrita (embora com muitas interpretações erróneas) enquanto que os
primeiros invalidaram esta pelas suas tradicões (Tora oral). Mais tarde isto veio a ser o principal ponto de
tensão entre Cristo e os fariseus.
24
1QS 6:27-7:2 - as partes em [] são reconstruções do texto em zonas onde o manuscrito está danificado e é
ilegível.
22
Após a destruição do Templo no ano 70 d.C, os fariseus baniram por completo o
uso do Nome de hwhy. Doravante o nome “seria escondido”25 e “mantido secreto”26
Existe claramente um conflito entre estes preceitos rabínicos que visam esconder o
Nome e mantê-lo secreto e o mandamento de hwhy segundo o qual esse Nome
seria “anunciado em toda a Terra”. A Palavra de Deus fala-nos de apóstatas “os quais
cuidam fazer com que o meu povo se esqueça do meu nome” (Jer 23:27).
Vejamos algumas outras passagens:
“Mas, deveras, para isto te mantive, para mostrar meu poder em ti, e para que o meu nome
seja anunciado em toda a terra.” (Êx 9:16)
“Portanto o meu povo saberá o meu nome” (Is 52:6)
“Em ti confiarão os que conhecem o teu nome.” (Sl 9:10)
“...pô-lo-ei num alto retiro, porque conheceu o meu nome.” (Sl 91:14)
“... e um memorial foi escrito diante dele, para os que temeram hwhy, e para os que se
lembraram do seu nome.” (Ml 3:16)
“Louvem o teu nome, grande e tremendo, pois é santo.” (Sl 99:3)
“A minha boca falará o louvor de hwhy, e toda a carne louvará o seu santo nome pelos
séculos dos séculos e para sempre.” (Sl 145:21)
“Louvem o nome de hwhy, pois só o seu nome é exaltado.” (Sl 148:13)
Para além de ocultarem o nome através do uso de eufemismos, lendo ‘Adonai’27 ou
‘Elohim’28 sempre que se deparavam com o nome de hwhy numa das cerca de 7000
vezes em que ele ocorre nas Escrituras Hebraicas, nalguns casos chegaram
mesmo a alterar o texto. A Massorah (107:15, Edição Ginsburg) lista 134 instâncias
em que o nome de hwhy foi substituído pela palavra ‘Adonai’. Essas instâncias são:
Gén. 18:3,27,30,32; 19:18; 20:4 Êx. 4:10,13; 5:22,; 15:17; 34:9,9 Núm. 14:17
Jos. 7:8 Jui. 6:15; 13:8 1Reis 3:10,15; 22:6 2Reis 7:6; 19:23 Isa. 3:17,18; 4:4;
6:1,8,11; 7:14,20; 8:7; 9:8,17; 10:12; 11:11; 21:6,8,16; 28:2; 29:13; 30:20;
37:24; 38:14,16; 49:14 Ezeq. 18:25,29; 21:13; 33:17,29 Amós 5:16; 7:7,8;
9:1 Zac. 9:4 Miq. 1:2 Mal. 1:12,14 Sal. 2.4; 16:2; 22:19,30; 30:8; 35:3,17,22;
37:12; 38:9,15,22; 39:7; 40:17; 44:23; 51:15; 54:4; 55:9; 57:9; 59:11; 62:12;
66:18; 68:11,17,19,22,26,32; 73:20; 77:2,7; 78:65; 79:12; 86:3,4,5,8,9,12,15;
89:49,50; 90:1,17; 110:5; 130:2,3,6 Dan.1:2; 9:3,4,7,9,15,16,17,19,19,19
25
b.Pes. 50a
b.Kidd. 71a
27
‘Adonai’ significa ‘Senhor’.
28
‘Elohim’ é plural de ‘Eloha’ e siginica ‘deuses’ ou, mais concretamente, ‘Todo-Poderoso’ (plural). Aplicado
ao Deus verdadeiro traduz a multiplicidade dos Seus atributos.
26
Lam. 1:14,15,15; 2:1,2,5,7,18,19,20; 3:31,36,37,58 Esd 10:3 Nee.1:11; 4:14
Job 28:28.
Nota: sempre que um versículo aparece duas ou mais vezes como Êx 34:9,9
significa que foi alvo de mais do que uma substituição.
Este acto também entra em conflicto com outros mandamentos da Tora:
“Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os
mandamentos de hwhy vosso Deus, que eu vos mando.” (Dt 4:2)
“Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás.”
(Dt 12:32)
“Toda a Palavra de Deus é pura... Nada acrescentes às suas palavras, para que não te
repreenda e sejas achado mentiroso.” (Pv 30:6)
“Assim diz hwhy:... todas as palavras que te mandei que lhes dissesses; não omitas nenhuma
palavra.” (Jr 26:2)
“18 Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se
alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas
neste livro; 19 E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua
parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro.” (Ap
22:18-19)
Existe, no entanto, uma passagem já acima referida, em que se baseiam alguns
autores judaicos para sustentar a proibição do uso do Nome. A passagem é
Levítico 24:16.
“E aquele que blasfemar [naqab] o nome de hwhy, certamente morrerá; toda a congregação
certamente o apedrejará; assim o estrangeiro como o natural, blasfemando [naqab] o nome
de hwhy, será morto.” (Lv 24:16)
No entanto, eles interpretam a palavra ‘naqab’ que aqui aparece traduzida como
‘blasfemar’ no sentido de ‘pronunciar’. Dessa forma o texto fica:
“E aquele que pronunciar [naqab] o nome de hwhy, certamente morrerá; toda a congregação
certamente o apedrejará; assim o estrangeiro como o natural, pronunciando [naqab] o nome
de hwhy, será morto.” (Lv 24:16)
É verdade que esta palavra também tem esse significado mas será que é esse o
sentido que deve ter neste texto? Vejamos o contexto:
“10 E apareceu, no meio dos filhos de Israel o filho de uma mulher israelita, o qual era filho
de um homem egípcio; e o filho da israelita e um homem israelita discutiram no arraial. 11
Então o filho da mulher israelita blasfemou o nome de hwhy, e o amaldiçoou, por isso o
trouxeram a Moisés; e o nome de sua mãe era Selomite, filha de Dibri, da tribo de Dã. 12 E
eles o puseram na prisão, até que a vontade de hwhy lhes pudesse ser declarada. 13 E falou
hwhy a Moisés, dizendo: 14 Tira o que tem blasfemado para fora do arraial; e todos os que o
ouviram porão as suas mãos sobre a sua cabeça; então toda a congregação o apedrejará. 15
E aos filhos de Israel falarás, dizendo: Qualquer que amaldiçoar o seu Deus, levará sobre si
o seu pecado. 16 E aquele que ‘naqab’ o nome de hwhy, certamente morrerá; toda a
congregação certamente o apedrejará; assim o estrangeiro como o natural, ‘naqab’ o nome
de hwhy, será morto.” (Lv 24:10-16)
O sentido de ‘naqab’ neste contexto é claramente o de blasfemar e não o de
pronunciar pois nos versículos 11 e 15 é-nos dito que o que foi feito foi amaldiçoar
o Nome de hwhy. A palavra ‘amaldiçoar’ é a palavra ‘qalal’ que tem somente esse
sentido. Não deixa de ser relevante que quem “amaldiçoar o Seu Deus (Elohim) levará
sobre si o seu pecado”, mas se essa maldição for proferida invocando o Nome de
hwhy, o transgressor será apedrejado. Também aqui vemos a importância que hwhy
atribui ao Seu Nome.
Apesar do Espírito Santo ter inspirado os autores das Escrituras Hebraicas a
escrever o Nome de hwhy quase 7000 vezes no texto, o Seu Nome foi retirado da
quase totalidade das traduções actuais da Bíblia. Os próprios tradutores dessas
versões decidiram substituir o Seu Nome por algo completamente diferente.
Ninguém tem o direito de fazer tal coisa, pois como disse Salomão “Toda a Palavra
de Deus é pura... nada acrescentes”.
O próprio hwhy nos avisou acerca de falsos profetas que fariam o povo esquecer o
Seu Nome:
“26 ... profetas que profetizam mentiras, e que só profetizam do engano do seu coração; 27
Os quais cuidam fazer com que o meu povo se esqueça do meu Nome... assim como seus
pais se esqueceram do meu Nome por causa de Baal.” (Jr 23:26-27)
Curiosamente, o significado da palavra ‘Baal’ em hebraico é precisamente ‘Senhor’,
a palavra pela qual o Nome de hwhy foi substituida na grande maioria das vezes.
Curiosamente também nos é dada a seguinte profecia para o final dos tempos:
“16 E naquele dia, diz hwhy, tu me chamarás: Meu marido; e não mais me chamarás: Meu
senhor. 17 E da sua boca tirarei os nomes dos Baalins, e não mais se lembrará desses
nomes.” (Os 2:16-17)
É caso para perguntar, que mulher é que não conhece o nome do seu marido?
Adicionalmente temos ainda a seguinte advertência:
“1 Agora, ó sacerdotes, este mandamento é para vós. 2 Se não ouvirdes e se não
propuserdes, no vosso coração, dar honra ao meu nome29, diz hwhy dos Exércitos, enviarei a
29
A questão que se pode e deve colocar nesta passagem é como é que se dá honra ao Nome de hwhy? A
resposta é: cumprindo a Sua Lei, obedecendo-lhe em espírito e verdade. O não cumprimento da Lei é o que
acarreta a anunciada maldição. Mais adiante Malaquias é bem claro:
“7 Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a lei
porque ele é o mensageiro de hwhy dos Exércitos. 8 Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes
tropeçar na lei; corrompestes a aliança de Levi, diz hwhy dos Exércitos. 9 Por isso também eu vos fiz
maldição contra vós, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; e também já as tenho amaldiçoado,
porque não aplicais a isso o coração.” (Ml 2:1-2)
Nota de advertência: com base no argumento acima exposto, muitos alegam que
sempre que se substitui hwhy por ‘Senhor’, estamos a cometer uma blasfémia pois
estamos a obliterar o Nome do Criador e a invocar, ainda que inconscientemente, o
título de uma divindade pagã – Baal. Apesar de considerar que é pecado obliterar o
Nome do nosso Pai, considero que isto é um argumento extremo com o qual não
estou de acordo. ‘Baal’ é uma palavra que, para além de designar uma divindade
pagã, é uma palavra de uso corrente em hebraico, sendo traduzida frequentemente
por ‘mestre’, ‘senhor’, ‘marido’ e ‘proprietário’. Se as próprias Escrituras empregam
a palavra ‘Baal’ com todos estes sentidos, isso prova que a sua simples
vocalização não significa necessariamente que se esteja a invocar uma divindade
pagã.
Na realidade, e ao contrário do que vulgarmente se pensa, Baal não é o nome de
nenhuma divindade pagã mas sim um título que se aplicava a várias
indistintamente. Conforme dissemos acima, Baal significa “Senhor” ou “Mestre” e
nessa qualidade aplica-se a qualquer divindade e até a homens. A enciclopédia
online Wikipedia tem o seguinte a dizer a respeito deste título:
http://en.wikipedia.org/wiki/Baal
Baal: … título honorífico que significa “mestre” ou “senhor” e que é aplicado a vários
deuses, espíritos e demónios, particularmente no Levante... “Baal” pode-se referir a qualquer
deus ou até a autoridades humanas; nalguns textos é usado como susbtituto de Hadad, deus
da chuva, dos trovões, da fertilidade, da agricultura e senhor dos céus. Uma vez que só aos
sacerdotes era permitido pronunciar o seu nome divino Hadad, Baal era usado vulgarmente.
No entanto, poucas se é que algumas referências bíblicas a “Baal” se referem a Hadad... mas
sim a um sem número de divindades... cada uma delas chamada baal... Assim, quando
qualquer texto empregue a palavra baal é importante primeiro determinar com precisão a
que deus, espírito ou demónio é que se refere. (tradução livre)
A própria Palavra de Deus nos revela isto quando, por exemplo, no texto hebraico
de 1Reis 18:26 onde a palavra Baal aparece referida por duas vezes, ela aparece
antecedida na primeira ocorrência, pelo artigo definido “o”, ou seja “o Baal”,
querendo dizer, “o senhor”. Isto revela que não se trata de um nome mas sim de
um título uma vez que na lingua hebraica os nomes nunca são antecedidos de
artigos definidos. Infelizmente isto não transparece nas traduções que omitem o
artigo e apresentam Baal como se de um nome se tratasse.
A mesma palavra “Baal”, com o significado de “Senhor” ou “Mestre” aparece nas
Escrituras aplicada ao próprio hwhy:
“Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os
tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver
desprezíveis, e indignos diante de todo o povo, visto que não guardastes os meus caminhos, mas fizestes
acepção de pessoas na lei.” (Ml 2:7-9)
desposado [de eu ter sido um baal para eles, ou seja, um senhor ou um marido], diz hwhy.”
(Jr 31:32)
“Então foi Davi a Baal-Perazim; e feriu-os ali Davi, e disse: Rompeu hwhy a meus inimigos
diante de mim, como quem rompe águas. Por isso chamou o nome daquele lugar BaalPerazim.” (2Sm 5:20)
Baal-Perazim significa “O Senhor rompeu”. Aqui temos uma clara instância desta
palavra a ser aplicada ao próprio hwhy.
O artigo acima transcrito da enciclopédia Wikipedia é ainda particularmente
interessante porque revela que a inefabilidade dos nomes divinos era um costume
pagão e foi essa mesma inefabilidade que levou à proliferação do termo genérico
Baal (Senhor) aplicado a vérias divindades. Precisamente o que vem a acontecer
mais tarde com o Tetragrama que se vê também substituido pelo termo ‘Senhor’.
A Septuaginta e o Novo Testamento
Quando as Escrituras hebraicas são traduzidas para grego cerca de 250 a.C.
naquela que ficou conhecida como a Septuaginta (LXX), o Nome de hwhy não é
transliterado mas permanece em caracteres paleo-hebraicos (hwhy)no meio do
restante texto em grego, à semelhança do que acontecia com os escritos essénios,
conforme já vimos atrás. O objectivo aqui era, também ele, ocultar a pronúncia do
Nome pois estes caracteres já tinham há muito caído em desuso e a maior parte da
população não os sabia ler. Seja como for, o nome encontrava-se escrito no texto.
Algumas cópias ainda existentes da LXX que são anteriores à era cristã
comprovam isto conforme se pode ver nos fragmentos apresentados abaixo (o
Tetragrama aparece indicado pela seta negra):
Isto significa que quer os discípulos lessem as Escrituras em hebraico quer as
lessem em grego, eles se deparariam com o Nome Divino cerca de 7000 vezes no
texto.
No entanto, a partir de uma dada altura, tambem o Nome de Deus na LXX passou
a ser substituido pela palavra grega ‘kurios/kyrios’ (senhor) ou ‘theos’ (deus). A
maior parte das versões existentes já tem esta alteração.
As consequências de tal substituição pelos escribas judaicos foi o impacto que teve
no chamado Novo Testamento. Ao traduzir o texto do NT para grego30, e sempre
que este citava o Antigo Testamento, era ao texto da LXX que o escriba ia beber.
Assim, quando o Nome de Deus começou a desaparecer da LXX, começou a
desaparecer também das cópias do NT em circulação.
O Prof. George Howard faz o seguinte comentário na prestigiada revista ‘Biblical
Archaeological Review’:
“Quando a Septuaginta que a Igreja do Novo Testamento usava e citava continha a forma
hebraica do Nome Divino, os escritores do Novo Testamento sem dúvida incluiam o
Tetragrama nas suas citações... Quando a forma hebraica do Nome Divino foi eliminada em
favor de substitutos em grego na Septuaginta, foi também eliminada das citações da
Septuaginta no Novo Testamento... Não tardou até que a igreja gentia perdesse o Nome
Divino excepto na medida em que era retratado nos substitutos ou lembrado por eruditos.”
No Séc. III d.C. Orígenes escreveu: “...nos manuscritos mais exactos O NOME aparece
em caracteres hebraicos, embora não nos [caracteres] hebraicos modernos, mas sim nos mais
antigos [paleo-hebraico].”
Mesmo no Séc. IV d.C. Jerónimo escreveu no prólogo dos livros de Samuel e Reis:
“E encontramos o nome de Deus, o Tetragrama, em certos volumes gregos mesmo até hoje,
expresso em letras antigas [paleo-hebraico].”
Apesar de ainda aparecer nos textos, o nome era cada vez menos usado, de tal
forma que a partir de dada altura muitos leitores já nem sabiam como pronunciá-lo.
Jerónimo salienta também que “certos ignorantes, devido à similaridade dos caracteres
[hebraicos do Tetragrama] nos livros gregos, acostumaram-se a ler PIPI.” Isto fez com
que muitos gregos desta altura tratassem o Deus de Israel por ‘PIPI’.
Uma outra tradução muito influente naquela época e que surge no Séc. II d.C. foi a
Vulgata Latina feita por Jerónimo para latim. Jerónimo substituiu o tetragrama –
hwhy – pela palavra latina ‘Dominus’ que significa ‘Senhor’. Quando mais tarde o
latim começa a perder influência e começam a surgir novas linguas na Europa, a
Igreja Católica combate a tradução da Bíblia para essas novas línguas mantendose agarrada à Vulgata Latina. Assim, por um lado temos os judeus que liam as
Escrituras no hebraico original mas que não pronunciavam e até mesmo ocultavam
30
O autor não tem qualquer dúvida de que os Escritos Apostólicos habitualmente designados por Novo
Testamento, foram inicialmente escritos em Aramaico e mais tarde traduzidos para grego. Falaremos disto
brevemente mais adiante. De qualquer das formas e para o argumento que está a ser feito é perfeitamente
indiferente se foram traduzidos para grego ou escritos originalmente nessa lingua.
o Nome e por outro temos a grande maioria dos cristãos que ouviam a Bíblia ser
lida na Vulgata Latina que não tinha o Nome.
Muitos hoje dizem que pelo facto do chamado Novo Testamento não ter o Nome,
então é porque não deve ser importante. A verdade, no entanto, é que todas as
Escrituras (incluindo o NT) realçam a importância do Nome de Deus. Para além
disso, nenhum dos manuscritos do NT que temos hoje é original e nenhum é
anterior a meados do Séc. II d.C. Ora as cópias gregas do AT anteriores
precisamente a meados do Séc. II d.C. contêm o Nome escrito em caracteres
hebraicos. É precisamente a partir desta altura que o Nome começa a ser
substituido por ‘Kyrios’ na LXX passando a partir daí para as cópias do NT. Além
disso, a Peshitta Aramaica que chegou aos nossos dias perfeitamente preservada
(embora também não nos manuscritos originais) e que o autor considera ser o
texto que mais fielmente reproduz os textos originais, contém o Nome sob a Sua
forma mais curta e não apenas nas citações das Escrituras Hebraicas (vulgo Antigo
Testamento). Mais acerca da Peshitta mais adiante neste trabalho.
A Pronunciação IAUE – Parte 1
A ausência do uso do Nome quer liturgicamente quer na literatura e linguagem
cristãs baseia-se essencialmente na ideia de que a correcta pronúncia do Nome de
Deus se perdeu devido ao encobrimento feito pelos judeus ao longo dos séculos.
Tão eficaz foi esse encobrimento que a correcta pronúncia acabou por se perder.
Para além disto, nenhum dos manuscritos das Escrituras gregas que chegaram até
nós contém o Nome de Deus.
Com base nisto os líderes religiosos dos nossos dias concluem que, não tendo a
pronúncia correcta do Nome, temos total liberdade para o substituir por qualquer
outro ou por um título. A título de exemplo, ‘The Popular and Critical Bible
Encyclopedia’ afirma categoricamente:
“A verdadeira pronúncia deste nome, pelo qual Deus era conhecido pelos hebreus, perdeu-se
completamente...”
Este argumento tão disseminado vai contra toda a lógica bíblica! Porque é que
Deus diria que todos devemos conhecer e usar o Seu Nome, porque é que Ele o
instituiria como um memorial para todas as gerações, e depois permitiria que esse
Nome se perdesse? Ou estariamos perante um Deus cruel que deliberadamente
coloca a humanidade perante um problema insolúvel ou perante um Deus que
perdeu o controlo da situação e que agora tem que permitir que os homens
contornem os seus mandamentos.
“A glória de Deus está nas coisas encobertas; mas a honra dos reis, está em descobri-las.”
(Pv 25:2)
“7 Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. 8 Porque, aquele que
pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á.” (Mt 7:7-8)
Contrariamente a esta lógica a ‘Encyclopaedia Judaica’ afirma:
“A verdadeira pronúncia do Nome YHWH nunca se perdeu. ”
Em que é que ficamos então?
Sabemos que Deus não é um deus de confusão (1Cor.14:33) e que Ele transmitiu
o Seu Nome ao homem como um memorial para assim ser mencionado (Êx. 3:15)
e que o Seu povo Israel bem como todos os povos virão a conhecer o Seu Nome:
“E farei conhecido o meu santo nome no meio do meu povo Israel, e nunca mais deixarei
profanar o meu santo nome; e os gentios saberão que eu sou hwhy, o Santo em Israel.” (Ez
39:7)
“Portanto o meu povo saberá o meu nome; pois, naquele dia, saberá que sou eu mesmo o
que falo: Eis-me aqui.” (Is 52:6)
“19 Ó hwhy, fortaleza minha, e força minha, e refúgio meu no dia da angústia; a ti virão os
gentios desde os fins da terra, e dirão: Nossos pais herdaram só mentiras, e vaidade, em que
não havia proveito. 20 Porventura fará um homem deuses para si, que contudo não são
deuses? 21 Portanto, eis que lhes farei conhecer, desta vez lhes farei conhecer a minha mão
e o meu poder; e saberão que o meu nome é hwhy.” (Jr 16:19-21)
“Encham-se de vergonha as suas faces, para que busquem o teu nome, hwhy... Para que
saibam que tu, a quem só pertence o nome de hwhy, és o Altíssimo sobre toda a terra.” (Sl
83:16,18)
“Louvem o nome de hwhy, pois só o seu nome é exaltado; a sua glória está sobre a terra e o
céu.” (Sl 148:13)
“E hwhy será rei sobre toda a terra; naquele dia um será hwhy, e um será o seu nome.” (Zc
14:9)
hwhy não é o autor desta confusão. Tudo isto resulta da abusiva e errada tentativa
dos líderes religiosos judaicos para substituir, esconder e dissimular o Nome de
Deus por acharem que ele é inefável31.
Apesar de terem começado a ocultar o nome de Deus, pronunciando-o de forma
distinta, os judeus não eliminaram o Nome das Escrituras (salvo nas 134 instâncias
já referidas atrás) portanto seria de pensar que bastaria transliterar os sons destas
letras hebraicas para as linguas modernas, mas é aí que a confusão realmente
começa.
31
A inefabilidade do Nome de Deus foi herdada de outros povos pagãos. O Dr. Koster no seu livro “The Final
Reformation”, citando o livro “Forerunners and Rivals of Christianity” de Legge, faz a seguinte afirmação
(trad.livre): “A inefabilidade dos nomes divinos era uma ideia já antiga no Egipto... o nome do próprio Osiris
era considerado inefável... o nome de Marduk da Babilónia era também declarado inefável. Os gregos
evitavam os nomes das suas divindidades e preferiam referir-se a elas pelos títulos Kurios e Theos”. ‘Kurios’
significa ‘Senhor’ e ‘Theos’, ‘Deus’ (sendo precisamente a origem da palavra), precisamente os mesmos
títulos pelos quais foi substituído o Nome de hwhy.
O Valor das Letras – Os Académicos Dividem-se
Para ser verdadeiramente honesto nesta análise e porque não sou grande
conhecedor do hebraico, há que apresentar as duas principais opiniões na matéria.
No entanto, independentemente de qual das opiniões for a correcta, vamos ver
mais adiante que qualquer dos grupos chega à mesma pronúncia do nome hwhy.
O Tetragrama é Composto por Vogais
O facto dos escribas masoretes, terem começado, a partir do Séc. VI d.C., a
acrescentar ao Tetragrama a pontuação de vogais, levou à falsa conclusão de que
o Tetragrama seria composto apenas por consoantes (na medida em que
necessitava que lhe acrescentassem vogais – mesmo em se tratando de vogais de
outras palavras). Mais, como os escribas antigos não tinham transtimido as vogais
do Nome, assumiu-se que a pronúncia do mesmo se tinha perdido.
De acordo com várias autoridades na matéria, o alfabeto hebraico era composto
por 22 consoantes, sendo as vogais subentendidas pelo leitor. A sinalização das
vogais (através de traços e pontos por baixo das letras) não foi introduzida senão
por volta do Séc. VI d.C. Daí as 4 letras que compõem o Nome de Deus terem sido
transliteradas para caracteres ocidentais pelas letras YHWH ou YHVH. No entanto,
de acordo com alguns estudos recentes, apesar de todas as letras do alfabeto
hebraico serem consoantes, 4 delas eram também usadas como vogais sendo
vogais-consoantes ou semivogais32, e isto constitui a chave para a correcta
pronunciação do Nome de Deus.
O livro “Introductory Hebrew Grammar” afirma:
“Quatro das letras Hebraicas, a, h, w e y são chamadas letras vogais”
O “Beginner’s Handbook to Biblical Hebrew” confirma também que estas letras são
semi-vogais.
Assim, todas as letras que compõem o Nome Divino tanto podem ser consoantes
como vogais. Como podemos então determinar se são uma coisa ou se são outra?
No seu livro “As Guerras dos Judeus” o historiador e sacerdote Flávio Josefo, ao
descrever a mitra que o Sumo-Sacerdote usava na cabeça, faz a seguinte
afirmação:
“...na qual [mitra] está gravado o Sagrado Nome que consiste em quatro vogais”.
Josefo, na qualidade de sacerdote, pertencia a uma elite que ainda conhecia o
Nome Divino e, para além disso, viveu numa época em que os escribas ainda não
tinham começado a inserir vogais no meio do Texto Bíblico.
As consoantes/vogais são:
32
São designadas por ‘Matres Lectionis’ – Mães de Leitura ou Guias de Leitura.
• a
• h
•
•
y
w
Alef – á, é, ó
Hey – a (como em ‘para’), á (ah – terminação feminina), e (eh
– terminação masculina) ou ay
Yud – i ou y, ay, eh
Waw – w ou ‘oo’ (u longo)
Destas 4, 3 são as letras que compõem o Tetragrama sendo uma delas usada
duas vezes o que perfaz as 4 vogais de Josefo.
Quando as letras do Tetragrama são lidas como vogais o Nome pode ser
perfeitamente pronunciado sem quaisquer letras adicionais. Se tivermos de
acrescentar letras deixa de ser um Tetragrama.
A diferença entre o Hebraico moderno e o Hebraico bíblico é relevante sobretudo
no que diz respeito à pronúncia da consoante/vogal ‘w’ (Waw33 – ou Vav). Os judeus
sefarditas34 continuaram, de acordo com alguns estudiosos do Hebraico, a falar da
forma mais próxima do hebraico bíblico, pronunciando esta letra como ‘OO’ ou um
‘U Longo’ quando dentro de uma palavra ou como consoante quando no princípio
ou fim de uma palavra. Os judeus Askenazi35, fortemente influenciados pelas
linguas germânicas lêem esta letra como um ‘V’ (aliás, ainda hoje, nessas linguas o
‘W’ tem o valor de ‘V’).
O Tetragrama é Composto por Consoantes
Alguns outros académicos do Hebraico, como é o caso de James Trimm,
sustentam a visão mais tradicional de que o antigo alfabeto hebraico era composto
exclusivamente por consoantes e alegam que Josefo se referia à lingua grega ao
dizer que o Nome era composto por quatro vogais uma vez que era
essencialmente para estes que ele escrevia.
De acordo com estes autores, as letras hebraicas ‘Yud’, ‘Hey’ e ‘Waw’ não teriam
correspondência no alfabeto grego sendo usualmente transliteradas por vogais na
lingua grega. A razão para tal advém do facto do alfabeto grego ter tido a sua
origem na escrita Fenícia/Paleo-hebraica e nesse processo de adaptação sempre
que alguma das letras originais representava um som que não existia no grego, os
gregos adoptaram à mesma o símbolo para representar as suas vogais. Robert
Whiting no seu livro “The New Book of Knowledge” da Universidade de Chicago
afirma:
“Quando os gregos adaptaram o sistema de escrita fenício à sua própria lingua... fizeram
uma alteração significativa. Criaram símbolos para vogais que usavam sempre que uma
vogal ocorria... Os gregos não inventaram novos símbolos para as vogais mas simplesmente
33
Leia-se ‘Uau’
Judeus Portugueses, Espanhóis e dos países Árabes.
35
Judeus do norte da Europa e da Europa de Leste.
34
converteram alguns dos símbolos fenícios de que não precisavam para a sua própria lingua
em símbolos de vogais.”36
O resultado disto foi que o ‘Yud’ hebraico se converteu no ‘Iota’ grego, o ‘Hey’ se
converteu no ‘Epsilon’ e o ‘Waw’ no ‘Upsilon’. Por esta razão, para os gregos para
quem Josefo escrevia, o Tetragrama era, na realidade, composto por quatro
vogais.
Na realidade estes autores concordam que, de facto, o hebraico teria as vogais
atrás referidas mas que tal se ficou a dever a uma revisão da lingua que só teve
lugar a partir do Séc. IX a.C. e que, ainda assim, essas letras só assumiam o valor
de vogais quando emparelhadas com uma consoante. Ellis Brotzman no seu livro
“Old Testament Textual Criticism” diz o seguinte:
“A partir de cerca do Séc.IX, algumas consoantes passaram a ser usadas para indicar vogais.
Estas consoantes ‘auxiliares’ são chamadas ‘Matres Lectionis’.”
Isto significa que, de acordo com este autor, antes do Séc.IX a.C, as letras do
Tetragrama tinham apenas o valor de consoantes e que, mesmo mais tarde, a letra
‘Yud’ inicial nunca poderia representar uma vogal pois não está emparelhada com
nenhuma outra consoante.
A Transliteração Para Caracteres Ocidentais
As letras ‘U’, ‘V’ e ‘W’, têm a mesma origem. Na lingua inglesa, até ao Séc. XVII,
designava-se a letra ‘V’ como ‘single U’ e a letra ‘W’ como ‘double U’ (designação
esta que persiste até aos nossos dias até em português). Todas estas letras tinham
o valor de ‘U’, sendo que o ‘W’ (ou duplo U) valia como um ‘U Longo’ à semelhança
da letra hebraica ‘w’ (Waw).
O livro “Ripley´s Believe It or Not” faz a seguinte afirmação37: “Gillie Beys, um
tipógrafo em Paris, França, criou as duas consoantes ‘J’ e ‘V’. Antes de 1565 elas eram
vogais indistintas do ‘I’ e do ‘U’. O ‘V’ desenvolveu-se a partir do ‘U’ ou ‘OO’ do Waw
hebraico e o ‘W’ não é mais que um ‘duplo U’ ou, para ser mais exacto, um ‘duplo V’
quando o ‘V’ ainda era igual ao ‘U’.”
Confuso? Vale então a pena esclarecer como é que o ‘J’ aparece em cena,
levando à criação da palavra híbrida ‘Jeová’ que a maior parte da cristandade
aceitou como o Nome do Criador. Na realidade, o som do ‘J’ como actualmente se
pronuncia em português nunca poderia fazer parte do Nome Divino pela simples
razão de que esse som nunca existiu em hebraico.
A letra ‘J’ é uma variante relativamente tardia do ‘I’ latino que era usado
indistintamente quer como vogal quer como consoante. A letra ‘I’, por sua vez,
deriva da letra grega ‘Iota’ que, por sua vez, deriva do fenício e hebraico ‘Yod’ ou
‘Yud’ (y) que é a primeira letra do Nome do Todo-Poderoso e que é uma das 4
36
37
Tradução Livre.
Tradução livre.
letras que, para além de consoante também funcionava como vogal, tendo o valor
de um ‘I’ neste último caso. A letra ‘J’ era inicialmente pronunciada como um ‘I’
(ainda hoje o é por exemplo na lingua holandesa) e só por volta dos Sécs.
XVII/XVIII é que a distinção entre o ‘J’ como consoante e o ‘I’ como vogal, se
afirmou em pleno.
Originalmente, quando a letra ‘J’ tinha o mesmo valor do ‘I’ ou do ‘Y’, som esse que
era equivalente ao ‘Yud’ hebraico, era correcto transliterar o ‘Yud’ hebraico por ‘J’.
No entanto, como hoje a letra ‘J’ tem um som completamente diferente, já não é
uma transliteração correcta. O mesmo se aplica à letra ‘V’ que inicialmente tinha o
valor de um ‘U’ sendo idêntico à letra hebraica ‘Waw’ mas que hoje tem o valor de
uma consoante, já não sendo equivalente à letra hebraica original e não devendo
por isso ser transliterado dessa forma. Aliás, a transliteração mais correcta seria
sempre por um ‘W’ e nunca por um ‘V’ pois o primeiro é que, à semelhança do
‘Waw’ hebraico, tinha o valor de um ‘U Longo’ ou ‘duplo U’ ao passo que o segundo
era um ‘U curto’.
Podemos enumerar alguns aspectos curiosos resultantes deste estado de coisas.
Em primeiro lugar, na cidade de Washington, onde parte das ruas estão
organizadas alfabeticamente, não existe uma rua J. As ruas passam do I para o K.
Isto tem a ver com o facto de, à data, o I ser indistinguível do J e, caso houvesse
uma rua J, causaria, na melhor das hipóteses, uma redundância e, na pior, uma
autêntica confusão resultando em imensa correspondência extraviada. O próprio
Thomas Jefferson, um dos fundadores dos EUA e um dos seus primeiros
presidentes, assinava com as iniciais T.I. ao invés de T.J., o que nos leva a concluir
que, à data, o seu nome pronunciar-se-ia Iefferson e não Jefferson.
Addicionalmente, o “New General English Dictionary”publicado em 1740 tinha uma
única secção para o I e o J.
Portanto, até aos Sécs. XVII/XVIII, JHVH era equivalente a YHWH mas como
actualmente o ‘J’ e o ‘V’ já não têm o mesmo valor, essa equivalência já não existe.
No entanto, como por tradição era dessa forma que se representava o Nome de
Deus, essa forma de o escrever persistiu até aos nossos dias dando origem à
palavra híbrida ‘Jeová’ e a outras formas como, por exemplo, ‘Javé’ ou ‘Yahveh’.
A Origem do Nome ‘JEOVÁ’
Adicionalmente há que salientar que por volta do Séc.VI d.C. os escribas e
masoretes desenvolveram um sistema de pontos e traços que podiam ser
acrescentados ao texto salientando as vogais que deveriam ser lidas (para ajudar a
que a lingua hebraica não fosse esquecida após a diáspora). Mas isto teve outra
consequência: permitiu aos masoretes indicar uma leitura alternativa da sua
preferência sem alterar as consoantes do texto original. Isto era feito colocando as
consoantes da palavra alternativa na margem e os sinais de vogais dessa palavra
por baixo das consoantes da palavra que efectivamente estava no texto. As
pessoas eram então instruídas que deveriam pronunciar as consoantes da margem
com as vogais no texto ao invés da palavra que estava originalmente no texto. A
‘Universal Jewish Encyclopedia’ de 1941 diz o seguinte:
“...de acordo com a tradição segundo a qual o Tetragrama não deveria ser pronunciado, era
costume substituí-lo pela palavra ‘Adonai’ sempre que a forma escrita do Tetragrama
ocorresse. Supostamente isto ocorria (nas Escrituras) tão frequentemente que os rabinos não
acharam necessário colocar as consoantes da palavra alternativa (Adonai) nas margens.
Durante a Idade Média, teólogos cristãos erradamente leram as 4 consoantes do Tetragrama
com os sinais das vogais para a palavra Adonai o que deu origem ao nome Jeová
[pronunciado Ieová]. Mais tarde, quando surge a letra ‘J’ o nome tornou-se Jeová. O nome
Jeová ainda sobrevive em traduções bíblicas cristãs e em livros de orações, no entanto, é
uma tradução errónea e a palava em sí não tem qualquer significado!”38
Portanto, a palavra ‘Jeová’ não só usa as consoantes erradas (JHVH ao invés de
YHWH) como também usa vogais pertencendo a uma palavra completamente
diferente. Por essa razão o nome ‘Jeová’ é um híbrido – uma palavra composta por
duas outras palavras que nunca deveriam ter sido combinadas e pronunciadas em
conjunto. ‘Jeová’ não é nem nunca foi o nome do Todo-Poderoso. Este termo surge
pela primeira vez em 1516.
Mas há mais para dizer acerca do nome ‘Jeová’. Uma vez que o Talmude instrui as
pessoas para lerem ‘Adonai’ sempre que se depararem com hwhy no texto, os
académicos sempre assumiram (como vimos na enciclopédia acima) que as vogais
‘E-O-A’ provinham de ‘Adonai’. Simplesmente, a primeira vogal de ‘Adonai’ não é
um ‘E’.
James Trimm no seu artigo “Nazarenes and the Name of YHWH” diz o seguinte:
“Por forma a criar vogais para o nome escrito e continuar a manter o nome ‘secreto’ e
‘escondido’ as vogais de Adonai foram traduzidas na palavra YHWH. Mais tarde as vogais
para Eloah (Deus)39 foram usadas dando origem a YEHOWAH... Como no hebraico
moderno a letra Waw (mais tarde chamada Vav) é pronunciada ‘V’ ao invés da sua forma
antiga ‘W’, YEHOWAH ficou YEHOVAH. Isto foi transliterado para o inglês original da
KJV como IEHOVHA e mais tarde, quando o ‘J’ foi acrescentado ao inglês, IEHOVAH
passou a JEHOVAH. No entanto, o J e o V em ‘Jehovah’ estão incorrectos como estão
incorrectas as vogais E-O-A que na realidade provêm de ELOAH.”
Mas há ainda outra explicação para o uso das vogais ‘E-O-A’. O Talmude não se
limita a dizer que se deve usar outro nome no lugar de hwhy. Diz também que o
nome deve ser escondido e mantido secreto. Isto levou a que os masoretes o
disfarçassem no texto recorrendo à pontuação das vogais. Vários indícios
conduzem a esta conclusão:
1. As consoantes da palavra alternativa aparecem escritas na margem. No
caso do Tetragrama não aparecem uma única vez o que levou os
estudiosos a assumir que seria devido à sua frequência.
2. Todos os nomes começados por why – ‘Yud’, ‘Hey’, ‘Waw’ (IAU ou YAHU) –
foram vogalizados pelos masoretes por forma a serem lidos YEHO
(traduzido mais tarde pelos tradutores cristãos por JEHO). No entanto,
textos muito mais antigos (que serão analisados mais adiante) são
38
39
Tradução livre.
‘Eloah’ é singular de ‘Elohim’. ‘Elohim’ denota pluralidade – deuses.
consistentes no testemunho que dão ao apresentar o Trigrama (as primeiras
três letras do Tetragrama) sempre como YAHU ou IAU, o que indica que os
masoretes poderiam estar a tentar disfarçar e esconder a correcta pronúncia
do Trigrama ao apresentá-lo como YEHO.
Apesar de tudo isto ainda há hoje quem sustente que a pronúncia correcta do
Tetragrama é YEHOVAH ou YEHOWAH. Veremos isto mais adiante.
As 3 Formas do Nome
O Nome de Deus aparece nas Escrituras em três formas distintas:
Versão abreviada: hy
– ‘Yud-Hey’ – lida ‘IÁ’ ou ‘YAH’;
Versão intermédia: why40 – ‘Yud-Hey-Waw’ – lida ‘IAU’ ou ‘YAHU’41;
Versão completa: hwhy – ‘Yud-Hey-Waw-Hey’ – normalmente lida ‘IAUE’,
‘YAHUEH’ ou ‘YAHWEH’.
De acordo com o livro “Canon and Masorah Biblical Studies” do Prof. Harry
Morlinsky “o Trigrama (why – YAHU ou IAU) é a forma mais antiga... a forma curta Yod
Hey (hy – IA ou YAH) é pós exílica e deve-se à influência aramaica.”
Pessoalmente não concordo (como também não concordam alguns académicos
dos hebraico) com a afirmação de que o Nome IA seja de uma origem aramaica
mais recente com base na seguinte passagem que apresenta os dois Nomes num
paralelismo óbvio, foi escrita muito antes do cativeiro babilónico e encontra-se no
hebraico mais antigo de todas as Escrituras:
“2 hy (YAH) é a minha força, e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus,
portanto lhe farei uma habitação; ele é o Deus de meu pai, por isso o exaltarei. 3 hwhy é
homem de guerra; hwhy é o seu nome.” (Êx 15:2-3)
Sobre o facto da forma curta do Nome se ler ‘IÁ’ ou ‘YAH’ não restam quaisquer
dúvidas. Tal é-nos corroborado por palavras como ‘Aleluia’ (Alelu-IA – louvado seja
IA) que foi transliterada para grego tanto na LXX como nas Escrituras gregas como
Allhlouia que, de acordo com a “Strong’s Exhaustive Concordance” se lê ‘al-layloo-ee-ah’.
O falecido professor e pastor John Green afirma no seu livro “The Name of the
Most High”:
“A forma intermédia do Nome, o Trigrama (why – YAHU ou IAU), é o segredo, a chave, a
ligação linguística em falta para a forma completa do Nome do Todo-Poderoso e também
40
Esta versão não surge como um nome autónomo mas apenas associada a nomes teofóricos, ou seja, a nomes
pessoais que possuem parte do Nome de Deus na sua composição.
41
O mais correcto, no nosso entender, seria ‘YAHU’ pois o ‘H’ denota uma certa aspiração própria da leitura
do ‘Hey’ (h). O mesmo deverá ser considerado na versão completa.
para a forma completa do Nome do Filho. Não deve ser substituída nem omitida!! Não só o
Nome foi suprimido como também o Waw com o som da vogal ‘U’ foi suprimido!!”
Nomes Teofóricos – Evidência nos Nomes Próprios
Muitos dos nomes de pessoas ou lugares são compostos pelo nome do TodoPoderoso e por uma outra palavra ou frase que descreve a sua missão ou algum
atributo de hwhy. Chamam-se a estes nomes, nomes teofóricos. Sempre que tal
acontece o Nome Divino surge quer na forma intermédia quer na curta. A primeira
evidência a considerar para determinar a correcta pronúncia do nome hwhy –
YHWH – encontramo-la ao analisar esses nomes de pessoas ou lugares dos quais
o Nome de Deus faz parte.
Nomes pessoais terminados em hy demonstram a sua correcta pronunciação como
sendo ‘IA’:
hyba (Ab-YAH) – em português ‘Abias’ – em grego Abia (Ab-eeah) – 2Crón.
11:20,22
hye (Yesha-YAH) – em português ‘Jesaías’ – em grego Iesia (Yes-eeah) –
Neem.11:7; 1Crón.3:21
hymry (Yerem-YAH) – em português ‘Jeremias’ – em grego Ieremia (Yerem-eeah) –
1Crón. 12:4, 10, 13
hyrkz (Zechar-YAH) – em português ‘Zacarias’ – em grego Zacariav (Zachareeah[s]) – 2Reis 14:29; 15:8
hyqdu (Zedek-YAH) – em português ‘Zedequias’ – em grego Sedekiav (Zedikeeah[s]) – 1Reis 22:11
Todos estes confirmam a pronúncia da primeira sílaba do Nome de Deus como
sendo ‘IA’ ou ‘YAH’.
Em quase todas as ocasiões em que o Nome de Deus surge no início de um nome,
é o Trigrama que aparece – ‘IAU’ ou ‘YAHU’ – e não a forma curta. Quando o
Nome de Deus surge no final de um nome, mesmo aí, em 70% das vezes é
também a forma ‘IAU’ ou ‘YAHU’ que surge.
Quando um nome próprio no chamado ‘Antigo Testamento’ começa com o Nome
Divino, os masoretes colocaram as vogais como ‘E-O’. Vejamos alguns exemplos:
YAHU-shaphat
YAHU-shua
YAHU-kanan
YAHU-natan
YAHU-addan
ficou
ficou
ficou
ficou
ficou
YEHO-Shaphat
YEHO-Shua
YEHO-khanan
YEHO-natan
YEHO-addan
(Jeosafá)
(Josué ou Jesus)
(Joanã)
(Jónatas)
(Joadã)
No entanto, quando ao invés de começarem com o Nome Divino, os nomes
terminam com ele, os masoretes não o transcreveram da mesma forma:
Yesha-YAHU
Yeremi-YAHU
Eli-YAHU
(Isaías)
(Jeremias)
(Elías)
Nestes casos o Trigrama aparece sempre no texto sem qualquer morfismo e como
tal é sempre lido YAHU.
Se repararem, o nome de Jeremias indicado acima como ‘Yeremiyahu’ (terminação
em ‘YAHU’) já tinha sido indicado anteriormente como ‘Yeremiyah’ (terminação em
‘YAH’). Na realidade há nomes que aparecem umas vezes com uma terminação e
outras vezes com outra, como é o caso dos exemplos seguintes:
hymry (Yerem-YAH) ou whymry (Yeremi-YAHU) – em português ‘Jeremias’ – em
grego Ieremia (Yerem-eeah) ou Ieremiou (Yerem-eeou)
hyry (Yer-YAH) ou whyry (Yer-YAHU) – em português ‘Jerias’ – em grego Ieria
(Yer-eeah)
hyrkz (Zechar-YAH) ou whyrkz (Zechar-YAHU) – em português ‘Zacarias’ – em
grego Zacariav (Zachar-eeah[s]) ou Zacariou (Zachar-eeou)
hye (Yesha-YAH) ou whye (Yesha-YAHU) – em português ‘Isaías’- em grego Hsaia
(Yesa-eeah[s]), Iessiou (Yess-eeou) ou Hsaiou (Yesa-eeou)
Para além dos exemplos aqui apresentados existem muitíssimos mais nas
Escrituras, em que o mesmo nome (por vezes até da mesma pessoa) aparece
umas vezes com a terminação ‘YAH’ e outras com a terminação ‘YAHU’. Isto levanos a uma possibilidade curiosa: hy (‘YAH’) pronunciava-se da mesma forma que
why (‘IAU’ ou ‘YAHU’). Apesar do w ser por vezes omitido ele seria lido na mesma
quando a palavra era pronunciada. Isto, porém, não passa de especulação.
A forma ‘YAHU’ popularizou-se também nos tempos mais antigos porque muitos a
encaravam como sendo apenas metade do Nome e como tal seria permitida a sua
pronunciação: “O Rabi Jeremias afirma: ‘O mundo não é suficientemente digno para
louvar a Eloah com a totalidade do Seu Nome mas apenas com metade do Seu Nome’”
(Mid. Teh., Salmo 91).
Testemunhos Antigos
Os Textos Murashu42 que datam aproximadamente do período da dispersão
babilónica (datados entre 464 – 404 a.C.) são muito mais antigos que o texto
masorético que se formou entre os séculos VI e X da nossa era, sendo muito mais
válidos quer em termos históricos quer linguísticos. Os Textos Murashu
42
Textos gravados em tábuas de barro e escritos em escrita cuneiforme Acadiana encontrados em Nipur
(presentemente Al-Qādisiyyah no Iraque).
apresentam todos os nomes começados por why como YAHU e nunca YEHO.
Mesmo os nomes começados por YO, como Yosef (José) ou Yoel (Joel) iniciam-se
por YAHU – Yahusef e Yahuel.
Tabuletas encontradas perto do portão de Ishtar, na Babilónia, escritas em escrita
cuneiforme (com vogais) confirmam o relato de 2Reis 25:27-29, segundo o qual o
rei Joaquim (Yehoyachin segundo o texto masorético), aprisionado em Babilónia,
comeu à mesa de Nabucodenozor. Estas tabuletas referem-se a Yehoyachin como
“Yaukin, rei da terra de Judá”, mais uma vez confirmando que os nomes
começados por why se deveriam ler YAHU.
Uma inscrição do monarca Assírio Tiglat-Pileser III menciona o rei de Judá Acaz
(Yehoahaz no texto masorético), como um dos reis que lhe pagava tributo, mas
nessa incrição o nome de Acaz aparece como Yauhazi o que mais uma vez deixa
antever uma pronunciação inicial de YAHU e não de YEHO.
A Peshitta que é o nome atribuido ao texto bíblico em aramaico usado pelos
assírios e caldeus ou seja, por povos que não estavam sujeitos às tradições
judaicas e que foram cristianizados logo no Séc.I d.C (muito antes dos masoretes
do Séc. IX, portanto) apresenta os nomes próprios começados com o Nome Divino,
iniciados com YAHO e não com YEHO como no texto masorético. Assim, na
Peshita, obtém-se nomes como YAHOSHAPHAT e nao YEHOSHAPHAT.
Alguns hieroglifos egípcios (que tinham vogais) apresentam também a forma
abreviada do Nome do Deus de Israel. Na obra “An Egyptian Hieroglyphic
Dictionary” surgem duas transliterações do Nome pronunciadas numa ocasião
como ‘YA’ e na outra como ‘YAA’, o que confirma também a pronúncia da primeira
sílaba do Nome.
Em 1898 A.H.Sayce descobriu três tábuas do tempo de Hamurabi em escrita
cuneiforme (que tinha vogais) e que liam “Jahweh é Deus”. Se considerarmos que o
‘J’ provém do estilo de escrita ainda prevalecente no Séc. XIX, facilmente
constatamos que o que as tábuas dizem é “Yahweh é Deus”.
O historiador grego Dióduro (Sec. I a.C.) diz:
“Entre os judeus, Moisés referiu as suas leis à divindade que é invocada como Iaw”.
‘Iaw’ pronuncia-se ‘IAU’ ou ‘YAHU’. Note-se que ‘Ia’ corresponde à terminação em
grego das palavras que em hebraico terminam com hy (‘YAH’). A letra ‘w’ lê-se ‘oo’
ou ‘u’. Note-se ainda que as três letras gregas empregues são todas vogais
aproximando-se, portanto, das vogais hebraicas why (Y-ah-u).
Antigos autores cristãos como Orígenes, Ireneu, Teodoro e Epifânio também nos
transmitem o mesmo nome ‘Iaw’. Jerónimo dá-nos a forma latina ‘IAHO’.
Clemente de Alexandria dá-nos Iaoue (IAUE) e Iaouai (IAUAI –leia-se ‘ei’ não ‘ái’)
ambas muito aproximadas.
Mais uma vez, todas estas transliterações gregas usam apenas vogais,
demonstrando que estamos a lidar com vogais no hebraico.
Orígenes também nos dá o Nome como ‘Iah’ (Yah-ey) forma esta que aparece
também noutras fontes. Esta forma surge por causa da noção já referida que hy
(YAH) e why (YAHU) são equivalentes. Assim hhy = hwhy pois em hebraico hy
(YAH) lia-se why (YAHU). Se isto de facto é verdade em hebraico, perdeu-se, no
entanto, na transliteração para grego feita por Orígenes (entre outros) que reteve
assim apenas a primeira e última sílabas do Nome.
Transliteração Origem
IAO
LXX de Qumran
IAOUE
Clemente
AwOUhEI
Papiros gregos
IAW
Teodoro
IAW
Orígenes
IAW
Epifânio
Nota: em grego ‘OU’ lê-se ‘U’
Data
Séc.I d.C.
150-212 d.C.
?
?
250 d.C.
380 d.C.
Todos concordam que a primeira sílaba é ‘IA’ ou ‘YA’. Os primeiros três concordam
que a segunda sílaba se lê ‘U’ ou ‘W’ e Clemente e os papíros gregos concordam
com uma terminação de ‘E’ ou ‘EI’ para a última sílaba. Isto é consistente com a
pronunciação hebraica ‘YAHWEH’, ‘IAÚE’ ou ‘IAÚEI’.
Um outro aspecto curioso está relacionado com a transliteração para grego da
forma como os Samaritanos pronunciavam o Nome (tenhamos presente que os
Samaritanos não estavam sujeitos a quaisquer proibições acerca do uso do Nome).
Teodoro e Epifânio afirmam ambos que a forma como os Samaritanos do seu
tempo (Séc. V d.C) pronunciavam o Nome era Iabai e Iabe. Hoje estas palavras
transliterar-se-iam para português como ‘Iabai’ e ‘Iabe’, respectivamente. No
entanto, a letra grega b assumia também o valor de ‘u’ como se demonstra pela
palavra hebraica hwe (auah)43 que foi transliterada para grego na LXX como aba, o
que revela que o b grego tem também o valor ‘u’. Prova adicional temos também
numa tradução para latim do texto grego de Epifânio na qual os termos gregos
Iabai e Iabe aparecem em latim como IAUE.
Que os Samaritanos conheciam e usavam a pronunciação correcta do Nome, está
evidenciado nas seguintes passagens do Talmude de Jerusalém:
“As seguintes pessoas não terão porção no mundo vindouro: Abba Saul diz: ‘o mesmo se
aplica àquele que pronuncia o Nome de acordo com as letras.’ O Rabi Manna disse: ‘Como
os Samaritanos fazem quando fazem um voto.’”
Numa outra tradução desta mesma passagem o texto surge como: “Abba Saul disse:
‘Aquele que pronuncia o Nome Divino tal como se escreve’”.
43
Ver 2Reis 18:34
Isto sugere que os Rabinos condenavam os Samaritanos por eles pronunciarem o
Nome “tal como se escreve” ou “de acordo com as letras” hwhy. Se os Samaritanos não
pronunciassem o Nome de forma correcta, esta condenação dos Rabis não teria
razão de ser.
A Pronunciação IEOUA / IEOVA
Apesar de tudo o que vimos, a determinação da forma de pronunciar o Nome hwhy
está longe de ser pacífica. É verdade que a maioria dos académicos e teólogos
defende a pronunciação ‘IAUE’ que atrás vimos mas ainda assim subsistem
opiniões discordantes.
Acerca deste assunto existem presentemente duas posições principais:
•
•
IAUE ou IAUEI; e,
IEOUA ou IEOVA
Esta última surge recentemente com a publicação de um livro dedicado ao assunto
do autor francês Gerard Gertoux e tem conseguido conquistar alguns adeptos.
Pessoas como Nehemia Gordon (com quem me correspondi pessoalmente e ao
qual agradeço o apoio prestado), também defendem esta última posição.
Nehemiah Gordon é licenciado em Estudos Bíblicos e Arqueologia pela
Universidade de Jerusalém, é fluente em hebraico, especialista em manuscritos
antigos e foi um dos tradutores do ‘Dead Sea Scrolls Publication Project’, a
tradução oficial dos manuscritos do Mar Morto. Foi criado como judeu ortodoxo
tendo portanto um profundo conhecimento do judaísmo rabínico e suas doutrinas
mas é, hoje em dia, um Karaíta44.
Nesta secção do trabalho vamos apresentar a argumentação de Gerard Gertoux e
Nehemia Gordon em defesa da pronunciação YEHOWAH ou YEHOVA. Embora
existam outras propostas de pronunciação, elas são, regra geral insustentáveis. Os
argumentos apresentados por estes dois académicos são, no entanto, do melhor
que já encontrei para defender uma pronunciação alternativa a YAHWEH.
Aqui convém fazer um parêntesis para um pequeno testemunho pessoal. Até este
ponto no estudo eu estava profundamente convicto da validade da pronunciação
YAHWEH. No entanto, ao ler alguns dos argumentos de Gerard Gertoux bem como
estudos de Nehemia Gordon senti necessidade de pôr este trabalho na prateleira
por algum tempo. O Rabi messiânico David Pollina que sustenta a pronunciação
YAHWEH disse-me num mail que me enviou:
“Nehemia... é um académico por quem tenho imenso respeito. A sua teoria sobre a
pronunciação ‘YehoWAH/VAH’ é sólida e não é que a ache errada, pode muito bem estar
correcta... não temos a certeza.
“O presente consenso académico, no entanto, é esmagadoramente a favor de ‘Yahweh’ com
base nos padrões conhecidos de intencionalmente esconder a pronúncia.
“A minha opinião presentemente é que AMBAS são igualmente válidas.
“É bem possível que AMBAS estejam correctas em vários usos dialéticos antigos.”
44
Rejeita a Torah oral rabínica e seus preceitos e reje-se apenas pela Tora escrita
Apesar de ser possível e mesmo provável que diferentes dialectos antigos do
hebraico pronunciassem o Nome de formas ligeiramente distintas, originalmente o
Nome conforme foi dado por Deus era só um. Isto, julgo eu, é incontestável.
Acerca da pronunciação IAUE o ‘Anchor Bible Dictionary’ diz:
“A pronunciação de hwhy como Yahweh é uma proposta académica.”
A defesa da pronunciação IEOUA / IEOVA assenta nalguns pressupostos:
1. O facto geralmente aceite de os Masoretes terem inserido vogais de outras
palavras (Adonai, Eloah,...) para que fossem lidas estas ao invés do Nome
ou com o propósito de ocultar a sua verdadeira pronúncia, no meio do
Tetragrama é falsa;
2. Os Nomes YAH e YAHU não representam as primeiras sílabas de hwhy;
3. Os pontos vogais, apesar de poderem ter sido introduzidos mais tarde,
representam muito fielmente a pronúncia hebraica antiga.
Analisemos então cada um destes pressupostos conforme apresentados pelos
defensores desta pronunciação.
Pressuposto 1: O Nome não tem Vogais de Outras Palavras
É geralmente aceite que as vogais de hwhy foram sistematicamente substituídas
pelas vogais da palavra Adonai ou outras. Por essa razão, muitos académicos
actuais ignoram as vogais de hwhy que estão efectivamente escritas no texto das
Escrituras hebraicas e tentam reconstruir as vogais ‘originais’ com base numa série
de argumentos externos e especulações.
Para compreender a questão em torno da eventual substituição das vogais temos
de compreender uma antiga práctica escribal chamada Qere-Ketiv (o que se lê –
Qere – e o que se escreve – Ketiv). O Qere-Ketiv ocorre quando uma dada palavra
é escrita de uma dada forma (Ketiv) mas uma nota na margem do texto bíblico
indica que deve ser lida de outra forma (Qere). Na maior parte dos casos a nota
não altera o significado da palavra que está no texto. Então, se não há mudança de
significado, porquê alterar a forma como é lida? Muitos dos Qere-Ketiv surgiram
quando os escribas, ao compararem vários manuscritos antigos, encontraram
ligeiras diferenças entre eles. Deixaram então uma das formas no corpo do texto
com os pontos vogais da palavra que devia ser lida e que estava na margem e com
um círculo em volta que remetia para a nota marginal. Por sua vez registaram
nessa nota na margem a forma como a palavra devia ser lida: “ler ‘xxxx’”.
Afirmar que as vogais de Adonai (ou de outras palavras) foram inseridas no meio
das consoantes de hwhy apresenta dois problemas:
1. Em todas as instâncias de um Qere-Ketiv a palavra que está no corpo do
texto aparece marcada com um círculo que remete o leitor para a nota
marginal. Se tal fosse o caso no Nome de Deus, seria de esperar que o
Nome hwhy aparecesse com um círculo em volta a remeter para uma nota
marginal que dissesse “Ler Adonai”. Tal nunca acontece! Nas 6828 vezes
em que o Nome hwhy aparece nas Escrituras hebraicas ele nunca aparece
identificado como sendo um Qere-Ketiv por possuir um círculo e/ou uma
nota marginal. Nem uma única vez!
Em resposta a isto alega-se que se trata de um Qere Perpetuum, ou seja,
uma palavra que, sempre que aparece deve ser lida da forma que aparece
na margem. É verdade que nalguns casos a nota marginal é por vezes
omitida mas nunca, em instância alguma, existe um Qere Perpetuum que
não tenha uma única nota marginal. Seria caso único um Qere Perpetuum
não ter uma única nota marginal ainda para mais numa palavra que aparece
6828 vezes no texto.
2. O segundo problema que surge ao afirmar que as vogais de Adonai se
encontram inseridas no meio do Tetragrama é que, pura e simplesmente,
não é verdade (já vimos isto atrás). O Tetragrama com vogais, tal como
aparece escrito nas Escrituras hebraicas é YeHWaH, ou seja com as vogais
sheva - kamats (o que corresponde nos nossos caracteres a E - A).
As vogais de Adonai são hataf patach – cholam – kamats (A-O-A). Para
tentar resolver esta não conformidade muitos tentam lá encaixar outras
palavras como Eloah (conforme também já vimos atrás) mas sem a mínima
evidência para tal. É curioso que poucos admitem que as vogais que estão
no texto podem ser as correctas.
A título de conclusão, o facto de os judeus lerem Adonai sempre que aparece o
Nome de Deus no texto, não significa que as vogais inseridas nesse Nome fossem
as da palavra Adonai. Nada aponta nesse sentido.
Voltando ao que dissemos acima, nos manuscritos completos mais antigos45 o
Nome hwhy aparece escrito YeHWaH (ou YeHVaH dependendo se lêmos Vav ou
Waw). Impressões modernas desses manuscritos como a Biblia Hebraica
Stutgartensia ou a Hebrew University Bible Edition reproduzem o Nome também
como YeHVaH.
Pressuposto 2: Os Nomes YAH e YAHU não Representam as
Primeiras Sílabas de hwhy
A visão tradicional já exposta em capítulos anteriores é que, de facto, os Nomes
YAH e YAHU representam respectivamente a primeira e as duas primeiras sílabas
do Nome de Deus. No entanto, alguns estudos recentes sugerem outra explicação
para estes nomes.
Nehemia Gordon diz o seguinte no seu artigo “The Pronunciation of the Name”:
45
Códice Aleppo e Códice de Leningrado
“A forma Yah segue uma práctica antiga de tomar a primeira e a última letra de uma palavra
para expressar uma abreviatura. Assim, a primeira e última letras de YHWH dão origem à
abreviatura Yah.”
Gerard Gertoux apresenta uma explicação idêntica para YAHU nas FAQ46 do seu
site:
“O outro nome Yahû (que não é encontrado na Bíblia)47 não é uma abreviatura do
Tetragrama mas um hipocoristico [i.e. um diminutivo] formado a partir do nome Yah...
Yahû significa ‘O próprio Yah’ (Yah hû).”
Os Nomes Teofóricos
Como já atrás referimos quando falámos inicialmente deste tema, os nomes
teofóricos hebraicos que contêm o Nome de Deus no início do nome começam
sempre por YEHO, ao passo que sempre que uma sua abreviatura surge no final
do nome, esse nome termina em YAHU. Quando o Tetragrama é apenso a um
nome próprio ele é colocado SEMPRE no início desse nome e NUNCA no final.
É proposto pelos defensores da pronúncia IAUE, conforme vimos atrás que os
escribas Masoretes substituiram as vogais dos nomes teofóricos sempre que estes
continham no seu início o Nome do Todo-Poderoso mas que não o fizeram
(porventura esqueceram-se?) sempre que o Nome Divino surgia no final do nome.
Parece pouco provável que se o seu objectivo era ocultar a pronúncia do Nome de
Deus, que apenas o fizessem quando o Nome surgia no início.
Socorrendo-se ainda da mesma técnica de abreviação mencionada por Nehemia
Gordon que reside em tomar a primeira e última letras de uma palavra para formar
uma abreviatura, Gerard Gertoux diz ainda:
“...Yô- no princípio de alguns nomes é uma abreviatura de Y(eh)ô- que é ele próprio uma
abreviatura do nome completo Yehow-(ah).... na Bíblia não há nenhum nome começado por
Yah- ou Yahû- e nenhum terminado por -yô ou -yehô.”
Dito isto ele apresenta-nos o seguinte resumo da constituição dos nomes
teofóricos:
Natan
Natan -Yah
Natan -Yahû
Yehô- Natan
Yô- Natan
Ele deu
Ele deu -Yah
Ele deu -O próprio Yah
Yehow[ah] -deu
Y(eh)ow[ah] -deu
2Sam.7:2
1Crón.25.2
Jer. 36:14
1Sam.14:6
1Sam. 14:1
Gerard Gertoux explica muito bem por isso limito-me a citá-lo:
46
Frequently Asked Questions
Ao contrário de YAH, YAHU nunca surge como nome mas sempre como terminação de outros nomes
próprios.
47
“Adicionalmente à parte inicial Yehô- que foi abreviada para Yô-, a parte final -yah também
tinha um diminutivo –yahu... que significa em hebreu ‘O próprio Yah.’ Este termo apareceu
por dois motivos. Primeiro, o termo hebraico ‘hu’ que significa ‘Ele próprio’ (implicava
Deus) começou a desempenhar um grande papel no culto. Por exemplo, para se demarcar
dos outros deuses e marcar a sua durabilidade, Deus frequentemente se expressava usando a
expressão hebraica ‘ani hu’ que significa ‘o próprio’ ou, mais precisamente, ‘Eu, o próprio’
ou ‘Sou Eu.’ (Dt. 32:39; Is. 52:6; etc.) Embora seres humanos possam aplicar esta expressão
a si próprios (1Crón.21:17), geralmente quando se usava ‘Ele’ ou ‘Ele próprio’ era em
relação a Deus (2Reis 2:14).
“Os hebreus não tardaram em integrar este nome divino nos seus próprios nomes, como nos
nomes Abihu’ (o meu pai [é] Ele), Elihu’ (o meu Deus [é] Ele), ou Yehu’ (Ye[huah é] Ele)...
Como os nomes Abiyah (o meu pai [é] Yah) e Eliyah (o meu Deus [é] Yah) existiam já,
deu-se uma mistura de Yah e Hu’ obtendo-se nomes como Abiyahu’ (o meu pai [é] o
próprio Yah) ou Eliyahu’ (o meu Deus [é] o próprio Yah).
“Esta associação provocou o aparecimento de um novo nome divino que não se encontra na
Bíblia senão no final de alguns nomes teofóricos: o nome Yah hu’, abreviado para Yahu.
“O grande nome YHWH é vocalizado Yehowah em hebraico e Iôa no início de numerosos
nomes gregos. Da mesma forma que existem nomes teofóricos elaborados a partir do grande
nome, ou seja, nomes começados por Yehô- ou pela sua forma abreviada Y(eh)ô- , houve
também nomes teofóricos elaborados a partir de Yah... Os hebreus tiveram o cuidado de
fazer com que os seus nomes começassem por Yehô ou Yô-, ou que terminassem com –yah,
mas nunca o contrário, sem excepção. Por isso, na Bíblia é impossível encontrar entre
centenas de nomes teofóricos, um único que comece por Yah-. Portanto, aqueles que
vocalizam YHWH como Yahweh são obrigados a admitir que o Tetragrama, o nome
teofórico por excelência, não pertence à sua família de nomes teofóricos, o que é o cúmulo
da ironia.”
Isto é, aliás, admitido pelos próprios rabinos. Um dos grandes nomes do judaísmo,
o grande comentador Rashi (1040-1105 d.C.) disse o seguinte:
“O Santo associou o seu nome YHWH ao deles no início e YH no fim dos seus nomes...”
Ao contrário do que se passava e passa com o Nome completo de Deus, nunca
houve entre os judeus quaisquer questões acerca da vocalização de YAH. Vemos
isso em palavras como ‘Alelu-IA’ e também no facto de nos escritos de Qumran o
nome IA aparecer escrito em letra corrente (caracteres quadrados) ao passo que o
Nome completo aparece em escrita paleo-hebraica que só muito poucos sabiam
ler.
Um nome teofórico que vale a pena analisar é o do filho de Jacob, Judá. O seu
nome em hebraico escreve-se hdwhy – YHWDH – sendo que diverge apenas numa
letra (sublinhada acima) do Tetragrama. Se lido literalmente este nome ler-se-ia IH-U-D-A mas, uma vez que o Hey era quase inaudível era adicionado um ‘e’ mudo
pelo que o nome seria pronunciado I-eH-U-D-A o que equivale exactamente ao
nome masorético Yehudah. Aplicando o mesmo raciocínio ao Tetragrama
obteríamos pela análise literal das letras a pronuncia I-eH-U-A que é um
equivalente exacto da pontuação masorética YeHoWaH. Esta coincidência é
providêncial sobretudo quando consideramos que Deus é zeloso pelo Seu Nome.
A Influência Aramaica
A influência da lingua aramaica no hebraico foi substancial e prolongada. Já o
inverso é menos verdade.
A título de exemplo citemos o exemplo da frase “irmão [de] ele” ou “seu irmão” que
surge escrita nas Sagradas Escrituras por 4 vezes na sua forma hebraica HIHU e
113 vezes na sua forma aramaica HIW. Com base em estudos feitos a esta
expressão, Gerard Gertoux apresenta-nos a seguinte tabela que procura
reconstruir a pronúncia das três formas do Nome por volta do início da nossa era:
Grego
Iau
Iaô
Iaue
Iabe
-400
-100
+200
+300
Heb
YH
Ia
Ia
Ia
Ia
Aram
Yah
Yah
Yah
Yah
Heb
YW
Iu
Iô
Iô
Iô
Aram
Yaw
Yaw
Yav
Yab
Heb
YHWH
Ihua
Ihôa
Ihôa
Ihôa
Aram
Yahwah
Yahweh
Yahveh
Yahbeh
Ao analisar esta tabela facilmente se constata que a vocalização grega traduz a
vocalização aramaica e não a hebraica. Isto é, aliás, o que se verifica ainda hoje na
lingua árabe que está muito relacionada com o aramaico. Em árabe a palavra
YHWD não se vocaliza Ye-HUD (IHUD) como fazem os judeus mas sim Ya-HUD.
Como já atrás foi referido, a vocalização Ye- é própria do hebraico não se
encontrando sequer em outras linguas semítas. A título de exemplo, a palavra
hebraica Yehudi lê-se Yahudiyun em árabe, Yaudayyu em acadiano antigo e
Yaudayya em acadiano recente.
Pressuposto 3: Os Pontos Vogais Traduzem a Pronúncia Antiga
Na correspondência que troquei com Nehemia Gordon questionei-o precisamente
acerca da fidelidade do sistema de pontuação de vogais uma vez que este sistema
não existia nos tempos bíblicos tendo aparecido apenas no Séc. VI da nossa era.
Obtive a seguinte resposta:
“O sistema de pontuação de vogais é aceite pela maior parte dos linguistas do hebraico
como preservando fielmente a pronunciação desde períodos muito remotos.”
Análise dos Restantes Argumentos Para YAHWEH
Antes de analisar as vogais de YeHVaH, analisemos primeiro os principais
argumentos usados em defesa da pronúncia IAUE.
“Os Samaritanos Chamam-lhe IABE”
Conforme referimos acima um dos argumentos usados para sustentar a pronúncia
de IAUE é precisamente o facto de os Samaritanos, ao tempo de Teodóro (Séc. V
d.C.) pronunciarem o Nome de Deus como Iabe (IABE). Isto baseia-se no seguinte
texto de Teodóro:
“Os samaritanos chamam-Lhe IABE enquanto que os judeus Lhe chamam AIA.”48
Não deixa de ser curioso que um dos principais argumentos para a pronunciação
IAUE provenha dos samaritanos, um povo que, de acordo com o próprio Cristo,
nem sequer sabia quem ou o que adoravam.
“Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos...” (Jo 4:22)
Apesar de ser verdade que o B em IABE pode ter o valor U, tal não é
necessariamente a única explicação para o nome IABE por parte dos samaritanos.
A razão pela qual se dá peso a este argumento tem a ver com o facto de, ao tempo
de Teodóro (Séc.V d.C), os judeus estarem sujeitos à proibição dos rabinos
imposta pelo Rabino Abba Saul em 150 d.C. ao passo que os samaritanos não
estariam sujeitos a tal proibição. Mas será que é exactamente assim?
Uma explicação muito possível para o facto de os samaritanos, ao Séc. V d.C.
chamarem a Deus IABE pode estar relacionada com outro nome que esses
mesmos samaritanos atribuiam a Deus – IAFE (que significa ‘O Belo’). De acordo
com Nehemia Gordon, a letra hebraica ‘Pe’ é muitas vezes substituida por B. Se
adicionarmos a isto o hebraico corrompido dos samaritanos facilmente vemos que
existe a possibilidadede que o nome que terão dito a Teodóro no Séc. V d.C. fosse
IAFE (‘O Belo’) pronunciado como IABE.
Quanto ao facto de os samaritanos não estarem sujeitos à proibição dos rabis de
pronunciarem o Nome Divino tal também não significa que por sua própria iniciativa
não o fizessem talvez mesmo antes dos próprios judeus. É sabido que, ao invés de
pronunciar o Nome YHWH, os samaritanos diziam ‘shema’. Regra geral entende-se
esta palavra como uma forma corrompida do hebraico ‘hashem’ (‘o nome’) mas não
deixa de ser interessante notar a semelhança com o nome da divindade pagã
Ashema (Asima na JFA) que, de acordo com 2Reis 17:30 era um dos deuses dos
samaritanos.
Já agora uma explicação quanto à pronúncia do Nome de Deus feita pelos judeus
conforme apresentada por Teodóro – AIA.
A forma A-IA indica que os judeus tratavam Deus pela forma abreviada do Seu
Nome (o que não era proibido como já vimos). O ‘A’ inicial, ou melhor dizendo, o
aleph inicial é uma característica do hebraico tardio e é chamado aleph protésico
pois, como o próprio nome indica, funciona como uma prótese acrescentada ao
início de várias palavras para facilitar a sua pronúncia. Por exemplo, no hebraico
pós-bíblico, a palavra bíblica t’mol passa a etmol. Isto já acontecia ocasionalmente
nos tempos bíblicos mas posteriormente torna-se a norma. Encontramos exemplos
48
“Quaestiones in Exodum cap. XV”
desta práctica nos tempos bíblicos com as palavras rba (quatro) e tsba (dedo) que
se pronunciavam arba e etsba. ‘AIA’ é portanto o Nome IA com o prefixo ‘A’
designado como aleph protésico.
Apesar de tudo, a propósito dos samaritanos resta ainda analisar a já referida
passagem Talmúdica segundo a qual os samaritanos pronunciavam o Nome de
Deus:
“As seguintes pessoas não terão porção no mundo vindouro: Abba Saul diz: ‘o mesmo se
aplica àquele que pronuncia o Nome de acordo com as letras.’ O Rabi Manna disse: ‘Como
os Samaritanos fazem quando fazem um voto.’”
Esta passagem é retirada do Talmude de Jerusalém que é mais tardio e tem
reconhecidamente menos autoridade que o Talmude Babilónico. Quando, aliás se
ouve uma referencia ao Talmude sem precisar qual dos dois é, entende-se que é
este último. Esta passagem no Talmude de Jerusalém é um comentário à
passagem que se encontra no Talmude Babilónico (Mishna do Sinédrio 10:1) e
neste a passagem lê apenas:
“As seguintes pessoas não terão porção no mundo vindouro: Abba Saul diz: ‘o mesmo se
aplica àquele que pronuncia o Nome de acordo com as letras.’”
Ao levantar esta questão junto de Nehemia Gordon obtive a seguinte resposta:
“O Talmude de Jerusalém só foi escrito por volta de 350 d.C., 150 anos depois da Mishna e
nada garante que tenha interpretado a Mishna correctamente. Tudo o que isto prova é que os
samaritanos usavam o nome para fazer juramentos no tempo do Rabi Mana. Nada nos diz
acerca da forma como os samaritanos pronunciavam o nome ao tempo do rabi Mana. A
propósito as palavras imediatamente seguintes no Talmude de Jerusalém reflectem a opinião
do Rabi Jacob bar Acha que diz: ‘[O nome] é escrito com yod hey mas lido aleph dalet [i.e.
Adonai].’”
Conjugações Verbais
Um argumento utilizado por alguns49 defensores da pronúncia IAUE e que não
apresentámos atrás é dizer que o Nome IAUE é a conjugação Piel ou Hifil do verbo
‘ser’ (HYH) do qual a palavra ‘Ehyeh’ e consequentemente YHWH derivam. Para
compreender isto é necessário uma pequena explicação. O hebraico tem sete
padrões verbais chamados ‘conjugações’. Cada conjugação verbal altera
ligeiramente a raiz do verbo e dá-lhe um significado ligeiramente diferente. A título
de exemplo a raiz ShBR na conjugação Qal significa ‘partir’ mas na conjugação
Piel significa ‘esmagar’ e assim por diante. Embora algumas raizes verbais possam
ser conjugadas em todas as sete conjugações, a maior parte das raizes só são
conjugáveis em 3 ou 4 sendo raro encontrar uma que o seja em todas as sete. A
raiz ShBR, atrás referida pode ser conjugada livremente nas primeiras seis
49
Nem todos os defensores da pronúncia Yahweh usam este argumento ou sequer concordam com ele, razão
pela qual não foi referido antes neste trabalho.
conjugações mas já não o pode ser na sétima, por exemplo. Ora acontece que o
verbo HYH do qual o Nome YHWH deriva só é conjugável nas primeiras duas
conjugações (Qal e Nifal, respectivamente), logo,dizer que YHWH é a conjugação
Piel ou Hifil do verbo HYH para justificar uma pronunciação de Yahweh, é
impossível pois este verbo não existe nessas conjugações. Uma nota de tradução
na Net Bible relativa a Êxodo 3:14 corrobora este argumento:
“Outros argumentam por uma... tradução Hifil de “Eu causarei que aconteça” mas em lado
algum da Bíblia este verbo aparece em Hifil ou Piel.”
Uma segunda razão pela qual a reconstrução das vogais de YHWH é impossível
tem a ver com os verbos existentes na maior parte dos nomes hebreus. Uma das
características dos nomes é que os verbos que os compõem quando incorporados
em nomes não seguem os padrões verbais standard. O nome Neemias, por
exemplo, em hebraico é Nechemyah (Yah comforta) e é composto pelo verbo
‘nechem’ (ele comforta) e pelo Nome Yah. Simplesmente o verbo não está a seguir
os padrões verbais normais. Se estivesse seria ‘nichem’. É uma regra gramatical
hebraica que quando um verbo é incorporado num nome as suas vogais são
livremente alteradas. Outro exemplo é o nome Josué ou Jesus, em hebraico
Yehoshua (YHWH salva). O verbo neste nome é ‘yoshia’ (ele salva) associado ao
Nome Yeho. O verbo ‘yoshia’ é modificado quando incorporado no nome
Yehoshua. O yod de ‘yoshia’ cai e as vogais são modificadas dando origem à forma
-shua que só existe em nomes próprios. O que isto nos permite concluir é que
forçar uma dada forma verbal num nome vai contra as regras gramaticais do
hebraico.
O Nome “Conforme Escrito” e as Quatro Vogais de Josefo
Na Mishna é-nos dito que o Nome se pronunciava como se escrevia:
“As seguintes pessoas não terão porção no mundo vindouro: Abba Saul diz: ‘o mesmo se
aplica àquele que pronuncia o Nome de acordo com as letras [ou ‘tal como se escreve’].’”50
Alguns proponentes da pronúncia IAUE aliam esta afirmação ao facto de todas as
letras do Tetragrama poderem funcionar como vogais no alfabeto hebraico e ao
facto de Flávio Josefo nos ter dito que o Nome era composto por quatro vogais
para defender a sua proposta pois, dessa forma, é possivel ler o Nome “tal como se
escreve” e com quatro vogais.
Quando questionei Nehemia Gordon acerca desta questão, ele referenciou outra
regra gramatical que deita por terra esta teoria. Após confirmar a veracidade de
que as letras que compõem o Tetragrama podem funcionar como vogais (semivogais), ele diz o seguinte:
50
Mishna do Sinédrio 10:1
“De acordo com a gramática hebraica é impossível ter 4 vogais seguidas sem consoantes.
Isto simplesmente não existe na lingua hebraica. O que está a propor só funciona em linguas
Indo-Europeias como o grego ou o inglês [ou português].”
Já, aliás, haviamos visto no capítulo “O Tetragrama é Composto por Consoantes” que as
semi-vogais do hebraico só assumiam o valor de vogais quando emparelhadas
com uma consoante.
Como interpretar então a afirmação de Josefo de que o Nome era composto por
quatro vogais? No mesmo mail, Nehemia Gordon disse ainda:
“... leia o que Josefo disse em contexto. Ele está a escrever para uma audiência grega e
explica que o Nome de Deus está escrito na mitra do sumo-sacerdote como quatro vogais.
Josefo está a falar sobre como o Nome se escreve, não sobre como se pronuncia. Agora
considere que o Yod, o Hey e o Vav não existem em grego; as suas equivalentes mais
aproximadas são as VOGAIS Iota, Eta (ou Epsilon) e Upsilon. Isto é claramente o que
Josefo queria dizer quando disse à sua audiência grega que Yod-Hey-Vav-Hey são quatro
vogais.”
Conforme já dissemos atrás (no capítulo “O Tetragrama é Composto por Consoantes”)
para os gregos para quem Josefo escrevia, o Tetragrama era, na realidade,
composto por quatro vogais.
O Autor James Trimm, apesar de defender a pronúncia IAUE, também sustenta
esta interpretação para as palavras de Josefo.
Os “Testemunhos Antigos”
No capítulo “Testemunhos Antigos” referimos que as tabuletas Murashu continham
todos os nomes começados por YAHU e nunca YEHO ou mesmo YO. Quando
questionei Nehemia Gordon acerca da confiança que poderíamos depositar nestes
textos, obtive a seguinte resposta:
“As tabuletas Murashu estão escritas em escrita cuneiforme Acadiana, não em hebraico. São
irrelevantes para determinar a pronunciação do hebraico. Quando transpomos para outra
lingua muitas coisas se perdem, a primeira das quais é a pronúncia. Basta ouvir como
qualquer americano pronuncia o espanhol ou qualquer gentio lê o hebraico. Isto é
particularmente verdade com o Acadiano que tinha um modo muito impreciso de transliterar
palavras estrangeiras... O nosso conhecimento da pronúncia Acadiana é também um tiro no
escuro, como qualquer Assiriologista lhe dirá. Não temos gravações da antiga fala Acadiana
e não foi preservada como uma tradição linguistica viva até aos tempos modernos.”
Deduzindo a Pronúncia IEOUA / IEOVA
Voltando ao que dissemos acima, nos manuscritos completos mais antigos51 o
Nome hwhy aparece escrito YeHWaH (ou YeHVaH dependendo se lêmos Vav ou
Waw). A primeira coisa que salta à vista é que a vogal que se segue ao primeiro
Hey (h) não está lá.
YeH?WaH
Uma regra fundamental da lingua hebraica é que uma consoante no meio de uma
palavra deve ser seguida ou por uma vogal ou por um ‘sheva’ mudo. Existem por
vezes letras mudas no meio de palavras que não têm vogais nem ‘shevas’ (como é
o caso do aleph em Bereshit) mas tal nunca acontece com a letra Hey (h) no meio
de uma palavra. É vulgar encontrarmos Hey’s mudos no final de palavras mas tal
nunca acontece no meio de uma palavra. Isto significa que a seguir ao primeiro
Hey, a palavra YeHWaH tem de levar uma vogal.
A razão pela qual a vogal está em falta tem a ver com outra práctica escribal
antiga. Quando os escribas bíblicos queriam omitir uma palavra simplesmente
removiam-lhe as vogais. Dessa forma, quando ao ler o texto chegássemos a uma
palavra sem vogais já sabiamos que não devia ser lida. É portanto provável que os
escribas medievais tenham omitido a vogal a seguir ao primeiro Hey de YeHWaH
para impedir os leitores de pronunciar o Nome correctamente.
Outro factor que vale a pena salientar é que no Códice de Aleppo, o manuscrito
masorético mais preciso do texto bíblico, ao Nome YHWH são atribuidas as vogais
YeHWaH sempre que o Nome aparece isolado mas YeHoWiH sempre que o Nome
aparece em conjunto com a palavra Adonai. Tudo indica que o ‘i’ (chiriq) em
YeHoWiH é uma mnemónica para lembrar o leitor de ler ‘Elohim’ (Deus) uma vez
que se lesse ‘Adonai’ resultaria em ‘Adonai Adonai’. Assim resulta em ‘Adonai
Elohim’ (Senhor Deus). No entanto isto não é um Qere-Ketiv. Se fosse, as vogais
de YeHoWiH seriam alteradas para ‘chataf segol – cholam – chiriq’. Ao invés disso
as vogais são ‘sheva – cholam – chiriq’. Isto parece ser uma práctica escribal única
que consiste em alterar uma única vogal para lembrar o leitor de como deve ler
YHWH.
O que é significativo no nome YeHoWiH é que não há nada que impeça que seja
lido acidentalmente por um leitor pois tem um conjunto completo de vogais. Por
alguma razão, então, os Masoretes estavam preocupados que os leitores
pronunciassem a palavra YeH?WaH mas não tiveram a mesma preocupação para
a palavra YeHoWiH. A única razão pela qual os Masoretes se abstiveram de
subtrair a vogal a seguir ao primeiro Hey na palavra YeHoWiH é porque sabiam não
ser esta a correcta pronúncia do Nome de Deus. Assim sendo, não havia problema
em pronunciá-la (acidentalmente ou não). Por outro lado, quando escreveram
YeH?WaH, como sabiam ser esta a pronúncia correcta, omitiram a vogal do meio.
Ao compararmos as duas formas constatamos facilmente que a vogal em falta na
palavra YeH?WaH é um ‘o’ (cholam). A confirmar isto está o facto de os escribas se
terem enganado cerca de 50 vezes (em 6828) no Códice de Leninegrado (o mais
51
Códice Aleppo e Códice de Leningrado
antigo manuscrito masorético completo) e terem de facto escrito o Nome completo
nessas 50 instâncias – YeHoWaH.
Se acrescentarmos a isto o que já vimos atrás sobre a composição dos nomes
teofóricos que, quando começados por YEHO revelam a vogal do meio, não restam
dúvidas que a pronúncia do Nome é YeHoWaH (IEOUA) ou YeHoVaH (IEOVA),
dependendo de lermos Waw ou Vav. Assim, o nome JEOVÁ é uma forma
aportuguesada de IEOVA sendo que a única incorrecção é a inclusão da letra ‘J’,
cujo som não existe no hebraico.
Uma questão que vale pena colocar é como saberiam os masoretes a correcta
pronúncia do Nome visto que a total proibição da sua vocalização estava em vigor
desde 150 d.C.? Uma coisa que sabemos acerca dos Masoretes é que eram
Karaítas. Sabemos também que havia duas facções de Karaítas, os que exigiam o
uso do Nome e os que o proibiam. Os Masoretes pertenciam claramente a este
último grupo. Ao mesmo tempo, no contacto com os outros Karaítas, ouviam-nos
pronunciar o Nome e, portanto, sabiam como se pronunciava. O Karaíta Kirkisani,
do Séc. X d.C. relata que os Karaítas que pronunciavam o Nome estavam na
Pérsia. A Pérsia foi um grande centro judaico desde o momento em que as 10
tribos de Israel foram exiladas para as cidades dos Medos (2Reis 17:6) e assim
permaneceu até à invasão mongol no Séc. XIII d.C. Por causa da distância que os
separava dos centros rabínicos na Galileia e Babilónia, os judeus persas estiveram
protegidos das inovações da Mishna e do Talmude até ao Séc. VII d.C. Foi
precisamente quando os rabinos tentaram impor essas inovações aos judeus
persas nos séculos VII e VIII d.C. que nasceu o movimento Karaíta. Não é portanto
de estranhar que os karaítas persas tivessem preservado a pronúncia do Nome
desde os tempos antigos.
A Pronunciação IAUE – Parte 2
Até aqui podemos facilmente assumir que o leitor deste trabalho ao chegar a este
ponto estará legitimamente baralhado acerca de qual das formas de pronunciação
do Nome é a mais correcta – IAUE ou IEHOVA – se é que não está mesmo
inclinado a favor de IEHOVA.
Existem variadíssimas outras propostas mas são, de uma maneira geral tão
descabidas que não foram incluídas neste trabalho. Já no que toca à
argumentação a favor de uma e outra das alternativas aqui apresentadas, confesso
que, conforme já disse atrás, eu próprio fiquei confuso e senti necessidade de pôr o
trabalho em ‘stand-by’ por alguns meses por forma a me distanciar um pouco do
tema e recuperar alguma objectividade em relação ao mesmo.
Findo esse período reinicei uma troca de correspondência com um académico do
hebraico e do aramaico – Andrew Gabriel Roth – judeu, crente e autor de vários
livros acerca da composição aramaica do chamado Novo Testamento que foi uma
ajuda preciosa para me ajudar a desencalhar da confusão onde a evolução deste
trabalho me tinha conduzido. Este autor introduziu-me a vários outros e
significativos argumentos em defesa da pronunciação IAUE que serão agora aqui
expostos nesta segunda parte e por isso estou imensamente grato a ele
pessoalmente pela paciência que teve comigo e pela ajuda prestada bem como a
YHWH por me ter conduzido a ele.
O primeiro aspecto a considerar e que é completamente ignorado por Nehemia
Gordon e Gerard Gertoux é a evidência da Peshitta.
O Que é a Peshitta?
Desde o início da construção do Segundo Templo com Esdras e Neemias e até à
data da expulsão dos judeus da Judeia, pelos romanos em 135 d.C.52 que a
população da Judeia era uma pequena minoria face à população judaica que
nunca regressou do exílio em Babilónia. Durante todo este período a grande parte
da população judaica encontrava-se ainda em Babilónia e também dispersos pela
Assíria, Pérsia e Caldeia. A lingua comum a todos estes povos era o aramaico e
não o hebraico. Mesmo os judeus que habitaram a Judeia durante o período do
Segundo Templo trouxeram consigo de Babilónia a lingua aramaica como língua
corrente. O hebraico era uma lingua que permanecia apenas ou quase para uso
liturgico na Sinagoga e Templo uma vez que era a lingua em que a maior parte das
Escrituras53 se encontravam escritas. O Messias, os apóstolos e os seus
conterrâneos falavam e escreviam em aramaico.
Existem evidências muito substânciais de que todo o chamado Novo Testamento
foi escrito em aramaico, lingua nativa dos seus autores, e nunca em grego pois o
grego contém inúmeras evidências de aramaicismos resultantes de traduções
52
Após a revolta de Bar Kochba.
O livro de Daniel, por exemplo, escrito em Babilónia, encontra-se escrito em aramaico desde o capítulo 2:4
até ao capítulo 7.
53
imperfeitas de uma lingua para a outra. Não cabe no âmbito deste trabalho analisar
essas evidências mas cabe aqui dizer ser essa a minha firme opinião e de muitos
académicos. Cabe ainda aqui dizer que a chamada Igreja do Oriente54 tem sido, ao
longo dos séculos, a fiel depositária de um texto aramaico cujo manuscrito mais
antigo supostamente data do 2º século55 que é considerado por muitos académicos
como o texto não adulterado da maior parte dos livros e epístolas do Novo
Testamento56 e que é conhecido por Peshitta.
Enquanto que a Peshitta é considerada por muitos como o original do NT, já o não
é do AT. Este foi na sua grande maioria escrito em hebraico e mais tarde traduzido
para aramaico pelos mesmos judeus de Babilónia que mais tarde escreveriam o
Talmude. Muito mais antigos, portanto, do que os Masoretes da Idade Média e
certamente bastante conhecedores do hebraico e aramaico.
Em que é que a Peshitta nos é relevante?
Um fenómeno curioso ocorre na Peshitta com o Tetragrama. Em todas as
ocorrências do Tetragrama quer no AT quer no NT, o Tetragrama é substituído
pelo termo ‘MarYah’. Adicionalmente, e ao contrário do que sucede com os
manuscritos gregos, sempre que o NT cita uma passagem do AT em que o
Tetragrama aparece ou mesmo no decorrer da sua própria narrativa, ele usa
‘MarYah’ como designação clara e inequivoca de YHWH.
‘MarYah’ e o Prefixo ‘Mar’
‘MarYah’ (ayrm) é uma palavra claramente composta pelo prefixo ‘Mar’ (rm)e pela
forma curta de YHWH – YAH (ay)57. Acerca do nome YAH tornaremos a falar mais
adiante.
O prefixo ‘Mar’ significa ‘senhor’ em aramaico e ainda hoje é usado em Israel
relativamente a pessoas (o Sr. A ou o Sr. B). É o correspondente aramaico ao
‘adonai’ hebraico e, como este, tanto pode ser usado para designar homens como
aplicar-se ao próprio Criador.
Quando a Peshitta traduz o AT do hebraico, sempre que o texto hebraico tem a
palavra ‘Adonai’ isolada e é absolutamente inequívoco que ela se refere a YHWH,
a Peshitta traduz o termo por ‘MarYah’. Quando, no entanto, o termo se aplica a
seres humanos, a Peshitta traduz simplesmente por ‘Mar’ ou por uma conjugação
apropriada dessa raiz – ‘Mara’, ‘Mari’ ou ‘Maran’.
Quando ‘Adonai’ não aparece isolada no AT hebraico mas sim junto a YHWH,
como é o caso em Neemias 10:30 que no texto masorético tem a expressão
54
Hoje também uma igreja apóstata, embora não inicialmente.
Consequentemente muito anterior aos Masoretes da Idade Média.
56
Existem outros textos aramaicos antigos mas que possuem evidência de terem sofrido algumas alterações,
terem sido cópias da Peshitta, ou mesmo, nalguns casos, traduzidos do grego. Tal não se passa com a Peshitta
que apresenta sólida evidência de ter sido a fonte de todos os demais textos aramicos e gregos.
57
Em aramaico o Nome hy (yud-hey) é transcrito para ay (yud-alap) o que confirma a sua pronunciação como
YAH.
55
‘YHWH Adonenu’, na Peshitta aparece como ‘MarYah Maran’. Não existe uma
única ocorrência de ‘Mar’, ‘Mari’ ou ‘Maran’ que isoladamente e sem qualquer
esclarecimento se apliquem a YHWH. Sempre que tal acontece, estes termos
aplicam-se exclusivamente a seres humanos.
Como é que ‘MarYah’ surge aplicado a YHWH? A resposta encontra-se no livro de
Daniel que, como já referimos foi parcialmente escrito originalmente em aramaico e
é o único livro do AT a ter a palavra ‘Mara’.
“21 ...fizeram-no [Nabucodenozor] comer a erva como os bois, e do orvalho do céu foi
molhado o seu corpo, até que conheceu que Deus, o Altíssimo, tem domínio sobre o reino
dos homens, e a quem quer constitui sobre ele. 22 E tu, Belsazar, que és seu filho, não
humilhaste o teu coração, ainda que soubeste tudo isto. 23 E te levantaste contra o Senhor
[Mara – arm] do céu, pois foram trazidos à tua presença os vasos da casa dele, e tu, os teus
senhores, as tuas mulheres e as tuas concubinas, bebestes vinho neles; além disso, deste
louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não
vêem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida, e de quem são
todos os teus caminhos, a ele não glorificaste.” (Dn 5:21-23)
Isto parece quebrar a regra que acabámos de enunciar segundo a qual, sempre
que ‘Mar’ se aplica ao nosso Pai Celestial assume a forma ‘MarYah’, mas esse
termo não existia ainda ao tempo de Daniel. O que Daniel aqui faz é pegar no
termo – ‘Mara’ que os babilónios aplicavam aos seus próprios deuses para dizer
que esses deuses nada eram quando comparados ao verdadeiro Senhor – ‘Mara’ –
do Céu. Mais tarde, os judeus que permaneceram em Babilónia simplesmente
retiraram a letra ‘alap’ (a) do final da palavra, reduzindo a palavra à sua raiz (rm)
por forma a que a mesma palavra não fosse aplicada a YHWH e a deuses pagãos.
Assim surge o termo ‘MarYah’ (ayrm) que ao tempo de Daniel não existia ainda.
Façamos aqui um pequeno parêntesis para salientar que aceitar a Peshitta como o
texto aramaico original do NT traz grandes esclarecimentos em termos de doutrina.
Vejam-se as seguintes passagens:
“Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é MarYah Meshikha58.” (Lc 2:11)
“...ninguém pode dizer MarYah haw Y’shua, senão pelo Espírito Santo.” (1Co 12:3)
““E toda a língua confesse que Y’shua Meshikha é MarYah, para glória de Deus Pai.” (Fp
2:11)
O que estas passagens nos dizem clarissimamente é que Y’shua, o nosso
Salvador é MarYah ou seja, o Senhor Yah – YHWH.
Mas dizem mais. Reconhecer e confessar Y’shua como MarYah – YHWH – é obra
do Espírito Santo em nós. Vejamos esta outra passagem:
“21 Nem todo o que me diz: Mari, Mari! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a
vontade de meu Pai, que está nos céus. 22 Muitos me dirão naquele dia: Mari, Mari, não
58
Aramaico para ‘Messias’.
profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demónios? e em teu nome
não fizemos muitas maravilhas? 23 E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci;
apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.” (Mt 7:21-23)
Ora, a palavra ‘Mari’ refere-se exclusivamente a seres humanos logo, estes que o
chamam ‘Mari’ claramente não o estão a reconhecer como MarYah – o Senhor Yah
– o que nos leva a concluir que não têm o Espírito Santo (o que também explica
porque é que praticam iniquidade).
Adicionalmente, passagens como Lucas 2:11, Filipenses 2:11 e Actos 2:36
apresentam o termo ‘MarYah’ lado a lado com ‘Meshikha’ explicitamente afirmando
a respeito de Y’shua que Ele era o Messias e o próprio YHWH. Diga-se de
passagem que a única versão de Lucas 2:11 que nos dá a identidade do Senhor
que acabava de nascer é a Peshitta. Mais nenhuma outra versão o faz.
“Saiba, pois com certeza toda a casa de Israel que a esse Y’shua, a quem vós crucificastes,
Deus o fez MarYah e Meshikha.” (At 2:36)
O Nome ‘YAH’
O sufixo ‘Yah’ que aparece em ‘MarYah’ é obviamente a forma curta do nome
YHWH, conforme já referimos atrás, e constitui-se como a chave para definirmos
de vez qual a pronunciação correcta.
Apesar de Nehemia Gordon e Gerard Gertoux estarem certos quanto à existência
de uma regra gramatical hebraica segundo a qual abreviaturas de nomes eram
muitas vezes criadas pela primeira e última letras desses nomes, não existe
qualquer evidência de que essa regra se tenha alguma vez aplicado ao
Tetragrama. Pelo contrário, a evidência vai no sentido oposto. Afirmar
peremptoriamente que foi esse o caso é mera especulação.
O Nome ‘Yah’ surge nas Escrituras como O Nome do Criador, tão antigo como e
usado alternadamente com ‘YHWH’. As seguintes passagens comprovam-no:
“2 YAH é a minha força, e o meu cántico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus,
portanto lhe farei uma habitação; ele é o Deus de meu pai, por isso o exaltarei. 3 YHWH é
homem de guerra; YHWH é o seu nome.” (Êx 15:2-3)
“E disse: Porquanto jurou YAH, haverá guerra de YHWH contra Amaleque de geração em
geração.” (Êx 17:16)
“YHWH Deus dos Exércitos, quem é poderoso como tu, YAH, com a tua fidelidade ao
redor de ti?” (Sl 89:8)
“18 Isto se escreverá para a geração futura; e o povo que se criar louvará a YAH. 19 Pois
olhou desde o alto do seu santuário, desde os céus YHWH contemplou a terra,” (Sl 102:1819)
“Desapareçam da terra os pecadores, e os ímpios não sejam mais. Bendize, ó minha alma, a
YHWH. Louvai a YAH.” (Sl 104:35)
“Louvai a YAH. Louvai a YHWH, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para
sempre... Bendito seja YHWH Deus de Israel, de eternidade em eternidade, e todo o povo
diga: Amém. Louvai a YAH.” (Sl 106:1,48)
“YAH é a minha força e o meu cántico; e se fez a minha salvação... a destra de YHWH faz
proezas. A destra de YHWH se exalta; a destra de YHWH faz proezas.” (Sl 118:14-16)
“1 E dirás naquele dia: Graças te dou, ó YHWH, porque, ainda que te iraste contra mim, a
tua ira se retirou, e tu me consolas. 2 Eis que Deus é a minha salvação; nele confiarei, e não
temerei, porque YAH YHWH é a minha força e o meu cántico, e se tornou a minha
salvação.” (Is 12:1-2)
“Confiai em YHWH perpetuamente; porque YAH YHWH é uma rocha eterna.” (Is 26:4)
Estas passagens e muitas outras confirmam que YAH é usado alternadamente
com YHWH e muito particularmente as passagens de Êxodo 15:2-3 e 17:16
comprovam que é tão antigo como este pois o hebraico em que estão escritas é o
mais antigo de todas as Escrituras. Todas as demais passagens e particularmente
Isaías 12:1-2 e 26:4 comprovam que YAH está ao mesmo nível de YHWH. É usado
alternadamente e mesmo em simultâneo com e a par deste e merece tanto louvor
como este:
“1 Louvai a YAH [Hallel-u-YAH]. Louvai, servos de YHWH, louvai o nome de YHWH. 2
Seja bendito o nome de YHWH, desde agora para sempre. 3 Desde o nascimento do sol até
ao ocaso, seja louvado o nome de YHWH.” (Sl 113:1-3)
As passagens de Isaías acima transcritas em que temos os dois Nomes lado a lado
– YAH YHWH – são traduzidas para aramaico na Peshitta como ‘MarYah’ o que
mais uma vez vem provar que ambos os Nomes se podem alternar e são, na
realidade, o mesmo Nome.
Ao longo das Escrituras encontramos evidências claras de muitas fases diferentes
pelas quais a lingua hebraica passou, por vezes até dentro do mesmo livro (como
acontece com Isaías). Palavras e nomes sofrem alterações. Por essa razão o
nome do Messias aparece profeticamente como Y’hoshua antes do cativeiro
babilónico mas como Y’shua depois deste, devido à influência aramaica. É o
mesmo nome, mas sofreu alterações ao longo de 700 anos. No entanto, apesar de
todas estas evoluções próprias de qualquer lingua há um Nome que permanece
estático, inalterado ao longo de todos estes séculos: YAH / YHWH.
Até mesmo os nomes teofóricos, no aramaico não sofrem a influência de qualquer
regra gramatical que os altere. Por outro lado, nomes que começam por Yeho em
hebraico começam por Yahu em aramaico e noutras linguas semítas como o
acadiano. Já o Nome YAH não sofre quaisquer alterações em pronunciação do
hebraico para o aramaico. Mais uma vez permanece inalterado.
YAH pode ser considerado uma abreviatura de YHWH mas nunca uma abreviatura
composta pela primeira e última letras de YHWH conforme sustentam Nehemia
Gordon e Gerard Gertoux. YAH é o Nome do Criador. As Escrituras esclarecem
isso:
“Cantai a Deus, cantai louvores ao seu nome; louvai aquele que vai montado sobre os céus,
pois o seu nome é YAH, e exultai diante dele... para que YAH Elohim habitasse
entre eles.” (Sl 68:4,18)
Este Salmo é bem claro “o Seu Nome é YAH”. O Nome do nosso Elohim é YAH.
Não é um diminutivo criado por uma qualquer regra gramatical imposta ou criada
pelos homens mas o próprio Nome. Como é que então YAH pode ser uma
abreviatura de YHWH?
Tanto YAH, como YAHU como YHWH são conjugações do verbo ‘ser’ – ‘Hayah’.
Confuso? É de facto. Procuremos esclarecer...
YHWH disse a Moisés que Ele próprio se auto intitula ‘EHYEH ASHER EHYEH’ ou,
‘Eu Sou o que Sou’. Porém, também disse a Moisés que nós nos devemos referir a
Ele na terceira pessoa, ou seja, como ‘Ele É’ e não como ‘Eu Sou’.
YAH / YAHWEH = Ele É
Ambos derivam do verbo ser – ‘Hayah’.
YAH, no entanto, é um nome, um substantivo que apesar de derivar do verbo
‘Hayah’ , não age como verbo.
A partir do momento em que uma instância do verbo ‘ser’ se transforma num nome,
deixa de agir como verbo e passa a necessitar de outra instância de ‘ser’ para
formar uma frase. Assim temos que YAH – um derivado do verbo ‘ser’ que significa
‘Ele É’ – ao passar a nome passa a carecer de outra instância verbal. Surge assim
YAH + HU.
O próprio Gerard Gertoux o admite ao traduzir YAHU por ‘o próprio YAH’.
Andrew Gabriel Roth traduz YAHU mais literalmente como ‘YAH Ele é’.
Note-se que apesar da palavra YAH ser ela própria derivada de ‘Hayah’, ela
assume aqui a função de substantivo ou nome e não de verbo.
Evidentemente que tanto uma tradução como a outra são expressões equivalentes.
YAHU, tal como já foi afirmado atrás é composto pelo Nome YAH + HU, ou seja, o
Nome YAH com uma ocorrência do verbo ‘ser’ na terceira pessoa – ‘YAH Ele é’.
A título de exemplo, se o nome de alguém fosse ‘É’, outros poderiam dizer:
“O É (o nome da pessoa) é (o verbo) um tipo simpático”
O mesmo se passa com YAH em que usaríamos YAH HU como duas palavras
distintas – YAH É.
Já o Nome YHWH significa exactamente o mesmo que YAHU mas com uma dupla
ocorrência do verbo ‘ser’ a formar a parte do nome. A lógica é a mesma mas um
pouco mais complexa. Como temos não uma mas duas ocorrências do verbo ‘ser’
– YAH, derivado de ‘Hayah’ e HU, também derivado de ‘Hayah’ – mas agora
ambas com a função de substantivo ou nome, continuamos a carecer de mais uma
instância de ‘Hayah’ que funcione como verbo. Surge assim WEH, que mais não é
que uma terminação aspirada longa (h’weh) de outra variante de ‘Hayah’ – ‘HWA’.
Assim ficamos com:
(Ha)YAH + HU + WEH (h’weh = outra forma do verbo ‘ser’ – HWA)
Decomposição
YAH
YAH (nome) + HU (verbo)
Nome
YAH
YAHU59
YAH (nome) + HU (nome) +
h’ WEH (verbo)
YAHWEH
Significados Possíveis
‘Ele É’
‘YAH Ele É’ ou ‘YAH É’
‘YAH Ele Era’ ou ‘YAH Era’
‘YAH Ele Será’ ou ‘YAH Será’
‘YAH Ele É’ ou ‘YAH É’
‘YAH Ele Era’ ou ‘YAH Era’
‘YAH Ele Será’ ou ‘YAH Será’
De acordo com Andrew Gabriel Roth, as populares traduções ‘Ele é o que é’ ou
‘Ele é quem é’, apesar de em termos de significado poderem ser consideradas, em
termos linguísticos estão incorrectas pois qualquer delas implicaria uma ocorrência
da palavra ‘asher’ como acontece em ‘Eu sou o que sou’ (‘Ehyeh Asher Ehyeh’)
quando YHWH fala na primeira pessoa a Moisés. Como nem ‘asher’ nem o seu
equivalente aramaico60 estão presentes, isso significa que o ‘que’ ou o ‘quem’
também não estão. YHWH será assim uma conjugação de YAH com uma dupla
ocorrência do verbo ‘ser’ – ‘hayah’ – que pode ser entendida no presente, passado
ou futuro, traduzindo assim não só a eternidade de YHWH como a Sua
omnipotência61.
Neste sentido, portanto, YAH pode ser considerado uma abreviatura de YHWH.
Não como a primeira e última letras de YHWH mas sim um Nome composto por
uma conjugação verbal. YAHU tem duas conjugações com o verbo ‘ser’ e YHWH
tem três.
Um pouco à semelhança do que acontece com Isaías 26:3 e 57:19 em que surge a
expressão ‘Shalom shalom’ e que a versão King James, no primeiro caso traduz
por ‘perfeita paz’, também aqui a múltipla ocorrência do verbo ‘ser’ pode ser
entendida como traduzindo a ideia que YHWH é a essência da própria existência.
59
Nunca ocorre como Nome do Criador mas apenas em nomes teofóricos.
O ‘dalet’ (d) proclitico.
61
Ele foi, é ou será o que for preciso para os Seus filhos.
60
Argumentação Adicional
Com todo o devido respeito para com Nehemia Gordon, os argumentos que ele
apresenta para desacreditar o testemunho de Teodóro são mera especulação.
Nehemia reconhece que o b grego também assumia o valor ‘u’ mas depois
especula quanto ao facto de o Nome pelo qual os samaritanos designavam YHWH
– IABE – ser na realidade proveniente de um título – IAFE (o belo) – que eles
atribuiam a Deus. Nada sugere isso. É apenas uma opinião.
Dizer ainda, com base nas palavras de Y’shua, que pelo facto de eles viverem no
erro e não conhecerem o verdadeiro Deus, não saberiam o Seu Nome, sobretudo
atendendo a que parte da nação samaritana era israelita à partida e viviam lado a
lado com os judeus, não me parece credível.
Num artigo de William Dankenbring este, apesar de defender a pronúncia do Nome
como ‘Yahveh’, diz o seguinte:
“O remanescente existente de samaritanos reclamava ainda conhecer a correcta pronúncia
do Nome Divino até mesmo em 1689 d.C. Uma carta dum Sumo-Sacerdote samaritano em
1820 contém uma benção contendo o Nome sagrado. O filho de um Sumo-Sacerdote
samaritano em Jerusalém em 1904-5 pronunciou o Nome sagrado como “Yahwe” e
“Yahu”.” (“New Insight into the Sacred Names of God”, William Dankenbring)
Ora se os próprios samaritanos pronunciam “Yahwe” e “Yahu” isso vem desmontar
a especulação de Nehemia Gordon segundo o qual IABE seria proveniente de
IAFE (o belo) e sustentar a pronúncia “Yahweh” pois o ‘B’, conforme já dissemos,
lia-se ‘U’.
Também é impressionante a forma ligeira como Nehemia Gordon descarta o
testemunho do Talmude de Jerusalém segundo o qual os samaritanos não só
sabiam pronunciar o Nome como faziam-no nos seus juramentos. Apesar do
Talmude de Jerusalém não ser tão conceituado como o Babilónico, neste caso
estou em crer que até terá mais autoridade uma vez que foi escrito pelos rabis de
Israel que, contrariamente aos da Babilónia viviam lado a lado com os samaritanos.
Parece-me óbvio que estes melhor que os outros saberiam se os samaritanos
pronunciavam o Nome ou não.
A mesma ligeireza é usada também para descartar as tabuletas Murashu e
quaisquer outros testemunhos antigos desde que numa lingua diferente do
hebraico. O que Nehemia parece esquecer é que practicamente todos esses
testemunhos são consistentes entre si quanto à pronunciação do Nome do Criador
independentemente de estarem escritos em acadiano, aramaico, egípcio ou grego.
Ele esquece-se também que, conforme já afirmámos acima, o Nome YAH não
sofre quaisquer alterações ao longo do tempo e de lingua para lingua. Comete
ainda a grave omissão de não considerar o testemunho do AT da Peshitta que não
só é muito anterior ao texto masorético como foi escrita pelos mesmos rabinos
judeus que mais tarde escreveriam o Talmude Babilónico.
Adicionalmente, Gerard Gertoux diz ainda relativamente aos defensores da
pronúncia ‘Yahweh’ que é o cúmulo da ironia que o Nome do Criador que é o nome
teofórico por excelência, não obedeça às regras gramaticais hebraicas de todos os
nomes teofóricos que quando começam pelo Nome do Criador, começam sempre
por ‘Yeho’. O que ele se esquece é que YHWH não tem de se sujeitar a regras
gramaticais definidas pelo próprio homem. O facto de YAH ser O Nome do Criador,
conforme afirma inequivocamente o Salmo 68:4, exclui-o logo à partida de ser uma
abreviatura composta pela primeira e última letras do Tetragrama e o facto desse
Nome permanecer inalterado ao longo dos séculos dentro do hebraico e mesmo de
outras linguas demonstra que ele não está sujeito a regras gramaticais. Todos os
demais nomes, mesmo os teofóricos, sofrem morfismos ao longo do tempo,
excepto o Nome ‘YAH’.
Porque é que os masoretes escreveram como escreveram – se deliberadamente
procuraram ocultar o Nome inserindo as vogais erradas ou se estariam
legitimamente convencidos de que estavam a escrever as vogais certas – pouco
importa. É difícil se não mesmo impossível determinar isso. Na realidade o porquê
de terem escrito daquela forma é irrelevante uma vez que eles surgem demasiado
tarde na história. Quando temos testemunhos muito antigos e consistentes ao
longo da história que confirmam a pronunciação ‘Yahweh’ apesar de escritos em
várias linguas, quando temos testemunhos das próprias Escrituras traduzidas pelos
rabis do ano 100 a.C. que traduziram o AT para aramaico (Peshitta) e mais tarde
escreveram o Talmude Babilónico, e dos apóstolos que escreveram o NT em
Aramaico no Séc. I d.C., pouco importa o que é que os masoretes dos Séc. VI ao X
d.C. escreveram. Eles simplesmente surgem demasiadamente tarde e como se
isso não bastasse tinham todo o interesse em ocultar o Nome. Porque é que os
devemos colocar a eles acima de todos os demais testemunhos e evidências?
A Pronunciação Correcta
Que o início do Tetragrama se lê YAH e que as duas primeiras sílabas se lêem
YAHU está, por esta altura, mais que determinado. Resta então ver como
pronunciar a última sílaba – weh.
Tanto Orígenes como Clemente transcrevem o Tetragrama para grego com a letra
‘eta’ no final do Nome. Esta letra grega pronunciava-se ‘hey’ e provinha do paleohebraico onde tinha exactamente esse valor.
Conforme já referimos atrás, mais tarde, Teodoro e Epifânio afirmam ambos que a
forma como os Samaritanos do seu tempo (Séc. V d.C) pronunciavam o Nome era
Iabai e Iabe. Considerando que o b valia ‘u’, hoje estas palavras transliterar-se-iam
para português como ‘Iauai’ e ‘Iaue’, respectivamente.
Tudo indica então que o Tetragrama termina não num ‘é’ aberto mas num ‘ay’.
Andrew Gabriel Roth inclina-se para uma de duas possibilidades:
1. Yah-way, ou
2. Yah-hoo-way
Este autor admite ainda uma terceira possibilidade embora a considere menos
provável:
3. Yah-oo-way
A explicação que ele dá para distinguir o #2 do #3 é que no primeiro caso, o ‘oo’
seria a extensão do som aspirado do ‘hey’ e não teria ênfase ao passo que no
segundo caso, o ‘oo’ seria um som perfeitamente articulado.
Este autor é ainda da opinião da maioria que ‘Waw’ na antiguidade tinha o valor ‘u’
ou ‘oo’ e não o valor ‘v’ que lhe é dado no hebraico moderno, o que mais uma vez
contraria as afirmações de Nehemia Gordon.
Assim, uma transliteração correcta do Tetragrama para a lingua portuguesa seria
“IAHUEI”, sendo que o uso do ‘h’ permite traduzir não só um ‘a’ aberto na primeira
sílaba como a aspiração do ‘hey’ na segunda.
Daqui para a frente neste trabalho, é esta a transliteração que empregaremos.
O Nome do Filho
Uma vez determinado o Nome do Pai de acordo com toda a informação disponível
actualmente, é relativamente simples determinar também o Nome do Filho.
É normal que IAHUEI, na qualidade de pai, tenha transmitido ao Seu Filho o Seu
Nome. Até os seres humanos fazem o mesmo. Para além disto, as escrituras
atestam que o Nome do Messias contém o Nome de Seu Pai .
“Guarda-te diante dele, e ouve a sua voz, e não o provoques à ira; porque não perdoará a
vossa rebeldia; porque o Meu Nome está nele.”62 (Êx 23:21)
Conforme vimos atrás, os nomes de muitos dos profetas eram compostos por uma
palavra ou conjunto de palavras que descreviam a sua missão ou carácter
acrescidas do nome de IAHUEI quer à frente quer atrás do resto do nome. A forma
completa de IAHUEI nunca é usada na composição dos seus nomes mas sim a
forma curta YAH (hy) ou a intermédia YAHU (why). Vimos também que, de acordo
com um autor, a contracção YAHU é a mais antiga, proveniente do hebraico, ao
passo que a forma curta YAH é considerada pós-exílica e deve-se a influências
aramaicas. Conforme já tive ocasião de afirmar, não concordo uma vez que o
Nome YAH surge em Êxodo 15:2-3, uma passagem escrita no hebraico mais
antigo de todas as Escrituras. Vimos ainda que, de acordo com alguns autores, a
forma intermédia YAHU constitui a chave, a ligação linguística em falta para a
forma completa do Nome do Pai e também para a forma completa do Nome do
Filho.
Se procurarmos o nome ‘Jesus’ (referência # 2424) na concordância grega da
‘Stongs Concordance’, ela revela que a pronunciação grega era ‘EE AY SOUCE’
(Ihsouv – IESOUS) e remete-nos para a referência # 3091 da concordância
hebraica. Esta, por sua vez, mostra que o Seu Nome em hebraico se escrevia:
‘YOD HEY WAW SHIN AYN’ – eswhy, ou
‘YOD HEY WAW SHIN WAW AYN’ – ewswhy
que, de acordo com alguns, podem ser transliterados para português como
IAUSHUA (YAHUSHUA) ou IAOSHUA (YAHOSHUA). No entanto, quer a
concordância de Strong quer a de Young usam as vogais masoréticas e
apresentam o Nome como ‘YEHO’ ou ‘JEHO’63.
Não existem, no entanto, evidências de, no hebraico, este nome alguma vez ter
sido pronunciado como YAHUSHUA. Pelo contrário, em hebraico, este nome surge
inicialmente como YEHOSHUA (de acordo, claro está, com a vocalização
masorética).
62
Claro que isto pode e provavelmente deve ser entendido como ‘a minha autoridade está nele’ mas não é
impeditivo de ser interpretado também desta maneira ou mesmo de ter um duplo sentido.
63
Não esquecer que o “J” valia “I”.
Já vimos porém, que existem numerosos testemunhos antigos nas mais variadas
linguas, inclusivé o aramaico, que apontam para uma pronúncia inicial dos nomes
teofóricos como YAHU e não YEHO. Ao colocar as coisas em perspectiva,
constatamos que, contrariamente ao que afirmam os masoretes, é perfeitamente
possível que o nome hebraico YEHOSHUA se pronunciasse inicialmente como
YAHUSHUA, à semelhança do que acontecia com os demais nomes teofóricos.
Quanto à questão apresentada anteriormente pelos defensores da pronúncia do
Tetragrama como YEHOVA, de que não faz sentido alegar que os masoretes só
teriam a preocupação de ocultar o Nome Divino quando este aparecesse no início
de uma palavra mas que, apesar de todo esse zelo, porventura ter-se-iam
esquecido de fazer o mesmo quando esse Nome surgisse no final da palavra,
concordo que, à primeira vista, pode parecer um argumento válido, mas para o
qual existe uma explicação plausível. Na verdade, quando um nome terminasse em
Yah ou mesmo em Yahu, não havia qualquer risco de pronunciar o Tetragrama
completo pois o nome em questão não teria mais sílabas. O risco ocorria apenas
quando as primeiras sílabas do Tetragrama se encontravam no início do nome,
sendo seguidas por mais sílabas. Aí, como é evidente, existia um risco real de,
dependendo das sílabas seguintes, poder-se vir a pronunciar o Tetragrama
completo, o que teria justificado a sua alteração apenas no início. Como é evidente
não podemos afirmar com certeza absoluta ter sido esta a razão que levou os
masoretes a alterar as primeiras sílabas do Tetragrama apenas quando elas
apareciam à cabeça e nunca quando apareciam no final de um nome, mas é sem
dúvida uma explicação lógica e plausível.
Assim, ao longo da história o nome do Cristo surge inicialmente sob a forma
hebraica YAHUSHUA / YEHOSHUA e, mais tarde, sob a forma aramaica YESHUA
ou YASHUA que se escrevia da seguinte forma:
‘YOD SHIN WAW AYN’ – ewsy
Esta última forma do nome do Cristo não é, contrariamente ao que possa parecer,
uma contração de YAHUSHUA mas tem antes a ver com a influência aramaica pós
cativeiro. Após o cativeiro babilónico encontramos morfismos nos nomes hebraicos
por adaptações que sofreram à lingua aramaica. Assim, Yeshua/Yashua não se
escreve da mesma forma que Yahushua/Yehoshua, conforme vimos acima, apesar
de recorrer aos mesmos caracteres.
Na realidade, independentemente de como o nome do Cristo se escrevia ou
pronunciava na sua versão mais antiga hebraica, o que interessa aqui
essencialmente determinar é a forma que ele assumia no 1º século da nossa era. A
que nome é que o Cristo respondia afinal. Quanto a isso não existem quaisquer
dúvidas pois os testemunhos da época facultam-nos imensas ocorrências deste
nome, visto que era um nome comum. A própria Peshita assume universalmente o
nome do Messias como Yod-Shin-Waw-Ayn (ewsy) ou seja Yeshua, tal como o
fazem outras versões antigas das Escrituras em aramaico64. O mesmo nome surge
64
A “Old Syriac” por exemplo, que, apesar de na opinião do autor não ter a fidelidade da Peshita, é
suficientemente antiga para ter autoridade no que toca à forma que o nome assumia no 1º século.
ainda com frequência em ossuários antigos de individuos com o mesmo nome bem
como em numerosos textos antigos.
Encontramos o nome Yeshua nos livros de Esdras e Neemias quando estes listam
os nomes daqueles que regressaram do cativeiro. Um destes é “Jesuá, filho de
Jozadaque”.
“E levantou-se Jesuá [Yeshua], filho de Jozadaque [Yotsadaque], e seus irmãos, os
sacerdotes, e Zorobabel, filho de Sealtiel, e seus irmãos, e edificaram o altar do Deus de
Israel, para oferecerem sobre ele holocaustos, como está escrito na lei de Moisés, o homem
de Deus.” (Ed 3:2)
Este Yeshua, filho de Yotsadaque, referido em Esdras é o mesmo que aparece
referido em Zacarias 6:11 transliterado como Josué.
“Toma, digo, prata e ouro, e faze coroas, e põe-nas na cabeça do sumo sacerdote Josué
[Yehoshua], filho de Jozadaque [Yehotsadaque].” (Zc 6:11)
A diferença entre os textos de Zacarias e de Esdras é que, enquanto o primeiro
está escrito em hebraico, o segundo está escrito em aramaico. Assim temos:
Hebraico – Yehoshua (masorético) ou Yahushua
Aramaico – Yeshua
O nome, porém, é o mesmo e é o mesmo nome também que Moisés deu a Oséias
(Oshea ou Hoshea) filho de Num. Moisés alterou o Nome do filho de Num, de
Oshea (que significa ‘salvação’) para YAHUSHUA (ou YEHOSHUA – masorético)
por forma a demonstrar que quem salva é YHWH e não o homem Oshea.
“...e a Oséias, filho de Num, Moisés chamou Josué [Yahushua/Yehoshua].” (Nm 13:16)
Neemias, já pós cativeiro, também altera o nome deste personagem para a versão
aramaica do mesmo.
“E toda a congregação dos que voltaram do cativeiro fizeram cabanas, e habitaram nas
cabanas, porque nunca fizeram assim os filhos de Israel, desde os dias de Josué [Yeshua],
filho de Num, até àquele dia; e houve mui grande alegria.” (Ne 8:17)
Mais uma vez vemos o nome Yahushua/Yehoshua a ser alterado para a versão
aramaica – Yeshua. Há, no entanto, também quem o pronuncie como Yashua.
O som vogal que deve ser pronunciado na primeira sílaba deve ser de um ‘a’ ou ‘e’
suaves, fechados acrescidos de um ‘i’ – como em ‘mai’ ou ‘mei’. A pronúncia de
cada local acaba por ditar a letra a usar nessa sílaba. Muitos crentes americanos
escrevem o nome Yeshua simplesmente porque o ‘e’ é pronunciado mais
suavemente nos EUA do que na Europa onde encontramos mais vezes Yashua. A
escolha da letra a usar na transliteração é, portanto, muito subjectiva. Não
esquecer que nem o ‘e’ nem o ‘a’ existem, de facto no nome. Por este motivo tanto
pode ser escrito como Yeshua como como Yashua pois qualquer das letras lidas de
uma forma suave, se confundem. Por essa razão também há muitos que escrevem
o nome mais simplesmente, como Y’shua. Porém, nenhuma destas formas é
inteiramente adequada para uma transliteração para a lingua portuguesa, como
veremos de seguida. Este nome tem um ‘tsere’ (pontuação vogal) debaixo do Yod
(primeira letra) que lhe confere o valor de ‘yay’. Na realidade, na lingua inglesa que
tradicionalmente escreve o nome aramaico do Cristo como Yeshua ou Yashua,
tanto ‘Ye’ como ‘Ya’ se podem ler ‘yay’. Na lingua portuguesa, porém, isso não
acontece, logo seria incorrecto transliterar dessa forma em português. A forma
como o pronunciamos de acordo com a pontuação vogal que tem, deve ser Yeishua
ou Yaishua. Como tal, qualquer destas formas seria mais adequada para adoptar
na lingua portuguesa do que qualquer das suas congéneres anglo-saxónicas. Por
esse motivo, iremos daqui para a frente neste trabalho empregar a versão Yeishua.
Entendemos que a versão Y’shua, também será correcta, tendo até a vantagem de
ser mais universalmente aceite, desde que, porém, se tenha o cuidado de
pronunciar a primeira sílaba como ‘Yei’ ou ‘Yai’.
Sustentar porém que o nome seria YAHshua não é corroborado por qualquer
evidência histórica ou linguística. Para que tal fosse verdade seria necessário que
Yeishua tivesse um ‘hey’ (h), coisa que não acontece. Para além disto a pontuação
vogal masorética que coloca um ‘tsere’ debaixo do ‘yod’ aponta para uma
vocalização da primeira sílaba de Yeishua como ‘yay’ e não como ‘YAH’, conforme
já dissemos. O ‘yod’, por sua vez, é transliterado para grego pela letra grega ‘eta’
que tem a mesma sonoridade.
Isto é o que o anjo disse a José:
“E dará à luz um filho e chamarás o seu nome Yeishua; porque ele salvará o seu povo dos
seus pecados.” (Mt 1:21)
Há quem diga que ‘Yeishua’ significa ‘Salvação’. Tal, porém, não é exacto.
‘Salvação’ escreve-se da seguinte forma:
YOD SHIN WAW AYN HEY – hewsy – Y’shuah
‘Salvação’ termina com um ‘hey’ e é um substantivo feminino, ao passo, que
Yeishua é um substantivo masculino sem ‘hey’ no final e que significa ‘Ele é
Salvação’ ou ‘Ele Salva’. Para além disso, a pontuação vogal dada ao Yod
(primeira letra) é um ‘tsere’ no caso do nome do Cristo (que se lê como ‘ei’) mas
um ‘sheva’ no caso da palavra ‘salvação’ (que se lê como um ‘e’ curto como em
‘me’). Por isso mesmo o léxico de Strong apresenta a palavra Y’shuah (salvação)
como yesh-oo-aw mas o nome Yeishua como yay-shoo-ah.
Há também quem entenda que a escrita do nome do Messias com um apóstrofo,
como indicámos acima, não será uma opção muito adequada na medida em que o
apóstrofo habitualmente traduz a pontuação vogal ‘sheva’ como na palavra
Y’shuah (salvação) ao passo que o nome do Messias tem uma pontuação vogal
totalmente diferente – um ‘tsere’ que se lê como ‘ei’ e confere ao Yod o valor de
‘Yei’. Isto porém é atribuir talvez uma importância excessiva a convenções que se
estabeleceram na Idade Média e que surgem muito tarde para definir o que quer
que seja relativamente a um nome do 1º século da nossa era. No meu entender, e
no de conceituados linguístas65, reproduzir o nome do Messias nos nossos
caracteres como Y’shua é perfeitamente aceitável desde que se pronuncie o Yod
como ‘Yei’. A ausência do “e” ou do “a” e a aposição de um mero apóstrofo até terá
a vantagem de não induzir as pessoas a pronunciarem a primeira sílaba do nome
como ‘Yé’ ou como ‘Yá’, para além de, como dissemos acima, ser uma forma
universalmente reconhecida e aceite. Por essa razão e como as formas ‘Yeshua’ e
‘Yashua’ não são muito correctas em português e podem induzir em erro, sustento
que devemos usar ‘Y’shua’. A razão pela qual neste trabalho uso Yeishua é por
uma mera questão educativa.
A forma Yeishua era a forma corrente do nome hebraico mais antigo
Yahushua/Yehoshua, que era usada no Séc. I. Era uma forma já muito contraída
que significa apenas ‘Ele é Salvação’ ou ‘Ele salva’66 e que, de acordo com o
‘Browns-Driver-Briggs Hebrew-English Lexicon’ é de origem caldeia ou babilónica,
ou seja, aramaico e não hebraico. Em tempos mais antigos e em hebraico o nome
era Yahushua/Yehoshua que significa ‘Salvação de IAHUEI’ ou ‘IAHUEI Salva’.
Com o passar do tempo este nome foi sofrendo alguns morfismos até chegar à
forma Yeishua no aramaico do 1º Século. Por este motivo, sempre que usamos o
nome hebraico ou aramaico do nosso Salvador, estamos a descrever claramente a
Sua identidade como o grande IAHUEI bem como a finalidade da Sua missão – a
Salvação de IAHUEI.
Uma coisa é certa, quando o anjo Gabriel faz o anúncio a Maria, ele não empregou
o nome ‘Jesus’ pois esse nome não só não tinha nem tem qualquer significado em
hebraico / aramaico como nem sequer existiu durante 1500 anos.
Um outro aspecto interessante tem a ver com o significado do nome Yeishua no
aramaico do 1º século da nossa era. Conforme estava profetizado, o Messias
vindouro teria o nome Yehoshua/Yahushua que significa ‘Salvação de IAHUEI’ ou
‘IAHUEI Salva’67. Durante séculos o povo de Israel soube pelo nome bem como por
outras profecias que a salvação vinha apenas de IAHUEI e não de qualquer
homem. Porém, quando esse Messias finalmente nasce, o anjo comunica a Miriam
(Maria) que esse salvador há tanto tempo esperado era aquele que nasceria do
seu ventre e cujo nome seria Yeishua – ‘Ele é Salvação’. Ali temos testemunho
divino não só de que naquele homem que iria nascer estava o próprio IAHUEI,
como também que as profecias antigas se cumpririam nele pois a salvação já não
se encontrava numa entidade externa à pessoa detentora do nome (como
acontecia em hebraico com Yeshoshua/Yahushua que testemunhavam que a
salvação estava em IAHUEI) mas naquela própria pessoa (pois o nome por esta
altura significava que aquele em particular era salvação – ‘Ele é Salvação’). É certo
que havia muita gente detentora do mesmo nome, mas só um é que o recebeu por
decreto divino.
“E dará à luz um filho e chamarás o seu nome Yeishua; porque ele salvará o seu povo dos
seus pecados.” (Mt 1:21)
65
Andrew Gabriel Roth, por exempo.
Strong’s #3442 e 3443
67
Ver mais à frente o capítulo “O Nome do Messias nas Escrituras”
66
A Origem do nome ‘Jesus’
Pagã?
Como é que surge então o nome pelo qual quase toda a cristandade conhece o
Salvador – ‘Jesus’ – e como é que este nome se conjuga com as Escrituras?
Sabemos que ‘Jesus’ provém do grego ‘Iesous’ que por sua vez é, supostamente,
a transliteração para grego do nome ‘Yeishua’. Como o grego não tinha o som ‘sh’
o nome foi transliterado como ‘Iesous’ (cuja pronunciação em grego de acordo com
Strongs era ‘EE AY SOUCE’).
Assim, devido à influência aramaica o Nome YEHOSHUA/YAHUSHUA foi
encurtado para YEISHUA.
Mas então é caso para perguntar se ‘Iesous’ é a transliteração de ‘Yeishua’ e visto
que os gregos não tinham o som ‘sh’, porquê ‘Iesous’ e não ‘Iesua’? Ou, se a
transliteração fosse de ‘Iaushua’ porque não ‘Iausua’ em grego? A resposta dada
por muitos é surpreendente, embora polémica.
De acordo com o ‘Dictionary of Christian Lore and Legend’ as terminações gregas
‘sus’, ‘seus’ e ‘sous’ são pronunciações fonéticas de Zeus e eram atribuidas pelos
gregos a nomes de pessoas e locais. Assim, como exemplo, temos: ‘Parnassus’,
uma montanha sagrada na Grécia, o deus do vinho e filho de Zeus, ‘Dyonisus’68, a
divindade grega da saúde ‘Ieusus’ (muito semelhante a ‘Iesous’ ou à sua versão
latina ‘Iesus/Jesus’).
Ao transliterar o nome dos profetas, o mesmo se passou: EliYAHU (O Meu El é o
próprio YAH) passou a Elias (o meu El é s...) e Elisha (O Meu El é Salvação)
passou a Eliseus (o meu El é Zeus).
Estas transliterações eram tão frequentes que mais tarde serviram de base à
definição das regras de transliteração do hebraico para o grego, segundo as quais,
sempre que uma palavra hebraica termina em ‘ah’ ou ‘ua’ passa para grego como
‘s’, ‘sus’, ‘zus’ ou ‘us’.
De acordo com a ‘Encyclopedia Britannica’, o nome ‘Ieusus’ (Jesus) resulta da
combinação dos nomes de duas divindades míticas, IEU e SUS (Zeus). Nas
mitologias gnósticas e gregas trata-se na realidade da mesma divindade. No
gnosticismo, Ieu é descrito como sendo o homem primário, rei das luminárias que
desce às trevas do mundo material para voltar a ressurgir. Muito semelhante ao
papel do próprio Cristo.
O ‘Greek-English Lexicon’ de Liddel e Scott e o ‘Greek-English Lexicon’ de Bauer,
ambos afirmam que “Jesus (Iesous) é a forma masculina Iónica da deusa grega da saúde,
‘Iaso’”. Encontramos ainda:
68
Em português ‘Dinonísio’.
“Jesus: na realidade chamado Jehoshua. Iesous (grego), Iesus (latim) é uma adaptação do
grego, possivelmente do nome da deusa da Saúde Ieso (Iaso)” (Bux and Shone, Worterbuch
der Antike, Tradução livre)
O Dr. Koster no seu livro ‘The Final Reformation’ confirma isto e demonstra ainda
que a forma abreviada de ‘Iesous’ é ‘Ies’ que se escrevia IHS ou ‘IHS’ que, por sua
vez era já o nome mistérico do deus solar Bacus (tambem Tamuz, Dionisio ou
Osiris). O símbolo da ‘Companhia de Jesus’ (vulgo ‘Jesuítas’) apresenta esta sigla
dentro de um sol:
A ‘Encyclopedia Britannica’ afirma ainda que ‘Esus’ (celta para ‘Senhor’ ou
‘Mestre’) era uma das três mais poderosas divindades celtas mencionadas pelo
poeta romano Luciano no Séc.I d.C. As vítimas sacrificiais de Esus eram
apunhaladas e penduradas numa árvore. Esus identificava-se com o deus romano
Hermes e era a divindade principal da cidade de Paris. O seu nome era usado para
formar títulos pessoais. Através da adição da letra ‘I’ e mais tarde da letra ‘J’ ao
nome desta divindade, obtemos o nome ‘Iesus/Jesus’ também ele anunciado como
parte de uma trindade. Todas estas semelhanças facilitaram a assimilação do
cristianismo por parte dos adoradores celtas de Esus.
Ou Não?
No entanto, apesar de sustentada por inúmeros estudiosos e académicos, esta
explicação é algo polémica. Dizer que uma palavra provém de outra simplesmente
porque se lhe assemelha foneticamente é forçar um tanto ou quanto a nota e
poderá não corresponder à verdade. Na realidade, o nome ‘Yeishua’ transliterado
para grego e o nome da divindade máxima dos gregos, Zeus, não se assemelham
minimamente quando transpostos à escrita.
Zeus escrevia-se DIOS ou dios (e lia-se ‘Dios’69 ou ‘Dzios’)70
Iesous escrevia-se IHSOUS ou Ihsouv
69
Que tem a mesma origem, isso sim, da palavra portuguesa ‘Deus’.
Alternativamente, Zeuv que se pronunciava da mesma forma e igualmente não tem qualquer semelhança
com a forma de escrever Iesous.
70
Como já dissemos acima, devido à influência aramaica o Nome
YEHOSHUA/YAHUSHUA foi encurtado para YEISHUA. Isto é nítido nas próprias
Escrituras: em Números 13:16 e Juízes 2:7 o nome aparece como Yehoshua
(masorético) mas em Neemias 8:17, já pós cativeiro, portanto, o mesmo nome
aparece como Yeishua.
Outro argumento contra a derivação do nome ‘Iesous’ de nomes de divindades
pagãs é o facto de os tradutores da LXX (rabinos judaicos) terem traduzido nomes
equivalentes ao de Yeishua (por exemplo nas três passagens acima indicadas)
para ‘Iesous’ ao transliterarem o nome original do hebraico para o grego cerca de
250 anos antes do próprio Cristo. Sempre que o seu nome aparece na LXX
aparece sistematicamente como Ihsouv (Iesous). Assim, quando Yeishua nasce, já
a forma de transliterar o seu nome (como então se dizia) para grego estava mais
que estabelecida. A razão de ser desta transliteração tem a ver com o facto de,
conforme já foi explicado acima, nesta altura, o nome Yehoshua/Yahushua se
pronunciar Yeishua.
Isto não significa, no entanto, que não exista uma ligação entre as terminações
nominativas em ‘S’ no grego antigo e o nome da sua divindade principal grega,
Zeus. Vários estudiosos defendem esta ideia. A ser verdade ela seria uma regra
formativa da lingua grega que estaria há muito estabelecida aquando da tradução
da Septuaginta e à qual seria impossível escapar. Outra coisa que parece ser
incontestável é a aplicação ao nome do Cristo das mesmas iniciais já usadas para
o deus solar Baco – IHS. Que a semelhança fonética entre as transliterações
gregas e latinas de Yeishua e os nomes de várias divindades pagãs tenham
facilitado a sua absorção por povos pagãos e mesmo a sua assimilação em cultos
pagãos também parece incontestável. O mesmo se diz da descrição da sua missão
– o deus que desce à terra em forma de homem para morrer e voltar a renascer.
É interessante, no entanto, que existe alguma evidência que sugere que muito
embora o nome Yeishua fosse escrito em grego como Ihsouv (Iesous), ele seria
pronunciado, pelo menos numa fase inicial, da mesma forma que um hebreu o
faria. Por volta do ano 178 d.C. um pagão de nome Celsus deixou-nos registos
escritos dos seus debates com cristãos. Num desses textos e referindo-se a esses
cristãos, ele diz-nos:
“...eles assumem que por pronunciar o nome do seu mestre, que ficam blindados contra os
poderes da terra e do ar. E são bastante insistentes quanto à eficácia do nome como um meio
de protecção: pronunciem-no de forma incorrecta, dizem eles, e é ineficaz. Grego e latim
não servem; deve ser dito numa lingua bárbara para que funcione. Tolos como são,
encontramo-los frente a uma estátua de Zeus ou Apolo ou de qualquer outro deus, gritando,
‘vejam: eu blasfemo-o e bato-lhe mas é impotente contra mim pois sou cristão’.” (“Celsus
on the True Doctrine, A Discourse Against the Christians”, tradução livre)
Sem advogar a posição aqui descrita por Celsus que era assumida por estes
cristãos e que me parece de origem gnóstica, segundo a qual o nome do Messias
possuiria algum poder intrínseco em si mesmo, é no entanto de salientar o facto de
que, pelo menos alguns cristãos cuja lingua nativa seria o grego ou o latim,
pronunciariam o seu nome de acordo com a forma hebraica/aramaica (que para os
gregos ou romanos eram linguas bárbaras) apesar de o escreverem da forma
grega Ihsouv (Iesous).
Isto leva-nos a concluir que a incapacidade de transliteração do nome existia
apenas ao nível do alfabeto grego mas não implicava que pessoas de lingua grega
não fossem capazes de pronunciar o nome na sua forma hebraica ou aramaica. O
alfabeto grego é que, por não possuir determinados sons, se via impossibilitado de
fazer uma transliteração muito aproximada do original. Vejamos então como é que
Yeishua passou a Iesous e mais tarde a Jesus:
ewvy - Yeishua
IESHUA
O ‘Yod’ não tem equivalente em grego e é transliterado juntando um
‘Iota’ e um ‘Eta’ – IE (lê-se ‘ee-ay’ ou ‘yay’).
IESHU
A terminação ‘A’ perde-se uma vez que não existe em grego um
caracter equivalente ao ‘Ayn’ (e) hebraico e é impróprio que um nome
masculino termine com uma vogal no grego.
IESOU
O som ‘sh’ perde-se pois o ‘Shin’ não tem caracter correspondente na
lingua grega e passa a ser transliterado por um sigma e o ‘Waw’ é
transliterado para omicron-upsilon – ‘OU’ (lê-se ‘U’).
IESOUS
O ‘S’ é acrescentado como terminação nominativa (indicando um
nome masculino71). Versão final grega.
IESUS
Ao transliterar do grego para o latim, o nome perde o ‘O’ mas
pronuncia-se da mesma forma. Versão final latina.
JESUS
‘I’ substituído por ‘J’ que inicialmente se lia ‘I’.
O nome grego IESOUS - pronunciado ‘Ee-ay-sooce’72 – foi assim o nome pelo
qual o Messias se tornou conhecido nas congregações gentias durante cerca de
400 anos. Com esta transliteração, não só perdeu todo o seu significado como
também 75% do seu valor fonético. Quando, a partir do Séc. IV d.C. o latim
assume a predominância e a Palavra de Deus é traduzida para esta lingua com a
Vulgata Latina, é a versão latina do nome do Cristo – IESUS – que domina na
cristandade durante mais de 1000 anos.
Quando, em 1384, John Wycliffe traduz o Novo Testamento para inglês usando
como única fonte a Vulgata Latina, ele mantém a versão latina apresentando o
Nome do Salvador como IESUS. Em 1526 quando William Tyndale traduz a Bíblia
servindo-se quer da Vulgata Latina quer de alguns manuscritos gregos ele já
71
Com possíveis origens pagãs.
Não deixa de ser curioso que, em holandês, onde o ‘J’ ainda assume o valor de ‘I’, o nome se pronuncie
precisamente como em grego, ou seja, ‘Ee-ay-sooce’, apesar de se escrever tal e qual como em português –
‘Jesus’.
72
apresenta o nome como JESUS, sendo que, no entanto, o nome mantinha o
mesmo valor fonético de IESUS pois o ‘J’ pronunciava-se ‘I’. A KJV de 1611
apresenta o nome IESUS e é só na edição de 1629 que este é substituido por
Jesus mas numa altura em que a pronúncia do ‘J’ alternava ainda entre o actual ‘J’
e o ‘I’.
Este nome, no entanto, tal como hoje se pronuncia não só não tem nenhum
significado como está completamente divorciado do próprio valor fonético do
verdadeiro nome do Salvador.
O nome ‘Jesus’ é fruto de transliteracões do aramaico para o grego, do grego para
o latim e, finalmente, do latim para todas as linguas actuais. O que serviu de base a
todo este percurso foi uma lingua – o grego – que, devido à incapacidade do seu
alfabeto em reproduzir determinados sons do hebraico e aramaico, produziu uma
transliteração muito deficiente. Foi nesta transliteração deficiente de Yeishua para
Iesous que depois se basearam todas as outras. Ora, o nome de uma pessoa é
algo que deve soar de forma idêntica independentemente da lingua em que é
pronunciado. Ainda que um determinado alfabeto tenha dificuldades em transliterar
de forma correcta como aconteceu com o grego, nada obsta a que pronunciemos
o nome Yeishua de forma correcta. É apenas uma questão de vontade.
Considerações Acerca da Lingua Grega
Há, no entanto, outro aspecto a considerar. A Judeia do 1º século era, à
semelhança das outras terras circundantes, um local multicultural e onde
prevaleciam várias linguas. Enquanto o hebraico era a lingua litúrgica e o aramaico
a lingua do dia a dia, o grego era a lingua administrativa, de comércio e da
literatura. Isto significa que os judeus da Judeia eram, de uma maneira geral,
minimamente fluentes em grego.
Pieter Van Der Horst, numa edição da prestigiada revista ‘Biblical Archaeological
Review’ diz o seguinte a respeito de uma série de ossuários encontrados na antiga
Judeia:
“Naturalmente que na Palestina seria de esperar encontrar mais hebraico e aramaico e menos
grego. Isto é verdade mas não por aí além. Mesmo na Palestina, aproximadamente dois
terços destas inscrições [nos ossuários] estão em grego.
“Aparentemente para uma grande parte da população judaica a língua diária era o grego,
mesmo na Palestina. Isto é um testemunho impressionante do impacto da cultura helénica
em judeus no seu país de origem, para já não falar da diáspora.
“Na própria Jerusalém cerca de quarenta porcento das inscrições judaicas do período do
primeiro século (antes de 70 d.C.) estão em grego. Podemos assumir que a maioria dos
judeus de Jerusalém que viam as inscrições in situ eram capazes de as ler.
“O grande rabi Judá ha-Nasi, o compilador da Mishna (uma colecção de leis orais
judaicas)... foi sepultado em Beth She-arim; a maioria do judeus zelosos que queriam ser
sepultados com ele em Beth She-arim tiveram as suas inscrições funerárias escritas em
grego.
“Isto não significa que o hebraico e o aramaico tenham morrido por completo como línguas
dos judeus. Sobretudo na diáspora oriental [Babilónia], continuaram a falar uma língua
semita. Mas, nos primeiros cinco séculos da era corrente, precisamente o período em que a
literatura rabínica estava a ser escrita em hebraico e aramaico, a maioria dos judeus na
Palestina e na Diáspora ocidental falavam grego.” (“Jewish Funerary Inscriptions – Most are
in Greek”, Pieter W. Van Der Horst, BAR, Set-Out de 1992)
Isto não é propriamente surpreendente pois foi precisamente a influência helénica
introduzida por Alexandre Magno em 330 a.C. que conduziu à revolta dos
Macabeus em 132-135 a.C. Esta influência nunca desapareceu inteiramente
integrados que estavam no império romano.
As seguintes passagens revelam precisamente a coexistência na Judeia de então
de diferentes comunidades judaicas que falavam linguas diferentes:
“Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos
contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano.” (At
6:1)
“E falava ousadamente no nome do Senhor Jesus. Falava e disputava também contra os
gregos, mas eles procuravam matá-lo.” (At 9:29)
Estes gregos ou ‘helenistai’ não eram gregos mas sim judeus helenizados que,
mesmo na Judeia, falavam grego no seu dia a dia e frequentavam sinagogas onde
a língua usada era o grego e onde se lia da Septuaginta grega. Não deixa de ser
curioso que os nomes dos sete homens incumbidos de resolver o problema
referido em Atos 6:1, sejam gregos.
Joseph A. Fitzmeyer diz, noutro artigo do mesmo número da Biblical Archaeological
Review:
“Estes helenistai falariam pouco, se algum, hebraico ou aramaico. Isto é sugerido por uma
referência em Filipenses 3:5 onde Paulo firmemente se refere a si próprio como um ‘hebreu
de hebreus’. Paulo também falava grego. Assim, helenistai,... é provavelmente a designação
daqueles judeus de Jerusalém ou judeus cristãos que habitualmente falavam apenas grego (e
por essa razão eram mais afectados pela cultura helénica), enquanto que hebraioi designava
aqueles judeus e judeus cristãos que, para além do grego, falavam também uma língua
semita, provavelmente o aramaico...” (“Did Jesus Speak Greek?”, Joseph A. Fitzmeyer,
mesmo nº da BAR)
Por outro lado e apesar de tudo isto, é sobejamente conhecida a resistência que
muitos dos judeus da Judeia (ou Palestina) colocavam a toda e qualquer tentativa
de helenização sobretudo após a revolta dos Macabeus e isto incluía a adopção da
lingua grega. Como se isto não bastasse, a lingua grega era bastante difícil de
dominar mesmo para um judeu com altos graus académicos que a havia estudado
desde a sua meninice mas cuja lingua de origem fosse o aramaico73. Dois
exemplos disto são o historiador judeu Flávio Josefo e o próprio Paulo. Vejamos as
origens de cada um, começando por Josefo:
“A família da qual descendo não é ignóbil mas descende desde sempre dos sacerdotes... é
uma indicação do explendor de uma família. Ora eu não só descendo de uma família
sacerdotal... mas do primeiro dos vinte e quatro cursos... e também sou da família chefe
desse primeiro curso; pela minha mãe sou de sangue real... [essa família] tem
simultaneamente o cargo do sumo sacerdócio e a dignidade de um rei... Mais, quando era
criança e tinha cerca de quatorze anos de idade, fui louvado por todos pelo amor que tinha
aos estudos, razão pela qual os sumo sacerdotes e principais homens da cidade vinham
frequentemente ter comigo em conjunto para saber a minha opinião acerca do entendimento
exacto dos pontos da lei. (The Life of Flavius Josephus, 1:1-2; Tradução livre)
“...quando chegámos a Roma Vespasiano tomou conta de mim pois deu-me um apartamento
na sua própria casa na qual vivia antes de ser imperador. Também me honrou com o
privilégio de cidadão romano e deu-me uma pensão anual e continuou a respeitar-me até ao
fim da sua vida sem nunca diminuir a sua gentileza para comigo,o que me tornou invejado e
me trouxe algum perigo.” (The Life of Flavius Josephus, 1:76; Tradução livre)
Flávio Josefo dá-nos aqui um resumo orgulhoso da sua vida. Por aqui vemos que
era um estudioso, um académico por natureza e que chegou a habitar em Roma
em casa do então futuro imperador Vespasiano. Apesar de não com tanto detalhe,
Paulo também tem algumas coisas em comum com Josefo e que deixa
transparecer nas suas cartas.
“3 Quanto a mim, sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade [Jerusalém] criado
aos pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zeloso de Deus,
como todos vós hoje sois.” (At 22:3)
“27 E, vindo o tribuno, disse-lhe: Dize-me, és tu romano? E ele disse: Sim. 28 E respondeu
o tribuno: Eu com grande soma de dinheiro alcancei este direito de cidadão. Paulo disse:
Mas eu o sou de nascimento.” (At 22:27-28)
Com base nestes dois testemunhos seria incompreensível que nenhum destes
homens falasse grego. Flávio Josefo, porventura, com um domínio até muito
superior ao de Paulo. Porém, vejamos o que cada um nos diz ou dá a entender
acerca da sua fluência nesta lingua, começando mais uma vez por Josefo:
“Envidei um grande esforço para obter os ensinamentos dos gregos e compreender os
elementos da lingua grega, no entanto, acostumei-me de tal forma a falar a nossa própria
lingua que não consigo pronunciar o grego com exactidão suficiente; pois a nossa nação não
encoraja aqueles que aprendem as linguas de muitas nações...” (Antiguidades dos Judeus
20.11.2; Tradução livre)
Aqui vemos Josefo, um homem claramente orgulhoso da sua proveniência e ainda
mais dos seus feitos, a admitir que o seu domínio da lingua grega, apesar da sua
vasta experiência com ela, era tudo menos perfeito, pelo menos no que toca à
73
O mesmo não se passava com os judeus helénicos. Esses tinham dificuldades com o aramaico e adoptaram a
Septuaginta (o chamado AT em grego) que nunca foi bem visto pelos rabis da Judeia.
pronúncia, e também a dar testemunho que, na Judeia, o estudo de línguas
estrangeiras não era encorajado. Apesar disto, a sua escrita é superior a qualquer
do chamado Novo Testamento (com excepção talvez do evangelho de Lucas que
anda muito próximo). De qualquer das formas, se Josefo, um homem claramente
excepcional, tinha estes problemas, é fácil supor que os seus contemporâneos
também tivessem e até em maior grau. Ao contrário de Josefo, Paulo, apesar de
academicamente superior a qualquer dos outros apóstolos, admitidamente
necessitava de ajuda para escrever as suas cartas em grego:
“Eu, Tércio, que esta carta escrevi, vos saúdo no Senhor.” (Rm 16:22)
“21 Saudação da minha própria mão, de Paulo. 22 Se alguém não ama ao Senhor Jesus
Cristo, seja anátema. Maranata74!” (1Co 16:21-22)
“Saudação da minha própria mão, de mim, Paulo, que é o sinal em todas as epístolas; assim
escrevo.” (2Ts 3:17)
“Vede com que grandes letras vos escrevi por minha mão.” (Gl 6:11)
Esta última passagem claramente nos dá a entender que quando um texto grego
era escrito pela mão de Paulo, a sua caligrafia era como a de uma criança pequena
que só é capaz de desenhar caracteres grandes. As anteriores dão-nos a entender
que ele habitualmente escrevia apenas a saudação final.
Por outro lado, até o próprio Josefo, que escreveu ele próprio as suas obras em
grego, o fez primeiro em aramaico, uma vez que tinha mais facilidade em
orquestrar as ideias, e só depois as transpôs para grego. Infelizmente as suas
primeiras versões em aramaico não chegaram até nós.
“Para benefício daqueles que vivem debaixo do governo dos romanos, eu propús a mim
próprio traduzir aqueles livros para a lingua grega, que eu tinha antes escrito na lingua do
nosso país...” (Prefácio de Guerras contra os Judeus, 1:1-2; Tradução livre)
Ora se até Josefo procedeu desta forma, não é então de supôr que os escritores
do NT tivessem feito o mesmo? Isto, acompanhado de muitos aramaicismos e
incoerências e divergências entre os inúmeros fragmentos em grego quando
comparados com a exactidão da Peshitta é a razão pela qual muitos, entre os
quais eu próprio, pensam que o NT foi primeiro escrito em aramaico e só depois
traduzido para grego, o que resultou em inúmeros erros de tradução.
Depois deste grande parêntesis para tecer estas considerações é altura de
especular um pouco acerca da forma como os próprios discípulos se refeririam a
Yeishua quando falavam dele a gregos, judeus helénicos, romanos ou a quaisquer
outros povos que não falassem aramaico. Consideremos por um lado que por esta
altura, a transliteração do nome Yeishua para grego como Iesous estava há muito
estabelecida mas consideremos também que isso não implicaria necessariamente
o seu uso em lingua corrente. O que quero dizer com isto? Se transposermos as
coisas para os nossos dias, todos nós sabemos que o nome ‘João’ se transpõe
74
“Maranata” – aramaico que significa ‘que o Senhor venha’.
para inglês como ‘John’, para francês como ‘Jean’ ou para espanhol como ‘Juan’,
porém isso significa que quando falamos com um inglês com esse nome o
tratamos pela versão portuguesa do seu nome? Ou não que será que tentamos
aproximar-nos do original dizendo ‘John’? É evidente que é a última opção.
Porém, a realidade dos nossos dias não é a mesma da Judeia do 1º século. Era
frequente, sobretudo quando se tinha a cidadania romana, as pessoas terem o seu
nome aramaico mas também terem um nome latino pelo qual eram tratadas entre
os romanos e gregos. Esse nome não era necessariamente a transliteração do seu
nome aramaico mas sim um nome autónomo porém foneticamente aproximado.
Colossenses 4:11 fala-nos de um homem de nome Yeishua (não o Messias) mas
que tinha simultaneamente o nome latino de ‘Justus’, porém, o exemplo mais
conhecido é o de Saulo ou Paulo.
Muitos pensam que após a conversão de Saulo, Deus mudou o seu nome para
Paulo à semelhança do que fez, por exemplo, quando mudou o nome de Abrão
para Abraão. Nada mais falso.
“Todavia Saulo, que também se chama Paulo, cheio do Espírito Santo...” (At 13:9)
Esta passagem fala-nos deste homem já depois da sua conversão e claramente
nos diz que ele tinha estes dois nomes. O próprio Yeishua, quando falou com ele
na célebre visão na estrada para Damasco, teria falado com ele na língua que era
comum a ambos – o aramaico – e, como tal, tratou-o por Saulo:
“Caímos todos no chão, e eu ouvi então uma voz que me dizia em aramaico75: ‘Saulo,
Saulo! Por que me persegues?” (At 26:14 PC)
‘Shaul’ (‘Sha-ool’) – transliterado para português como ‘Saulo’ – era o seu nome
aramaico, enquanto ‘Paulus’ (transliterado para português como ‘Paulo’) era o
nome em latim pelo qual era conhecido entre os gregos e romanos76. O livro de
Actos apresenta inúmeras referências a Saulo quando o vemos num contexto
primariamente hebraico/aramaico (na Judeia, por exemplo, ou entre os apóstolos)
e outras tantas referências a Paulo quando este se encontra num contexto
primariamente grego. As suas cartas, escritas que são a comunidades na diáspora
cuja lingua primária era o grego, apresentam exclusivamente o nome Paulo.
Esta alternância no uso quer de um nome quer de outro relativamente à mesma
pessoa permite-nos concluir que, muito provavelmente, os próprios discípulos
usariam o nome ‘Iesous’ quando anunciavam o evangelho a comunidades de
lingua grega, e o nome ‘Yeishua’ quando o faziam a comunidades de lingua
aramaica.
75
O que consta nos manuscritos e em muitas versões como a JFA é ‘hebraico’, porém, tal não se refere à
lingua hebraica mas sim à lingua dos hebreus que, nesta altura, era o aramaico. Os comentários são unânimes
quanto a isto e a Versão Português Corrente aqui reproduzida faz a opção correcta ao colocar ‘aramaico’.
76
Quando se era cidadão romano tinha de se ter dois nomes mais um apelido latinos. No artigo “You Shall
Call His Name Yeshua”, Glen Penton afirma que ‘Paulus’ era o apelido latino de Shaul e não o seu primeiro
nome, porém não explica em que baseia tal afirmação.
O Messias curou o filho de um centurião romano (Mat.8:8); gregos dirigiram-se a
Filipe pedindo para ver o Messias (João 12:20); o próprio Messias falou com uma
mulher sirio-fenícia que é descrita como helenis (Mar.7:26); e ele próprio conversou
com Pilatos. Todos estes diálogos teriam muito provavelmente tido lugar em grego,
(apesar de não num grego perfeito por tudo o que vimos acima) apesar de ser
possível que estas pessoas falassem algum aramaico. Não temos ainda qualquer
referência ao uso de um intérprete nestes diálogos. Dois dos seus discípulos –
André e Filipe – só nos são conhecidos pelos seus nomes gregos, mesmo na
Peshitta aramaica77. Assim sendo, como é que todas estas pessoas se teriam
referido ao Cristo, como Yeishua ou como Iesous? É evidente que não temos como
saber ao certo mas há no meu entender fortes probabilidades de terem usado a
versão grega do seu nome – Iesous – sendo mesmo possível que ele próprio
usase essa versão grega ao dirigir-se a uma audiência grega.
Pelo mesmo motivo, creio que há fortes probabilidades dos romanos terem
transliterado o nome ‘Yeishua’ para grego e latim na placa que colocaram por cima
da cruz, ao invés de terem usado a versão aramaica do seu nome em todas as
linguas.
Hebraico:
Grego:
Latim:
Yeishua HaNetzeret V’Melech HaYehudim
Iesous ho Nazoraios ho Basileus ton Ioudaion
Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum
A todo este raciocínio porém podemos contrapôr o testemunho de Celsus acima
transcrito, segundo o qual pelo menos alguns grupos de crentes gregos se
refeririam ao Salvador pelo seu nome aramaico. Até que ponto é que isto se
aplicaria a todos os crentes de lingua grega, porém, não está claro.
Seja Como For...
O anti-semitismo prevalecente entre os gentios que queriam um salvador mas não
um salvador judeu contribuiu grandemente para a substituição e distorção do Nome
do Cristo. As Boas Novas começaram a ser helenizadas para serem mais bem
aceites pelos não judeus.
Hoje todos conhecem o Salvador pelo nome adulterado de ‘Jesus’ e poucos o
conhecem pelo Seu Nome original – ‘Yeishua’.
Na realidade, é muito pouco relevante se o nome ‘Jesus’ provém ou não de ‘Zeus’,
palavra com a qual tem, na verdade, uma grande afinidade fonética. A questão não
é se o nome ‘Jesus’ é ou não de origem pagã. A questão também não é a forma
como se translitera ‘Yeishua’ para grego ou para latim e também não é como
transliterar de latim para português. A questão é como transliterar de hebraico para
português.
77
Ver João 12:22 em que numa passagem escrita por um judeu (João) em aramaico, ele se refere a
conterrâneos seus (André e Filipe) pelos seus nomes gregos.
O nome ‘Jesus’ resulta de uma transliteração do latim para o português que por
sua vez resulta de uma do grego para o latim que tem na sua origem outra do
aramaico para o grego, transliteração essa que foi tudo menos perfeita. Ao chegar
a ‘Jesus’ o nome não só perdeu o seu significado como perdeu a totalidade da sua
sonoridade.
Pessoalmente, embora e ao contrário de alguns, não considere grave o uso do
nome ‘Jesus’, julgo ser muito mais apropriado usar o seu nome aramaico ‘Yeishua’.
Não só este nome revela a natureza hebraica do nosso salvador como ainda revela
respeito da nossa parte. Afinal, se por uma questão de respeito nos esforçamos
por pronunciar correctamente os nomes estranjeiros de outros seres humanos,
muito mais respeito devemos àquele que fez o derradeiro sacrifício por nós.
Convém ressalvar um outro factor também ele importante. Cada vez mais, nas
últimas décadas se tem vindo a assistir à conversão de um cada vez maior número
de judeus. Algo que está amplamente documentado é que a sua receptividade a
um Messias judeu chamado Yeishua, que viveu na Judeia e cumpriu a Tora, é
muito maior do que se lhes for anunciado um ‘Jesus’ em nome de quem têm sido
perseguidos e mortos durante séculos. Para a grande parte da comunidade judaica
‘Jesus’ representa martírio e representa alguém que, segundo a cristandade, veio
abolir a Tora.
David ben Carmel, um rabi messiânico de origem judaica, após se exaltar um
pouco depois de alguém lhe escrever num fórum público usando o nome ‘Jesus’,
pediu desculpa da seguinte forma:
“Odeio o nome que foi usado para matar tantos judeus, para torturar tantos, para trazer
sofrimento indescritivel a geração após geração do meu povo. Por essa razão posso-me
tornar um pouco emocional por vezes.”
Avi ben Mordechai, outro crente de origem judaica, professor das Escrituras e autor
de vários livros, tem estes dois slides numa das suas apresentações:
Para a comunidade judaica de uma maneira geral e quer isso nos agrade quer não,
‘Jesus’ e ‘Yeishua’ representam duas ideias completamente opostas.
Por outro lado, os crentes de origem não judaica, têm vindo a demonstrar em
crescentes números um cada vez maior apego às raízes hebraicas da sua fé e a
adoptar cada vez mais o nome original do nosso salvador.
O nome ‘Jesus’ pode construir muros, o de ‘Yeishua’ constroi pontes.
O Nome do Messias nas Escrituras
Será que conseguimos encontrar o nome do Messias nas profecias das Escrituras
hebraicas (vulgo ‘Antigo Testamento’)? Claro que sim...
“Certamente o Senhor IAHUEI não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos
seus servos, os profetas.” (Am 3:7)
Creiamos na Sua Palavra...
Paulo diz-nos em 1Tess. 5:21 para examinarmos tudo e de acordo com Amós 3:7
deveremos ser capazes de, recorrendo aos escritos dos profetas, ser capazes de
responder à pergunta do profeta Agar em Provérbios 30:4.
“Qual é o seu nome [do Pai]? E qual é o nome de seu filho, se é que o sabes?” (Pv 30:4)
O apóstolo Pedro diz-nos:
“...nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (At 4:12)
Ora se há apenas um nome pelo qual podemos ser salvos então certamente que
esse nome foi revelado aos profetas, conforme está escrito em Amós 3:7!
O próprio Yeishua nos diz:
“...são elas [as Escrituras hebraicas] que de mim testificam;” (Jo 5:39)
Vejamos então o que estas Escrituras nos dizem acerca do único Nome pelo qual
somos salvos....
“YAH é a minha força e o meu cântico; e se fez a minha salvação.” (Sl 118:14)
De acordo com Strong a palavra ‘salvação’ é a palavra #3444 – ‘Yeshuah’. Este
texto diz-nos então:
“YAH é a minha força e o meu cântico; e se fez a minha Yeshuah.” (Sl 118:14)78
Temos então a ‘Yeshuah de YAH’. Combinadas as palavras de acordo com o
costume hebraico para a formação dos nomes obteriamos Yahushua (salvação de
YAH).
78
Ver também Êx.15:2 e Isa. 12:2. Este último texto tem a curiosidade de apresentar a forma curta do Nome
com a forma completa – ‘YAH YAHWEH é a minha força...’.
O nome ‘Yahushua’ tem um significado vital: ele é a ‘Salvação de IAHUEI’. ‘Jesus’
por seu lado é desprovido de qualquer significado. ‘Yeishua’, a forma aramaica
mais curta, por seu lado, significa ‘Ele é Salvação’ ou ‘Ele Salva’.
IAHUEI não faz nada sem que o revele aos profetas (Amós 3:7) e também não
muda (Mal.3:6) nem altera nada do que saiu dos seus lábios (Salmo 89:34).
IAHUEI transmitiu o Seu Nome aos profetas e não o alterou, mas o homem fê-lo,
transgredindo assim o terceiro mandamento.
Joel disse:
“E há de ser que todo aquele que invocar o nome de IAHUEI será salvo...” (Jl 2:32)
Pedro confirma isto:
“...nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (At 4:12)
Portanto só há um nome que traz salvação – IAHUEI!!!
“Porque eu sou IAHUEI teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador...” (Is 43:3 )
“Eu, eu sou IAHUEI, e fora de mim não há Salvador.” (Is 43:11 )
“O nosso redentor cujo nome é IAHUEI dos Exércitos, é o Santo de Israel.” (Is 47:4)
“...eu sou IAHUEI, o teu Salvador, e o teu Redentor...” (Is 49:26 )
“...eu sou IAHUEI, o teu Salvador, e o teu Redentor...” (Is 60:16 )
Todas estas passagens (e muitas mais) estão de acordo com Actos 4:12 – Há um
só nome pelo qual podemos ser salvos – e esse nome é IAHUEI! Era IAHUEI que
estava em Yeishua e foi Ele, através do Seu filho, que nos trouxe a salvação.
Consideremos o que é dito nalgumas profecias do Antigo Testamento acerca de
IAHUEI e que se cumpriram em Yeishua:
“Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho de IAHUEI; endireitai no ermo vereda a
nosso Deus.” (Is 40:3)
“12 Porque eu lhes disse: Se parece bem aos vossos olhos, dai-me o meu salário e, se não,
deixai-o. E pesaram o meu salário, trinta moedas de prata. 13 IAHUEI, pois, disse-me:
Arroja isso ao oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles...” (Zc 11:12-13)
“Peso da palavra de IAHUEI sobre Israel: Fala IAHUEI... Mas sobre a casa de Davi, e sobre
os habitantes de Jerusalém, derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para mim,
a quem traspassaram...” (Zc 12:1,10)
Vejamos ainda o que é dito noutras passagens das Escrituras hebraicas acerca do
Messias (identificado como IAHUEI) e comparemo-las com o que é dito acerca de
Yeishua nas Escrituras apostólicas:
“...brotará um rebento [Yeishua] do tronco de Jessé...” (Is 11:1)
“Eis que vêm dias, diz IAHUEI, em que levantarei a Davi um Renovo justo...e este será o
seu nome, com o qual Deus o chamará: IAHUEI JUSTIÇA NOSSA.” (Jr 23:5-6)
“15 Naqueles dias e naquele tempo farei brotar a Davi um Renovo de justiça... e este é o
nome com o qual Deus o chamará: IAHUEI é a nossa justiça.” (Jr 33:15-16)
“...Eu sou o primeiro e o último... Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim, o primeiro e
o derradeiro [Yeishua].” (Ap 1:17; 22:13)
“Quem operou e fez isto, chamando as gerações desde o princípio? Eu IAHUEI, o primeiro,
e com os últimos eu mesmo.” (Is 41:4)
“Assim diz IAHUEI, Rei de Israel, e seu Redentor, IAHUEI dos Exércitos: Eu sou o
primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus.” (Is 44:6)
“Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da
esquina, eleita e preciosa.... E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo [Yeishua]” (1Pe
2:6,8)
“13 A IAHUEI dos Exércitos, a ele santificai; e seja ele o vosso temor e seja ele o vosso
assombro. 14 Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de
escândalo, às duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém.” (Is
8:13-14)
“9 Por isso, também Deus o exaltou soberanamente [a Yeishua], e lhe deu um nome [leiase ‘o nome’]79que é sobre todo o nome; 10 Para que ao nome de Jesus [leia-se ‘dado a
Yeishua’] se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra” (Fp
2:9-10)
“21 ...Porventura não sou eu, IAHUEI? Pois não há outro Deus senão eu; Deus justo e
Salvador não há além de mim... 23 Por mim mesmo tenho jurado, já saiu da minha boca a
palavra de justiça, e não tornará atrás; que diante de mim se dobrará todo o joelho, e por
mim jurará toda a língua.” (Is 45:21, 23)
“Louvem o nome de IAHUEI, pois só o seu nome é exaltado” (Sl 148:13)
“4 Feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que
eles. 5 Porque, a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, Hoje te gerei? Eu lhe serei
por Pai, E ele me será por Filho?” (Hb 1:4-5)
Não se pode herdar algo que não pertença aquele que nos deixa em herança.
Como tal, o Filho herdou do Seu Pai o Nome que é sobre todo o nome, ou seja, o
Nome de Seu Pai – IAHUEI.
79
A versão JFA emprega a palavra ‘um’ mas o que está no grego é ‘o’ o que indica um nome muito específico.
O nome que é sobre todo o nome – IAHUEI. Ver as versões PC e BJ.
“Eu vim em nome de meu Pai...” (Jo 5:43)
“14 Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus [Yeishua]
Cristo, 15 Do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome,” (Ef 3:14-15)
De acordo com esta última passagem, toda a família de IAHUEI toma o seu nome,
logo, podemos ter a certeza que o Filho de IAHUEI tem também esse Nome e não
outro qualquer.
“A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei
sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que
desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome.” (Ap 3:12)
“E olhei, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e
quatro mil, que em suas testas tinham escrito o nome de seu Pai.” (Ap 14:1)
“4 E verão o seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome.” (Ap 22:4)
Vejamos ainda outra passagem que nos indica com muita antecendência qual seria
o nome do Messias vindouro.
Existem uma séria de passagens que nos falam do Messias como um rebento:
“15 Naqueles dias e naquele tempo farei brotar a Davi um Renovo de justiça, e ele fará juízo
e justiça na terra. 16 Naqueles dias Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; e este
é o nome com o qual Deus a chamará: IAHUEI é a nossa justiça.” (Jr 33:15-16)
“1 Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raizes um renovo frutificará. 2
E repousará sobre ele o Espírito de IAHUEI, o espírito de sabedoria e de entendimento, o
espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor de IAHUEI. 3 E
deleitar-se-á no temor de IAHUEI; e não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem
repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos. 4 Mas julgará com justiça aos pobres, e
repreenderá com equidade aos mansos da terra; e ferirá a terra com a vara de sua boca, e
com o sopro dos seus lábios matará ao ímpio, 5 E a justiça será o cinto dos seus lombos, e a
fidelidade o cinto dos seus rins.” (Is 11:1-5)
“5 Eis que vêm dias, diz IAHUEI, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei,
reinará e agirá sabiamente, e praticará o juízo e a justiça na terra. 6 Nos seus dias Judá será
salvo, e Israel habitará seguro; e este será o seu nome, com o qual Deus o chamará: IAHUEI
JUSTIÇA NOSSA.” (Jr 23:5-6)
“Ouve, pois, Josué [Yehoshua], sumo sacerdote, tu e os teus companheiros que se assentam
diante de ti, porque são homens portentosos; eis que eu farei vir o meu servo, o RENOVO.”
(Zc 3:8)
Quando comparamos estas passagens em que um renovo aparece referido e
sempre associado a IAHUEI com esta outra que se segue, podemos ter uma
surpresa:
“11 Toma, digo, prata e ouro, e faze coroas, e põe-nas na cabeça do sumo sacerdote Josué
[Yahushua/Yehoshua], filho de Jozadaque [Yahuzadak/Yehozadak] . 12 E fala-lhe, dizendo:
Assim diz IAHUEI dos Exércitos: Eis aqui o homem cujo nome é RENOVO; ele brotará
do seu lugar, e edificará o templo de IAHUEI.” (Zc 6:11-12)
IAHUEI claramente diz acerca de Yahushua/Yesoshua, filho de Yahuzadak, sumo
sacerdote no tempo de Zacarias, que ali estava o homem cujo nome era o mesmo
que o do Renovo, ou seja, ali estava quem tinha o mesmo nome do Messias
vindouro – Yehoshua/Yahushua (Salvação de IAHUEI)
Baptizar ou Orar em Nome de Quem?
De uma maneira geral as congregações cristãs baptizam em nome do Pai do Filho
e do Espírito Santo. Mas será que esta é a forma correcta de o fazer?
“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho,
e do Espírito Santo;” (Mt 28:19)
De acordo com esta passagem parece que sim, afinal esta passagem ensina-nos a
baptizar no nome do Pai E do Filho E do Espírito Santo.
No entanto, estas outras parecem contradizer a passagem anterior:
“E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus
Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo;” (At 2:38)
“...Levanta-te, e baptiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor.” (At
22:16)
Então em que é que ficamos? Baptiza-se em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo ou baptiza-se em nome de Yeishua?
Há uma única forma de harmonizar estas duas passagens que é através do Nome
IAHUEI.
A Yeishua foi dado o Nome que é sobre todo o nome – IAHUEI – e sabemos
também que nenhum outro Nome há, dado entre os homens pelo qual podemos
ser salvos. O Nome pelo qual nos vem a salvação é o Nome IAHUEI que é
simultaneamente o Nome do Pai e também do Filho.
Então e o Espírito Santo?
“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos
ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” (Jo 14:26)
De acordo com esta passagem o Espirito Santo é enviado no Nome do Filho.
Se baptizarmos no nome de Yeishua (de acordo com Actos 2:38), estamos de facto
a baptizar no Nome do Pai e do Filho e do Espirito Santo pois o Nome de Yeishua
significa precisamente ‘Salvação de IAHUEI’ na sua versão original hebraica, no
entanto, o Nome acima de todo o nome e que foi dado a Yeishua e que é também
o único Nome pelo qual podemos ser salvos é o Nome IAHUEI.
IAHUEI é o único Nome que permite harmonizar o baptismo em nome do Pai E do
Filho E do Espírito Santo com o baptismo em Nome de Yeishua pois é o
denominador comum entre todos eles.
“14 Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus [Yeishua]
Cristo , 15 Do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome” (Ef 3:14-15)
“Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, e cura trará nas suas
asas; e saireis e saltareis como bezerros da estrebaria.” (Ml 4:2)
Porém, esta questão não é assim tão simples. Os argumentos que apresento de
seguida são retirados do livro “Ruach Qadim – Path to Life” de Andrew Gabriel
Roth.
Uma das acusações judaicas contra o cristianismo ou contra o NT em geral é a de
que, ao orarmos em nome de Yeishua estamos a transgredir o primeiro
mandamento – Não terás outros deuses diante de mim. Na realidade, e para
começar é necessário que se entenda que há dois tipos de nomes. Há ‘Nomes’ que
estão imbuídos de poder e ligados directamente a uma promessa de Deus e
também há ‘nomes’ sem qualquer poder que são meras designações humanas.
Quando digo poder não me refiro a nenhum poder intrínseco associado à
pronúncia do mesmo conforme se tornará claro mais adiante. Na realidade, os
‘Nomes’ e os ‘nomes’ podem mesmo parecer e soar de forma idêntica. O que
diverge é a intenção por detrás do seu uso.
Quando IAHUEI dá ou altera um nome, o significado do novo nome aponta para a
promessa que se irá cumprir nessa ou através dessa pessoa. Tomemos como
exemplo o patriarca Abraão.
“3 Então caiu Abrão sobre o seu rosto, e falou Deus com ele, dizendo: 4 Quanto a mim, eis
a minha aliança contigo: serás o pai de muitas nações; 5 E não se chamará mais o teu nome
Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai de muitas nações te tenho posto; 6 E te
farei frutificar grandissimamente, e de ti farei nações, e reis sairão de ti;” (Gn 17:3-6)
Abrão em hebraico significa ‘pai exaltado’ mas Abraão significa ‘pai de muitas
nações’ que foi exactamente o que IAHUEI prometeu que ele seria. Agora vejamos
um episódio interessante com o nome de Abraão:
“5 E pós-se Jeosafá em pé na congregação de Judá e de Jerusalém, na casa de IAHUEI,
diante do pátio novo. 6 E disse: Ah! IAHUEI Deus de nossos pais, porventura não és tu
Deus nos céus? Não és tu que dominas sobre todos os reinos das nações? Na tua mão há
força e potência, e não há quem te possa resistir. 7 Porventura, ó nosso Deus, não lançaste
fora os moradores desta terra de diante do teu povo Israel, e não a deste para sempre à
descendência de Abraão, teu amigo? 8 E habitaram nela e edificaram-te nela um santuário
ao teu nome, dizendo: 9 Se algum mal nos sobrevier, espada, juízo, peste, ou fome, nós nos
apresentaremos diante desta casa e diante de ti, pois teu nome está nesta casa, e clamaremos
a ti na nossa angústia, e tu nos ouvirás e livrarás.” (2Cr 20:5-9)
Num contexto que não poderia ser mais sagrado vemos Jeosafá
(Yehoshafat/Yahushafat) a dirigir-se a IAHUEI por Nome no Templo mas ao
mesmo tempo invocando o nome de Abraão para relembrar a promessa feita ao
patriarca. O judaísmo ortodoxo chama a isto “Yitzkar” que significa “Yah lembrase”. Isto é substancialmente diferente de invocar o nome de um homem como se
de Deus se tratasse. Ao invés disso é uma afirmação nossa ao nosso Deus onde
dizemos:
1.
2.
3.
4.
5.
Ouvi as Tuas palavras;
Compreendi a Tua promessa;
Sei como e através de quem irás realizar essa promessa;
Estou grato por tudo que fizeste pelo Teu povo Israel;
E agora oro em Teu Nome e referindo-me à promessa invocando o nome
que Tu deste ao receptor dessa promessa.
É isto que vemos Jeosafá a fazer no texto acima. A oração em si é no Nome de
IAHUEI mas o pedido é em nome do receptor da promessa. Em hebraico, orar e
pedir são palavras completamente diferentes que nunca se confundem.
Apesar de não ser patente nos manuscritos gregos do NT por razões que já vimos
atrás, na Peshita aramaica, no entanto, sempre que encontramos Yeishua ou, mais
tarde, Paulo, a orar, vemos que o fazem a MarYah que significa ‘Senhor YAH’. Se
eles tivessem querido orar no nome do homem Yeishua, teriam usado o termo
‘Maran’ que significa ‘Senhor’ mas não é isso que os vêmos a fazer. No entanto, e
tal como vimos acontecer com Abraão acima essas orações podem ser dirigidas a
IAHUEI por nome, ao mesmo tempo invocando o nome daquele por quem as
promessas se cumpriram – Maran Yeishua.
O nome Yeishua é simultaneamente um ‘nome’ e um ‘Nome’. É, por um lado, um
nome comum a milhares de pessoas para quem não passa apenas disso, de um
‘nome’ desprovido de qualquer poder ou promessa, mas é também, por outro lado,
o ‘Nome’ separado por IAHUEI para o Seu Messias. Porquê? Simplesmente por
que Yeishua significa “Yah é Salvação” e invocá-lo com a correcta intenção é o
mesmo que invocar o Nome de YAH.
“9 Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o
nome; 10 Para que ao nome de Yeishua se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na
terra, e debaixo da terra, 11 E toda a língua confesse que Y’shua Meshikha é MarYah80,
para glória de Deus Pai.” (Fp 2:9-11)
“Feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que
eles.” (Hb 1:4)
80
Conforme aparece na Peshita aramaica.
Na verdade, um aspecto curioso é que, tanto quanto é do nosso conhecimento, os
nomes dos anjos são formados por conjugações com a palavra ‘Elohim’ (MichaEL,
GabriEL, RafaEL e UriEL81), mas o Nome dado ao Messias pelo próprio IAHUEI, é
muito mais excelente pois contém o Seu próprio Nome – “YAH é Salvação”.
Assim, é lícito:
•
Orar a, e no Nome de IAHUEI apenas.
•
Pedir pelo poder das Suas promessas invocando o nome do meio do seu
cumprimento (Yeishua), mas sempre com o intuito de trazer glória a IAHUEI.
O mesmo se aplica a curas e milagres. Em Actos 4:5-12, judeus que
testemunharam os milagres de Pedro e João quiseram saber em nome de
quem é que eles faziam tais coisas. Não bastava dizer que era pelo poder
de Deus. Eles quiseram especificamente saber o ‘nome’. Pedro diz que foi
pelo nome de Yeishua, o Nazareno, que aquele homem fora curado mas
apressa-se a acrescentar que foi o próprio IAHUEI que o ergueu de entre os
mortos para que pudessemos hoje ter acesso a esse poder. Quando no
vers.12 ele diz que“debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens,
pelo qual devamos ser salvos”, ele não está com isso a dizer que o homem
Yeishua substituiu IAHUEI mas sim e apenas que, para além de Yeishua,
não há qualquer outro Messias eleito por IAHUEI para cumprir as promessas
do próprio IAHUEI. Assim, recorrer ao Nome de Yeishua é reconhecer o
poder de IAHUEI para nos salvar.
•
Baptizar deve ser no Nome do Pai (YAHUEI, que prometeu e se manifestou
na carne na pessoa do Filho), do Filho (Yeishua, que cumpriu as promessas
de YAHUEI) e do Espírito Santo. Conforme dissemos atrás o denominador
comum a todos é o Nome YAHUEI.
Com base em tudo isto a forma como eu pessoalmente me dirijo Deus em oração
é dirigindo-me a YAHUEI pelo Seu Nome (“Senhor YAHUEI, meu Pai...”) mas
encerrando a oração salientando a confiança no Seu Filho Yeishua (“Tudo Te peço
confiado no Teu Filho Yeishua...”).
81
Uriel aparece mencionado no Livro de Enoque e significa “Chama de Deus”.
A Importância dos Nomes Correctos
Uma vez que o Filho herdou o Nome de Seu Pai ou, por outras palavras, uma vez
que o Nome do Pai está nele (Yeishua – Salvação de IAHUEI), este nome
harmoniza todas as Escrituras acerca do Seu Nome quer nas Escrituras hebraicas
quer nas apostólicas.
Rejeitar o nome Yeishua (Salvação de IAHUEI) é rejeitar o verdadeiro nome do
Filho.
“E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus [Yeishua] Cristo...
(1Jo 3:23)
É argumentável que ao adoptar o nome ‘Jesus’ estejamos não só a obliterar o
verdadeiro Nome do Filho como também o do Pai (pois o Seu Nome está nele) e,
consequentemente, a transgredir o terceiro mandamento ao reduzir o Seu Nome a
nada.
IAHUEI atribui uma importância extrema ao Seu Nome. Esse Nome é constituido
pelo próprio IAHUEI como forma de fazer memória Sua ou de O mencionar para
todas as gerações. Ele diz também que é zeloso do Seu Nome e que a honra e
louvor que são devidas ao Seu Nome não as dará a qualquer outro Nome. Como é
evidente isto não se esgota no Nome em si mas é extensível ao seu carácter e
pessoa.
Diz ainda acerca de quem ensina outros nomes que são profetas do engano. Estes
estão em transgressão do terceiro mandamento ao fazer com que as pessoas
esqueçam o Nome de IAHUEI e o troquem por outro qualquer. Estão em
transgressão também do mandamento que proíbe que se adicione ou subtraia o
que quer que seja à Palavra de IAHUEI. IAHUEI também nos diz que no milénio
esta situação será corrigida quando Ele retirar das nossas bocas os nomes de Baal
(o que inclui todos os falsos nomes e títulos indevidamente associados a IAHUEI
em substituição do Seu Nome).
Yeishua está sentado nos céus até ao tempo da restauração de todas as coisas e
entre elas está, certamente, o Nome de IAHUEI conforme já vimos em várias
profecias.
“O qual [Yeishua] convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos
quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio.” (At 3:21)
Tenhamos presente a seguinte passagem:
“...E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou,
muito mais se lhe pedirá.” (Lc 12:48)
Se queremos restaurar nas nossas vidas aquilo que o Espírito de IAHUEI nos vai
revelando conforme está profetizado para o fim dos tempos tenhamos a coragem e
a ousadia de restaurar o uso dos verdadeiros Nomes quer do Pai quer do Filho e
assim ensinar aos homens. Se IAHUEI nos concedeu esse conhecimento temos a
obrigação primeiro de corrigirmos a nossa própria posição e segundo de ensinar
aos outros.
“Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.” (Tg 4:17)
Alegar como alguns fazem que se continue a empregar nomes que estão errados
ou títulos no lugar dos verdadeiros Nomes para que os crentes não estranhem, é
persistir no erro e é contrário à vontade de Deus que quer ser adorado em espírito
e em verdade.
Pensemos em todas as vezes em que já nos enganámos no nome de alguém. O
que é que fazemos depois de sermos corrigidos? Persistimos no erro? Claro que
não, por uma questão de respeito para com a outra pessoa. Lembremo-nos do que
foi dito atrás: IAHUEI não tem em conta os tempos da ignorância. Quando nos
enganamos no nome de alguém estou em crer que ninguém leva a mal quando
sabe que agimos por desconhecimento mas se persistirmos no erro mesmo depois
de sermos corrigidos poderemos mesmo estar a ofender a outra pessoa. Ora se
isto é verdade com pessoas e com nomes desprovidos de significado, quanto mais
não será com IAHUEI e com o Seu Santo Nome do qual Ele é tão zeloso? A partir
do momento em que lemos este trabalho já não podemos alegar ignorância.
Apesar de tudo o que já vimos, muitos poderão ainda alegar que pronunciar um
nome hebraico da forma correcta é algo que apenas pode ser exigido aos que
falam hebraico. Tal não é verdade. Na realidade todo e qualquer nome é
transliterado para outras linguas, ou seja e como já vimos, é escrito de maneira a
reter a pronunciação mais próxima da lingua original. Ariel Sharon é Ariel Sharon
seja em que lingua for. Alegar que apenas os judeus deverão ou poderão
pronunciar o Nome IAHUEI é algo não só desprovido de lógica como contrário às
Escrituras:
“6 E aos filhos dos estrangeiros, que se unirem a IAHUEI, para o servirem, e para amarem o
nome de IAHUEI, e para serem seus servos, todos os que guardarem o sábado, não o
profanando, e os que abraçarem a minha aliança, 7 Também os levarei ao meu santo monte,
e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão
aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os
povos.” (Is 56:6-7)
“Mas desde o nascente do sol até ao poente é grande entre os gentios o meu nome; e em
todo o lugar se oferecerá ao meu nome incenso, e uma oferta pura; porque o meu nome é
grande entre os gentios, diz IAHUEI dos Exércitos.” (Ml 1:11)
“Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o
meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel.” (At 9:15)
“Simão relatou como primeiramente Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo
para o seu nome.” (At 15:14)
Quem usa o argumento de que não é preciso aprender hebraico para ter uma
relação íntima com o Seu Criador esquece três coisas:
1. Conhecer o nome da outra pessoa é algo de fundamental em qualquer
relação que se pretenda íntima;
2. Aprender a pronunciar dois nomes – o do Pai e o do Filho – correctamente
não é propriamente o mesmo que aprender a falar hebraico;
3. Na liturgia cristã usamos regularmente outras palavras hebraicas sem que
nunca niguém tenha levantado quaisquer objecções quanto ao seu uso (e.g.
Aleluia, Amén, Sheol, etc.).
Não deixa de ser curioso que Satanás tenha o seu nome virtualmente intacto em
todas as línguas (apenas com pequenas variações de língua para língua) enquanto
que, na grande maioria das Bíblias dos nossos dias e seja em que língua for, o
Nome do Seu Autor está omisso. Não deixa de ser curioso que até os descrentes
conheçam o nome do Adversário mas que os próprios crentes desconheçam o
Nome do Seu Deus e único Salvador.
Este Nome Glorioso é um Nome que nos está reservado a nós também. IAHUEI,
ao seleccionar um povo está a construir uma família. Yeishua é intitulado o
“primogénito entre muitos irmãos” (Rom. 8:29). Se Ele na qualidade de Filho herdou o
Nome de Seu Pai, nós que também somos Seus Filhos herdaremos igualmente.
IAHUEI está a construir uma família. Se entendermos isto entenderemos as
seguintes passagens e muitas mais:
“E todos os povos da terra verão que é invocado sobre ti o nome de IAHUEI, e terão temor
de ti.” (Dt 28:10)
“22 E falou IAHUEI a Moisés, dizendo: 23 Fala a Arão, e a seus filhos dizendo: Assim
abençoareis os filhos de Israel, dizendo-lhes:
24 IAHUEI te abençoe e te guarde;
25 IAHUEI faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti;
26 IAHUEI sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.
82
27 Assim porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei.” (Nm 6:22-27)
“Porque, como o cinto está pegado aos lombos do homem, assim eu liguei a mim toda a casa
de Israel, e toda a casa de Judá, diz IAHUEI, para me serem por povo, e por nome, e por
louvor, e por glória...” (Jr 13:11)
“Simão relatou como primeiramente Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para
o seu nome.” (At 15:14)
“14 Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, 15 Do
qual toda a família nos céus e na terra toma o nome,” (Ef 3:14-15)
“A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei
sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que
desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome.” (Ap 3:12)
82
Ver também Deut.10:8 e 18:5
“E olhei, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e
quatro mil, que em suas testas tinham escrito o nome de seu Pai.” (Ap 14:1)
“4 E verão o seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome.” (Ap 22:4)
O Nome de IAHUEI deverá ser o nosso Bilhete de Identidade!
E a Igreja Primitiva?
A Missão
“Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste...E eu lhes fiz conhecer o teu
nome, e lho farei conhecer mais...” (Jo 17:6, 26 )
Quererá esta passagem dizer que Yeishua pronunciava e ensinava os Seus
discípulos a pronunciar o nome? Depois de tudo o que já vimos e ressalvando o
facto de ‘nome’ significar mais do que uma mera apelação, a resposta só pode ser
sim. Seria impensável que Yeishua não executasse a vontade de Seu Pai,
honrando o Seu Nome de acordo com todas as Escrituras. Tiago parece confirmar
este entendimento:
“Porventura não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado?” (Tg 2:7)
Estas passagens em João17 são o cumprimento da profecia messiânica do Salmo
22:
“Então declararei o teu nome aos meus irmãos; louvar-te-ei no meio da congregação.” (Sl
22:22)
“2 E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que
governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da
eternidade... 4 E ele permanecerá, e apascentará ao povo na força de IAHUEI, na excelência
do nome de IAHUEI seu Deus...” (Mq 5:2,4)
Se as Escrituras nos profetizavam que o Messias declararia o Nome de Seu Pai
aos homens e o próprio Yeishua afirma tê-lo feito, que razões temos nós para
duvidar?
Para além disto, se atentarmos bem para o versículo 26 de João 17, vemos que
Yeishua nos está a dizer que mesmo depois de subir para o Pai Ele irá novamente
revelar o Seu Nome aos seus discípulos aqui na Terra. Isto conjuga-se
perfeitamente com várias passagens que nos profetizam que no Seu Reino, o povo
de Deus conhecerá o Seu Nome:
“Portanto o meu povo saberá o meu nome; pois, naquele dia, saberá que sou eu mesmo o
que falo: Eis-me aqui.” (Is 52:6)
“Portanto, eis que lhes farei conhecer, desta vez lhes farei conhecer a minha mão e o meu
poder; e saberão que o meu nome é IAHUEI.” (Jr 16:21)
“Porque todos os povos andam, cada um em nome do seu deus; mas nós andaremos em
nome de IAHUEI nosso Deus, para todo o sempre.” (Mq 4:5)
“Porque então darei uma linguagem pura aos povos, para que todos invoquem o nome de
IAHUEI, para que o sirvam com um mesmo consenso.” (Sf 3:9)
“E farei passar esta terceira parte pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a
provarei, como se prova o ouro. Ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo;
e ela dirá: IAHUEI é o meu Deus.” (Zc 13:9)
“Mas desde o nascente do sol até ao poente é grande entre os gentios o meu nome; e em
todo o lugar se oferecerá ao meu nome incenso, e uma oferta pura; porque o meu nome é
grande entre os gentios, diz IAHUEI dos Exércitos.” (Ml 1:11)
“16 E naquele dia, diz IAHUEI, tu me chamarás: Meu marido; e não mais me chamarás:
Meu senhor. 17 E da sua boca tirarei os nomes dos Baalins, e não mais se lembrará desses
nomes.” (Os 2:16-17)
Conjuga-se ainda com Actos 3:21 que nos confirma que Yeishua está sentado nos
céus até ao tempo da restauração de todas as coisas e entre elas está,
certamente, o Nome de IAHUEI.
“O qual [Yeishua] convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos
quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio.” (At 3:21)
Até mesmo e como já vimos, a passagem que nos define o Concerto Renovado de
Cristo (que só se cumpre integralmente no Milénio) afirma-nos claramente que a
primeira consequência de pertencermos ao ‘remanescente salvo de Israel’ (Rom.9:27)
é virmos a conhecer IAHUEI.
“31 Eis que dias vêm, diz IAHUEI, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e
com a casa de Judá. 32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os
tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha aliança
apesar de eu os haver desposado, diz IAHUEI. 33 Mas esta é a aliança que farei com a casa
de Israel depois daqueles dias, diz IAHUEI: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei
no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. 34 E não ensinará mais cada
um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei a IAHUEI; porque todos
me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz IAHUEI; porque lhes perdoarei a sua
maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.” (Jr 31:31-34)
‘Conhecer a IAHUEI’ implica conhecer o Seu Nome!
A Tentação de Yeishua
Ao lermos a narrativa da tentação de Yeishua no deserto há uma coisa que se
torna evidente: Yeishua respondeu sempre às provocações de Satanás citando
passagens das Sagradas Escrituras.
Narrativa de Mateus
“Nem só de pão viverá o homem, mas de
toda a palavra que sai da boca de Deus.”
(Mt 4:4)
“Também está escrito: Não tentarás o
Senhor teu Deus.” (Mt 4:7)
“Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele
servirás.” (Mt 4:10)
Passagem original
“...o homem não viverá só de pão, mas de
tudo o que sai da boca de IAHUEI viverá
o homem.” (Dt 8:3)
“Não tentareis a IAHUEI vosso Deus...”
(Dt 6:16)
“A IAHUEI teu Deus temerás e a ele
servirás...” (Dt 6:13)
Será legítimo pensar que Aquele que inspirou Moisés a escrever o Seu Nome
nestas passagens da Tora não as citasse tal e qual as inspirou, ou seja, com o
Nome? Não me parece.
Outra coisa que salta à vista ao ler a narrativa deste episódio é que Satanás não
usa o Nome uma única vez mas apenas ‘El’ (Deus). Outro episódio em que isto
acontece é quando Satanás engana Eva. Eva conhecia e usava o Nome de Deus
(Gn 4:1) mas a serpente não o faz uma única vez.
O Julgamento de Yeishua
Para compreendermos o que na realidade se passou no julgamento de Cristo é
necessário primeiro fazer uma resenha histórica para compreendermos a realidade
da altura.
O Sinédrio julgava crimes civis e religiosos mas, estando debaixo da autoridade
romana, os seus juízos tinham de ser supervisionados por esta (Act.22:30). O
Talmude de Jerusalém (Sinédrio 18a) diz-nos que 40 anos antes da destruição do
Templo, ou seja, no ano 30 d.C. (por volta da altura da morte de Cristo) os
romanos retiraram aos judeus a possibilidade de executar sentenças de morte
(João 18:31). No entanto, esta limitação, na práctica, abrangia apenas crimes civis
pois os romanos não se queriam envolver em assuntos religiosos (Act.18:14-16;
23:29; 25:19;). O mesmo se passa no caso de Cristo (João 19:6-7). De acordo com
a Lei judaica os únicos crimes passíveis de pena de morte eram a profanação do
Templo (Núm.4:15)83 e blasfémia contra o Nome de Deus (Lev.24:15-16 ver análise
desta passagem no capítulo “Porquê o Encobrimento”).
“15 E aos filhos de Israel falarás, dizendo: Qualquer que amaldiçoar o seu Deus, levará
sobre si o seu pecado. 16 E aquele que blasfemar o nome de hwhy, certamente morrerá; toda
83
Josefo em “A Guerra Judaica II:231” diz-nos que no ano 50 d.C um soldado romano foi mandado executar
pelo procurador Cumanus por profanação do Templo por ter rasgado um rolo da Tora.
a congregação certamente o apedrejará; assim o estrangeiro como o natural, blasfemando o
nome de hwhy, será morto.” (Lv 24:15-16)
Estando os fariseus ansiosos por eliminar Cristo (Mt. 26:4,59) tentaram incriminá-lo
com a única acusação pela qual o poderiam matar – blasfémia. Ora se é verdade
que Cristo usou o Nome de Deus publicamente durante o Seu ministério também é
verdade que não o blasfemou, portanto, é evidente que quaisquer testemunhas
que se pronunciassem nesse sentido seriam testemunhas falsas, como na
realidade aconteceu. Aqui é necessário dizer que, por esta altura, a proibição do
uso do Nome, embora já há muito em uso, ainda estava numa fase intermédia. A
proibição definitiva só surge em 150 d.C. pela pena do Rabi Saul. Ninguém, nesta
altura seria condenado à morte pela simples pronúncia do Nome a menos que
fosse num contexto de blasfémia84.
Analisemos então os acontecimentos:
“59 Ora, os príncipes dos sacerdotes, e os anciãos, e todo o conselho, buscavam falso
testemunho contra Yeishua, para poderem dar-lhe a morte; 60 E não o achavam; apesar de
se apresentarem muitas testemunhas falsas, não o achavam. Mas, por fim chegaram duas
testemunhas falsas, 61 E disseram: Este disse: Eu posso derrubar o templo de Deus, e
reedificá-lo em três dias. 62 E, levantando-se o sumo sacerdote, disse-lhe: Não respondes
coisa alguma ao que estes depõem contra ti? 63 Yeishua, porém, guardava silêncio. E,
insistindo o sumo sacerdote, disse-lhe: Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o
Cristo, o Filho de Deus. 64 Disse-lhe Yeishua: Tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis
em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu.
65 Então o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou; para que precisamos
ainda de testemunhas? Eis que bem ouvistes agora a sua blasfémia. 66 Que vos parece? E
eles, respondendo, disseram: É réu de morte.” (Mt 26:59-65)
Notem bem a frase ‘Templo de Deus’ no versículo 61. Esta frase nunca aparece
nos Escritos hebraicos mas sim ‘Templo de IAHUEI’. Será que na realidade
Yeishua estava a ser acusado de proferir o Nome de IAHUEI na frase ‘Templo de
IAHUEI’?
No versículo 64 a palavra ‘Poder’ é um eufemismo comum para IAHUEI. Terão sido
estas exactamente as palavras de Yeishua? Creio que não, pois a frase tal como
se apresenta não constitui em si mesma qualquer blasfémia e a reacção do sumosacerdote não se entenderia caso tivessem sido estas as palavras exactas de
Yeishua.
As palavras proferidas por Yeishua são uma combinação de duas passagens:
“ Disse IAHUEI ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus
inimigos por escabelo dos teus pés.” (Sl 110:1)
“Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como
o filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele.” (Dn 7:13)
84
Isto explica porque é que Cristo pôde ler o texto de Isaías 61:1-2 publicamente na Sinagoga sem que tenha
por isso sofrido quaisquer consequências. O Tetragrama aparece por mais de uma vez nesse texto.
Se Yeishua estava a citar os dois textos tal como eles aparecem nas Escrituras
hebraicas o que ele teria dito seria:
“Digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita de IAHUEI, e
vindo sobre as nuvens do céu.”
Analisemos agora a reacção do sumo-sacerdote. A Mishna85 esclarece-nos
bastante acerca deste assunto:
“Aquele que blasfema é imputável apenas se pronunciar o Nome Divino. Disse o R. Joshua
ben Qorha: “durante todos os dias do julgamento as testemunhas são examinadas recorrendo
ao uso de um nome substituto... quando o julgamento terminar eles não o podem executar
com o eufemismo por isso evacuam a sala e perguntam à testemunha mais importante: ‘Diz,
o que ouviste exactamente?’ E ele dirá o que ouviu. Os juizes levantar-se-ão e rasgarão as
suas vestes”” (Mishna do Sinédrio 7:5)
Esta passagem da Mishna instrui-nos acerca de várias coisas:
1. A acusação de blasfémia só se aplica quando alguém amaldiçoa Deus
pronunciando o Nome Divino – Yeishua foi acusado de blasfémia logo a
questão tem de ser obrigatoriamente a pronúncia do Nome;
2. Durante o decorrer do julgamento as testemunhas empregavam um
eufemismo – a testemunha falou em ‘Templo de Deus’ uma expressão
nunca usada nas Escrituras que referem sempre ‘Templo de IAHUEI;
3. Em circunstâncias normais a sala seria evacuada para que o menor
número de pessoas possível ouvisse a testemunha principal a pronunciar o
Nome mas neste caso Yeishua surpreendeu toda a gente ao fazer uma das
suas afirmações “blasfemas” à frente de todos. O Sumo-Sacerdote afirma
que as testemunhas deixaram de ser necessárias pois o acusado
confirmou as acusações à frente de toda a gente;
4. Os juizes levantam-se e rasgam as vestes – foi precisamente o que Caifás
fez.
Portanto Yeishua é condenado por pronunciar o Nome Divino e não por responder
afirmativamente à pergunta de Caifás se ele era o Messias. Ao longo da sua
história a nação judaica teve vários auto-proclamados Messias e isso só por si não
era blasfémia.
Conforme vimos atrás, a simples pronúncia do Nome também não era blasfémia.
Só o seria se Cristo tivesse amaldiçoado Deus usando o Seu Nome o que
sabemos que Ele nunca fez. Assim, a decisão do Sinédrio é muito forçada. Tal era
a vontade que tinham de o matar que aligeiraram a interpretação da Lei para que a
simples pronúncia do Nome fosse passível da pena de morte. Aliás, de acordo com
o relato, apenas Caifás rasgou as vestes o que mostra que a conclusão não era
85
A primeira parte do Talmude (e a mais antiga).
unânime entre os membros do Sinédrio. Também vemos isso quando ele pergunta
aos demais presentes “Que vos parece?” o que parece indicar que, tendo sido o
único a rasgar as vestes ele teve necessidade de confirmar se teria o apoio dos
restantes juizes. A resposta também é significativa: “É réu de morte”. Ora, réu de
morte era ele desde o início pois era a Sua vida que estava em jogo e era nesse
sentido que apontavam os depoimentos das falsas testemunhas. Para que fosse
confirmada a sentença, os demais membros do Sinédrio teriam de dizer “É
condenado à morte”, o que não foi o caso pois eles não tinham poder para isso.
Porque a condenação e execução de penas de morte estava sob a alçada dos
romanos e porque estes não se mostravam dispostos a executar tais penas no
caso de crimes religiosos, os judeus converteram a acusação num crime de lesamajestade que já é um crime civil (Luc. 23:1-2). Ainda assim Pilatos não o achou
culpado de tal acusação (Luc.23:13-14)
De acordo com Hegésipo (citado por Eusébio), o irmão de Yeishua, Yakov (Tiago),
Rabi da congregação de Jerusalém e principal lider da comunidade Nazarena, terá
sido morto após pronunciar também a frase “Digo-vos, porém, que vereis em breve o
Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu.” Terá ele
também sido morto por pronunciar o Nome?
A Crucificação de Yeishua
Um outro aspecto curioso ainda associado com a morte de Yeishua e com
relevância para este tema é a excitação dos judeus perante a tabuleta que foi
afixada por cima da cabeça de Yeishua. Vamos reler o episódio:
“19 E Pilatos escreveu também um título, e pô-lo em cima da cruz; e nele estava escrito:
JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS. 20 E muitos dos judeus leram este título;
porque o lugar onde Jesus estava crucificado era próximo da cidade; e estava escrito em
hebraico, grego e latim. 21 Diziam, pois, os principais sacerdotes dos judeus a Pilatos: Não
escrevas, O Rei dos Judeus, mas que ele disse: Sou o Rei dos Judeus. 22 Respondeu Pilatos:
O que escrevi, escrevi.” (Jo 19:19-22)
Desde sempre se assumiu que tal excitação se devia ao facto de a tabuleta
identificar Yeishua como Rei dos Judeus, mas se era só isso porquê tamanha
exasperação por parte dos que o queriam matar? Afinal, não era precisamente
essa a acusação que foi apresentada perante os romanos visto que eles nunca o
matariam por Ele ter pronunciado o Nome? É certo que sim. Então porquê tamanha
agitação?
Antes de dar a resposta vejamos algo que Yeishua disse:
“Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis quem eu
sou, e que nada faço por mim mesmo; mas falo como meu Pai me ensinou.” (Jo 8:28)
Há dois aspectos que convém realçar a respeito desta passagem. O primeiro é que
Yeishua diz que fala como o Pai o ensinou. Vejamos o que Ele fala:
“Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste...E eu lhes fiz conhecer o teu
nome, e lho farei conhecer mais...” (Jo 17:6, 26 )
“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;”
(Mt 6:9)
Não há dúvida que uma das missões de Yeishua era e ainda é restaurar o uso do
Nome de IAHUEI e já vimos que foi precisamente isso que o condenou à morte no
Sinédrio.
O segundo aspecto acerca desta passagem é este:
“...Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis quem EU SOU...” (Jo 8:28)
O que Yeishua nos diz é que quando fosse levantado da terra (crucificado) então
todos O veriam como O ‘EU SOU’, ou seja, como IAHUEI. Comparemos com esta
outra passagem:
“58 Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, EU
SOU. 59 Então pegaram em pedras para lhe atirarem...” (Jo 8:58-59)
Porque é que os judeus lhe atiraram pedras? Porque o ‘EU SOU’ que aparece no
texto nada mais é que o Nome considerado inefável pelos judeus – IAHUEI
(embora possivelmente na primeira pessoa – ‘Ehyeh’ – a forma como se auto
designou perante Moisés em Êxodo 3:14). Voltando a João 8:28, vemos que
Yeishua usa o mesmo termo, ou seja, o Nome de IAHUEI, mais uma vez em
relação a Si próprio e diz que todos o veriam como tal quando fosse levantado da
terra (crucificado). Voltemos então à tabuleta...
A tabuleta dizia ‘JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS’ e estava escrita em
hebraico, grego e latim. Como é que se escreve esta frase em hebraico? Da
seguinte forma:
Yeishua Hanetzeret V’melech Hayehudim
As iniciais das palavras escolhidas por Pilatos soletravam YHVH identificando
Yeishua como o grande EU SOU ou IAHUEI, tal como Ele havia dito que
aconteceria quando o levantassem. Assim se percebe a preocupação dos judeus
em modificar a frase.
A Morte de Estevão
“11 Então subornaram uns homens, para que dissessem: Ouvimos-lhe proferir palavras
blasfemas contra Moisés e contra Deus. 12 E excitaram o povo, os anciãos e os escribas; e,
investindo contra ele, o arrebataram e o levaram ao conselho.” (At 6:11-12)
À semelhança do que se passou com Yeishua, no caso de Estevão também foram
empregues falsas testemunhas para o incriminar de blasfémia perante o conselho,
ou seja, o Sinédrio. Não se tratou portanto de um linchamento popular mas de uma
execução cuja sentença foi proferida em sede própria – no Sinédrio.
Na sua defesa perante o Sinédrio, Estevão faz um longo discurso onde cita o
episódio da sarça ardente e, de acordo com esse episódio teria citado o Nome de
IAHUEI pelo menos duas vezes na narrativa (Actos 7: 31,33) e uma terceira mais
à frente (v.49).
Vejamos a parte da sua condenação:
“55 Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus,
e Jesus, que estava à direita de Deus; 56 E disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do
homem, que está em pé à mão direita de Deus.” (At 7:55-56)
Em resumo, também Estevão cita precisamente as mesmas passagens que
condenaram Yeishua:
“ Disse IAHUEI ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus
inimigos por escabelo dos teus pés.” (Sl 110:1)
“Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como
o filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele.” (Dn 7:13)
E qual foi a reacção?
“57 Mas eles gritaram com grande voz, taparam os seus ouvidos, e arremeteram unânimes
contra ele. 58 E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam...” (At 7:57-58)
À luz do que já vimos que se passou com o Cristo, não creio que restem grandes
dúvidas do porquê da execução de Estevão.
Outras Evidências
Mateus, O Evangelho Hebraico
Existem ainda evidências fortes de que Yeishua teria pronunciado o Nome nas
seguintes passagens: Mat.4:7,10; 5:33; 21:42; 22:37,44. Isto porque as duas
versões existentes do evangelho de Mateus em hebraico (DuTillet e Shem Tov),
que não sendo originais86 retêm muito do evangelho hebraico original87,
apresentam, no caso da DuTillet três Yods onde as versões gregas têm ‘Senhor’ e
a versão Shem Tov apresenta um Hey nesses mesmos sítios. Ora não existe
nenhuma palavra hebraica composta apenas por um único Hey nem por três Yods,
logo isto é apenas mais uma das muitas tentativas para ocultar o Nome de Deus,
desta feita levada a cabo numa das várias revisões que o evangelho original de
Mateus sofreu até chegar às versões que conhecemos hoje (DuTillet e Shem Tov).
Na realidade o Hey da versão Shem Tov mais não é que a inicial de ‘Hashem’ (‘O
Nome’), termo que é commumente usado pelos judeus no lugar do Nome Divino.
86
Na realidade estas versões datam da Idade Média.
Várias fontes confirmam que o evangelho de Mateus foi originalmente escrito em hebraico (embora
provavelmente se referissem a aramaico escrito em caracteres Ashuri).
87
Estas substituições revelam, no entanto, que Yeishua teria empregue o Nome
IAHUEI nessas passagens.
Adicionalmente vejamos algumas destas passagens:
Esta passagem:
É uma citação de...
“... Está escrito: Nem só de pão viverá o “...o homem não viverá só de pão, mas de
homem, mas de toda a palavra que sai da tudo o que sai da boca de IAHUEI viverá
boca de Deus.” (Mt 4:4)
o homem.” (Dt 8:3)
“... está escrito: Não tentarás o Senhor teu “Não tentareis a IAHUEI vosso Deus...”
Deus.” (Mt 4:7)
(Dt 6:16)
“...está escrito: Ao Senhor teu Deus “A IAHUEI teu Deus temerás e a ele
adorarás, e só a ele servirás.” (Mt 4:10)
servirás...” (Dt 6:13)
“Outrossim, ouvistes que foi dito aos “Nem jurareis falso pelo meu nome, pois
antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os profanarás o nome do teu Deus. Eu sou
teus juramentos ao Senhor.” (Mt 5:33)
IAHUEI.” (Lv 19:12)
“O que saiu dos teus lábios guardarás, e
cumprirás, tal como voluntariamente
votaste a IAHUEI teu Deus, declarando-o
pela tua boca.” (Dt 23:23)
“Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas
Escrituras: A pedra, que os edificadores
rejeitaram, Essa foi posta por cabeça do
ângulo; Pelo Senhor foi feito isto, E é
maravilhoso aos nossos olhos?” (Mt
21:42)
“22
A pedra que os edificadores
rejeitaram tornou-se a cabeça da esquina.
23
Da parte de IAHUEI se fez isto;
maravilhoso é aos nossos olhos.” (Sl
118:22-23)
“E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu “Amarás, pois, IAHUEI teu Deus de todo
Deus de todo o teu coração, e de toda a o teu coração, e de toda a tua alma, e de
tua alma, e de todo o teu pensamento.” todas as tuas forças.” (Dt 6:5)
(Mt 22:37)
“Disse o Senhor ao meu Senhor: Assentate à minha direita, Até que eu ponha os
teus inimigos por escabelo de teus pés?”
(Mt 22:44)
“Disse IAHUEI ao meu Senhor: Assentate à minha mão direita, até que ponha os
teus inimigos por escabelo dos teus pés.”
(Sl 110:1)
É legítimo pensar que em todas estas passagens e muitas mais que Yeishua citou
ao longo do Seu ministério e mesmo da sua vida, que Ele teria substituído o Seu
Nome e o de Seu Pai ao proferi-las, sobretudo atendendo a que foi Ele próprio que
inspirou os Seus servos do passado a escrever esse Nome nessas passagens? Iria
o próprio inspirador agora omitir o Nome ou substitui-lo ao citá-las? Não me parece
uma hipótese minimamente razoável.
Não faz muito mais sentido que os manuscritos tenham sido alterados por forma a
esconder o Nome, tal como foi feito na LXX?
Acusações contra Paulo
Numa outra ocasião determinados judeus levaram Paulo a tribunal com a acusação
de ele agir contra a lei.
“12 Mas, sendo Gálio procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus concordemente contra
Paulo, e o levaram ao tribunal, 13 Dizendo: Este persuade os homens a servir a Deus contra
a lei.” (At 18:12-13)
A questão é que Lei? Quando as autoridades romanas o libertam fazem a seguinte
afirmação:
“Mas, se a questão é de palavras, e de nomes, e da lei que entre vós há, vede-o vós mesmos;
porque eu não quero ser juiz dessas coisas.” (At 18:15)
Tudo indica que Paulo estava a ser acusado de empregar e ensinar outros a
empregar o Nome de IAHUEI contrariamente à Lei ORAL dos judeus.
Podemos então dizer que neste caso se aplicam inteiramente as palavras de
Yeishua quando diz:
“E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus.” (Mt 15:6)
As Palavras de Pedro
Outro episódio ainda: o apóstolo Pedro no dia de Pentecostes cita Joel 2:32
quando diz:
“E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (At 2:21)
Mas o que Joel diz é:
“E há de ser que todo aquele que invocar o nome de IAHUEI será salvo...” (Jl 2:32)
Ora, se Pedro estava a citar Joel e Joel usa IAHUEI, o que é que Pedro terá dito
perante aquela multidão – IAHUEI ou Senhor?
O Apocalipse
“E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste.” (Ap 2:3 )
“...tendo pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome.” (Ap 3:8 )
O Nome de Deus é também a marca de propriedade que Ele próprio coloca sobre
os Seus escolhidos (Mal. 3:16).
“A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei
sobre ele o nome do meu Deus [IAHUEI], e o nome da cidade do meu Deus, a nova
Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome [IAHUEI].” (Ap
3:12 )
“E olhei, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e
quatro mil, que em suas testas tinham escrito o nome de seu Pai [IAHUEI].” (Ap 14:1)
“E verão o seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome [IAHUEI].” (Ap 22:4)
O Nome de IAHUEI que é o Nome da família celestial à qual pertencemos é o
nosso bilhete de identidade no Reino vindouro.
Em contrapartida, o mesmo livro de Apocalipse diz-nos que uma das
características da igreja apóstata é o uso de falsos nomes.
“E levou-me em espírito a um deserto, e vi uma mulher assentada sobre uma besta de cor de
escarlata, que estava cheia de nomes de blasfémia, e tinha sete cabeças e dez chifres.” (Ap
17:3)
IAHUEI deixa bem claro na Sua Palavra (desde o Génesis ao Apocalipse) que quer
que o Seu Nome seja conhecido e os Seus escolhidos, selados com o Seu Nome.
Os Seus obreiros são incumbidos da tarefa de fazer conhecido o Seu Nome. Não
só a vocalização do Seu Nome mas também a Sua glória, o Seu carácter e a Sua
autoridade (tudo coisas indissociáveis do significado da palavra ‘shem’) ou seja,
tudo o que o identifica claramente como o Soberano Criador do Universo.
Identificá-lo pelo Seu Nome próprio é uma parte importante deste propósito.
O Talmude
O Talmude apresenta-nos várias histórias um tanto ou quanto fantásticas acerca
de Yeishua com o objectivo de denegrir a Sua pessoa e o denominador comum
nessas histórias é o facto de Yeishua aparecer a pronunciar o Nome de Deus.
Tudo leva a crer que, pelo menos no que diz respeito a este aspecto, poderá haver
nestas histórias algum fundo de verdade.
Uma delas é uma sátira fantástica a Yeishua, chamada Toldot Yeishu88:
“Templo encontrava-se a Pedra da Fundação na qual estavam gravadas as letras do Nome
Inefável de Deus. Quem aprendesse o segredo do Nome e o seu uso poderia fazer o que
desejasse. Por isso os sábios tomaram medidas para que ninguém obtivesse esse
conhecimento. Leões de cobre foram presos a dois pilares de ferro no portão do local das
ofertas queimadas. Se alguém entrasse e aprendesse o Nome os leões rugir-lhe-iam à saída e
88
Os Fariseus referiam-se a Yeishua usando a palavra Yeishu. Trata-se de um jogo de palavras pois Yeishu,
fonéticamente aproximado a Yeishua, significa ‘que o seu nome seja apagado’.
de imediato o valioso segredo seria esquecido. Yeishu veio e aprendeu as letras do Nome;
escreveu-as num papiro que depois colocou num golpe aberto na sua coxa e depois tapou o
papiro com a carne. Quando saiu, os leões rugiram e ele esqueceu-se do segredo. Mas
quando chegou a sua casa, reabriu o golpe na sua carne com uma faca e retirou o escrito.
Então lembrou-se e obteve o uso das letras. Reuniu à sua volta 310 jovens de Israel e acusou
aqueles que falavam mal do dia do seu nascimento de serem pessoas que desejavam
grandeza e poder para si próprias. Yeishu proclamou, “Eu sou o Messias; e a meu respeito
Isaías profetizou e disse, ‘Uma virgem conceberá e terá um filho e será o seu nome
Emanuel’.” Ele citou outros textos messiânicos, insistindo “David meu antepassado
profetizou a meu respeito: ‘O Senhor disse-me, ‘tu és meu filho, hoje te gerei’’”. Os que
estavam com ele responderam que se Yeishu era o Messias deveria dar-lhes um sinal
convincente. Trouxeram-no, por isso, a um homem coxo que nunca tinha andado. Yeishu
pronunciou sobre o homem as letras do Nome Inefável e o coxo foi curado. A partir daí
adoraram-no como o Messias, Filho do Altíssimo.”
Noutra parte desta mesma história, é dito o seguinte:
“Yeishu executava milagres invocando o Nome Divino proibido.”
Outras passagens talmúdicas idênticas são: b.Shab. 104b; b.San. 67a; t.Shab.
11:15; j.Shab. 13d.
O Talmude apresenta-nos ainda uma discussão entre rabinos ocorrida cerca do
ano 70 d.C. acerca do que fazer aos escritos dos hereges (leia-se Nazarenos e
Ebionitas). A discussão em si chega a ser algo cómica pelos preciosismos que
contém. A sua vontade era queimá-los mas como continham o Nome de IAHUEI,
não podiam...
Mishna Talmude Babilónico Shabbat 115b
“Todos os Escritos Sagrados devem ser salvos do fogo, quer os leiamos quer não, e mesmo
que estejam escritos em qualquer outra língua, devem ser escondidos.”
Guemara Talmude Babilónico Shabbat 116a
“Venham e ouçam: Os espaços em branco por cima, por baixo e entre as secções e as
colunas, e no princípio e fim do rolo, tornam impuras as nossas mãos. [refere-se aos rolos
ou escritos dos hereges – Nazarenos e/ou Ebionitas]
Pode ser que juntos ao rolo da Lei sejam diferentes.
Venham e ouçam: Os espaços em branco e os livros dos hereges não podem ser salvos do
fogo, devem antes arder onde estão, eles e os Nomes Divinos que neles ocorrem.
Certamente que se refere aos espaços em branco do rolo da Lei?
Não: os espaços em branco dos livros dos hereges.
Visto que não podemos salvar os livros dos hereges propriamente ditos, porquê referir os
seus espaços em branco?
O significado é este: os livros dos hereges são como espaços em branco.
Foi citado no texto: os espaços em branco e os livros dos hereges, não os podemos salvar do
fogo.
R. José disse: Em dias de semana devemos recortar os Nomes Divinos que eles contêm,
escondê-los, e queimar o resto.
R. Tarfon disse: Que eu enterre o meu filho se não os queimasse juntamente com os seus
Nomes Divinos caso viessem parar à minha mão...
R. Ishmael disse: Se para fazer as pazes entre marido e mulher a Tora decretou: ‘Que o Meu
Nome, escrito em santidade, seja dissolvido em água89’, quanto mais a estes que atiçam
invejas, inimizades e ódios entre Israel e o seu Pai celestial [devemos nós apagar o
Nome de Deus dos seus textos]; deles disse David: ‘Não os odeio eu ó Senhor, que te
odeiam a Ti? E não me aborreço eu com aqueles que se levantam contra Ti? Odeio-os com
ódio perfeito: conto-os como meus inimigos90.’
E da mesma forma que não os podemos salvar do fogo também não os podemos salvar de
uma derrocada ou da água ou de qualquer coisa que os possa destruir.”
Esta discussão atesta uma coisa: os escritos iniciais dos Nazarenos continham o
Nome de IAHUEI, daí a preocupação dos Rabis acerca do que fazer com eles.
O termo ‘espaços em branco’ é traduzido do termo hebraico ‘gilyohnim’ que, de
acordo com alguns dicionários também é passível de ser traduzido ‘evangelhos’.
Na discussão acima um dos intervenientes diz claramente que “os livros dos
hereges são como espaços em branco”.
Para enquadrar ainda melhor o contexto desta narrativa, convém dizer que a
secção que se segue a esta no Talmude conta uma história passada entre o Rabi
Gamaliel e um juiz cristão em que são citadas partes do Sermão da Montanha. Não
restam, portanto dúvidas acerca da identidade dos ‘hereges’ e do facto dos seus
escritos conterem o Tetragrama.
Num comentário a esta passagem do Talmude, Andrew Gabriel Roth diz o seguinte
no seu livro “Ruach Qadim – Path to Life”:
“...a única razão pela qual este debate teria tido lugar é porque os documentos ‘nizrefe’
(Nazarenos) foram escritos em escrita hebraica e continham o nome hebraico original de
Elohim (hwhy). Como tal, tecnicamente falando, a simples existência do Tetragrama em
qualquer documento tornava esse escrito automaticamente sagrado... É por essa razão que os
rabis concluiram que a melhor opção seria recortar as instâncias em que YHWH aparecia
nos ‘livros heréticos’ tornando-os assim aptos a serem destruidos.” 91
89
Quando se desconfiava que uma mulher era adúltera, dissovia-se um pedaço da Tora em água e dava-se-lhe
a beber – Números 5:23 e seguintes.
90
Salmo 139:21 e seguintes.
91
Tradução livre.
Os Títulos ‘Deus’, ‘God’ e ‘Senhor’
Senhor
Já atrás referimos que muitos alegam que sempre que se substitui hwhy por
‘Senhor’, estamos a cometer uma blasfémia pois estamos a obliterar o Nome do
Criador e a invocar, ainda que inconscientemente, o nome de uma divindade pagã
– Baal.
Apesar de considerar que é pecado obliterar o Nome do nosso Pai e substitui-lo
onde ele foi inspirado, considero isto um argumento extremo e com o qual não
estou de acordo.
‘Baal’ é uma palavra que, para além de designar divindades pagãs, é uma palavra
de uso corrente em hebraico, sendo traduzida frequentemente para ‘mestre’,
‘senhor’, ‘marido’ e ‘proprietário’. Se as próprias Escrituras empregam a palavra
‘baal’ com todos estes sentidos, isso prova que a sua simples vocalização não
significa necessariamente que se esteja a invocar uma divindade pagã.
“Prestai atenção a tudo o que vos tenho dito, e não fareis menção do nome de outros deuses:
nem se ouça da vossa boca.” (Êx 23:13 BJ)
Quando Êxodo 23:13 nos diz que nem devemos pronunciar os nomes de outros
deuses, é claramente num sentido de adoração ou de prestar culto. De que outra
forma explicaríamos então o facto de, ao longo das Escrituras, encontrarmos
inúmeras referências aos nomes dessas supostas divindades? Como explicar
então o facto de encontrarmos nas Escrituras vários episódios em que servos do
nosso Pai Celestial mencionam esses nomes? Estariam eles a transgredir este
mandamento? É evidente que não.
Que dizer então de Daniel, Hananias, Misael e Azarias, a quem foram dados os
nomes
babilónicos
Beltessazar,
Sadraque,
Mesaque
e
Abednego,
respectivamente, nomes esses que apesar da sua provenência pagã e com a
excepção de Daniel, são mais vezes usados nas Escrituras que os seus próprios
nomes hebraicos?
Dani-El (‘Deus é o meu juíz’) passa a Beltessazar (‘Píncipe de Bel’)92
Hanani-YAH (‘YAH favoreceu’) passa a Sadraque (‘Inspiração do Rei Sol’)93
Misa-El (‘Quem é comparável a Deus?’) passa a Mesaque (‘Quem é comparável a
Saque?’)94
Azar-YAH (‘YAH ajudou’) passa a Abednego (‘Servo do Fogo)95
92
‘Bel’ ou ‘Baal’ – era a divindade principal dos Babilónios, equiparada a Júpiter pelos romanos que lhe
chamavam ‘Júpiter Belus’. O nome do rei Belshazar provém deste deus.
93
Proveniente de ‘Raque’ que em babilónico significava ‘Rei’ e se aplicava ao Rei Sol.
94
‘Saque’ a par de Bel era a deusa principal de Babilónia. A cidade de Babilónia também era conhecida pelo
nome deste seu ídolo – Jer.25:26; 51:41. Foi durante a sua festa que Ciro tomou Babilónia. Equivalente a
Astarte ou à deusa romana Vénus.
É certo que muitas das vezes em que os nomes pagãos são usados são em
situações de diálogo com babilónios para quem eles seriam conhecidos por estes
nomes e não pelos nomes hebraicos. Porém, noutras situações é o próprio
narrador (Daniel) que se refere a eles por estes nomes. O que isto prova é que não
é errado usar nomes de indivíduos noutras línguas que não os seus nomes
originais mesmo quando esses nomes têm claramente origens pagãs como
acontece nos exemplos de Daniel e seus amigos.
Devemos nós abstermo-nos de usar estes nomes quando nem mesmo as próprias
Escrituras o fazem?
God
Muitos crentes de lingua inglesa, alegam ainda impróprio o uso do título ‘God’ ou
do alemão ‘Gott’ (Deus) uma vez que também esta palavra tem origens no nome
de uma divindade pagã e sustentam isto recorrendo a Isaías 65:11-12.
“11 Mas a vós, os que vos apartais de hwhy, os que vos esqueceis do meu santo monte, os
que preparais uma mesa para a Fortuna [Gade – pronunciado Gawd], e que misturais a
bebida para o Destino. 12 Também vos destinareis à espada, e todos vos encurvareis à
matança; porquanto chamei, e não respondestes; falei, e não ouvistes; mas fizestes o que era
mau aos meus olhos, e escolhestes aquilo em que não tinha prazer.” (Is 65:11-12)
Que dizer então do filho de Jacob e pai de uma das tribos de Israel com o mesmo
nome, Gade?
Ambas as palavras se pronunciam exactamente da mesma forma – Gawd ou God.
Esta palavra significa apenas ‘fortuna’ ou ‘tropa’ em hebraico e, por acaso, é
também o nome de uma divindade pagã. Não consta em lado algum das
Escrituras que Jacob ou Lia tenham sido repreendidos ou castigados por terem
colocado a um dos seus filhos um nome idêntico ao de uma divindade pagã nem
tão pouco consta que esse nome tenha sido suprimido ou alterado mais tarde nas
Escrituras por forma a evitar pronunciar o nome de um deus pagão.
“Então disse Lia: Afortunada! e chamou-lhe Gade.” (Gn 30:11)
Em 2Samuel 24:5,11 vemos que Gade era também o nome de um rio em Israel e
de um profeta de IAHUEI.
Torna-se evidente que o que aconteceu foi que os povos pagãos terão adaptado
uma palavra que significa ‘fortuna’ ou ‘sorte’ ao seu próprio deus da sorte ou
fortuna. Isso não significa que a palavra originalmente fosse de natureza pagã ou
idólatra.
95
Para os babilónios o fogo era também um deus que era venerado com o nome ‘Nego’. Na versão aramaica de
Isaías 14:12, ‘Lúcifer’ aparece como ‘Nogea’. É provável que se trate da mesma divindade referida em Isaías
46:1 com o nome ‘Nebo’. Mais tarde provavelmente representado por Mercúrio. O nome do rei
Nabucodonozor provém deste deus.
De qualquer das formas, é incerto se existe qualquer relação entre a palavra
germânica ‘God’ e a palavra semita ‘Gade’. Podemos estar apenas perante uma
coincidência fonética.
Ainda que possa ter sido mais específico no passado, o significado da palavra
‘God’ hoje em dia é bastante genérico conforme podemos ver de seguida:
“...qualquer de um conjunto de seres considerados sobrenaturais e imortais... em religiões
monoteístas, o criador e governador do universo.” (Webster´s New Dictionary and
Thesaurus; Tradução livre)
“...palavra teutónica comum para um objecto pessoal de adoração religiosa. É assim, como o
grego theos e latino deus, aplicado a todos aqueles seres sobrehumanos das mitologias pagãs
que exercem poder sobre a natureza e o homem...” (Encyclopedia Britannica, 11ª Ed.;
Tradução livre)
Deus
À semelhança da palavra inglesa ‘God’ também a sua equivalente portuguesa
‘Deus’ poderá ter origens um tanto ou quanto obscuras e relacionadas com o
paganismo. Já tivemos ocasião de dizer atrás que o nome da divindade máxima
grega Zeus se escrevia DIOS e lia-se ‘Dios’ ou ‘Dzios’.
A origem indo-europeia da palavra é ‘dyeu’ que significa ‘brilhar’ e, em muitas das
suas variantes, designava o céu, ou deus – por afinidade, deuses solares. Desta
raíz derivam palavras como Zeus, Júpiter, dia, diário, diva, divino, jornada, jovial,
meridiano, quotidiano, entre muitas outras.
Porém, e à semelhança do que acontece com ‘god’, também a palavra ‘deus’ ou
‘teos’ no grego, é uma designação genérica para o alvo da nossa adoração.
Quando Paulo se dirigiu aos atenienses certamente que lhes falou em grego. Num
grego certamente imperfeito, mas seja como for, em grego. Isto foi o que ele disse:
“22 E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um
tanto supersticiosos; 23 Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também
um altar em que estava escrito: AO DEUS [teos] DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós
honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio. 24 O Deus [teos] que fez o mundo e
tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de
homens;” (At 17:22-24)
Aqui vemos Paulo a usar na lingua grega a mesma palavra – ‘teos’ – a respeito do
Deus de Israel que os gregos usavam para designar os seus deuses pagãos. O
que isto prova é que não há problema rigorosamente nenhum em usar os títulos
convencionais para Deus nas várias linguas e que não é obrigatório que nos
refiramos a Ele apenas com os títulos hebraicos ou aramaicos. Outro exemplo que
podemos invocar para ilustrar este ponto é o facto das próprias palavras gregas
“teos” e “kyrios” terem sido empregues pelos rabinos que traduziram a Septuaginta
para os termos “Elohim” e “Adonai”, respectivamente96. Este rabinos não viram
problema nenhum em usar termos que até aí se aplicavam a divindades pagãs, ao
Deus de Israel. Afinal, tratavam-se de termos genéricos.
Conclusão
Quem promove estas ideias muitas vezes recorre também a outros argumentos
igualmente desprovidos de sentido, chegando mesmo a misturar linguas diferentes
para sustentar as suas doutrinas. Eis alguns exemplos absurdos:
•
Ao usarmos o termo ‘amen’ no lugar do termo hebraico ‘amein/omein’
estamos a invocar o nome do deus egípcio Amen Ra (mais conhecido por
Amun Ra em português).
•
‘Ge’ significa ‘terra’ ou ‘solo’ em grego e ‘sus’ significa ‘porco’ em latim,
como tal, quando dizemos ‘Jesus’ estamos na realidade a dizer ‘porco da
terra’.
As duas ideias acima expostas são apresentadas como exemplos totalmente
ilógicos de argumentos cuja única base de apoio é a semelhança fonética entre
duas palavras de linguas completamente distintas.
Quanto ao uso dos títulos genéricos ‘God’ ou ‘Deus’ para nos referirmos ao nosso
Pai Celestial, estou em crer que muito embora esses mesmos títulos sejam
empregues em relação a qualquer divindade pagã ou mesmo figurativamente para
descrever o poderío de alguns individuos, tal não os torna necessariamente
impróprios para aplicar ao Criador de todas as coisas. Afinal, o termo hebraico
‘Elohim’ significa ‘os todo poderosos’ e é simultaneamente aplicado nas Escrituras
tanto ao nosso Pai Todo-Poderoso como a anjos, juízes e mesmo a deuses
pagãos. Trata-se, portanto, igualmente de um termo genérico e que pode assumir
qualquer destes significados dependendo do contexto.
Afinal, se o nosso Pai Celestial não se ofende pelo uso em relação à Sua Pessoa
do termo genérico hebraico ‘Elohim’, porque é que haveria de se ofender com o
uso de termos igualmente genéricos noutras linguas, como ‘God’ em inglês ou
‘Deus’ em português? Estas linguas até têm a vantagem de permitir a capitalização
da palavra sempre que nos referimos ao Criador, coisa que não acontece com o
hebraico que não distingue entre letras maiúsculas e minúsculas e escreve ‘elohim’
sempre da mesma forma quer se aplique ao Criador ou não.
Se ainda assim tivermos reservas em empregar os termos ‘Deus’ ou ‘God’ em
relação ao nosso Pai Celestial, resta sempre uma forma de tratamento que foi
empregue pelos Seus filhos desde sempre e que é incontestavelmente apropriada
– Pai.
Que o Cristo, na qualidade de Seu Filho empregou esta forma de tratamento
inúmeras vezes é também algo de incontestado e se reproduzíssemos aqui todas
96
O que é condenável é que o Nome de Deus nos sítios onde foi inspirado por Ele nas Escrituras, tenha sido
substituído por estes títulos.
as passagens em que Ele o fez, isso aumentaria consideravelmente o volume
deste trabalho. No entanto, podemos aqui demonstrar que não foi apenas Yeishua
que se referiu a IAHUEI dessa forma:
“Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão não nos conhece, e Israel não nos reconhece; tu, ó
IAHUEI, és nosso Pai, nosso Redentor; desde a antiguidade é o teu nome.” (Is 63:16)
“Mas agora, ó IAHUEI, tu és nosso Pai; nós o barro e tu o nosso oleiro; e todos nós a obra
das tuas mãos.” (Is 64:8)
“Por isso Davi louvou a IAHUEI na presença de toda a congregação; e disse Davi: Bendito
és tu, IAHUEI Deus de Israel, nosso pai, de eternidade em eternidade.” (1Cr 29:10)
“Não temos nós todos um mesmo Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que agimos
aleivosamente cada um contra seu irmão, profanando a aliança de nossos pais?” (Ml 2:10)
“Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; e a minha benignidade não retirarei dele, como
a tirei daquele, que foi antes de ti.” (1Cr 17:13)
“Ele edificará uma casa ao meu nome, e me será por filho, e eu lhe serei por pai, e
confirmarei o trono de seu reino sobre Israel, para sempre.” (1Cr 22:10)
“E me disse: Teu filho Salomão, ele edificará a minha casa e os meus átrios; porque o
escolhi para filho, e eu lhe serei por pai.” (1Cr 28:6)
“Ele me chamará, dizendo: Tu és meu pai, meu Deus, e a rocha da minha salvação.” (Sl
89:26)
“Ao menos desde agora não chamarás por mim, dizendo: Pai meu, tu és o guia da minha
mocidade?” (Jr 3:4)
“Mas eu dizia: Como te porei entre os filhos, e te darei a terra desejável, a excelente herança
dos exércitos das nações? Mas eu disse: Tu me chamarás meu pai, e de mim não te
desviarás.” (Jr 3:19)
O que podemos concluir no final deste trabalho é que as doutrinas das SNO
segundo as quais o Nome é algo de essencial para a salvação, são erradas ainda
que sinceras e bem intencionadas. Nada há de errado em usar as transliterações
do nome de Yeishua para grego, português, inglês ou chinamarquês. Porém
entendo que por uma questão de respeito e até da revelação que está a ocorrer
nos nossos dias acerca deste tema, conforme está há muito profetizado que
aconteceria, teremos toda a vantagem para não dizer mesmo a obrigação de usar
e divulgar os Nomes quer do Pai quer do filho de acordo com o entendimento que
tenhamos, sobretudo quando existe a suspeita, em relação às translietrações do
nome do Filho, de que possam ter ligações pagãs. Os correctos nomes
hebraicos/aramaicos têm um significado riquíssimo e o seu uso é importante.
O Nome do Pai, por outro lado, é de uma importância extraordinária. Entendo que
devemos usar este nome nas nossas orações e quando nos referimos a Ele.
Estamos assim a identificá-lo com o Nome que Ele deu como memorial para todas
as gerações. No que toca particularmente às passagens bíblicas em que o Nome
foi substituído por SENHOR, DEUS ou qualquer outro título, considero errado
perpetuar esse ocultamento. Devemos lê-las conforme foram inspiradas, ou seja,
com o Nome. Isto sem prejuízo de se poder usar também outros títulos como Deus
ou Senhor noutras quaisquer ocasiões. O seu uso não é inadequado nem
inconveniente, simplesmente não devemos ocultar o Nome substituindo-o por estes
títulos sobretudo quando lemos passagens onde o o próprio IAHUEI inspirou o uso
desse Nome.
A verdade é que o nosso Pai Celestial deseja que nós usemos o Seu Nome, o
Nome que Ele deu como memorial para todas as gerações (Êx. 3:15) e acerca do
qual nos deu mandamentos na Sua Lei Eterna. Não devemos desprezar, ignorar ou
olvidarmo-nos disto. Esse Nome deve, no entanto, ser usado com reverência e
respeito. Não ao ponto de nos escusarmos a usá-lo pois isso seria ir contra a Sua
vontade mas sim de o usarmos livremente mas com todo o respeito.
Devemos esforçarmo-nos por usar o Nome de acordo com o entendimento que
tenhamos em cada altura. Este trabalho concluiu pela pronúncia “IAHUEI” como
sendo a mais aproximada ou mesmo a correcta pronúncia do Tetragrama, porém,
este mesmo trabalho não tem a pretenção de deter nas suas páginas a verdade
absoluta sobre este tema. À medida que o tempo passa, novos elementos vêm a
lume que poderão alterar a nossa percepção deste tema. A revelação de Deus é
progressiva neste e noutros assuntos e amanhã poderemos ter uma ideia diferente.
Por isso não considero este trabalho um produto acabado mas sempre e
permanentemente em curso. O que considero importante é que cada um se
esforçe por pronunciar o Nome do nosso Pai da forma que entende genuinamente
ser a mais correcta e sem ostracizar outros irmãos na fé que porventura tenham
outro entendimento. O que importa neste e noutros assuntos é que, em cada
momento, e em função do nosso entendimento em cada altura, procuremos honrar
e servir a Deus em espírito e em verdade. Importa também que não fechemos a
porta à revelação do Espírito de IAHUEI interpretando algo como absoluto e
negando-nos a evoluir ou sequer a considerar outras interpretações. Unidade não é
sinónimo de uniformidade! Como disse, a revelação de IAHUEI é progressiva, e
como tal devemos manter um espírito aberto para que possamos evoluir
espiritualmente no conhecimento da verdade, aproximando-nos assim cada vez
mais da Sua vontade e propósito.
Porque é que Deus nos está a revelar estas coisas a nós? Porque vivemos no final
dos tempos e é chegada a altura para a restauração delas.
“4 Ouve, Israel, IAHUEI nosso Deus é o único IAHUEI. 5 Amarás, pois, IAHUEI teu Deus
de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças. 6 E estas palavras, que
hoje te ordeno, estarão no teu coração; 7 E as ensinarás a teus filhos e delas falarás
assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te.” (Dt 6:4-7)
“22 E falou IAHUEI a Moisés, dizendo: 23 Fala a Arão, e a seus filhos dizendo: Assim
abençoareis os filhos de Israel, dizendo-lhes:
24 IAHUEI te abençoe e te guarde;
25 IAHUEI faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti;
26 IAHUEI sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.
27 Assim porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei.” (Nm 6:22-27)
Anexo A – Citações
As seguintes citações são retiradas de Enciclopédias e Prefácios de diversas
traduções bíblicas:
Encyclopaedia Judaica
“A verdadeira pronúncia do Nome YHWH nunca se perdeu. Vários escritores cristãos da
antiguidade testificam que o Nome se pronunciava ‘Yahweh’. Isto é confirmado, pelo menos
para as vogais da primeira sílaba do Nome, pela forma curta Yah, que é por vezes usada em
poesia (e.g. Êx.15:2) e pelo –yahu ou –yah que serve de sílaba final em muitíssimos nomes
hebreus.”
“Pelo menos até à destruição do Primeiro Templo em 586 a.C., este nome era regularmente
pronunciado com as devidas vogais tal como se depreende das cartas Lachish escritas pouco
antes dessa data.”
Jewish Encyclopedia
“Se a explicação da forma acima dada é a verdadeira, então a pronúncia original deve ter
sido Yahweh ou Yahaweh. Daqui se explica muito prontamente a forma curta Jah ou Yah.”
New Bible Dictionary
“A pronunciação Yahweh é indicada por transliterações do Nome para grego em literatura
cristã antiga sob a forma iaoue (Clemente de Alexandria) ou iabe (Teodóro; por esta altura o
b grego pronunciava-se v97).”
The Bible, An American Translation – Smith-Goodspeed Version – Prefácio
“Um pormenor acerca da tradução que requer uma explicação é o tratamento dado ao nome
divino. Tanto quanto nos é possível determinar actualmente, os Hebreus chamavam a sua
Divindade pelo nome Yahweh e, numa forma mais curta, Yah, que é usado relativamente
poucas vezes... Qualquer pessoa que pretenda portanto reter o sabor do texto original terá
apenas de ler ‘Yahweh’ onde encontrar SENHOR ou DEUS... Nesta tradução seguimos a
tradição ortodoxa judaica e substituímos ‘o SENHOR’ no lugar do nome ‘Yahweh’ e a frase
‘o Senhor DEUS’ no lugar da frase ‘o Senhor Yahweh’.”
New International Version – Prefácio
“No que diz respeito ao nome divino YHWH, comummente referido como Tetragrama, os
tradutores adoptaram a solução usada na maior parte das versões em Inglês, apresentando-o
como ‘SENHOR’ em letras maiúsculas para o distinguir de adonai, uma outra palavra
hebraica apresentada como ‘Senhor’ para a qual são usadas letras minúsculas... Sempre que
os dois nomes aparecem em conjunto no Antigo Testamento como um nome só para Deus,
são apresentados como ‘Soberano SENHOR’.”
Today´s English Version – Prefácio
97
Como ja foi explicado atrás, o v latino tem o valor de um duplo u. O ‘Harpers´ Latin Dictionary’ diz o
seguinte: “O som do V parece ter sido o mesmo do W inglês... A afinidade mais próxima do V é com a vogal u
e, como tal, no curso de composições e inflecções, muitas vezes assumia o valor desta última.”
“Seguindo uma tradição antiga começada pela primeira tradução das Escrituras Hebraicas (a
Septuaginta) e seguida pela grande maioria das traduções inglesas, o nome hebraico
distintivo para Deus (usualmente transliterado Jehovah ou Yahweh), é, nesta tradução,
representado por ‘SENHOR’. Quando Adonai, normalmente traduzido ‘Senhor’ ocorre
como preposição para Yahweh, a combinação é representada pela frase ‘Soberano
SENHOR’.”
Revised English Bible – Introdução ao Antigo Testamento
“O nome divino (YHWH em caracteres hebraicos) era provavelmente pronunciado
‘Yahweh’, mas o nome era considerado inefável, demasiado sagrado para ser pronunciado.
Por esta razão os Masoretes introduziram os sinais para as vogais das palavras alternativas
adonai (‘Senhor’) ou elohim (‘Deus’) por forma a avisar os leitores para usarem uma destas
no seu lugar. Sempre que o nome divino ocorre no texto hebraico, este foi assinalado na
Revised English Bible usando as palavras ‘SENHOR’ ou ‘DEUS’ em letras maiúsculas,
uma prática geralmente aceite.”
American Standard Version – Prefácio da Edição de 1901
“A alteração inicialmente proposta no Anexo – a da substituição de ‘Jehovah’ por
‘SENHOR’ e por ‘DEUS’ (impresso em maiúsculas) – é uma que não será bem recebida por
muitos, devido à frequência e familiaridade dos termos descontinuados. Mas os Revisores
Americanos, após cuidada consideração, chegaram à unânime convicção de que uma
superstição judaica que considerava o Nome Divino como demasiado sagrado para ser
pronunciado, não deveria mais dominar nas versões inglesas do Antigo Testamento, ou em
quaisquer outras versões, como felizmente já não figura nas numerosas versões feitas por
missionários modernos.”
Isto significa que já em 1901 os tradutores da ASV, apercebendo-se da importância
do Nome de Deus e cientes de que a substituição seria impopular, colocaram
‘Jehovah’ nos sítios onde o Nome Divino constava, ao invés de o substituírem por
‘SENHOR’ ou ‘DEUS’.
Revised Standard Version – Prefácio
“Uma demarcação significativa da posição assumida pela American Standard Version é a
apresentação do Nome Divino, o Tetragrama. A American Standard Version usou o termo
‘Jehovah’; a King James Version tinha empregue este nome em quatro lugares, mas em
todos os demais, excepto em três casos em que era empregue como parte de um nome
próprio, usou a palavra SENHOR (ou, por vezes, DEUS) impressa em maiúsculas. A
presente revisão retorna ao procedimento da King James Version que segue o precedente
estabelecido pelos antigos tradutores gregos e latinos e a já longamente estabelecida prática
de leitura das escrituras Hebraicas na sinagoga. Embora seja praticamente certo que
originalmente o Nome se pronunciava ‘Yahweh’,... esta pronunciação não foi indicada
quando os Masoretes acrescentaram os sinais das vogais ao texto hebraico...Os antigos
tradutores gregos substituíram a palavra ‘Kyrios’ (Senhor) pelo Nome. A Vulgata, de igual
forma, usa a palavra latina ‘Dominus’. A forma ‘Jeová’ é de origem medieval tardia... Por
duas razões o Comité resolveu regressar ao uso mais familiar da King James Version: (1) a
palavra ‘Jehovah’ não representa com precisão qualquer uma das formas do Nome usadas
em hebraico; e (2) o uso de qualquer nome próprio para o único Deus... foi descontinuado
no judaísmo antes da era cristã e é completamente inapropriado para a fé universal da Igreja
Cristã.”
É preciso uma grande audácia! O que é que dá a qualquer homem ou grupo de
homens a autoridade para se sobreporem à vontade de Deus. Só Deus sabe o que
é apropriado ou não para os Seus Filhos. Não seria certamente mais ‘universal’
para a fé da Igreja Cristã usarmos todos o mesmo Nome do que usar um título que
varia de língua para língua? É curioso que eles admitem que “é praticamente certo
que o Nome se pronunciava ‘Yahweh’” e no entanto colocam ‘SENHOR’ no seu lugar.
Ora, o que não é praticamente mas sim absolutamente certo é que o Nome de
Deus não é ‘SENHOR’!
Good News Bible – Prefácio
“Seguindo a tradição antiga iniciada pela primeira tradução das Escrituras Hebraicas (a
Septuaginta)... [IAHUEI] o distintivo nome para Deus... é, nesta tradução, representado por
‘SENHOR’”.
New American Standard Bible – Prefácio
“Este nome [Yahweh] não tem sido pronunciado pelos judeus... portanto, foi
consistentemente traduzido por ‘SENHOR’.”
Mas nós guiamo-nos pela vontade de IAHUEI expressa na Sua Palavra, ou pelas
tradições judaicas (sobretudo quando estas, como neste caso, são contrárias à
Palavra de IAHUEI)?
New Open Bible – New King James Version – Word Study on Exodus 3:15
“Muitos se questionam que nesta98 e em muitas outras (mais de 600099) passagens algumas
bíblias apresentem SENHOR com todas as letras maiúsculas (e.g KJV, NKJV, NIV),
algumas apresentem ‘Jehovah’ (ASV, DARBY) e outras ainda apresentem ‘Yahweh’
(Jerusalem Bible). Porquê uma diferença tão radical? Será que os manuscritos variam assim
tanto? Não, de forma nenhuma.
Por causa do nome de Deus ser tão importante – os judeus devotamente se referem a Ele
como ‘o Nome’ (ha Shem) – vale bem a pena explorar esta revelação com algum detalhe. É
uma mera questão de tradição judaica e de como vários académicos cristãos lidam com essa
tradição.
Nos Dez Mandamentos, Deus proíbe tomar o Seu nome ‘em vão’. Isto significa que não
devemos prestar falso testemunho em votos e que provavelmente também devemos evitar
usar profanidades. Devido ao grande temor de violar este mandamento, hebreus devotos
foram para além da própria lei e, sempre que liam as Escrituras Hebraicas em voz alta liam a
palavra Senhor (Adonai) sempre que viam as quatro letras (YHWH, ou tradicionalmente
JHVH na pronunciação latina) do nome de Deus revelado no Seu concerto. Este era o nome
sagrado pelo qual Ele se havia comprometido para com Israel como nação.
As cópias mais antigas do texto Hebraico foram escritas com consoantes apenas.100
À medida que a linguagem caiu mais e mais em desuso, académicos (chamados Masoretes)
acrescentaram pequenos pontos e traços chamados ‘pontos vogais’ para indicar como o texto
deveria ser pronunciado. Estranhamente, colocaram as vogais de Adonai com o nome
98
Êx.3:15
Na realidade quase 7000 (mais concretamente 6823).
100
Como já vimos, isto está agora posto em causa, pois algumas das letras seriam semi-vogais.
99
sagrado de quatro letras (chamado Tetragrama) para levar os leitores a dizer Adonai em voz
alta nos serviços da Sinagoga.
Esta é a origem do nome ‘Jeová’. É na realidade um nome híbrido que combina as vogais de
Adonai com as consoantes de YHWH resultando em JeHoVaH ou YeHoWaH (o ‘a’ de
Adonai sendo alterado por questões de pronunciação hebraica). As pessoas que produziram
este nome eram académicos cristãos do hebraico na Idade Média. Os judeus nunca
reconheceram tal nome. A defesa deste híbrido cristão é precisamente a mesma defesa da
recusa judaica em pronunciar o nome – tradição!
É muito provável que o nome se pronunciasse de forma muito semelhante a ‘Yahweh’.
Comparações de transliterações muito antigas do nome para outros alfabetos, confirmam
isto. O melhor argumento para a forma como se escreve é que provavelmente se trata da
forma historicamente mais precisa.
No entanto, a introdução de 1952 da RSV explicava a razão pela qual rejeitou ‘Yahweh’ na
tradução. Dizia que era um termo desprovido de qualidades devocionais para os cristãos de
língua inglesa. É verdade que todos os nomes começados por ‘Y’ parecem estranhos à nossa
cultura (todos os nomes em inglês – incluindo Jesus – eram originalmente pronunciados
com o som de um Y, como em ‘Halelu-Yah’).
As grandes traduções bíblicas mais recentes, insatisfeitas quer com Jehovah quer com
Yahweh, retiveram o SENHOR da KJV (o texto de 1901 tinha Jehovah).”
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- kol shofar