User: mfigueiredo
Time: 06-30-2014
22:32 Product: OGloboEsportes
PubDate: 01-07-2014 Zone: Nacional
Edition: 1 Page: PAGINA_E
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Color: C
l Copa 2014 l
Terça-feira 1 .7.2014
O GLOBO
FELIPE DANA/AP/14.10.2012
Anderson Silva se acha um Neymar dos octógonos
Considerado um dos
maiores lutadores
de MMA de todos os
tempos, Anderson Silva
se comparou aos
craques dos gramados
no programa
“Madrugada Sportv”.
Da seleção atual ele
disse que seria “um
Neymar, com certeza”.
“As traquinagens que
Carne e osso
eu já aprontei dentro do
octógono, eu acho que
eu seria um Garrincha.
E em outras épocas
eu seria um Denílson”,
disse o Spider.
Ansiedade
Thiago se isola do grupo,
demonstrando extrema
preocupação. A emoção
toma conta do zagueiro,
criando uma dificuldade
de comunicação com o
resto do grupo
[email protected]
Muitas vezes, a liderança de um
capitão está associada à explosão, à fibra, ao papel enfático
que um jogador personifica em
campo num momento decisivo.
Nos pênaltis, essa missão coube
a Paulinho, Neymar e Fred, que,
na roda, incentivaram os jogadores. Naquele instante, Thiago
Silva, o capitão, foi tomado por
uma introspecção emotiva, como afirma o psicólogo João Oliveira, mestre em cognição e em
linguagem, e professor do Instituto de Neurolinguística (Inap).
— O capitão do Brasil perdeu sua capacidade de raciocínio lógico, e isso é normal
quando o indivíduo é tomado
por uma emoção muito forte.
Não chega a ser uma fraque-
Covardia de
verdade é não
se emocionar
PEDRO MOTTA GUEIROS
[email protected]
D
Especialistas dizem que Thiago Silva
sofreu no sábado, mas sairá fortalecido
ALESSANDRO ALVIM
Artigo
FIM DA
PRORROGAÇÃO
CAPITÃO
HUMANO
l 5
za, é uma atitude humana.
As cenas que se viram, no entanto, não tiram a legitimidade
da braçadeira e demonstram
que a seleção tem mais de um
líder, como explica Marcelo
Fellipe, especialista em neurolinguística e liderança, e também professor do Inap:
— O grupo da seleção apresenta um perfil variado. Eles se complementam. Thiago não é explosivo durante o jogo, mas impõe
respeito e, no momento mais
emotivo, outros conseguem entrar em cena, como Paulinho.
Os profissionais de Psicologia afirmam que o episódio foi
um aprendizado, como complementa João Oliveira:
— Thiago aparenta ter sofrido com a tensão. Mas
a experiência é uma
fortaleza. l
ESPERA PELOS PÊNALTIS
ABRAÇO EM JÚLIO CÉSAR
Sem alteração
de estado
Peso visível em
ser o capitão
Paulinho não
altera o ânimo
de Thiago.
A cabeça baixa
e os ombros
demonstram
tristeza. Paulinho
mostra que a
seleção tem
outros líderes
Responsabilidade
ainda está visível,
como na posição
dos ombros e da
cabeça. Apesar
disso, ele tenta
exercer a
liderança ao se
aproximar do
goleiro
JÚLIO CÉSAR DEFENDE PÊNALTI
Completamente
sem energia
Thiago não olha
as defesas. Seu
estado emocional
suga as energias
de seu corpo.
Momento de
introspeção:
curvado, cabeça
baixa entre os
braços
BRASIL CLASSIFICADO
Liberação de
tensão
O capitão começa
a liberar a tensão
acumulada nas
cobranças.
Gritos e lágrimas
funcionam como
válvula de escape.
Braços para baixo
demostram essa
atitude
COMEMORAÇÃO DO BRASIL
Emocional
esgotado
Não existe mais
energia no corpo
de Thiago.
Ombros e braços
indicam isso.
Todo o sofrimento
e tensão retirou
dele qualquer
capacidade de
resposta física
INFOGRAFIA: Alessandro Alvim. FONTE: João Oliveira (pscicólogo e mestre em Cognição e em Linguagem) e Marcelo Felippe (especialista em neurolinguística). FOTOS: Ivo González, Pedro Kirilos e reprodução de TV.
epois de se mostrar alheia e
imaginar o pior cenário na Copa, boa parte do país, ao se
tornar espectadora compulsiva da festa do futebol, já percebeu que
todos os boletins transmitidos das cidades-sede começa pelo quadro climático
do local. Os entusiastas da objetividade
que me perdoem, mas estamos falando
de emoção. As condições de temperatura e pressão mais relevantes são aquelas
que humanizaram a classificação brasileira, entre o medo do capitão Thiago
Silva e a coragem do barrado Paulinho
para não deixar o resto do time cair.
Por mais que jogadores profissionais
devam estar aptos ao desafio que a Copa
do Brasil impõe, exigir frieza e controle
absolutos neste momento me parece covardia bem maior do que se imagina ter
sido o gesto do zagueiro. Num país inflamado pela intolerância, quem marchava
contra a Copa agora exige a vitória a
qualquer custo num movimento em que
as ruas se encontram com a política, por
mais que uma insista em negar a outra.
Tal qual as alianças mais espúrias e os
partidos dupla face, os ativistas de sofá e
a crítica pela crítica mudam de lado para
estar sempre no lugar confortável em
que apontar o dedo é mais fácil do que
dar as mãos e assumir a responsabilidade diária e coletiva pela construção de
um país melhor.
Embora ninguém possa precisar o que
se passa no coração alheio, a julgar pelo
depoimento emocionado numa propaganda de telefonia, Thiago Silva foi uma
antena que recebeu toda a carga da instabilidade nacional. O medo tomou
conta do zagueiro porque o Brasil só
tem a opção de vencer a Copa, porque a
derrota representa a cruz que a seleção
de 1950 carrega até hoje. Não adianta os
analistas teorizaSe (o jogo com rem que, no munglobalizado, os
o Chile) mexeu do
vilões são passana alma até de geiros, e os heróis,
quem despreza definitivos. Tampouco tentar relao futebol,
cionar a indigêncomo não bateria cia do futebol e
das alternativas
no fundo do
da seleção
peito do nosso táticas
ao desamparo do
capitão?
capitão.
Ouvi comparações com a Holanda, em que o craque
declinou da cobrança sem drama porque havia organização e métodos suficientes para o grupo se impor ao indivíduo. A situação do Brasil é incomparável. Em busca de seu primeiro título, a
Holanda só tem a ganhar nesta Copa. Se
perder, volta para casa como todas as
outras. O Brasil só tem a perder enquanto não puser as mãos na taça. O medo
que aflora nessas horas vem da genética,
do animal que usa a ameaça como estímulo para se manter vivo.
De um estudante a um profissional
consagrado, todos são movidos diariamente pela oposição entre medo e desejo. É comum ouvir relato de artistas e escritores que, apesar do aplauso e do reconhecimento, temem diariamente serem desmascarados por se sentirem
uma farsa. Na cobertura da Copa do
Mundo, que já está em sua sexta semana, o desafio da página em branco traz a
dúvida e a expectativa que crescem pela
importância histórica do momento que
vivemos.
Todo brasileiro envolvido com a Copa
acordou diferente depois do jogo de domingo. Se o renascimento, depois da
sensação de que o fim era iminente, mexeu no corpo e na alma até de quem desprezava o poder arrebatador do futebol,
como não bateria no fundo do peito dos
nossos jogadores? O capitão não deve
fraquejar, como, aliás, não fez ao longo
do jogo em que teve atuação impecável,
mas pode, sim, balançar diante do ritual
sumário de condenação que uma disputa de pênaltis e mais uma derrota do Brasil em casa anunciam. Chorar numa hora dessas é coisa de homem. Covardia é
não se emocionar. l
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Carne e osso Depois