NOT A TÉCNICA OTA DIMENSIONAMENTO ECONÔMICO INSTALAÇÕES DE RECALQUE DE HEBER PIMENTEL GOMES Doutor em Hidráulica pela Escola de Engenharia Civil da Universidade Politécnica de Madrid. Professor Adjunto do Departamento de Tecnologia da Construção Civil, da Universidade Federal da Paraíba. RESUMO ABSTRACT Este trabalho apresenta alternativas metodológicas à fórmula clássica de Bresse de dimensionamento econômico de instalações de recalque. São apresentados dois métodos: o primeiro se baseia na variação linear dos preços dos tubos com seus diâmetros e o outro na variação do preço do tubo com o seu peso. Através de uma aplicação prática ficou demonstrada a validade de ambos os métodos. Os resultados do dimensionamento foram comparados com os resultados obtidos através do método das tentativas, no qual o diâmetro ótimo é obtido entre uma gama de diâmetros comercialmente disponíveis. This paper discusses methodological alternatives to the classical formulae of Bresse which is commonly used to determine the most economic delivery pump-pipeline diameter. Two methods are presented: the first based on a linear cost variation with the pipeline diameter and the second one on the pipeline cost variation with the weight. A case study was carried out for analysis. The best diameter was determined tentatively, among a series of diameters available in the market place. The results were compared and showed that both methods are valid to determine the best delivery pump-pipeline diameter. PALAVRAS CHAVES: Instalação de recalque, adutora, dimensionamento econômico, diâmetro ótimo. KEYWORDS: Pumping pipeline, economic,dimensioning INTRODUÇÃO As instalações de recalque ou estações elevatórias são sistemas, compostos por bombas e tubulações, utilizados para pressurizar um determinado líquido, a fim de conduzí-lo a um ou vários pontos de consumo, superando desníveis topográficos e perdas de carga ao longo das canalizações. Essas instalações são usadas, principalmente, nos sistemas de abastecimento urbano de água, em projetos de irrigação, em estações elevatórias de esgotos, em instalações prediais. As instalações são compostas, principalmente, por uma estação de bombeamento, incluindo o sistema de sucção, e uma tubulação de recalque, que pode alcançar, dependendo do projeto, dezenas de quilômetros de comprimento. O projeto de uma instalação de recalque compreende o dimensionamento das tubulações de recalque e de sucção, com o conseqüente cálculo da potência do conjunto elevatório. O projeto, sob o ponto de vista técnico e econômico, está condicionado, primordialmente, ao dimensionamento hidráulico da tubulação de recalque. Segundo o diâmetro encontrado para a adutora, os custos de implantação e de operação do sistema poderão variar, obtendo-se assim proje- tos mais ou menos econômicos. O dimensionamento hidráulico de um conduto sob pressão consiste em determinar a velocidade média de circulação da água (V), a vazão (Q), o diâmetro do tubo (D) e também a perda de carga no sistema (hf ). Para tanto dispõese apenas de duas equações, que são a da continuidade e a da perda de carga ao longo do conduto, ou seja: Q=V ðD2 4 hf = f (Q,D) (1) (2) Sendo a vazão geralmente dada como parâmetro conhecido do projeto, restam assim três variáveis (V, D, hf), para somente duas equações. Observa-se então que o dimensionamento de um conduto de recalque é um problema hidraulicamente indeterminado, já que existem mais incógnitas do que equações disponíveis, podendo haver inúmeras soluções para o diâmetro (e para a velocidade) que atendem à vazão demandada. Essa indeterminação pode ser superada admitindo-se uma restrição hidráulica ao problema, que pode ser uma perda de carga máxima admissível no conduto, 108 engenharia sanitária e ambiental uma velocidade recomendada de escoamento ou então admitindo-se um diâmetro já normalizado, dentre os comercialmente disponíveis. No entanto, a metodologia mais adequada para resolver esse problema constitui-se na introdução do critério econômico de se buscar a alternativa de projeto que minimize o custo total do sistema, composto pelo custo de implantação e o de operação. Os custos de implantação e de operação são antagônicos, ou seja, quando um aumenta o outro diminui e vice-versa. Ao se escolher um diâmetro menor para a adutora, haverá uma diminuição no seu custo de implantação, mas, em contrapartida, o custo de operação (energético) será maior. De modo contrário, ao se optar por um diâmetro maior haverá uma diminuição no custo de operação, por conta da diminuição das perdas de carga, e um aumento no custo de implantação da tubulação de recalque (ver Figura 1). Há uma apreciada diminuição da perda de carga quando se aumenta o diâmetro da tubulação de recalque, já que esta varia com o inverso da quinta potência do diâmetro (ver equação 10), barateando assim, a energia gasta no decorrer da utilização da instalação. De maneira oposta, quando ocorre um aumento do diâmetro utilizado, aumentar-se-á o cus- Vol. 6 - Nº 3 - jul/set 2001 e Nº 4 - out/dez 2001 to total de investimento da tubulação, pois quanto maior o diâmetro de um tubo, constituído por um mesmo material e de uma mesma classe, maior será o custo da implantação. Assim sendo, faz-se necessário determinar um diâmetro ótimo para a tubulação de recalque, de tal forma que se obtenha, para uma vazão determinada, o menor custo do sistema, composto este pela soma do custo de implantação e o custo de operação, cujo peso maior deste último corresponde ao gasto de energia elétrica. O custo de implantação compreende o custo dos tubos, das peças de conexão, do conjunto motor-bomba, e as despesas com escavação e montagem. Existem na literatura vários métodos desenvolvidos para se calcular o diâmetro economicamente ideal para condutos. Uma das primeiras fórmulas da hidráulica para o dimensionamento econômico de tubulações de recalque, e que ainda é atualmente usada, é a de Bresse1: D=k Q (3) onde Q é a vazão, dada em m3/s, D o diâmetro em m e k é um coeficiente que depende de inúmeros fatores, conforme será visto mais adiante. Pode-se determinar o coeficiente k a partir de uma velocidade, que seria a mais recomendada em termos de economia e segurança do sistema. Da equação da continuidade tem-se: 4Q ðD 2 = 4Q ðQk 2 = 4 ðk 2 ⇒k= 4 ðV (4) Os valores dessa velocidade média e do respectivo valor de k, segundo ÁVILA (1978) são mostrados no Tabela 1. O critério de dimensionamento desenvolvido por Bresse tem um grau de incerteza elevado, já que o coeficiente "k" é função de diversos fatores e tem que ser arbitrado conforme a experiência do projetista, o que torna este método vulnerável. A fórmula de Bresse deve ser aplicada a sistemas de funcionamento contínuo, durante 24 horas diárias. Para o funcionamento do sistema durante um determinado número de horas por dia (n'), 1 Tipo de Tubo Velocidade (m/s) Coef. de Bresse (k) Tubulação de sucção em bombas 0,5 a 1,0 1,1 a 1,6 Tubo de descarga em bombas 1,5 a 2,0 0,7 a 1,0 Redes de distribuição para água potável Tubulação principal 1,0 a 2,0 0,7 a 1,1 Tubulação lateral 0,5 a 0,7 1,3 a 1,6 Tubos de grandes diâmetros 1,5 a 3,0 0,7 a 1,0 Inclinação e diâmetro pequenos 2,0 a 4,0 0,6 a 0,8 Inclinação e diâmetro grandes 3.6 a 8,0 0,4 a 0,6 Horizontais e grande extensão 1,0 a 3,0 0,7 a 1,1 Tubulações em usinas hidroelétricas METODOLOGIAS V= Tabela 1 - Velocidades recomendadas e correspondentes valores de k a ABNT(1982), através da NBR-5626, recomenda a utilização da equação 2.3, na qual Q é dado em m3/s e D é obtido em metros. n' D = 1,3 24 0,25 Q (5) Com o advento de novas ferramentas metodológicas, princi-palmente nas áreas de pesquisa ope-racional, têm-se desenvolvidos critérios mais precisos de dimensionamento de sistemas de recalque, dentre os quais pode-se destacar os dois seguintes métodos: · Método baseado na variação linear dos custos das tubulações; · Método baseado no peso das tubulações. Método baseado na variação linear dos custos das tubulações O método é bastante simples e parte do princípio, admitido por MENDILUCE (1966), de que o custo da tubulação varia linearmente com o seu diâmetro, ou seja: C(D) = l D (6) em que: C(D) é o preço da tubulação por metro de comprimento ($/m); D o diâmetro normalizado do tubo, em metros; l é o custo do tubo, por metro de comprimento, e por metro de diâmetro ($/m x m). O custo total do sistema de recalque é composto de duas partes distintas: uma referente aos custo de implantação do sistema, e a outra se refere aos custos operacionais, que, em grande parte, corresponde à energia gasta pela instalação de bombeamento para recalcar a vazão de projeto. O custo de implantação da tubulação de recalque pode ser dado pela equação 2.5, sendo L o comprimento total da tubulação, ou seja: Cinstalação = l D L (7) A potência, em Kw, requerida pelo conjunto motor bomba, para elevar uma vazão Q de água, a uma determinada altura manométrica "Hman" é dada por: P= 8,91 Q H man (8) η Q é dada em m3/s, a altura manométrica, que corresponde à altura Jaques Antoine Charles Bresse, engenheiro francês, 1822-1883 (PORTO, 1998) Vol. 6 - Nº 3 - jul/set 2001 e Nº 4 - out/dez 2001 engenharia sanitária e ambiental 109 N OT A TÉCNICA OTA DIMENSIONAMENTO ECONÔMICO DE INST ALAÇÕES DE RECALQUE NSTALAÇÕES N OT A TÉCNICA OTA HEBER PIMENTEL GOMES geométrica (Hg ) mais as perdas de carga (hf), em m, e h é o rendimento esperado do conjunto motor-bomba. O custo anual com energia é obtido mediante o produto da potência requerida, pelo número anual de horas de bombeamento e pelo custo unitário da energia, ou seja: Cenergia = 9,81Q (Hg + h f ) n b p η (9) ser calculado por um processo iterativo simples, com o auxílio de uma planilha eletrônica ou uma máquina de calcular programável. Existe uma fórmula que permite o cálculo direto de f, que pode ser utilizada para 103 £ Re £ 108 e 10-6 £ e/D £ 10-2 (UNIVERSIDAD POLITÉCNICA DE VALENCIA, 1987): f = em que: nb é o número anual de horas de bombeamento; p é o preço do kWh. e hf corresponde às perdas de carga totais na instalação, que podem ser expressas, segundo a equação universal, para escoamento turbulento, por: hf = β L 2 Q 5 D ; (10) onde a variável de perdas "b", segundo Darcy-Weisbach, é igual a: β = ( ΣK)D f + L π g 8 2 (11) em que: f - coeficiente de atrito do tubo; SK - somatório dos coeficientes K de perdas localizadas; Q - vazão em m3/s; L - comprimento da tubulação, em m; D - diâmetro interno da tubulação, em m. 0,25 5,74 ε log10 3,7D + Re 0 ,9 2 n n 1 + e ) − (1 + i) 1 ( Fa = × (1 + e ) − (1 + i) (1 + i )n onde: i - taxa de juros anual; e - taxa de aumento anual da energia; n - período de amortização (em anos), que normalmente considera-se como sendo igual à vida útil da instalação. (13) A diferença entre o valor de f, calculado através dessa última expressão, e o obtido mediante a equação de Colebrook e White, é, quase sempre, inferior a 10 %. Os custos de implantação e de operação da instalação incidem em tempos distintos, já que o custo de implantação é fixo e atua no inicio do empreendimento, enquanto que o custo energético incide ao longo da vida útil do projeto. Nesse caso, para que se possa somar os dois custos, deve-se amortizar o custo atual de implantação e adicionar ao custo anual de energia, ou calcular o valor presente (atualizado) do custo energético, adicionando-o posteriormente ao custo fixo de implantação. Essa última alternativa foi a utilizada neste trabalho. O custo atualizado da energia é dado pelo produto entre o custo energético anual e o coeficiente de atualização da energia "Fa", expresso por: Assim, o custo total do sistema de recalque (de implantação e de operação) pode ser expresso da seguinte forma: Ctotal = 9,81Q Hg + β L Q2 nb p D5 η f ε /D = −2log10 3,7 + 2,51 Re f (12) Re é o número de Reynolds do escoamento, e e/D é a rugosidade relativa do tubo. Através da equação 12 não se pode determinar diretamente o valor do coeficiente de atrito "f", apesar de que ele pode 110 engenharia sanitária e ambiental × Fa + λ D L (15) O primeiro somando da equação 15 corresponde aos gastos atualizados com a energia (operação), enquanto o segundo corresponde aos custos fixos de implantação do sistema. A Figura 1 mostra como são representados os custos totais, em função do diâmetro da adutora. O custo do sistema de recalque será mínimo quanto a tangente à curva que representa o custo total, for igual a zero. Ou seja: dC dD = −6 3 − 5 x9,81Q β .Ln p pFa D η + λ .L = 0 (16) C Cconjunto Cmin O coeficiente de atrito "f" pode ser obtido através da fórmula de Colebrook e White (regime de escoamento turbulento): 1 (14) Cam Cen D Dot Figura 1 - Variação do custo total do sistema de recalque, segundo o diâmetro da adutora Vol. 6 - Nº 3 - jul/set 2001 e Nº 4 - out/dez 2001 O diâmetro mínimo (ótimo teórico) será, portanto: β p nb Fa λη Dótimo = 1,913 0,166 Q (17) Na determinação do valor de "l" da equação 17 devem ser computados, além do preço unitário do tubo, incluindo transporte e impostos, os gastos com a escavação e montagem. O parâmetro de custo "l" e a variável de perda "b" variam com o diâmetro da tubulação, o que poderia, a princípio, dificultar o cálculo do diâmetro ótimo através da expressão 17. No entanto, esse aspecto não se constitui em um problema para a obtenção do diâmetro ótimo, já que, para qualquer valor de "l" e "b", obtidos a partir de um determinado diâmetro, entre os comercialmente disponíveis, o valor de Dótimo calculado (pela expressão 17) se situará em torno de um diâmetro nominal, que será o ótimo definitivo para o projeto. Através do exemplo 1, que será apresentado adiante, esse aspecto será melhor esclarecido. Fazendo-se uma analogia entre a equação 17 com a fórmula de Bresse, o valor de "k" dessa última seria igual a: 1,913 β pnFa / λη 0,166 .Pode-se acrescentar, portanto, que o coeficiente "k" da fórmula de Besse depende das perdas de carga totais na adutora, do custo energético, do regime de bombeamento, do custo de implantação da tubulação e do rendimento do conjunto elevatório, o que confirma a grande incerteza ao se tentar atribuir diretamente um valor para o coeficiente "k". A limitação do método baseado na variação linear dos custos está na suposição de que o custo, por metro de tubulação instalada, varia linearmente com o diâmetro, ou seja, que o preço de um tubo de 400 mm seria o dobro do preço de um de 200 mm, o que na prática não se verifica. O gráfico representado na Figura 3 mostra a variação de preço dos tubos de PVC em relação a seus diâmetros. ( ra "e", onde "Pi" é a pressão interna e "s" é a tensão submetida pelo material (ver figura 2). A metade superior do tubo estará em equilíbrio sob a força vertical (Fv), decorrente dos esforços internos (Pi) radialmente distribuídos, e das reações ( se) em A e B, que são normais à seção longitudinal do tubo (figura 2.b). As componentes vertical (Fv) e horizontal (Fh), decorrentes dos esforços interiores que atuam na metade superior do tubo, são obtidas da seguinte forma: π π Fv = ∫−π2 p i cos α dS = ∫-π 2 p i 2 2 D 2 Assim, o peso por metro de comprimento será igual a: D2 − (D − 2e) Peso = ρ π 4 2 = ñπ ( e D + e π onde r é o peso específico do mateSubstituindo (21) em (23) tem-se: cos α d α = p i D Fh = ∫−π2 p i sen α dS = ∫− π2 p i 2 2 D 2 Peso = ρ sen α d α = 0 (19) O equilíbrio da componente vertical (Fv) com as reações normais nas paredes do tubo origina o seguinte resultado: pi D = 2 σ e e= ) pi D (21) 2σ A área de um anel circular é dada por: D −d A = π 4 2 πp i p 2 1 + i D 2σ 2σ C(D) = l' D2 (25) onde l' é o custo do tubo, por metro de comprimento, e por metro de diâmetro ao quadrado ($/m x m2). Como a expressão do custo energético não muda (primeiro somando da eq. 17) o custo total do sistema será dado por: 9,81 Q H g + β L 2 (22) (24) De onde pode-se concluir que o peso, e consequentemente o custo da tubulação, é proporcional ao quadrado do diâmetro, de modo que a expressão do custo será: (20) ou seja: ) rial. (18) π 2 = (2.3) Ctotal = η Q 2 D 5 nb p ×F a + λ' D L 2 (26) onde D é o diâmetro externo do anel e d o interno. Método baseado no peso da tubulação Esse método parte do princípio de que o custo da tubulação é proporcional ao seu peso (MELZER, 1970). Seja um tubo de comprimento unitário, de diâmetro interno "D" e espessu- Figura 2 - Seção transversal de um tubo submetido à pressão interna "pi" Vol. 6 - Nº 3 - jul/set 2001 e Nº 4 - out/dez 2001 engenharia sanitária e ambiental 111 N OT A TÉCNICA OTA DIMENSIONAMENTO ECONÔMICO DE INST ALAÇÕES DE RECALQUE NSTALAÇÕES que, derivando com relação à D e igualando a zero, obtém-se: β p n p Fa Dótimo = 1,579. λ 'η 0 , 43 9,81Q Hman nb p Fa ç (28) Enunciado do problema 0 ,143 Q Ctotal = C(D) L + (27) Com exceção de l' as variáveis apresentadas na expressão anterior são idênticas às da equação 17. A expressão 27 ajusta-se mais a tubulações metálicas, aonde realmente os custos unitários de fabricação dos tubos são proporcionais ao peso da tubulação, e consequentemente ao quadrado do diâmetro, conforme ficou demonstrado pela equação 24. Muito embora, deve ser considerado que a componente dos custos (por metro linear), relativa à escavação e montagem, não varie com o diâmetro da tubulação, nem muito menos com o quadrado desta. Como será visto, através do exemplo 1, o diâmetro obtido, tanto pela equação 17 como pela 27, deve ser arredondado para o comercial mais próximo, que poderá ser o consecutivo superior ou inferior. O arredondamento para o consecutivo superior se dará quando o valor do diâmetro ótimo teórico calculado esteja mais próximo do valor do diâmetro comercial consecutivo superior. Caso contrário o arredondamento deverá ocorrer para o valor do diâmetro comercial consecutivo inferior. Determinar o diâmetro ótimo de uma tubulação de recalque com um desnível topográfico de 30 metros e uma extensão de 2.000 metros de tubulação. O valor da pressão residual no ponto de deságua é desprezível e a vazão requerida é de 40 l/s. O somatório dos coeficiente devido às perdas localizadas da tubulação é igual a 15. O rendimento esperado do conjunto motor-bomba é de 75% e a viscosidade cinemática da água a 20ºC, é de 1,004´10-6 m2/s. O preço do kwh é de R$ 0,063, calculado para um período de exploração de 30 anos, com utilização média anual de 5.840 h. A taxa de juros é de 12 % ao ano, e o aumento anual esperado da energia é de 6 %. Deverão ser utilizados tubos de PVC (rugosidade relativa de 0,02 mm), cujos preços estão 112 engenharia sanitária e ambiental Resolução do problema O diâmetro ótimo será determinado por meio das duas fórmulas apresentadas neste trabalho. Método baseado na variação linear dos custos das tubulações Através do método baseado na variação linear dos custos das tubulações o Diâmetro Nominal (mm) Diâmetro Interno (mm) Custo (R$/m) 50 53,4 3,54 75 75,6 6,74 100 108,4 12,80 150 156,4 23,41 200 204,2 39,24 250 252,0 58,52 RESULTADOS E DISCUSSÃO A validade das duas fórmulas de dimensionamento ótimo de tubulações de recalque apresentadas nessa trabalho (equações 17 e 27) será testada com a aplicação de um exemplo de dimensionamento de uma estação elevatória, cujos dados foram obtidos de um projeto real. Os resultados do dimensionamento ótimo obtidos serão testados, comparando-os com os resultados encontrados através da utilização do "método das tentativas". O diâmetro ótimo de uma instalações de recalque pode ser obtido também por tentativas, onde são calculados os custos reais de operação e de implantação para uma determinada gama de diâmetros comerciais disponíveis, cujo ótimo será aquele que acarretar um menor custo do sistema (implantação mais operação), dado pela equação 28, cujas variáveis já foram definidas nas equações anteriores. apresentados na Tabela 2 (já estão incluídos os custos de transporte). A geratriz superior da tubulação estará a 2,0 m de profundidade, a inclinação do talude da vala é igual a 0,2, e a largura da base da vala é de D mais 0,6 metros, onde D é o diâmetro, em metros, da tubulação. Os custos unitários dos movimentos de terra são dados na Tabela 3 Tabela 2 - Custo da tubulação de PVC com classe de pressão 10 (1 Mpa) 90 Custo (R$/m) N OT A TÉCNICA OTA HEBER PIMENTEL GOMES 80 70 60 50 40 30 20 10 0 50 100 150 200 250 300 Diâmetro (mm) Figura 3 - Preços dos tubos de PVC, em relação aos diâmetros Vol. 6 - Nº 3 - jul/set 2001 e Nº 4 - out/dez 2001 diâmetro ótimo teórico será obtido através da equação 17. O valor de "l" poderá ser determinado para qualquer dos diâmetros comercialmente disponíveis apresentados na Tabela 2. De maneira correspondente o valor do coeficiente "f" e da variável de perda "b" devem ser calculados para esse mesmo diâmetro. Será adotado, como poderia ser outro, o diâmetro de 150 mm para a obtenção do valor de "l", que deverá ser calculado em função do preço unitário estabelecido na Tabela será obtido através da equação 27. O valor de l' para o diâmetro de 150 mm, já calculado anteriormente, é de 1.720,00 R$/m/m2. Como a variável da perda de carga "b" não varia, pode-se calcular diretamente o valor do diâmetro ótimo, ou seja. 0,00128× 0,068× 5.840× 13,47 1.720,00× 0,75 0,43 0,04 Tabela 3 - Custo do movimento de terra Aterro 1,20 R$/m3 Bota-Fora 0,50 R$/m3 Pavimento 2,10 R$/m2 2, computando também os gastos unitários com a montagem (movimentos de terra). Em função dos preços apresentados na Tabela 3, os custos unitários (em reais) de escavação, aterro, bota-fora e reposição do pavimento serão, respectivamente, 8,88; 3,02; 0,01; e 3,38. Dessa forma, o custo de implantação, por metro linear da tubulação de 150 mm será de R$ 38,70 e os valores de l e l' serão, respectivamente, 258,00 R$/m/m e 1.720,00 R$/m/m2. Para o diâmetro nominal de 150 mm (diâmetro interno de 156,4 mm), o valor de "f", calculado mediante a equação de Colebrook e White (eq. 12) é de 0,0144, e a variável de perdas "b", obtida através da equação 11, é igual a 0,00128. O valor do fator de atualização da energia "Fa", calculado através da equação 14 é igual a 13,47. O diâmetro ótimo teórico será: 0,166 0,00128× 0,063× 5840× 13,47 258,00× 0,75 Dótimo = 1,913 0,04 = 0,217m O diâmetro teórico está compreendido entre os diâmetros comerciais de 200 e 250 mm, estando mais próximo do diâmetro de 200 mm, que será o ótimo comercial mais econômico. Método baseado no peso da tubulação Através do método baseado no peso das tubulações o diâmetro ótimo teórico Para o diâmetro de 250 mm: = Como resultado final, pode-se garantir que o diâmetro ótimo, que minimiza os custos totais de implantação e operação da adutora, é igual a 200 mm, o que atesta a validade dos métodos representados pelas fórmulas 17 e 27. CONCLUSÕES Da mesma forma que no método anterior o valor do diâmetro ótimo teórico está mais próximo do diâmetro nominal de 200 mm, que será o comercial que proporcionará o menor custo total do sistema. Análise dos resultados Serão comprovados, através do método das tentativas, mediante o emprego da equação 28, os custos totais para os diâmetros comerciais de 150, 200 e 250 mm, que são os valores comerciais vizinhos aos ótimos teóricos encontrados nos dois métodos apresentados neste trabalho. A Tabela 3 apresenta os custos dos movimentos de terra com os custos totais de implantação, por metros linear, para os diâmetros que serão testados no processo de otimização. As alturas manométricas, correspondentes aos diâmetros a serem comprovados estão apresentadas no Tabela 4: Os custos totais, atualizados, da instalação de recalque (de implantação e de operação) sâo: Para o diâmetro de 150 mm: Ctotal = 38,70 × 2.000 + 9,81× 0,04× 74,04 × 5.840× 0,063× 13,47 + 0,75 Vol. 6 - Nº 3 - jul/set 2001 e Nº 4 - out/dez 2001 Ctotal = 111.120,00 + 109.939,71 = R$ 221.059,71; Ctotal = 151.820,00 +89.663,09 = R$ 241.483,09 = 0,187m 3,50 R$/m3 Para o diâmetro de 200 mm: 0,143 Dótimo = 1,579 Escavação Ctotal = 77.400,00 + 191.979,62 = R$ 269.379,62; O diâmetro mais econômico de uma instalação de recalque obtido através da fórmula de Bresse é um valor apenas aproximado. Mediante a analogia entre essa fórmula e a equação 17, o valor de k da fórmula de Bresse depende das perdas de carga totais na adutora, do custo energético, do regime de bombeamento, do custo de implantação da tubulação e do rendimento do conjunto elevatório, o que confirma a grande incerteza ao se tentar atribuir diretamente um valor para o coeficiente "k". Através das fórmulas 17 e 27 se obtém um valor contínuo para o diâmetro ótimo, ou mais econômico, que não coincide, normalmente, com um valor nominal ou comercial. Esse valor teórico deve ser aproximado para o comercial mais próximo para a obtenção do diâmetro definitivo para a tubulação de recalque, seja ele o consecutivo superior ou o inferior. Na maioria das aplicações práticas costuma-se adotar o comercial consecutivo superior, o que não corresponde, necessariamente, à alternativa mais econômica de projeto. Através do exemplo apresentado aqui ficou comprovada a validade dos dois métodos de dimensionamento econômico de instalações de recalque apresentados neste trabalho. Com base nas fórmulas de obtenção do diâmetro ótimo (equaçôes 17 e 27) pode-se assegurar que: · O diâmetro mais econômico da instalação de recalque independe da altura geométrica de elevação; · Para uma vazão definida o diâme- engenharia sanitária e ambiental 113 N OT A TÉCNICA OTA DIMENSIONAMENTO ECONÔMICO DE INST ALAÇÕES DE RECALQUE NSTALAÇÕES N OT A TÉCNICA OTA HEBER PIMENTEL GOMES Tabela 4 - Custo da implantação, por metro de comprimento, por metro de comprimento e de diâmetro (λ ), e por metro de comprimento e pelo quadrado do diâmetro (λ''). são e gotejamento; Editora Universitária/ UFPB. 3ª Edição. Campina Grande, 1999. 421p MELZER, A.; Sur le Calcul du Diamètre Économique d'une conduite de refoulement; Centre Belge D'etude et docomentation des eaux; Janvierga, 1970. 150 mm 200 mm 250 mm Escavação 8,88 9,55 10,24 Aterro (preenchimento) 3,02 3,23 3,45 Bota-fora 0,01 0,02 0,03 NETTO, J. M. A. Manual de Hidráulica, 8ª edição. Editora Edgard Blücher Ltda.; São Paulo, 1998. Reposição do pavimento 3,38 3,52 3,67 PORTO, R., M. Hidráulica Básica. Publicação EESC-USP, SP. São Carlos, 1998. Subtotal (montagem) 15,29 16,32 17,39 Custo do tubo por metros (R$/m) 23,41 39,24 58,52 Custo total de implantação (R$/m) 38,70 55,56 75,91 Valores de λ (R$/m/m) 258,00 277,80 303,64 1.720,00 1.389,00 1.214,56 Valores de λ' (R$/m/m2) MENDILUCE, E. Calculo de las tuberías de impulsión. Revista de Obras Públicas; Enero, 1966. Endereço para correspondência: Heber Pimentel Gomes Tabela 5 - Alturas manométricas Diâmetro Nominal (mm) Diâmetro interno (mm) Valores de "β" Perdas totais(m) Altura manom. (m) 150 156,4 0,00128 44,04 74,04 200 204,2 0,00137 12,40 42,40 250 252,0 0,00145 4,58 34,58 tro ótimo diminui com o aumento do custo unitário de implantação da tubulação e do rendimento do conjunto motorbomba; · Para uma determinada vazão o diâmetro ótimo aumenta com o aumento das perdas de carga, do preço da energia, do número de horas de bombeamento anual e do fator de atualização da energia. A aplicação dos dois métodos apresentados neste trabalho é de grande valia quando se pretende obter diâmetros ótimos para instalações de recalque nas fases de ante-projeto e de estudos de viabilidade econômica. Nessas duas fases, faz-se necessário comparar inúmeras alternativas de projeto, com dados distintos, com o propósito de se escolher a mais viável economicamente. Após a definição prévia dessa alternativa, executam- Av. Oceano Atlântico, 198 Aptº101 58310-000 Cabedelo - PB Tel: (83) 310-1157 Fax (83) 241-2258 E-mail: [email protected] se todos os cálculos complementares, sem muitas aproximações, que deverão compor o projeto executivo definitivo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ABNT, G.S.; Instalações Prediais de Água Fria - NBR-5626, Vol. 1; Rio de Janeiro, 1982. AVILA, G.S.; Hidráulica General, Vol. 1; Editora Limusa; México, 1975. UNIVERSIDAD POLITECNICA DA VALENCIA; Curso de Ingenharía Hidraulica Aplicada a los Sistemas de Distribuición de Água. Instituto de Estudios de Administratión; Madrid, 1987 FORMIGA, K. T. M. e GOMES, H. P.; Metodologias de Otimização de Estações Elevatórias; III Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste, Salvador, BA, 1996. GOMES, H. P.; Engenharia de Irrigação: hidráulica dos sistemas pressurizados, asper- 114 engenharia sanitária e ambiental Vol. 6 - Nº 3 - jul/set 2001 e Nº 4 - out/dez 2001