A QUALIDADE DO TRANSPORTE COLETIVO URBANO POR ÔNIBUS NO MUNICÍPIO DE CARAPICUÍBA DO PONTO DE VISTA DO USUÁRIO. Alexandre Carlos Ricon Baldessarini, [email protected] FNC Carapicuíba Hosana Santos, [email protected] FATEC Carapicuíba Luana Gonçalves Cavalcante, [email protected] FATEC Carapicuíba Maristela dos Santos Matos, [email protected] FATEC Carapicuíba Walter Aluísio Santana, [email protected] FATEC Carapicuíba ÁREA TEMÁTICA Planejamento Urbano RESUMO Este trabalho tem por objetivo avaliar a qualidade do sistema de transporte coletivo urbano por ônibus no município de Carapicuíba, considerando o ponto de vista do usuário. O município caracteriza-se como uma cidade dormitório de porte médio da Região Metropolitana de São Paulo. Desta forma, buscou-se mensurar indicadores de satisfação do usuário na utilização deste modo de transporte, a fim de identificar os pontos críticos impactantes na qualidade do sistema de transporte da região, para tanto, foram aplicados os conceitos de avaliação da qualidade sugeridos por Ferraz e Torres em seu livro “Transporte Público Urbano”. Para a avaliação foi feita uma pesquisa com 109 usuários do sistema em que os mais elevados graus de insatisfação referem-se à participação da prefeitura municipal de Carapicuíba na qualidade do serviço prestado: ao precário estado de conservação das vias, características e estado de conservação dos locais de parada e ao sistema de informação ao usuário. Em contra partida observa-se que em relação às empresas prestadoras do serviço, que o comportamento dos operadores, características dos veículos, confiabilidade e conectividade apresentam alto nível de satisfação na percepção dos usuários do sistema de transporte. Os resultados da pesquisa forneceram um diagnóstico da qualidade do serviço do transporte coletivo por ônibus que é ofertado no município de Carapicuíba e servirão como subsídio na elaboração de propostas que visem melhorar o nível de satisfação do usuário e que possa ser utilizado pela prefeitura municipal de Carapicuíba e pelas empresas concessionárias. Palavras-chaves: transporte, urbano, ônibus, Carapicuíba, qualidade. ABSTRACT This project objective is to analysis the quality of public transport system of Carapicuíba city, considering passengers point of view. Carapicuíba is a “dormitory town”, with medium size in São Paulo. For achieving this objective, we tried to measure the satisfaction index from people that use this kind of transport, where we identified the more critical points that affect the quality of transport system of this region. We used the concepts of quality evaluation suggested by Ferraz and Torres in his book “Urban Public Transport”. For this analysis, we made an interview with 109 users of this kind of transport, where the higher dissatisfaction were related to participation of municipal government of Carapicuíba on the qualitiy of this service: bad preservation state of roads, conservation of bus stops places, and system for users information. In the other hand, we observed that in the companies that offers this kind of service, the behavior of employees, vehicles characteristics, reliability and connectivity shows a high level of customers satisfaction. This survey results gave an diagnosis analysis from quality of transportation by bus offered at Carapicuíba city, and this will help on preparation of new proposals that have as objective customers satisfaction and can be used by municipal government of Carapicuíba and companies interested in supply this kind of service. Key-words: transport, urban, bus, Carapicuíba, quality. INTRODUÇÃO Todos os dias são realizados no Brasil milhares de deslocamentos com diversas finalidades. Esses deslocamentos nem sempre são realizados de forma eficiente causando danos sociais, econômicos, ambientais e logísticos para a população que é vítima de um sistema caótico de transporte e sem a devida atenção do poder publico para esse problema. Segundo o Centro de Transporte Sustentável – CTS BRASIL (2009), os corredores transporte coletivo que visam dar mobilidade ao transporte pôr ônibus, garantindo prioridade ao sistema no uso da via e proporcionando a qualidade ao transporte por ônibus, somam apenas 400 km até hoje no Brasil, com a metade das linhas concentradas em São Paulo - SP (100 km), Curitiba - PR (72 km) e Porto Alegre - RS (50 km). No seu conjunto, o transporte coletivo atende um terço das viagens urbanas, os outros dois terços envolvem carros e pedestres. Para absorver uma parcela maior de passageiros, o transporte coletivo precisa tornar-se prioridade para as cidades. O quadro 1 apresenta dados sobre as condições do sistema do transporte coletivo em países em desenvolvimento. Quadro 1 - Condições do sistema de transporte coletivo urbano em países em desenvolvimento. CAUSA EFEITO Resumo das condições do Sistema Condições. de transporte em Países em Desenvolvimento fator ou variável. Infraestrutura. Falta total ou precariedades das calçadas; vias de baixa qualidade; pouca preocupação para o transporte não motorizado e público. Oferta de veículos. Disponibilidade de bicicletas, grande oferta de transporte privado para grupos de renda média/alta, oferta baixa/média de transporte público. Mobilidade e uso do transporte. Mobilidade baixa, grande variação no uso dos modos (predominância para os não motorizados e transporte público). Motivos de viagem. Acessibilidade. Conforto. Gastos. Segurança de tráfego. Meio Ambiente. Trabalho/escola. Grande variação nos tempos de deslocamento por modo; transporte privado sempre mais rápido que o público; baixa oferta espacial; tempos longos de acesso a pé e integração deficiente do transporte público. Baixa qualidade das viagens a pé, superlotação frequente do transporte público. Grupos de baixa renda gastam muito com transporte e grupos de renda alta gastam porcentagem menor. Altos índices de acidentes. Alta concentração de poluentes. Fonte: VASCONCELOS (2000) Verifica-se que, conforme quadro 1, as condições do sistema de transporte público são ineficientes e não proporcionam a devida qualidade ao usuário trazendo problemas sociais, econômicos e ambientais. A industrialização e o crescimento demográfico são determinantes na formação das cidades (NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA, 2001). Seguindo radicalmente esta teoria, há uma alta concentração e competitividade por imóveis nas regiões centrais, obrigando assim a expansão incontrolada dos municípios, que na maioria das vezes tornam-se cidades periféricas com índices demográficos bastante elevados, características opostas das cidades centrais. Uma mobilidade urbana facilitada é dependente das características do sistema de transporte de passageiros, que por sua vez é fator crucial na qualidade de vida da sociedade (FERRAZ E TORRES, 2004). Este estudo toma como base o município de Carapicuíba, localizado a 23 quilômetros da capital paulista apresenta-se como uma das cidades mais pobres entre os 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo - RMSP. Possui uma área territorial de 34,97 quilômetros quadrados, que o faz, devido esta baixa extensão, um dos municípios mais densos demograficamente em todo o estado, com cerca de 11.730 habitantes por quilometro quadrado. Segundo estimativa da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), baseada no censo do IBGE, são 410.135 habitantes, mas alguns órgãos estimam cerca de 500.000 habitantes. Das características de causa e efeito apresentadas por VASCONCELOS (2000), no quadro 1, o município de Carapicuíba não se encaixa em relação ao uso da bicicleta, pois apesar do baixo poder aquisitivo da população, a geografia do município não colabora para sua ampla utilização. Assim, os resultados obtidos nesta pesquisa, objetivam privilegiar a atual necessidade de conhecer a opinião dos usuários referente à qualidade do serviço de transporte coletivo urbano por ônibus ofertado no município, além de saber, dentre os indicadores de qualidade, encontrados na literatura, quais são considerados mais importantes para o usuário e identificando os pontos críticos a fim de colaborar para a melhoria na qualidade do serviço prestado. REVISÃO E LITERATURA No Brasil, o transporte público urbano é uma atividade regulamentada por lei. Portanto, este é o serviço que promove a locomoção das pessoas, prestado pelo poder público de maneira direta ou indireta através de concessionários, conforme o artigo 175 da Constituição Federal de 1988. O consultor legislativo da Área XIII (Desenvolvimento Urbano, Trânsito e Transportes) Rodrigo Cesar Neiva Borges em nota técnica colabora com a seguinte definição: “(...) o transporte coletivo urbano é o transporte público não individual, realizado em áreas urbanas, com características de deslocamento diário dos cidadãos.” (BORGES, 2006, p. 3). A escolha para o uso de determinada modalidade de transporte se faz através da análise de critérios. O usuário do transporte sempre escolherá o transporte que mais atenda as suas necessidades, por exemplo, se o usuário prefere a conveniência do transporte que o leva e traz na porta de sua casa, com mínimo de atrasos e a não necessidade de aguardar o transporte num determinado ponto, possivelmente tenderá para o transporte particular. A qualidade do serviço de transporte coletivo urbano tem sido muito discutida, principalmente nos grandes centros urbanos. Os habitantes das grandes capitais ao redor do Mundo têm passado por diversas dificuldades com relação à qualidade do trânsito em suas cidades, na grande maioria degradada pela ocorrência de congestionamentos quilométricos, a falta de segurança e políticas que utilizam de meios remediativos para aliviar a falta de eficiência sentida pelos usuários do transporte coletivo urbano. Segundo FERRAZ e TORRES (2004), a “qualidade no transporte urbano deve ser contemplada com uma visão geral”; isto é, deve considerar a satisfação de todos os atores encontrados no sistema, sendo eles, o governo, os usuários, trabalhadores, empresários e a comunidade. Quanto à definição de qualidade percebe-se uma dificuldade pelo fato de ser este um conceito extremamente abrangente; no entanto, as definições procuram dar um único sentido à qualidade. De maneira geral, a literatura define qualidade como um indicador de satisfação do usuário. Para CAMPOS (1999) “um produto ou serviço de qualidade é aquele que atende perfeitamente, de forma confiável, de forma acessível, de forma segura e no tempo certo às necessidades do cliente ou usuário”. Segundo o autor o controle de qualidade em sua abordagem visa planejar a qualidade desejada pelos clientes, fato que implica em localizar, conhecer e entender os clientes. No que se refere à qualidade do transporte coletivo urbano por ônibus oferecidos à população, opta-se por destacar o livro de FERRAZ e TORRES (2004), que consideram 12 (doze) principais fatores caracterizadores que influenciam na qualidade deste serviço do ponto de vista do usuário, sem menosprezar outras publicações referentes ao tema e demais metodologias, são estes: acessibilidade (refere-se à facilidade no transporte coletivo de chegar ou sair do local de embarque e desembarque); frequência de atendimento (relacionada ao intervalo de tempo da passagem dos veículos de transporte público); tempo de viagem (tempo gasto no interior dos veículos); lotação (quantidade de passageiros no interior dos veículos); confiabilidade (grau de certeza dos usuários quanto ao cumprimento dos horários previstos); segurança (acidentes envolvendo os veículos e atos de violência); características dos veículos (a tecnologia e o estado de conservação); características dos locais de parada (sinalização adequada, existência de bancos para sentar e cobertura); sistema de informação (disponibilidade de folhetos com horários, itinerário das linhas e a indicação de estações); conectividade (facilidade de deslocamento dos usuários de transporte público entre dois locais quaisquer da cidade); comportamento dos operadores (postura dos motoristas e cobradores durante o desempenho de suas atividades) e estado das vias (a qualidade da superfície das ruas). O sistema de transporte público do município de Carapicuíba é realizado por meio de concessão pública a duas empresas privadas: a Del Rey Transportes Ltda. (Del Rey) e Empresa de Transportes e Turismo Carapicuíba Ltda. (ETT). Há um terminal regulador no centro da cidade que permite integração física; ou seja, transferência para as demais linhas de ônibus e/ou para a Companhia de Trens Metropolitanos – CPTM, porém não há integração tarifária. Conforme dados consolidados de 2011 fornecidos pela Secretaria Municipal de Transportes e Trânsito – SMTT do município, a frota total que executa a operação do sistema de transporte coletivo urbano municipal é de 167, sendo 82 veículos da empresa ETT e 85 da Del Rey, com idade média de quatro anos. Em 2011, a quantidade total anual de passageiros atendidos pelo sistema foi de 24.734.558, isto é, 2.061.214 passageiros ao mês. METODOLOGIA Com intuito de atingir os objetivos definidos, essa pesquisa de desenvolveu em três etapas principais. A primeira trata-se de pesquisa bibliográfica, por meio de informações colhidas em artigos, livros e sites de internet, buscando embasamento teórico. A segunda etapa baseia-se em pesquisa de opinião dos usuários das duas empresas concessionárias do serviço de transporte coletivo por ônibus no município de Carapicuíba. A coleta dos dados foi feita através da abordagem das pessoas nos terminais ou dentro dos ônibus, em linhas aleatórias e em vários horários, onde os usuários eram esclarecidos quanto o objetivo da pesquisa e o preenchimento adequado do questionário, conforme o figura 1. Figura 1 – Modelo de questionário aplicado aos usuários do sistema de transporte coletivo por ônibus no município de Carapicuíba. PESQUISA COM USUÁRIO SOBRE A QUALIDADE DO TRANSPORTE URBANO POR ÔNIBUS NO MUNICÍPIO DE CARAPICUÍBA-SP. Indicadores Parâmetros de avaliação 1. Acessibilidade Distancia (m) percorrida fora do ônibus; 2. Frequencia de atendimento Tempo de espera entre ônibus da mesma linha (min) 3. Tempo de viagem Tempo de duração da viagem de Ônibus; 4. Lotação Os ônibus estão cheios; 5. Confiabilidade Os ônibus cumprem os horários; 6. Segurança Acidentes e assaltos envolvendo os veículos; 7. características dos veículos Estado de conservação, conforto e limpeza; 8. Características dos locais de parada Sinalização, cobertura e assentos nos pontos de ônibus; 9. Sistema de informação Informações sobre linhas e horários nos pontos e dentro dos Ônibus; 10. Conectividade Facilidade de deslocamento, transbordo; 11.Comportamento dos operadores 12. Estado das vias Grau de Satisfaçã o Os motoristas e cobradores são prestativos e educados As ruas onde trafegam os ônibus estão em boas condições; 1 - SATISFAÇÃO PLENA; GRAU DE SATISFAÇÃO - PARÂMETROS: 2 -SATISFAÇÃO MÉDIA 3-INSATISFAÇÃO Figura 1: Questionário aplicado aos usuários coletivo urbano por ônibus. Este modelo foi aplicado a usuários acima de 18 anos, que utilizasse o transporte ao menos duas vezes na semana. Por fim, a terceira etapa da pesquisa, destinou-se a análise dos resultados obtidos com o intuito de identificar os pontos críticos e apresentar um diagnóstico do serviço prestado. RESULTADOS E DISCUSSÕES Com base nos dados coletados na pesquisa e nas informações fornecidas pela Secretaria Municipal de Transportes e Trânsito – SMTT do município de Carapicuíba apresenta-se a tabela a seguir. Tabela 1 – Resultado do questionário aplicado aos usuários do sistema de transporte. Conforme a tabela 1 observou-se que: Acessibilidade tem um índice de 76% de satisfação dos usuários, sendo 11% plena e 65% média. Frequência de atendimento tem um índice de 57% de satisfação dos usuários, sendo 6% plena e 51% média. Tempo de viagem, tem um índice de 59% de satisfação dos usuários, sendo 8% plena e 51% média. Lotação apresenta o primeiro caso de insatisfação, com 72% dos usuários, tendo 3% de satisfação plena e 25% média. Confiabilidade tem um índice de 73% de satisfação dos usuários, sendo 10% plena e 63% média. Segurança tem um índice de 70% de satisfação dos usuários, sendo 19% plena e 51% média. Características do veículo tem um índice de 78% de satisfação dos usuários, sendo 17% plena e 61% média. Características dos locais de paradas tem um índice de 58% insatisfação, com apenas 2% de satisfação plena. Sistema de informação tem um índice de insatisfação de 52%, sendo apenas 5% dos usuários plenamente satisfeitos. Conectividade tem um índice de 77% de satisfação dos usuários, sendo 2% plena e 75% média. Comportamento dos operadores mostra um índice elevado de satisfação, com aprovação de 88% dos usuários, 16% plena e 72% média. Estado das vias demonstra a insatisfação dos usuários com um índice de reprovação de 80%, salientando que o índice de satisfação plena foi de 0%. Tabela 2 - Resultado anual das empresas Del Rey e ETT. DEL REY ETT REFERENTE/2.010 REFERENTE/2.010 DESCRIÇÃO MÉDIA/ANUAL TOTAL/ANUAL MÉDIA/MENSAL MÉDIA/ANUAL TOTAL/ANUAL MÉDIA/MENSAL Nº VIAGENS 2.790 502.131 41.844 23.468 281.620 23.468 PASSAG. 81.561 14.681.022 1.223.419 41.218 6.429.935 535.828 UNIPEC.PREF. 2.806 132.435 11.036 2.540 396.225 33.019 UNIPEC. VT 1.884 88.441 7.370 992 25.798 2.150 UNIPEC GRATUITO 278 13.137 1.095 297 7.718 643 ESTUDANTE 50% 5.132 923.720 76.977 430 11.169 931 GRATUITO 7.530 1.355.434 112.953 5.958 929.476 77.456 TOTAL DE PASSAG. 95.256 17.146.168 1.428.847 52.375 8.170.527 680.877 Fonte: Secretaria Municipal de Transportes e Trânsito – SMTT. Confirmando as informações sobre a lotação com um índice de insatisfação de 72%, colhidas junto aos usuários do sistema através do questionário, temos na empresa Del Rey em média de 34,14 passageiros por viagem e na empresa ETT em média 29,01 passageiros por viagem, características da intensa mobilidade pendular das cidades dormitórios (Aranha, 2005: p. 99). Conforme observado, a análise das tabelas apresenta uma ampla aprovação dos usuários quanto ao serviço prestado pelas empresas concessionárias do transporte coletivo urbano do município de Carapicuíba, tendo como exceção a lotação dos veículos. Quanto ao estado de conservação das vias, características dos locais de paradas e sistemas de informação ao usuário, foram reprovadas. Estes indicadores são de responsabilidade da prefeitura municipal de Carapicuíba. É importante ressaltar que dos 12 indicadores sugeridos por FERRAZ e TORRES (2004), apenas 4, ou seja, um terço apresentam insatisfação pelos usuários, sendo um (lotação) responsabilidade das empresas concessionárias e três (estado de conservação das vias, características dos locais de paradas e sistemas de informação ao usuário) responsabilidade do poder público. Com uma visão geral deve-se considerar a participação de todos os atores encontrados no sistema, sendo eles, o governo, os usuários, os trabalhadores, os empresários e a comunidade. Na percepção do usuário do sistema de transporte coletivo urbano por ônibus no município de Carapicuíba, destaca-se a carência do serviço prestado pelo poder público na leitura do gráfico 1. Fonte: autores, 2012. Na leitura do gráfico 1, percebe-se que o grau mais elevado de insatisfação refere-se a indicadores de qualidade que competem ao poder público do município de Carapicuíba a tomada de ações preventivas e corretivas. Diante da desqualificação dos serviços prestados pelo poder público (as vias, os locais de paradas e os passeios públicos) é compreensível o elevado grau de satisfação da população com a qualidade do serviço prestado pelas empresas concessionárias, que segundo o quadro 1 apud VASCONCELOS (2000) nos países em desenvolvimento são ineficientes e não proporcionam a devida qualidade ao usuário. Analisando o gráfico 1, tem-se varias leituras do sistema de transporte coletivo do município de Carapicuíba , onde o índice de satisfação plena varia entre 19% (segurança) e 0% (estado das vias), e de insatisfação entre 80% (estado das vias) a 13% (comportamento dos operadores). A disparidade apresentada pode ser compreendida analisando os indicadores individualmente de maneira didática, separando-os em satisfatórios e insatisfatórios. Nos níveis de satisfação plena e média encontram os seguintes indicadores: a acessibilidade apresenta-se com um índice de 76%, verdade justificada pelo fato de respeitarem a distância mínima de 500 metros entre os pontos de parada e também a proximidade com a CPTM. O indicador frequência de atendimento tem 57% de aprovação, fato justificado pela quantidade disponível de veículos ofertados pelas concessionárias. Outro indicador satisfatório é o tempo de viagem, com 59% de aprovação, justificada pela baixa extensão territorial do município que favorece o tempo de percursos. A confiabilidade expõe um índice de 73%, devido o monitoramento das empresas quanto ao cumprimento dos horários por meio de fiscais das próprias concessionárias, estrategicamente localizados. Um resultado inesperado foi 70% dos usuários estarem satisfeitos com a segurança, fato compreensível pela maciça utilização de bilhetes eletrônicos (Bilhete de Ônibus Metropolitano – BOM e Passe Eletrônico de Carapicuíba - PEC), que influenciou na redução do número de assaltos aos ônibus. O indicador características do veículo obteve um índice de 78%, este explicado pelo investimento das concessionárias em manutenções, limpezas, conservações e acessibilidade dos veículos. A facilidade de integração física entre o sistema de transporte por ônibus e a CPTM certamente influenciou no índice de 77% de usuários satisfeitos com o indicador conectividade. Com 88%, alto nível de satisfação, apresentase o indicador comportamento dos operadores, considerado pelos investimentos das concessionárias em treinar os seus funcionários. Em contrapartida têm-se os índices de insatisfação dos usuários, conforme a seguir: a lotação com 72% de reprovação, explica-se pelo fato de Carapicuíba ser uma cidade dormitório onde a população ocupada realiza movimentos pendulares (ARANHA, 2005: p. 99), buscando trabalho e educação em outros municípios da região o que concentra a procura pelo sistema de ônibus aos horários de pico (6h às 9h e das 17h às 20h) buscando a integração com a CPTM e deixando o sistema de ônibus ocioso em outros horários. O indicador características dos locais de parada aponta índice de 58%, observa-se que apesar dos recentes investimentos do poder público em reformas nos principais pontos de paradas, ainda deixam a desejar ou a melhoria ainda não foi percebida pelos usuários. O sistema de informação apresenta 52% de usuários insatisfeitos, visto que é precária a disseminação das informações dentro e fora dos ônibus referente a horários e pontos de paradas. Quanto ao indicador estado das vias, o item mais crítico apresentado, há uma reprovação de 88%, devido à má conservação das pistas de rolamento, sobretudo da principal via de transporte do município (Avenida Inocêncio Seráfico), onde há elevado fluxo de veículos. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho colaborou para a compreensão do cenário do sistema de transporte coletivo por ônibus no município de Carapicuíba, por meio da análise de indicadores de qualidade que possibilitaram mensurar a satisfação dos usuários quanto ao serviço prestado. Identificou-se que considerável número de entrevistados não estão plenamente satisfeitos com o serviço, sobretudo no que se refere ao indicador estado das vias, que por sua vez é de total responsabilidade do poder público. Considerando a relevância deste estudo, é importante ressaltar a escassez de trabalhos que visam estudar a qualidade do serviço de transporte público focado no contexto do município de Carapicuíba. Portanto, os resultados aqui alcançados são potenciais dados para serem utilizados pela prefeitura do município de Carapicuíba na elaboração de futuras propostas e sugestões direcionadas a solucionar os pontos críticos que impactam na qualidade do serviço prestado, podendo ser utilizados pela prefeitura do município e pelas empresas concessionárias, a fim de promover ações de melhoria contínua em todo o sistema de transporte. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ARANHA, V. (2005) Mobilidade pendular na metrópole paulista. Revista São Paulo em Perspectiva, v.19, n.4, p.96-109, out./dez.2005. BORGES, R.C.N. Definição de Transporte Coletivo Urbano: Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados: 2006. Disponível em: < http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/1720/definicao_transporte_borges. pdf?sequence=1> acesso em: 02/02/12 CAMPOS, V. C. TQC- Controle da Qualidade Total: no estilo japonês. Belo Horizonte. MG: Editora de Desenvolvimento Gerencial. 1999. 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