ISSN: 2317-1960 Ano II, Número 11 SET / OUT 2014 ntu.org.br O transporte público coletivo na pauta de quem? O tema mais abordado e estopim de manifestações em 2013 foi pouco debatido pelos candidatos à presidência durante o período eleitoral. A NTU apresentou, em carta aberta, alguns problemas e soluções sobre o transporte coletivo urbano e não obteve retorno 14 Entrevista: Renato Gianolla. O desafio de aplicar a Lei de Mobilidade CAMPANHA: Como funciona o transporte público? IEMA comprova redução de poluentes em faixas exclusivas para ônibus 08 30 34 responsabilidades Você sabe quem são os responsáveis pelo transporte público na sua cidade? A responsabilidade é compartilhada entre as empresas e o poder público. Saiba como funciona a gestão do transporte público e conheça também as suas responsabilidades como usuário do sistema. Tarifa As secretarias e diretorias de transporte dos municípios são as responsáveis por definir, reajustar e revisar as tarifas. Você sabia que um dos fatores que influenciam a fixação das tarifas são as gratuidades e os descontos que representam 19% do seu valor na média nacional? custos Você conhece quais sãos os custos do sistema de transporte coletivo no Brasil? Eles podem ser fixos ou variáveis e muitos não estão sob o controle das empresas, como o combustível, que tem o preço fixado pelo governo. A prioridade dos ônibus nas ruas da cidade pode ser um grande aliado para a redução desses custos, algo em torno de 25%! investimentos Os investimentos são sempre importantes para o desenvolvimento de qualquer serviço de um país. Ao priorizar investimentos ao transporte coletivo, os governos permitem que você tenha mais qualidade de vida e que as próprias empresas de ônibus trabalhem melhor. Qualidade no Transporte Público Qualidade no transporte público é sinônimo de qualidade de vida. Regularidade, segurança e conforto são requisitos básicos para atingir esse objetivo. Entenda o que é preciso ser feito para alcançar um transporte de qualidade na sua cidade. Acesse www.transportepu como funciona o blico.org.br Editorial Biênio 2013-2015 Conselho Diretor Um passo a frente E ventos corporativos ajudam no estabelecimento de vínculos pessoais, criam a identificação das pessoas com os produtos e serviços oferecidos pelas empresas e agregam valor às marcas. Há 25 anos, a NTU realiza o Seminário Nacional no intuito de promover essa interação. Nos últimos anos, outro fator tem destacado os eventos da NTU: o conteúdo das palestras e debates. Por ser uma entidade de vanguarda e de atuação em nível nacional, a associação sempre se antecipou na discussão de temas que impactam o setor com a missão de ser referência para o desenvolvimento sustentável do transporte coletivo urbano. Nesta edição de 2014 do Seminário Nacional, a qualidade técnica dos temas e dos palestrantes foi unânime entre os participantes, que não pouparam elogios, principalmente sobre o ineditismo dos assuntos quanto ao alto nível das propostas e ideias debatidas. Esse retorno positivo do evento dá ainda mais fôlego à associação para planejar as próximas edições do evento no intuito de sempre inovar e garantir a integração e disseminação de conhecimentos e experiências Brasil afora. Em 2015, o Seminário da NTU já tem data marcada. Será realizado nos Membros titulares e suplentes Região Centro-Oeste Edmundo de Carvalho Pinheiro (GO) titular Ricardo Caixeta Ribeiro (MT) dias 1, 2 e 3 de setembro, em São Paulo, paralelo à tradicional Feira Transpúblico, que reúne os principais fornecedores do setor de transportes. Na pauta, novamente estarão os principais temas que movimentam o setor e que pouco são abordados em debates nacionais sobre a mobilidade urbana. Nas páginas a seguir, você, leitor, pode conferir uma pincelada sobre o evento realizado em agosto. No portal da NTU, está disponível a cobertura completa do Seminário em textos, vídeos e fotos. Também nesta edição da Revista NTU Urbano a NTU faz uma análise das propostas dos três principais candidatos à Presidência da República ainda no período eleitoral, que vigorou entre os meses de agosto a outubro. Percebe-se que em todos os discursos o tema da mobilidade urbana é tratado de forma muito superficial. Falta sensibilidade política de colocar essa questão como prioritária para o desenvolvimento econômico e social do país, bem como para garantir mais qualidade de vida à população, sem discriminação de classe social. Espera-se no programa de governo do presidente eleito que essa lacuna do discurso seja sanada e a mobilidade ganhe seu destaque merecido. suplente Região Nordeste Dimas Humberto Silva Barreira (CE) titular Mário Jatahy de Albuquerque Júnior (CE) suplente Luiz Fernando Bandeira de Mello (PE) titular Paulo Fernando Chaves Júnior (PE) suplente Região Sudeste Albert Andrade (MG) titular Wilson Reis Couto (MG) suplente Eurico Divon Galhardi (RJ) titular - presidente do Conselho Diretor Narciso Gonçalves dos Santos (RJ) suplente Lélis Marcos Teixeira (RJ) titular Francisco José Gavinho Geraldo (RJ) suplente João Carlos Vieira de Sousa (SP) titular - vice-presidente do Conselho Diretor Júlio Luiz Marques (SP) suplente João Antonio Setti Braga (SP) titular Mauro Artur Herszkowicz (SP) suplente Região Sul Ilso Pedro Menta (RS) titular Enio Roberto Dias dos Reis (RS) suplente Conselho Fiscal Membros titulares e suplentes Paulo Fernandes Gomes (PA) titular Heloísio Lopes (BA) titular Haroldo Isaak (PR) titular Ana Carolina Dias Medeiros de Souza (MA) suplente Jacob Barata Filho (RJ) suplente José Roberto Iasbek Felício (SP) suplente 4 Revista NTU Urbano S U M Á RIO 6 8 Expediente OPINIÃO DA NTU Otávio Cunha Transporte público de qualidade custa caro ENTREVISTA Otávio Vieira da Cunha Filho Renato Gianolla Confira a entrevista com o presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públicos de Transporte Urbano e Trânsito 12 13 14 DIÁLOGO TÉCNICO Diretoria Executiva André Dantas Arquimedes (287 a.C. – 212 a.C.) e a priorização do transporte público coletivo urbano Presidente Marcos Bicalho dos Santos Diretor Administrativo e Institucional André Dantas Diretor Técnico PARADA OBRIGATÓRIA Notinhas para você se agendar, se informar e se atualizar CAPA Transporte público coletivo na pauta de quem? SAUS Q. 1, Bloco J, Ed. CNT 9º andar, Ala A Brasília (DF) CEP 70.070-944 20 Tel.: (61) 2103-9293 ESPECIAL NTU promove discussão sobre demandas sociais, qualidade nos BRTs e sistemas inteligentes de transporte 24 26 27 28 30 32 33 34 36 38 EVENTO Debate no Rio de Janeiro promove a mobilidade urbana PELO MUNDO Conheça as novidades e soluções de mobilidade adotadas mundo afora EMBARQUE NESSA IDEIA Luis Antonio Lindau O desafio de integrar o Minha Casa Minha Vida às cidades ACONTECE NAS EMPRESAS Mais segurança aos usuários do transporte coletivo Como funciona o transporte público? Artigo E-mail: [email protected] Site: www.ntu.org.br Editora responsável Bárbara Renault (DF 7048 JP) Editora assistente Hellen Tôrres (DF 9553 JP) Colaborou nesta edição Flávio Neponucena Laisse Nonato Diagramação Duo Design NTU EM AÇÃO PONTO DE ÔNIBUS Fax: (61) 2103-9260 Adamo Bazani Esta revista está disponível no site www.ntu.org.br Pedro Torres Eleições 2014 e nossas cidades SUSTENTABILIDADE IEMA comprova redução de poluentes em faixas exclusivas para ônibus SEGURANÇA Curitiba zera assaltos em micro-ônibus com substituição do dinheiro por cartão Siga a NTU nas redes sociais www.twitter.com/ntunoticias www.facebook.com/ntubrasil www.flickr.com/ntubrasil www.youtube.com/transporteurbanontu #NTURECOMENDA Dicas de livros, sites, aplicados e vídeos sobre transporte Revista NTU Urbano 5 O p i n i ã o d a NT U Autor: Otávio Vieira da Cunha Filho (*) Maurilio Cheli/SMCS Transporte público de qualidade custa caro F alar em custo de qualquer bem ou serviço normalmente gera polêmica. No caso do transporte público por ônibus gerou protestos. Mais que isso, a tarifa foi estopim da insatisfação generalizada contra tudo que não ia bem no Brasil, em junho do 6 Revista NTU Urbano ano passado. Em plena campanha eleitoral, momento propício para um grande debate sobre o assunto, e de apresentar propostas para atender a população, o transporte público ainda não foi protagonista na agenda de todos os candidatos ao cargo de presidente da República. O p i n i ã o d a NT U “Foram mais de duas décadas de estagnação, sem políticas públicas adequadas às reais necessidades do cidadão, o que gerou, só ano passado, a evasão de 560 mil passageiros, por dia.” Responsáveis pelo deslocamento diário de 40 milhões de passageiros, feitos unicamente por meio do ônibus, as operadoras dos serviços, representadas pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), fizeram o dever de casa: colocaram no papel propostas para resolver os principais nós da mobilidade urbana no país, com foco nos deslocamentos urbanos por ônibus. No documento o setor elenca os principais eventos da história do transporte urbano nos últimos 20 anos e credita à falta de investimentos públicos, o principal motivo de o segmento nunca ter avançado para conseguir atender as demandas da sociedade. Foram mais de duas décadas de estagnação, sem políticas públicas adequadas às reais necessidades do cidadão, o que gerou, só ano passado, a evasão de 560 mil passageiros, por dia. Na eterna disputa com o transporte individual, o coletivo urbano continua na lanterna, perdendo para os vultosos investimentos do Estado em reduções de impostos na compra de automóveis e de motocicletas, em especial. O corte de impostos, a facilidade de financiamentos e subsídios à gasolina, promoveu um incremento de 114% na frota de automóveis e 398% na de motocicletas no período de 2000 a 2012, segundo números do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). O dado assusta e ameaça as contas do setor, que agora se vê de mãos atadas, tentando conciliar a demanda por tarifas justas e os parcos subsídios do governo ao transporte público. Com a consciência de que a conta das melhorias é alta, a NTU já se posicionou sobre o que o segmento precisa fazer para sair dessa camisa de força. Deu as diretrizes de como equacionar essa situação em propostas que contemplam projetos de curto prazo, como as faixas exclusivas de ônibus e outras soluções nessa linha. Mas ainda é pouco. Nas contas da NTU, para resolver os principais entraves ao bom desempenho desse sistema, como um todo, é preciso investir também em projetos estruturantes, como prazo maior de execução, caso dos BRT, VLT e metrô. Nesse caso, seriam necessários 50 bilhões, por ano, nos próximos dez anos, calcula a Associação. Por isso, a aposta nos projetos de curto prazo, para dar as respostas rápidas que a população cobra. No entanto, ter qualidade requer investimentos e o setor entende que para que ele não pese tanto no bolso do cidadão, não existe outra saída, senão a da subvenção pública, realidade observada na maioria dos países desenvolvidos. Cultura também adotada por nossos vizinhos argentinos e chilenos. É também uma das propostas que os empresários defendem para viabilizar a melhoria da qualidade do transporte urbano por ônibus. O segmento não ignora os avanços conquistados com a Lei da Mobilidade Urbana e as boas expectativas dos 215 projetos estruturantes em andamento, de acordo com os quatro programas do governo federal. Eles contemplam 34 de BRT (Bus Rapid Transit), 75 de corredores de ônibus, 3 de trens urbanos, 11 de metrô, 9 de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), 38 de obras viárias e mais 45 envolvendo outras modalidades, alguns já inaugurados e em operação e a maioria ainda na fase de ação preparatória. Para que essa realidade comece a mudar, o segmento espera que o transporte público coletivo urbano seja visto como fator fundamental para o desenvolvimento econômico e social da nação. Quem sabe agora, que novas perspectivas se abrem a mudanças, o ônibus urbano seja protagonista de um novo capítulo da mobilidade urbana nesse país. Para isso, além das propostas, é preciso que haja atitude nas três esferas de governo. *Otávio Vieira da Cunha Filho é presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Bacharel em Administração e Ciências Contábeis, membro do Conselho Diretor da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) e vice-presidente da Seção 1 – Passageiros, da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Revista NTU Urbano 7 e n t r e v i s ta Renato Gianolla* O desafio de aplicar a Lei de Mobilidade Urbana nos municípios brasileiros Emerson Ferraz Representante dos dirigentes públicos fala da realidade enfrentada pelos municípios em gerir o transporte coletivo e sobre o subsídio tarifário como alternativa para a melhoria desses serviços Gianolla implantou em Sorocaba (SP) projeto inovador de mobilidade com integração da bicicleta com o ônibus. O prazo de três anos para a elaboração do Plano de Mobilidade Urbana, conforme determinam as diretrizes do artigo 24 da Lei nº 12.587 de 2012, chega ao fim no ano que vem, desafiando as limitações orçamentárias e outras questões que impedem os municípios de avançar nesse tema. O assunto abre espaço para outro debate acerca dos rumos que a mobilidade urbana deve seguir para atender às demandas do cida- 8 Revista NTU Urbano dão. Traz à tona a falta de um programa federal que estimule investimentos regulares na qualificação de mão de obra para a formação de técnicos na área de transporte público urbano e soluções que o diretor-presidente da Empresa de Desenvolvimento Urbano e Social de Sorocaba (Urbes) e atual presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públicos de Transporte Urbano e Trânsito, Renato Gianolla, divide com os leitores da Revista NTU Urbano. Proforme Photo e n t r e v i s ta Renato Gianolla durante reunião do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públicos de Transporte Urbano e Trânsito realizada em agosto, em Brasília. Quais os principais desafios dos municípios na área de transporte público? Um dos principais desafios é equacionar custos dos serviços com fonte de recursos. Neste sentido, contempladas as desonerações de custos e a possiblidade de recursos de fontes federais e estaduais, os municípios devem ajustar seus orçamentos de forma a contemplar rubricas destinadas ao subsídio ao transporte coletivo. Os governantes precisam ter a exata noção que a solução para os deslocamentos urbanos passa por uma boa oferta de serviços do transporte para que haja o desestímulo à utilização do transporte motorizado individual. O que é preciso para avançar nessa questão? É importante que haja a integração do planejamento do uso do solo e do desenvolvimento urbano com o da mobilidade urbana, notadamente do transporte coletivo urbano. Precisamos, como vem acontecendo mais efetivamente a partir de 2013, encarar a priorização do transporte urbano como necessidade básica se quisermos mudar a cultura da utilização do transporte para alterarmos a distribuição modal atual. Também é necessário qualificar e formar mão de obra especializada, técnicos para o setor de transportes com um programa e verbas federais disponibilizadas para tanto. Os órgãos públicos, com raras exceções, não possuem profissionais com especialização na área de transportes, o que é de extrema necessidade para garantir uma boa fiscalização e gerenciamento no setor. Com a falta de profissionais qualificados no setor público, como os municípios estão se preparando para atender as diretrizes do artigo 24 da Lei nº 12.587 de 2012, que trata da elaboração do Plano de Mobilidade Urbana? Inicialmente, temos que destacar a importância da Lei nº 12.587 de 2012, que trouxe ao segmento de transporte coletivo urbano diretrizes concretas de uma Política Nacional de Mobilidade Urbana. Contudo, apesar da obrigatoriedade da elaboração dos planos de mobilidade urbana, sabemos que há nos governos municipais certa resistência em canalizar recursos para elaboração de planos e projetos, notadamente aqueles não vinculados às obras imediatas. Porém, a tônica da mobilidade urbana, especificamente a do transporte coletivo, já nas últimas eleições municipais (2012) ocupou lugar de destaque nos debates políticos, que foram reforçados com as manifestações de junho do ano seguinte. Nessa questão, ainda é bom considerar que um bom plano de mobilidade contempla pesquisas de campo, levantamentos detalhados do sistema viário, entre outros quesitos técnicos, o que torna o custo mais elevado. “Os governantes precisam ter a exata noção que a solução para os deslocamentos urbanos passa por uma boa oferta de serviços do transporte para que haja o desestímulo à utilização do transporte motorizado individual.” Revista NTU Urbano 9 e n t r e v i s ta Na sua avaliação é possível cumprir o prazo de entrega desses planos, até 2015? Entendemos que mesmo vencidas as questões orçamentárias muitos municípios terão dificuldade de atender o prazo estabelecido na lei. A NTU entende que o transporte público de qualidade custa caro. Por isso, insiste em medidas que subsidiem as tarifas. Como gestor público, qual é o seu posicionamento sobre o assunto? As maiores economias do mundo subsidiam o transporte coletivo. No Brasil, não pode ser diferente. O subsídio é medida que deve ser adotada nos mais diversos municípios com o devido controle que o assunto requer. Além da subvenção, que outras medidas podem ser adotadas? A desoneração dos custos referentes ao transporte, a aprovação do Regime Especial de Incentivos para o Transporte Urbano de Passageiros (REITUP), a retomada da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), novamente, especificamente destinada ao subsídio do transporte coletivo, são medidas de fundamental importância para o setor. Outra providência seria a priorização do transporte coletivo em detrimento do particular. Porém, isso requer política de estacionamento municipal, com as devidas restrições nos corredores de transporte urbano e implantação de faixas exclusivas. Não podemos esquecer a qualidade dos serviços. Nesse aspecto, a informação aos clientes do sistema é fundamental. Tanto os itinerários quanto os horários em tempo real têm sido uma demanda constante dos passageiros. O Fórum Nacional está atento a essas questões. “As maiores economias do mundo subsidiam o transporte coletivo. No Brasil não pode ser diferente. O subsídio é medida que deve ser adotada nos mais diversos municípios, com o devido controle que o assunto requer.” Proforme Photo No Seminário Nacional NTU 2014, o senhor chamou a atenção para a situação financeira dos municípios, que está crítica. Diante desse quadro, como é possível manter investimentos em transporte público? É um desafio. A realidade financeira dos nossos municípios é, na maioria dos casos, desanimadora. Alguns já estão com dificuldades de atender em plenitude o custeio, prejudicando excessivamente a política de investimentos. Os financiamentos do governo federal ajudam muito, mas para aquelas cidades que têm capacidade de endividamento. É claro que a verba a fundo perdido, existente, mas mínima, seria ideal. Outra alternativa é contar com as experiências bem sucedidas de parcerias público-privadas (PPP) com rentabilidade atraente e adequada aos investidores privados. O especialista participou do debate de abertura do Seminário Nacional da NTU 2014 sobre as demandas sociais referentes ao transporte público. 10 Revista NTU Urbano e n t r e v i s ta Com sua experiência à frente da Urbes e do Fórum Nacional de Secretários, quais são as principais dificuldades do gestor público para conseguir atender às reivindicações do cidadão por um transporte público de qualidade? A primeira delas é a sensibilidade e a outra é a vontade política. Juntamente com esse enorme desafio, temos a necessidade da formação e manutenção de equipe técnica permanente e programas de qualidade e capacitação. Ainda temos poucos técnicos no setor. Por outro lado, quando há a vontade política, indo ao encontro das soluções para o problema da mobilidade, mesmo com deficiências técnicas, as coisas acabam acontecendo. O senhor tem exemplos de programas bem sucedidos como o Integrabike. Qual a estrutura mínima que o órgão gestor precisa ter para concretizar iniciativas desse porte? Não existe estrutura ideal. Essas devem estar ajustadas ao tamanho da cidade e sua capacidade orçamentária. Contudo, para que haja qualidade e regularidade dos serviços no transporte público é fundamental que o município tenha uma Secretaria de Mobilidade Urbana, ou, no mínimo, uma diretoria ou coordenadoria específica para gerenciar e fiscalizar. Sorocaba (SP), a exemplo de outras localidades, possui uma empresa pública responsável pelo trânsito e transporte do município que vem fazendo o gerenciamento dos serviços nessa área, desde 1989. Quais são as principais ações do Fórum para o transporte público? O Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públicos de Transporte Urbano e Trânsito busca proporcionar um espaço democrático para o debate técnico e político do segmento, criando condições para a troca de experiência entre os mais diversos municípios brasileiros. Ele tem catalisado demandas do setor e encaminhado às autoridades competentes. As ações, de uma maneira mais ampla, abrangem as questões da mobilidade urbana, na qual, normalmente, se enfatizam as questões mais prementes dos municípios. Temos uma coordenação regional com vice-presidentes para as áreas de “Transportes”, “Trânsito” e “Pequenas Cidades”. E representação no Conselho das Cidades (ConCidades), no Comitê de Assuntos Financeiros da Área de Trânsito (Confitrans), mas sempre com a visão da Mobilidade Urbana Sustentável, com referência à priorização do transporte coletivo e o incentivo aos modais de transporte não motorizados. O Fórum também tem contribuído com outras entidades representativas do segmento de transporte tais como NTU, ANTP, MDT entre outras; destacando-se também a pareceria com a Frente Nacional de Prefeitos. Perfil Renato Gianolla é engenheiro civil, formado pela Faculdade de Sorocaba (Facens), onde também leciona a disciplina de Transportes. É especialista em Engenharia de Tráfego pelo Instituto Mauá de Tecnologia, com pós-graduação em Transporte pela Universidade de São Paulo (USP) e MBA em Gestão de Projetos e Negócios pela Facens. Na Urbes, ocupa o cargo de diretor presidente desde 2001. Gianolla também é membro do Conselho Diretor da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) e presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públicos de Transporte Urbano e Trânsito, no biênio 2013/2014. Revista NTU Urbano 11 D i á lo g o T é c n i c o André Dantas, PhD, diretor técnico da NTU Arquimedes (287 a.C. – 212 a.C.) e a priorização do transporte público coletivo urbano D ois corpos não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo, principalmente quando se trata do transporte público coletivo urbano. A partir do enunciado milenar do matemático, físico, engenheiro, inventor, e astrônomo grego, Arquimedes, é surpreendente observar as recentes discussões, que tratam da liberação do espaço concebido e mantido para o tráfego de ônibus para que outros veículos também o utilizem. Para alguns, parece não existir o entendimento de que é preciso escolher aquilo que vai ou não ter preferência na utilização do espaço, caso isso tenha que ocorrer simultaneamente. No caso do transporte público, essa questão fundamental demonstra como as pessoas, as instituições públicas e privadas e todo tipo de grupo social organizado ou não posicionam-se em relação à priorização do coletivo. Especificamente, houve, nas últimas semanas, uma série de publicações na mídia sobre a liberação da utilização dos corredores de BRT para táxis (transporte público individual). Observa-se que quase toda iniciativa de criação de uma faixa exclusiva ou de um corredor de BRT é seguida de solicitações para que diversos tipos de veículos, entre eles táxis, tenham a permissão de tráfego. Um dos casos mais notórios é aquele dos corredores de ônibus e faixas exclusivas de São Paulo. A expansão das faixas exclusivas, nos últimos 12 meses, foi acompanhada 12 Revista NTU Urbano cionaram-se contrários às iniciativas de deturpação da priorização do transporte público coletivo urbano. No painel “Qualidade e segurança nos sistemas BRT”, em resposta a perguntas formuladas pelo público participante, Clarisse Cunha Linke do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) e Luis Antonio Lindau da Embarq Brasil foram categóricos em afirmar que a permissão de veículos de transporte individual compromete negativamente o desempenho, a percepção e o desenvolvimento de políticas de priorização do transporte público. de constantes pressões para que táxis compartilhem o espaço dedicado aos ônibus. Diante dessa situação, o Ministério Público do Estado de São Paulo tem atuado ativamente contra esse compartilhamento, tendo como base relatórios técnicos produzidos pelo corpo técnico da SPTrans, CET e Prefeitura de São Paulo. Esses estudos demonstram a significativa redução da velocidade dos ônibus e o impacto no tempo de viagem de milhões de passageiros do transporte coletivo, em função do número de veículos de transporte individual que são autorizados nos corredores. Apesar dessa avaliação técnica, houve a recente liberação para que os táxis possam trafegar nas faixas exclusivas se estiverem com passageiros. Por outro lado, durante o Seminário Nacional da NTU 2014, destacados especialistas de transportes posi- Esses posicionamentos corroboram e contribuem para o fortalecimento da Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei 12.587/2012). Essencialmente, uma das diretrizes dessa lei refere-se à prioridade dos serviços de transporte público coletivo sobre o transporte individual motorizado (Inciso II, Art. 6º). Nesse sentido, o Inciso IV do Artigo 23 indica a possibilidade de dedicação de espaço exclusivo nas vias públicas para os serviços de transporte público coletivo. Fica claro que a priorização do transporte público coletivo deve ser mantida, para que a lei seja respeitada e efetivada. Diante das evidências e até mesmo da legislação vigente, resta-nos não decepcionar Arquimedes, que certamente não pensou na mobilidade urbana, mas deixou algo para refletirmos com muita atenção. PARADA O B RIGAT Ó RIA Crianças utilizam bilhete eletrônico para passar na catraca É habito comum nas cidades brasileiras ver crianças menores de sete anos passarem por baixo da catraca dos ônibus urbanos já que não precisam pagar a tarifa. Mas essa prática foi praticamente abandonada em Fortaleza (CE), já que lá os pequenos têm direito ao cartão eletrônico “Bilhetinho”. A medida foi tomada em novembro de 2013 e atualmente cerca de 9 mil crianças já contam com o benefício. O Bilhetinho pode ser solicitado por crianças com até sete anos e/ou com altura igual ou inferior a 1,10m. O solicitante precisa fazer o cadastro da biometria facial para garantir a segurança na utilização do serviço. É possível realizar o cadastramento em sete terminais de integração, nas praças Coração de Jesus e José de Alencar e na sede da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) ou do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus). Produção de ônibus acumula queda de 12,2% em nove meses A produção de ônibus no Brasil acumulou entre janeiro e setembro de 2014 queda de 12,2%, de acordo com balanço divulgado em outubro de 2014 pela Anfavea (Associação Nacional do Fabricantes de Veículos Automotores). De janeiro a setembro deste ano, foram produzidos 27.793 ônibus de transporte coletivo, contra 31.667 no mesmo período do ano passado. Andar de transporte público e bicicleta faz bem à saúde São vários os motivos apontados para a crise. Entre os princi- A London School of Hygiene & Tropical Medicine, pais, estão: a economia brasileira estagnada com crescimento na Inglaterra, realizou recentemente um estudo abaixo de um por cento; o congelamento de tarifas após as ma- com 7,4 mil pessoas, o qual revela que o uso do nifestações de 2013; as licitações travadas em transporte público e da bicicleta ajuda a reduzir a alguns municípios; o legado da Copa que ainda obesidade. Os dados apontam que quem utiliza não saiu do papel; a demora do Governo Federal esses modais pode reduzir em um ponto o Índice em anunciar os novos prazos e de Massa Corpórea (IMC), o que significa em média regras do Finame dentro do PSI uma perda de 3 quilos nos homens e 2,5 quilos no – Programa de Sustentação do caso das mulheres. No universo de pessoas que o Investimento; e, a violência urba- estudo analisou, 76% dos homens usaram somente na com mais de carro, 10% o transporte público e 15% andavam a pé 500 incêndios a ou de bicicleta. Já entre as mulheres, 72% usaram ônibus em 2014. carro, 11% o transporte público e 17% a bicicleta ou foram a pé. As idades, estado de saúde, hábitos alimentares, renda mensal, esforço físico realizado de cada entrevistado eram diferentes uma das outras. No entanto, os resultados não se alteraram mesmo levando em consideração essas características. Revista NTU Urbano 13 c a pa 14 Revista NTU Urbano c a pa O transporte público coletivo na pauta de quem? Entidade indicou propostas para o transporte coletivo aos presidenciáveis. No entanto, tema foi pouco debatido no período eleitoral O s anseios relacionados ao transporte público coletivo, persistentes no dia a dia do povo brasileiro, são sempre válidos para o debate eleitoral, principalmente, quando existem propostas viáveis e que tragam soluções para esse serviço. A NTU, como interlocutora nacional das empresas de ônibus urbanos e de caráter urbano, insiste em propor soluções contundentes ao governo e também o fez aos principais candidatos à Presidência da República das Eleições 2014: Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves. No auge das campanhas eleitorais do 1º turno, a entidade encaminhou aos presidenciáveis uma carta aberta em que apresenta sete propostas que têm como objetivo melhorar o transporte público urbano e construir uma mobilidade urbana sustentável. A associação assumiu essa posição tendo em vista que o tema da mobilidade deu início à onda de protestos em 2013 e, portanto, está na lista de prioridades da sociedade brasileira. No entanto, o debate sobre o tema deixou a desejar. A mobilidade não foi citada como prioridade por ne- Revista NTU Urbano 15 c a pa nhum candidato. Nem mesmo as páginas deles na internet deram destaques sobre as diretrizes e programas de governo para a mobilidade urbana e para o transporte público. Para o presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, esse seria o momento para se discutir as diretrizes para o setor que foi o estopim de manifestações populares. “O que foi dito pelos candidatos sobre o transporte público foi bem superficial. As propostas de governo não estão detalhadas ou não trazem algo concreto para o setor. É uma pena que em um momento tão importante para o país, um assunto de extrema urgência e relevância tenha sido adormecido nos debates”, critica Otávio Cunha, presidente executivo da NTU. Apelos não ouvidos No entendimento da Associação, a priorização do transporte coletivo é essencial para a requalificação dos sistemas convencionais de ônibus e também para o avanço em redes estruturantes de transportes, por exemplo, os sistemas BRT. Ao longo dos anos esse serviço foi perdendo passageiros e isso foi agravado pelos constantes congestionamentos criados pelos automóveis e pela falta de espaços próprios para circulação dos ônibus nas ruas. Estudo realizado pela entidade revela que, no período de 1995 e 2003, o setor de transporte coletivo de passageiros teve uma queda de 35% no número de usuários transportados. Enquanto em 1995 o setor transportava cerca de 470 milhões de usuários, esse número passou para 291 milhões em 2003. Já na comparação do ano de 2013 em relação a 2012, a queda equivale a 1,4% no número de passageiros transportados. Os dados revelam uma perda de 560 mil passageiros por dia no sistema de transporte coletivo por ônibus. As informações foram divulgadas no Anuário NTU PROPOSTAS DA NTU PARA O TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO URBANO • Priorizar o transporte coletivo sobre o transporte individual no sistema viário. • Avançar na construção de redes de transporte modernas, integradas, multimodais, racionais e de alto desempenho. 16 • Utilizar os orçamentos públicos para custear os benefícios tarifários que tanto sobrecarregam os usuários comuns. • Garantir a continuidade dos investimentos federais, estaduais e municipais na infraestrutura destinada aos transportes públicos coletivos. • Instituir um fundo com recursos dos combustíveis para subvencionar o transporte público coletivo, viabilizando um transporte de qualidade com tarifa acessível à toda a população, ou seja, distinguir a tarifa pública cobrada dos usuários da tarifa de remuneração do operador. • Prosseguir na desoneração dos tributos federais, estaduais e municipais incidentes sobre os serviços e sobre os insumos do setor. • Implantar uma política de preços reduzidos para o óleo diesel consumido no transporte público urbano e de caráter urbano por ônibus. Revista NTU Urbano c a pa 2013/2014 e são baseadas nos dados de nove capitais brasileiras com maior representatividade. O Programa Emergencial de Qualificação do Transporte Público Urbano por Ônibus, apresentado pela NTU em novembro de 2013 ao Ministério das Cidades e, novamente agora na carta aberta aos candidatos, é uma das principais ações que a entidade propõe para iniciar as mudanças no transporte. A ação contempla pilares estratégicos para melhorar e qualificar, em curto prazo, o transporte público nas cidades brasileiras. A intenção é qualificar os serviços e reduzir os custos de operação, com a criação de quatro mil quilômetros de faixas exclusivas em 46 municípios, todas as capitais e cidades com população superior a 500 mil habitantes. A implantação seria feita em um prazo de 12 meses. De acordo com a NTU, a proposta torna-se totalmente viável com o investimento de apenas 5% dos R$ 50 bilhões liberados para os projetos do Pacto da Mobilidade Urbana, anuncia- do pela presidente Dilma Rousseff, em função das manifestações de junho. “O que se percebe é que a população não quer apenas uma tarifa acessível, mas também qualidade nos serviços oferecidos. No entanto, transporte público de qualidade custa caro. Hoje, vivemos na contramão de outros países que têm serviços de transporte eficiente e nos quais os governos ou a sociedade subsidiam o sistema. Enquanto no Brasil, apenas a tarifa remunera o custo do serviço dos ônibus”, explica Cunha. Discurso da mobilidade Para a NTU, apesar do transporte público e mobilidade urbana não terem tido destaque em programas e sabatinas, a proposta de governo da candidata à Presidência da República, Marina Silva (PSB), foi a que mais se aproximou dos anseios do setor. “Ela [Marina Silva] apresentou um plano de governo com propostas concretas e importantes para a área de mobilidade urbana no país como: a desoneração, o financiamento das gratuidades para estudantes, criação de fundos para financiar a operação e a infraestrutura do transporte público, e a capacitação dos gestores públicos, entre outras”, pontua Cunha. No entendimento dos representantes das empresas, Dilma Rousseff (PT) se limitou a mostrar os investimentos feitos pelo Governo Federal em mobilidade urbana, R$ 143 bilhões, que foram importantes para o setor. Porém, a presidente não avançou nas propostas para o próximo mandato e também não aprofundou o debate sobre Pacto Nacional de Mobilidade Urbana, prometido pelo governo federal após as reclamações populares. O candidato mineiro, Aécio Neves (PSBD), apenas elencou diretrizes para a questão da mobilidade urbana, que ainda são superficiais. O candidato precisou aprofundar suas propostas para atender as reivindicações da sociedade por um transporte de qualidade a preço justo. Revista NTU Urbano 17 c a pa Outro ponto importante da carta é a indicação de fundos que podem ser utilizados como instrumentos para a subvenção de benefícios tarifários, como os casos da gratuidade dos idosos e do passe estudantil que são os dois benefícios que mais sobrecarregam as tarifas pagas pelos usuários comuns. As gratuidades no transporte urbano têm um impacto de 19% no valor das tarifas. Também seria necessária a continuação de desonerações tributárias como o PIS-Cofins sobre combustível e pneus, ICMS sobre o combustível; e o Imposto Sobre Serviços (ISS) e a taxa de gerenciamento cobrados pelos municípios. Por fim, o setor apoia a PEC nº 307/2013, que estabelece a destinação de 70% dos recursos da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide-Combustíveis) para os municípios, 20% para os estados e 10% a União, e permite a sua aplicação na concessão de subsídios às tarifas do transporte coletivo urbano. “Esse recurso da Cide pode ter duas destinações. A primeira seria a subvenção direta do serviço e a outra é para cobrir os investimentos em infraestrutura”, defende o presidente da NTU. Mobilidade Urbana ainda sem planos Em janeiro de 2012, foi sancionada a Lei 12.587/2012, que trata da Política Nacional de Mobilidade Urbana e instituiu as diretrizes gerais para a mobilidade urbana. A lei exige a elaboração dos planos de mobilidade urbana para todos os municípios acima de 20 mil habitantes até abril de 2015. Embora estejam a menos de um anos do fim do prazo, muitas cidades nem iniciaram as propostas 18 Revista NTU Urbano ou até mesmo não têm pessoal qualificado para isso. O presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, afirma que, embora o governo federal tenha disponibilizado R$ 143 bilhões para a mobilidade urbana, o recurso não foi totalmente aplicado, seja porque os municípios não têm projetos, seja porque não têm capacidade de endividamento, pois o recurso terá que ser pago já que não é a fundo perdido. "Via de regra os municípios não têm capacidade de endividamento por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal e os que têm capacidade, possuem dificuldades em conseguir aprovar os projetos no Ministério das Cidades, porque não é simples o processo de engajamento dos projetos", explica Cunha. O problema de liberação de recursos e aprovação de projetos também passa por outras premissas importantes, como a capacitação técnica dos órgãos gestores dos municípios. Em entrevista para esta edição da Revista NTU Urbano, o presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públicos de Transporte Urbano e Trânsito, Renato Gianolla, relata que, de maneira geral, os órgãos públicos não possuem profissionais com especialização na área de transportes e que é “preciso qualificar e formar mão de obra especializada, técnicos para o setor de transportes, com um programa e verbas federais disponibilizadas para tanto”, explica o gestor. Essa é outra questão analisada nas propostas da NTU, que sugere que o Governo deveria tomar para si algumas atribuições como a capacitação de pessoal para organizar o transporte nos municípios. “Sugerimos que o governo, no âmbito do Ministério das Cidades, colabore na capacitação dessas pessoas”, reforça Cunha. FUNDOS EXISTENTES E QUE PODERIAM DESTINAR RECURSOS PARA O TRANSPORTE COLETIVO URBANO Fundo Nacional do Idoso – a Lei nº 12.213/2010 institui o fundo para aplicação de recursos em programas e ações relativos ao idoso que poderia ser utilizado para receber destinações dos orçamentos públicos e custear as gratuidades desse segmento social nos transportes públicos, com repasses às prefeituras. Plano Nacional da Educação – no caso do passe estudantil a Lei nº 10.172/2011 fixou o Programa Nacional de Transporte Escolar (Pnate) que tem o objetivo de facilitar o acesso à escola de alunos que vivem nas periferias das cidades, zona rural ou em regiões ribeirinhas. Os recursos para esse programa são oriundos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e repassados às prefeituras. A Lei nº 12.852/2013 dispôs no artigo 11 que o direito ao programa suplementar de transporte escolar será progressivamente estendido ao jovem estudante do ensino fundamental, do ensino médio e da educação superior, no campo e na cidade. c a pa Todos juntos fazem um trânsito melhor. VOLVO HÍBRIDO. produtividade com menos impacto ambiental. Pratique a matemática Volvo Pense em um veículo com tecnologia inteligente que, em pleno funcionamento, muda sozinho sua fonte de energia. Você deve ter pensado no Volvo Híbrido, que utiliza diesel e eletricidade, o que subtrai 35% do consumo de combustível e 50% da emissão de poluentes, além de ser mais silencioso nas arrancadas. Faça as contas. Um Volvo soma produtividade ao seu negócio. Ônibus Volvo. qualidade de vida no transporte www.volvo.com.br/onibus es p e c i a l NTU promove discussão sobre demandas sociais, qualidade nos BRTs e sistemas inteligentes de transporte Seminário Nacional NTU reúne 800 participantes em Brasília 20 Revista NTU Urbano Proforme Photos es p e c i a l A edição 2014 do Seminário Nacional NTU destacouse pela excelente qualidade dos debates e discussões promovidas durante os dias 28 e 29 de agosto, em Brasília. O evento reuniu 800 participantes, entre técnicos, acadêmicos, empresários e representantes do poder público. Na pauta dos painéis, estavam temas que motivaram as manifestações de 2013, a qualidade e a segurança nos sistemas BRT e as tendências tecnológicas para o setor de transporte urbano. A próxima edição do Seminário da NTU está marcada para 1º a 3 de setembro de 2015, em São Paulo. O ministro das Cidades, Gilberto Occhi, participou da mesa de abertura do evento. Em seu discurso, Occhi ressaltou a importância da realização do Seminário por debater um dos temas de maior preocupação do Governo Federal. “Muito tem sido feito pelo Governo, como por exemplo, o compromisso com a criação do PAC da Mobilidade com investimento de R$ 143 bilhões, exclusivamente para o setor. Contudo, vamos continuar trabalhando para buscar uma condição melhor de vida para a população brasileira e nossa meta só será cumprida quando todos, sem distinção de classe e renda, usarem o transporte público”, explicou. Revista NTU Urbano 21 es p e c i a l CONFIRA A COBERTURA COMPLETA COM NOTÍCIAS, VÍDEOS E FOTOS EM WWW.NTU.ORG.BR No primeiro painel do Seminário, desoneração tributária, subvenção do transporte coletivo com orçamento público, custeio das gratuidades e outras medidas foram apontadas por especialistas para solucionar os grandes entraves do sistema de transporte urbano por ônibus no país. O debate mobilizou representantes do poder público, de operadores do sistema e de representantes da sociedade civil para responder ao questionamento central do seminário: como atender as demandas sociais? Mediado pelo jornalista Alexandre Garcia, o debate contou também com a participação do presidente da NTU, Otávio Cunha, do presidente do Fórum Nacional de Secretários de Transportes, Renato Gianolla, do especialista em Transportes, Frederico Bussinger, do secretário executivo da Frente Nacional de Prefeitos, Gilberto Perre, do diretor de Juventude da Confederação Nacional das Associações de Moradores (CONAM), Getúlio Vargas, e do coordenador do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte de Qualidade para Todos (MDT), Nazareno Affonso. Para o presidente da NTU, Otávio Cunha, o debate foi extremamente rico e aprofundou o tema que ganhou força durante as manifestações de junho do ano passado. Para o executivo, as soluções para os pro- 22 Revista NTU Urbano blemas do setor só serão viáveis com a manutenção dos investimentos federais no segmento, a construção de redes integradas e inteligentes, com a participação do poder público em questões como custeio das gratuidades, subvenção dos serviços e com uma política diferenciada para atender a implantação dos projetos de mobilidade urbana em todo o país. transporte público urbano também entraram na pauta do Seminário Nacional NTU 2014. O diretor administrativo e institucional da NTU, Marcos Bicalho, reforçou o posicionamento do segmento com relação à Lei. “Nos preocupamos com o assunto e temos que conscientizar os empresários do setor sobre a importância dessa legislação”, destacou. Eficiência dos BRTs Em sua palestra, a diretora executiva da Serasa Experiam, Rogéria Gieremek, mostrou, inicialmente, que o objetivo da Lei é responsabilizar civil e administrativamente empresas por corrupção contra funcionários públicos, nacionais ou estrangeiros. Com a inclusão das empresas entre os que podem ser responsabilizados por corrupção, a especialista alertou os empresários para que estejam atentos à correção dos negócios efetivados e ao rigor das operações realizadas. Tornar os sistemas BRT (Bus Rapid Transit) mais eficientes e seguros foi alvo das discussões de especialistas do segundo painel do Seminário da NTU. Os debatedores apresentaram casos bem sucedidos de utilização desse modal, com exemplos de modelos brasileiros e de outras partes do mundo. Participaram da discussão Conrado Souza, presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), enfatizando a importância de implementar sistemas de gestão baseados em normas; Lélis Teixeira, presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro (Rio Ônibus), que apresentou a experiência da entidade sobre os novos sistemas BRT que estão operando na capital carioca; Ramon César, presidente da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans); que destacou a experiência recente com a entrega do BRT de Belo Horizonte; Clarisse Linke, diretora do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), e Luis Antônio Lindau, presidente da Embarq Brasil. Lei Anticorrupção e Política de Compliance As implicações da nova Lei Anticorrupção (Lei 12.846/2013) para o Com referência ao Programa de Compliace, Rogéria explicou que abrange um conjunto de medidas que resguardam a empresa, entre elas, prevenir danos à imagem e à reputação da empresa, reduzir o número de ações judiciais e processos administrativos, entre outras. A diretora executiva da Serasa acrescentou ainda que esse programa requer treinamento e tem que ser constante. AS APRESENTAÇÕES DOS PALESTRANTES ESTÃO DISPONÍVEIS EM WWW.NTU.ORG.BR es p e c i a l rança dos negócios das empresas. “Temos uma missão que é participar do processo de criação do sistema brasileiro de ITS”. O reconhecimento de que a bilhetagem eletrônica funciona muito bem no serviço de transporte público urbano brasileiro e agrega segurança foi consenso no debate sobre “Bilhetagem eletrônica e tecnologias para controle de gratuidades”. Nesse contexto, o mediador Rubens Fernandes, colocou em discussão o controle de gratuidades, a preocupação com a necessidade efetiva de conter fraudes. Tecnologia a serviço do transporte urbano O evento foi marcado ainda pela realização da Oficina Sistemas Inteligentes de Transportes, que teve como objetivo apresentar o que há de mais moderno no mercado para ajudar na gestão e operação do sistema de transporte coletivo no Brasil. Temas como perspectivas do ITS as perspectivas do ITS no Brasil, a bilhetagem eletrônica e tecnologias para controle de gratuidades e a gestão operacional e informação ao usuário foram debatidos por especialistas no assunto. Para explicar a eficiência e operacionalidade dessas ferramentas, os debates foram mediados por representantes e gestores de empresas do sistema. Alexandre Castro, do Rio Ônibus, mediou Sistemas inteligen- tes; o representante da Autopass, Rubens Fernandes (bilhetagem e controle de gratuidades) e o representante da Transfácil, Luis Cláudio Rocha, mediou a discussão sobre gestão e informação ao usuário. No cerne das discussões, estavam as empresas de tecnologia do setor: Prodata, Tacon, Clever, Ponto Certo, Empresa 1, Transdata, Digicom, M2M, Citatti, Trapeze e Transoft. As perspectivas para os Sistemas Inteligentes de Transportes (ITS) no Brasil contou com uma palestra sobre “Processo de Normatização” com Valeska Pinto, presidente da Comissão Técnica de ITS da da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). A representante abordou os desafios desses sistemas no Brasil e ressaltou que os sistemas inteligentes contribuem para a segu- O representante da empresa Ponto Certo, Alexandre Carvalho, lembrou que hoje, as gratuidades representam cerca de 19% do serviço de transporte público. “Se não controlado, esse benefício impacta negativamente. Por isso, é importante moralizá-lo”, afirmou. O debatedor Cândido Rodrigues, da Empresa 1, complementou: “É um problema sistêmico e social, e não exclusivo da área de transportes”. Requisito fundamental para o sucesso das empresas, o Centro de Controle Operacional foi tido como um “centro nervoso” das operadoras e que deve concentrar um grande investimento das empresas. O planejamento também foi citado como peça-chave para a eficiência operacional do serviço de transporte público urbano. A interoperabilidade e os protocolos abertos foram citados como a melhor forma de preservar mais incentivos. E a informação ao usuário foi tratada como fator que deve ser disponibilizado ao passageiro, assim como para as operadoras e órgãos públicos, pois desta forma é possível tomar decisões rápidas e precisas com resultados positivos para o sistema em todo o país. Revista NTU Urbano 23 evento Debate no Rio de Janeiro promove a mobilidade urbana Arquivo Fetranspor Entre os dias 5 e 7 de novembro, Fetranspor realiza a 16ª edição do Etransport. Evento levanta questões relevantes para a mobilidade urbana inteligente A “Mobilidade Inteligente” permanece na pauta do Etransport, evento realizado pela Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), que mais uma vez discute as demandas que surgiram nos últimos anos com o agravamento dos problemas que envolvem transporte público e mobilidade urbana. O 16º encontro, que será no Riocentro, no Rio de Janeiro, conta ainda com a 10ª edição da feira bienal de ônibus, a Fetransrio. 24 Revista NTU Urbano As atrações do congresso buscam soluções baseadas em planejamento urbano e apresentação de novas tecnologias veiculares para o transporte público. A preocupação com o meio ambiente é um tema recorrente no setor e, para promover o debate, especialistas apresentam e incentivam a busca de novas fontes de recursos para o transporte coletivo e enfatizam a utilização dos ônibus elétricos como um dos pilares do desenvolvimento do transporte sustentável. Outro assunto que será abordado é a segurança no transporte público. Para o presidente da Fetranspor, Lélis Teixeira, toda a programação do Etransport traz temas importantes e devem ser aproveitados por todos participantes da melhor maneira possível. “De modo geral, toda a programação, desde o Etransport até o congresso da UITP, constituiu o maior conjunto de eventos já realizados e apoiados pela Fetranspor”, revela. Ele ainda destaca os investimentos feitos na 10ª Fetransrio, que é a maior já realizada pela Federação. “A feira tem um grande peso na programação deste ano, pois é a maior já realizada em relação às edições anteriores, tanto em tamanho quanto em número de expositores”. Com 35 mil metros quadrados, a bienal do ônibus terá mais de cem empresas ligadas ao transporte público, expondo produtos como chassis para ônibus e lançando novas tecnologias para o setor. Além disso, mais de cem modelos de ônibus com diferentes características e inovações serão expostos na feira. Participação da NTU O diretor administrativo e institucional da NTU, Marcos Bicalho, compõe a lista de palestrantes da 16ª Etransport no painel sobre “Novas fontes de recursos para o transporte no País”. Ele destaca a necessidade de subsídios e do aproveitamento de fundos já existentes para custear os benefícios tarifários. “É importante levantar o debate de como financiar o transporte público, não só em relação a investimentos na infraestrutura, mas também ao subsídio à operação. Com recursos externos é possível melhorar a qualidade sem que as tarifas aumentem”, enfatiza o diretor. Já o diretor técnico da Associação, André Dantas, participa do congresso internacional da UITP apresentando os detalhes de um dos estudos da associação, “Qualificação e Racionalização do Transporte Público por Ônibus”. Dantas explica os motivos que levaram a NTU a realizar esse tipo de trabalho. “Tanto para a Associação quanto para empresas e entidades Arquivo Fetranspor evento do setor, houve uma percepção de que esse estudo pode ser eficiente também para outros lugares do mundo e por isso o apresento no congresso da UITP”, ressalta. Na 10ª Fetransrio, a NTU marca presença com o lançamento da campanha “Como funciona o transporte público” (Leia mais na página 30). O estande da entidade vai apresentar as peças e vídeos da ação que objetiva esclarecer e informar a população sobre aspectos importantes do transporte público por ônibus que interferem na vida das pessoas. Segundo a assessoria da Fetranspor, são esperadas mais de 12 mil pessoas pessoas este ano na Bienal de Marketing da ANTP e a entidade acredita que vai repetir o alto índice de aprovação registrado pelo público que participou da última edição dos eventos realizados em 2012. Premiações Além de palestras, debates e exposições, a federação fluminense promove premiação para profissionais da imprensa e do transporte público do Rio Eventos paralelos de Janeiro com os prêmios: Um das novidades deste ano é a 8ª edição da Conferência Internacional Sobre Ônibus da Associação Internacional de Transporte Público (UITP), realizada pela primeira vez na América Latina e que ocorre paralelamente aos eventos. Prêmio Mobilidade Urbana, que premia com dinheiro o melhor trabalho das categorias: Jornalismo; Educação e Cultura; Planejamento de Transportes e Tecnologia; Responsabilidade Social e Meio Ambiente; A Bienal de Marketing da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) também acontece durante o Etransport e apresenta trabalhos com temas sobre a contribuição do processo de marketing na visibilidade, respostas e desafios da mobilidade urbana e a importância das mídias sociais que constituem a nova plataforma de comunicação entre clientes e usuários do transporte público. Relacionamento com Clientes. Prêmio Alberto Moreira, que contempla prestadores de serviços do transporte coletivo, com premiações em dinheiro para os três primeiros colocados de cada categoria: Motorista; Cobrador; Administrativo; Manutenção; Operacional; Liderança. Revista NTU Urbano 25 p e lo mu n d o Madri Carros limitados Com o objetivo de reduzir os níveis de poluição, Madri vai eliminar o uso de carros nas regiões centrais da capital. A estratégia faz parte do Plano de Mobilidade Urbana que visa diminuir o uso de veículos particulares nas ruas, incentivando o uso de bicicleta e do transporte coletivo. Coreia do Sul Priorizando o transporte coletivo e cicloviário Há um ano os habitantes do bairro Haenggung-dong na Coreia do Sul passaram um mês sem carro nas ruas, durante Festival de Eco Mobilidade. Com o projeto os moradores passaram a utilizar apenas bicicletas e transporte público durante o mês. Ao todo 4,3 mil pessoas participaram da inciativa que traz benéficos até hoje. A experiência deu tão certo que mudou o A medida será implantada em uma área de 1.900 km2. O projeto quer diminuir um terço do tráfego, além de buscar melhorias no transporte alternativo e reduzir os números de acidente na cidade. Para certificar que a nova medida será praticada serão instaladas 22 câmeras de segurança e as multas serão cobradas no preço de 90 euros, o equivalente a R$277. pensamento dos moradores, que pediram a eliminação dos estacionamentos de automóveis e os finais de semana livres de carros. O governo também anunciou que iria trazer melhorias para o transporte público, implantar mais ciclovias e reduzir os limites de velocidade nas vias. Londres Investimentos em ônibus elétricos A capital da Inglaterra conta agora com mais dois Os ônibus possuem 12 metros de comprimento ônibus elétricos em sua frota. A iniciativa faz parte e têm um alcance de até 161 km. De acordo com do plano de emissão zero apresentado pelo pre- dados da fabricante chinesa Build Your Dreams feito de Londres Boris Johnson. Contando com es- (BYD) os investimentos feitos, inicialmente, nos ses dois já são seis veículos circulando nas ruas da veículos elétricos terão o custo maior do que cidade desde o início de 2014. Esses veículos estão os veículos movidos a diesel, porém, os baixos sendo testado para saber se podem suportar a custos de manutenção e funcionamento com- intensidade operacional em um ambiente urbano. pensariam esses investimentos. 26 Revista NTU Urbano emb a r q ue n ess a i d e i a Luis Antonio Lindau, PhD, presidente da EMBARQ Brasil O desafio de integrar o Minha Casa Minha Vida às cidades C om cinco anos de existência, o programa governamental Minha Casa Minha Vida (MCMV) contratou 3,49 milhões de unidades até junho desse ano, com 1,69 milhão já entregues à população. A meta do governo é entregar 2,75 milhões de unidades até o final de 2014, investimento de R$ 234 bilhões1. É o maior programa habitacional já desenvolvido no país e muito tem ajudado os brasileiros na conquista da casa própria. Contudo, o programa apresenta problemas que devem se agravar ao longo do tempo. Mesmo com sua terceira fase anunciada no início de julho, as críticas à qualidade das moradias construídas são incontáveis. A situação levou o governo federal a estabelecer que as empresas contratadas sejam suspensas, caso haja reclamações de consumidores em volume superior a 5% das obras realizadas2. Tão alarmante quanto à baixa qualidade das edificações são os locais escolhidos para abrigar as novas comunidades. Em busca de terrenos baratos, grandes conjuntos residenciais são erguidos em locais afastados da mancha urbana. Esse padrão de localização promove o desenvolvimento de cidades 3D – dispersas, desconectas e distantes – o que acarreta uma série de reveses para seus habitantes. Distantes de serviços, oportunidades de trabalho, educação e lazer, comunidades monofuncionais impõem aos moradores uma perda excessiva de tempo com deslocamentos diários, levando alguns, inclusive, a abandonar suas moradias. O programa habitacional mexicano, por exemplo, contabiliza hoje 14% das 35 milhões de unidades construídas desocupadas, por estarem “em meio ao nada”. No município de Zumpango, esta porcentagem é ainda mais crítica, 40%, conforme reportado em recente artigo do New York Times3. A tendência 3D caminha em direção contrária ao desenvolvimento de cidades densificadas, funcionais e harmoniosas, lastreadas no conceito 3C – coesas, conectadas e cercanas (próximas). No caso brasileiro, a falta de previsão de manutenção por parte do governo municipal e dos próprios moradores gera a degradação ou má utilização de áreas comuns de algumas comunidades. A questão se agrava quando são planejadas comunidades para 5 mil habitantes – muito maiores do que dezenas de municípios – sem considerar a oferta de comércio, serviços, empregos, escolas e outras necessidades básicas nas proximidades. Assim são edificados locais que, ao privarem as pessoas de suas necessidades básicas, geram um baixo nível de qualidade de vida e não despertam o sentimento de pertencimento nos moradores. A principal falha do programa parece estar na excessiva liberdade concedida aos principais atores e tomadores de decisão. O aquecido mercado habitacional brasileiro está mais interessado na produção de unidades residenciais do que na consolidação de espaços urbanos qualificados. As cidades não exercem a devida pressão para que seus vazios urbanos sejam ocupados. O governo federal não impõe a localização dos conjuntos MCMV em relação ao centro das cidades como um condicionante de acesso ao financiamento. Já os beneficiários não contam com a prerrogativa da escolha do local onde habitarão. Para que o programa MCMV brasileiro tenha um futuro mais virtuoso do que o mexicano, é importante desenvolver mecanismos que o qualifiquem. No momento, várias cidades brasileiras estão simultaneamente implantando conjuntos MCMV e corredores viários estruturantes do desenvolvimento urbano com recursos do PAC Mobilidade. Importante que essas duas ações apoiadas pelo Governo Federal sejam coordenadas de forma que esses corredores, que priorizam a circulação do transporte não motorizado e coletivo sobre o individual privado, promovam de fato o Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS). A boa prática DOTS preconiza a localização de serviços, comércio e habitações junto aos principais pontos de conexão de uma rede de transporte coletivo e a proximidade das novas construções às cidades constituídas. Assim será possível levar em frente a construção de cidades mais humanas, dinâmicas e produtivas. 1 http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2014/01/minha-casa-minha-vida-estimula-a-economia-e-gera-empregos-diz-dilma 2 http://www.pac.gov.br/noticia/b6deb46b 3 http://www.nytimes.com/2014/09/09/world/americas/they-built-it-people-came-now-they-go.html?rref=world/americas&module=ArrowsNav&contentCollection=Americas&action=keypress®ion=FixedLeft&pgtype=article&_r=1 Revista NTU Urbano 27 a c o n t e c e n a s em p r es a s Mais segurança aos usuários do transporte coletivo Arquivo RMTC Consórcio de empresas de Goiânia foca em ações de vigilância eletrônica, transparência e informação para segurança do usuário T ransparência e acesso a informação sempre foram demandas reivindicadas pela sociedade. Para atender essas expectativas e garantir mais segurança à população de Goiânia, a Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC), consórcio que reúne as empresas operadoras de ônibus urbano coletivo, está investindo em transparência operacional e tecnologia. Em setembro, a RMTC lançou o Sistema de Monitoramento da Seguran- 28 Revista NTU Urbano ça durante a 22ª Reunião do Fórum de Mobilidade Urbana, que contou com a participação de representantes do Fórum de Mobilidade Urbana, do Fórum empresarial de Goiás e da Secretária de Segurança Pública. O sistema trata de monitoramento e controle realizados em tempo real por uma equipe do consórcio que tem um posto instalado dentro do próprio Comando de Operações da Polícia Militar (Copom). Esse posto recebe denúncias relacionadas à segurança do transporte público tanto de pas- sageiros quanto de funcionários por meio de mensagens via sistema operacional, rádio, SMS e Whatsapp. Quando é recebida a denúncia, o controlador de segurança tem acesso imediato às imagens e repassa todas as informações à segurança pública para que possam atuar rapidamente no combate à violência. Incialmente o sistema está funcionando em 160 ônibus mas tem previsão para instalação em toda frota até o final de 2014. “A câmera é um fator inibidor da violência. Nos locais onde elas são a c o n t e c e n a s em p r es a s instaladas, a tendência é que o crime não ocorra. E, se vier a ocorrer, essas imagens serão de fundamental importância para elucidação dos fatos”, enfatiza o major Luciano Lima em entrevista para o site da RMTC. Informação em tempo real O novo serviço está integrado ao “Olho no ônibus”, uma central de informação e monitoramento realizado pela RMTC na qual qualquer pessoa ou estabelecimento da Região pode se informar consultar e até fiscalizar o transporte público. O aplicativo “Olho no Ônibus”, disponível para plataformas de smartphones e computadores, permite verificar o tempo de chegada do ônibus nas paradas, o total da frota que está em operação operação e analisar dados comparativos sobre o cumprimento da frota planejada e realizada. O usuário tem mais comodidade e transparência, pois esse sistema também abrange vários detalhes do sistema operacional do transporte coletivo. Cerca de 1.371 ônibus de 18 cidades da Região Metropolitana de Goiânia (RMG) contarão com essa ferramenta de vigilância eletrônica que vai monitorar, analisar e armazenar mais de 25 mil horas de filmagens. Serão quatro câmeras instaladas em cada veículo, três no interior e um na parte frontal, facilitando o reconhecimento da localização exata de cada veículo. De acordo com dados da Secretária de Segurança Pública houve uma redução em 35% na criminalidade nos terminais e dentro dos ônibus depois da implantação desse sistema. “É perceptível a mudança no comportamento de clientes e colaboradores após a implantação do sistema Olho no Ônibus. Percebe-se redução dos índices de violência tais como: vandalismos, ameaça à integridade, assaltos e atentado ao pudor. A opinião pública se mostra muito positiva em relação à implantação do sistema móvel de monitoramento”, explica Leomar Avelino, diretor geral do Consórcio RMTC. Para conhecer mais sobre o sistema de informação usuário basta acessar o site www.rmtcgoiania.com.br. Revitalização dos Terminais A partir de 2009, a Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC) passou a gerir 14 terminais de integração da Região Metropolitana de Goiânia (RMG). Desde então, esses foram reformados com uma estrutura para atender os usuários do transporte coletivo urbano. Hoje possuem sistemas de sinalização que dispõe de equipamentos audiovisuais tornando a indicação mais clara aos usuários, além disso, melhor iluminação, organização, limpeza e acessibilidade. Ainda foram disponibilizados painéis com informações e equipamentos de vigilância eletrônica, que fazem o monitoramento diário de tudo que se passa pelos terminais trazendo dessa forma mais segurança aos usuários de ônibus que por ali passam. “Não faz muito tempo esses terminais precisavam de melhorias em sua infraestrutura e organização. Eram ambientes regados à prostituição, drogas e necessitavam de uma modernização capaz de levar a um novo modelo de gestão que priorizasse os clientes do transporte público”, explicou Leomar. Revista NTU Urbano 29 n t u em a ç ã o Como funciona o transporte público? NTU promove campanha para esclarecer a população aspectos como responsabilidades, cálculos de custos, definição de tarifas e outros Q uais são as atribuições das empresas e do poder público na operação do transporte público? Quais são os custos que incidem sobre o setor? E como é definida a tarifa? Para esclarecer a sociedade sobre essas e outras questões, a NTU promove até janeiro de 2015 a campanha “Como funciona o transporte público?”. Por meio de uma série de vídeos com cinco episódios e peças publicitárias, a associação se propõe a elucidar temas que são motivos de questionamentos e dúvidas da população. O presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, explica que existe um pré-conceito sobre os serviços de transporte público no Brasil e, por falta de conhecimento, as pessoas lançam sobre as empresas atribuições que não são delas. 30 Revista NTU Urbano n t u em a ç ã o “Essa ação da NTU faz-se necessária para esclarecer, entre as várias questões que envolvem o serviço de transporte coletivo, que o empresário de ônibus segue as definições estabelecidas no edital e no contrato edital contrato do serviço e esses, por via de regra, são definidos por secretarias de transporte e trânsito das cidades, ou seja, pelo governo municipal”, explica Cunha. A proposta é que os temas sejam abordados de forma didática, clara e objetiva para que atraia a atenção e os ouvidos dos espectadores. Além dos vídeos, peças gráficas com infográficos e textos também serão veiculadas. A ação será promovida nas mídias sociais, como Facebook, Twitter e Youtube, e também nos ônibus e pontos de parada das principais cidades brasileiras. Todo o material da campanha está disponível no site www.transportepublico.org.br Os vídeos também podem ser acessados no canal da NTU no YouTube. Atribuições do serviço A campanha, promovida pela NTU com a parceria das empresas associadas e entidades filiadas, baseia-se nos pilares da operação do transporte coletivo. Entre eles, está às responsabilidades de quem gere e opera o serviço. Nesse caso, a responsabilidade de organizar as linhas e horários, manter os pontos de parada, investir em infraestrutura e definir os valores das tarifas dos ônibus fica a cargo do poder público local, ou seja, das secretárias de transportes dos municípios, dos estados e do Distrito Federal. A Lei de Mobilidade Urbana (Lei n.º 12.587/2012) também deixa clara as responsabilidades dos entes federativos (União, estados e municípios) e estabelece um prazo até 2015 para os municípios elaborarem o plano de mobilidade urbana. Se não cumprirem o prazo, não receberão verbas federais para novos investimentos. O diretor técnico e administrativo da NTU, Marcos Bicalho, explica que as empresas fazem a manutenção de seus veículos e a gestão do seu pessoal. Ou seja, a infraestrutura para operar o serviço depende do poder público. “Mesmo que as empresas coloquem excelentes veículos nas ruas, equipados e com pessoas capacitadas, ela vai depender de uma boa gestão pública para ofertar um bom serviço”, defende. Tarifa x Custos Outro fator que não é bem compreendido pelos usuários é a definição da tarifa e a relação dela com os custos de operação do sistema. O valor da passagem deve ser fixado pelo poder público e pode não cobrir todos os custos do transporte público. Nesses casos a tarifa deve ser complementada com recursos públicos e outras fontes de receita. “Essa lógica, de que o usuário é quem paga o custo do serviço, leva o poder público a trabalhar para não aumentar a tarifa. Ou seja, se for para aumentar o nível de conforto, reduzir o número de pessoas no horário de pico é preciso de mais ônibus para que a viagem seja “A ação da NTU fazse necessária para esclarecer que o empresário de ônibus segue as definições estabelecidas no edital e no contrato do serviço, que são definidos pelo governo local.” mais confortável, só que isso cresce o preço da passagem. E para evitar que isso aconteça, o poder público programa a oferta do serviço com uma taxa de ocupação maior dentro dos ônibus”, diz o presidente da NTU. De todos os itens de custo, os que mais impactam no sistema são as despesas com os trabalhadores e com óleo diesel. Juntos, eles representam mais de 50% dos custos totais do serviço, numa média nacional. Na sequência, estão os impostos (21,8%) e veículos (19,17%). O tamanho da frota, a quilometragem percorrida, o número de passageiros pagantes, os congestionamentos e as gratuidades também influenciam nos custos e, portanto, na tarifa. Investimentos e qualidade A campanha também enfatiza que um transporte público de qualidade custa caro e, ao mesmo tempo, precisa ter tarifa acessível. Para contornar isso, é preciso unir esforços e recursos tanto públicos quanto privados. Enquanto o poder público garante a infraestrutura, que incluem as vias, os terminais, as estações e os pontos de parada, as empresas investem em veículos e em sistemas operacionais, como bilhetagem eletrônica, informações aos usuários e gestão da operação em tempo real. Revista NTU Urbano 31 p o n t o d e ô n i bus Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes BRT completa 40 anos no Brasil e no Mundo e prova que é o transporte do futuro E m 22 de setembro, quando é comemorado o Dia Mundial Sem Carro, movimento que começou na França em 1998 para conscientizar sobre a necessidade de cidades menos dependentes dos deslocamentos individuais, o BRT – Bus Rapid Transit – completou neste ano de 2014, 40 anos de existência. De acordo com BRT Data Org, da Embarq, em todo o mundo existem 181 cidades com sistemas de corredores de ônibus de trânsito rápido que transportam diariamente 31 milhões 358 mil 488 passageiros por dia. Estes corredores somam 4 mil 675 quilômetros de extensão. A estimativa é que nos próximos dez anos o número total de passageiros transportados no mundo dobre, já que em todos os continentes, inclusive onde é forte a presença dos transportes ferroviários, há corredores de ônibus em construção ou em projeto. A maior malha de BRT no mundo é na América Latina, com 1.616 mil quilômetros presentes em 59 cidades e que atendem diariamente 19.523 milhões de passageiros por dia. Em segundo lugar vem a Ásia, onde os BRTs em 36 cidades prestam serviços diariamente para 8.485 milhões de passageiros por dia numa malha que soma 1.295 mil quilômetros. A Europa é o continente que abriga a terceira maior rede de BRTs do mundo, com 799 quilômetros em 51 cidades onde são atendidos 1.785 milhão de passageiros por dia. 32 Revista NTU Urbano A expansão dos BRTs em todo o mundo é uma prova que os sistemas de ônibus não são ultrapassados, como muitos que erroneamente tentam incutir na opinião pública. Na verdade, os sistemas de corredores de ônibus têm se mostrado uma das soluções mais eficientes para melhorar ainda mais os serviços de trens e de metrô. Não adianta ter um excelente sistema metroferroviário se as pessoas não conseguem chegar até as estações. Não é possível implantar redes de metrô e trens em todos os lugares, tanto do ponto de vista técnico como também do econômico. Além disso, corredores BRT que seguem em determinadas regiões já atendidas pelos trilhos também ajudam a diminuir a lotação de muitas redes de metrô que já chegaram ao limite. Os sistemas de corredores de ônibus também trazem benefícios ambientais. A introdução de ônibus elétricos, trólebus e coletivos movidos a combustíveis alternativos ao petróleo, aumentam estes ganhos, mas a simples implantação de uma rede de corredores, mesmo com veículos a diesel, já significa uma redução expressiva no número de poluentes na atmosfera. Isso porque um corredor de ônibus otimiza as operações, reduzindo número de linhas e coletivos em circulação sem prejudicar a capacidade de atendimento já que, pelo fato de o transporte público ter um espaço exclusivo, os ônibus não ficam presos no trânsito e conseguem realizar mais viagens. O BERÇO NO BRASIL Esta solução, que tem despertado cada vez mais interesse no mundo, nasceu justamente no Brasil. Em 22 de setembro de 1974, a cidade de Curitiba, no Paraná, ganhava sua primeira linha de ônibus expressa em corredores, algo nunca visto no mundo, mas que era simples e eficiente. Em abril de 1991, o BRT passou por uma reformulação no sistema de embarque e desembarque, que se tornou mais ágil e acessível. Surgiram as estações-tubo, que permitiram acesso ao ônibus no mesmo nível da plataforma e a possibilidade de pagamento antes da chegada do coletivo. Inicialmente, as estações-tubo foram planejadas para os chamados Ligeirinhos, ônibus que faziam poucas paradas. Logo em seguida, ônibus de outros tipos de linha, como as expressas, também começaram a fazer paradas nas estações-tubo. Na época, o prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, arquiteto e urbanista, afirmou que muito mais que oferecer uma solução de mobilidade, os corredores de ônibus tinham o objetivo de permitir um crescimento urbano mais ordenado, ao longo das vias onde há oferta de transporte público, e cidades mais humanas, nas quais, através do transporte coletivo, o espaço urbano seja dedicado às pessoas e não aos carros. ARTIGO Autor: Pedro Torres* Eleições 2014 e nossas cidades E ngana-se quem acredita que os desafios em mobilidade urbana devem estar apenas na pauta municipal e não nas campanhas dos candidatos à Presidente e governos estaduais. A história recente tem mostrado que governo federal e estados tem papel importantíssimo, sendo responsáveis pela maior parte dos investimentos públicos em transporte, habitação e saneamento. Mesmo nos projetos municipais, como por exemplo BRTs ou corredores de ônibus, a participação federal é decisiva. Sobretudo se os recursos vierem, como de fato vem (salvo raras exceções) de empréstimos da Caixa Econômica Federal e do BNDES. A participação do Governo Federal com recursos a fundo perdido (OGU) ainda é tímida se comparada, por exemplo, à política habitacional. Cabe ao governo federal estabelecer políticas públicas integradoras em seus programas de governos. A desarticulação entre as políticas em distintas esferas (federal, estadual e municipal) é grave, precisa ser revista do ponto de vista institucional e compromete o desenvolvimento urbano sustentável de nossas cidades. Já a desarticulação entre políticas de um mesmo nível de governo é absolutamente inaceitável! Vemos constantemente políticas que não dialogam entre si. Como os Planos de Saneamento, Diretor, Mobilidade e Resíduos Sólidos. Estes planos estão dialogando com os aportes financeiros do governo federal e estadual? Os planos de mobilidade, saneamento e diretor de cada município estão sendo levados em consideração na construção das milhares de unidades do programa Minha Casa Minha Vida? Em âmbito estadual o desafio é enorme e caro. Cabe, segundo nossa constituição, aos estados os transportes por trilhos, seja ele metrô ou trem. Esse alto custo leva os governos estaduais a tomarem empréstimos do governo federal. Também é fundamental analisar o impacto urbano causado por grandes obras de infraestrutura nas cidades. Estão seguindo as diretrizes do plano diretor e de mobilidade? Estão refletindo sobre os impactos nos entornos das estações e da área de abrangência do projeto? Isso mostra, mais uma vez, a importância de termos agências de planejamento metropolitano. Do ponto de vista da política econômica outra questão merece esclarecimento dos candidatos: manteremos o incentivo à compra do automóvel e, ao mesmo tempo, a CIDE zerada? Estudos recentes da UFPR indicam que os resultados dessa política de incentivo à compra de automóveis para o crescimento da economia e geração de empregos foram pífios. Do outro lado os custos com congestionamentos, segundo recente pesquisa da Firjan chegam a R$ 29 bilhões apenas no Rio de Janeiro. Com esse valor seria possível construir o equivalente a 4 vezes a rede atual de metrô da cidade por ano. Isso sem contar os custos ambientas ou com saúde e vítimas de trânsito, que segundo dados do IPEA custam cerca de R$ 40 bilhões de reais por ano, ou um pouco mais que um terço do total investido em mobilidade urbana pelo atual governo federal. Se ainda não está convencido do papel que a mobilidade merece nessa eleição presidencial lhe apresento mais um argumento: em abril de 2015 vence o prazo estabelecido pela Lei 12.587 para que as cidades com mais 20.000 habitantes concluam seus planos municipais de mobilidade urbana. Caso não tenham seus planos até essa data serão impedidos de acessar recursos do governo federal para mobilidade. O próximo presidente manterá essa data? Ou como no caso dos planos de saneamento o prazo será adiado? Por fim deixo um desafio e uma proposta para o próximo presidente. Hoje, de acordo com dados da ANTP, cerca de 40% dos deslocamentos feitos nas cidades são por meio não motorizado (a pé ou bicicleta). Mas não há uma linha sequer exclusiva de financiamento para o transporte não motorizado em âmbito federal. Se dos R$ 143 bilhões tivéssemos destinado 1% para infraestrutura cicloviária poderíamos ter construído 7.150 km de ciclovias. *Pedro Torres é especialista e mestre em Planejamento Urbano pelo IPPUR/UFRJ. Atualmente é Gerente de Políticas públicas no ITDP Brasil. Revista NTU Urbano 33 S U S T E NTA B ILIDAD E IEMA comprova redução de poluentes em faixas exclusivas para ônibus Arquivo IEMA Instituto ligado ao meio ambiente estudou durante um ano o impacto das faixas exclusivas no meio ambiente S ustentabilidade é a atual palavra de ordem quando se fala em mobilidade urbana. Ser sustentável significa produzir em qualquer área de forma a prejudicar o menos possível o equilíbrio entre o meio ambiente e as comunidades humanas. No caso do transporte público, uma das principais soluções sustentáveis é a implantação das faixas exclusivas para ônibus. Com o objetivo de identificar os aspectos ambientais dessa priorização ao transporte coletivo, o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) estudou durante o período de um ano as faixas exclusivas da Avenida Bri- 34 Revista NTU Urbano gadeiro Luís Antonio, Trecho Radial Leste e Avenida 23 de Maio, localizadas em São Paulo. Na primeira fase da pesquisa, o IEMA considerou três itens de avaliação: tempo de viagem, consumo de combustível e emissões de poluentes. Para o coordenador da área de mobilidade urbana do Instituto, Renato Boareto, no que tange a redução de poluentes atmosféricos, os resultados foram bastante satisfatórios, demonstrando que as faixas também podem contribuir positivamente para o meio ambiente. “Os principais objetivos dessa pesquisa foram estimar e quantificar os benefícios das faixas exclusivas e estabelecer uma metodologia que possa ser utilizada na avaliação de faixas de outros lugares do País”, disse Boareto. Redução de Poluentes De acordo com os testes, que compararam o ano de 2012 a 2013, as linhas de ônibus que passaram a operar nas faixas exclusivas citadas reduziram significativamente a emissão dos óxidos de nitrogênio (NOx) – que são gases gerados a partir da liberação de nitrogênio e vapor, pelo escapamento dos ônibus, que combinados com o oxigênio se tornam poluentes para meio ambiente. S U S T E NTA B ILIDAD E Em três linhas do Trecho Radial Leste, os índices de redução de NOx registrados pelo instituto foram de -16,7%, -14,6% e -7,3%. Na Avenida 23 de Maio, nas 37 linhas avaliadas, o menor índice foi de -3,5%, enquanto o maior foi de -21,7%. Já na Avenida Brigadeiro, houve redução de NOx em três linhas das sete observadas. Além da redução de NOx, a pesquisa registrou índices positivos na diminuição da emissão de materiais particulados — poluentes presentes na fumaça, poeira e que podem ser gerados pelo desgaste de pneus, freios e pista. Os índices registrados também mostraram que as faixas auxiliaram na redução do dióxido de carbono. Nas três linhas do Trecho Radial Leste, houve redução de -12,2%, -10,1% e -5,6%, respectivamente. Das 37 linhas observadas da Avenida 23 de Maio, o maior índice foi de -12,1%. Na Avenida Brigadeiro, houve redução do poluente em três linhas, com o maior índice de -14,3%. A arquiteta e especialista em mobilidade urbana do IEMA Hellem Miranda afirma que a faixa exclusiva pode melhorar o desempenho da frota equipada com tecnologias mais avançadas. “É importante frisar que, quando não há diminuição de poluentes, a causa principal não é a faixa exclusiva, mas o inadequado perfil tecnológico da frota que circula nas faixas”, esclarece. No âmbito da saúde, os óxidos de nitrogênio (NOx) podem irritar os olhos e comprometer a função pulmonar, além de participar da formação de chuvas ácidas e atuar na destruição da camada de ozônio. Já o dióxido de carbono (CO2) não interfere diretamente na saúde humana, mas é um dos gases causadores do efeito estufa. Estimulo ao transporte coletivo Para estimular o uso do transporte coletivo, o Instituto defende a implantação de políticas de estacionamento e a priorização do transporte coletivo nos investimentos públicos. “Nesse sentido, temos como referência em um dos nossos estudos um sistema muito praticado nos Estados Unidos e na Europa, conhecido como ‘park alive’. Por meio desse sistema, as pessoas que utilizam carros, por exemplo, são incentivadas a estacionar o veículo num certo ponto da cidade e continuarem seus trajetos no transporte coletivo”, pontua o diretor-presidente do IEMA, André Luis Ferreira. to promoveu em setembro o Seminário Internacional Sobre o Desestímulo ao Uso do Automóvel. O evento teve como foco principal o papel do transporte individual de passageiros no consumo de energia e nas emissões de dióxido de carbono; qualidade do ar em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e efeitos da implantação de faixas exclusivas. “Em relação às faixas exclusivas, já iniciamos a segunda fase da pesquisa. Essa nova etapa compreende outras faixas de São Paulo e terá outros aspectos avaliados, como tipologias de faixas e desenvolvimento de técnicas que promovam aumento no desempenho da frota que circula nas faixas exclusivas”, revela André. Carros são vilões do meio ambiente Para provar em números o quanto veículos individuais poluem mais que o transporte coletivo, o IEMA, em parceria com outras entidades, publicou neste ano o Inventário Nacional por Veículos Automotores Rodoviários. No estudo, foi registrado que, em 2012, Reforçando sua posição acerca do transporte e meio ambiente, o Institu- no Brasil, os ônibus urbanos foram responsáveis por 14% das emissões CO2 no transporte rodoviário de pas- Evolução das emissões de CO2e e no transporte rodoviário 70 14% Automóveis Milhões de toneladas de CO2e Comerciais Leves instituto ainda elaborou médias re60% 15% Ônibus Rodoviários 50 Ônibus Urbanos até 2012. Em 22 anos, a média geral individuais foi de 80%, enquanto para Transporte Coletivo o transporte coletivo foi de 20%. Ain- 20% 30 presentativas incluindo o ano de 1990 para emissão de CO2 para veículos 6% Microônibus 40 sageiros, enquanto os automóveis representam 60% das emissões. O 2% Motocicletas 60 3% da de acordo com o IEMA, os carros 20 também disparam em porcentagem de emissão de outros poluentes em 10 0 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 Fonte: Elaborado a partir do Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários 2013 (MMA, 2014) Transporte Individual relação aos ônibus. 80% Revista NTU Urbano 35 S E G U RANÇA Curitiba zera assaltos em micro-ônibus com substituição do dinheiro por cartão Arquivo Urbs Mudança evidencia benefícios do uso integral do cartão eletrônico. Cidade estuda ampliação da medida para toda a frota P a ra g a ra n t i r s e g u ra n ç a , funcionalidade e eficiência das viagens feitas nos micro-ônibus da capital paranaense, a Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), empresa da prefeitura responsável pelo sistema de transporte púbico da cidade, focou na bilhetagem eletrônica e ampliou os pontos de recarga e venda do cartão transporte. Desde agosto deste ano, os usuários só podem efetuar o pagamento da passagem nos micro-ônibus com o bilhete eletrônico. De acordo com a assessoria da Urbs, ainda não há dados oficiais sobre o impacto do fim do dinheiro nos micro-ônibus, como a redução dos casos de assaltos nos coletivos e 36 Revista NTU Urbano o ganho no tempo de viagem. No entanto, a mudança já é percebida. Carlos Vilmar Machado, motorista que opera em uma das linhas de micro-ônibus da Auto Viação Marechal, cita a segurança como uma das principais vantagens. “Eu e meus colegas de trabalho notamos que os assaltos diminuíram muito, quase não ocorrem mais. Já não há preocupação de passar em alguns pontos considerados perigosos, como na favela próxima à PUC, pois os bandidos sabem que não há mais dinheiro para pegar da gente. Até os passageiros estão satisfeitos com essa nova medida, principalmente os universitários”, relata o motorista. “Eu e meus colegas de trabalho notamos que os assaltos diminuíram muito, quase não ocorrem mais. Já não há preocupação de passar em alguns pontos considerados perigosos, como na favela próxima à PUC, pois os bandidos sabem que não há mais dinheiro para pegar da gente. Até os passageiros estão satisfeitos com essa nova medida, principalmente os universitários”. Carlos Vilmar Machado, motorista de ônibus S E G U RANÇA Arquivo Urbs O coordenador de tráfego da Viação Marechal, Elson Tlatner, revela que a média de assaltos entre janeiro e julho deste ano foi de três ocorrências por mês. Ele confirma que, desde agosto, nenhuma ocorrência desse tipo de crime nos micro-ônibus da empresa foi registrada. Tecnologia acessível Entre bancas de jornal e pontos comerciais, 25 estabelecimentos fazem a comercialização do bilhete. Antes, só era possível fazer o carregamento dos cartões na sede da Urbs ou pela internet. A medida não incide nos ônibus convencionais, onde os passageiros podem utilizar dinheiro ou cartão para pagar a passagem. Segundo o órgão gestor, a bilhetagem eletrônica foi a melhor opção para manter a continuidade do serviço desses coletivos que não possuem estrutura para cobradores. Caso houvesse exigência da prefeitura na alocação de cobradores nos micro-ônibus, seria necessária a contratação de 500 profissionais a um custo médio de R$ 2 milhões mensais na folha de pagamentos. Além disso, seria necessário investir outros R$ 2 milhões para a readaptação dos veículos. Esses custos resultariam em um aumento de cinco centavos na tarifa, que atualmente é de R$ 2,70. “Em resumo, quando 100% dos usuários de micro -ônibus utilizam o cartão transporte, há economia de custo operacional que beneficia as empresas de transporte, motoristas e os próprios passageiros”, alega o presidente da Urbs, Roberto Gregório da Silva Júnior. vencionais e dos micro-ônibus. No início de agosto, os painéis eletrônicos dos terminais de ônibus também continham informações sobre a mudança no pagamento da tarifa. O presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), Maurício Gulin, destaca que o uso integral do cartão nos micro-ônibus foi sugerido para a Urbs em maio deste ano. “O Setransp já alertava em relação aos benefícios que o cartão poderia proporcionar. Agora temos certeza das melhorias do cartão transporte para os micro-ônibus, principalmente nos quesitos segurança para motorista e passageiro e agilidade no momento do embarque”, pontua. Para popularizar o cartão, a Urbs está desenvolvendo um estudo que pode auxiliar na implantação de novas alternativas na cobrança da tarifa em Curitiba. Uma das propostas é a tarifa diferenciada, na qual a passagem custará menos para quem utilizar o cartão. Também está sendo estudada a possibilidade do valor da passagem ser cobrado de acordo com os horários das linhas. Engajado no projeto, o Setransp também avalia a possibilidade do cartão transporte ser obrigatório nos ônibus convencionais. Mauricio Gulin explica que, caso seja necessário expandir a medida para toda a frota de Curitiba, os cobradores não ficarão desempregados. “Pensando nessa provável situação, estamos analisando parcerias com faculdades e instituições para requalificar os cobradores para que assumam outros postos na empresa em que trabalham. Assim, eles poderão atuar como motoristas, eletricistas, mecânicos, entre outras funções”, finaliza. Uso integral do cartão em outras cidades No mês de setembro, a Prefeitura de Maringá (PR) confirmou que o transporte público da cidade vai operar apenas com o bilhete único. A medida será implantada até o final deste ano e visa atender uma lei municipal que determina o fim da dupla função dos motoristas de ônibus. Em outubro, dois municípios de São Paulo aboliram o dinheiro nos coletivos e adotaram Para divulgar a novidade, a Urbs confeccionou 19.800 cartazes que foram fixados no interior dos ônibus con- o uso integral do cartão: Campinas e Ribeirão Preto. Em Campo Grande (MS), o uso do cartão para o pagamento da passagem é obrigatório em toda a frota desde fevereiro de 2012. Revista NTU Urbano 37 # n t u r e c o me n d a Apps Vídeos Impressos Cittamobi Amizade dentro do ônibus A evolução dos terminais de integração Os passageiros de Ribeirão Preto (SP) agora Com uma ideia inovadora e criativa uma empre- podem contar com o novo aplicativo Cittamo- sa do ramo alimentício de Pelotas, do Rio Gran- O impresso “A evolução dos terminais de integra- bi. A ferramenta vai informar os usuários do de do Sul, promoveu em setembro a campanha ção” mostra o antes e o depois de 14 terminais de transporte público sobre o tempo que o ônibus “Alimentando Amizades”, no transporte coleti- integração da Região Metropolitana de Goiânia vai levar para chegar ao ponto e dessa maneira vo da cidade. A iniciativa se trata de uma ação (RMG) que são, atualmente, administrados pela reduzir o tempo de espera nas paradas. O usu- dentro dos coletivos com adesivos que indicam Rede Metropolitana de Transportes Coletivos ário irá receber notificações sobre imprevisto “assento preferencial para novas amizades” e (RMTC). O caderno traz fotos, a ficha técnica e que acontecem nas estradas, como acidentes que trazem temas comuns do cotidiano para depoimentos de usuários sobre os terminais que que podem causar a mudança de um itinerário. os passageiros deixarem o celular de lado e foram reformados, e hoje possuem sistemas de O app foi desenvolvido pela Cittati Tecnologia conversarem entre si. Um bloco de post-its está sinalização, iluminação, organização e acessibilida- e pode ser baixado em smartphones e tablets disponível com assuntos, como novela, futebol de. Além disso, foram disponibilizados paneis com que usam plataformas Android e iOS. e gosto musical. Assista ao vídeo da campanha informação e equipamentos de vigilância eletrôni- e entenda um pouco mais dessa ideia no canal ca. Quer saber mais sobre a estrutura desses termi- Biscoitos Zezé no Youtube. nais que são tão importantes para os passageiros? Acesse www.rmtcgoiania.com.br/terminais. BusoApp Transporte público urbano: como atender as demandas sociais? Com o aplicativo é possível acessar informações atualizadas sobre pontos e linhas de O transporte coletivo urbano tem sido foco de ônibus de Brasília, Cuiabá, Recife, Salvador, grandes discussões no Brasil. Mas afinal, qual Manaus e Natal. Disponível apenas para siste- modelo de transporte coletivo que os brasilei- mas Android, o app possui os idiomas inglês e ros de fato querem? Esse debate foi proposto português e informa o passo a passo de como durante o Seminário Nacional 2014 da NTU e chegar ao destino que você precisa. O dispo- foi tema do vídeo que traz pontos importantes sitivo também mostra os pontos de ônibus ao sobre os anseios da sociedade em relação ao seu redor e as linhas que passam em cada um. transporte, tarifa social, qualidade, subvenção entre outros. Assista ao vídeo no canal do Youtube, NTU Brasil. 38 Revista NTU Urbano Faixas Exclusivas A publicação “Faixas Exclusivas” traz uma coletânea de fotografias e história sobre a implantação de faixas exclusivas para ônibus coletivos na cidade de São Paulo. O material que foi produzido pela Prefeitura de São Paulo em parceria com a SPtrans e Companhia de Engenharia de Trafego (CET) tem informações sobre a velocidade média dos ônibus nas faixas exclusivas, economia e segurança, critérios para implantação e outros temas relacionados a esse serviço.