Nodulação e crescimento do feijoeiro Pérola em resposta à aplicação de
molibdênio e solução de quefir
Gabriella Santana de Souza1, Stella Cristiani Gonçalves Matoso2, Jessé Batista da Silva3, Adilson
Fábio Pintar4
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Discente bolsista IFRO, Professora Orientadora, 3 Professor co-orientador, 4 Discente colaborador
Resumo
O feijão (Phaseolus vulgaris) é uma Fabaceae que possui a capacidade de se beneficiar com a
fixação biológica de nitrogênio, a partir da simbiose mutualística com bactérias diazotróficas,
vulgarmente conhecidas como rizóbios. O objetivo foi avaliar a magnitude da contribuição do inoculante
rizobiano (Rhizobium tropici) e solução de quefir para a nodulação e crescimento do feijoeiro Pérola. O
experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado e esquema fatorial, em casa de
vegetação. Os tratamentos consistiram na presença e ausência de inoculante rizobiano e presença e
ausência de quefir. A planta teste foi o feijoeiro Pérola. Foram avaliadas as massas da parte aérea seca,
da raiz seca, dos nódulos secos, total da planta seca e média unitária dos nódulos secos e o número total
de nódulos. A presença da solução de quefir influenciou negativamente o crescimento e nodulação do
feijoeiro Pérola. O inoculante rizobiano incrementou a massa da planta, porém diminuiu a massa nodular.
Abstract
The common bean (Phaseolus vulgaris) is a Fabaceae that has the ability to benefit from
biological nitrogen fixation from the mutualistic symbiosis with diazotrophic bacteria, commonly known
as rhizobia. The objective was to evaluate the magnitude of the contribution of molybdenum and kefir
solution for nodulation and growth of bean Pearl. The experiment was conducted in a completely
randomized factorial design and in a greenhouse. The treatments in the presence and absence of
rizobiano inoculant and presence and absence of kefir. The test plant was the bean Pérola. We evaluated
the pasta shoot dry weight, root dry lumps of dried total plant dry and dry nodule average unit and the
total number of nodules. The presence of kefir solution negatively affected the growth and nodulation of
bean Pérola. The rizobiano inoculant increased the mass of the plant, but reduced the nodular mass.
Introdução
O Brasil é o principal produtor e consumidor de feijão (Phaseolus vulgaris). Esta cultura possui
grande importância socioeconômica para o país, por exigir grande quantidade de mão-de-obra, prevalecer
em sistemas de cultivo na agricultura familiar e ser componente básico da dieta do brasileiro. Entretanto,
nos últimos anos com o aumento da demanda internacional por feijão, grandes produtores foram
incentivados a investirem em recursos tecnológicos. Porém, a produtividade de feijão ainda está muito
aquém da esperada.
A maior parte dos solos da região norte são altamente intemperizados, com baixa fertilidade
natural e alta acidez, o que leva a necessidade de aplicação de corretivos e fertilizantes. Prática esta, que
nem sempre é viável economicamente para todos os agricultores, devido ao alto custo e baixa eficiência
dos fertilizantes, provocada por suas diversas vias de perda, principalmente dos fertilizantes
nitrogenados. Deste modo, tem-se investido cada vez mais em pesquisas, buscando encontrar alternativas
eficazes, visando diminuir ou substituir o uso desses insumos incentivando as práticas biológicas, como a
fixação biológica de nitrogênio (FBN).
A literatura demonstra que a aplicação de inoculante rizobiano constituído da espécie Rhizobium
tropici tem incrementado o acúmulo de nitrogênio, crescimento e produtividade do feijoeiro
(GUARESCHI et al., 2009) e ainda, que a interação com outros microrganismos pode beneficiar o
processo de FBN (KUSDRA, 2002).
Com isso, o presente trabalho teve por objetivo avaliar a magnitude da contribuição do inoculante
rizobiano (Rhizobium tropici) e solução de quefir para a nodulação e crescimento do feijoeiro Pérola.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na casa de vegetação do setor de Agricultura III do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia, Câmpus Colorado do Oeste, em um delineamento
inteiramente casualizado (DIC) e esquema fatorial 2x2, o que corresponde a presença e ausência de
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inoculante rizobiano (Rhizobium tropici), e presença e ausência de solução de quefir, num total de quatro
tratamentos, com dez repetições.
As unidades experimentais consistiram em vasos plásticos com capacidade aproximada de 1,8 L.
Considerando a condição de trabalho em vasos elevou-se o nível de fertilidade do substrato mediante
adubação fosfatada com 200 mg de P, na forma de superfosfato simples (18% de P 2O5), e potássica com
100 mg de K, na forma de cloreto de potássio (60% de K2O).
Como planta teste o feijoeiro Pérola. Primeiramente aplicou-se 6 ml kg-1 de solução açucarada a
10%, para garantir maior adesão dos produtos, nos tratamentos onde não houve aplicação de quefir, em
seguida procedeu-se a inoculação, com um gasto médio de 1 kg de semente, 10 g de inoculante turfoso.
Nos tratamentos com quefir a solução açucarada foi substituída pela solução do próprio quefir, após 24 h
de sua troca e adição de açúcar mascavo. Em todos os tratamentos procedeu-se a aplicação de
molibdênio, na dose de 2,5 g kg-1 de sementes, na forma de molibdato de amônio.
As variáveis analisadas foram as massas da parte aérea seca (MPAS); da raiz seca (MRS); dos
nódulos secos (MNS); total da planta seca (MTPS), média unitária de nódulos secos (MMUNS) e
número total de nódulos (NTN). As variáveis indicadoras de massa foram obtidas a partir da secagem em
estufa à temperatura contínua de 65°C. O NTN foi obtido a partir da retirada e contagem dos nódulos
visualmente perceptíveis.
A análise estatística consistiu primeiramente na análise de dados discrepantes, pelo método de
Grubbs, e dos pressupostos das variâncias, pelo teste de Bartlett e de Shapiro Wilk, para verificar a
homogeneidade das variâncias e normalidade dos resíduos, respectivamente. A partir de dados normais
realizou-se a análise de variância, pelo teste de F a 5% de probabilidade, para verificação dos efeitos
significativos para cada fator isolado ou para a interação destes.
Resultados e discussão
A presença do inoculante rizobiano não interferiu (p>0,05) na MRS. Entretanto, incrementou
(p<0,05) os teores de MPAS e MTPS (Tabela 1). A presença da solução de quefir também não alterou
(p>0,05) a MRS, porém sua presença diminuiu (p<0,05) a MTPS e elevou (p<0,05) o NTN do feijoeiro
Pérola (Tabela 2).
A MNS e MMUNS não foram influenciadas (p>0,05) pelos fatores isoladamente, mas sim pela
interação destes (Tabelas 3 e 4). Sendo que a ausência tanto da solução de quefir, quanto do inoculante
rizobiano favoreceram (p<0,05) maior massa nodular.
Tabela 1 – Massas da parte aérea seca (MPAS), da raiz seca (MRS) e total da planta seca (MTPS) do
feijoeiro Pérola, em gramas, obtidas em experimento realizado em Colorado do Oeste, RO,
2012
Inoculante rizobiano
Presença
Ausência
MPAS
4,86a
4,43b
MRS
1,62a
1,48a
MTPS
6,66a
6,20b
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste F, ao nível de 5% de
probabilidade.
Tabela 2 – Massas da raiz seca (MRS) e total da planta seca (MTPS), em gramas, e número total de nódulos
(NTN), em unidades, do feijoeiro Pérola, obtidos em experimento realizado em Colorado do
Oeste, RO, 2012
Quefir
Presença
Ausência
MTPS
6,17b
6,70a
MRS
1,53a
1,57a
NTN
95a
57b
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste F, ao nível de 5% de
probabilidade.
Estes resultados demonstram que os microrganismos presentes na solução de quefir interagem
com o Rhizobium tropici, porém negativamente, pois apesar de elevar o NTN, não foram eficientes para
contribuir para a MTPS, MNS e MMUNS (Tabelas 2, 3 e 4). E ainda, que os rizóbios nativos
proporcionaram maior massa nodular, porém não foram eficientes para elevar a massa da planta. Fato
este que contradiz a literatura, pois há indicativos de correlação da massa nodular com o crescimento de
plantas (VARGAS et al., 1994). Esta relação é mais bem entendida com a determinação do nitrogênio da
parte aérea da planta.
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Tabela 3 – Massa dos nódulos secos (MNS) do feijoeiro Pérola, em gramas, em função da interação entre
solução de quefir e inoculante rizobiano observada em experimento realizado em Colorado do
Oeste, RO, 2012
Quefir
Ausência
Presença
1
Inoculante rizobiano
Ausência1
0,49Aa
0,09Ab
Presença2
0,19Ba
0,19Aa
Somente rizóbios nativos; 2 Rizóbios nativos + introduzido (Rhizobium tropici).
Médias seguidas de mesma letra, minúscula nas colunas e maiúscula nas linhas, não diferem estatisticamente entre
si pelo teste F, ao nível de 5% de probabilidade.
Tabela 4 – Massa média unitária dos nódulos secos (MMUNS) do feijoeiro Pérola, em miligramas, em função
da interação entre solução de quefir e inoculante rizobiano observada em experimento realizado
em Colorado do Oeste, RO, 2012
Quefir
Ausência
Presença
1
Inoculante rizobiano
Ausência1
14,25Aa
0,85Ab
Presença2
3,76Ba
2,21Aa
Somente rizóbios nativos; 2 Rizóbios nativos + introduzido (Rhizobium tropici).
Médias seguidas de mesma letra, minúscula nas colunas e maiúscula nas linhas, não diferem estatisticamente entre
si pelo teste F, ao nível de 5% de probabilidade.
Conclusões
A solução de quefir interage com o Rhizobium tropici, porém negativamente.
A inoculação do Rhizobium tropici eleva a massa da parte aérea e total da planta do feijoeiro
Pérola, porém diminui sua massa nodular, devendo ser mais bem analisada com a determinação do
nitrogênio da parte aérea.
Literatura citada
GUARESCHI, R.F.; PERIN, A.; ROCHA, A. C. Inoculação com Rhizobium tropici na cultura do
feijoeiro comum em solo de Cerrado. Revista de Ciência da Vida, Rio de Janeiro, v. 29, n.1, p. 42-48,
jan./jun., 2009.
KUSDRA, J. F. Nodulação do feijoeiro e fixação biológica do nitrogênio em resposta à
microbiolização das sementes e à aplicação de micronutrientes. 2002. 128 f. Tese (Doutorado em
Agronomia) – Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade, Setor de Ciências Agrárias, Universidade
Federal do Paraná, Curitiba, 2002.
VARGAS, R.; RAMIREZ, C. Respuesta de la soya y El maní a Rhizobium y a la fertilización con N, P y
Mo en um típico pellustert de cañas, guanacaste. Agronomía Costarricense, San José, v. 13, n. 2,
p. 175-182, dic. 1989.
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