Anton io Dias os a n o s 7 0 na Co le ç ã o J o ã o S at t am ini Prefeitura de Niterói A ntonio D ias os a nos 7 0 na Cole ç ã o J oã o Sa tta mini Antonio Dia s the s eventies from the João Sattamini Collec tion Antonio Dias: the seventies from the João Sattamini Collection February 2000 This presentation was devised starting from a vision dislocated in time. Whenever I see this period of Antonio Dias’s production, I feel inclined to a silent wait. Any additional word could harm its enigmatic purity. They are works possessed by a sensibility of the time, of which the retrospective reading, done by someone who didn’t live through Antonio Dias: os anos 70 na Coleção João Sattamini. “Toda época deve reinventar seu próprio projeto de ‘espiritualidade’. (Espiritualidade = planos, terminologias, noções de conduta voltados para a resolução das penosas contra- the moment, runs serious risks of interpretative banality. Being only an introduction to the exhibition, I believe that however predatory these words are, they serve as an invitation to take up the challenge again, appropriate to that moment in the work of dições estruturais inerentes à situação do homem, para a LUIZ CAMILLO OSORIO Fevereiro de 2000 Antonio Dias, to open new possibilities to painting, notwithstanding perfeição da consciência humana e a transcendência).” its crisis inside the symbolic frame of late modernism. As the writer Susan Sontag Susan Sontag pointed out, “behind the appeals to silence rests the desire for a perceptive and cultural tabula rasa.” “A Leap into the Void” is the title of a work by the French artist, Yves Klein, produced in 1960. More than just a title, this risky dive from a balcony, suited and with open arms, towards the ground, is an image, albeit radical, of a time possessed by despair and by hope in front of the void – of an unavoidable and challenging crisis of a world which had lost its secure reference points. The present lived as an abyss between the past and the future. For its part, art lived through this crisis betting on experimenta- Esta apresentação foi feita a partir de uma visão deslocada no tempo. Sempre que vejo esta etapa da produção de Antonio Dias, sinto-me inclinado a uma espera silenciosa. Qualquer palavra a mais pode atrapalhar sua pureza enigmática. São trabalhos tomados por uma sensibilidade de época, cuja leitura retrospectiva, feita por alguém que não viveu o momento, corre sérios riscos de banalização interpretativa. Sendo apenas uma introdução à exposição, creio que por mais predatórias que sejam estas palavras, elas servem como convite a se “Every epoch should reinvent its own idea of ‘spirituality’. retomar o desafio, próprio àquele momento da obra de Antonio Dias, de (Spirituality = plans, terminologies, notions of conduct aimed abrir novas possibilidades para a pintura, não obstante sua crise dentro at the resolution of the painful structural contradictions inhe- do quadro simbólico da modernidade tardia. Como sublinhou a escritora rent in man’s situation, for the perfection of the human cons- Susan Sontag, “por trás dos apelos ao silêncio repousa o desejo de uma cience and transcendence).” tábula rasa perceptiva e cultural”. “Salto no vazio” é o título de uma obra do artista francês Yves Susan Sontag Klein realizada em 1960. Mais do que um título, este mergulho arriscado de uma sacada, de terno e braços abertos, em direção ao chão, é a imagem, um tanto radical, de uma época tomada pelo desespero e pela esperança frente ao vazio - da crise inelutável e desafiadora de um mundo que perdera suas referências seguras. O presente vivido como um abismo entre o passado e o futuro. Da sua parte, a arte tem vivido esta crise apostando na experimentação. A produção de Antonio Dias é exemplar neste aspecto. As mais variadas formas e materiais foram exploradas na fenomenização de idéias estéticas. Enfatizo aqui o estético para caracterizar um entrelaçamento entre idéia e fenômeno, uma correspondência que os faz serem em conjunto. A chegada à lua em 1969 projetou-nos no infinito. Nosso planeta tion. The production of Antonio Dias is exemplary in this respect. The passava a ser, de fato, um mero ponto no universo. A possibilidade do most varied of forms and materials were explored in the realisation homem se “libertar” da prisão terrena ganhara, com a ida à lua, uma of aesthetic ideas. I emphasise here the aesthetic to characterise the efetividade exasperante. Desde Copérnico o homem vinha se colocando, overlapping between the idea and the phenomenon, a correspondence, which makes them a whole. The landing on the moon in 1969 projected us into the infinite. Our planet came to be, in fact, a mere point in the universe. The possibility of man “freeing” himself from his terrestrial prison would gain, with the voyage to the moon, an exasperating effectiveness. Since Copernicus, man had been putting himself, intellectually outside the intelectualmente, fora da terra; a partir daquele momento, esta tornara-se uma possibilidade concreta - o homem saíra de carne e osso. Sem a tradição por trás earth, from that moment, this became a real possibility – man could e com o universo escancarado leave in flesh and bones. à sua frente, a humanidade Without tradition behind and with the universe wide-open in front, humanity confusedly began the decade of the seventies. Everything seemed permissible: freedom and despair joined hands. There was no choice; it was fundamental to live the complexity. Trying to fill the void in a positive way, ideologies screamed out their orders. Art didn’t escape these contradictions. Living through the May ’68 crisis in Paris and soon after going to Milan, Antonio Dias iniciava, desnorteada, a década de 70. Tudo parecia permitido: liberdade e desespero deram as mãos. Não cabia escolha, era fundamental viver a cleansed his poetry of the expressionist vestiges and courageously c o m p l e x i d a d e . Te n t a n d o dived into the abyss, trying to give a voice to the silence of painting. preencher positivamente o va- His painting performed the same archimedian movement of leaving one’s place of origin to see oneself from outside. Impersonality as zio, as ideologias berravam suas a condition allowing a distanced attitude to arise, opening new palavras de ordem. horizons for his work. The change came with two works – Camouflage and Web (Trama) A arte não fugia destas – both in 1968. The first is a piece of canvas thrown on the ground, contradições. Vivendo a crise having, on one side, white speckled with black – Desert – on the de maio de 68 em Paris e indo logo em seguida para Milão, Antonio Dias depura sua poética dos vestígios expressionistas e mergulha corajosamente no abismo, tentando dar voz ao silêncio da pintura. O mesmo movimento arquimediano de sair de seu lugar de origem para ver-se de fora, era executado por sua obra. A impessoalidade como a condição de possibilidade de uma atitude distanciada que surgia abrindo novos horizontes para o seu trabalho. A virada deu-se com dois trabalhos - Camuflagem e Trama - ambos de 1968. O primeiro é um pedaço de tela jogado sobre o chão, tendo, de um lado, branco salpicado de preto - Deserto - de outro, preto salpicado de branco - Universo. A Série Trama, concebida em 1968 e realizada em other, black specked with white – Universe. The Trama um álbum de 10 xilogravuras em 1977, foi bem definida por Hélio Oitica: Series, conceived in 1968 and realised in an album of 10 probjeto. A união entre projeto e objeto sublinha o caminhar e o abrir xylographs in 1977, was well defined by Hélio Oitica: probject. The overlapping between project and object highlighted the movement and the opening of paths. “De-centring” and re-orientation came to the surface: faced with the disorientated space/world, the artist sought new points of reference. Next in this aspect of minimalism, Dias’s painting rejected the romantic notions of expression, inspira- caminhos. Descentramento e re-orientação vêm à tona: frente ao espaço/ mundo desarvorado, o artista procura novos pontos de referência. Próxima neste aspecto do minimalismo, a pintura de Dias rejeitava as noções românticas de expressão, de tion and interiority. Little by little, his works were inspiração, de interioridade. Aos poucos, creating their own land, a non-place, which would be, seus trabalhos foram inventando um país paradoxically, the foundation of another place for art: a place of freedom. The intelligence of these paintings is precisely in the game between what we see in front of us and what gains consistency while we relate to what is próprio, um não-lugar, que seria, paradoxalmente, a fundação de um outro lugar para a arte: um território de liberdade. there – and this relationship necessarily implies an A inteligência destas pinturas está ideological disarmament and a dialogistic tendency. justamente no jogo entre o que vemos à As the critic, Paulo Sergio Duarte, has already stated, “when we approach one of Antonio Dias’s creations, nossa frente e o que vai se constituindo à we need a certain squint: one eye on what is shown, medida em que nos relacionamos com o the other on the problem formulated”. In a recent interview, Dias gave us some clues. For que aí está - e este relacionamento implica him, “the question of the work is almost always put necessariamente em um desarmamento in polarities, in terms of micro and macro, black and white, show and hide. Information to mislead”. The ideológico e em uma disposição dialógica. ‘mislead’, I imagine, should be understood ironically, Como já frisou o crítico Paulo Sergio Du- as a consciousness of the fact that art speaks as much arte, “quando nos aproximamos de uma through what is explicit as through what is not said. There is no metaphorical intention here; flat is das realizações de Antonio Dias, necessi- flat, the line is a line, the word, a word. Combined and interacting with the history of art and the institutional tamos de um certo estrabismo: um olho space, they multiply the possibilities of “speech”. no que está exposto, outro no problema These paintings bring the context of meaning to within formulado”. the process of meaning. Little seen by the Brazilian public, this phase of Em uma entrevista recente, Dias Dias bears a very personal mark. As we already stated at the beginning, it reveals an artist producing art in deu-nos algumas pistas. Para ele, “a a dense cultural environment – European or more questão do trabalho é quase sempre specifically Italian – much marked by the ideological colocada em polaridades, em termos de and aesthetic clashes inherent to the time. micro e macro, preto e branco, mostrar Picking up the thread again, we can say that these paintings demonstrate an enormous courage to face e tapar. Informações para despistar”. O the void. In front of them I perceive a desire to open new perspectives for art, to found something not yet despistar, imagino, deve ser tomado de definitive and which would be germinated by silence. modo irônico, como uma consciência de “The void is therefore the same thing as nothing, this is the energy that we need to think of this as otherness, que a arte fala tanto pelo que se explicita different from total presence and total absence.” These como pelo não-dito. words of Heidegger’s show the unknown that it is a great hope in moments of crisis. Não há nenhuma intenção metafórica aí: o plano é plano, a linha é linha, a palavra, palavra. Combinados e interagindo com a história da arte e o espaço institucional, eles multiplicam suas possibilidades de “fala”. Estas pinturas trazem o contexto de significação para dentro do processo de significar. Pouco vista pelo público brasileiro, esta fase de Dias tem uma marca muito pessoal. Como já frisamos de saída, ela revela um artista produzindo arte em um meio cultural denso - o europeu, mais especificamente italiano - e bastante marcado por embates ideológicos e estéticos inerentes à época. Retomando o fio, podemos dizer que estas pinturas mostram uma enorme coragem de enfrentar o vazio. Diante delas percebo uma vontade de abrir novas perspectivas para a arte, de fundar alguma coisa ainda não determinada e que seria germinada pelo silêncio. “O vazio é então a mesma coisa que o nada, isto é, o vigor que procuramos pensar como o outro de toda presença e de toda ausência”. Estas palavras de Heidegger apontam para o desconhecido que é a grande esperança nos momentos de A personal statement Rio de Janeiro, 3 rd of March 2000 Um depoimento The work of Antonio Dias, which developed from 1962 to 1967, had a profound effect on Brazilian art and achieved a certain international repercussion. The break in 1968, which happened when he had already moved from Paris to Milan, is surprising. In a completely unexpected way, the artist redirected his aesthetic PAULO SERGIO DUARTE Rio de Janeiro, 3 de março de 2000 investigation and abandoned highly successful subjects and research to look for a new territory: the relationship between the word and the image. From 1968 at the installation, The Freedom Territory: do it yourself, realised in Tokyo, the questions were already becoming more complex, involving, obviously, the political dimension in addition to questions specific to art, such as space and place, as well as text and image. As in his previous work, Antonio Dias retained in this new phase the qualities which made him stand out from others of his generation: intelligence and strength. And what is more: showed a characteristic which would mark all Brazilian art which was emerging at this same A obra de Antonio Dias, que se desenvolve de 1962 a 1967, marcou profundamente a arte brasileira e alcançou certa repercussão internacional.* A ruptura de 1968, realizada moment: a critical reflection combined with the magnanimity of the quando ele já havia se mudado artistic event. The conceptual structure was never subjugated just de Paris para Milão, é surpreendente. to textual elements; on the contrary, it looked to visual eloquence to express itself. It is true that certain works contradict my statement. These are very dry and are difficult to take if they are not strongly tied to the conceptual questions which they set in motion. However, they do De modo completamente inesperado, o artista redireciona sua investigação estética e abandona questões e pesquisas extremamente bem sucedidas em busca de um território novo: as relações entre a palavra e a imagem. É de 1968 a instalação Do it yourself: freedom territory, realizada em Tóquio, onde as questões já se tornam mais complexas, envolvendo, obviamente, a dimensão política, e questões específicas à arte, como espaço e lugar, além de texto e imagem. Como no trabalho anterior, Antonio Dias mantinha nessa nova fase as qualidades que o destacaram entre os da sua geração: inteligência e rigor. E mais: indicava a característica que iria marcar toda a grande arte brasileira que emergirá nesse mesmo momento: reflexão crítica aliada à generosidade do evento plástico. A estrutura conceitual nunca se submete só aos elementos textuais, ao contrário, recorre, para se expor, à eloqüência visual. É verdade que alguns trabalhos contrariam essa minha afirmação. Muito áridos, são difíceis de serem suportados se não estiverem constitute landmarks in the history of art. If these works occupy an devidamente amarrados às important place in the work from 1970 to 1976, they never monopolise questões conceituais que eles it. They are always dividing the space with works whose poetry does not relinquish pure visibility to attract the eye of the intelligent spectator, mobilizam. Constituem, no such as those which we have in front of us in this exhibition. entanto, marcos da história da arte. For me personally, the works of Antonio Dias from this period have a very special place. I lived with them intensely when I was in Milan from 1971 to 1972 and became a friend of the artist. In Paris, February 1973, I wrote my first notes on contemporary art about them, which were published with some modifications in Art Press, no. 6, on the Se esses trabalhos ocuparam um importante lugar na obra de 19 7 0 a 19 76 , e l e s n u n c a a occasion of Antonio’s participation in the Paris Biennial of that year. To monopolizaram. Sempre a estão see them again now in the Niteroi Museum of Contemporary Art, in the dividindo com obras cuja poética selection made by Luiz Camillo Osório from the Sattamini Collection will certainly be exciting; but it will be much more interesting for the nunca abriram mão da pura visi- formation of young artists who will come into contact with a chapter bilidade para atrair o olhar do es- of the history of art from thirty years ago which keeps its games, provocations and problems alive. pectador inteligente como diversas das que temos agora diante de nós * This reaction, in spite of the prize in Paris in 1965, was always much less than his art, superior in aesthetic quality to the majority of his European and North American contemporaries, deserved. The ties of dependency and the relations between the metropolis and the periphery which remain in the globalised world even at the end of the millennium, hinder the recognition of this quality which appears only occasionally as a result of the manoeuvrings of curators and art dealers. If it wasn’t for the persistence of problems of this nature, the work of Antonio Dias as that of other Brazilians would be illustrating books of the history of art of the 20th century and be on permanent display in the principal museums of contemporary art. nessa exposição. Para mim, as obras de Antonio Dias desse período ocupam um lugar muito especial. Convivi intensamente com elas quando residi em Milão de 1971 a 1972 e me tornei amigo do artista. Foi em torno delas que escrevi, em Paris, minhas primeiras notas sobre arte contemporânea, em fevereiro de 1973, que viriam a ser publicadas, com algumas modificações, na Art Press, no. 6, por ocasião da participação de Antonio na Bienal de Paris daquele ano. Revê-las agora no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, a partir da seleção feita por Luiz Camillo Osório na Coleção Sattamini, será, certamente, emocionante; mas será muito mais interessante para a formação de jovens artistas que entrarão em contato com um capítulo da história da arte de trinta anos atrás que mantém vivos seus jogos, provocações e problemas. * Essa repercussão, apesar do prêmio, em Paris, em 1965, sempre esteve muito abaixo do que merecia sua arte, superior em qualidade estética à maioria de seus contemporâneos europeus e norte-americanos. Os laços de dependência e as relações entre metrópole e periferia, que persistem no mundo globalizado do final do milênio, impedem o reconhecimento dessa qualidade que aparece apenas episodicamente como resultado de manobras de curadores e marchands. A obra de Antonio Dias, como a de outros artistas brasileiros, não fosse a persistência de problemas dessa natureza, estaria ilustrando os livros de história da arte do século XX e presentes nas salas de exposição permanente dos principais museus de arte contemporânea. escala:1:1 monobloco-plurideia penetrando o todo que veio antes e gerou suas próprias partes ponto de energia original que tem localização e não tem magnitude FAÇA VOC Ê-MESMO: TERRI TÓRIO LIB ER DADE TODO L UGAR É MIN HA TERR A ÁREA PARA/O INICI O/O F IM MO NUMENTO À MEMÓRI A gerador memoria memoria memoria memori onde o mundo nominado é levado à existência o lugar da representação (a sua representação) aprisiona a mente em suas formas materiais a pantera (uma pantera) está livre e escuro é o lugar o território estrutura da estratégia social teatro sensorial do medo AMB IENTE PARA O PR ISI ONEIRO PRAÇA DO TER ROR MO NUMENTO CHIN ÊS um lugar pintado de amarelo SEMPREVER DE: MON UME NTO À AGRIC ULTUR A pode o trabalho transcender a arte? a política da arte é o desenho da arte pirâmide coberta de grama A BIO GRAFI A INCO MPL ETA A IDENTIDADE SECRETA ponto de partida a parte perdida da arte o elemento mais estático como medida do mais cinético no meio de qualquer caminho [Sem a tradição por trás e com o universo escancarado a sua frente, a humanidade iniciava, desnorteada, a década de 70.] TRAM A ( ÁLBU M COM 10 P EÇAS), 1968 Xilogravura sobre papel artesanal 56 x 82 cm LUIZ CAMILLO OSORIO [...Antonio Dias mantinha nessa nova fase as qualidades que o destacaram entre os da sua geração: inteligência e rigor.] PAULO SERGIO DUARTE Gli enigmi di Antonio Dias (texto scritto per l’esposizione Antonio Dias, dello Studio Marconi, Milano, 1969) Os enigmas de Antonio Dias I dieci quadri presentati da Dias sono un inizio, ancora una volta. Un inizio perchè rappresentano, grosso modo, la terza o quarta ripresa creativa nel lavoro del giovanissimo artista brasiliano e perchè, soprattutto, albeggiano verso il nuovo mattino a cui attendono altri giovani artisti. Stanotte la storia dell’arte è stata rinnegata nella forma più semplice: dissolvendola con l’esorcismo dell’immaginazione. Antonio Dias ha proceduto secondo e nonostante i moti di questo tempi. (Dover controllare questi procedimenti, molti, andirivieni, dirizzoni, girelli, TOMMASO TRINI (texto escrito para a exposição individual de Antonio Dias, no Studio Marconi, Milão, 1969) peregrinazioni, atteggiamenti, scantonamenti, seguimenti, serpeggi, flussi e riflussi, resta ormai il solo compito di noi metronotti). Tempi senza tempo per definizione, in cui la realtà torna ad essere esorcizzata dalla volontà del fantastico, in cui conoscere vuol sempre più dire inventare, ed esprimere significa predire. È sintomatico che al nascere di una disciplina come quella del “technological forecasting”, della previsione tecnologica o del futuro, corrisponda l’emergenza di nuovi stili di vita spontanei; con simbiosi immediata, utopia e progettazione Os dez quadros apresentados por Dias são, mais uma vez, um diventano modi di esistenza, livelli primari vissuti come reale effettivo. começo. Um começo, pois representam, de um modo geral, a terceira e Tempi, dunque, in cui urge l’estensione estetica del fare e dell’essere oltre la normalizzazione di ogni linguaggio; in cui le sorti dell’arte, se quarta retomadas criativas na obra do jovem artista brasileiro, e, sobre- ancora ci commovessero, sono confuse con quelle dell’immaginario tudo, pois apontam na direção de um novo dia onde se encontram outros collettivo. Universo, continente, deserto, monumento: ecco i luoghi del “ren- jovens artistas. Nesta noite, a história da arte foi renegada da maneira mais simples: foi dissolvida pelo exorcismo da imaginação. Antonio Dias procedeu conforme os movimentos dos tempos de hoje. (Ter que controlar estes procedimentos, movimentos, vaivem, bons e maus caminhos, peregrinações, atitudes, desvios, prosseguimentos, curvas e fluxos, acabou ficando a única tarefa dos guardas-noturnos como nós.) Tempos sem tempo, por definição, nos quais a realidade volta a ser exorcisada pela vontade do fantástico, onde conhecer significa, cada vez mais, inventar; e expressar significa predizer. É sintomático que ao nascer uma disciplina como a do “technological forecasting”- da previsão tecnológica e do futuro – a ela corresponda a emergência espontânea de novos estilos de vida, através de uma simbiose imediata, utopia e projeto se tornam modos de existência, níveis primários vivenciados como realidade efetiva. Tempos, portanto, nos quais é urgente estender a estética do fazer e do ser além da normalização de qualquer linguagem; nos quais o destino da arte, se é que ele ainda nos comove, está confundido com o destino do imaginário coletivo. Universo, continente, deserto, monumento, eis os lugares do “rendez-vous” que Dias marcou conosco. Mas basta avistá-los para perder a espectativa de uma comunicação codificada segundo os esquemas pictóricos usuais. O Universo é aqui um grafismo multiforme como o deserto; ou uma rede como o continente; ou um espaço quadrado como o monumento e o vazio. A representação ideográfica retira destes lugares a imagem e a memória. E a obra de Dias não se restringe ao fato de devolver-nos o cotidiano em pictogramas, pelo contrário, ela aproxima, através de gráficos e legendas, o mitológico e a lenda do nosso familiar pensamento analógico. dez-vous” mentale fissatoci da Dias. Ma basta scorgerli per dissipare l’attesa di una comunicazione cifrata secondo gli usuali schemi pittorici. Os possíveis conceitos, que recebem ordem e força na observação dos L’universo è qui un grafismo variegato come il deserto, o un reticolo quadros, são os próprios temas da pintura do jovem brasileiro. Universo, come il continente, o un riquadro ottico come il monumento e il vuoto. continente, deserto, monumento, são utilizados por Dias como categorias La rappresentazione ideografica toglie a questi luoghi l’immagine e la memoria. Nè Dias si limita a restituirci il quotidiano in pittogrammi, ma da imaginação, e, portanto, requerem, no próprio âmbito do quadro, a vicecersa avvicina il mitico e la leggenda al nostro familiare pensiero nossa participação: começando pela experiência óptica. analogico mediante grafici e leggende. Temi della pittura del giovane brasiliano sono dunque i possibili concetti a cui dare ordine e forza Em “In Motion”, o universo estrelar pulsa a partir do fundo contra osservando i suoi quadri. Universo, continente, deserto monumento, uma retícula, as marcas de um visor em pri- sono utilizzati da Dias come categorie dell’immaginazione. Come tali meiro plano afastam e coordenam o infini- essi richiedono nell’ambito stesso del quadro la nostra partecipazione attiva: a cominciare dall’esperienza ottica. “In Motion”, l’universo stellare pulsa dal fondo contro un reticolo, le tracce di un visore in primo piano allontanano l’infinitamente grande coordinandolo, la parola ”memory” appare e scompare dalla visione – cosi l’epopea cosmica assurta a quotidianità trova corrispondenza nell’esercizio visivo dell’instabile e dell’ignoto (la memoria come futuro alla rovescia). Lo stesso universo stellare appare oltrepassato con uma caduta impossibile da immaginare laddove un riquadro nero lo trafora al centro: è “La Vita Segreta”, un titolo magrittiano che ci avverte del recupero dell’enigma in questo ed altri quadri. tamente grande, e a palavra “memory” aparece e desaparece da visão – assim a epopéia cósmica, trazida para o cotidiano, encontra uma correspondência no exercício visual do instável e do desconhecido (a memória como futuro ao avesso). O mesmo universo estrelar é ultrapassado Solo che in Dias l’enigmatico è il punto di parenza, non di arrivo. com uma queda impossível de se imaginar Con cadenza da poesia visiva, il quadro “Biografia di Lin Piao ”muove no ponto onde uma moldura preta perfura dallo sconosciuto al familiare; dalla non-informazione del titolo alla consunta eco di un quadro neoconcreto, un quadrato in un quadrato, o centro: é “A Vida Secreta”, um título ma- giallo su giallo. L’alchimia visiva di Magritte rendeva archetipo un grittiano avisando-nos da recuperação do soggetto banale, ermetico lo straniamento surrealista, incongruo l’accostamento più naturale; c’è un tempo in cui si creano fantasmi e un tempo per riflettere su di essi. Ben altre alchimie ci rendono oggi saturi enigma neste e noutros quadros. Só que para Dias o enigmático é ponto de partida e não de chegada. Com cadência de poesia visual, o quadro “Biografia de Lin Piao” passa do desconhecido ao familiar; da não-informação do título ao consumido eco de um quadro neoconcreto: um quadrado em um quadrado, amarelo sobre amarelo. A alquimia visual de Magritte tornava arquétipo um sujeito banal, hermético o estranhamento surrealista e incoerente a aproximação mais natural. Há um tempo onde se criam fantasmas e um tempo para refletir sobre eles. São outras, todavia, as alquimias que nos tornam hoje saturados de superestruturas provocativas. A transfiguração contrária feita por Dias, que vai do enigmático ao familiar, ou melhor, que os equipara utilizando omesmo signo para universo, deserto, cultura, riquezas naturais etc., é uma forma de banir essas superestruturas. di sovrastrutture provocatorie. L’inversa trasfigurazione operata da Dias, che va dell’enigmatico al familiare, o “Continente Livre’, esta série de quatro quadros que resume temas meglio li equipara, usando lo stesso segno per l’universo e procedimentos da fase atual do trabalho de Dias, propõe em forma ide- e il deserto e la cultura e le ricchezze naturali ecc., è una ogramática, o mesmo número de declarações poéticas, especialmente em messa al bando di tali sovrastrutture. “Continente Libero”, queste serie di quattro quadri “Cultura”, onde brilha uma área quadrada salpicada (universo ou deserto?) che riassume temi e procedimenti dell’attuale fase del em cuja superfície, tripartide e sufocada, está escrita a palavra “Imaginação”. lavoro di Dias, propone in forma ideogrammatica altrettante dichiarazioni di poetica, specie in “Cultura”: dove Seriam também declarações poéticas as que concernem a situação ge- solo un riquadro d‘angolo brilla di pulviscolo (universo ográfica, a imensa fome da população, a vastidão oppure deserto?) nell’intera superficie terna e soffocata e a relativa acumulação das riquezas naturais? su cui è inscritta la parole ”immaginazione”. Dichiarazioni di poetica anche quelle che riguardano la situazione ge- Porque não, se a imaginação quer englobar cada ografica, l’immensa fame della popolazione, la vastità, e dimensão, incluindo a dimensão ecológica? Dias la relativa accumulazione delle ricchezze naturali? Perchè desenvolveu seu desenho expressivo a partir de no, se la immaginazione intende inglobare ogni dimensione, compresa quella ecologica? Dias ha maturato il suo uma série anterior de projetos ainda mais radicais; disegno espressivo da una precedente serie di progetti foi suficiente um tempo de interiorização para que ancor più radicali; è bastato un tempo di interiorizzazione perchè i progetti, come visioni declinate al futuro, si mutassero in affreschi d’attualità. D’altronde, alla sua prima mostra in Italia, Dias si trova ad avere formulato un linguaggio nuovo, non solo os projetos, como visões projetadas no futuro se tornassem afrescos atuais. Aliás, na sua primeira exposição na Itália, per lui, e a doverne padroneggiare tutti gli elementi. La Dias já formula uma linguagem nova, tendo que sua è un’espressione concettuale ma non nei termini facil- dominar todos os seus elementos. É uma expressão mente riconoscibili da noi europei; le sacche e i sottintesi di una cultura come quella sudamericana ci si apriranno col progredire del lavoro. Resta però un’immediatezza di comunicazione che testimonia di acquisizioni comuni. Si veda l’uso che l’artista fa delle parole secondo il procedi- de conceitos , porém não nos termos facilmente reconhecíveis por nós europeus; os vácuos e os subentendidos de uma cultura como a latinoameri- mento di Magritte, per il quale “in un quadro, le parole cana irão se abrir para nós com o desenvolvimento sono della stessa sostanza delle immagini”. do trabalho. Fica, porém, uma comunicação ime- Accanto all’immagine dell’universo, Dias coordina serie di parole (cellula-epidermide-carne / modello-imma- diata que testemunha as acquisições em comum. gine-visione) sull’unico sfondo di un universo in negativo; Vejam o uso das palavras como em Magritte, para poi, con uno scarto, rappresenta la parola “isolamento” sostituendo una porzione del quadro con la presenza quem “num quadro, as palavras são da mesma della parente. Altrove troviamo lo stesso scarto logico: substância das imagens”. come se in fondo Dias si abbandonasse a un gioco privo di regole, dopo averci imposto schemi logici e analogici Ao lado da imagem do universo, Dias co- irrinunciabili. Spesso l’ambiguità è intrattenuta nei ordena séries de palavras (célula-epiderme-carne / titoli: cosi nel “Monumento vagabondo” non si sa se modelo-imagem-visão) sobre o único fundo de um a vagabondare sia l’universo o il deserto – e nel “Mo- universo em negativo; depois, com um deslocamen- numento al paese occupato” troviamo un’equivalenza inattesa tra l’occupato e l’occupante, entrambi descritti to, representa a palavra “isolamento” substituindo come deserto. uma parte do quadro com a presença da parede. Dopo una figurazione “viscerale”, un periodo oggettuale, dopo l’emigrazione e il silenzio, Dias ha ripreso a far Em outros quadros, encontramos o mesmo desloca- pittura. La necessarietà di questa scelta ha un parallelo nella felicità con cui molti scrittori sudamericani conti- mento lógico como se, no fundo, Dias se entregasse a um jogo sem regras, nuano a scrivere romanzi da scoprire. depois de nos ter imposto esquemas lógicos e analógicos irrenunciáveis. Freqüentemente a ambiguidade é contida nos títulos: assim, no “Monumento Vagabundo” não se sabe o que é vagabundo - o universo ou o deserto – e no “Monumento ao pais ocupado” encontramos uma equivalência inesperada entre o ocupado e o ocupante, ambos descritos como deserto. Após uma figuração visceral temos um período objectual, depois da emigração e do silêncio, Dias retomou o trabalho com a pintura. A necessidade desta escolha tem um paralelo com a felicidade de muitos escritores latinoamericanos que continuam escrevendo romances a serem descobertos. CHI N ESE MO N UM ENT, 1969 200 x 297,5 cm acrílica e fita crepe s/ papel acrílica s/ tela PROJETO PARA O NE & T HREE, 1974 70 x 301 cm 95 x 95 cm THE PLACE, 1971 acrílica s/tela acrílica s/ tela IN CO MPLETE BI O GRAPHY, 1968 101 x 101 cm ESQU ERDA: THE ILLUSTRATION OF ART (POLIPTICO), 1973 acrílica s/ tela 60 x 90 cm(cada) DIREITA: FAC-SÍMILE, 1971 acrílica s/ tela 130,3 x 163 cm 95,4 x 95,4 cm 130 x 195 cm acrílica s/ tela acrílica s/ tela THE I NCO MPLETE BIOG RAP HY, 1971 THE O CCUPI ED CO UN TRY, 1971 162 x 130 cm 129 x 161 cm acrílica s/ tela acrílica s/ tela THE SECRET IDENT ITY, 1968 THE I LLUSI O NI ST, 1971 Jorge Roberto Silveira PREFEITO DE NITERÓI Marcos Gomes SECRETÁRIO DA CULTURA Claudio Valério Teixeira PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO DE ARTE DE NITERÓI-FAN Ivan Macedo SUPERINTENDENTE DA FUNDAÇÃO DE ARTE DE NITERÓI APOIO ASSISTENTE Alexandre Vasconcellos dos Santos ASSISTENTE TÉCNICO/ARQUITETURA Sandro Silveira ASSESSORIA DE IMPRENSA José Carlos Assumpção SECRETARIA Helena Melegari RECEPÇÃO Claudia dos Santos, Mª de Lourdes Portella, Sergio Luiz Soares NELTUR MANUTENÇÃO E MONTAGEM DE EXPOSIÇÕES Pôncio Muniz, Carlos Gomes Ra- Empresa Niteroiense de Esporte, Lazer e Turismo mos, Carlos Henrique Martins, Carlos Macedo de Souza, Givaldo de Lima Falcão, Nilson Duarte da Silva, Valdo MUSEU DE ARTE Nogueira CONTEMPORÂNEA DE NITERÓI CONSELHO DELIBERATIVO Anna Maria Niemeyer Carlos Roberto Siqueira Castro Claudio Valério Teixeira Italo Campofiorito Janete Costa João Sampaio Jorge Roberto Silveira Marcos Gomes Naum Rifer Oscar Niemeyer EXPOSIÇÃO CURADORIA Luiz Camillo Osório COORDENAÇÃO Dôra Silveira MONTAGEM Marcia Muller Gisele Freitas Nice Mendonça Sandro Teixeira Tatiana Freitas [estagiária] Otávio Rainho da Silva Neves Ronaldo Pontes Victor Arruda João Sattamini CATÁLOGO [Presidente do Conselho] FOTOGRAFIAS DAS OBRAS DE ARTE Mário Grisolli PROJETO GRÁFICO Dupla Design DIRETOR DO MUSEU Italo Campofiorito VERSÂO PARA O INGLÊS Bruce Kenneth Pailey Anna Basevi COORDENADORA DO ACERVO Dora Silveira e Luiz Camillo Osório Marcia Müller REVISÃO DAS TRADUÇÕES DIRETOR DA DIVISÃO DE ARTE EDUCAÇÃO ARTE-EDUCADORAS “Esta publicação sai por ocasião da exposição de trabalhos de Antonio Dias Beatriz Jabor, Carmen Riquelme, Da- pertencentes à Coleção João Sattamini, niela Seda, Ignês Guimarães, Marcia no Museu de Arte Contemporânea de Campos, Leonardo Galvão[estagiário] Niterói, em março de 2000.” DIRETOR DA DIVISÃO DE TEORIA E PESQUISA Luiz Camillo Osório DIRETORA DA DIVISÃO DE ADMINISTRAÇÃO Telma Lasmar Gonçalves Boa Viagem - Niterói ‑ Rio de Janeiro Brasil - Cep 24210-390 Tels:(021) 620 2400/620 2481 Fax:(021) 620 2530 HORÁRIO DE VISITAÇÃO de ter. a dom., das 11 às 19 horas sáb., das 13 às 21 horas seg., fechado DIRETORA DA DIVISÃO DE MUSEOLOGIA Gisele Freitas Luiz Guilherme Vergara Mirante da Boa Viagem, s/nº TRADUÇÃO DO ITALIANO COORDENADORA EXECUTIVA Dôra Silveira Prefeitura de Niterói INGRESSOS R$ 2,00 R$ 1,00 (estudante) crianças até 7 anos e adultos acima de 65 anos não pagam sábado, entrada livre VISITAS GUIADAS PARA GRUPOS marcar com antecedência na Divisão de Arte Educação, pelos tels.: (021) 620 2400 e 620 2481 Prefeitura de Niterói