775 IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação PUCRS Validação do Coletor de Sangue Arterializado para Utilização em Ambiente Espacial Felipe Prehn Falcão, Thais Russomano (orientador) Programa de Pós-Graduação em Engenharia, Faculdade de Engenharia, PUCRS, Resumo A avaliação da saúde de astronautas no espaço deve contemplar a medição de vários componentes presentes somente no sangue arterial. Até os dias de hoje isto não é possível, pois a punção arterial em missões espaciais provou ser inviável. O desenvolvimento do Coletor de Sangue Arterializado do Lóbulo da Orelha (CSA) objetiva possibilitar que este tipo de exame seja realizado em astronautas durante a exposição à microgravidade. Para tanto, o CSA minimiza riscos de contaminação ambiental, infecção local, dor e disponibiliza uma técnica de fácil execução. Este trabalho apresenta o desenvolvimento, aperfeiçoamento e adaptação do CSA para que seja testado a bordo da Estação Espacial Internacional (EEI). Introdução O aumento do número e da duração das viagens espaciais, acompanhados da flexibilização dos critérios médicos para a seleção de astronautas, tornam necessário um acompanhamento médico rigoroso das tripulações, tanto em situações de rotina, como durante uma emergência. Este acompanhamento médico requer o uso de técnicas, procedimentos e equipamentos novos para ser realizado em um ambiente onde a força gravitacional aproximase de zero, dito "ambiente de microgravidade". Na prática médica diária, utiliza-se o sangue arterial, através da punção ou canulação de uma artéria, as quais são técnicas dolorosas, difíceis, arriscadas e propensas a contaminar o ambiente, portanto não podendo ser aplicadas num ambiente espacial. Pesquisas demonstraram, no entanto, que o sangue capilar do lóbulo da orelha, quando arterializado por massagem e uso de vasodilatador, pode ser facilmente coletado, através de uma pequena incisão (GODFREY et al, 1971) (LANGLANDS et al, 1965). Idealizou-se adaptar esta técnica num aparelho com o qual se tem um procedimento padronizado, indolor, passível de IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2009 776 ser executado por qualquer pessoa e sem risco de contaminação do ambiente. A 6ª versão do CSA foi selecionada dentro do 3° Anúncio de Oportunidade da Agência Espacial Brasileira AEB para ser testado durante uma missão espacial na EEI. A partir dos critérios médicos indicados para a realização de uma coleta de sangue arterializado, desenvolveu-se a atual versão CSA. Além desses critérios, o CSA deve ser aprovado para voo seguindo parâmetros técnicos estipulados pelos procedimentos da Agência Espacial Russa (Roscosmos) e Agência Espacial Norte-Americana (NASA) (NASA, 1999). Tais testes têm o propósito de aplicar ao equipamento as mesmas condições de um lançamento a bordo da espaçonave Soyuz e a permanência do mesmo na EEI. Os testes requeridos são: Testes Elétricos, Testes de Vibração e Choque, Medidas de Propriedade de Massa, Testes de Compatibilidade Eletromagnética, Testes de Alta e Baixa Pressão, Testes de Temperatura, Testes de Umidade, Testes de Vazamento (Leak Tests), Medidas de Máxima Temperatura Externa e Verificação dos Níveis de Offgassing. Metodologia Os testes aplicáveis ao CSA são: Testes de Vibração e Choque, Medidas de Propriedade de Massa, Testes de Alta e Baixa Pressão, Testes de Temperatura, Testes de Umidade, Verificação dos Níveis de Offgassing. Estes testes estão sendo realizados no Laboratório de Integração e Testes – LIT/INPE, em São José dos Campos, SP. As Medidas de Propriedade de Massa objetiva o conhecimento preciso da Massa e do Centro de Gravidade do CSA. Os Testes de Alta e Baixa Pressão e os Testes de Temperatura são para verificação da estabilidade físico-química do Experimento sob variações dessas grandezas nas condições. Testes de Umidade são realizados para verificação da correta funcionalidade do CSA após exposição em ambiente com variações da Umidade Relativa. Verificação dos Níveis de Offgassing ou Degaseamento para medição dos níveis de gases liberados pelo CSA para o interior da Soyuz ou da EEI em pressão ambiente. Os Testes de Vibração e Choque tem como objetivos a verificação da compatibilidade do CSA com os esforços do lançamento e a proteção da Soyuz contra riscos de degradação física. Dois CSA são colocados dentro de um invólucro acolchoado, fixados a um Shaker e são submetidos à sequência de teste conforme as Tabelas 1, 2, 3, 4. IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2009 777 HARMONICVIBRATIONTEST RESONANCE SEARCH TEST Test Axes FrequencyRange (Hz) Test H-1 5-25 1g X, Y, Z 25-200 200-800 1g – 3g 3g – 5g 800-1500 5g – 8g 1500-2000 8g Sweep Cycle Duration 5 minutes Nr. of Cycles 1 Test Axes Frequency Range (Hz) LowLevel Signature Experiment critical test direction 5 - 200 0.5 g Sweep Rate Tabela 1: Teste de Vibração Randômica Tabela 3: Teste de Ressonância RANDOM VIBRATION TEST Test Axes Frequency Range [Hz] Test R-1 Test R-2 Test R-3 (HC/CC/Insertion) (HC/CC/DM/Insertion) (DM/Ortibal) 20 0.02 g2/Hz 0.02 g2/Hz 0.004 g2/Hz X, Y, Z 2 2 2 100 0.02 g /Hz 0.02 g /Hz 0.004g /Hz 200 0.05 g2/Hz 0.02 g2/Hz 0.004g2/Hz 2 2 0.01 g2/Hz 500 0.05 g /Hz 0.008 g /Hz 1000 0.025 g2/Hz 0.004 g2/Hz 0.01 g2/Hz 2000 0.013 g2/Hz 0.002 g2/Hz 0.005 g2/Hz Overall Level 7.42 gRMS 3.58 gRMS 3.84 gRMS Test Duration 2 min 8 min 10 min Tabela 2: Teste de Vibração Harmonica 1 oct/min SHOCK TEST Pulse Waveform Halfsine Acceleration peak 40g Pulse duration 2 ms (nominal 1-3 ms) Nr. of shocks 7 per direction (total 42 shocks) Test Axes 3 (X, Y, Z) Tabela 4: Teste de Choque Resultados O teste de Vibração e Choque realizado demonstraram que os CSA expostos não apresentaram qualquer problema, não comprometendo sua funcionalidade nem a construção. Para a Verificação dos Níveis de Offgassing, optou-se pela escolha de um material que já é utilizado em equipamentos abordo da EEI, não apresentando a necessidade de ser realizados testes em equipamentos específicos, os quais não estão à disposição no Brasil. Conclusão O CSA assim foi aprovado no teste de Vibração e Choque e a partir da análise dos materiais disponíveis para sua manufatura foi escolhido o Polieteretercetona (PEEK). No momento estamos preparando os próximos testes a serem realizados até o segundo trimestre de 2010. Referências GODFREY S,WOSNIAK ER, COURTENAY ERJ, et al. Ear lobe samples for blood gas analysis at rest and during exercise. Br J Dis Chest 1971; 65:68–72. LANGLANDS JHM, WALLACE WFM. Small blood samples from ear-lobe punctures. Lancet 1965; 14:315–7. NASA. Description of COMPLEX and General Technical Requirements – Appendix RS. Disponível em: www.aeb.gov.br/area/PDF/microgravidade/AppendixRS.PDF. Acesso em: 15 junho 2009. 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