FE D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A
ISSN 1413 - 1749
DEUS, CRISTO
R$ 5,00
E
CARIDADE
Ano 126 • Nº 2.150 • Maio 2008
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Expediente
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Sumário
4 Editorial
Transformação Moral, Lar e Evangelho
11 Entrevista: Marlene Rossi Severino Nobre
Fundada em 21 de janeiro de 1883
Fundador: Augusto Elias da Silva
Visão espírita sobre o emprego de células-tronco
14 Presença de Chico Xavier
Carta à minha Mãe – Humberto de Campos
Revista de Espiritismo Cristão
Ano 126 / Maio, 2008 / N o 2.150
ISSN 1413-1749
Propriedade e orientação da
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA
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Editor: ALTIVO FERREIRA
Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO
CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO
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TORRES E CLAUDIO CARVALHO
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Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA
Capa: AGADYR TORRES PEREIRA
21 Esflorando o Evangelho
Ministérios – Emmanuel
32 A FEB e o Esperanto
Esperanto: idioma universalista – Luiz Antônio Millecco
33 Trova / Trobo – Chiquito de Morais
42 Seara Espírita
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Evolução e vida – Juvanir Borges de Souza
A crença em Deus – Joanna de Ângelis
Trabalhemos – Hernani T. Sant’Anna
Minha Mãe – Maria Dolores
Trabalhadores da última hora – Umberto Ferreira
Os últimos serão os primeiros – Constantino,
Espírito protetor
O lar espírita perante os novos tempos (Capa) –
Clara Lila Gonzalez de Araújo
Atendimento fraterno e assistência espiritual –
Waldehir Bezerra de Almeida
FEB presente em ato público “Em Defesa da Vida –
Brasil Sem Aborto”
Onde está o vosso coração? – A. Merci Spada Borges
Em dia com o Espiritismo – Pródromos da
reencarnação – Marta Antunes Moura
Ao leitor
Últimas palavras – Kleber Halfeld
Cristianismo Redivivo – Esperança – Haroldo Dutra Dias
Assistência e Promoção Social à luz do Evangelho –
Washington Luiz Fernandes
Composição dos Órgãos da FEB após a Reunião do
seu Conselho Superior de março de 2008
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Editorial
Transformação Moral,
Lar e Evangelho
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral [...].”
– Allan Kardec
A
conclusão do Codificador acima transcrita, que consta do capítulo
XVII, item 4, de O Evangelho segundo o Espiritismo, é absolutamente
coerente.
O verdadeiro espírita está convicto de que é um Espírito imortal, já com inúmeras reencarnações vivenciadas; sabe que está sujeito à Lei do Progresso que emana
de Deus, pela qual todos nós evoluímos espiritual, moral e intelectualmente; e reconhece em Jesus o Espírito mais perfeito que a Providência Divina oferece à
Humanidade para lhe servir de guia e modelo.
O lar, por sua vez, é o núcleo social onde devemos desenvolver as nossas atividades
básicas de relacionamento, convivendo com Espíritos que nos são afins e com os quais,
também, necessitamos ter afinidade, reparando erros ocorridos nesta e em outras
existências e construindo laços mais duradouros de sentimento fraterno e solidário.
O Evangelho é o repositório da mais pura expressão da Lei de Amor que rege a
vida; é o roteiro que Jesus nos ensinou e exemplificou, que nos serve de diretriz e
referência para o esforço de aprimoramento espiritual e moral.
Ciente desta realidade, é natural e conveniente que nos reunamos em família,
diária ou semanalmente, para conhecer e estudar os ensinos do Evangelho de Jesus
que, enriquecido com os esclarecimentos da Doutrina Espírita, oferece-nos uma
visão clara de nossa condição de Espíritos imortais e um sentido lúcido, coerente e
bom para a nossa atual existência.
A reunião do Evangelho no Lar, em si mesma, já nos proporciona paz e compreensão. Oferece-nos mais, uma vez que nos orienta e fortalece para a execução da
nossa transformação moral, no próprio ambiente doméstico.
Quando o lar abre suas portas para o estudo e a prática do Evangelho, à luz da
Doutrina Espírita, transforma-se em um posto espiritual de amparo, de luz e de paz
que irradia além dos seus próprios limites.
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Evolução
e vida
J U VA N I R B O R G E S
A
compreensão de nós mesmos, como seres humanos
habitantes deste mundo, a
observação de tudo o que existe,
nos vários reinos da rica Natureza
deste Orbe, a vida, a morte e as
leis que regem todo esse conjunto
de fenômenos que ocorrem na
Terra, desde sua formação até os
dias atuais, é um permanente desafio ao pensamento do homem
de todos os tempos.
Estamos focalizando somente o
que acontece em um mundo material, como é o que habitamos.
Entretanto, se o número de planetas e galáxias que compõem o
Universo é infinito, pelo menos
para a nossa compreensão limitada, o problema se multiplica indefinidamente, ainda que focalizado
somente o lado material da vida.
Mas, como sabemos que ao lado da matéria está presente o outro elemento universal, o espírito, o entendimento da realidade,
da verdade e da vida torna-se extremamente complexo para todos nós, habitantes deste planeta.
DE
SOUZA
Assim, não é de se estranhar as
múltiplas formas de compreensão do que ocorre nesse Universo
infinito e a diversidade da vida
nos variados mundos que o
compõem.
Que existem leis superiores
regendo todo esse complexo, já
não constitui dúvida para boa
porção dos habitantes deste mundo, daí surgindo a idéia, que se
tornou certeza, de que existe um
Criador Supremo – DEUS – regendo todo o Universo.
No entanto, desde o aparecimento do homem na Terra, com
sua ignorância natural, até milhares de anos posteriores, quando sua inteligência, mais desenvolvida, permitiu-lhe novas compreensões, muitas formas e hipóteses foram admitidas para a
compreensão da vida.
Dois fatores naturais permitiram a evolução do pensamento e
das idéias. O primeiro foi o próprio conhecimento resultante
das observações dos fatos. O segundo, que acompanha a Hu-
manidade desde os seus primórdios, é o auxílio superior daqueles que sempre ofereceram sugestões e revelações em consonância com a compreensão de
cada grupo, povo ou raça, sem a
preocupação de oferecer conhecimentos que estivessem além
da possibilidade de ser entendidos e absorvidos.
Tanto os novos conhecimentos, dos quais se ocupam as ciências, quanto as revelações superiores, reajustam-se com o decorrer do tempo, seja através de
melhores observações dos próprios homens, seja mediante interpretações e entendimentos
mais ajustados à realidade e que
antes passaram despercebidos.
As ciências renovam-se continuamente, diante de observações
mais profundas dos fatos, dando
lugar a novas teorias. Exemplo
dessas mutações, ocorrido em todas elas, é o conceito de matéria,
que vigorou por muitos séculos,
até que, nos primórdios do século XX, chegou-se à conclusão de
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que as teorias anteriores estavam
erradas, já que toda matéria é
energia condensada que toma as
mais diferentes formas.
Outra teoria que predominou
por cerca de dois milênios, a da
indivisibilidade do átomo, base
da Física e da Química, está hoje
abandonada e superada pelas
observações e pelos fatos.
No campo das crenças e das
religiões, os equívocos são comuns, atingindo os bilhões de
Espíritos que encarnam e reencarnam neste planeta, enganos
que os indivíduos aceitam como
se fossem verdades, levando-os
consigo para as esferas espirituais, após a morte do corpo material, como ocorre comumente.
Assim é que, antes da revelação da existência de um Deus
Único, Criador de todo o Universo, trazida pelo povo judeu e
ratificada pelo Cristo, há dois
mil anos, a crença generalizada
dos povos antigos era o politeísmo, sob múltiplas formas.
Foi necessária a vinda do Cristo
com os esclarecimentos essenciais,
inclusive sobre interpretações
equivocadas dos próprios judeus,
a respeito dos atributos da Divindade, com o que se firmou o reconhecimento, entre os que seguiram os ensinamentos e os exemplos do Mestre Incomparável, da
existência do Deus Único, nas
múltiplas formas sob as quais se
apresenta.
No conceito dos Espíritos superiores, os Reveladores da Doutrina Espírita, o Consolador prometido por Jesus – “Deus é a in-
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teligência suprema, causa primeira de todas as coisas”.
A sabedoria dos Espíritos deixou evidente o propósito de evitar
uma definição do Ser Supremo.
Realmente, qualquer definição
sobre Deus, o Criador incriado,
partindo de suas criaturas, seria incompleta, máxime, se atentarmos
As provas da
existência de
Deus e os seus
atributos estão
explicados
com
objetividade e
clareza no
capítulo I de
O Livro dos
Espíritos
na circunstância de que a Nova
Revelação estava destinada aos habitantes de um mundo ainda retardatário, como é a Terra.
O método dos Reveladores foi
de sabedoria superior, evitando
definir o que é indefinível para as
inteligências limitadas deste orbe.
Entretanto, o essencial, as provas da existência de Deus e os
seus atributos estão explicados
com objetividade e clareza no
capítulo I de O Livro dos Espíritos, a obra básica da Doutrina
Espírita, em linguagem inteligível por todos aqueles que já alcançaram a condição de compreensão da verdade e da vida.
Até a vinda de Jesus, a visão de
Deus, entre os hebreus, estava
mais ligada à justiça, simbolizada na espada.
Com o Mestre, foi exaltada a
misericórdia do Pai, como Jesus
a Ele se referia, em todo o Evangelho, através das parábolas do
“Filho pródigo”, dos “Trabalhadores da última hora”, da “Ovelha perdida”, além de outras.
As idéias religiosas, tão antigas
na Terra quanto o aparecimento
do homem como ser pensante,
têm percorrido muitos ciclos de
concepções inferiores.
Pode-se dizer que a multiplicidade das religiões, muitas delas já
desaparecidas, representa o esforço dos homens para o conhecimento de si mesmos, buscando esclarecer o significado da vida e da
morte e a existência de um Criador ou de muitos deuses, como no
politeísmo, que dominou as crenças de todos os povos antigos, com
a única exceção do povo hebreu.
As religiões representam, assim, o constante esforço das humanidades de todos os tempos
para se comunicarem com uma
força superior, eterna e divina.
Na medida em que a percepção
e os pensamentos humanos vão se
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aperfeiçoando, missionários do
Governador Espiritual deste orbe
são destacados para ajudar na renovação dos entendimentos religiosos no seio das humanidades.
Entretanto, nem sempre prevalece a ajuda superior para a evolução das idéias e a melhor compreensão da verdade e da vida.
Espíritos interessados na prevalência de interesses próprios
de um mundo atrasado, como o
nosso, opõem-se às renovações
superiores, dificultando, por
tempo indeterminado, o que seria considerado progresso para
grande parcela da população
deste planeta.
Foi o que ocorreu com os ensinamentos e exemplificações
do Cristo, em sua missão excepcional.
Em pouco tempo, após o
seu sacrifício, os próprios
cristãos deram um outro
sentido aos seus ensinos baseados no Amor
a Deus e ao próximo,
com os desdobramentos dos sentimentos
derivados dessa magna
lição.
Do Cristianismo
primitivo, autêntico,
sobraram os Evangelhos, onde estão registrados os ensinamentos
do Mestre, interpretados,
infelizmente, de conformidade com os interesses
das organizações religiosas
que foram criadas como cristãs, mas que cuidam mais dos
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interesses ligados ao mundo material, como é a Terra.
Graças, porém, às previsões do
próprio Cristo, esse desvirtuamento dos seus ensinos não prevalecerá indefinidamente, já que Ele,
prevendo o que ocorreria no futuro, tornou claro que pediria ao Pai
o envio de outro Consolador, para
relembrar suas lições de vida abundante, além de trazer coisas novas
ao conhecimento dos homens.
Essa promessa do Mestre foi
cumprida nos meados do século
XIX, quando o mundo já havia
progredido muito em conhecimentos científicos, em organização
social, mas não no campo dos sentimentos, que foi a área da lei do
progresso com a qual mais
se preocupou o Cristo.
Para o envio do Consolador, a Espiritualidade
Superior, sob a diretriz do Cristo, projetou um vasto
trabalho preparatório, a fim de
chamar a atenção dos homens
para o relacionamento intensivo
entre os Espíritos desencarnados
e os encarnados.
Escolheu um missionário especial para supervisionar o intercâmbio entre os dois planos, o qual, ao
mesmo tempo, fosse capaz de reconhecer a verdade, com segurança
e sensatez, dentre opiniões variadas.
O professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, que adotou o pseudônimo Allan Kardec, foi a individualidade escolhida para o desempenho da difícil missão, cumprindo-a com total sucesso.
Desencadeados os fenômenos
de Hydesville e das “mesas girantes”, a partir de 1848, em poucos
anos o mundo tomava conhecimento do Consolador prometido
por Jesus, sob a denominação de
Espiritismo, ou Doutrina dos Espíritos, dada por seu Codificador.
Agora, compete a nós, espíritas,
estudar essa Doutrina Consoladora, procurar vivenciá-la e propagá-la por toda parte, para
que a Humanidade reencontre, com segurança,
o caminho da verdade e da vida.
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A crença
em Deus
D
eus encontra-se tão profundamente entranhado
no ser humano que, dificilmente, o mesmo pode afastar-se da Sua presença.
Criado simples e ignorante, o
Espírito carrega no íntimo o psiquismo divino que o originou, a
fim de fazê-lo desenvolver-se até
atingir a glória celeste que lhe
está destinada.
A crença em Deus, é, portanto,
um fenômeno natural, genético,
de que ninguém se pode considerar destituído.
Manifesto em toda a Sua obra,
o Pai Criador antecede-a e sucedê-la-á, quando venham a ocorrer as alterações e término dos
ciclos que constituem a relatividade dos tempos...
Atribuir-se tudo quanto existe,
na sua harmonia e ordem, como
resultante do acaso, é conceder-lhe uma superinteligência que
soube organizar e manter o Universo conforme o conhecemos.
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Ademais, considerar-se que o
Evolucionismo consegue explicar
em toda a sua complexidade o milagre da vida, sem a necessidade
do Criacionismo ou da presença
de um Autor, é oferecer-lhe uma
transcendência que se assemelha à
própria Divindade.
Duas alternativas, pois, se confrontam em antagonismo, que é
mais resultante de interpretação
de conteúdos do que de legitimidade factual, podendo ser solucionado o impasse através da associação de ambas as teorias.
O Psiquismo Divino concebeu
e elaborou a vida, graças a uma
programação que se concretizou
no processo evolucionista, etapa a
etapa, com os intervalos correspondentes ao período da morte,
em que o psiquismo prosseguiu
experimentando continuidade evolutiva, retornando em formas primitivas que se fizeram cada vez
mais complexas, até atingir as expressões superiores nos animais
evoluídos, culminando no ser
humano.
Essa possibilidade não deve ser
descartada, quando se pode constatar o autógrafo de Deus no genoma após decodificado, no qual
se encontra toda a história dos
diversos seres nos seus estranhos
códigos responsáveis pelas informações contidas especialmente em
cada célula do corpo humano,
num conjunto de três bilhões de
letras...
A fundamentação criacionista
de que Deus tudo fez, conforme o
relato bíblico do Gênesis, 1 e 2, negando a evolução e concedendo
ao Universo a jovem idade de apenas 10.000 anos, é bastante ingênua e improcedente, quando as
pesquisas mais seguras demonstram que a sua idade é superior a
14 bilhões de anos.
Os exageros de alguns religiosos criacionistas chegam ao ponto de atribuir ao Universo a idade de apenas 4.004 a.C., quando
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Deus, o teria criado, conforme
concluiu o bispo Ussher, cálculo que resultou das suas pesquisas sobre as notícias genealógicas
por ele encontradas em o Velho
Testamento.
Sob outro aspecto, atribuir às
manifestações inorgânicas a possibilidade de se transformarem
em orgânicas, adquirindo sensibilidade, instinto, emoção, raciocínio, inteligência, igualmente é
uma proposta audaciosa, que se
apresenta mergulhada em lacunas e em mutações inexplicáveis dentro da visão exclusivamente darwinista, que
passou a ser considerada materialista.
A harmonização
das duas correntes de
pensamento faculta
a possibilidade real
da manifestação do
psiquismo que também evolve com a
complexidade das moléculas através das quais
se manifesta.
Nessa identificação, a
crença em Deus, sem o desprezo pelo fenômeno do evolucionismo, torna-se perfeitamente
natural, concebendo-se que Ele
próprio estabeleceu esse processo
como sendo o mais adequado para a ocorrência da vida na Terra,
conforme a conhecemos.
Sir Isaac Newton, o admirado
cientista inglês, que descobriu a Lei
da gravitação universal, era portador de fé religiosa expressiva, que
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o levou a escrever mais sobre interpretações de textos bíblicos e
religiosos do que científicos.
Galileu, descobrindo três das luas
de Júpiter e optando pelo heliocentrismo, que constatou com observações demoradas através do
telescópio que construiu, manteve
por todo o tempo a sua fé em Deus
e na Sua intervenção na Criação,
mesmo quando perseguido pela
Inquisição e outros adversários...
Nicolau Copérnico, que igualmente descobriu o sistema heliocêntrico, manteve inabalável a sua
fé em Deus, sem cuja ação o Universo não poderia ter surgido.
Mais recentemente, Sir James
Jeans, o respeitado astrofísico inglês, confessou o seu teísmo e a sua
concepção em torno do Espírito
com valor e convicção científica.
Inúmeros estudiosos da Genética e da Física Quântica, assim como de algumas neurociências e da
biologia molecular, cientistas-médicos e cosmonautas, declaram-se
teístas, mantendo comportamento religioso e vinculando-se a algumas das existentes doutrinas
espiritualistas...
Na sua aceitação de Deus não
descartam a Sua interferência no
Evolucionismo, como sendo parte
da Sua programação desde o início.
Ao conceber e realizar os primeiros pródromos da vida, igualmente organizou o processo
evolucionista, a fim de que,
procedentes da mesma
matriz, as expressões
variadas crescessem,
logrando o objetivo
por Ele estabelecido, todas derivadas
do mesmo germe.
Trata-se de uma
conceituação perfeitamente lógica e real,
porquanto somente Ele
tem o poder de propiciar
o hálito vital, retirando do
nada as primeiras vibrações
que constituíram as complexas
organizações moleculares, de onde
se originaram os microorganismos, bases estruturais de todas as
formas conhecidas.
Essa paternidade original propicia a fraternidade que deve existir entre todas as espécies e formas
de vida, ensejando a solidariedade
necessária para a sobrevivência
geral sob os impositivos dos fatores mesológicos, filogenéticos,
as mutações, as adaptações e o
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desenvolvimento das potencialidades que lhes jazem adormecidas...
A própria Divindade, dotando
o ser humano de inteligência, faculta-lhe penetrar nas Leis que governam a vida, para melhor harmonizar-se com as mesmas, respeitando-as e ampliando os horizontes do seu entendimento.
Graças a essa compreensão,
percebe a necessidade de superar
os impulsos agressivos e destrutivos que lhe remanescem do largo
processo da evolução, sublimando
as aspirações que se orientarão no
sentido da plenitude.
A crença em Deus é, portanto,
uma bússola de segurança para a
autoconquista, saindo, a pouco
e pouco, dos instintos grosseiros
para alcançar os sentimentos de
elevação, que trabalham em favor
da paz e do progresso.
Houvesse podido compreender
o mecanismo evolucionista, se já o
houvesse em seu tempo, Santo
Agostinho teria interpretado melhor os conteúdos da narrativa bíblica da Criação, encontrando respostas sábias para as suas interrogações, tendo em vista a dificuldade que enfrentava para entendê-la, conforme narrada no Gênesis, 1 e 2...
Cada vez que o ser humano
decifra as incógnitas existentes na
Terra e no Universo, mais descobre
perfeitamente desenhado o autógrafo de Deus na Sua obra gloriosa, de maneira que não ficam dúvidas a esse respeito.
Assim sendo, a crença em Deus
não significa necessariamente uma
vinculação com qualquer religião
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convencional ou encontrar-se submetida aos dogmas e liturgias tradicionais, mas aceitá-lO na mente
e no coração, de forma que a filiação natural seja coroada de fé e
gratidão no Seu inefável amor.
...E os Espíritos da Codificação
espírita com muita sabedoria sintetizaram a sua definição, informando que Deus é: A inteligência
suprema, causa primeira de todas
as coisas...
Jesus O designava como Pai, ensinando-nos a todos a respeitá-lO,
amá-lO e seguirmos na Sua direção.
João evangelista propunha-Lhe
a denominação Amor, por melhor
significar-Lhe a realidade.
Joanna de Ângelis
(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, no dia 1o de junho de
2007, na residência de Josef Jackulak, em
Viena, Áustria.)
Trabalhemos
Hernani T. Sant’Anna
É preciso estender a luz por toda a parte.
Valhamo-nos do verbo, da cultura, da arte,
Dos livros e do malho!
É mister semear o bem puro e fecundo,
Por todos os desvãos e recantos do mundo,
À força de trabalho!
Só podemos gozar de paz e de alegria
Quando o orbe viver no clima da harmonia,
Da virtude e do amor!
Preparemos, portanto, a aurora da bonança,
Nos esforços da crença e da perseverança,
Incólumes à dor!
Inflamados de fé, de vida e de verdade,
Enfrentemos as sombras densas da maldade,
Na glória de servir;
E veremos erguer-se, augusta e sublimada,
A manhã deslumbrante, excelsa e aureolada,
Dum divino porvir!
Fonte: Canções do alvorecer. 4. ed. Rio de Janeiro: 2005. p. 19.
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Entrevista M A R L E N E R O S S I S. N O B R E
Visão espírita sobre
o emprego de
células-tronco
Marlene Rossi Severino Nobre, presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil, analisa
a polêmica sobre o emprego de células-tronco e oferece um posicionamento espírita
Reformador: Como avalia as pesquisas com células-tronco?
Marlene: Depende de que tipo
de células-tronco estamos falando.
Primeiramente é preciso lembrar
que as células-tronco são indiferenciadas, quer dizer, em princípio, são capazes de gerar qualquer
outra célula. Há dois tipos: a célula-tronco embrionária (CTE),
retirada de embriões no início
do seu desenvolvimento; e a célula-tronco adulta (CTA), obtida
do cordão umbilical, da medula
óssea ou de outros tecidos do
corpo. As CTEs estão presentes
no embrião do 5o ao 15o dia de
vida. Para serem empregadas em
pesquisa, há necessidade, portanto, de se destruir o embrião. A
proposta que está sendo discutida, aqui no Brasil, é a da
utilização em
pesquisa dos
embriões excedentes nas
clínicas de reprodução assistida.
A Associação Médico-Espírita é
contra a liberação dessas pesquisas com CTE, uma vez que, até o
momento, não se pode ter certeza, se existe ou não Espírito ligado ao embrião. E isto porque a
questão 344 de O Livro dos Espíritos afirma, com clareza, que a
ligação do Espírito com a matéria se dá na concepção, isto é, no
momento em que o gameta masculino se une ao feminino. Kardec afirma em A Gênese (cap. XI)
que a ligação do Espírito com o
embrião se dá de forma irresistível. Somos a favor das pesquisas,
mas com células-tronco adultas,
as que já existem nos tecidos do
corpo, porque a aplicação delas
evita a destruição de embriões,
não causa rejeição, e são as únicas que têm demonstrado eficácia terapêutica, até o momento.
O Brasil é um dos pioneiros no
emprego das CTAs. Destacam-se
os trabalhos já publicados pelo
Dr. Hans Dohmman e o biólogo
Radovan Borojevic, do Hospital
Pró-Cardíaco, no Rio
de Janeiro, e o Dr.
Ricardo Ribeiro
dos Santos, na
Bahia, tratando de casos
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de óvulos ou a produção de embriões para a venda.
graves de insuficiência cardíaca
com bons resultados.
Reformador: Mas, afinal, e a polêmica sobre a utilização dos embriões congelados em pesquisa se,
conforme se tem propalado, o destino final deles seria o lixo?
Marlene: Não, o destino final
deles não pode e não deve ser o
lixo. O descarte é crime. Admitir
isso seria “coisificar” o embrião.
Desprezar a vida que existe nele.
Para evitar que isto aconteça, a
Anvisa exige o cadastro dos embriões não implantados. O que se
deve fazer é uma melhor regulamentação na produção e no uso
dos embriões, a fim de evitarem-se os excedentes. Além disso,
hoje já há a possibilidade de se
congelar óvulos, o que vai diminuir em muito a produção de
excedentes. As clínicas de reprodução assistidas deverão ser fiscalizadas para se coibir a venda
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Reformador: Alguns pesquisadores afirmam que, após três anos de
congelamento, os embriões ficam
inviáveis. Isso é verdade?
Marlene: Não, isso, em alguns casos, não é verdade. Basta ver casos
concretos, como o que ocorreu
com o menino do interior paulista, Vinícius Dorte, de 6 meses. Antes que ele fosse parar no útero da
mãe, passou oito anos congelado
num tanque de nitrogênio líquido
(Folha de São Paulo, 9/3/2008). O
mesmo aconteceu com a menina
Laina Beasley, norte-americana,
nascida em 2005, e congelada por
13 anos. E há outros casos mais.
É claro que o Espírito não está
congelado, sua ligação com o embrião é tão-somente magnética.
E se esses embriões tivessem sido
enviados à pesquisa? Não se teria
configurado o aborto? Como responderia, por exemplo, o pesquisador espírita, perante o plano
espiritual, se impedisse a reencarnação desses Espíritos? Como
dissemos, o embrião congelado
pode ter e pode não ter Espírito
ligado. Cabe a nós desenvolver e
efetuar mais pesquisas.
Reformador: As células-tronco
embrionárias são as únicas que
têm possibilidade de dar origem a
todo e qualquer tipo de célula do
nosso corpo?
Marlene: Teoricamente, sim. Hoje, no entanto, já se sabe que a versatilidade da célula-tronco adulta
é enorme. Na verdade, a Medicina
só tem obtido bons resultados
com o emprego delas. Inclusive,
conseguiu-se ir além, produzir as
próprias CTEs a partir de células
adultas. Duas equipes conseguiram esse feito a partir de fibroblastos (células dos músculos).
Uma delas, da Universidade de
Wiscosin-Madison, dos Estados
Unidos, conduzida por James
Thomson; a outra, da Universidade de Kyoto, no Japão, chefiada
por Shynia Yamanaka. Além disso,
é preciso não esquecer que as
CTEs são muito instáveis, difíceis
de ser cultivadas em laboratório.
Quando implantadas em animais
de experimentação, têm dado um
alto índice de rejeição e de câncer.
Uma pessoa que viesse a ser tratada com células-tronco embrionárias teria de tomar imunodepressores pelo resto da vida para evitar rejeição. Com o uso da CTA,
isso não ocorre por ser retirada do
próprio paciente.
Reformador: E a esperança que
tem sido dada a tantos doentes?
Afinal, não foram eles que influíram na votação dos deputados,
pensando numa cura futura?
Marlene: Tão cedo não se obterá
resultado algum. Segundo Robert
Winston, um dos principais especialistas em Bioética, do Reino
Unido, em recente entrevista ao
jornal inglês The Guardian, a população desconhece as dificuldades que estão por trás das pesquisas com a CTE. Ele também
lamentou o fato de os defensores dessas pesquisas gerarem falsas esperanças e exagerarem na
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campanha utilizada para a sua
aprovação.
Reformador: Qual a questão bioética que mais choca no caso das
pesquisas com CTEs?
Marlene: A destruição de embriões humanos para pesquisas.
Em uma terapia com CTE é preciso sacrificar cerca de 300 a 400
mil embriões. Além disso, o cultivo in vitro das CTEs necessita da
presença de finíssimas camadas
de tecidos retiradas dos fetos vivos de qualquer estágio, chamadas Feeder layers e que são “produzidas” no Exterior e vendidas
no mercado. Tudo isto implica dilemas éticos graves.
Reformador: Se houver a liberação do emprego de células-tronco
embrionárias para pesquisa e tratamento, qual será o papel dos espíritas e do Movimento Espírita?
Marlene: Só nos resta acatar a decisão do Supremo Tribunal Federal. O fato, porém, de ser legal, não
torna o procedimento moralmente aceito. Cada pesquisador deverá
agir de acordo com a sua própria
consciência. Cremos, no entanto,
que a liberação dessas pesquisas vai
expor os pontos frágeis das células
que não estão sob o comando do
modelo organizador biológico. Tudo indica que a célula-tronco embrionária é selvagem, indócil, porque não tem perispírito acoplado.
Assim, embora antiético, quem sabe, esse procedimento, ao se tornar
legal, permita chegar à conclusão
de que existe algo extrafísico no material genético? Tudo é possível.
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Minha Mãe
Lembro-te, Mãe, revendo a nossa casa...
O pequeno jardim, o poço, a horta...
O vento brando que transpunha a porta,
Afagando o fogão de lenha em brasa...
Esfregavas a roupa na bacia...
Eu ficava na rede, aos teus desvelos...
Depois, vinhas beijando-me os cabelos,
A embalar-me, cantando de alegria.
Dorme, dorme prenda minha,
Dorme agora, meu amor,
És a jóia que eu não tinha,
Prenda minha, minha flor!...
Lá no céu tem três estrelas, prenda minha,
Todas são de prata e luz...
Lá do céu você me veio, prenda minha,
Por presente de Jesus!...
E lá se foi o tempo, ante as mudanças...
Cresci, fiquei rebelde... Estradas novas...
Entrei no mundo grande, em grandes provas,
Carregando saudades e esperanças...
Hoje, volto a rever-te, mãe querida!...
Quero dizer-te, em minha gratidão,
Que és o amor sempre amor, em minha vida,
E a própria vida de meu coração.
Maria Dolores
Psicografado pelo médium Francisco C. Xavier, em reunião pública do
Grupo Espírita da Prece, em Uberaba (MG), na noite de 17/3/1984.
Poema enviado a Reformador pelo confrade Weimar Muniz de Oliveira.
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Presença de Chico Xavier
Carta à
minha Mãe
H
oje, mamãe, eu não te escrevo daquele gabinete cheio de livros sábios, onde o teu filho,
pobre e enfermo, via passar os espectros dos
enigmas humanos, junto da lâmpada que, aos poucos, lhe devorava os olhos, no silêncio da noite.
A mão que me serve de porta-caneta é a mão cansada de um homem paupérrimo, que trabalhou o dia
inteiro buscando o pão amargo e cotidiano dos que
lutam e sofrem. A minha secretária é uma tripeça tosca à guisa de mesa e as paredes que me rodeiam são
nuas e tristes, como aquelas da nossa casa desconfortável em Pedra do Sal. O telhado sem forro deixa
passar a ventania lamentosa da noite e desse remanso humilde, onde a pobreza se esconde exausta e desalentada, eu te escrevo sem insônias e sem fadigas,
para contar-te que ainda estou vivendo para amar e
querer a mais nobre das mães.
Quereria voltar ao mundo que deixei, para ser
novamente teu filho, desejando fazer-me um menino, aprendendo a rezar com o teu espírito santificado nos sofrimentos.
A saudade do teu afeto leva-me constantemente a
essa Parnaíba das nossas recordações, cujas ruas arenosas, saturadas do vento salitroso do mar, sensibilizam a minha personalidade e, dentro do crepúsculo
estrelado da tua velhice cheia de crença e de esperança, vou contigo, em espírito, nos retrospectos prodigiosos da imaginação, aos nossos tempos distantes.
Vejo-te com os teus vestidos modestos, em nossa
casa de Miritiba, suportando com serenidade e devotamento os caprichos alegres de meu pai. Depois,
faço a recapitulação dos teus dias de viuvez dolorosa,
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junto da máquina de costura e do teu “terço” de orações, sacrificando a mocidade e a saúde pelos filhos,
chorando com eles a orfandade que o destino lhes
reservara, e, junto da figura gorda e risonha da Midoca, ajoelho-me aos teus pés e repito:
– “Meu Senhor Jesus Cristo, se eu não tiver de ter
uma boa sorte, levai-me deste mundo, dando-me
uma boa morte”.
Muitas vezes o destino te fez crer que partirias antes
daqueles que havias nutrido com o beijo das tuas carícias, demandando os mundos ermos e frios da Morte.
Mas, partimos e tu ficaste. Ficaste no cadinho doloroso da saudade, prolongando a esperança numa vida
melhor no seio imenso da Eternidade. E o culto dos filhos é o consolo suave do teu coração. Acariciando os
teus netos, guardas com o mesmo desvelo o meu
cajueiro, que aí ficou como um símbolo plantado no
coração da terra parnaibana, e, carinhosamente, colhes das suas castanhas e das suas folhas fartas e verdes,
para que as almas boas conservem uma lembrança do
teu filho, arrebatado no turbilhão da Dor e da Morte.
Ao Mirocles, mamãe, que providenciou quanto ao
destino desse irmão que aí deixei, enfeitado de flores
e passarinhos, estuante de seiva, na carne moça da terra, pedi velasse pelos teus dias de insulamento e velhice, substituindo-me junto do teu coração. Todos os
nossos te estendem as suas mãos bondosas e amigas e
é assombrada que, hoje, ouves a minha voz, através
das mensagens que tenho escrito para quantos me
possam compreender. Sensibilizam-me as tuas lágrimas, quando passas os olhos cansados sobre as minhas páginas póstumas e procuro dissipar as dúvidas
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que torturam o teu coração, combalido nas lutas. Assalta-te o desejo de me encontrares, tocando-me com
a generosa ternura de tuas mãos, lamentando as tuas
vacilações e os teus escrúpulos, temendo aceitar as
verdades espíritas, em detrimento da fé católica, que te
vem sustentando nas provações. Mas, não é preciso,
mãe, que me procures nas organizações espiritistas e,
para creres na sobrevivência do teu filho, não é preciso que abandones os princípios da tua fé. Já não há
mais tempo para que teu Espírito excursione em experiências no caminho vasto das filosofias religiosas.
Numa de suas páginas, dizia Coelho Neto que as
religiões são como as linguagens. Cada doutrina envia a Deus, a seu modo, o voto de súplica ou de adoração. Muitas mentalidades entregam-se, aí no mundo, aos trabalhos elucidativos da polêmica ou da discussão. Chega, porém, um dia em que o homem acha
melhor repousar na fé a que se habituou, nas suas
meditações e nas suas lutas. Esse dia, mamãe, é o que
estás vivendo, refugiada no conforto triste das lágrimas e das recordações. Ascendendo às culminâncias
do teu Calvário de saudade e de angústia, fixas os
olhos na celeste expressão do Crucificado e Jesus,
que é a providência misericordiosa de todos os desamparados e de todos os tristes, te fala ao coração
dos vinhos suaves e doces de Caná, que se metamorfosearam no vinagre amargoso dos martírios, e das
palmas verdes de Jerusalém, que se transformaram
na pesada coroa de espinhos. A cruz, então, se te afigura mais leve e caminhas. Amigos devotados e carinhosos te enviam de longe o terno consolo dos seus
afetos e, prosseguindo no teu culto de amor aos filhos distantes, esperas que o Senhor, com as suas
mãos prestigiosas, venha decifrar para os teus olhos
os grandes mistérios da Vida.
Esperar e sofrer têm sido os dois grandes motivos,
em torno dos quais rodopiaram os teus quase setenta
e cinco anos de provações, de viuvez e de orfandade.
E eu, minha mãe, não estou mais aí para afagar-te
as mãos trêmulas e os cabelos brancos que as dores
santificaram. Não posso prover-te de pão e nem
guardar-te da fúria da tempestade, mas, abraçando o
teu Espírito, sou a força que adquires na oração,
como se absorvesses um vinho misterioso e divino.
Inquirido, certa vez, pelo grande Luiz Gama sobre
as necessidades da sua alforria, um jovem escravo lhe
observou:
– “Não, meu senhor!... a liberdade que me oferece
me doeria mais que o ferrete da escravidão, porque
minha mãe, cansada e decrépita, ficaria sozinha nos
misteres do cativeiro”.
Se Deus me perguntasse, mamãe, sobre os imperativos da minha emancipação espiritual, eu teria preferido ficar, não obstante a claridade apagada e triste
dos meus olhos e a hipertrofia que me transformava
num monstro, para levar-te o meu carinho e a minha
afeição, até que pudéssemos partir juntos, desse mundo onde tudo sonhamos para nada alcançar.
Mas, se a Morte parte os grilhões frágeis do corpo,
é impotente para dissolver as algemas inquebrantáveis do espírito.
Deixa que o teu coração prossiga, oficiando no
altar da saudade e da oração; cântaro divino e santificado, Deus colocará dentro dele o mel abençoado
da esperança e da crença, e, um dia, no portal ignorado do mundo das Sombras, eu virei, de mãos
entrelaçadas com a Midoca, retrocedendo no tempo,
para nos transformarmos em tuas crianças bem-amadas. Seremos agasalhados, então, nos teus braços
cariciosos, como dois passarinhos minúsculos, ansiosos da doçura quente e suave das asas maternas, e
guardaremos as nossas lágrimas nos cofres de Deus,
onde elas se cristalizam como as moedas fulgurantes
e eternas do erário de todos os infelizes e desafortunados do mundo.
Tuas mãos segurarão ainda o “terço” das preces
inesquecidas e nos ensinarás, de joelhos, a implorar,
de mãos postas, as bênçãos prestigiosas do Céu. E,
enquanto os teus lábios sussurrarem de mansinho –
“Salve Rainha... mãe de misericórdia...” – começaremos juntos a viagem ditosa do Infinito, sob o dossel luminoso das nuvens claras, tênues e alegres, do
Amor.
Pelo Espírito Humberto de Campos
Fonte: XAVIER, Francisco C. Crônicas de além-túmulo.
15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 34.
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Trabalhadores da
última hora
U M B E RTO F E R R E I R A
O
s bons Espíritos não deixam dúvidas de que os
adeptos da Doutrina, que
se dispõem a trabalhar na seara
espírita, são trabalhadores da última hora. Não têm tempo, pois, a
perder; o melhor a fazer é aproveitar todas as oportunidades, os
dias, as horas...
O Espiritismo nos proporciona elevado entendimento das verdades espirituais; através do seu
estudo e do trabalho podemos impulsionar a nossa evolução. Por isso muito nos será pedido, tanto
em melhoria espiritual como em
trabalho.
Alertam-nos os Espíritos que não
devemos rejeitar a tarefa renovadora.
Para aproveitarmos bem a oportunidade que nos foi dada, como
trabalhadores da última hora, necessário se faz empreendermos
todo o esforço no sentido de cultivar boa vontade, disciplina, paciência, espírito de equipe, mente
aberta, simplicidade, humildade,
fé, amor ao próximo, caridade,
abnegação, desinteresse pessoal,
fraternidade pura.
Disciplina – para que haja resultados satisfatórios no estudo e no
desempenho das diversas atividades.
Boa vontade – para estudar,
trabalhar, vencer as imperfeições e
desenvolver as virtudes.
Espírito de equipe – para trabalhar em conjunto com outros servidores de Jesus; para aceitar a integração dos jovens, os futuros continuadores da obra, nas atividades.
Paciência – para suportar as próprias provações e expiações, as imperfeições dos outros, as diferenças
de pensamento das pessoas.
Mente aberta – para examinar e
acolher novas idéias, novos programas de atividades.
Simplicidade – na maneira de
ser e no modo de agir no trabalho de Jesus.
Humildade – para aceitar
as tarefas que nos são oferecidas, mesmo que aparentemente simples.
Fé – fundamentada
no estudo, na lógica, na
razão.
Amor – na prática da
caridade, no relacionamento com as pessoas,
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no trato com os Espíritos imperfeitos, nas diversas atividades.
Caridade – praticada com desinteresse e amor.
Abnegação – no trato com os
necessitados de assistência espiritual e caridade material, bem como com os Espíritos sofredores.
Desinteresse pessoal – para que
a caridade seja praticada com ausência total de interesse, mesmo de
ordem moral, ficando qualquer recompensa para o mundo espiritual.
Fraternidade pura – com os
freqüentadores e os necessitados
de auxílio material ou espiritual,
com os Espíritos imperfeitos e entre dirigentes e trabalhadores.
Com raras exceções, encontramos sempre um motivo para adiar
o início do trabalho. Alegamos falta de tempo ou de condições; julgamo-nos sem competência; deparamo-nos com a incompreensão
dos dirigentes ou dos trabalhadores
das instituições; melindramo-nos
com as críticas. A solução que nos
parece justa é deixar para quando
houver condições mais favoráveis.
Raramente são esses os motivos; quase sempre, as reais razões
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estão dentro de nós mesmos. Se
fizermos sincera análise íntima, detectaremos tendência para a acomodação; identificaremos propensão para recusar as atividades
que nos parecem de pouca importância; conheceremos a nossa personalidade, que se caracteriza por
ser muito exigente, difícil de contentar-se, melindrosa...
Jesus espera pacientemente. O
tempo, todavia, não pára, não tem
como esperar, e passa célere. Melhor será se compreendermos logo
a necessidade de aproveitar bem a
oportunidade, superar os obstáculos, e não adiar as tarefas. Inegavelmente novas chances surgirão
mais tarde, todavia, nem sempre
em condições tão favoráveis.
Os últimos serão os primeiros
B
ons espíritas, meus bem-amados, sois todos obreiros da última hora. Bem orgulhoso seria aquele que dissesse: Comecei
o trabalho ao alvorecer do dia e só o terminarei ao anoitecer. Todos viestes quando fostes chamados, um pouco mais cedo, um
pouco mais tarde, para a encarnação cujos grilhões arrastais; mas
há quantos séculos e séculos o Senhor vos chamava para a sua
vinha, sem que quisésseis penetrar nela! Eis-vos no momento de
embolsar o salário; empregai bem a hora que vos resta e não esqueçais nunca que a vossa existência, por longa que vos pareça,
mais não é do que um instante fugitivo na imensidade dos
tempos que formam para vós a eternidade. (Constantino, Espírito
protetor, Bordeaux, 1863.)
Fonte: KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. 127. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XX, item 2, p. 351. (Transcrição parcial.)
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O lar espírita perante
os novos
tempos
CLARA LILA GONZALEZ
N
arra o evangelista Lucas,
no capítulo 10:38-43, uma
das belas e significativas
passagens de Jesus, por ocasião
de sua divina peregrinação pela
Terra. Trata-se da visita do Mestre
à casa de Lázaro e de suas irmãs
Marta e Maria, na pequena cidade
de Betânia, perto de Jerusalém. A
humilde habitação, situada no sopé do monte das Oliveiras, na estrada de Jericó, era visitada por Jesus, que consagrava a esses irmãos
uma afeição sincera, distinguindo-os com a sua preciosa amizade.
Em uma das idas ao lar dos diletos amigos, observa Jesus que
Marta, preocupada com os afazeres domésticos, esforça-se por oferecer a Ele uma hospedagem mais
confortável, enquanto Maria, sentada aos seus pés, escuta-lhe as palavras de vida eterna. Marta reclama:
“– Senhor, não te importas de que
minha irmã tivesse deixado que eu
fique a servir sozinha?”. Ao que Jesus lhe respondeu: “– Marta! Marta! andas inquieta e te preocupas
com muitas coisas. [...] Maria escolheu a melhor parte, a qual não
lhe será tirada”. (Lucas, 10:40-42.)
Ao associar esses versículos ao
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DE
ARAÚJO
tema em estudo, objeto do presente
artigo, é nosso intuito refletir sobre a
imperiosa necessidade de cultivarmos nos lares espíritas o alimento espiritual que jamais se perde, e que nos
é oferecido pelo Cristo para mantermos uma ambiência doméstica
que zele pela harmonia e serenidade de cada dia, em defesa da prática
do amor recíproco entre as criaturas.
No entanto, as atribulações que
resultam do cotidiano agitado dos
tempos atuais modificam-nos os
hábitos e não nos permitem agir
com o indispensável equilíbrio
moral diante dos conflitos da sociedade. São problemas graves, e
deixamos que perturbem a tranqüilidade de nossas vidas privadas.
A maioria dos lares, em decorrência dessas influências, negligencia sobre assuntos domésticos de
quaisquer naturezas, gerando discussões, perplexidades, hostilidades, desrespeitos e separações de
cônjuges, sob os mais fúteis pretextos, sem nenhum cuidado em manter a união daqueles que se comprometeram a estar juntos, solidarizando-se no seio do mesmo núcleo familiar. Esquecem-se de que
sublime é a tarefa de trabalhar pelo
próprio aperfeiçoamento, no ajuste de compromissos mais elevados.
O amorável Espírito Bezerra de
Menezes, por meio de mensagem
recebida pela médium Yvonne A.
Pereira, reconhece o “[...] momento
difícil que a Humanidade atravessa,
quando a fé e a moral, a solidez dos
costumes, o cumprimento do dever e a responsabilidade de cada um
se diriam em colapso, desorientando a muitos, vencendo outros tantos, desanimando ou enrijecendo o
coração de quase todos para lançar
o caos na sociedade humana, assinalando as últimas etapas do fim de
uma civilização”. Ao mesmo tempo,
alerta-nos para a importância do lar
como “[...]a grande escola da família, em cujo seio o indivíduo se habilita para a realização dos próprios
compromissos perante as leis de
Deus e para consigo mesmo [...]”.1
O lar é o sagrado instituto da
família onde o Espírito que reencarna há de encontrar a base sólida para sua real educação. Todavia, não basta admitir isso enquanto não compreendermos, concretamente, a exigência de ser mais
vigilantes em relação ao cumprimento dos nossos deveres junto à
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família e ao amor que devemos ter
pelos nossos entes queridos.
O egoísmo, dizem os Espíritos
superiores, é uma das chagas da
Humanidade, e Pascal (Espírito),
em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 12, reportando-se ao tema, orienta-nos, de
forma elucidativa:
[...] sem a caridade não haverá
descanso para a sociedade humana. Digo mais: não haverá segurança. Com o egoísmo e o orgulho, que andam de mãos dadas,
a vida será sempre uma carreira
em que vencerá o mais esperto,
uma luta de interesses, em que
se calcarão aos pés as mais santas afeições, em que nem sequer
os sagrados laços de família merecerão respeito.2 (Grifo nosso.)
Em consonância com essa assertiva, verificamos, por exemplo,
a falta de constância maior, do pai
e da mãe, de sua presença na intimidade do lar, condição indispensável para que sintam, de perto,
como anda o barco que lhes compete governar, na calmaria ou na
tempestade. Alguns genitores, afastados do ambiente doméstico,
denotam desinteresse no trato que
devem ter com seus rebentos, à
medida que crescem e se acentuam os estágios ou fases do seu
desenvolvimento, especialmente
os identificados na adolescência. A
propósito, observa Vinícius que
“[...] os pendores pelo utilitarismo
feroz e pelo mundanismo frívolo[...]”fazem com que os pais se tornem, pouco a pouco, indóceis, im-
pacientes e ríspidos, prejudicando,
seriamente, a harmonia do lar.3
O Espírito Emmanuel, sobre o
assunto, chama a atenção do leitor
para o fato de que:
Em todos os agrupamentos humanos, palpita a preocupação
de ganhar. [...] A atualidade
conta com mães numerosas que
abandonam seu lar a desconhecidos, durante muitas horas do dia,
a fim de experimentarem a mina
lucrativa. Nesse sentido, a maioria
das criaturas converte a marcha
evolutiva em corrida inquietante.
....................................................
Examinada, porém, a bagagem,
verifica-se, quase sempre, que
as vitórias são derrotas fragorosas. Não constituem valores da
alma, nem trazem o selo dos
bens eternos.4
Manter uma habitação onde haja entendimento indispensável entre todos é primordial, sem esquecer que não existem uniões casuais
no lar terreno, o qual tem como
objetivo unir os corações e buscar
o reajuste individual e coletivo para
superar dramas vividos em existências pretéritas. O estudo do Evangelho, interpretado pela consoladora Doutrina Espírita, propicia a reunião semanal com a família, para reflexão sobre os problemas mais cruciais e difíceis, e permite, aos pais,
filhos e demais parentes, expressarem com liberdade as dúvidas, a respeito daquilo que é vivenciado em
casa e na sociedade. O grupo familiar é um vetor essencial para qualquer abordagem educativa, promovendo um incessante aprendizado
de como saber conviver. Neste caso,
a autoridade legalmente definida,
entre pais e filhos, é menos importante que a afetividade. É imprescindível a exemplificação do que
aprendemos: doar de nós mesmos,
agir com caridade, partilhar ideais,
confiar naqueles a quem amamos.
Para um lar estabilizado, os pais,
na medida do possível, devem esmerar-se em permanecer ao lado
dos filhos; acompanhá-los, cotidianamente, conhecendo e avaliando
as suas dificuldades morais e espirituais, sem a pretensão de achar que
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sejam modelos de excelentes qualidades, já preparados para a execução de nobilíssimas tarefas futuras.
Todos os que reencarnam em
nosso mundo, de modo geral, são
Espíritos imperfeitos e a sua passagem pela vida corporal exige que os
pais atendam aos desígnios cuja
execução Deus lhes confia, sem retardar a marcha da evolução desses
seres e prolongar, indefinidamente,
as provas que assumiram em detrimento dos erros e equívocos praticados, ao longo de suas reencarnações. É essencial, para a educação
moral dos filhos, estimulá-los à
freqüência assídua, desde cedo,
à Escola de Evangelização Espírita-Cristã, promovida pelo Centro
Espírita, a qual se preocupa em oferecer estudos doutrinários e atividades motivadoras, utilizando metodologias específicas, de acordo
com as respectivas faixas etárias,
da criança e do jovem.
Se falharmos, ao desencarnar,
haveremos de freqüentar, talvez, na
Espiritualidade, “os enormes pavilhões das escolas maternais”, do
Ministério do Esclarecimento, na
Colônia Nosso Lar, em companhia
de “[...] milhares de irmãs que comentam, por lá, as desventuras da
maternidade fracassada, buscando reconstituir energias e caminhos. [...]”. Ali existem também os
“Centros de Preparação à Paternidade”, onde “grandes massas de irmãos examinam o quadro de tarefas perdidas e recordam, com lágrimas, o passado de indiferença
ao dever. [...]”.5
Cabe aos pais preparar os filhos
para o futuro, regenerando-os. Regenerar significa emendar ou corrigir moralmente, permitindo-lhes
construir, amanhã, seus próprios
lares, que representarão para eles
o refúgio mais nobre, mais digno,
mais cristão.
Por outro lado, a constituição
do grupo familiar não se resume,
apenas, em pais e filhos menores.
Em diversos lares, haverá outros
membros de nossa parentela consangüínea, rogando por nossa
compreensão e apoio. Recomenda o Apóstolo Paulo, em epístola
a Timóteo (I, 5:4): “[...] aprendam
primeiro a exercer piedade
para com a sua própria
família e a recom-
pensar seus pais; porque isto é
bom e agradável diante de Deus”.
(I, 5:4.) E, ao analisar a recomendação paulina, pergunta Emmanuel, em uma de suas lúcidas
páginas: “[...] Como seremos benfeitores de cem ou mil pessoas, se
ainda não aprendemos a servir cinco ou dez criaturas? [...] o exercício da piedade no centro das atividades domésticas” deve ser inexaurível, priorizando nossas ações
em favor dos familiares, convictos
“de que semelhante esforço [pessoal] representa realização essencial”, para cada um de nós.6
Sem isso, não conseguiremos
escolher a melhor parte que nos é
oferecida pelo Mestre Jesus, como
roteiro seguro de nossas vidas.
Referências:
1
SOUZA, Juvanir Borges de. (Coordenador
da Equipe da FEB). “Aos Pais de Família”.
Mensagem psicografada pela médium
Yvonne A. Pereira. In: Bezerra de Menezes – ontem e hoje. 3. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2001. p. 87-91.
2
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro.
4. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2006.
Capítulo XI, item 12, p. 256-257.
3
VINÍCIUS. Em torno do mestre. 8. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2002. “Larfobia”, p. 263-264.
4
XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e
vida. Pelo Espírito Emmanuel. Ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo
56, p. 127-128.
5
_____. Os mensageiros. Pelo Espírito An-
dré Luiz. 2. ed. especial. Rio de Janeiro:
FEB, 2006. Capítulo 13, p. 85-86.
6
_____. Pão nosso. Pelo Espírito Emma-
nuel. Ed. especial. Rio de Janeiro: FEB,
2005. Capítulo 117, p. 247-248.
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Esf lorando o Evangelho
Pelo Espírito Emmanuel
Ministérios
“Cada um administre aos outros o dom como o recebeu,
como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.”
(I PEDRO, 4:10.)
T
oda criatura recebe do Supremo Senhor o dom de servir como um
ministério essencialmente divino.
Se o homem levanta tantos problemas de solução difícil, em suas lutas
sociais, é que não se capacitou, ainda, de tão elevado ensinamento.
O quadro da evolução terrestre apresenta divisão entre os que denominais
“magnatas” e “proletários”, porquanto, de modo geral, não se entendeu até agora no
mundo a dignidade do trabalho honesto, por mais humilde que seja.
É imprescindível haja sempre profissionais de limpeza pública, desbravadores de
terras insalubres, chefes de fábricas, trabalhadores de imprensa.
Os homens não compreenderam, ainda, que a oportunidade de cooperar nos
trabalhos da Terra transforma-os em despenseiros da graça de Deus. Chegará,
contudo, a época em que todos se sentirão ricos. A noção de “capitalista” e
“operário” estará renovada. Entender-se-ão ambos como eficientes servidores do
Altíssimo.
O jardineiro sentirá que o seu ministério é irmão da tarefa confiada ao gerente
da usina.
Cada qual ministrará os bens recebidos do Pai, na sua própria esfera de ação, sem
a idéia egoística de ganhar para enriquecer na Terra, mas de servir com proveito
para enriquecer em Deus.
Fonte: XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. Ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
Cap. 61, p. 137-138.
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FEB presente em ato público
“Brasil sem aborto”
O
“Movimento Nacional
Brasil Sem Aborto” realizou um ato público no
dia 29 de março, das 10 às 13 horas, na Praça da Sé, em São Paulo.
O evento foi coordenado por Marília de Castro, contando com representantes da sociedade civil e
de entidades religiosas. Usaram
da palavra os deputados federais
Luiz Carlos Bassuma e Jorge Tadeu Mudalen, sendo, este, relator
do Projeto de Lei sobre a descriminalização do aborto –, a ex-senadora Heloísa Helena, Dom José
Benedito, representante da CNBB
e do Cardeal de São Paulo, Antonio Cesar Perri de Carvalho, diretor e representante da FEB, Marlene Rossi Severino Nobre, presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil, houve manifestações de várias entidades e, também, ocorreram apresentações
musicais, entre as quais, do padre
Marcelo Rossi. A Praça da Sé estava lotada com um público que vibrava a cada apresentação, fazendo saudações de “viva a vida!”. A
Polícia Militar de São Paulo estimou em seis mil as pessoas presentes ao Ato. O “Movimento Na-
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cional Brasil Sem Aborto” planeja
a realização, no dia 20 de agosto,
de uma grande passeata em Brasília. Informações: www.brasilsemaborto.com.br
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Atendimento fraterno
e assistência espiritual
A
reunião mediúnica, na qual
os desencarnados “incorporados” são atendidos por
um doutrinador – que preferimos
chamar de esclarecedor – ficou
consagrada no Movimento Espírita como reunião de desobsessão,
mas, na verdade, esse título não revela a extensão e a diversidade do
serviço que se realiza nesse encontro semanal entre encarnados e desencarnados. Nele não são atendidos somente Espíritos obsessores,
conscientes ou não de sua atuação
deletéria, mas, também, Espíritos
sofredores em situações diversas,
tais como os suicidas, os traumatizados pela desencarnação violenta, os acometidos de alienação
mental, os que não se reconhecem
“mortos”, os descrentes em Deus,
os frustrados com os ensinamentos da religião que adotaram na
vida material, toxicômanos, desequilibrados sexuais e tantos outros.
O propósito aqui não é examinar a propriedade do nome dessa
reunião, mas analisar o que se passa com o Espírito após ser atendido pelo esclarecedor. Convém recordar, com o Espírito André Luiz,
que o espaço destinado à reunião
de desobsessão entre quatro paredes
“[...] guarda a importância de uma
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DE
A L M E I DA
Foto retirada do livro Desobsessão, Ed. FEB
WA L D E H I R B E Z E R R A
Os médiuns esclarecedores são constituídos pelo dirigente e seus assessores
enfermaria, com recursos adjacentes da Espiritualidade Maior para
tratamento e socorro das mentes
desencarnadas, ainda conturbadas
ou infelizes”.1 Nesse ambiente, o
desencarnado, após o diálogo fraterno com o esclarecedor, é, muitas
vezes, convidado a receber auxílio
dos Espíritos que atendem na Instituição, com a finalidade de fortalecer-lhe o moral para o recomeço
de nova jornada em direção à Luz.
O Espírito Efigênio S. Vítor
contribui com o nosso estudo informando que o Centro Espírita é
um expressivo porto de auxílio,
erigido à feição de pronto-socorro,
e possui um vasto corpo de colaboradores composto de médicos, religiosos de várias crenças, médiuns
espíritas desencarnados, magneti-
zadores, enfermeiros, guardas, padioleiros e outros, prontos a servir, em nome do Cristo, aos desencarnados atendidos na Instituição.2
Somam-se com essa informação
os inúmeros testemunhos dos Espíritos que são ouvidos em nossas
reuniões, revelando a forma como
encontraram o equilíbrio de que
necessitavam, participando de estudos doutrinários, assistindo a
palestras, tomando passes e sendo
amparados fraternalmente por
um companheiro que lhes serviu
de cireneu, pois os primeiros passos na reforma íntima são difíceis
de ser dados.
A oportunidade de soerguimento oferecida pela equipe espiritual, dentro de um programa
disciplinado e com objetivos defi-
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nidos, é consonante com a função
do Centro Espírita que, “[...] revivendo o Cristianismo, é um lar de
solidariedade humana, em que os
irmãos mais fortes são apoio aos
mais fracos e em que os mais felizes são trazidos ao amparo dos
que gemem sob o infortúnio”.3
A dinâmica do auxílio oferecido
pelos nossos mentores, no plano invisível, a partir do atendimento dado na reunião de desobsessão, pode
servir de modelo, mutatis mutandis,
para um tratamento espiritual a ser
adotado nas casas espíritas, no plano visível, para quem busca socorro
no Atendimento ou Diálogo Fraterno, conforme se queira chamar.
Após ouvir o irmão necessitado, o
atendente dar-lhe-á esclarecimentos à luz da Doutrina Espírita, para
que encontre a consolação de que
tanto necessita naquele momento
e, em seguida, sem vender-lhe ilusão da solução instantânea dos seus
males, mas sim, o alívio – conforme
prometeu Jesus (Mateus, 11:28) –,
propor-lhe-á um tratamento espiritual a fim de fortalecê-lo na fé e
na esperança para a conquista de
melhores dias em sua vida.
Durante o recebimento do benefício espiritual serão solicitados
procedimentos que irão se conjugar para que encontre o equilíbrio psíquico-espiritual, devendo, para isso:
a) adquirir o hábito de orar e
de fazer a caridade;
b) identificar suas más tendências e combatê-las com perseverança;
c) limpar o seu coração, extirpando dele os ressentimen-
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Page 23
tos, e aprender a
perdoar.
Para tanto, ser-lhe-á
oferecido um roteiro
escrito, ministrando-lhe estudo que favoreça o entendimento da dinâmica da
vida, do porquê da
dor; orientando-o
na tomada de passes
e de água fluidificada de maneira metódica; adotando a “biblioterapia”, fazendo leituras apropriadas; buscando formas práticas na vida diária para a manutenção do pensamento positivo e
participação em palestras doutrinárias. Conforme o caso, propor-lhe-á a “laborterapia”, com a execução de tarefas na Casa, sempre
condizentes com seu conhecimento e estado psíquico-espiritual. Tudo isso sem violentar-lhe
o livre-arbítrio e sem interferir
nas suas crenças e hábitos. O Sol
oferece luz a todos. Fica na sombra quem dele quiser se esconder. Dessa forma, aquele irmão,
que antes se sentia desamparado
e sem rumo para sua vida, vê-se
ao lado de companheiros que o
abraçam fraternalmente, fazendo com que vislumbre caminhos
antes não percebidos.
Como bem adverte a Mentora
Joanna de Ângelis, o atendimento
fraterno “não se propõe a resolver
os desafios nem as dificuldades,
eliminar as doenças nem os sofrimentos, mas propor ao cliente os
meios hábeis para a própria recuperação”. E enfatiza: “O atendimento
fraterno na Casa Espírita é de vital
Foto retirada do livro Desobsessão, Ed. FEB
reformador maio 2008 - b.qxp
Diálogo fraterno entre o esclarecedor
e o espírito desencarnado
importância, para todo aquele que
lhe busque ajuda, seja orientando
com equilíbrio, seja guiando-o para
o labor de auto-iluminação”.4 (Grifamos.) E ressalta: Entendemos, aí,
que a Casa Espírita deve oferecer os
meios de forma prática a quem dela busca o socorro e guiá-lo na sua
empreitada de reforma interior.
Assim como a assistência aos
desencarnados na reunião de desobsessão não cessa após o diálogo
com o esclarecedor, entendemos
que o atendimento fraterno também não. Corrigir as mazelas da
alma implica a nossa reeducação,
exige-nos reforma interior, que
demanda esforço, disciplina, dedicação e, acima de tudo, apoio
de alguém que, além de nos dizer
“levanta-te”, estende-nos também
a mão. Domar paixões inferiores,
não alimentar ódio, inveja, ciúme
e orgulho; não se deixar dominar
pelo egoísmo, passar a nutrir bons
sentimentos e começar a praticar
a caridade não são tarefas fáceis
de serem implementadas por alma
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ainda incipiente na prática das leis
morais. Ela sempre vai necessitar
das diretrizes de um programa de
reforma, acompanhada por alguém que lhe inspire confiança e
possa levantá-la nos momentos
das quedas. Propor ao cliente os
meios hábeis para a própria recuperação [...] guiando-o para o labor de auto-iluminação significa,
para nós, outorgar ao atendido
um programa em que, durante
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um certo período, tenha ele o disciplinamento, o apoio moral e a
solidariedade fraterna de alguém
na Instituição, qual ocorre no plano invisível, para ajudá-lo nos
primeiros passos do recomeço.
um centro espírita”. In: Educandário de
luz. Autores diversos. 2. ed. São Paulo:
Ideal. Cap. 34, p. 80.
3
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Estu-
de e viva. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 12. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006.
Cap. 39, mensagem de Emmanuel, p. 223.
Referências:
4
1
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. De-
amor. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. In:
sobsessão. Pelo Espírito André Luiz. Rio
AZEVEDO, Geraldo de, e outros. Atendi-
de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 18, p. 77.
mento fraterno. 4. ed. Salvador: LEAL.
2
p. 16-18.
VÍTOR, Efigênio S. “Visão espiritual de
FRANCO, Divaldo Pereira. Terapia do
FEB presente em ato público
“Em Defesa da Vida –
Brasil Sem Aborto”
O “Movimento Nacional Brasil Sem Aborto” realizou um ato
público no dia 29 de março, das
10 às 13 horas, na Praça da Sé, em
São Paulo. O evento foi coordenado por Marília de Castro, contando com representantes da sociedade civil e de entidades religiosas. Usaram da palavra os deputados federais Luiz Carlos Bassuma e Jorge Tadeu Mudalen –
sendo, este, relator do Projeto de
Lei sobre a descriminalização do
aborto –, a ex-senadora Heloísa
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Helena, Dom Joaquim Justino
Carrera, representante da CNBB
e do Cardeal de São Paulo, Antonio Cesar Perri de Carvalho, diretor e representante da FEB, Marlene Rossi Severino Nobre, presidente da Associação Médico-Espírita Internacional. Houve manifestações de várias entidades e, também, ocorreram apresentações musicais, entre as quais, a do padre
Marcelo Rossi. Além dos representantes que falaram, estavam presentes muitas instituições, como a
União das Sociedades Espíritas do
Estado de São Paulo, na pessoa do
diretor Paulo Ribeiro. A Praça da
Sé estava lotada com um público
que vibrava a cada apresentação,
fazendo saudações de “viva a vida!”. A Polícia Militar de São Paulo estimou em seis mil as pessoas
presentes ao Ato. O “Movimento
Nacional Brasil Sem Aborto” planeja a realização, no dia 20 de
agosto, de uma grande manifestação em Brasília. Informações:
www.brasilsemaborto.com.br
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Onde está o
vosso coração?
“Porque onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração.”
(Mateus, 6:21.)
A. M E R C I S PA DA B O R G E S
É
importante refletir sobre o
papel que os tesouros conquistados representam na vida de cada um. Se os tesouros são
perenes, iluminam os caminhos
árduos da redenção; quando transitórios, aprisionam as almas nas
malhas do tempo. De posse de alguns tesouros o homem chega a
ultrapassar os limites do bom senso e da razão. Além do apego aos
bens e à riqueza é possível identificar o de muitos colecionadores
de moedas, jóias, selos, quadros,
carros antigos, chaveiros, e até quinquilharias, que chegam a alcançar
valores inestimáveis, facilmente
transformados em objetos de ambição e cobiça. O apego afetivo,
ainda mais perigoso, é muito comum entre os entes queridos; ao
invés de unir, agrilhoa as almas por
séculos de incompreensão e desdita. Com os melhores sentimentos focalizados nesses interesses
prioritários, o Espírito alheia-se do
verdadeiro tesouro que lhe proporcionaria segurança na vida terrena e alicerce nos planos Maiores.
Essa paixão doentia,
além de lhe acarretar
um despertar doloroso no plano espiritual,
acende o estopim da posse desmedida e, enlouquecido, busca, em
vão, o objeto de sua desdita.
Jesus, conhecedor dos labirintos da alma, não deixou de alertar: “Onde estiver o vosso tesouro ali estará também o vosso coração”.
Se os tesouros intelectuais podem descortinar ao Espírito os pináculos da evolução filosófica, artística, científica e tecnológica, cabe
aos tesouros morais desbravar a
senda evolutiva do ser imortal. Não
haverá iluminação da alma sem o
combate contínuo às más inclinações e a vivência sincera das lições
do Cristo. O Espírito Emmanuel
reitera os filósofos da Antigüidade:
“[...] a maior necessidade da criatura humana ainda é a do conhecimento de si mesma”. (O Consolador, Francisco C. Xavier, questão
232, Ed. FEB.) Porém, reafirma o
mesmo autor espiritual, “[...] para
a iluminação do íntimo, só tendes no mundo o Evangelho do Senhor, que nenhum roteiro doutrinário poderá ultrapassar”.(Op.cit.,questão 219.)
A evangelização é o roteiro que
dará à criatura os subsídios para
o seu engrandecimento espiritual:
fortalece os bons propósitos e propicia-lhe condições para uma vida
moralmente saudável e equilibrada. Neste contexto de aquisições
iluminativas, os tesouros conquistados na Terra serão baldeados
com o Espírito para o mundo espiritual “[...] onde nem a traça
nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem
roubam”. (Mateus, 6:20.)
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Em dia com o Espiritismo
Pródromos da
reencarnação
M A RTA A N T U N E S M O U R A
A
existência humana não é
ato acidental, mas manifestação da misericórdia e da
justiça divinas. O Espírito é um ser
imortal criado simples e ignorante por Deus, porém submetido à lei
do progresso. O trabalho desenvolvido nas inúmeras reencarnações lhe permite reparar
erros cometidos pelo uso
incorreto do livre-arbítrio
e, ao mesmo tempo, evoluir pela aquisição de conhecimentos e virtudes.
Antes da concepção
biológica – momento
em que o óvulo (célula
reprodutora feminina) é
fecundado pelo espermatozóide (célula reprodutora
masculina) –, o Espírito reencarnante estabelece ligações fluídicas com os futuros genitores, em
especial com a sua mãe, por meio
de “[...] um laço fluídico, que mais
não é do que uma expansão do seu
perispírito [...]”.1 À medida que essa ligação se intensifica, diminuem
26
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os pontos de contato do Espírito
com o plano espiritual, condição
necessária às modificações plásti-
O Livro dos Espíritos: – “Em que momento a alma se une ao corpo?” –
especifica o exato momento em que
começa a união do Espírito à matéria, no processo reencarnatório:
A união começa na concepção,
mas só é completa pela ocasião do nascimento. Desde
o instante da concepção,
o Espírito designado para habitar certo corpo a
este se liga por um laço
fluídico, que cada vez
mais se vai apertando
até ao instante em que
a criança vê a luz. [...]3
cas que ocorrerão no perispírito,
principalmente as de redução.2
A resposta transmitida pelos Espíritos superiores à questão 344 de
André Luiz informa
que a partir daí, da concepção, acelera-se o processo
de redução perispiritual e de liberação de elementos absorvidos
pelo Espírito no plano espiritual.2, 4
Nessa situação, o perispírito do
reencarnante é amplamente magnetizado por Espíritos especialistas, denominados “construtores”, e
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por outros benfeitores, os quais,
simultaneamente, induzem o futuro reencarnado a criar imagens
mentais relativas à organização fetal e à vida no ventre materno. Esse tipo de visualização ideoplástica favorece o trabalho de redução
perispiritual, organização e desenvolvimento embrionário-fetal.4
Durante a concepção – caracterizada pela fusão dos núcleos das
duas células reprodutoras –, forma-se uma célula diferenciada denominada zigoto ou ovo fertilizado,
que irá se desenvolver até o estágio
de embrião e feto, respectivamente, no espaço de tempo conhecido
como período de gestação. A despeito do afluxo de inúmeros espermatozóides posicionados ao redor do
óvulo, apenas um irá fecundá-lo.
O sexo do ser em vias de formação
é definido nesse momento. No período de 24 a 48 horas surge, então,
o embrião, propriamente chamado
blastocisto, em razão da sucessiva
divisão e diferenciação celular ocorrida no zigoto. Imediatamente após
a fecundação, antes do início da
divisão celular, o zigoto é envolvido
por uma coroa protetora de células,
que fornece os elementos nutritivos necessários ao seu desenvolvimento: íons minerálicos, proteínas
e aporte de oxigênio, entre outros.
O processo de fecundação, estruturação do zigoto e do blastócito acontece em uma das trompas de
Falópio, estrutura biológica situada entre o ovário e o útero. O blastocisto presente na trompa possui
células-tronco totipotentes, capazes
de originar os 216 tecidos existentes no corpo humano, a placenta e
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os anexos embrionários. A implantação do blastocisto no útero, pelo
conhecido mecanismo de nidação,
transforma-o em embrião, propriamente dito, possuidor de células-tronco embrionárias pluripotentes, as quais, por efeito das diferenciações ocorridas, podem ainda produzir os 216 tecidos humanos, exceto a placenta e os anexos
embrionários. A utilização de tais
células para fins de pesquisa científica, tanto as totipotentes quanto
as pluripotentes, provoca morte do
embrião, daí ser considerada prática abortiva pelo Espiritismo.
As leis da hereditariedade biológica são definidas durante a fecundação. Funcionam com admirável precisão, uma vez que estão
submetidas aos critérios do automatismo biológico, firmemente estabelecido nas sucessivas passagens
do princípio inteligente pelos reinos inferiores da Natureza. A reação em cadeia, iniciada na fecundação do óvulo e concretizada na
formação de um novo corpo físico, é desencadeada pela ação mental do Espírito reencarnante, com
auxílio específico da genitora e
dos Espíritos construtores.
Esclarece André Luiz:
ração espiritual coexistem com
as leis, de acordo com os planos
de evolução ou resgate.5
As ligações espirituais dos filhos com os pais, entretanto, são
de outra ordem, têm como base
os princípios que envolvem a organização da parentela espiritual.
Devemos considerar que todas
essas informações refletem mecanismos biológicos e espirituais
[...] A modelagem fetal e o
desenvolvimento do embrião obedecem a leis
físicas naturais, qual
ocorre na organização
de formas em outros
reinos da Natureza,
mas, em todos esses
fenômenos, os ascendentes de coopeMaio 2008 • Reformador
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simples, ainda que revelem a beleza e a sabedoria da criação divina.
Trata-se de processos reencarnatórios comuns, corriqueiros, destinados a Espíritos de mediana evolução, cujos detalhamentos estão
exemplarmente ilustrados na reencarnação de Segismundo, relatada
na obra Missionários da Luz, de
André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Importa destacar, também, que
o Espírito que já atingiu certo patamar evolutivo torna-se merecedor de benefícios espirituais avançados, quando do seu retorno ao
plano físico. Não se trata de regalias, aleatoriamente concedidas,
mas de méritos conquistados pelo
Espírito no seu esforço de ascensão. Dessa forma, as leis biológicas, em geral, e a herança genética,
em especial, são maleáveis à ação
de Entidades esclarecidas, que
analisam cuidadosamente os fins
e os objetivos da reencarnação
desses Espíritos. Eis o que André
Luiz transmite a respeito da lei de
hereditariedade fisiológica:
– Funciona com inalienável domínio sobre todos os seres em
evolução, mas sofre, naturalmente, a influência de todos
aqueles que alcançam qualidades superiores ao ambiente geral. Além do mais, quando o interessado em experiências novas no plano da Crosta é merecedor de serviços “intercessórios”, as forças mais elevadas
podem imprimir certas modificações à matéria, desde as atividades embriológicas, determi-
28
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nando alterações favoráveis ao
trabalho de redenção.6
Nessas condições, “os Espíritos
categoricamente superiores, quase
sempre, em ligação sutil com a
mente materna que lhes oferta
guarida, podem plasmar por si
mesmos e, não raro, com a colaboração de instrutores da Vida
Maior, o corpo em que continuarão as futuras experiências, interferindo nas essências cromossômicas, com vistas às tarefas que
lhes cabem desempenhar”.7
Durante a gravidez, mãe e filho
devem ser envolvidos em clima de
afeto e de segurança, pois os laços
que prendem o reencarnante ao
corpo “[...] são ainda muito fracos, facilmente se rompem e podem romper-se por vontade do
Espírito, se este recua diante da
prova que escolheu.[...]”.8 Neste
sentido, a Casa Espírita pode, e deve, colaborar com os Orientadores
da Vida Maior, disponibilizando à
gestante e ao reencarnante assistência espiritual, como as benéficas
vibrações da prece e do passe.
Referências:
1
KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de
Guillon Ribeiro. 52. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2007. Cap. XI, item 18, p. 245.
2
XAVIER, Francisco Cândido. Missionários
da luz. Pelo Espírito André Luiz. 43. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 13, p. 265.
3
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tra-
dução de Guillon Ribeiro. 91. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2007. Questão 344.
4
XAVIER, Francisco Cândido. Op. cit. Cap.
13, p. 270.
5
Idem, Ibidem, p. 261.
6
Idem, Ibidem, p. 204.
7
XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Wal-
do. Evolução em dois mundos. Pelo Espírito André Luiz. 24. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2006. Primeira parte, cap. 19, item
Particularidades da reencarnação, p. 194.
8
KARDEC, Allan. Op. cit. Questão 345,
p. 226.
Ao leitor
Se o prezado leitor possui livros publicados pela FEB, de 1a a 5a
edição, saiba que são valiosos para a organização de nossos registros
bibliográficos.
Doe seus exemplares à Federação e, em troca, lhe enviaremos
edições atuais.
Não deixe de informar seu CPF, se pessoa física, ou CNPJ, se pessoa jurídica, telefone ou e-mail, enviando o material para o seguinte
endereço:
Federação Espírita Brasileira
Departamento Editorial
Setor de Documentos Patrimoniais do Livro
Rua Souza Valente no 17 – São Cristóvão
20941-040 – Rio de Janeiro (RJ) – Tel.: (21) 2187-8256
E-mail: [email protected]
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Últimas palavras
KLEBER HALFELD
A
que ficaria conhecido no mundo
inteiro. Por outro lado, Luís XVI
seria acusado pela Convenção
Girondina de conspirador contra
a liberdade pública no país. Em
conseqüência, foram ambos condenados à morte na guilhotina.
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aria
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site http:/ /pt.wikipedia.org/
wiki/
da do
M
etira
m r
age
Im
Que meus filhos
nunca se esqueçam das últimas
palavras de seu pai,
que eu repito expressamente: Nunca procurem vingar a nossa
morte. Eu perdôo a todos os
meus inimigos o mal que me
fizeram.
Desde o início da Revolução
Francesa – 1789 –, a qual irrompeu em 14 de julho, Maria Antonieta impelia seu marido a uma
resistência ao Movimento que se
instalara, contra a monarquia, e
Calligaris, em Páginas de Espiritismo Cristão,1 uma apreciação:
A vingança, qualquer que seja
a forma de que se revista, revela baixeza e vilania, constituindo, sempre, prova de inferioridade moral de quem a exerce.
Externam os monarcas perdão a quantos os condenaram!
Que hoje o meigo Espírito Meimei, na obra
Pai Nosso,2 define em
singela quadra:
“O perdão, em
[qualquer tempo
É sempre um traço
[de luz,
Conduzindo a nossa
[vida
À comunhão com Jesus”.
iet
a
direção da Academia Mineira de Letras, sediada
em Belo Horizonte, teve a
gentileza de enviar-me seu Informativo no 14, de março de 2007 e,
entre outros registros, publicou a
carta que a rainha Maria Antonieta endereçou a seus filhos, à
época da Revolução Francesa.
Esta carta, que está arquivada na Biblioteca François
Mitterrand, em Paris, foi
escrita pela própria esposa do rei Luís XVI
e seus dizeres são os
seguintes:
Rainha Maria Antonieta,
esposa do rei Luís XVI
Respeitável a exortação de
Luís XVI a seus filhos, endossada
por sua esposa.
Condenam a vingança!
Que recebe esta, de Rodolfo
Por muito tempo, a expressão
de um paciente de hospital repercutiu no íntimo de um médico, sobretudo em decorrência das
características em que foi pronunciada:
Não desista!
Foram estas as últimas palavras
balbuciadas na cidade de Salt
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Lake City, Utah, Estados Unidos,
pelo dentista Barney Clark, de 61
anos – o primeiro homem a receber um coração de plástico –, ao
médico Willem Kilff, chefe do Departamento de Órgãos Artificiais
da Universidade de Utah.
Qual a verdadeira razão da frase proferida em um quarto de hospital americano?
Estimular o facultativo nas pesquisas que vinham sendo realizadas no difícil campo dos transplantes de órgãos artificiais?
Reivindicar para si a atenção
da Ciência a fim de sobrepor-se a
um estado crítico de doença?
Acredito que ambas as respostas possam ter sua justificativa, ou
seja, se era para estimular o médico no trabalho em que estava empenhado, deixa transparecer o es-
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tímulo sincero de um paciente ao
pesquisador que lutava para a melhoria futura de outros enfermos.
Se era para se ver livre de um mal
que a Ciência ainda não havia resolvido, na verdade é a demonstração de um enfermo que luta
pela própria sobrevivência, que vê
no corpo físico o “vaso” que deve
receber a atenção justa, conforme
alertam os instrutores espirituais.
Qualquer que fosse o motivo,
o fato é que a frase ficaria catalogada no Livro das Expressões Célebres da nação americana.
Curiosas passagens foram recordadas pelo escritor e tribuno
espírita – o querido e saudoso
companheiro de lutas doutrinárias, Newton Boechat, em sua
obra O Espinho da Insatisfação,3 editada pela Federação
Espírita Brasileira.
No capítulo “Espíritos-rosas... Espíritos-espinhos...”, evidencia
o autor as marcantes
figuras da rainha Elizabeth I, da Inglaterra,
filha de Henrique VIII
e Ana Bolena, e a de
Pedro Richard, valoroso trabalhador do
Espiritismo, no Rio de
Janeiro.
A leitura deste capítulo é suficiente para descortinar à nossa retina espiriPedro Richard: valoroso
trabalhador do Espiritismo
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tual duas criaturas diametralmente opostas à concepção de
vida e morte.
Elizabeth I, sentindo as energias esvaírem-se, diante de um
“além” desconhecido, e atormentada pela aparição da prima Maria Stuart – que mandara decapitar –, grita:
“Meu reino por mais um minuto!...”
Pedro Richard, com o peito
arfando dolorosamente e as pernas denunciando grave inchação, ouvindo as confortadoras
palavras de Manuel Quintão – à
época presidente da Federação
Espírita Brasileira –, deixa escapar a expressão que a comunidade espírita anotaria com respeitosa emoção:
“[...] Eu me vou... Sinto deixar-te e os nossos amigos bracejando nas trevas deste mundo...”
Acreditando supérfluo um comentário sobre estas duas exteriorizações, sigamos à frente focando
o último relato deste trabalho.
Humberto de Campos, um dos
mais apreciados cronistas do
mundo espiritual, em sua inconfundível obra Boa Nova,4 no capítulo “Joana de Cusa”, recorda-nos
esta comovente figura do Cristianismo nascente, detalhando-nos
sua vida em Cafarnaum e, de forma sumamente emocional, seus
últimos momentos de vida terrena, emoldurados por expressões
de profunda espiritualidade.
Na parte terceira do capítulo
mencionado, coloca-nos o autor
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Imagem retirada do site http://pt.wikipedia.org/wiki/Elizabeth_I_de_Inglaterra
– O teu Cristo soube apenas
ensinar-te a morrer? – perguntou um dos verdugos.
A velha discípula, concentrando a sua capacidade de resistência, teve ainda forças para
murmurar:
– Não apenas a morrer, mas
também a vos amar!...
E termina Humberto de Campos:
Nesse instante, sentiu que a mão
consoladora do Mestre lhe
tocava suavemente os ombros,
e lhe escutou a voz carinhosa e
inesquecível:
– Joana, tem bom ânimo!... Eu
aqui estou!...
Rainha Elizabeth I. Quadro de 1588 comemorativo da vitória
sobre a Armada Espanhola (vista ao fundo)
no ano 68 da Era Cristã, quando
se faziam mais intensas as perseguições aos adeptos de Jesus.
Em um circo de cruéis espetáculos vamos identificar Joana de
Cusa – que se entregara corajosamente ao trabalho nas fileiras
cristãs, malgrado as investidas dos
romanos obedientes às ordens de
César – amarrada ao poste do martírio exatamente ao lado de seu
filho, também aprisionado pelo
poder constituído da época.
Após falar sobre o angustiante
apelo do filho, no sentido de que
ela abjurasse a doutrina de Jesus,
a fim de se livrarem do sacrifício
que lhes era imposto, Joana de
Cusa considera:
[...] Jesus era puro e não desdenhou o sacrifício. Saibamos
sofrer na hora dolorosa, por-
que, acima de todas as felicidades transitórias do mundo,
é preciso ser fiel a Deus!
E Humberto de Campos, enfeixando este comovente capítulo, continua:
A esse tempo, com os aplausos
delirantes do povo, os verdugos lhe incendiavam, em derredor, achas de lenha embebidas em resina inflamável. Em
poucos instantes, as labaredas
lamberam-lhe o corpo envelhecido. Joana de Cusa contemplou com serenidade a
massa de povo que lhe não entendia o sacrifício. Os gemidos
de dor lhe morriam abafados
no peito opresso. Os algozes
da mártir cercaram-lhe de impropérios a fogueira:
Frases proferidas em momentos críticos da vida bem dimensionam o patamar de nossa evolução.
Quão diferentes as reações das
criaturas!
Referências:
1
CALLIGARIS, Rodolfo. Páginas de espi-
ritismo cristão. 5. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2001. Cap. 60.
2
XAVIER, Francisco Cândido. Pai nosso.
Pelo Espírito Meimei. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. “O Perdão” (verso), p. 79.
3
BOECHAT, Newton. O espinho da insa-
tisfação. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2002. “Espíritos-rosas... Espíritos-espinhos...”, p. 103-104.
4
XAVIER, Francisco Cândido. Boa nova.
Pelo Espírito Humberto de Campos. 3.
ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
“Joana de Cusa”, p. 127-128.
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A FEB e o Esperanto
Esperanto:
idioma universalista
LU I Z A N T Ô N I O M I L L E C C O
Reproduzimos abaixo a
da, sobre as palavras uniprofunda e sugestiva visão
verso e universalismo, a fim
de Luiz Antônio Millecco
de verificarmos qual a sua
(1932-2005) a respeito do
relação com o Esperanto.
esperanto, em texto publicaUniverso = um em diverdo inicialmente no boletim
sos. Depreende-se daí que
SEI, no 1009, de 1/8/87, e
universalismo seria uma conreimpresso, há 20 anos, em
cepção na qual se coordenaReformador de março de
riam todas as diversas cor1988.
rentes de pensamento nuMillecco, que era cego de
ma única síntese. Esta é, aliás,
nascença, foi um dos fundaa aspiração filosófica de todores da Sociedade Pró-Lidos os inquietos pela Verdavro Espírita em Braille
de, desde fins do século pas(SPLEB). Seus ideais eram
sado [século XIX].
universalistas por excelênOra, que é o Esperanto?
cia: Música, Braille, EvangeAssim como o universalho, Espiritismo, sendo tamlismo não substitui, antes
Luiz Antônio Millecco foi um dos fundadores
bém um entusiasta da Líncoordena e fecunda todas as
da Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille (SPLEB)
gua Internacional Neutra.
idéias verdadeiras existenEis o texto do querido e saudoso amigo, irmão tes no mundo, também o Esperanto não pretende
e samideano, de quem guardamos as mais caras e substituir nenhum dos idiomas nacionais, mas se
gratas lembranças:
coloca como um idioma auxiliar, a fim de que todas as pessoas se entendam.
oderá parecer estranho o título deste
Assim como o universalismo conteria elemenartigo, por não se referir ao Esperanto tos do que haja de belo, verdadeiro e legítimo nas
como um idioma internacional, ou mais variadas concepções, também no Esperanto
universal, mas sim universalista.
existe a presença, se não de todas, pelo menos das
Convém que nos entendamos, antes de mais na- principais línguas.
“P
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Por que o Esperanto?
Há, atualmente, quem afirme
ser o inglês o verdadeiro idioma universal. Na realidade
não se pode fugir ao fato de
que este idioma se impõe
por uma série de razões.
No entanto, não possui
ele a característica de
uma língua realmente
universal. Sem discutirmos seu mérito, não podemos deixar de ver o
idioma inglês ou qualquer
outro como presença de uma
determinada cultura. Querermos impor como universal o inglês,
o francês ou o espanhol seria sobrepormos a cultura anglo-saxônica ou a latina às demais.
É exatamente o que ocorre com o Esperanto. O gênio de Zamenhof, ou sua mediunidade, ou ambos,
fizeram-no perceber que tudo que é universal deve
coordenar, harmonizar e não separar.
O Esperanto assemelha-se a uma espécie de sinfonia, à moda Beethoven. Conforme se sabe, este
genial compositor sabia aproveitar as dissonâncias
compondo com elas vastos e profundos acordes em
que a harmonia se impunha impecável. Quem se aproxima do Esperanto percebe nele exatamente
as mesmas características.
Ele toma a todos os idiomas o que há neles de válido e os reúne para
compor o campo neutro em que se encontram as mais variadas e
aparentemente distantes civilizações.
Se observarmos o que se
passa no mundo, em nossos
dias, perceberemos que mais e
mais se extinguem os “departamentos estanques”. Ciência, filosofia,
religião e tecnologia cada vez mais se
aproximam. Tudo está a indicar uma síntese final, pelo menos quanto a este ciclo, dos conhecimentos humanos e das tendências da Humanidade. Justo neste
contexto é que surge o Esperanto. Seu título, cuja significação é esperança, diz bem da sua missão. Que
possamos parar e refletir sobre isto. E entendermos,
afinal, a mensagem de Zamenhof e, completemos,
com ela, o maravilhoso painel que se desenha na
história do mundo a partir do Terceiro Milênio”.
Trova
Trobo
Não sofras se tua fé
Trabalha quase sozinha.
Nasce a floresta gigante
Da semente miudinha.
Ne suferu, laborante
En soleco por la bono.
De semeto tre malgranda
Venas l’arbara impono.
Chiquito de Morais (Espírito)
Fonte: XAVIER, Francisco C. Trovas do outro mundo. Trovadores Diversos. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
Cap. 45, “Retalhos da verdade”, p. 104.
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Cristianismo Redivivo
Esperança
“[...] Que providências adotar contra o desânimo destruidor?
– Espera! – disse ela [Abigail] ainda, num gesto de terna solicitude, como quem
desejava esclarecer que a alma deve estar pronta a atender ao programa
divino, em qualquer circunstância, extreme de caprichos pessoais.
Ouvindo-a, Saulo considerou que a esperança fora sempre a companheira
dos seus dias mais ásperos. Saberia aguardar o porvir com as bênçãos
do Altíssimo. [...]” 1
HAROLD O DUTRA DIAS
O
Apóstolo dos gentios
nunca perdeu o ensejo
de exaltar as virtudes
cristãs nas inúmeras cartas que
dirigiu às comunidades do Cristianismo nascente.
Recordando-se, talvez, das lições recebidas de sua noiva espiritual, Abigail, sempre manteve o
firme propósito de debelar o pessimismo e o desânimo, conservando e semeando a esperança, mesmo no curso de dolorosas provações. Em meio a açoites, calúnias,
perseguições, naufrágios, prisões e
padecimentos físicos, o Apóstolo
sempre encontrava a palavra de
bom ânimo.
As inspiradas exortações de
Paulo se tornaram célebres:
1
XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e
Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 44. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2007. Segunda Parte,
cap. III, p. 381-382.
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[...] permaneçamos sóbrios,
revestidos com a couraça da fé
e do amor, e com o capacete da
esperança.2
O que se escreveu então foi para a nossa instrução, para que
pela paciência e consolação da
Escritura tenhamos esperança.3
Agora, pois, permanecem a fé,
a esperança, e a caridade. [...]4
A palavra portuguesa “esperança”, encontrada nessas passagens, é uma tradução do vocá2
Bíblia do peregrino. São Paulo: PAULUS,
2002. I Tessalonicenses, 5:8, p. 2841.
3
Bíblia do peregrino. São Paulo: PAULUS,
2002. Romanos, 15:4, p. 2732.
bulo grego elpis (esperança, expectativa), substantivo derivado
do verbo elpidzo (esperar, ter esperança, prever). Não é difícil
perceber que a esperança é luz
espiritual que “[...] vem de cima, à maneira do Sol que ilumina do alto e alimenta as sementeiras novas, desperta propósitos diferentes, cria modificações
redentoras e descerra visões
mais altas”.5
É, no mínimo, curiosa a metáfora utilizada por Paulo de Tarso, quando compara a esperança
a um capacete, ao lado da fé e do
amor no papel de couraça, já que
esta indumentária é típica de um
guerreiro.
Consoante o ensino de Emmanuel:
4
Bíblia sagrada. Revista e Atualizada. Traduzida por João Ferreira de Almeida. 2.
ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil,
1993. I Coríntios, 13:13, p. 1232.
5
XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de
luz. Pelo Espírito Emmanuel. 17. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 75, p. 173-174.
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as dores. O fardo parece bem
menos pesado, quando se olha
para o alto, do que quando se
curva para a terra a fronte.
Coragem, amigos! Tendes
no Cristo o vosso modelo.
[...]7
I ma
g em
e http://pt .wikipedia.org/wiki
a do sit
/Paul
o_de
retirad
_Ta
rso
O capacete é a defesa da cabeça em que a vida situa a sede de manifestação do pensamento e Paulo não podia lembrar outro símbolo mais adequado à
vestidura do cérebro
cristão, além do capacete da esperança na
salvação.
Se o sentimento, muitas vezes, está sujeito
aos ataques da cólera
violenta, o raciocínio,
em muitas ocasiões, sofre
o assédio do desânimo, à
frente da luta pela vitória do
bem, que não pode esmorecer
em tempo algum.
Raios anestesiantes são desfechados sobre o ânimo dos aprendizes por todas as forças contrárias ao Evangelho salvador.
....................................................
Por isso mesmo, talvez, o apóstolo não se refere à touca protetora.
Chapéu, quase sempre, indica
passeio, descanso, lazer, quando
não defina convenção no traje
exterior, de acordo com a moda
estabelecida.
Capacete, porém, é indumentária de luta, esforço, defensiva.
E o discípulo de Jesus é um
combatente efetivo contra o
mal, que não dispõe de muito
tempo para cogitar de si mesmo, nem pode exigir demasiado repouso, quando sabe que o
próprio Mestre permanece em
trabalho ativo e edificante.6
14:59
6
XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva.
Paulo de Tarso,
o Apóstolo dos gentios
Allan Kardec, com extrema
sensibilidade, ao organizar os capítulos do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, selecionou
belíssima comunicação de “Um
Espírito amigo”, que assevera:
A vida é difícil, bem o sei.
Compõe-se de mil nadas, que
são outras tantas picadas de
alfinetes, mas que acabam por
ferir. Se, porém, atentarmos
nos deveres que nos são impostos, nas consolações e compensações que, por outro lado, recebemos, havemos de reconhecer que são as bênçãos
muito mais numerosas do que
Para bem compreendermos as virtudes do
Cristo, necessitamos estudá-lo nos momentos
de adversidade. Já foi dito
alhures que ninguém passa
pela última prova do seu
caráter enquanto não sofre.
A vinda do Mestre ao Orbe
se deu em época de recenseamento, obrigando seus pais a
longo deslocamento, não obstante a gravidez adiantada de Maria.
Não havia lugar para Ele. Sua
única estalagem foi a manjedoura humilde. Tão logo é anunciado seu nascimento, o rei Herodes
determina sua morte. Conserva-se na casa simples de Nazaré, por
longo tempo, em trabalho ativo
na carpintaria do pai.
Inicia seu ministério na Galiléia, região rural, repleta de homens simples e rústicos, pescadores e lavradores, gente humilde e sofrida, calejada pelo tempo
e pelo trabalho árduo.
Não há maior teste à paciência
de um artista do que ser obrigado
a utilizar instrumentos demasiadamente grosseiros à expressão
do seu ideal, incompatíveis com o
7
Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2007. Cap. 94, p. 243-245.
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2007. Cap. IX, item 7, p. 180-181.
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seu talento e apuro. No entanto,
na edificação do Reino Divino, os
ignorantes do mundo, os fracos,
os sofredores, os desalentados, os
doentes e os pecadores seriam, nas
mãos do Embaixador Celeste, material de base, semelhante a formoso mármore, destinado à eterna e sublime construção.
Seus companheiros de ideal,
apóstolos e discípulos, mal conseguem entender a grandeza da
sua missão, perdendo-se em querelas sobre qual deles seria o maior,
entregando-se ao fermento da
discórdia e da traição, como no
caso de Judas, abandonando o
Mestre no momento mais áspero
do testemunho.
Nos derradeiros instantes da
sua missão divina, despede-se do
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mundo em meio a zombarias,
acusações, ingratidão dos beneficiários, abandono dos amigos e
seguidores, açoites e martírios.
Suas últimas palavras, no entanto, são filhas do perdão incondicional e da inabalável esperança
na vitória final do bem.
Toda a vida do Mestre é um
cântico de esperança, a despeito
das dificuldades enfrentadas.
Nesse ponto, confirmando o
otimismo e a esperança do Cristo, Humberto de Campos nos
brinda, reproduzindo a exortação de Jesus ao discípulo Bartolomeu, conhecido pelo seu temperamento grave e sensível, porém, profundamente triste:
do, isso não quer dizer que eu
desdenhe o trabalho de estendê-lo, um dia, aos corações
que mourejam na Terra. Achas,
então, que eu teria vindo a este mundo, sem essa certeza
confortadora? [...]
....................................................
– A vida terrestre é uma estrada pedregosa, que conduz aos
braços amorosos de Deus. O
trabalho é a marcha. A luta comum é a caminhada de cada
dia. Os instantes deliciosos da
manhã e as horas noturnas de serenidade são os pontos de repouso; mas, ouve-me bem: na
atividade ou no descanso físico, a oportunidade de uma hora, de uma leve ação, de uma
palavra humilde, é o convite
de nosso Pai para que semeemos as suas bênçãos sacrossantas. [...]
....................................................
[...] O Evangelho não poderia
reclamar estados especiais de
seus discípulos; porém, é preciso considerar que a alegria, a
coragem e a esperança devem
ser traços constantes de suas
atividades em cada dia. Por que
nos firmarmos no pesadelo de
uma hora, se conhecemos a realidade gloriosa da eternidade
com o nosso Pai?8
– A nossa doutrina, entretanto, é a do Evangelho ou da
Boa Nova e já viste, Bartolomeu, uma boa notícia não
produzir alegria? Fazes bem,
conservando a tua esperança
em face dos novos ensinamentos; mas, não quero senão acender o bom ânimo
no espírito dos meus discípulos. Se já tive ocasião
de ensinar que o meu Reino ainda não é deste munAlegria, coragem e
esperança devem
ser constantes a
cada dia
Agora, portanto, permaneça a
esperança em nossos corações.
8
XAVIER, Francisco Cândido. Boa nova.
Pelo Espírito Humberto de Campos. 3.
ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
Cap. 8, p. 66-68.
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Assistência e
Promoção Social
à luz do Evangelho
“São chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas
no seu verdadeiro sentido.” – O Espírito de Verdade 1
WA S H I N G TO N L U I Z F E R N A N D E S
A mensagem de Jesus envolveu-se ao longo dos milênios em circunstâncias temporais que tiraram a pureza inicial do seu significado. Jesus não
criou nenhuma religião, apenas ensinou a Lei de Amor – humildade, perdão, indulgência e benevolência. Mas hierarquia, ritualística, cerimonial e
dogmas foram introduzidos pelas religiões que se fundaram em seu nome.
Veio uma Doutrina que restabeleceu a verdade.
Os espíritas começaram a
auxiliar os necessitados
P
obres e doentes sempre foram ignorados e até tomados como endemoninhados. Com o Espiritismo, eles tiveram cidadania, e ajudá-los passou
a ser um trabalho sociológico e
ético baseado no Evangelho. As
1
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. 127. ed. Rio de Janeiro: 2007.
“Prefácio”.
desigualdades sociais são uma
realidade, pois poucos detêm
muito e muitos detêm pouco ou
nada possuem. Inspirados e motivados no Evangelho, os espíritas
começaram a assistir aos necessitados. Isso se constata na denominação dos primeiros centros espíritas no Brasil. Pesquisando todos
os jornais espíritas brasileiros do
século XIX, anotamos mais de
trezentos nomes de centros espíritas fundados. Poucos deles usaram nomes de pessoas conhecidas
(Jesus, Allan Kardec, São Francisco de Assis, entre outros) ou de
suas próprias cidades. Praticamente os demais retrataram no
nome um sentimento ou aspiração cristã, utilizando palavras como Caridade, Fraternidade, Luz,
União, Beneficente, Esperança,
Amor etc. É um indicativo e prova da motivação cristã dos primeiros trabalhadores espíritas.
Foi no Brasil que o trabalho mais
cresceu.2
2
Um nome que não pode ser omitido é o
de Manoel José da Costa e Cunha (1852-?), um senhor português que foi pioneiro
do Espiritismo no Paraná e criou a
Assistência aos Necessitados, no Centro
Espírita de Curitiba, que ajudou a fundar,
ainda no século XIX.
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Importantes instituições
fundadas no primeiro século
do Espiritismo (1857-1957)
C
onsultando os volumes da
Revista Espírita, ao tempo
de Allan Kardec, e a história do Movimento Espírita até
1957, encontramos as primeiras
iniciativas espíritas de assistência
social, como filosofia de trabalho.
1. Inicialmente houve as chamadas subscrições (em Paris), que traduzem um compromisso de contribuição com certa quantia para
uma obra meritória, pessoas em
necessidade, um evento, ou mesmo uma homenagem. Citações que
merecem registro: em 1860, subscrição aos cristãos vítimas na Síria,
por princípio de caridade, proposta de subscrição pelo Sr. Dacol; em
fevereiro de 1862, subscrição em favor dos operários lioneses; em fevereiro de
1863, subscrição ruanesa em favor dos
residentes na cidade
Joseph Gabriel
Prevost
de Ruan, França; em dezembro de
1864, subscrição em favor dos incendiados de Limoges; em dezembro de 1865, subscrição em favor
dos pobres de Lyon3 e das vítimas
do cólera; em novembro de 1866,
subscrição em favor dos inundados.
São os primeiros anseios espíritas de servir ao necessitado, com
base no Evangelho. Merecem registro outras iniciativas.
2. Em 19/7/1863 foi fundada a
Casa de Retiro de Cempuis (ou
Orfanato Prevost), voltada aos órfãos, perto de Grandvilliers, Departamento do Oise, pelo Sr. Prevost, cujo nome era Joseph Gabriel
Prevost (1793-1875), rico comerciante e velho fourierista. Prevost
foi membro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE) e
citado elogiosamente por Allan
Kardec na Revista Espírita de outubro de 1863; foi condecorado
pela prefeitura de Cempuis, e pode ser considerado um precursor
do trabalho assistencial espírita,
pelo seu mérito de nobreza à causa da Humanidade sofredora; deixou grande área rural em testamento, sob compromisso de ser
utilizada no prosseguimento do
3
Lyon chegou a possuir uma creche espírita fundada em 1903.
38
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trabalho social e educacional. Foi
sucedido pelo anarquista francês
Paul Robin (1837-1912).
3. No 2o Congresso Espírita Internacional, realizado em Paris,
em 1889, um dos temas foi a assistência social.
4. No Brasil, no século XIX, o
fato de destaque foi a criação da
Assistência aos Necessitados iniciada pelo engenheiro Polidoro Olavo
de São Thiago (1852-1916) e inspirado posteriormente pela Federação Espírita Brasileira. Este trabalho inspirou outras instituições
espíritas que começavam a se criar
no Brasil.
Polidoro Olavo de São Thiago
5. Em Santos, o médium Benedito José de Souza Jr. (1854-1934),
em 1895, criou também uma Associação de Auxílio aos Necessitados, da Sociedade Espírita Anjo
da Guarda, fundada em 1883.
6. Muito interessante registrar
as iniciativas educacionais dos es-
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abrigos, creches e escolas maternais), em várias cidades de São
Paulo e Minas Gerais, destinadas
a órfãos e meninas.
Benedito José de Souza Jr.
píritas: o médium americano Andrew Jackson Davies (1826-1910),
que fundou em Nova York o Spiritual Lyceum (Liceu Espiritual) ou
Sunday School in Spiritual Churches (Escola Dominical das Igrejas
Espiritualistas), em 25/1/1865, revelando a aspiração de instruir as
almas acerca da Espiritualidade;
na mesma linha educacional estiveram Antônio Ugarte (1852-1918) e a esposa Rosa Ugarte, em
Buenos Aires, Argentina, que fundaram a Escola Espiritista de Argentina, na década de 1880; o educador espírita Eurípedes Barsanulfo (1880-1918), em Sacramento (MG), que fundou o Colégio
Allan Kardec, em 1907, adotando
uma pedagogia avançada para a
época, acompanhando os alunos
em observações pessoais na Natureza e despertando neles a busca
do conhecimento a partir deles
mesmos; destaque-se, também, a
educadora espírita Anália Franco
(1856-1919), que criou cerca de
setenta instituições (escolas, asilos,
7. Importante destacar o Hospital Espírita de Porto Alegre, hoje com mais de 16.000m2. Concebido em 1912, sob coordenação
de Oscar Pithan (1879-1942),
aclamado seu Presidente de Honra, e do Instituto Dias da Cruz. As
principais sociedades espíritas
gaúchas contaram com a sua
colaboração. Em 1949, ele fundou
o Abrigo Oscar Pithan, o qual
ainda presta excelente trabalho
na cidade de Santa Maria (RS).
Por todos os lugares onde andou,
Oscar Pithan deixou um rastro
luminoso, como verdadeiro
discípulo do Cristo.
8. Merece referência a Sinagoga Espírita Nova Jerusalém, em São
Paulo, fundada
em 1916 pelo português Antônio
Trindade (1882-1962). Em 1921,
na Rua Casemiro de Abreu
80/82, ele inaugurou a Cozinha dos
Pobres, a qual pasOscar
sou a fornecer cerca
de quinhentas refeições diárias,
sendo também pioneira na distribuição de alimentos (hoje chamadas cestas básicas) às famílias necessitadas, bem como roupas e
brinquedos para as crianças.
9. Com a fundação da Federação Espírita do Estado de São Paulo, em 1936, no ano seguinte foi
criado o Departamento Damas da
Caridade, nomeada a Sra. Elisa
Andreucci (1901-1981) para prestar assistência à infância desfavorecida; depois veio a Sra. Nair Ambra
Ferreira (1906-1997), médium, ao
lado da Sra. Maria Augusta Puhlmann (1900-1982). Em 1948, estas
duas senhoras criaram a admirável
Instituição Beneficente Nosso Lar,
na Aclimação, que trabalha com
crianças especiais,4 hoje dirigida
pelas duas filhas destas grandes
trabalhadoras, as Sras. Nancy Puhlmann Di Girolamo e Maria Rita
Ambra Ferreira. Este Departamento Social tornou-se a Casa Transitória Fabiano de Cristo, a maior
instituição social-espírita da Capital de
São Paulo, que
atende a milhares
de necessitados,
através de escolas, oficinas, departamento médico e odontológico, orientação jurídica, distribuição
de alimentos, roupas etc. Desde 1953
ela aparece mencionada nos livros de
Atas da Diretoria da
Pithan
FEESP. Seu maior
entusiasta foi José Gonçalves Pereira (1906-1989), um paulista com
4
Especiais – termo preferido para designar
pessoas portadoras de algum tipo de deficiência.
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experiência industrial, nomeado,
em 1952, Diretor do Departamento de Assistência Social da FEESP.
Ele quis um espaço próprio, uma
Casa Transitória. Recebeu mensagens espirituais de orientação
através do médium Chico Xavier
(1910-2002). Em 1957 foram apresentadas as primeiras plantas e o
Departamento Social autorizou a
obtenção de fundos para edificá-la. Em 10/7/1957 o Presidente da
FEESP trabalhava junto à Prefeitura e ao Governo do Estado para
conseguir um terreno em comodato. O trabalho social cresceu e, em
1957/1958, quase cem mil pessoas
foram assistidas, com alimentos,
roupas, enxovais, agasalhos e berços. Em 1958 foi encontrado o
terreno e o Estado cedeu-o em comodato, iniciando-se a construção
dos primeiros pavilhões, inaugurados oficialmente em 1960.
10. A Mansão do Caminho,
em Salvador (BA), fundada, em
1952, pelo médium Divaldo Pereira Franco (1927-), começou
ainda em 1947, amparando crianças carentes e órfãs, sob o regime pioneiro dos Lares Substitutos, de modo gratuito e voluntário. Divaldo tem cerca de 600
filhos adotivos e mais de 200 netos.
Com o tempo começaram dezenas de cursos e oficinas profissionalizantes e hoje possui regime
de semi-internato, em 83.000m2,
atendendo, em 2007, a 3.500
crianças e jovens, gratuitamente, todos os dias; ganhou muitos
prêmios nacionais e internacionais.
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Reformador • Maio 2008
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11. O Lar Fabiano de Cristo é
uma obra social de grande porte,
criada e dirigida por espíritas. Assinaram a ata de sua fundação, em 8
de janeiro de 1958, entre outros, os
escritores Carlos Torres Pastorino,
Jorge Andréa e José Hermógenes, o
cel. Jaime Rolemberg de Lima e os
médiuns Divaldo Franco e Chico
Xavier, através dos quais, mais tarde, a Espiritualidade, especialmente
o Dr. Bezerra de Menezes, enviaria
numerosas orientações voltadas
ao trabalho, para cuja sustentabilidade foi criada, em 1960, a Capemi (Caixa de Pecúlios dos Militares – Beneficente). Desde o início
o atendimento foi centrado na família e realizado em Unidades de
Promoção e projetos sociais. Em
2007 o Lar atendeu a cerca de
80.000 pessoas espalhadas por todo o Brasil. Seu modelo de promoção já foi levado a outras partes do mundo pela Unesco, tendo
o Lar recebido vários prêmios de
reconhecimento ao longo de sua
existência.
12. O Centro Espírita Nosso
Lar Casas André Luiz, situado em
Guarulhos (SP), oferece um extraordinário exemplo de atividade cristã de ajuda ao próximo.
Fundado em 1949, com orientação espiritual para abrigar crianças carentes, o trabalho iniciou-se em 26/1/1958, quando foi erguido o primeiro prédio (1.850m2
de área construída), num terreno de 2.000m2. Destacou-se um
valoroso grupo: a família Castardelli e filhos; os Srs. Valério Giuli
(1911-1989), Francisco Juliano
(1926-1995), os ainda atuantes
Cel. Jaime Rolemberg de Lima
Pedro Baqui, Ana Gaspar, Gastão
de Lima Neto, Osmar Marsilli e
Jandira Delgado Tidon. Os Espíritos orientaram o grupo para o
atendimento às crianças especiais, as mais marginalizadas.
Hoje são atendidas gratuitamente mais de setecentas crianças e
jovens especiais, e outros em regime ambulatorial.
Enfim, dificilmente se encontra
um Centro Espírita, no Brasil, onde não se pratique o trabalho de
assistência social, à luz do Evangelho (nem que seja uma sopa semanal), e certamente as onze instituições espíritas citadas servem de
modelo e muito dignificam o Espiritismo. Considerando estarmos
vivendo um novo contexto político-social, neste Terceiro Milênio,
é necessário pensar em ampliar as
formas de atendimento aos necessitados, não esquecendo principalmente das doenças da alma, geradoras de muitas enfermidades
sociais e do corpo...
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Federação Espírita Brasileira
COMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS DA FEB
APÓS A REUNIÃO DO SEU CONSELHO SUPERIOR DE MARÇO DE 2008
CONSELHO DIRETOR
Presidente: Nestor João Masotti. Vice-presidentes: Altivo Ferreira, Cecília Rocha, Ilcio Bianchi e José Carlos da Silva Silveira.
DIRETORIA EXECUTIVA
Diretores: Affonso Borges Gallego Soares, Amaury Alves da Silva, Antonio Cesar Perri de Carvalho, Arthur do Nascimento, Edna Maria
Fabro, Geraldo Campetti Sobrinho, João Pinto Rabelo, José Salomão Mizrahy, José Valdo de Oliveira, Maria de Lourdes Pereira de
Oliveira, Marta Antunes de Oliveira Moura, Norberto Pásqua, Rute Vieira Ribeiro, Sady Guilherme Schmidt e Tânia de Souza Lopes.
CONSELHO FISCAL
Efetivos: César Augusto Lourenço Filho, Danilo de Castro Silva e Sérgio Thiesen. Suplentes: Alamir Gomes de Abreu, Eliphas Levi
Garcez Maia e Ennio de Oliveira Tavares.
ASSESSORES DA PRESIDÊNCIA
Evandro Noleto Bezerra e Jorge Godinho Barreto Nery.
REFORMADOR
Diretor: Nestor João Masotti. Editor: Altivo Ferreira. Redatores: Affonso Borges Gallego Soares, Antonio Cesar Perri de Carvalho, Evandro
Noleto Bezerra e Lauro de Oliveira São Thiago. Secretário: Paulo de Tarso dos Reis Lyra. Gerência: Ilcio Bianchi.
CONSELHO SUPERIOR
Efetivos: Adésio Alves Machado, Allan Eurípedes Rezende Nápoli, Allan Kardec Rezende Nápoli, Alzira Matoso de Abreu,
Christodolino da Silva, Clara Lila Gonzalez de Araújo, Délio Pereira de Souza, Francisco Bispo dos Anjos, Ismael de Miranda e
Silva, Jamile Mizrahy, João de Jesus Moutinho, Jorge Godinho Barreto Nery, José Francisco dos Santos, Lauro de Oliveira São
Thiago, Lucia Maria Alba da Silva, Luiz Antonio de Moura, Lydia Alba da Silva, Márcia Regina Pini de Souza, Marco Aurélio Luzio
de Assis, Maria da Conceição de Carvalho, Maria Euny Herrera Masotti, Maria Luiza Priolli dos Santos Fonseca, Nilton da Costa
Pereira de São Thiago, Paulo Affonso de Farias, Raimunda Maria Prata, Regina Lúcia de Souza B. Rodrigues, Salim Tannus Feres
Neto, Suely Caldas Schubert, Tossie Yamashita e Yola Carvalho Borges de Souza. Efetivos indicados pelo CFN: Ana Luiza Nazareno
Ferreira, César Soares dos Reis, Darcy Neves Moreira, Divaldo Pereira Franco, Hélio Ribeiro Loureiro, José Raimundo de Lima,
Lacordaire Abrahão Faiad, Sandra Maria Borba Pereira, Sônia Maria Arruda Fonseca e Weimar Muniz de Oliveira. Ex-presidente:
Juvanir Borges de Souza.
Suplentes: Orlando Ayrton de Toledo, Rubens André Gonçalves Dusi, Bittencourt Rezende de Nápoli, Lauro de Freitas Carvalho, Zaira
Amarilis da Cruz Silveira, Marlene Silva Duarte, Roosevelt Pinto Sampaio, Aldenice Cousseiro de Carvalho Filha, Marley de Souza
Lopes, Venita Abranches Simões, Eliphas Levi Garcez Maia e Maria Alves da Silva. Suplentes indicados pelo CFN: Gerson Simões
Monteiro, Pedro Valente da Cunha, Miriam Lucia Herrera Masotti Dusi, Eloy Carvalho Villela e Israel Quirino do Nascimento.
CONSELHO FEDERATIVO NACIONAL
Entidades Federativas Estaduais: Acre – Federação Espírita do Estado do Acre; Alagoas – Federação Espírita do Estado de Alagoas;
Amapá – Federação Espírita do Amapá; Amazonas – Federação Espírita Amazonense; Bahia – Federação Espírita do Estado da Bahia;
Ceará – Federação Espírita do Estado do Ceará; Distrito Federal – Federação Espírita do Distrito Federal; Espírito Santo – Federação
Espírita do Estado do Espírito Santo; Goiás – Federação Espírita do Estado de Goiás; Maranhão – Federação Espírita do Maranhão;
Mato Grosso – Federação Espírita do Estado de Mato Grosso; Mato Grosso do Sul – Federação Espírita de Mato Grosso do Sul;
Minas Gerais – União Espírita Mineira; Pará – União Espírita Paraense; Paraíba – Federação Espírita Paraibana; Paraná – Federação
Espírita do Paraná; Pernambuco – Federação Espírita Pernambucana; Piauí – Federação Espírita Piauiense; Rio de Janeiro – Conselho
Espírita do Estado do Rio de Janeiro; Rio Grande do Norte – Federação Espírita do Rio Grande do Norte; Rio Grande do Sul –
Federação Espírita do Rio Grande do Sul; Rondônia – Federação Espírita de Rondônia; Roraima – Federação Espírita Roraimense;
Santa Catarina – Federação Espírita Catarinense; São Paulo – União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo; Sergipe –
Federação Espírita do Estado de Sergipe; e Tocantins – Federação Espírita do Estado do Tocantins.
ENTIDADES ESPECIALIZADAS DE ÂMBITO NACIONAL
Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo; Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas; Associação Médico-Espírita do
Brasil; Cruzada dos Militares Espíritas; e Instituto de Cultura Espírita do Brasil.
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Seara Espírita
R. G. do Sul: Sociedade comemora 95 anos
A Sociedade Espírita Dom Thomé, Porto Alegre, Rio
Grande do Sul, completa 95 anos. Para comemorar a
data, uma série de palestras foi programada para os
meses de março e abril. No dia 12 de março ocorreu
exposição do tema “Lições para a felicidade”; no dia
15 foi apresentado o tema “Harmonização e Prece”;
nos dias 17 e 19 foram desenvolvidos, respectivamente, os temas “Evolução” e “Educação, a chave
moral do progresso”; no dia 26, Jason de Camargo
abordou o tema “O Sermão da Montanha”. Encerrando a programação, no dia 2 de abril, foi abordado o tema “Desencarnações Coletivas”.
São Paulo: Seminário para Trabalhadores
Espíritas
“Dependência Química para Casas Espíritas”, foi o
tema abordado no seminário ocorrido dia 27 de
abril na Fraternidade Espírita Auta de Souza, realizado pela USE-Distrital Jabaquara (Órgão da União
das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo), na
Capital paulista. O objetivo do evento foi ampliar o
conhecimento sobre o assunto: como orientar, como
tratar atividades preventivas e recursos existentes, e
teve como público-alvo os dirigentes e trabalhadores
de centros espíritas. Informações: (11) 3721-0098
ou pelo e-mail: [email protected]
Minas Gerais: Amigos de Chico Xavier
Nos dias 19 e 20 de abril, a cidade de Uberaba (MG)
sediou o I Encontro Nacional dos Amigos de Chico
Xavier e sua Obra. Com entrada franca, a programação contou com diversos palestrantes, em uma promoção da Aliança Municipal Espírita de Uberaba e
da Aliança Municipal Espírita de Pedro Leopoldo.
Informações: (34) 3325-4727 ou (34) 8857-2080.
Rio de Janeiro: Evangelizadores da Pessoa
com Necessidades Especiais
No dia 16 de março, aconteceu o Encontro de Evangelizadores da Pessoa com Necessidades Especiais à
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luz do Espiritismo. Foi a quinta edição do evento,
nas dependências da Ação Cristã Vicente Moretti,
que contou com debates, caminhada musical, exibição de filmes e apresentação de relatos. Informações:
Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro
(CEERJ), pelo telefone: (21) 2224-1244.
Estados Unidos: Revista Espírita em inglês
No dia 19 de abril, durante o Second U. S. Spiritist
Symposium (2o Simpósio Espírita dos Estados Unidos), realizado nas dependências da Historical Society,
de Nova York, foi lançada a edição em inglês da Revista Espírita, fundada por Allan Kardec, com o título
The Spiritist Magazine e editada pelo Conselho Espírita Internacional (CEI). Representando o CEI, Antonio Cesar Perri de Carvalho fez a saudação inicial
do evento e o lançamento da nova versão da Revista.
Fundada a Associação Jurídico-Espírita
(AJE-SP)
No dia 8 de março, na sede da União das Sociedades
Espíritas do Estado de São Paulo, foi fundada a Associação Jurídico-Espírita do Estado de São Paulo
(AJE-SP) com o objetivo de contribuir para o aprimoramento espiritual dos operadores do Direito espíritas e interessados em questões jurídico-sociais,
unificação destes, melhoria da legislação vigente, defesa legal de assuntos que esbarrem em princípios essenciais da filosofia espírita, divulgação do pensamento espírita sobre questões jurídico-sociais para
os meios jurídicos e sociedade em geral. Informações: [email protected]
Japão: O Evangelho segundo o
Espiritismo em japonês
A Comunhão Espírita Cristã Francisco Cândido Xavier, instituição integrante do Conselho Espírita Internacional (CEI), lançou a tradução em japonês,
por Tomoh Sumi, de O Evangelho segundo o Espiritismo, publicada pela Editora Gentosha Renaissance
Books. Informações: [email protected]
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