1
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA
SEMENTES DE MILHO E RESTOS CULTURAIS DE
AVEIA COMO FONTE DE INÓCULO PARA AS
PODRIDÕES DA BASE DO COLMO
ANDREA FLAVIA SARTORI
Dissertação apresentada à Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária da
UPF, para obtenção do título de Mestre
em Agronomia – Área de concentração
em Fitopatologia.
Passo Fundo, março de 2003
2
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA
SEMENTES DE MILHO E RESTOS CULTURAIS DE
AVEIA COMO FONTE DE INÓCULO PARA AS
PODRIDÕES DA BASE DO COLMO
ANDREA FLAVIA SARTORI
Orientador: Prof. Ph.D. ERLEI MELO REIS
Dissertação apresentada à Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária da
UPF, para obtenção do título de Mestre
em Agronomia – Área de concentração
em Fitopatologia.
Passo Fundo, março de 2003
3
BIOGRAFIA
ANDREA FLAVIA SARTORI, nasceu em sete de dezembro
de 1974, no município de Capinzal, SC, Brasil.
O ensino médio foi concluído no Colégio Estadual “Francisco
Mazzola” no município de Nova Trento, SC no ano de 1991, com
habilitação para Magistério de primeira a quarta séries.
Engenheira Agrônoma, formada em 08 de julho de 2000 pelo
Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de
Santa Catarina, Lages, SC.
Em março de 2001 ingressou no curso de mestrado em
Agronomia, área de concentração em Fitopatologia na Universidade
de Passo Fundo sob a orientação do Professor Erlei Melo Reis.
Atualmente vem trabalhando com patologia de sementes,
principalmente transmissão de patógenos para a parte aérea das
plantas e tratamento químico de sementes de milho.
4
À minha mãe Sueli (in memoriam),
por seu exemplo de vida,
dedico.
5
AGRADECIMENTOS
Ao professor e Mestre Erlei, pela orientação, amizade, pelos
conhecimentos transmitidos, e por acreditar em nossa capacidade.
Ao professor Ricardo T. Casa por sua atenção, colaboração na
execução e orientação nos trabalhos.
À empresa Monsanto do Brasil Ltda. pela concessão de bolsa
de estudos para o primeiro ano, em especial à pessoa do Eng. Agr.
Flavio Danilo Haas, pela atenção e disponibilidade durante a
realização dos trabalhos.
À Capes, pela concessão de bolsa de estudos, no segundo ano.
À Universidade de Passo Fundo pela oportunidade de
realização do curso.
Aos funcionários pela colaboração e amizade.
Aos professores por todas as lições transmitidas.
Aos amigos por todos os momentos que passamos juntos, em
especial às amigas Daniela, Ana Paula, Adilce, Maria Tereza, Prof.
Norimar e Cinara.
Aos estagiários pela colaboração nos trabalhos de campo.
Aos participantes da banca examinadora.
Especialmente a meus irmãos, cunhados e sobrinhos pela força
e incentivo dedicado em todos os momentos.
A todos que apoiaram e confiaram em mim,
MUITO OBRIGADA!
6
SUMÁRIO
Página
LISTA DE TABELAS .............................................................
x
LISTA DE FIGURAS...............................................................
xi
RESUMO..................................................................................
1
SUMMARY..............................................................................
3
1. INTRODUÇÃO....................................................................
5
2. REVISÃO DE LITERATURA.............................................
8
2.1. Podridão de diplodia......................................................
8
2.1.1. Histórico e distribuição geográfica.............................
8
2.1.2. Danos .........................................................................
9
2.1.3. Nomenclatura..............................................................
9
2.1.4. Etiologia......................................................................
10
2.1.5. Sobrevivência.............................................................
10
2.1.6. Hospedeiros................................................................
10
2.1.7. Sintomatologia............................................................
11
2.1.8. Fontes de inóculo........................................................
11
2.1.8.1. Sementes..................................................................
11
2.1.9. Restos culturais ou fase saprofítica.............................
12
2.1.10. Medidas gerais de controle.......................................
15
2.2. Podridão de Fusarium ......................................................
17
2.2.1. Introdução..................................................................
18
2.2.2. Descrição e ocorrência da espécie..............................
18
2.2.3. Etiologia......................................................................
18
2.2.4. Sobrevivência..............................................................
19
2.2.5. Hospedeiros................................................................
19
7
2.2.6. Sintomatologia............................................................
20
2.2.7. Fontes de inóculo........................................................
20
2.2.7.1. Restos culturais........................................................
20
2.2.8. Medidas gerais de controle.........................................
21
2.2.9. Manejo da cultura.......................................................
21
2.3.Antracnose.........................................................................
21
2.3.1. Introdução...................................................................
21
2.3.2. Nomenclatura..............................................................
21
2.3.3. Sistemática..................................................................
22
2.3.4. Hospedeiros................................................................
22
2.3.5. Sintomatologia............................................................
23
2.3.6. Fonte de inóculo..........................................................
23
2.3.7. Medidas gerais de controle.........................................
23
2.3.8.Condições predisponentes...........................................
24
2.3.9. Tratamento de sementes..............................................
24
2.4. Murcha de Cefalosporium................................................
24
2.4.1. Etiologia......................................................................
24
2.4.2. Sobrevivência.............................................................
25
2.4.3.Sintomatologia.............................................................
25
2.3.4. Deposição e sítios de infecção....................................
25
2.4.5. Tratamento de sementes..............................................
25
CAPÍTULO I: QUANTIFICAÇÃO DA TRANSMISSÃO
DE
Fusarium
moniliforme
DE
SEMENTES
PARA
PLÂNTULAS DE MILHO.......................................................
26
Resumo.................................................................................
26
Summary...............................................................................
27
Introdução.............................................................................
28
8
Material e métodos................................................................
29
Resultados e discussão..........................................................
31
CAPÍTULO II: EFEITOS DE TEMPERATURA E DO
TRATAMENTO DE SEMENTES DE MILHO COM
FUNGICIDAS
SOBRE
A
EMERGÊNCIA
DE
PLÂNTULAS DE MILHO.......................................................
33
Resumo.................................................................................
33
Summary...............................................................................
34
Introdução.............................................................................
34
Material e métodos................................................................
36
Resultados e discussão..........................................................
38
CAPITULO
III:
EFEITO
DO
TRATAMENTO
DE
SEMENTES COM FUNGICIDAS NO CONTROLE DE
FUNGOS
ASSOCIADOS
A
SEMENTES
NA
EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS E NO CONTROLE DAS
PODRIDÕES DA BASE DO COLMO EM MILHO...............
45
Resumo.................................................................................
45
Summary...............................................................................
47
Introdução.............................................................................
48
Material e métodos................................................................
50
Resultados e discussão..........................................................
55
CONCLUSÕES........................................................................
77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................
64
9
LISTA DE TABELAS
Tabelas
Página
CAPÍTULO I:
1.Recuperação da transmissão (%) de
Fusarium
moniliforme para plântulas de milho aos 15, 30 e 45 dias
após a semeadura.................................................................
31
CAPÍTULO II:
1.Descrição dos tratamentos................................................
38
2. Porcentagem final de plantas emersas em função de
temperaturas do substrato e do tratamento de sementes de
milho com fungicida............................................................
39
CAPÍTULO III:
1.Descrição dos tratamentos................................................
51
2. Incidência de Fusarium moniliforme e Cephalosporium
sp. associados às sementes de milho em função do uso de
fungicidas
isoladamente
e
em
misturas...............................................................................
57
3. Efeito do tratamento de sementes de milho com
fungicidas na emergência de plântulas
z
e na população
final de plantas (Amostra 1)................................................
57
4. Efeito do tratamento de sementes de milho com
fungicidas na emergência de plântulas
z
e na população
final de plantas (Amostra 2)................................................
59
10
LISTA DE FIGURAS
Figuras
Página
CAPÍTULO II:
1.Relação entre o tratamento de sementes com fungicidas
e a emergência de plântulas de milho em função do tempo
na temperatura de 15 0C......................................................
41
2.Relação entre o tratamento de sementes com fungicidas
e a emergência de plântulas de milho em função do tempo
na temperatura de 18 0C......................................................
42
3.Relação entre o tratamento de sementes com fungicidas
e a emergência de plântulas de milho em função do tempo
na temperatura de 21 0C......................................................
43
4. Relação entre o tratamento de sementes com fungicidas
e a emergência de plântulas de milho em função do tempo
na temperatura de 24 0C......................................................
43
11
SEMENTES DE MILHO E RESTOS CULTURAIS DE AVEIA
COMO FONTE DE INÓCULO PARA AS PODRIDÕES DA
BASE DO COLMO. Passo Fundo, 2003. 81 p. Dissertação
(Mestrado em Agronomia / Fitopatologia) – Faculdade de Agronomia
e Medicina Veterinária, Universidade de Passo Fundo e Embrapa
Trigo.
Autora: Andrea Flavia Sartori
Orientador: Erlei Melo Reis
RESUMO
O presente trabalho foi conduzido em laboratório,
câmara de crescimento, casa-de-vegetação e no campo. Quantificouse: a transmissão de Fusarium moniliforme a partir de sementes para
os órgãos de plântulas de milho; os efeitos de temperaturas do solo em
câmara de crescimento e no campo sobre a emergência de plântulas
oriundas de sementes tratadas com diferentes fungicidas utilizados
isoladamente ou em misturas; a densidade de inóculo de Gibberella
zeae e de Colletotrichum graminicola nos restos culturais da aveia
antecedendo ao cultivo do milho em plantio direto (PD) e sua
possibilidade de constituir-se na principal fonte de inóculo para as
podridões da base do colmo do milho (PBC) em milho. As principais
espécies envolvidas com as PBC, no experimento conduzido no
campo, foram Colletotrichum graminicola com incidência de (33,2
%), Fusarium moniliforme (3,2 %) e F. graminearum (7,2 %).
Finalmente determinou-se o rendimento real e potencial da cultura,
bem como a incidência das PBC em experimentos conduzidos com
12
duas amostras de sementes. Conclui-se que mesmo semeando as
sementes de milho tratadas com fungicidas, a incidência das PBC
foram altas (19,5 a 21,8%), e que se semeando o milho em solo frio e
úmido, a 15 oC, faz-se necessária a proteção das sementes com
fungicidas, pois estas levam mais tempo para emergir. A quantidade
média de resto cultural da aveia remanescente sobre o solo, em duas
coletas foi de 7,2 t.ha-¹, havendo redução de 1,9 t.ha-¹ durante o
período entre a semeadura e a colheita; a densidade de inóculo foi de
1.207.040 peritécios de G. zeae por metro quadrado, e, 283.970.100
acérvulos de C. graminicola por metro quadrado.
Pode-se concluir que a emergência de plântulas de milho
semeado em solo frio e úmido pode ser melhorada pelo tratamento de
sementes com fungicidas e que os restos culturais da aveia servem de
fonte de inóculo para G. zeae e C. graminicola. Em regiões frias
aconselha-se o tratamento de sementes com fungicidas, semear com
temperatura do solo superior a 18 oC, evitar cultivar o milho em PD
sobre restos de aveia e possivelmente de outras gramíneas para reduzir
a incidência das PBC.
13
CORN
SEED
AND
OAT
RESIDUES
AS
PRIMARY
INOCULUM SOURCE FOR CORN STALK ROTS. Passo Fundo,
2003. 81 p. Dissertação (Mestrado em Agronomia / Fitopatologia) –
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de
Passo Fundo e Embrapa Trigo.
Author: Andrea Flavia Sartori
Adviser: Erlei Melo Reis
SUMMARY
This work was carried out in the laboratory, growth
chamber, green-house and on the field. It was quantified seed
transmission of Fusarium moniliforme from corn seeds to corn
seedlings parts; effects of soil temperature in growth chamber and on
the field on the seedling mergence from treated seeds with different
fungicides used alone or in mixtures; inoculum density of Gibberella
zeae and of Colletotrichum graminicola in oat residues proceeding
corn planting under no till and its possibility to be the main primary
inoculum soouorce for corn stalk rots. Main fungi isolated from
infected corn stalks in the field experiments were Colletotrichum
graminicola with an incidence of 33.2 %, Fusarium moniliforme 3.2
% and F. graminearum 7.2 % incidence. Finally actual and potential
corn grain yield were determined as well the plant incidence of corn
stalk rots in experiments conducted using two seed samples treated
with fungicides. Incidence of, of corn stalk rots was high as 19.5 to
21.8%). It was also demonstrated that corn seed planted in cold wet
soils 15 oC, where emerge speed is low, is recommended to treat the
seed to protect seedling with fungicides. The average of oat residues
14
remained at soil surface at the time corn was seeded was 7.2 t.ha-¹,
having a reduction of 1.9 t.ha-¹ during corn growing season; inoculum
density was 1,207,040 perithecia of G. zeae per square meter, and
283,970,100 acervuli of C. graminicola per square meter.
It may be concluded that corn seedling emergence planted in
cold wet soil my be improved by seed treatment with fungicides and
that oat residues are primary inoculum for G. zeae and C. graminicola.
In the cold areas of Southern Brazil it its recommended to treat corn
seeds with fungicides, to seed with soil temperature higher than 18
o
C, avoid seeding corn under no till on oat residues and probably on
residues of other grasses in order to reduce the incidence of corn stalk
rots
15
1 INTRODUÇÃO
O milho é uma das culturas mais importantes à economia
brasileira. As informações apontam uma área cultivada de 9,382
milhões de hectares; com uma produção total de 30.873.800 toneladas
no Brasil. A produtividade média para o estado do Rio Grande do Sul
foi de apenas 3.500 kg.ha-1 na safra 2002/03 (Conab, 2003).
Na última década, a produção de milho no Brasil cresceu
significativamente, atingindo aproximadamente 31 milhões de
toneladas. Esse crescimento ocorreu em função de vários fatores,
principalmente da introdução de cultivares mais produtivos em
conjunto com o uso de práticas culturais diretamente relacionadas com
a produtividade. Outro fator que contribuiu para o aumento da
produção foi o crescimento da área cultivada com plantios de segunda
época, ou safrinha, para 1,5 milhão de hectares (Fernandes & Oliveira,
2000).
O potencial de rendimento do milho pode ser afetado pela
fertilidade do solo, pela disponibilidade hídrica, pela população de
plantas, pela época de semeadura, pelo potencial produtivo do híbrido
e pelo ataque de agentes nocivos, como plantas daninhas, pragas e
doenças.
Em relação às doenças, destacam-se no Brasil, tanto pela
freqüência de ocorrência como pelos danos causados, as relacionadas
com a germinação de sementes, com a emergência e estabelecimento
de plântulas, com as podridões radiculares e da base do colmo (PBC),
com as podridões de espiga e com as doenças foliares causadas por
fungos e organismos semelhantes a micoplasmas.
16
Até o final da década de 1970, eram graves os problemas
causados pela erosão hídrica dos solos na região Sul do Brasil. Com a
introdução, difusão e adoção do sistema plantio direto, a erosão dos
solos foi controlada, houve redução no gasto de energia, com
conseqüente redução do custo de produção. Contudo, o sistema plantio
direto
alterou
marcadamente
a
comunidade
biológica
no
agroecossistema e o microclima, com conseqüentes reflexos nas
populações dos agentes causais das doenças do milho e na intensidade
das doenças da cultura.
Juntamente com o crescimento da produção, ocorreu um
aumento na incidência e severidade das doenças na cultura do milho.
Com a introdução de cultivares comerciais mais produtivos e
diferentes níveis de resistência às doenças, e pela adoção da prática do
sistema plantio direto, ocorre um aumento do inóculo de fungos nos
restos culturais, favorecendo o surgimento, o ressurgimento e o
aumento da intensidade de doenças (Fernandes & Oliveira, 2000).
Entre as principais doenças do milho no Brasil destacam-se as
PBC, causadas por: Colletotrichum graminicola (Ces.) G. Wils;
Diplodia maydis (Berk.) Sacc.; Diplodia macrospora Earle; Fusarium
moniliforme Sheld. (Gibberella fujikuroi Sawada); F. moniliforme
var. subglutinans Wr. & Reink. [Gibberella fujikuroi var. subglutinans
(Edwards)] (Pereira & Pereira, 1976; Balmer & Pereira, 1987; Reis &
Casa, 1996; Pereira, 1997). Esses também são os agentes causais das
podridões de espiga e do colmo (Mac Donald & Chapman, 1997) e,
coincidentemente, são freqüentemente isolados de sementes de milho
(Casa, 1997; Trento, 2000).
São poucas as informações sobre a quantificação de danos e
perdas que as doenças causam às plantas cultivadas no Brasil. Em
17
relação aos danos ou perdas causados pela PBC em milho
encontraram-se apenas os relatos de Nazareno (1989) e Denti (2000).
Não se conhecem ainda, com precisão, os danos causados
individualmente pelas doenças do milho no Brasil. Também são
poucas as informações sobre os efeitos de práticas culturais, como
rotação de culturas, tratamento de sementes, influência da densidade
de plantas sobre as espécies de fungos e reação de cultivares sobre as
PBC.
Entretanto, sejam poucos os trabalhos que quantifiquem a
incidência das podridões radiculares e da base do colmo, aceita-se
como fato verdadeiro que causam danos significativos no rendimento
de grãos.
Este trabalho teve como objetivos: a) estudar o efeito do
tratamento de sementes de milho com fungicidas no vigor e na
germinação de sementes em laboratório, na emergência de plântulas
em câmara de crescimento sob quatro diferentes temperaturas, na
emergência de plântulas e controle das podridões da base do colmo em
milho no campo; b) quantificar a recuperação de Fusarium
moniliforme da semente para os órgãos da plântula; c) quantificar o
papel dos restos culturais da aveia como fonte de inóculo dos fungos
causadores das PBC do milho.
18
2 REVISÃO DE LITERATURA
O milho está sujeito ao ataque de muitos fitopatógenos. As
principais doenças do milho estão relacionadas com a germinação de
sementes, emergência de plântulas e estabelecimento de plantas. Nos
órgãos aéreos têm-se doenças foliares, do colmo e das espigas. Entre
as doenças foliares merecem destaque as ferrugens comum e polisora,
as helmintosporioses (mais comuns), a mancha de feosféria, a
cercosporiose e a mancha de diplódia (Reis & Casa, 1996).
Enfocam-se, nesta revisão, aspectos relativos ao ciclo das
relações patógeno-hospedeiro dos principais fungos infectantes de
sementes e que causam podridões da base do colmo (PBC).
2.1 Podridão de diplodia
Os fungos Diplodia maydis e D. macrospora parasitam plantas
de milho, causando podridão em sementes, morte de plântulas,
podridão de raízes, do colmo, da espiga, e D. macrospora também
causa mancha foliar (Eddins, 1930; Ullstrup, 1964; Marasas & Van
Der Westhuizen, 1979; Smith & White, 1988; Shurtleff, 1992).
2.1.1 Histórico e distribuição geográfica
O fungo D. maydis foi descrito pela primeira vez em 1884
(Saccardo, 1944), nos Estados Unidos, e desde então foi relatado nos
cinco continentes (Sutton & Waterston, 1966a). Marasas & Van Der
Westhuisen (1979) citam o primeiro relato de D. macrospora na
África do Sul, causando manchas foliares e podridões na espiga, hoje
considerada uma das principais doenças da cultura do milho naquele
país (Flett & Wehner, 1991; Bensh, 1995).
19
A distribuição geográfica de D. macrospora parece ser restrita
a regiões com clima tropical a subtropical, em áreas mais quentes e
úmidas (Sutton & Waterston, 1966b; Ram et al., 1973; Marasas &
Van Der Westhuizen, 1979).
2.1.2 Danos
Durante três anos, Michaelson & Christensen (1953)
determinaram a redução do rendimento de milho por causa da
podridão do colmo, chegando a perdas de 9,7% para D. maydis e de
6,8% para Giberella zeae (Schw) Petch; Wilcoxson (1962), durante
três anos de avaliação da podridão do colmo em 16 híbridos
comerciais, verificou danos de até 17%, sendo mais severa quando a
inoculação das plantas processou-se 9-10 semanas antes da colheita.
Redução de 5% no rendimento foi obtida a partir de inoculações no
colmo com D. maydis (Natti & White, 1981).
No Brasil, os trabalhos existentes indicam a ocorrência da
doença e conseqüente redução do rendimento (Ram et al., 1973;
Balmer & Pereira, 1987; Reis & Casa, 1996). De acordo com os
dados de Denti (2000), em avaliações na safra 1997/98, a incidência
média das PBCs foi de 40,9%, e o dano médio, de 678 kg.ha-1 .
2.1.3 Nomenclatura
Sutton (1980), na revisão dos "Coelomycetes", propôs que o
fungo causador da podridão do colmo do milho pode ser incluído no
gênero Stenocarpella Syd..
Embora o termo Stenocarpella seja
ocasionalmente usado (Latterell & Rossi, 1983) para identificar as
espécies D. Maydis e D. macrospora, o gênero Diplodia é preferido
para identificar as espécies em discussão, segundo a lista de "Normas
20
Comuns para Doenças de Plantas" (Committee on Standartization of
Common Names for Plant Diseases, 1985). Por isso, no presente
trabalho é utilizada a designação do gênero como Diplodia.
2.1.4 Etiologia
O fungo D. maydis apresenta picnídios imersos (White, 1999),
globosos, com coloração marrom-escura a preta, diâmetro de 150-300
µm e um ostíolo protuberante papilado. Os conídios são pardo-oliva a
pardos, elípticos, bicelulados, retos a ligeiramente curvados, medindo
15-34 x 5-8 µm, comumente com um septo (0-2) (Sutton &
Waterston, 1966a). Por outro lado, D. macrospora apresenta picnídio
e conídios semelhantes aos de D. maydis, porém seus esporos são 2-3
vezes maiores, medindo 44-82 x 7,5-11,5 µm e apresentando 1-2
septos (1-3) (Sutton & Waterston, 1966b).
2.1.5 Sobrevivência
Os fungos D. maydis e D. macrospora são considerados
agentes necrotróficos, apresentando fase parasitária na planta viva e
fase saprofítica nos tecidos necrosados e restos culturais. Dessa
maneira, o patógeno é encontrado sobrevivendo fora da época de
cultivo como micélio no interior das sementes (McGee, 1988; Casa,
1997) e colonizando raízes, coroa, colmos, bainhas foliares, palha da
espiga, sabugo e grãos, os quais permanecem na lavoura após a
colheita, na forma de micélio e/ou de picnídios (Ullstrup, 1964; Reis
& Casa, 1996).
Os fungos D. maydis e D. macrospora sobrevivem em
sementes de milho na forma de micélio (McGee, 1988; Casa, 1997;
Casa et al., 1998).
21
2.1.6 Hospedeiros
As duas espécies identificadas como D. maydis e D.
macrospora parasitam plantas de milho, e D. maydis também foi
encontrada em bambu Arundinaria sp. (Sutton & Waterston, 1966a).
Segundo Costa Neto (1976), o milho é a única gramínea no estado do
Rio Grande do Sul infectada por essas duas espécies. Possíveis fontes
de inóculo alternativas seriam os hospedeiros secundários, entretanto,
segundo a literatura consultada, somente as plantas de bambu
Arundinaria sp. podem ser parasitadas por D. maydis. Como a
população dessa planta é restrita, limitando-se a pequenos bosques em
determinadas regiões, provavelmente essas tenham pouca importância
como fonte de inóculo (Casa, 1997).
2.1.7 Sintomatologia
Os sintomas de podridão do colmo apresentam características
próprias para cada agente causal incitante da doença, podendo ser
identificada pelos sintomas e frutificações. Porém, a diagnose correta,
no caso de infecção relacionada à espécie de Diplodia, deve ser
realizada observando-se os sinais do fungo (Koehler & Boewe, 1957;
Reis & Casa 1996). Os colmos afetados revelam-se na parte externa
dos internódios, uma alteração na coloração, passando da cor normal
dos tecidos para uma despigmentação, que pode variar de palha a
marrom. Internamente, a medula apresenta-se desintegrada e com cor
alterada, sem que, no entanto, haja desintegração do tecido vascular
(Pereira, 1997; Fernandes & Oliveira, 2000). O patógeno ataca,
geralmente, os internódios inferiores da planta, podendo atacar
22
também os internódios superiores e causar podridão de espiga
(Pereira, 1997; Fernandes & Oliveira, 2000).
Apesar de atacarem todo o colmo, os sintomas são mais
intensos na base, razão pela qual denomina-se, nesta revisão, de
podridões da base do colmo (Reis & Casa, 1996).
2.1.8 Fontes de inóculo
2.1.8.1 Sementes
As sementes infectadas são importante fonte de inóculo. Os
fungos D. maydis e D. macrospora sobrevivem em sementes de milho
na forma de micélio (McGee, 1988; Casa, 1997; Casa et al., 1998).
Como descrito anteriormente, o fungo é responsável por causar
podridão de semente, morte de plântulas, podridão de raízes e PBC.
McGee (1988), estudando as doenças do milho e sua relação
com as sementes, descreveu que D. maydis, por ser veiculado à
semente, pode ser transmitido à plântula. Segundo Casa (1997), D.
macrospora também pode ser transmitido à plântula.
A semente infectada introduz os parasitas na área de cultivo e,
posteriormente, os restos culturais infectados que permanecem na
superfície do solo de uma estação de cultivo para a outra, são
considerados a principal fonte de inóculo para a podridão do colmo
(Ullstrup, 1964; Byrnes & Carrol, 1986; Smith & White, 1988).
A colonização de sementes é um dos principais mecanismos de
disseminação de Diplodia sp. (McGee, 1988; Shurtleff, 1992; Casa,
1997), sendo responsável pela introdução do fungo em novas áreas,
mesmo distantes de seu local de produção, como detectado pelo
serviço de quarentena do Japão em sementes importadas dos Estados
Unidos (Dai et al., 1987).
23
Casa (1997), quantificando a transmissão de D. maydis e D.
macrospora, verificou que, 21 dias após a semeadura, 62% das
plântulas emergidas apresentavam sintomas de necrose nas raízes,
predominando em 96% dos casos uma necrose na ponta da semente,
onde se origina a raiz primária e 12% nas raízes seminais. Aos 35 dias
após a semeadura, em 88,5% das plantas emergidas podia-se observar
sintomas de necrose nas raízes, predominando em quase 100% dessas
a necrose na raiz primária e 10,4% sintomas em mesocótilos.
2.1.9 Restos culturais ou fase saprofítica
O posicionamento da palha sobre o solo torna sua
decomposição mais lenta, favorecendo a esporulação, dispersão e
inoculação do fungo (Reis & Casa, 1996). É por isso que, no sistema
plantio direto sob monocultura, observa-se a maior intensidade da
doença (Nazareno, 1983; Flett & Wehner, 1991; Reis & Casa, 1996;
Fernandes & Oliveira, 2000). O mesmo ocorre normalmente quando
se pratica monocultura aliada ao uso de semente infectada (Ullstrup,
1964; McGee, 1988; Flett & Wehner, 1991; Reis & Casa, 1996).
Provavelmente, a semente introduz esses patógenos na lavoura e a
monocultura mantém o inóculo na palha indefinidamente (Reis &
Casa, 1996; Casa, 1997).
O período de sobrevivência de picnídios de D. maydis é maior
nos restos culturais que permanecem na superfície do solo do que
naqueles enterrados (Flett et al., 1992). Os autores verificaram, 11
meses após a colheita, a produção de 90,6 e 37,9 picnídios/cm2 de
palha e 39,5 e 24,3% de esporos germinados, respectivamente, para os
restos culturais remanescentes na superfície do solo e enterrados.
24
De acordo com os dados de Casa (2000), a decomposição da
palha do milho mantida na superfície do solo foi de 78,5% aos 29
meses de exposição no campo. A presença dos picnídios de D. maydis
e D. macrospora foi detectada até o final das avaliações somente para
os colmos mantidos na superfície do solo. A freqüência de
recuperação dos picnídios diminuiu ao longo do tempo. O isolamento
e a viabilidade dos conídios de D. maydis e D. macrospora dos
colmos mantidos na superfície do solo foi superior a 90% após 320
dias de exposição dos colmos no campo.
Scott (1993) considerou D. maydis e D. macrospora como
fungos de solo, adotando como critério a sobrevivência saprofítica nos
restos culturais. Este autor não considera a necessidade de estruturas
especiais de descanso ou a probabilidade de sobreviverem como
conídios livres um critério para incluir as duas espécies como fungo de
solo.
Tem-se pouco conhecimento sobre a possibilidade de D.
maydis e D. macrospora sobreviverem livres no solo, como conídios
dormentes ou na forma de micélio. Craig & Hooker (1961) infestaram
o solo com D. maydis em casa de vegetação e observaram em estudo
histológico que a infecção do colmo pode se processar a partir de
raízes infectadas, pelo inóculo presente no solo. O inóculo foi obtido
de colônias de D. macrospora com dez dias de idade, presente em
sementes naturalmente infectadas, preparadas em meio de BSA + E
(batata-sacrose-ágar + estreptomicina). Casa (1997), observou a morte
de plantas e sintomas de podridão radicular em milho 21 dias após a
infestação do solo com conídios de D. maydis e D. macrospora.
A liberação do inóculo é mais intensa com clima úmido e
quente, quando os conídios são exsudados dos picnídios, produzidos
25
nos restos culturais, formando cirros longos que são disseminados
pelos respingos de chuva, pelo vento e, provavelmente, pelos insetos
(Smith & White, 1988; Shurtleff, 1992; White, 1999). Casa (2000)
demonstrou que, no patossistema Diplodia sp., não há necessidade de
que ocorram precipitações pluviais ou de que haja presença de água de
irrigação por aspersão sobre os colmos infectados para induzir a
liberação do cirro e posterior dispersão dos conídios. Além do efeito
da radiação solar e da temperatura, a predominância dos ventos
também contribui para dispersar o inóculo dos fungos.
A distância de transporte dos conídios de Diplodia sp. não foi
devidamente quantificada, tendo sido relatado apenas que as maiores
intensidades das podridões do colmo ocorreram naquelas situações em
que as plantas se encontravam próximas da fonte de inóculo (Ullstrup,
1964; Flett et al., 1992).
Casa (2000), em experimentos realizados para quantificar a
distância em que os esporos são dispersos, relata que a maior
quantidade desses foi capturada em armadilhas localizadas próximas
da fonte de inoculo; nas distâncias de 10 a 40 m e de 10 a 20 m dos
resíduos culturais infectados, foram capturados números semelhantes
de esporos de D. maydis e D. macrospora. Os conídios foram
capturados até uma altura de 2 m acima e distantes 120 m da fonte de
inóculo, embora, em ambos experimentos, a freqüência e o número de
esporos coletados tinham sido maiores até 25 cm acima e 20 m
distante da fonte de inóculo.
É uma doença bastante comum nas regiões de cultivo de
milho, mais freqüente em cultivares suscetíveis plantados sob
condições de deficiência hídrica antes da polinização, seguida de
período chuvoso (Pereira, 1997). A deficiência de potássio no solo
26
acarreta aumento da incidência e da severidade da doença (Pereira,
1997; White, 1999).
As podridões do colmo ocorrem a partir do inóculo presente
nas sementes infectadas (McNew, 1937; Casa, 1997), ou das raízes
infectadas por inóculo do solo (Craig & Hooker, 1961), resultando no
progresso do fungo para a base do colmo, deixando claro que a
infecção teve origem nos órgãos abaixo do nível do solo. O fungo
também pode penetrar próximo à coroa ou pelos nós (Saunders, 1930),
causando podridão do colmo. A velocidade de colonização de D.
maydis em colmos inoculados é maior 1-3 semanas após a antese
(Hooker, 1957), sendo inibida em tecidos com células vivas,
predominantemente nos entrenós dos colmos antes da floração.
Latterell & Rossi (1983) observaram que D. macrospora coloniza
mais facilmente colmos.
Eddins (1930), avaliando a freqüência das espécies de
Diplodia em 618 plantas de milho de diferentes localidades do estado
da Flórida, Estados Unidos, observou em exame microscópico os
conídios do fungo, verificando que 80,3% dos colmos estavam
infectados por D. maydis, 16,5%, por D. macrospora e 3,2%, por D.
frumenti. Ocasionalmente, alguns colmos apresentaram os picnídios
de duas espécies de Diplodia e, em alguns poucos casos, a presença
das três espécies. Koehler & Boewe (1957), examinando colmos de
milho infectados de 1946 a 1948 no estado de Illinois, Estados
Unidos, verificaram que a percentagem média de infecção para D.
maydis foi de 31%.
27
2.1.10 Medidas gerais de controle
As principais estratégias de controle das doenças causadas por
D. maydis e D. macrospora são: resistência varietal, rotação de
culturas, tratamento de sementes, balanço adequado de fertilidade do
solo e população adequada de plantas (Saunders, 1930; Balmer &
Pereira, 1987; Smith & White, 1988; Shurtleff, 1992; Reis & Casa,
1996; Reis & Casa, 2000).
A resistência genética de plantas de milho a Diplodia sp. e
Fusarium sp. vem sendo investigada há décadas em diversas partes do
mundo (Koehler, 1951; Anderson & White, 1994). Com relação à
natureza da resistência, foi observado que a prevenção da polinização
ou a eliminação das espigas aumentavam a resistência das plantas às
podridões do colmo, quando este era inoculado artificialmente, e,
também, que este permanecia verde até próximo à época da colheita
(Koehler, 1959). Por outro lado, colmos de plantas com duas espigas
eram mais suscetíveis à inoculação artificial e à infecção natural que
aquele de plantas portadoras de uma só espiga (Sayere, 1931 apud
Severo, 1999). Por sua vez, Koehler (1959) atribuiu a senescência dos
tecidos à translocação de elementos do colmo para as espigas. No caso
do milho, a busca da resistência é tarefa difícil para patógenos
causadores de podridões do colmo.
A suscetibilidade de plantas de milho a D. maydis é maior em
plantas jovens, porém, em colmos, a infecção é maior algumas
semanas após a polinização. Outras fontes predisponentes à infecção
de Diplodia sp. e que podem alterar a suscetibilidade do híbrido
incluem alto nível de N e baixo de K, alta densidade de plantas e perda
da área foliar por causa de outras doenças, de granizo ou de danos por
insetos (Smith & White, 1988; Shurtleff, 1992).
28
O tratamento de sementes com fungicidas tem como objetivos
controlar fungos associados à semente e protegê-las contra aqueles do
solo de modo a erradicá-los ou reduzi-los abaixo do limiar de
transmissão, evitando a introdução e/ou aumento da intensidade das
doenças no campo, principalmente das podridões da base do colmo.
(Lasca, 1986; Pereira, 1986; Casa et al., 1995; Casa, 1997; Reis &
Casa, 2000). Em milho, para D. maydis e D. macrospora somente há a
comprovação da transmissão, sem quantificá-la (McGee, 1988; Casa,
1997). Mesmo conhecendo a associação e transmissão de D. maydis e
D. macrospora à semente, é fundamental quantificar a taxa de
transmissão para esclarecer o papel epidemiológico das sementes.
Dessa maneira, quando se conhece a transmissão de um
patógeno da semente para a plântula, sendo responsável, em alguns
casos, por causar epidemia logo nos primeiros estádios de crescimento
da cultura, medidas de erradicação devem ser estabelecidas. A
epidemia, em geral, inicia-se a partir de uma planta infectada, fonte de
inóculo primário, levando a que os ciclos secundários atinjam as
demais plantas. Neste caso, é essencial conhecer os mecanismos de
dispersão (Maffia et al., 1988), a partir do que poderão ser atribuídos
níveis de tolerância para patógenos em sementes.
Segundo Depresch (1985), a rotação de culturas é a alternância
ordenada de diferentes espécies de plantas num espaço de tempo na
mesma lavoura, obedecendo a finalidades definidas; a espécie vegetal
não é repetida no mesmo lugar com intervalo menor que dois e, se
possível, três ou mais anos. Para Reis & Casa (1996), a rotação de
culturas do ponto de vista fitopatológico, consiste em não plantar a
mesma espécie vegetal na mesma área da lavoura todos os anos até
que ocorra a completa decomposição de seus tecidos ou restos
29
culturais e, conseqüentemente, a redução de alguns patógenos
necrotróficos na área.
Como o fungo Diplodia sp. infecta sobretudo plantas de milho,
a rotação de culturas com espécies não suscetíveis é uma prática eficaz
para seu controle (Shurtleff, 1992).
2.2 Podridão de Fusarium
2.2.1 Introdução
As espécies de Fusarium constituem-se num importante
conjunto de fungos patogênicos à cultura.
As duas espécies, F.
moniliforme e F. graminearum, atacam sementes, plântulas, a base do
colmo e as espigas (Shurtleff, 1992).
2.2.2 Descrição e ocorrência da espécie
O fungo F. moniliforme é o fungo do milho mais comumente
encontrado associado ao apodrecimento de sementes podendo
interferir na qualidade fisiológica da semente e prejudicar o estande da
lavoura (Goulart & Fialho, 1999), porém a literatura cita que esta não
deve ser uma fonte de inóculo tão importante ao desenvolvimento da
doença como aquela presente no solo (Shurtleff, 1973).
2.2.3 Etiologia
Os macroconídios de F. moniliforme são raros, hialinos,
medindo de 2,4 - 4,9 x 15 - 60 µm, curvados nas extremidades, com 3
- 7 septos; os microconídios são abundantes, medindo 2-3 x 5-12 µm
(Shurtleff, 1973). Muitos isolados do fungo – F. graminearum produzem
clamidosporos
(White,
1999),
ao
contrário
de
F.moniliforme (Denti, 2000). Neste trabalho, utiliza-se a terminologia
30
Fusarium moniliforme, embora Munkvold & O’Mara (2002) optem
por F. verticillioides.
Os
peritécios
de
Gibberella
fujikuroi
(anamorfo
F.
moniliforme) são globosos, lisos e com coloração azul-escura. As
ascas são oblongas, medindo 75-100 x 10-16 µm, contendo oito
ascósporos, que são retos, afinados nas extremidades, com constrição
nos septos, normalmente com um septo, medindo 4,5-7,0 x 12-17 µm
e arranjados em duas fileiras irregulares (Pereira, 1997). A forma
teleomórfica G. fujikuroi ainda não foi relatada no Brasil para a
cultura do milho (Denti, 2000).
2.2.4 Sobrevivência
As podridões causadas por Gibberella zeae (anamorfo
Fusarium graminearum) são comuns e, de acordo com White (1999),
aumentadas quando as plantas são expostas a condições de estresse.
Sobrevivem em condições adversas nos peritécios presentes em restos
culturais, e em hospedeiros secundários, como milhã [Digitaria
sanguinalis L. (Scop.)], papuã [Brachiaria plantaginea L. (Hitche)],
capim-arroz (Echinocloa sp.) e paspalo (Paspalum sp.) (Denti, 2000),
ou por longo tempo em sementes de milho, arroz, trigo, cevada, aveia,
centeio e outras gramíneas (Denti, 2000). Produzem ascosporos, cujaa
disseminação ocorre pelo vento e podem infectar plantas jovens de
milho (White, 1999).
Para Booth (1971), o fungo F. moniliforme não forma
clamidosporos e os peritécios de G. fujikuroi somente ocorrem em
restos culturais.
31
2.2.5 Hospedeiros
No tocante à especificidade para hospedeiros, as espécies de
Fusarium sp. e suas formas perfeitas, patogênicas ao milho, podem ter
como hospedeiros uma série de plantas pertencentes a diferentes
famílias (Booth, 1971).
Como exemplo, podem-se citar, além da
aveia, trigo e cevada, o que causa a giberela em cereais de inverno
(Reis & Casa, 1996), milho, centeio e outras gramíneas (Balmer &
Pereira, 1987; Reis, 1990; Shurtleff, 1992).
Os hospedeiros de F. moniliforme, segundo Booth (1971), são
arroz, cana-de-açúcar, milho e sorgo.
Segundo Reis (1988), encontraram-se peritécios de G. zeae
(anamorfo F. graminearum) sob condições naturais em tecidos
senescidos ou mortos nas seguintes espécies vegetais: Andropogon
bicornis L., Avena strigosa Schreb., Botriochloa sp., Brachiaria
plantaginea (LK) Hitch, Bromus catharticus Vahl., Cortadeira
selloana, Digitaria sanguinalis (L.) Scop., D. ciliaris (Letz.) Koel.,
Lolium multiflorum Lam.; Oryza sativa L., Pannicum maximum Jacq.,
Paspalum dilatatum Poir., P. notatum Fluegge, P. urvillei Steud.,
Pennisetum clandestinum Chiov., P. purpureum Schumach., Sorghum
halepense (L.) Pers. e S. vulgare L..
2.2.6 Sintomatologia
Geralmente, a PBC é um problema que ocorre em plantas
maduras. As altas incidências das PBCs são comuns quando as
condições são favoráveis à maturação precoce das plantas (Partridge,
1997b). Uma descoloração branco-rosada a rosa-salmão da medula, a
quebra do colmo e a maturação prematura são sintomas comuns desta
32
doença causada por F. moniliforme (Reis & Casa, 1996; Partridge,
1997b; White, 1999; Fernandes & Oliveira, 2000).
Os sintomas das podridões da base do colmo surgem muito
cedo, quando são observadas plantas murchas na lavoura. Plantas
infectadas por Fusarium graminearum apresentam desenvolvimento
de coloração rósea na região vascular quando há produção de esporos.
Esses sintomas são mais bem observados quando é feito um corte
longitudinal no colmo (Partridge, 1997b).
2.2.7 Fontes de inóculo
2.2.7.1 Restos culturais
O fungo sobrevive em restos culturais como saprófita (White,
1999). Em condições favoráveis, pode infectar raízes ou colmos
diretamente, ou através de ferimentos causados por granizo, insetos e
nematóides (Reis, & Casa, 1996; Fernandes & Oliveira, 2000).
O fungo F. graminearum sobrevive em restos culturais, em
sementes de arroz, milho, trigo, cevada, aveia, centeio e outras
gramíneas (Balmer & Pereira, 1987; Reis, 1990; Shurtleff, 1992).
2.2.8 Medidas gerais de controle
Como medidas de controle tem-se o uso de cultivares
resistentes ao tombamento. Tratamento de sementes, adubação
equilibrada principalmente com potássio, densidade de plantio
adequada e colheita na hora apropriada minimizam os danos
provocados pela doença, (Pereira, 1997; Partridge, 1997b; Goulart &
Fialho, 1999; Fernandes & Oliveira, 2000).
33
2.2.9 Manejo da cultura
Na cultura do milho é fundamental a obtenção de populações
dentro das recomendações para cada cultivar, uma vez que a
população de plantas está diretamente associada com o potencial de
rendimento (Goulart & Fialho, 1999; Fernandes & Oliveira, 2000).
2.3 Antracnose
2.3.1 Introdução
Em algumas safras agrícolas, o fungo C. graminicola é o
principal patógeno associado às PBC do milho no Sul do Brasil
(Denti, 2000). Esta espécie tem sido citada como patógeno secundário
em cereais de inverno, como, por exemplo, a aveia (Clifford, 1995), o
sorgo e o trigo (Partridge, 1997a).
2.3.2 Nomenclatura
A podridão do colmo causada por Colletotrichum graminicola
(Ces) G. W. Wils. (teleomorfo Glomerella graminicola Politis),
também chamada de “antracnose”, difere das podridões causadas por
Diplodia sp. e Fusarium sp. pela possibilidade de sua ocorrência em
qualquer fase de desenvolvimento (Pereira, 1997), além de infectar
qualquer parte da planta em diferentes estádios de desenvolvimento
(Munkvold, 2000).
2.3.3 Sistemática
O agente causal C. graminicola apresenta acérvulos castanhoescuros, produzidos abundantemente em tecidos mortos (White,
1999), com conidióforos curtos, eretos, hialinos, não-septados e não
ramificados. Os conídios, hialinos, não septados, cilíndricos,
34
falciformes, medindo de 4,9-5,2 x 26,1-30,8 µm, são produzidos na
extremidade dos conidióforos (Pereira, 1997) e necessitam de água
livre para que sejam disseminados e germinem. Geralmente, as células
dos acérvulos desenvolvem setas, apresentando-se de coloração
marrom, pequenas na base e asseptadas.
2.3.4 Hospedeiros
O fungo apresenta vários hospedeiros, dentre os quais se pode
citar o sorgo, o trigo e a aveia (Partridge, 1997a), além da alfafa,
trevo-vermelho, trevo-doce e soja (Mordue, 1967).
2.3.5 Sintomatologia
No colmo, os sintomas surgem na superfície do colmo, abaixo
do primeiro entrenó logo após a polinização, na forma de lesões
estreitas, encharcadas, inicialmente de coloração pardo-avermelhada,
passando a castanho-escura ou preta com o decorrer do tempo
(Shurtleff, 1973; Pereira, 1997; Partridge, 1997a; Fernandes &
Oliveira, 2000).
O fungo C. graminicola produz uma gama de diferentes
sintomas em plantas de milho.
A podridão da base do colmo, fase da antracnose em que
surgem sintomas externos e internos, pode ocorrer durante a fase de
crescimento, mas os sintomas, na maioria das vezes surgem após a
floração (Partridge, 1997a).
2.3.6 Fonte de inóculo
A origem do inóculo são os restos culturais presentes no solo
de uma estação de cultivo para outra, ou em colmos, podendo o fungo
35
entrar nos tecidos da haste diretamente através de ferimentos
provocados por insetos (Partridge, 1997a) e em sementes (Fernandes
& Oliveira, 2000). No Sul do Brasil, talvez as principais fontes de
inóculo sejam os restos culturais de cereais de inverno e de azevém
quando o milho for estabelecido em semeadura direta sobre esses
restos culturais.
Sobrevive como saprófita em resíduos de milho (White, 1999).
De acordo com Pinto (1998), as sementes de milho estão
sujeitas a danos por fungos no campo de produção de sementes,
durante o período de armazenamento e por aqueles que estão presentes
no solo. As sementes podem ser infestadas ou infectadas por fungos
de campo ou armazenamento; na infestação, os fungos localizam-se
externamente, na superfície das sementes; na infecção, localizam-se
nos tecidos internos, ou seja, no endosperma e embrião.
Segundo McGee (1988) e Pinto (1998), as sementes infectadas
apresentam manchas escuras e acérvulos podem estar presentes, sendo
a reduzida a germinação no campo (Warren & Nicholson, 1975).
O fungo C. graminicola está ocasionalmente presente em
sementes, porém em níveis que não comprometem sua qualidade
fisiológica (Pinto, 1998).
2.3.7 Medidas gerais de controle
Segundo Shurtleff (1973) e Munkvold (2000), o uso de
híbridos ou de variedades resistentes, a rotação de culturas com
espécies não suscetíveis, fertilidade e umidade adequada no solo, além
do controle de insetos são consideradas medidas de controle para o
fungo.
36
Em virtude da sobrevivência dos fungos nos restos culturais
sobre a superfície do solo (Vizvary & Warren, 1974), a doença pode
ocorrer quando o cultivo mínimo é praticado (Nicholson, 1975). O
manejo convencional ou a rotação de culturas é recomendado para o
controle da doença em campos onde a antracnose tenha sido um
problema durante a estação anterior de cultivo.
O sistema de rotação de culturas, que do ponto de vista da
fitopatologia, consiste em não semear a mesma espécie vegetal na
mesma área da lavoura e na mesma estação de cultivo até que ocorra a
completa decomposição de seus restos culturais, os quais se
constituem como fonte de inóculo para os patógenos necrotróficos
(Reis & Casa, 1996), é considerado um meio eficiente no controle
deste fungo.
2.3.8 Condições predisponentes
A antracnose geralmente é favorecida por altas temperaturas, e
extensos períodos de alta umidade (White, 1999). Em condições de
saturação do solo, o efeito das podridões radiculares é dificultado pela
à deficiência de oxigênio e pelo pequeno desenvolvimento das raízes,
sintomas esses mais confiáveis para diagnose de podridões radiculares
(Munkvold, 2000).
2.3.9 Tratamento de sementes
O tratamento erradicativo das sementes com fungicidas (Reis
et al., 1995; Casa, 1997), associado à rotação de culturas, age
diretamente sobre a fonte de inóculo, constituindo estratégia
fundamental para o controle da doença.
37
2.4 Murcha de Cefalosporium
2.4.1 Etiologia
O fungo Cephalosporium sp. apresenta esporos hialinos,
unicelulares, elípticos ou oblongos, retos ou curvos, produzidos em
matriz mucilaginosa no ápice de conidióforos curtos. Os conidióforos
são septados; as hifas são septadas, muito ramificadas e um pouco
elevadas (Shurtleff, 1980).
2.4.2 Sobrevivência
De acordo com Shurtleff (1980 apud Trento, 2000), o fungo é
habitante natural do solo, podendo também estar associado às
sementes de milho (Pinto, 1998).
2.4.3 Sintomatologia
Os sintomas apresentados pelo fungo Cephalosporium sp. são
manchas no pericarpo e listras de coloração branca sobre os grãos
(Mac Donald & Chapman, 1997).
2.4.4 Deposição e sítios de infecção
A partir de inóculo presente no solo, Shurtleff (1980) constatou
que raízes e mesocótilos de plântulas podem ser infectadas por
Cephalosporium sp., podendo também haver infecção das espigas via
estigma (Koehler, 1942; Trento, 2000).
2.4.5 Tratamento de sementes
O tratamento de sementes com fungicidas tem como objetivos
controlar fungos associados à semente e protegê-las contra aqueles do
38
solo de modo a erradicar ou reduzir, abaixo do limiar de transmissão,
evitando a introdução e/ou aumento da intensidade das doenças no
campo, principalmente as podridões da base do colmo (Lasca, 1986;
Pereira, 1986; Casa et al., 1995; Casa, 1997; Reis & Casa, 2000).
Satyanarayana & Begum (1996) obtiveram controle de
Cephalosporium sp. com a utilização dos fungicidas carbendazim e
captam em tratamento de sementes.
CAPÍTULO I
39
QUANTIFICAÇÃO DA TRANSMISSÃO DE Fusarium
moniliforme DE SEMENTES PARA PLÂNTULAS DE MILHO
Andrea Flavia Sartori, Erlei Melo Reis & Ricardo Trezzi Casa
Universidade de Passo Fundo
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária
C.P. 611, 99001-970.
Passo Fundo, RS.
________________________________________________________
RESUMO
O fungo Fusarium moniliforme (sin. F. verticillioides) é o
principal patógeno associado a sementes de milho no Brasil. O fungo
pode ser introduzido pelas sementes em áreas isentas, causando
deterioração de sementes, morte de plântulas, podridão radicular, do
colmo e da espiga. Com o objetivo de quantificar sua transmissão para
as plântulas de milho, foi conduzido um experimento em casa-devegetação na FAMV/UPF utilizando-se sementes do híbrido AG-9020
sem tratamento com fungicida e com incidência natural média de
46%. Realizou-se a semeadura em 04/09/2001, em caixas de madeira
contendo substrato isento do fungo constituído pela mistura de solo de
horizonte “B”, areia grossa e vermiculita na proporção de 3:1:1. As
avaliações do número de plantas emersas e a transmissão do fungo
foram realizadas aos 15, 30 e 45 dias após a semeadura. Em cada
época, coletaram-se, ao acaso, 200 plântulas. As plantas foram lavadas
40
e trazidas ao laboratório. De cada planta destacou-se o tegumento
remanescente da semente, a raiz primária, o entrenó subcoronal, o
coleóptilo e a base das folhas. Após, realizou-se a assepsia do material
em hipoclorito de sódio (1%) por três minutos, seguido de lavagem
com água esterilizada e plaqueamento em meio ¼ de batata-sacaroseágar. Os resultados indicaram que o fungo foi detectado em todos os
órgãos da plântula isolados e nas três épocas de avaliação.
O
percentual médio de transmissão foi de 46,1; 34,9; 23,6; 7,2 e 14,6%,
respectivamente, para o tegumento remanescente da semente, raiz
primária, entrenó subcoronal, coleóptilo e base das folhas.
Palavras-chave: fonte de inóculo, patologia de semente, Zea mays.
________________________________________________________
SUMMARY
TRANSMISSION OF Fusarium moniliforme FROM SEEDS TO
CORN SEEDLINGS
The fungus Fusarium moniliforme (sin. F. verticillioides) is the
principal pathogen associated to corn seed in Brazil. The fungus may
be introduced to new free pathogen growing areas causing seed decay,
seedling blight, root rot, stalk and ear rot. This experiment was carried
out in greenhouse at FAMV/UPF using seed of corn hybrid AG-9020
with and without seed treatment and with a fungus incidence of 46%
with the goal to quantify the fungus transmission from seeds to
seedlings. Seeding was performed on September 9th, 2001, in
aluminum trays and a wooden frame containing as substratum free
41
from the fungus. Substratum was a mixture of soil horizon “B”, course
sand and vermiculite in the proportion 3:1:1. Number of emerged
seedlings and fungus transmission were counted and evaluated on 15,
30 and 45 days after sowing. At each time, 200 seedlings were
randomly sampled. Seedlings were washed and taken to the
laboratory. From each seedling remained seed husk, seminal roots,
subcrown internode, coleoptyle and leaf base tissues were detached.
Tissues desinfestation with 50 % sodium hipochloride (2%) for three
minutes, followed by rinsing with steril water were performed and
plated on potato sucrose agar. Results pointed out that the fungus was
detected in the isolation in al seedling parts and in the three sampling
times. Mean percentage of transmission was 46,1; 34,9; 23,6; 7,2 and
14,6% respectively for remaining seed tegument, seminal roots,
subcrown internode, coleoptyle and leaves bases.
Key words: Seed pathology, Zea mays,
________________________________________________________
INTRODUÇÃO
A cultura do milho (Zea mays L.) tem um grande papel
econômico e social no país ocupando uma área cultivada, na safra
2002/03, no Brasil em torno de 9,382 milhões de hectares e, no Rio
Grande do Sul, de 1.401.600 hectares. O rendimento médio no Brasil
é de 3.290 kg.ha-1 e, no estado do RS, de 3.500 kg.ha-1 (Conab, 2003).
Segundo Barba (2001), a grande maioria dos parasitas
necrotróficos utiliza-se da semente como veículo de disseminação,
abrigo e meio de sobrevivência.
42
Alguns autores afirmam que a semente infectada introduz os
parasitas necrotróficos nas áreas de cultivo (Reis & Casa, 1996; Pinto,
1996; Zambolim et al., 2000). Por essa razão, são consideradas
importantes fontes de inóculo (Maude, 1988), podendo interferir na
densidade populacional e no rendimento de grãos, por causar podridão
de sementes, morte de plântulas, podridão de raízes e da base do
colmo (Shurtleff, 1992; Reis & Casa, 1996; Casa et al., 1998; White,
1999).
No Brasil, os principais fungos patogênicos veiculados pelas
sementes de milho são Fusarium moniliforme (Sheld.), Diplodia
maydis (Berk.) Sacc. e F. graminearum Schwabe (Tanaka & Balmer,
1980; Gomes et al., 1981; Luz, 1997). Dentre os patógenos associados
às sementes, o fungo F. moniliforme [sin. F. verticillioides (Sacc.)
Nirenberg] é o mais comumente encontrado (Reis et al., 1995; Pinto,
1996; Reis & Casa, 1996; Dodd & White, 1999). Deve-se ressaltar
que os fungos F. moniliforme, F. graminearum, Diplodia maydis e D.
macrospora causam podridões da base do colmo e podridões de
espiga (Munkvold & Martinson, 1997; White, 1999). As podridões da
base do colmo são consideradas as doenças mais importantes à cultura
do milho em razão dos danos que causam. Para seu controle, dever-seia procurar eliminar ou reduzir o inóculo nas suas principais fontes, ou
seja, em sementes e restos culturais.
Muitos fungos associados às sementes de milho podem ser
transmitidos às plântulas (McGee, 1988; Casa, 2000). Porém, a taxa
de transmissão, por exemplo, de F. moniliforme, mesmo com as
sementes apresentando altas incidências deste fungo, ainda não foi
quantificada.
43
O objetivo principal deste trabalho foi quantificar a
transmissão do fungo das sementes para diferentes órgãos das
plântulas de milho: tegumento remanescente da semente, raiz
primária, entrenó subcoronal, coleóptilo e a base das folhas.
MATERIAL E MÉTODOS
Esta ação de pesquisa foi realizada em laboratório e em
casa-de-vegetação na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária
da Universidade de Passo Fundo, FAMV/UPF, nos meses de setembro
e outubro de 2001.
Utilizaram-se sementes do híbrido AG-9020, com uma
incidência natural de F. moniliforme de 46%, sem ter recebido
tratamento com fungicidas. Realizou-se a semeadura em 04/09/2001,
em 12 recipientes de 41cm de comprimento x 28 cm de largura x 10
cm de altura, encaixados em bandejas de alumínio de 46 cm de
comprimento x 31 cm de largura x 5 cm de altura, contendo substrato
isento do fungo constituído pela mistura de solo de horizonte “B”,
areia grossa e vermiculita, na proporção de 3:1:1. Em cada recipiente
semearam-se 50 sementes. O substrato foi umedecido com água 24
horas antes de se efetuar a semeadura com água da torneira.
Realizaram-se, no substrato de cada caixa, 50 orifícios de 5 cm de
profundidade e 0,7 cm de diâmetro com um bastão de vidro, em cada
um dos quais foi colocada uma semente. A umidade do solo foi
mantida na capacidade de campo e a irrigação foi feita por absorção
de água pelo substrato através da lateral da bandeja.
Foram
preparados 12 recipientes de modo a proceder-se às avaliações em três
épocas.
44
Em cada época, aos 15, 30 e 45 dias após a semeadura,
coletaram-se ao acaso 200 plântulas. A retirada das plântulas do solo
foi realizada cuidadosamente, de modo a não danificar seus órgãos. As
plântulas foram lavadas em água corrente para retirada do excesso de
solo aderido ao sistema radicular e levadas ao laboratório. De cada
planta destacaram-se o tegumento remanescente da semente, a raiz
primária, o entrenó subcoronal, o coleóptilo e a base das folhas. Após,
realizou-se a assepsia do material em hipoclorito de sódio (1%) por
três minutos, seguido de lavagem com água esterilizada. Os tecidos
vegetais foram plaqueados em placas de Petri plástica (previamente
esterilizadas com aldeído fórmico, durante 72 horas), com 8,5 cm de
diâmetro, contendo meio de cultura ¼ de BSA (50 g de batata, 5 g de
sacarose e 15 g de ágar para cada litro de meio de cultura), acrescido
de antibiótico (sulfato de estreptomicina 0,02 g em 50 ml de água
destilada-esterilizada) após autoclavagem e quando o meio de cultura
encontrava-se à temperatura de aproximadamente 50 ºC. O material
foi incubado durante nove dias em câmara de crescimento a
temperatura de 25 oC
2 oC e fotoperíodo de 12 horas. Considerou-se
infectado o órgão onde foi possível identificar a colônia e/ou
estruturas do fungo sob lupa binocular (Zeiss com aumento de 50x).
Os dados foram expressos em percentagem de transmissão do
fungo da semente para cada órgão em função da incidência do fungo
na semente e da incidência no órgão ou tecido em função do tempo
após a semeadura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
45
Conforme a Tabela 1, o fungo F. moniliforme foi detectado,
através dos isolamentos, em todos os órgãos das plântulas e nas três
épocas de avaliação.
O percentual médio de transmissão nas três épocas foi de 46,1;
34,9; 23,6; 7,2 e 14,6 %, respectivamente, para o tegumento
remanescente da semente, raiz primária, entrenó subcoronal,
coleóptilo e base das folhas.
Tabela 1. Recuperação da transmissão (%) de Fusarium moniliforme e
para plântulas de milho aos 15, 30 e 45 dias após a
semeadura
Dias após a
semeadura
Tegumento
15
30
45
Média
56,9
19,2
62,3
46,1
Incidência (%)
Raiz
Entrenó Coleóptil
primária subcorona
o
l
55,4
23,1
6,15
26,2
26,9
6,92
23,1
20,8
8,5
34,9
23,6
7,2
Base
das
folhas
3,07
16,9
23,8
14,6
A semente pode ser fonte de inóculo para as PBC (Reis & Casa,
1996; Pinto, 1996; Zambolim et al., 2000), porém, para se demonstrar
isso, as plantas deveriam ser conduzidas até o final do ciclo, o que não
foi feito no presente trabalho. Sendo a semente fonte de inóculo,
dever-se-ia controlar o fungo com fungicidas. Por outro lado, como F.
moniliforme ataca vários hospedeiros, como, por exemplo, arroz,
cana-de-açúcar e sorgo, além do milho (Booth, 1971), deve ter outras
fontes de inóculo. No presente trabalho deu-se o primeiro passo nessa
direção e, numa segunda etapa, dever-se-á conduzir o trabalho até o
estádio de plantas adultas, avaliando-se as PBC.
46
Detectou-se a presença do fungo em órgãos radiculares o que
poderia causar podridão radicular e PBC. Diversos autores têm citado
que F. moniliforme causa podridão radicular em milho (Reis & Casa,
1996; Dodd & White, 1999; Fernandes & Oliveira, 2000).
Logicamente, pela evolução da doença, crescimento do micélio,
colonizando os tecidos radiculares, atingirá o entrenó subcoronal, a
coroa e os primeiros nós do colmo. Nessa fase, a descoloração ocorre
próxima à maturação fisiológica da cultura e a doença recebe o nome
comum de podridão da base do colmo.
O fungo F. moniliforme pode, saprofiticamente, manter-se no
tegumento remanescente das sementes, pois se trata de um fungo de
solo como descrito por (Booth, 1971), pois sobrevive em restos
culturais.
À semelhança do que se demonstrou com a transmissão de F.
moniliforme, o mesmo deve ocorrer com D. maydis, D. macrospora e
F. graminearum. Casa (1997) mostrou essa possibilidade para D.
maydis.
47
CAPÍTULO II
EFEITOS DE TEMPERATURA E DO TRATAMENTO DE
SEMENTES SOBRE A EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS DE
MILHO
Andrea Flavia Sartori, Erlei Melo Reis & Ricardo Trezzi Casa
Universidade de Passo Fundo
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária
C.P. 611, 99001-970
Passo Fundo, RS
________________________________________________________
RESUMO
Em experimentos conduzidos em câmara de crescimento,
estudou-se o efeito de quatro temperaturas do solo (15, 18, 21 e 24 oC)
e de dez tratamentos de sementes com fungicidas sobre a emergência
de plântulas de milho. Utilizou-se uma amostra de sementes de milho
DKB-909. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos
inteiramente casualizados. Os resultados mostraram que houve efeito
da temperatura na velocidade de emergência. Também se demonstrou
o efeito de alguns fungicidas em assegurar a germinação e a
emergência de sementes e de plântulas de milho, mesmo em condições
de temperatura de 15 oC e de solo úmido. Portanto, o tratamento de
sementes de milho com fungicidas pode garantir a emergência de
48
plântulas em solo frio e úmido, como ocorre nas semeaduras de agosto
e setembro nos planaltos do Sul do Brasil.
Palavras-chave: Zea mays, patologia sementes.
SUMMARY
EFFECT OF TEMPERATURE AND SEED TREATMENT
WITH FUNGICIDES ON CORN SEEDLING EMERGENCE
In experiments carried out in growth chamber the effects of
four temperatures (15, 18, 21 and 24 oC) and ten different fungicides
seed treatments on seedling emergence of one corn seed samples.
Seedling speed emergence through counts done every two days up to
emergence stabilization were evaluated. Experimental design was a
complete randomized treatments. Results showed that there was a
temperature effect on seedling emergence. It was also demonstrated
the effect of some fungicide treatments to ensure seedling emergence
even under temperature of 15 oC and moist soil. Therefore corn seeds
treated with some fungicide mixtures may support germination and
ensure seedling emergence in cold and wet soil as it happen when
growers seed corn in August and September in Southern Brazil.
Key words: Zea mays, seed pathology.
________________________________________________________
INTRODUÇÃO
O milho (Zea mays L.) é um dos cereais mais importantes no
segmento produtivo agropecuário, tendo a sua produção concentrada
49
nas regiões Sul e Centro-Sul, que respondem por, aproximadamente,
90% da produção nacional. A área cultivada com milho nos estados do
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul é de, aproximadamente,
3,68 milhões de hectares (Indicações, 2001; Conab, 2003).
O aumento no rendimento de grãos tem sido a meta dos
melhoristas,
fitopatologistas,
entomologistas,
fitotecnistas
e
produtores de milho. No entanto, esse aumento está na dependência de
vários fatores, como o potencial produtivo do genótipo, a fertilidade
do solo, a densidade adequada de plantas, o sistema de cultivo
(rotação ou monocultura), o manejo de pragas e doenças e as
condições ambientais. Entre esses fatores, a incidência e os danos
causados por agentes bióticos, em especial os que estão relacionados
às doenças que causam as podridões da base do colmo (PBC) do
milho, merecem destaque pelos seus reflexos econômicos.
A literatura nacional cita como os principais fungos associados
à semente de milho no Brasil: Diplodia maydis (Berk) Sacc, D.
macrospora Earle, Fusarium graminearum Schwabe (Gibberella zeae
Schw.) Petch, F. moniliforme Sheld. (Gibberella fujikuroi Sawada) e
F. moniliforme var. subglutinans Wr. & Reink. (Gibberella fujikuroi
var. subglutinans (Edwards) (Pereira & Pereira, 1976; Balmer &
Pereira, 1987; Reis & Casa, 1996; Pereira, 1997). Coincidentemente,
esses são os mesmos fungos citados como associados a sementes de
milho (Casa, 1997).
Pesquisadores,
assistentes
técnicos
e
produtores
estão
preocupados com as reduções da população de plantas em lavouras de
milho e buscam estratégias para o seu controle.
O milho é uma cultura na qual o rendimento está diretamente
relacionado com a população de plantas (Reis et al., 1995). Diversos
50
fatores são apontados para reduzir a germinação, emergência e
estabelecimento de plantas de milho (Reis & Casa, 2000; Casa et al.,
2000). Entre esses, merecem destaque o teor de água e a temperatura
no solo, a qualidade sanitária das sementes, pragas e danos mecânicos
nas sementes (Severo, 1999; Casa et al., 2000).
Um fato que merece destaque é que, no Sul do Brasil, os
produtores procuram semear o milho nos meses de agosto e setembro,
com o solo frio e úmido, de modo a evitarem o florescimento da
cultura nos períodos de escassez hídrica, que comumente ocorre nos
meses de janeiro e fevereiro. Isso tem levado ao agravamento dos
problemas de germinação, emergência e estabelecimento de plantas de
milho. Tem sido investigada a possibilidade de garantir-se o
estabelecimento de plantas de milho sob essas condições adversas.
Uma dessas possibilidades é o tratamento de sementes com
fungicidas. Diversos trabalhos têm mostrado essa possibilidade com
fungicidas utilizados em mistura como captam+tiabendazol (Reis et
al., 1995; Casa et al. 1995; Casa, 1997).
A hipótese formulada neste trabalho é de que os fungos
veiculados pela semente e os presentes no solo são responsáveis pela
baixa população de plantas em lavouras sob condições de solo frio e
úmido e que esses inconvenientes podem ser parcialmente reduzidos
pelo tratamento de sementes com fungicidas e doses eficientes, de tal
maneira a maximizar a emergência de plântulas de milho.
Este trabalho teve por objetivo estudar as interações entre
temperaturas do substrato com o tratamento de sementes com
fungicidas
sobre
a
emergência
de
plântulas,
principalmente
comparando fungicidas e ou misturas tradicionalmente usadas com os
novos produtos e misturas disponíveis no mercado.
51
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos em câmara de crescimento
na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UPF
(FAMV/UPF).
A câmara de crescimento, de 3,85 m de comprimento x 2,60 m
de largura x 2,67 m de altura, tem controle de temperatura e de
fotoperíodo. Foram conduzidos quatro ensaios separados nas
temperaturas de 15, 18, 21 e 24 oC. A iluminação foi fornecida por
lâmpadas do tipo Grolux 40 W, distanciadas 60 cm da superfície do
substrato com fotoperíodo de 12 horas.
Utilizou-se uma amostra de semente do híbrido DKB-909,
tratadas a 1% de umidade. Utilizou-se uma amostra (A1) de sementes
do milho híbrido DKB-909, que apresentavam poder germinativo e
vigor diferentes, cedidas pela empresa Monsanto do Brasil Ltda.
Trata-se de um híbrido simples, de ciclo superprecoce, com plantas
atingindo 2,10 m de altura e inserção de espiga a 1,10 m, grãos
alaranjados, do tipo duro; como limitações, apresenta sensibilidade ao
tombamento e exigência em fertilidade.
As sementes foram colocadas em sacos plásticos com os
fungicidas isoladamente, ou em misturas (Tabela 1), para haver
melhor distribuição desses sobre as sementes.
As unidades experimentais foram constituídas por recipientes
formados por uma moldura de madeira de 41 cm de comprimento x 28
cm de largura x 10 cm de altura, encaixados em uma bandeja de
alumínio de 46 cm de comprimento x 31 cm de largura x 5 cm de
altura.
52
O substrato constou de solo retirado de uma lavoura cultivada
com milho por duas safras consecutivas na expectativa de que
garantisse a presença de fungos de solo, como, por exemplo, Pythium
spp. e Fusarium spp..
A semeadura foi feita depositando-se uma semente em orifício
de 5,0 cm de profundidade, perfurado no substrato, servindo-se de um
marcador de espaçamento e com um bastão de vidro com controlador
de profundidade. Foram utilizadas duzentas sementes por unidade
experimental (quatro repetições de cinqüenta sementes). A semeadura
foi realizada 24 horas após a irrigação do solo deixando-o com 60%
da capacidade de campo. As irrigações posteriores foram feitas através
da lateral da bandeja, e a água, absorvida pelo substrato por
capilaridade. Após a emergência, quando as plântulas atingiram 2,0
cm de altura, iniciou-se a contagem semanal em cada bandeja até sua
estabilização.
Foram
realizadas
quatro
avaliações
para
cada
temperatura testada.
Tabela 1. Descrição dos tratamentos
Tratamentos
T1
T2
T3
Testemunha
Captam
Captam + Tiabendazol
T4
T7
Tiabendazol
Tiabendazol +
Fludioxonil + Metalaxil
Fludioxonil + Metalaxil
Fludioxonil + Metalaxil
+ Carboxina + Tiram
T8
Carboxina + Tiram +
Tiabendazol
T9
T10
Tolilfluanida
Tolilfluanida +
T5
T6
Nome
comercial
Captam 75%
Captam + Tecto
600
Tecto 600
Tecto 600 +
Maxim XL
Maxim XL
Maxim XL +
Vitavax –
Thiram 200 SC
Vitavax-Thiram
200 SC + Tecto
600
Euparen
Euparen +
Formulaçãoz
Dose
(g PCy/100
kg sem.)
PM
PM + PM
133 g
133 g + 166 g
PM
PM + SC
166 g
166 g + 125 ml
SC
125 ml
SC + SC
125 ml + 125
ml
SC + PM
125 ml + 166g
PM
PM + SC
150 g
150 g + 80 ml
53
Carbendazim
Derosal 500 SC
PC = produto comercial.
z
SC= solução concentrada; PM= pó molhável;
y
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Embora as sementes apresentassem um poder germinativo de
95,6%, no tratamento Testemunha a emergência final foi de apenas
49,5% na temperatura de 15 oC (Tabela 2). Isso demonstra a presença
de fatores nocivos que determinaram a morte da semente no substrato.
Como tem sido demonstrado em diversos trabalhos, temperaturas do
solo abaixo de 15 oC e solo úmido são adversos à germinação de
sementes e emergência de plântulas de milho (Shurtleff, 1973;
Menten, 1996; Reis & Casa, 1996; Severo, 1999) na presença de
inóculo principalmente de Pythium spp..
Muitas lavouras semeadas nessas condições, caso não tenham
as sementes recebido tratamento adequado poderão apresentar
população baixa de plantas emersas. Essa população baixa poderá
refletir-se no rendimento potencial da cultura. Essa situação ocorre em
algumas lavouras dos planaltos do Rio Grande do Sul, de Santa
Catarina e do Paraná.
Fato importante constatado no presente trabalho é que os
tratamentos
das
sementes
com
captam,
captam+tiabendazol,
tiabendazol + fludioxonil + metalaxil, fludioxonil + metalaxil,
fludioxonil
+
metalaxil
+
carboxina+tiram
e
carboxina+tiram+tiabendazol podem garantir a germinação da
semente e a emergência de plântulas mesmo sob condições adversas
(temperatura de 15 oC e solo úmido) (Tabela 2). Embora não tenha
sido feita a determinação da população de fungos patogênicos
54
presentes no solo, o efeito desses tratamentos deve ter sido
principalmente na proteção contra Pythium spp., como tem sido
confirmado nos trabalhos de (Reis et al., 1995; Pinto, 2000).
No presente trabalho, a emergência das plântulas no tratamento
com tiabendazol isoladamente não diferiu estatisticamente da
testemunha, o que vem corroborar os trabalhos de Casa et al., 1995.
Este
trabalho
evidenciou
também,
que
semelhantemente
ao
tiabendazol, a tolilfluanida não deve ter efeito sobre Oomicetos, pois a
emergência não diferiu da testemunha. Por isso, isoladamente ou em
mistura com carbendazim, não houve aumento significativo na
germinação e na emergência de plântulas (Tabela 2).
Tabela 2. Porcentagem final de plantas emersas em função de
temperaturas do substrato e do tratamento de sementes de
milho com fungicidas.
Plântulas emersas (%)
Temperaturas (o C)
Tratamentos
Testemunha
Captam
Captam + Tiabendazol
Tiabendazol
Tiabendazol+Fludioxonil+
Metalaxil
Fludioxonil + Metalaxil
Fludioxonil
+
Metalaxil
+Carboxina+ Tiram
Carboxina+Tiram+Tiabendazol
Tolilfluanida
Tolilfluanida+Carbendazim
C.V. (%)
w, x, y, z
15w
18x
21y
24z
50,0 c
90,0 a
90,0 a
51,0 c
94 ,0 a
84,0 ns
99,5
95,5
93,0
96,5
97,5 ns
96,5
97,0
94,5
99,5
98,5 ns
96,0
100
96,0
97,5
91,0 a
98,0
98,5
97,0
92,0 a
96,5
97,5
96,5
81,0 ab
94,0
96,5
97,5
66,0 bc
94,5
99,0
94,5
66,5 bc
99,5
96,5
94,0
5,85
. Média do número de plantas emersas em função das
diferentes temperaturas.
55
A mistura captam+tiabendazol tem sido investigada por
diversos pesquisadores e apontada como uma das mais eficientes para
o tratamento de sementes de milho, confirmando os dados do presente
trabalho (Reis et al., 1995; Casa et al. 1995; Pinto, 1996; Casa, 1997;
Casa et al., 1998; Reis et al. 2001).
Por outro lado, o tiabendazol, embora apresente potencial de
controle de 100% de Diplodia sp. e de Fusarium sp. presentes em
sementes (Marsh, 1982; Goulart & Fialho, 1999; Casa, 1997) não
controla Chromistas Oomicetos e, por isso, não deve ser utilizado
isolado no tratamento de sementes de milho. O mesmo raciocínio pode
ser aplicado ao carbendazim por pertencer ao mesmo grupo químico.
Os dados do presente trabalho reforçam as afirmações de que
no tratamento de sementes de milho, devem-se utilizar misturas de
fungicidas com comprovada e eficiente ação contra Pythium spp.
como o captam e o metalaxil. Por outro lado, quando a semente
apresenta elevada incidência de fungos dos gêneros Diplodia e
Fusarium, deve-se misturar um desses fungicidas a um benzimidazol
(Casa et al., 1995; Reis et al., 1995; Casa, 1997; Pinto, 1998; Severo,
1999; Reis & Casa, 2000).
Conforme mostra a Figura 1, pôde-se observar que, a 15 ºC,
houve uma divisão dos tratamentos em dois grupos de fungicidas: um
que promoveu maior emergência aos 14 dias após a semeadura, no
caso,
os
fungicidas
fludioxonil+metalaxil,
captam,
captam+
tiabendazol, e fludioxonil+metalaxil+carboxina+tiram; outro, com os
seguintes tratamentos: Testemunha (sem fungicida), tiabendazol,
carboxina + tiram + tiabendazol, tolilfluanida e tolilfluanida +
carbendazim.
56
Quando a semeadura do milho for feita em solo com
temperatura igual ou superior a 18 oC o tratamento de sementes com
fungicidas específicos à Pythium spp. não seria justificável em função
da Tabela 2. Porém, se apresentar incidência de fungos como D.
maydis, D. macrospora, F. moniliforme e F. graminearum que devido
à infecção podem reduzir a germinação e emergência, será necessário
fazer o tratamento da semente independentemente da temperatura do
solo (Severo,1999).
Test
Cap
Cap+Tiab
Tiab
Tiab+Max
Max
Max+Vit
Vit+Tiab
Tol
Tol+Carb
100
90
Emergência (%)
80
70
60
50
40
30
20
10
0
12
14
16
18
20
22
Dias após a semeadura
Figura 1. Relação entre o tratamento de sementes com fungicidas e a
emergência de plântulas de milho em função do tempo na
temperatura de 15 oC.
Convém ser citado ainda que os fungicidas benzimidazóis,
isoladamente, não controlam Cephalosporium sp., exigindo, portanto,
mistura com produtos de maior eficiência, como, por exemplo,
captam+tiabendazol,
tolilfluanida,
e
a
mistura
tolilfluanida+
57
carbendazim, independentemente da amostra testada em laboratório
(Menten, 1996; Pinto, 1996; Prestes & Picinini, 1996).
Na Figura 2, observa-se que a emergência das plântulas a 18
ºC ocorreu quatro dias antes que sob a temperatura de 15 ºC, ou seja,
aos 10 dias após a semeadura, estabilizando-se aos 18 dias, não
havendo, portanto, grande diferença entre a testemunha e os
tratamentos com fungicidas. Essas sementes, exceto a testemunha
(84% de emergência), atingiram um aumento relativo de germinação
na faixa de 93% a 99,5%, conforme mostra a Tabela 2.
Test
Cap
Cap+Tiab
Tiab
Tiab+Max
Max
Max+Vit
Vit+Tiab
Tol
Tol+Carb
100
90
Emergência (%)
80
70
60
50
40
30
20
10
0
8
10
12
14
16
18
20
Dias após a semeadura
Figura 2. Relação entre o tratamento de sementes com fungicidas e a
emergência de plântulas de milho em função do tempo na
temperatura de 18 oC.
À semelhança do que aconteceu com a temperatura de
18ºC, a 21ºC (Figura 3) a emergência das plântulas teve início aos oito
dias após a semeadura, atingindo níveis que variam de 94,5% a 99,5%
de emergência aos 16 dias, quando houve sua estabilização.
58
O mesmo aconteceu com o ensaio realizado a 24 ºC (Figura 4),
no qual quatro dias após a semeadura as plântulas já haviam emergido
e, aos dez dias, já estavam estabilizadas, com variação de 94 a 100%.
Os resultados demonstram que a temperaturas muito baixas,
como, por exemplo, a 15 ºC, as sementes de milho demoram mais para
germinar e, em conseqüência, ficam expostas por mais tempo a
patógenos presentes no solo. Isso porque encontrarão condições ideais
para atacar as sementes (Pinto, 1996). Portanto, Pinto (1996)
recomenda a utilização de lotes de sementes que apresentem alto
vigor, associado ao uso de tratamento com fungicidas.
Test
Cap
Cap+Tiab
Tiab
Tiab+Max
Max
Max+Vit
Vit+Tiab
Tol
Tol+Carb
100
90
Emergência (%)
80
70
60
50
40
30
20
10
0
6
8
10
12
14
16
18
Dias Após a Semeadura
Figura 3. Relação entre o tratamento de sementes com fungicidas e a
emergência de plântulas de milho em função do tempo na temperatura de 21
o
C.
59
Test
Cap
Cap+Tiab
Tiab
Tiab+Max
Max
Max+Vit
Vit+Tiab
Tol
Tol+Carb
100
90
Emergência (%)
80
70
60
50
40
30
20
10
0
2
4
6
8
10
12
Dias após a aemeadura
Figura 4. Relação entre o tratamento de sementes com fungicidas e a
emergência de plântulas de milho em função do tempo na
temperatura de 24 oC.
Segundo Severo (1999), quando o solo está úmido e apresenta
uma temperatura média de 21 ºC, a emergência do milho pode ocorrer
em cinco a seis dias; a 25 ºC, a emergência precede em três a quatro
dias. Em temperaturas próximas a 20 ºC, a velocidade de emergência
não é afetada. Porém, à medida que a temperatura no solo é reduzida,
aumenta o tempo requerido para a emergência (Al-Darby & Lowery,
1987; Imholte & Carter, 1987), o que vem confirmar os resultados
deste trabalho.
Finalmente, pode-se inferir que, em semeaduras do milho
feitas em solo frio e úmido, como comumente ocorre nos meses de
agosto e setembro nos planaltos do Rio Grande do Sul, de Santa
Catarina e do Paraná, as sementes deveriam ser tratadas com mistura
de fungicidas envolvendo algum com ação contra Pythium sp. no solo
60
e outro com ação contra os fungos veiculados pela semente. O ideal é
a mistura de um fungicida protetor com um sistêmico. Também se
ressalta que o uso de benzimidazóis isoladamente não deve ser feito
por não apresentarem ação contra Cephalosporium sp. e Pythium sp.
61
CAPÍTULO III
EFEITO DO TRATAMENTO DE SEMENTES COM
FUNGICIDAS NO CONTROLE DE FUNGOS ASSOCIADOS A
SEMENTES, NA EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS E NO
CONTROLE DAS PODRIDÕES DA BASE DO COLMO DO
MILHO
Andrea Flavia Sartori, Erlei Melo Reis & Ricardo Trezzi Casa
Universidade de Passo Fundo
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária
C.P. 611, 99001-970
Passo Fundo, RS.
RESUMO
Em experimentos conduzidos em laboratório e no campo
experimental da FAMV/UPF, procurou-se avaliar a eficiência de
diferentes fungicidas em tratamentos de sementes de milho no
controle de fungos causadores de podridões da base do colmo (PBC).
No experimento conduzido em laboratório, foi avaliado o efeito dos
tratamentos no controle dos fungos veiculados pela semente. No
campo, foram realizadas avaliações da emergência de plântulas, da
população final e da incidência das PBC. Quantificaram-se os restos
culturais da aveia remanescentes sobre o solo, em plantio direto, na
área experimental como provável fonte de inóculo para as PBC.
62
Também se avaliaram os rendimentos real e potencial da cultura do
milho. Os fungos Fusarium moniliforme e Cephalosporium sp. foram
os detectados com maior incidência em sementes. Para o controle de
F. moniliforme na Amostra 1 (A1), não houve diferença entre a
incidência na testemunha
e dos tratamentos com os fungicidas
fludioxonil+metalaxil e captam. Na Amostra 2 (A2), os fungicidas
captam e a mistura fludioxonil+metalaxil+carboxina+tiram também
não diferiram da testemunha. Os melhores controles para F.
moniliforme foram obtidos pelos fungicidas: captam + tiabendazol,
tiabendazol, tiabendazol + metalaxil + fludioxonil,
carboxina +
tiram+tiabendazol, e tolilfluanida+ carbendazim. No que se refere a
Cephalosporium
sp.,
os
tratamentos
erradicantes
foram
captam+tiabendazol, tolilfluanida e tolilfluanida + carbendazim.
Deve-se levar em conta a baixa incidência dos fungos presentes nas
sementes. Demonstrou-se no campo não haver efeito do tratamento de
sementes na incidência das PBC em solo seco e quente e que, nesse
caso, a principal fonte de inóculo não foram as sementes, mas, sim, os
restos culturais da aveia. Nos restos culturais dessa gramínea foram
estimados 1.207.040 peritécios de Gibberella zeae por metro quadrado
e 283.970.100 acérvulos de Colletotrichum graminicola por metro
quadrado. Os principais fungos isolados dos colmos sintomáticos
foram C. graminicola com 33,2% e F. graminearum, com 7,2% de
incidência, respectivamente. Conclui-se que o efeito do tratamento de
sementes em reduzir a incidência das PBC foi anulado pelo alto
potencial de inóculo presente nos restos culturais da aveia, deixados
sobre o solo em função do plantio direto. O tratamento de sementes de
milho deve ser integrado à rotação de culturas do milho com espécies
não suscetíveis aos fungos causadores das PBC.
63
Palavras-chave: fungicidas, Zea mays.
________________________________________________________
SUMMARY
EFFECT OF SEED TREATMENT WITH FUNGICIDES ON
THE CONTROL OF FUNGI ASSOCIATED TO SEEDS,
SEEDLING EMERGENCE AND ON THE CONTROL OF
CORN STALK ROTS
In experiments carried out in the laboratory and in the
experimental field of FAMV/UPF, the efficiency of different
fungicides treatments of corn seed on the control of fungus associated
to seeds and on the control of stalk rots were assessed. In the
laboratorial experiment the effect of treatments on the control of
fungus associated to seeds was assessed. In the field trial the seedling
emergence, final plant population, and stalk rots incidence were
evaluated. The mount or oat debris and inoculum density on oat
residue remained on the soil surface, due to no till, were assessed in
the experimental area as the main inoculum source for stalk rots.
Actual and potential corn yields were also evaluated. The fungus
Fusarium moniliforme and Cephalosporium sp. were detected in the
lab seed assay with the highest incidences. Related to F. moniliforme
control in seed sample A1 (Sample1) there was no difference between
the control incidence and treatments with fungicides fludioxonil +
metalaxil, and captan all with low control efficacy. In sample A2
(Sample 2), besides the mixture fludioxonil+metalaxil, the fungicides
captan and the mixture fludioxonil+metalaxil+carboxin+thiram also
64
were different from the check. The best control was obtained of F.
moniliforme where obtained with the fungicides: captan+thiabendazol,
thiabendazol, thiabendazol+metalaxil+fludioxonil, carboxin+thiram
and with thiabendazol and tolylfluanid+carbendazim. It was
demonstrated on the field that there were no effects of corn seed
treatment on the stalk incidence and that in this case seeds should no
be the main source of inoculum. It was shown that oat residues was
the main source of inoculum. On oat residues was quantified
1.207.040 perithecia of Gibberella zeae per m2 and 283.970.100
acervulli of Colletotrichum graminicola per m2. It was concluded that
the effect of seed treatment to reduce corn stalk incidence nulified by
the high inoculum potential present in oat residues, remained on the
soil surface in function of no till. Corn seed treatment should be used
integradedly with crop rotation and succession
with species not
suceptible to fungus that causes corn stalk rot.
Palavras-chave: fungicides, Zea mays.
________________________________________________________
INTRODUÇÃO
A cultura do milho (Zea mays L.) tem, para o estado do Rio
Grande do Sul, significativa importância sócioeconômica. No último
ano, o estado apresentou uma área média cultivada de 1,75 milhão de
hectares, com produção de 4.095.600 toneladas e com uma
produtividade de 3.500 kg.ha-1 (Recomendações, 1999; CONAB,
2003).
65
Dentre os fatores que interferem na qualidade e na quantidade
e do grão colhido, merecem destaque as doenças causadoras de
podridões radiculares e das podridões da base do colmo (PBC). As
PBC merecem maior destaque pela freqüência que ocorrem e pelos
danos que causam (Balmer & Pereira, 1987).
Dentre as principais doenças do milho no Brasil destacam-se
as PBC. Os principais fungos causadores das PBC são: Colletotrichum
graminicola (Ces.) G. Wils; Diplodia maydis (Berk.) Sacc.; Diplodia
macrospora
Earle;
Fusarium
moniliforme
Sheld.
(Gibberella
fujikuroi Sawada); F. moniliforme var. subglutinans Wr. & Reink.
[Gibberella
fujikuroi
var. subglutinans (Edwards)] (Pereira &
Pereira, 1976; Balmer & Pereira, 1987; Reis & Casa, 1996; Pereira,
1997). Coincidentemente, esses são também os principais patógenos
associados à semente de milho (Reis & Casa, 1996; Casa, 1997).
As principais fontes de inóculo para as PBC são as sementes
infectadas e os restos culturais do milho e de outras culturas
suscetíveis (Reis & Casa, 1996; Pinto, 1996; Zambolim et al., 2000).
O controle das PBC pode ser feito pelo melhoramento genético
e pelo manejo dos fungos agentes causais nas principais fontes de
inóculo, a saber, a semente e os restos culturais. No primeiro caso, são
aplicados fungicidas na semente, o tratamento que, para ser eficiente,
deveria apresentar um controle de 100%. Por outro lado, na fonte de
inóculo na fase saprofítica, o controle é feito pela rotação de culturas.
Disso se pode concluir que, para minimizar os danos causados pelas
PBC, deve-se associar o tratamento de sementes com a rotação de
culturas. A rotação de culturas mais comum no verão no Sul do Brasil
é o cultivo alternado de milho com a soja.
66
A literatura cita várias espécies vegetais como hospedeiras de
C. graminicola (Clifford, 1995); Fusarium sp., como a aveia, trigo,
cevada, centeio e outras gramíneas (Balmer & Pereira, 1987; Reis,
1990; Shurtleff, 1992; Reis & Casa, 1996). Segundo Reis (1988),
foram encontrados peritécios de G. zeae (anamorfo F. graminearum)
sob condições naturais em tecidos senescidos ou mortos nas seguintes
espécies vegetais: Andropogon bicornis L., Avena strigosa Schreb.,
Botriochloa sp., Brachiaria plantaginea (LK) Hitch, Bromus
catharticus Vahl., Cortadeira selloana, Digitaria sanguinalis (L.)
Scop., D. ciliaris (Letz.) Koel., Lolium multiflorum Lam.; Oryza
sativa L., Pannicum maximum Jacq., Paspalum dilatatum Poir., P.
notatum Flüegge, P. urvillei Steud., Pennisetum clandestinum Chiov.,
P. purpureum Schumach., Sorghum halepense (L.) Pers. e S. vulgare
L.. Para D. maydis e D. macrospora apenas o milho e o bambu são
citadas como hospedeiros (Sutton & Waterston, 1966).
No presente trabalho, formulou-se a hipótese de que as PBC do
milho podem ser reduzidas pelo uso do tratamento eficiente de
sementes com fungicidas e cultivando-se o milho em rotação com a
soja no verão.
Esta ação de pesquisa teve como objetivos estudar o efeito do
tratamento de sementes de milho in vitro com fungicidas sobre o
controle de fungos associados às sementes, sobre a população inicial e
final de plantas, sobre o controle das podridões da base do colmo em
milho no campo, e quantificar o inóculo dos fungos que causam as
PBC presentes nos restos culturais da aveia.
67
MATERIAL E MÉTODOS
O presente
trabalho foi realizado no laboratório de
Fitopatologia e no campo experimental da Faculdade de Agronomia e
Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (FAMV/UPF),
Passo Fundo, RS na safra 2001/02.
Utilizaram-se duas amostras (A1 e A2) de sementes do milho
híbrido DKB-909, que apresentavam poder germinativo e vigor
diferentes, cedidas pela empresa Monsanto do Brasil Ltda. Trata-se de
um híbrido simples, de ciclo superprecoce, com plantas atingindo 2,10
m de altura e inserção de espiga a 1,10 m, grãos alaranjados, do tipo
duro; como limitações, apresenta sensibilidade ao tombamento e
exigência em fertilidade.
Experimentos de laboratório. Os dois lotes de sementes
foram tratados com diferentes fungicidas e misturas descritas na
Tabela 1. As amostras foram divididas em dez subamostras contendo
0,9 kg, as quais receberam tratamentos individuais, via úmida (1% de
água) com os diferentes fungicidas isoladamente e/ou em misturas. As
sementes foram agitadas em sacos plásticos para se obter maior
homogeneidade da mistura.
As sementes foram submetidas a testes de germinação e de
vigor no Laboratório de Sementes da Universidade de Passo Fundo.
Realizaram-se, no Laboratório de Fitopatologia, os testes de
sanidade, no qual foram distribuídas 25 sementes em caixas plásticas
do tipo gerbox (11,5 x 11,4 x 3,4 cm de altura), contendo meio de
cultura. Os recipientes foram previamente esterilizados com aldeído
fórmico por um período de 72 horas. As caixas foram dispostas umas
sobre as outras em sacos plásticos vedados com atilho de borracha,
68
para reter os vapores do aldeído de modo a não serem liberados no
ambiente. A substância química esterilizante foi vertida sobre um
algodão contido num copo de becker no interior de saco plástico.
Após a exposição aos gases do formol e antes de seu uso os
recipientes plásticos foram abertos para a eliminação do vapor
esterilizante.
Tabela 1. Descrição dos tratamentos
Tratamentos
T1
T2
T3
T4
T5
T6
T7
T8
T9
T10
y
z
Testemunha
Captam
Captam +
Tiabendazol
Tiabendazol
Tiabendazol +
Fludioxonil +
Metalaxil
Fludioxonil +
Metalaxil
Fludioxonil +
Metalaxil +
Carboxina +
Tiram
Carboxina +
Tiram
Tiabendazol
Tolilfluanida
Tolilfluanida +
carbendazim
PC = produto comercial.
Nome
comercial
Captam 75%
Captam +
Tecto 600
Tecto 600
Formulaçã
oz
PM
PM + PM
Tecto 600 +
Maxim XL
Maxim XL
PM + SC
Maxim XL +
Vitavax –
Thiram 200 SC
VitavaxThiram 200 SC
+ Tecto 600
Euparen
Euparen +
Derosal 500
SC
PM
SC
Dose
(g PCy/100
kg sem.)
133 g
133 g + 166
g
166 g
166 g + 125
ml
125 ml
SC + SC
125 ml + 125
ml
SC + PM
125 ml +
166g
150 g
PM
PM + SC
150 g + 80
ml
SC= solução concentrada; PM= pó molhável;
Utilizou-se como substrato para o desenvolvimento dos fungos
associados às sementes o meio de cultura ¼ de batata-sacarose-ágar
(BSA-50 g de batata, 5,0 g de sacarose e 15 g de ágar), acrescido de
69
antibiótico (sulfato de estreptomicina 0,02 g em 50 ml de água
destilada esterilizada) após autoclavagem e quando a temperatura
encontrava-se a, aproximadamente, 50 oC.
Após a distribuição das sementes sobre o substrato, o material
foi incubado durante sete dias em câmara de crescimento sob
temperatura de 25 oC ± 2 oC e fotoperíodo de 12 horas propiciado por
lâmpadas fluorescentes, luz do dia, 40 W, distantes das caixas em 40
cm.
As avaliações foram realizadas após sete dias de incubação do
material, sob lupa binocular (Marca Zeiss, Stemi 2000-C, com
aumento de 40 x) para a melhor visualização das colônias e/ou
estruturas dos fungos.
Delineamento experimental. As unidades experimentais
foram distribuídas nas prateleiras da câmara de crescimento, num
arranjo de tratamentos completamente ao acaso. Os dados foram
submetidos à análise de variância e as médias, comparadas pelo teste
de Tukey a 5% de probabilidade.
Experimento de campo. O experimento de campo foi
conduzido na área experimental da FAMV/UPF. A área vem sendo
cultivada no sistema plantio direto e rotação soja/milho por mais de
três safras. A área, no inverno, foi cultivada com aveia branca (Avena
sativa L.) antecedendo ao cultivo do milho. Na adubação de base
realizada com semeadora-adubadora de plantio direto, sem usar
semente, dois dias antes da semeadura, utilizaram-se 350 kg.ha-1 da
fórmula 5-20-20 (N-P-K). Realizou-se a semeadura no dia 19 de
dezembro de 2001, manualmente, em sulcos abertos com sacho sobre
a linha do adubo. As parcelas constaram de quatro linhas de 5m de
comprimento, espaçadas de 80 cm e totalizando 12 m2. A área útil foi
70
de 8 m2. Ao lado do sulco de adubação foi depositada uma semente a
cada 20 cm de distância entre elas, totalizando cem sementes por
parcela. A adubação nitrogenada de cobertura foi realizada com 200
kg.ha-1 de uréia aos trinta dias após a emergência. Em 3 de janeiro de
2002, foi realizada a aplicação do herbicida atrazina (5,0 L/ha) para o
controle
de
plantas
invasoras
e,
em
16/01,
aplicação
de
atrazina+simazina (5,0 L/ha), juntamente com inseticida (Certero – 30
mL/ha) de suspensão para controle da lagarta-do-cartucho. Em
21/01/02,
realizou-se
a
aplicação de
200 ml
do
hebicida
(nicossulfuron).
Passados sete dias da semeadura, avaliou-se a população de
plantas emersas por tratamento até trinta dias após a semeadura. As
avaliações foram realizadas em: 27/12/2001; 03/01, 11/01 e em
17/01/2002.
Posteriormente, ao final do ciclo da cultura, realizou-se a
quantificação da incidência das podridões da base do colmo (PBC) e
dos danos, utilizando neste trabalho a metodologia descrita por Reis et
al., (1998) e por Denti et al. (1999) para quantificar a incidência e os
danos causados pelas PBC em milho (Denti & Reis, 2001). O
procedimento consistiu em avaliar as duas fileiras centrais de cada
parcela, contando-se o número total de plantas, o número das plantas
assintomáticas e o número de plantas com sintomas de PBC. As
espigas foram colhidas separadamente para os dois grupos de plantas.
Considerou-se planta sintomática aquela que apresentava descoloração
do primeiro entrenó logo acima da superfície do solo e menor
resistência à pressão dos dedos polegar e indicador (Denti & Reis,
2001).
71
Procedeu-se à colheita das espigas por parcela e em grupos
separados quando estas se encontravam no estádio de maturação
fisiológica. As espigas foram debulhadas separadamente, com o
auxílio de um debulhador acionado por motor elétrico, e foi
determinada a umidade dos grãos das espigas sintomáticas e
assintomáticas.
Para o cálculo do dano, foram utilizadas as fórmulas: a)
desconto de umidade em % = 100 (Ui-Uf)/100-13; b) rendimento
potencial (Rp) = (PGPA/NPA) * NTP; c) rendimento real (Rr) =
PGPA + PGPS; d) o dano (D) = Rp – Rr, sendo que Ui representa a
umidade inicial ou de colheita; Uf, a umidade final dos grãos ajustada
a 13%, utilizando-se a fórmula relatada por Puzzi (1977); PGPA, o
peso de grãos de plantas assintomáticas; NPA, número de plantas
assintomáticas; NTP, número total de plantas em 10 m de fileira e
PGPS, peso de grãos de plantas sintomáticas (Denti & Reis, 2001).
Para o cálculo da incidência (%) das PBCs, utilizou-se a
fórmula: I (%) = (NPS/NTP)*100. Assim, NPS, número de plantas
sintomáticas e NTP, o número de plantas por fileira de 10 m.
Procedeu-se ao isolamento dos fungos dos tecidos da base de
cinqüenta colmos (segundo entrenó acima da superfície do solo) de
plantas sintomáticas para a identificação das espécies de fungos
envolvidas com as PBC nos experimentos (Denti & Reis, 2001). Cada
fragmento de colmo passou por uma assepsia através de flambagem
com álcool. Em seguida, com lâmina de bisturi também flambada,
retiraram-se cinco pedaços dos tecidos da medula dos colmos em
câmara asséptica, distribuindo-os em placas de Petry contendo meio
de cultura um quarto de BSA. O material foi incubado em câmara de
72
crescimento durante sete dias sob temperatura de 25 oC ± 2 oC e
fotoperíodo de 12 horas para posterior avaliação sob lupa binocular.
Durante o ciclo da cultura, determinou-se a quantidade de
restos culturais de aveia remanescentes sobre o solo, bem como a
densidade de peritécios de G. zeae e de acérvulos de C. graminicola.
Foram feitas duas avaliações, uma na implantação da cultura e a outra
próxima à colheita. Calculou-se a quantidade de palha sobre o solo,
média de quatro amostragens aleatórias de 0,25 m2 na área
experimental. Após mantida uma amostra de 2 g de restos culturais da
aveia em câmara úmida, procedeu-se à contagem dos peritécios e de
acérvulos presentes sob lupa binocular. Estimou-se o número de
peritécios de G. zeae e de acérvulos de C. graminicola por grama de
palha e por metro quadrado. O número de ascas por peritécios de G.
zeae foi quantificado em lâminas de microscopia determinada com
microscópio ótico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Experimento de laboratório. Os fungos com maior incidência
foram F. moniliforme [Munkvold & O’Mara (2002) adotam Fusarium
verticilioides] e Cephalosporium sp. [Teixeira et al. (2002), adotaram
a terminologia Cephalosporium strictum]. Esses também foram os
fungos mais freqüentes no trabalho de Pinto (1996). A incidência de
F. moniliforme nas testemunhas foi de 7,7% e 6,33% e a de
Cephalosporium sp., de 3,67% e 6,67% nas amostras A1 e A2
respectivamente. Apesar da baixa incidência, evidencia-se como
reportado por Luz (1996), Casa et al. (1998) e Pinto (2000), que os
fungos mais freqüentes associados a sementes de milho são as duas
73
espécies acima. Embora houvesse baixa incidência dos fungos nas
sementes, e a eficácia de 100% de controle de alguns fungicidas,
esperava-se baixa incidência das PBC na avaliação feita no
experimento de campo.
Em relação ao efeito dos tratamentos sobre a incidência de F.
moniliforme nas sementes, observa-se que não houve diferença entre a
incidência de F. moniliforme entre a testemunha e os fungicidas
fludioxonil+metalaxil e captam na A1 (Tabela 2). Na A2, os
fungicidas
fludioxonil
+
metalaxil,
captam
e
a
mistura
fludioxonil+metalaxil+carboxina+tiram também não diferiram da
testemunha. Os demais fungicidas diferiram significativamente da
testemunha em ambas as amostras de milho, não se verificando
diferenças entre os tratamentos com fungicidas (Tabela 2).
Reis et al. (1995) e Goulart & Fialho (1999) demonstraram que
a mistura captam+tiabendazol foi a mais eficiente no controle de
fungos associados a sementes de milho. Outros autores têm mostrado
que, apesar de o fludioxonil estar sendo largamente utilizado no
tratamento de sementes de milho, não controla em 100% a incidência
de Fusarium sp., como aqui demonstrado.
Em relação ao efeito dos fungicidas e misturas na incidência de
Cephalosporium sp., observa-se
que a erradicação do fungo foi
atingida em ambas as amostras de sementes com os tratamentos:
captam+tiabendazol,
tolilfluanida
e
a
mistura
tolilfluanida+
carbendazim. Contudo, deve-se ressaltar que, em razão da baixa
incidência existente nas sementes analisadas, os dados obtidos devem
ser analisados com cautela (Tabela 2).
Os fungicidas benzimidazóis, isoladamente não controlam
Cephalosporium sp., exigindo, portanto, mistura com produtos de
74
maior
eficiência,
tolilfluanida
e
como,
a
por
mistura
exemplo,
tolilfluanida
captam+tiabendazol,
+
carbendazim,
independentemente da amostra testada em laboratório. Nos resultados
apresentados por Pinto (2000), para o controle de F. moniliforme, o
fungicida tolilfluanida, isoladamente e em diferentes concentrações
apresentou-se mais eficiente. Para o mesmo autor, a mistura
tolilfluanida com carbendazim não apresentou diferenças entre
tratamentos, diferindo dos resultados obtidos neste trabalho.
Experimento de campo. Os resultados dos experimentos
conduzidos no campo, durante a safra 2001/2002 são apresentados nas
Tabelas 3 e 4. Referindo-se a emergência de plantas, a incidência das
PBC e aos rendimentos real e potencial.
Os valores apresentados na Tabela 3 correspondem à A1 de
sementes recebidas, a qual apresentava germinação de 97% e vigor de
86%, e A2, com germinação 95% e vigor 92% (informações cedidas
pela empresa produtora das sementes). Novas análises foram
realizadas no Laboratório de Sementes da FAMV/UPF, fornecendo
95,6% de germinação e 96,6% de vigor, para a A1, e 96,4% de
germinação e 96,7% de vigor, para a A2. Portanto muito semelhantes.
75
Tabela 2. Incidência de Fusarium moniliforme e de Cephalosporium
sp. associados às sementes de milho em função do uso de
fungicidas isoladamente e em misturas
Tratamentos
Testemunha
Captam
Captam + Tiabendazol
Tiabendazol
Tiabendazol+
Fludioxonil+ Metalaxil
Fludioxonil+Metalaxil
Fludioxonil+Metalaxil+
Carboxina+Tiram
Carboxina+Tiram+
Tiabendazol
Tolilfluanida
Tolilfluanida
+Carbendazim
C.V. (%)
Incidência (%)
Amostra 1
Amostra 2
F.
Cephalosporium
F.
Cephalosporium.
moniliforme
Sp.
moniliforme
sp.
7,7 ab
3,6 ab
6,3 a
6,6 ab
5,0 bc
0,3 b
3,0 ab
0,3 b
0,0 c
0,0 b
0,0 b
0,0 b
0,0 c
1,6 ab
0,0 b
1,0 ab
0,0 c
3,0 ab
0,0 b
2,3 ab
12,3 a
0,6 c
6,0 a
2,0 ab
6,0 a
2,0 a b
8,3 a
1,0 ab
0,0
c
0,3 b
0,0
b
0,6 b
1,6
0,0
c
c
0,0 b
0,0 b
0,3
0,0
b
b
0,0 b
0,0 b
13,17
9,55
13,09
16,03
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, na coluna, ao nível de 5% de
probabilidade (Teste de Tukey).
Tabela 3. Efeito do tratamento de sementes de milho com fungicidas na
emergência de plântulas e na população final de plantas (Amostra
1). Híbrido DKB-909, safra 2001/02.
População
Tratamento
Inicial (%) Final (%)
T1
90,8 ns
T2
96,8
T3
95,6
T4
90,4
T5
93,2
T6
97,6
T7
98,8
T8
96,4
T9
90,8
T10
96,8
94,7
Média
CV (%)
6,12
PBC = podridão da base do colmo.
ns = não significativo
78,0
71,4
85,3
71,4
76,4
68,8
68,1
73,5
73,5
63,6
73
13,6
Incidência
PBC (%)
17,7 ns
19,0
18,3
15,0
17,0
22,3
21,0
20,0
21,7
22,7
19,5
25,05
Rendimento de
grãos (t.ha-1)
RP
RR
6,5 ns
6,7
5,7
6,7
5,3
6,3
6,7
6,6
6,7
7,2
6,4
14,8
6,2 ns
6,5
5,5
6,6
5,4
6,4
6,6
6,5
6,4
7,3
6,3
13,3
76
Avaliou-se a emergência das plantas de milho até sua
estabilização, aproximadamente, aos trinta dias após a semeadura.
Na A1, apenas os tratamentos compostos pela mistura dos
fungicidas fludioxonil+metalaxil+carboxina+tiram, diferiram dos
demais tratamentos na população inicial de plantas (Tabela 3). No que
se refere à população final de plantas, não houve diferenças entre os
tratamentos, além de haver um aumento no número de plantas
emersas, o que pode ser explicado pela germinação tardia de algumas
sementes.
Em ambas as amostras de sementes, não houve diferenças
significativas entre os tratamentos com relação à incidência das PBC
(Tabela
3). A incidência
média foi
de
19,5%
e
21,8%,
respectivamente, para as duas amostras de semente utilizadas. Na A1,
não houve alterações no rendimento real e potencial de grãos (em t.ha1
) em nenhum dos tratamentos (Tabela 3).
Na A2, com relação à população inicial de plantas, apenas a
testemunha e as sementes tratadas com captam apresentaram
diferenças em relação aos demais tratamentos. Quanto à população
final, os tratamentos tiabendazol+fludioxonil+metalaxil, tolilfluanida
e a mistura tolilfluanida+carbendazim apresentaram diferenças na
emergência. A população inicial apresentou-se inferior à final, quando
se verificaram diferenças significativas em alguns tratamentos (já
citados anteriormente). Esse aumento na população, provavelmente, é
explicado pela germinação tardia de algumas sementes.
Não houve efeito significativo dos diferentes tratamentos de
sementes com fungicida quanto à incidência das PBC (Tabela 4).
Quanto ao rendimento potencial de grãos, o tratamento com
tolilfluanida apresentou maior valor, embora não se diferencie dos
77
demais, exceto da testemunha; o mesmo aconteceu com o rendimento
real de grãos.
Os danos médios no rendimento de grãos foram de 100 a 300
-1
kg.ha , respectivamente, para os experimentos conduzidos com as
amostras 1 e 2 (Tabelas 3 e 4), calculados pela diferença entre os
rendimento real e potencial.
O principal sintoma nos colmos das plantas com PBC foi a
presença
de
áreas
extensas
de
tecidos
negros,
brilhantes,
principalmente nos entrenós inferiores. Conclui-se que não houve o
efeito benéfico esperado do tratamento de sementes de milho com
fungicidas quando semeado sobre restos culturais de aveia (semeadura
direta), porque são uma importante fonte de inóculo para os patógenos
causadores das podridões radiculares, PBC e da espiga.
Tabela 4. Efeito do tratamento de sementes de milho com fungicidas na
emergência de plântulas e na população final de plantas (Amostra
2). Híbrido DKB-909, safra 2001/02.
Tratamento
População
Inicial (%)
86,4 b1
92,8 ab
Final (%)
Incidência Rendimento de grãos
PBC (%)
(t.ha-1)
RP
RR
75,0 b
18,3 ns 6,8 b
6,8 b
70,8 ab
18,0
7,6 a b 7,1 a b
94,8 a
62,5 ab
27,3
8,7 a b 7,6 a b
94,8 a
57,7 ab
22,0
7,7 a b 7,7 a b
99,2 a
60,9 a
22,6
7,6 a b 7,7 a b
96,4 a
64,6 ab
19,7
7,7 a b 7,4 a b
96,0 a
64,6 ab
21,7
7,5 a b 7,4 a b
94,8 a
62,3 ab
21,3
7,3 b
7,2 a b
95,2 a
60,5 a
21,3
9,3 a
8,4 a
96,4 a
59,1a
25,7
8,2 a b 7,7 a b
Média
94,68
63,8
21,8
7,8
7,5
CV (%)
5,73
6,50
19,04
8,47
6,91
PBC = podridão da base do colmo.
ns = não significativo
1
.Médias seguidas por letras diferentes, na coluna, diferem-se pelo
teste de Tukey a 5%;
T1
T2
T3
T4
T5
T6
T7
T8
T9
T10
78
Embora as sementes apresentassem boa sanidade, em todos os
tratamentos verificou-se a ocorrência das PBC, indicando que a
principal fonte de inóculo primário não foram as sementes, e, sim,
outra, ou seja, os restos culturais da aveia.
Quantificação do inóculo nos restos culturais
O inóculo de F. graminearum e C. graminicola foi
quantificado em duas coletas de restos culturais de aveia, uma
próxima à instalação da cultura (26/12/2001) e outra após a colheita
(22/05/2002). A quantidade de palha estimada para as duas épocas de
coleta foi de 8,2 t.ha-¹ na primeira, e de 6,2 t.ha-¹ na segunda avaliação
havendo uma redução de 1,9 t.ha-¹ durante o período.
Na primeira coleta de palha de aveia, contaram-se 1.472
peritécios de G. zeae por grama de palha, correspondendo a 1.207.040
peritécios por metro quadrado; na segunda coleta, obtiveram-se 430
peritécios por grama de palha, correspondendo a 286.600 peritécios
por metro quadrado. Quantificou-se também o número de ascas
presentes em 15 peritécios. As quais totalizaram 1.811 ascas. Cada
peritécio apresentou, portanto, em média, 121 ascas, como cada asca
apresenta oito ascosporos, estima-se que cada peritécio apresenta
potencial para produzir 968 ascosporos. Portanto, o número de
ascosporos, as unidades infectivas, foi estimado em 168.414.720 por
metro quadrado.
Com relação aos acérvulos de C. graminicola, patógeno citado
como responsável pela antracnose da aveia (Clifford, 1995), na
primeira avaliação, quantificaram-se 346.305 acérvulos por grama de
palha, correspondendo a 283.970.100 acérvulos por metro quadrado;
na segunda avaliação, houve uma redução significativa deste número
79
para 17 por grama de palha ou 10.540 acérvulos por m2. Deve-se citar
que em levantamentos procedidos nas safras de 1997/98 e 98/99,
Denti & Reis (2001) demostraram que o principal fungo responsável
pelas PBC do milho foi C. graminicola, portanto, é fato semelhante ao
encontrado no presente trabalho.
Em isolamentos realizados de 50 colmos com sintomas de
antracnose, obteve-se a incidência média de 33,2% para C.
graminicola, 7,6% para F. graminearum e 3,2% para F. moniliforme.
Tais resultados confirmam aqueles apresentados por Denti & Reis
(2001).
Os dados do presente trabalho mostram que os restos culturais
da aveia têm potencial para se constituir na principal fonte de inóculo
para os dois fungos em estudo e, portanto pode contribuir para
explicar o porquê da alta incidência das PBC mesmo com o tratamento
de sementes. Merece menção que as duas espécies são citadas entre as
principais relacionadas com as PBC do milho (Denti & Reis, 2001).
Não se confirmou a hipótese formulada de que, pelo
tratamento de sementes, poderia ser reduzida a incidência das PBC,
admitindo-se que a principal fonte de inóculo fossem as sementes
infectadas com F. moniliforme. A alta incidência das PBC não deve
ter tido relação com o inóculo da semente. Provavelmente, neste caso,
a elevada incidência pode ser explicada pela exposição das plantas de
milho ao elevado potencial de inóculo de G. zeae e de C. graminicola
presentes nos restos culturais da aveia remanescentes sobre o solo e
confirmado pelos isolamentos dos colmos infectados.
O presente trabalho levanta um fato novo para o sistema de
cultivo de milho. Quando se visa controlar as PBC do milho, deve-se
considerar a cultura antecessora cultivada no inverno no sistema
80
plantio direto. Sendo a aveia ou outras gramíneas de inverno culturas
hospedeiras de fungos como G. zeae e C. graminicola, não se deve
cultivar o milho sobre seus restos culturais, pois são fontes de inóculo
para esses fitopatógenos. Faz-se necessária a adoção de um programa
de rotação e de sucessão de culturas com espécies não hospedeiras e
tratamento de sementes para que o inóculo seja reduzido. Portanto,
além da rotação de culturas com a soja, que elimina ou reduz o
inóculo dos restos culturais do milho, deve-se levar em conta a
sucessão com culturas de cobertura utilizadas no inverno como fontes
de inoculo, evitando-se gramíneas.
Outro fato que deve ser considerado é que, em plantio direto, o
tempo necessário para a decomposição dos restos culturais é mais
longo do que sob plantio convencional. Em espécies como o trigo, em
ensaios realizados no município de Passo Fundo, RS, a decomposição
completa dos restos culturais ocorreu de 12 a 20 meses após a colheita
do cereal (Reis, 1990; Reis et al., 1998; Casa, 2000). Blum (1997),
avaliando restos culturais do cultivar de aveia branca, UPF 7,
verificou que o tempo necessário para sua decomposição foi de 18
meses. Costamilan et al. (1999) determinaram que o período de
decomposição dos restos culturais da soja ocorreu com 27 meses, o
que assegura a disponibilidade do inóculo com maior densidade e por
tempo mais longo (Zambolim et al., 2000). De acordo com os dados
apresentados por Casa (2000) os restos culturais de milho demoram,
em média, 32 meses para serem decompostos.
Considerando-se que os restos culturais do milho decompõemse em 32 meses (Casa, 2000), seria recomendável cultivá-lo após duas
safras consecutivas de soja, o que garantiria 36 meses desde a colheita
até a nova semeadura. Quanto ao cultivo de inverno, seria
81
aconselhável utilizar-se espécies não gramíneas, como o nabo
forrageiro.
Pode-se concluir que no presente trabalho o efeito esperado do
tratamento de sementes de milho em controlar as PBC foi anulado
pela abundância de inóculo fornecida pelos restos culturais da aveia. E
pela baixa incidência de F. moniliforme nas sementes.
82
CONCLUSÕES
Com os resultados obtidos nos trabalhos de campo, em câmara
de crescimento e em laboratório, pôde-se concluir:
a) o fungo F. moniliforme de sementes de milho naturalmente
infectadas é transmitido para diferentes órgãos da plântula;
b) em condições de baixa temperatura e alta umidade do solo,
faz-se necessário tratar as sementes de milho com fungicidas
afim de protegê-las dos ataques de patógenos presentes no
solo, de modo a não haver seu apodrecimento;
c) a quantidade de inóculo presente nos restos culturais pode
anular ou limitar a ação dos tratamentos com fungicidas nas
sementes de milho;
d) os patógenos encontrados nos restos culturais da aveia e nos
isolados dos colmos de milho, C. graminicola e G. zeae, são
potencialmente causadores de PBCs e podridões de espiga.
83
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