Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.10, n.1, p.53-61, 2008 ISSN 1517-8595 53 INFLUÊNCIA DO TAMANHO E DA FORMA DA COLUNA DE QUEDA NA VELOCIDADE TERMINAL DE GRÃOS DE MILHO E FEIJÃO1 Helen L. H. T. Zanini2, Maria E. M. Duarte2, Mario Eduardo. R. M. Cavalcanti Mata3 Lívia Wanderley Pimentel4 RESUMO Características físicas e propriedades de materiais são parâmetros decisivos no desenvolvimento de novos equipamentos e metodologias (mais apropriados e de baixo custo) para a execução de processos, particularmente, rápidos e seguros. Devido à falta de informações relacionadas às características físicas de grãos e a grande importância dessas para o desenvolvimento de novas tecnologias relacionadas ao processamento desse produto, este trabalho teve como objetivos determinar as características físicas e a velocidade terminal de grãos de feijão e milho em colunas de queda com secção de diferentes formas (circular e quadrada) e tamanhos (20, 30, 40, 50 e 60 mm) e, também, verificar a influência dessas variáveis sobre a aerodinâmica desse produto. Concluiu−se que: não se pode afirmar que se tenha obtido velocidade terminal em queda livre para o milho. Ficou evidenciado o efeito de parede, inclusive na coluna de secção quadrada de 60 mm; entre todos os tamanhos de colunas testadas, obteve-se maior velocidade terminal com a coluna de secção quadrada; o grão de milho, quando submetido a fluxo de ar em colunas cuja relação β (DP /DC) > 0,3520 muda sua orientação, passando a adotar uma posição cuja menor área projetada permanece perpendicular à direção do fluxo; os valores encontrados para velocidade terminal do feijão teórica foram 16,736 m s-1, 7,6062 m s-1 e 9,082 m s-1 para os referidos autores e os valores experimentais 12,75 ± 0,472 m s-1 para a coluna de secção circular e 12,99 ± 0,433 m s-1 para a coluna de secção quadrada; as cartas existentes na literatura para o cálculo do coeficiente de arraste feito com base nas características físicas, dos grãos de feijão atribuem coeficientes de arraste típicos da região transiente com alguns deles na região de Stokes. Porém, tem-se para esses produtos valores de velocidades bem superiores a 1 m s-1, verificando-se que as equações e cartas existentes na literatura para expressar o transporte de partículas não foram adequadas ao estudo de transporte e seleção dos grãos; as velocidades obtidas com as duas colunas começam a se aproximar uma da outra a partir de β < 0,125, ou seja, começa a desaparecer o efeito de parede. Palavras-Chave: transporte aerodinâmico, características físicas, Zea mays, Phaseolus vulgaris. INFLUENCE OF THE DIMENSION AND FORM OF THE FALL COLUMN IN THE TERMINAL SPEED OF CORN AND BEAN GRAINS ABSTRACT Physical characteristics and properties of materials are decisive parameters in the developments of new equipments and methodologies (more appropriated and of low cost) to the execution of processes, particularly, fast and safe. Due to the lack of information related to the physical characteristics of the grains and its importance for the development of new technologies that are related to this product processing, this work had the objectives of determining the physical characteristics and the terminal velocity of corn and bean grains in fall columns with section in different ways (circulate and square) and sizes ( 20, 30, 40, 50 and 60 mm ) and, also, to verify 1 2 3 Extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor Química Industrial, Mestre em Engenharia Agrícola, Doutoranda em Microbiologia Agropecuária (FCAV-UNESP), Professor Associado da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campina Grande-PB, Brasil Email: [email protected] e [email protected] 4 Aluna do curso de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola , UFCG. Av. Aprígio Veloso 882, Bodocongó, CEP 58109-970, Campina Grande-PB E-mail: [email protected] 54 Influência do tamanho e da forma da coluna de queda na velocidade terminal de grãos ...... Zanini et al. the influence of these variables on the aerodynamics of this product. Concluded that: it cannot be affirmed that there was terminal speed in free fall for the maize. It was evidenced the wall effect, also in the square shaped section of 60 mm; the biggest terminal speed was gotten with the square section column; the maize grain, when submitted the air flow in columns whose relation β (DP /DC) ≥ 0.3520, changes its orientation, beginning to adopt a position whose smallest projected area remains perpendicular to the direction of the flow; the values to theoretical terminal velocity of the bean were 16.736 m s-1, 7,6062 m s-1 and 9,082 m s-1 according to the mentioned authors and the experimental values were 12.75 ± 0.472 m s-1 to circular section and 12.99 ± 0.433 m s-1 to square section; the diagrams that exists in the literature to calculate the drag coefficient based in the physical characteristics of the bean grains attribute coefficients of drag typical of the transient area with some of them in the Stokes region. However, the values of velocity to bean grains are bigger than 1 m s-1. It’s verified that the equations and diagrams present in the literature to express the transport of particles were not adequate to the study and selection of the grains; the velocities got with the columns begin approaching one of the other with β<0.125, when the wall effect begins to disappear. Keywords: aerodynamic transport, physical characteristics, Zea mays, Phaseolus vulgaris. INTRODUÇÃO Vários aspectos avaliam a importância econômica de um determinado produto, dentre eles podemos citar como principal a qualidade da matéria prima produzida. Por isso, se faz necessário verificar o trato desses, durante as etapas do processamento. Os produtos agrícolas, normalmente, possuem propriedades físicas e aerodinâmicas razoavelmente constantes, podendo ser transportados em tubulações de pequeno diâmetro, com o auxilio de uma corrente de ar. Por mais evoluída que esteja a Ciência no momento, não é possível produzir sementes com uma precisão de forma e tamanho. No entanto, é possível otimizar a Engenharia para empregá-la na produção agrícola. Essa otimização se dá através das novas informações das propriedades físicas e aerodinâmicas que surgem da evolução das ciências agrárias, possibilitando a formulação e a evolução de novos projetos de máquinas e equipamentos, evitando, dessa maneira, desperdício do produto desejado. A determinação dos parâmetros aerodinâmicos dos produtos agrícolas é de suma importância no desenvolvimento de máquinas operatrizes de seleção de grãos e sementes. Dentre os parâmetros aerodinâmicos, a velocidade terminal é o princípio mais utilizado nesse dimensionamento. Os fatores que afetam a velocidade terminal são a massa da partícula e o coeficiente de arraste, sendo esse uma função da forma da partícula. Portanto, dentre as propriedades aerodinâmicas dos produtos, a velocidade terminal da partícula, o coeficiente de arraste e o efeito de parede, nas quais estão envolvidas as variáveis tais como: diâmetro do duto e o volume do fluido são estudos de real importância para o bom dimensionamento de máquinas transportadoras. Os produtos agrícolas, normalmente, possuem propriedades físicas e aerodinâmicas razoavelmente constantes, podendo ser transportados em tubulações de pequeno diâmetro, com o auxilio de uma corrente de ar. No final da década de 1940, surgiram os primeiros estudos sobre transporte pneumático de grãos em dutos. Vogt e White, citados por Duarte (1997) apontaram a necessidade de conhecer o efeito de variáveis tais como diâmetro do duto, o volume do fluido, a velocidade de deslocamento e as propriedades aerodinâmicas dos produtos a serem transportados. Mohsenin (1978) estudou as propriedades físicas e aerodinâmicas de produtos agrícolas, definindo equações de velocidade de transporte de grãos, do coeficiente de arraste e suas correlações. A área projetada foi estudada por Chuma et al. (1982) e foi responsável pelo tipo de regime formado no interior do duto, que mantém a sustentação do grão na massa de ar. A aplicação de fluxo de ar para o beneficiamento de grãos e sementes tem sido muito utilizada por pesquisadores, principalmente no que diz respeito a máquinas de seleção de grãos. O princípio mais utilizado tem sido a velocidade terminal, pois o produto ao qual se deseja determinar sua velocidade é colocado em queda livre em contato com uma Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.10, n.1, p.53-61, 2008 Influência do tamanho e da forma da coluna de queda na velocidade terminal de grãos ...... corrente de ar até que este esteja em equilíbrio. Contudo, o comportamento de determinados tipos de grãos em sistemas de transporte, bem como o dimensionamento adequado e a sua otimização, ainda são respostas a serem dadas pelos pesquisadores, sendo necessário conhecer em profundidade o comportamento dinâmico desses produtos em sistemas de transporte aerodinâmicos. Desta forma, este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de determinar a influência da forma e tamanho da secção de coluna de queda na obtenção dos parâmetros aerodinâmicos de grãos de milho e feijão. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi realizado no Laboratório de Processamento e Armazenamento de Produtos Agrícolas (LAPPA), do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Federal de Campina Grande-PB. O milho utilizado foi da variedade pé de boi e o feijão da variedade “carioquinha”. Realizou-se a caracterização física individual do feijão e do milho, em que medindo-se os diâmetros da esfera equivalente, massa, volume, massa especifica, esfericidade, área projetada e porosidade. Tais características foram determinadas segundo metodologia descrita por Mohsenin (1978), e utilizadas para calcular a velocidade terminal pelas equações propostas por Mohsenin (1978) e (Pettyjohn & Chistiansen, 1946) apresentados na Tabela 2. O teor de água foi determinado pelo método padrão de estufa (Brasil, 1992), inicialmente às determinações das velocidades terminais. Para determinação da velocidade terminal construiuse um equipamento composto das seguintes partes: cinco colunas verticais de seções transversais quadradas e cinco colunas circulares de 20, 30, 40, 50 e 60 mm de diâmetro e, aproximadamente, 1 m de altura.;1 Zanini et al. 55 motor-ventilador de ciclo contínuo, potência de 1 hp a 3600 rpm; uma base de madeira; 1 variômetro de tensão para regulagem da velocidade do ar; um anemômetro de palhetas, digital, para medida de velocidade do ar. A velocidade terminal foi obtida, individualmente, para cada grão, sendo a amostra composta por 10 grãos de feijão e 10 grãos de milho. O ensaio consistia em largar um grão na coluna de queda e ajustar a velocidade do ar até que o grão não apresentasse movimento vertical; nesse instante, media-se a velocidade do fluxo de ar para essa condição de equilíbrio, procedendo-se dessa forma para os 10 grãos e 10 colunas de queda (Figura 1). Na análise teórica, foi utilizado o método de cálculo de velocidade terminal, partindo do pressuposto que a velocidade terminal constante de uma partícula em queda depende de suas características físicas, do fluido ao qual este está sedo submetido e da aceleração da gravidade. Calculou-se CNR2, pela equação: 2 CN R = 8Wρ(ρ p − ρ f ) πμ 2ρ p (1) em que: W = peso dos grãos, N, ρf = massa específica do fluido, kg m-3, ρp = massa específica da partícula, kg m-3, e µ = viscosidade dinâmica do ar, N s m-2. Considerou-se 2 CN R = 8Wρ , pois ρf é muito pequeno em πμ 2 relação a ρp, assim, ρp-ρf ≈ ρp. Com os valores calculados de CNR2, encontraram-se os valores do número de Reynolds na curva NR em função de CNR2, (Figura 2) dada por (Mohsenin, 1978) Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.10, n.1, p.53-61, 2008 Influência do tamanho e da forma da coluna de queda na velocidade terminal de grãos ...... 56 Zanini et al. Figura 1. Equipamento utilizado para determinação da velocidade terminal dos grãos. Com o número de Reynolds, obtido pela Figura 1, calculou-se a velocidade terminal de acordo com a Equação 1: Vt = NRμ DP ρ f (1) em que: NR = número de Reynolds, adimensional; µ = viscosidade dinâmica do ar, N s m-2; DP = dinâmica da particula da esfera equivalente, m, e ρ = massa específica do fluido, kg m-3. A determinação da velocidade terminal foi feita utilizando-se 10 grãos de feijão e 10 de milho com 13,8% e 11,6% de umidade respectivamente. Para efetuar a medida da velocidade terminal, colocava-se o grão na tela superior, regulava-se o fluxo de ar através do multímetro até que o grão flutuasse, apresentando apenas movimentos horizontais, e então era medida a velocidade terminal de cada grão em m s-1. Figura 2. Número de Reynolds, NR em função de CNR2 para esferas (Mohsenin, 1978). Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.10, n.1, p.53-61, 2008 Influência do tamanho e da forma da coluna de queda na velocidade terminal de grãos ...... RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 encontram-se os valores médios de diâmetro da esfera equivalente, Zanini et al. 57 massa, volume, massa específica, esfericidade, área projetada e porosidade obtidos para o feijão e o milho, com teor de água de 13,8%b.u e 11,6%b.u, respectivamente. Tabela 1 - Características físicas dos grãos de feijão e milho. Características Físicas Diâmetro da esfera equivalente (cm) Massa (g) Volume (cm3) Massa específica (g cm-3) Esfericidade (%) Área projetada da particular (cm2) Porosidade (%) Feijão 0,70±0,290 0,26±0,030 0,20±0,030 1,26±0,010 69,94±3,57 0,50±0,050 36,56±1,01 Pela Tabela 1, verifica-se que o milho apresentou os maiores valores para diâmetro da esfera equivalente, massa, volume, massa específica, área projetada da partícula e porosidade, sendo a esfericidade a única característica de maior valor para o feijão. As medidas de diâmetro da esfera equivalente, massa, volume, massa especifica, esfericidade e área projetada, obtidos para grãos de feijão foram maiores que os valores encontrados por Portela (2000) para a mesma variedade de grãos e com 13,9% de umidade. Entre os valores utilizados nesta pesquisa, o de maior massa específica, maior diâmetro da esfera equivalente e maior massa foi o milho Milho 0,75±0,200 0,32±0,020 0,25±0,016 1,27±0,020 60,77±2,27 0,73±0,040 44,47±1,02 assim como nos resultados obtidos por Portela (2000), que encontrou para o milho, variedade AG 401 com conteúdo de água de 13,5%, valores de massa específica 1,215 g cm-3, diâmetro da esfera equivalente 0,747 cm, massa 0,326 g, volume médio de 0,270 cm3 e esfericidade de 64,7%. Os resultados de velocidade terminal de feijão e milho, calculados segundo diversos autores (Mohsenin, 1987; Pettyjohn E Chistiansen, 1946), encontram-se na Tabela 2, considerando o produto esférico e também estes mesmos valores calculados com a correção do coeficiente de arraste, segundo o fator de esfericidade. Tabela 2 - Velocidade terminal calculada com base nas características físicas do produto e do fluido (ar), por duas diferentes formas: Vt1 (considerando o produto como esférico segundo Mohsenin, 1978) e Vt2 (corrigindo o CD pela equação de Petty John & Christiansen, 1948). Produto Vt1 (m/s) (Considerando o produto esférico) CD retirado da curva clássica (CNR2 X NR) para corpos esféricos. Vt2 (m/s) ( PettyJohn e Christiansen) ⎡ 4g(ρ s − ρ)D p ⎤ Vt = ⎢ ⎥ 3ρK 2 ⎣ ⎦ 1 2 CD = K2 = 5,31 - 4,88ϕ Feijão Milho 16,736 18,051 Ao se comparar os dados calculados por três formas com os resultados experimentais (12,99 e 10,77 m/s para feijão e milho, respectivamente) obtidos com a coluna de secção quadrada de 60 mm de lado (Tabela 3), percebe-se que nenhuma 7,6062 7,2072 das equações citadas na literatura oferece boa aproximação da velocidade terminal obtidas para feijão e milho. A equação citada por Mohsenin (1978) confere valores muito superiores aos experimentais além de provocar uma inversão desses valores; a Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.10, n.1, p.53-61, 2008 58 Influência do tamanho e da forma da coluna de queda na velocidade terminal de grãos ...... correção sugerida por Petty John & Chistiansen (1948) fornece valores muito aquém dos reais, conferindo ao feijão maior valor de velocidade, seguida do milho. Esses fatos são graves quando se busca encontrar parâmetros refinados de seleção de grãos dentro de uma mesma categoria (separar grãos de uma mesma espécie por tamanho, por exemplo). Todo esse estudo conduz, mais uma vez, a reforçar o fato de que existe enorme carência de estudos que forneçam suporte ao cálculo preciso de Zanini et al. parâmetros aerodinâmicos de produtos de maior granulometria (particulado macro) e ainda, que os estudos ora existentes não têm sido devidamente aplicados aos produtos agrícolas. Na Tabela 3 encontram-se os valores das velocidades terminais experimentais para os grãos de milho e feijão, obtidas em colunas de secção circular e colunas de secção quadrada com larguras de 60, 50 40, 30 e 20 mm. Tabela 3 – Velocidade terminal (m.s-1) de grãos de feijão e milho obtida em colunas de secção circular e quadrada. Produto Velocidades obtidas com a secção circular com diâmetros de 60 a 20 mm 60 mm 50 mm 40 mm 30 mm 20 mm Feijão 12,75 ± 0,472 8,74 ± 0,375 4,88 ± 0,199 2,64 ± 0,255 1,77 ± 0,313 Milho 10,42 ± 0,577 7,28 ± 0,312 3,77 ± 0,226 2,19 ± 0,145 1,29 ± 0,223 Velocidades obtidas com a secção quadrada com lados de 60 a 20 mm 60 mm 50 mm 40 mm 30 mm 20 mm Feijão 12,99 ± 0,433 10,4 ± 0,414 6,72 ± 0,248 4,91 ± 0,431 2,09 ± 0,366 Milho 10,77 ± 0,408 8,96 ± 0,417 5,8 ± 0,330 4,16 ± 0,206 1,75 ± 0,143 Percebe-se pela Tabela 3, que os valores obtidos para velocidade terminal apresentam uma dependência do tamanho da secção, diminuindo com a diminuição do tamanho desta. Observa-se também, que esta diminuição é mais acentuada para a coluna de secção circular do que para a quadrada. É de conhecimento geral que a velocidade terminal deve ser medida em queda livre, ou seja, sem que haja influência das paredes que limitam a coluna de queda e, para que isto ocorra quando o movimento se dá na região de Newton, o diâmetro ou lado da coluna (DC) deve ser quatro vezes maior do que diâmetro da partícula (forma esférica). Analisando os resultados das velocidades terminais experimentais percebe-se que a secção quadrada possui maiores valores quando comparadas à circular e que as maiores velocidades são para as colunas de 60 mm. Quando analisamos a velocidade terminal entre os produtos, percebe-se que em todas as secções, independentemente da forma e do tamanho, obtiveram-se maiores valores para o feijão. Para melhor verificar estes efeitos (tamanho e forma da secção da coluna de queda) na velocidade terminal destes grãos, foram feitas análises estatísticas utilizando o Programa Computacional Assistat 6.6 beta, segundo o modelo Fatorial 2 (formas da coluna) X 5 (tamanhos da secção) X 10 (repetições) para cada grão, isoladamente. Estas análises estão apresentadas nos tópicos que se seguem. Os valores médios da velocidade terminal para a interação entre a forma da coluna de queda e tamanho de secção para grãos de feijão, estão na Tabela 4. Verifica-se, nessa tabela, que não mais existe dependência da forma da secção quando o tamanho da secção é muito maior do que o diâmetro do grão. Segundo Duarte (1997), quando há uma distância razoável entre tamanhos de diâmetros (diâmetro ou lado da coluna 4 vezes maior do que o diâmetro de uma partícula, em se tratando de Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.10, n.1, p.53-61, 2008 Influência do tamanho e da forma da coluna de queda na velocidade terminal de grãos ...... esfera), não existe interferência das paredes na determinação da velocidade terminal. Analisando-se para o extremo oposto (DC = 20 mm), verifica-se que também não existe diferença significativa, ou seja, quando existe Zanini et al. 59 proximidade muito grande entre estes dois diâmetros, há uma igual contribuição (interferência) na determinação da velocidade terminal. Tabela 4. Valores médios da velocidade terminal no ar de grãos de feijão, para a interação entre a forma da coluna de queda e tamanho da secção. Forma da secção Circular Quadrada 60 12,75aA 12,99aA Tamanho da secção (mm) 50 40 30 8,74bB 4,88bC 2,64bD 10,40aB 6,72aC 4,91aD 20 1,77aE 2,09aE DMS para colunas = 0,32 DMS para linhas = 0,45 CV% = 5,32 Obs: médias seguidas pela mesma letra, maiúscula nas linhas e minúsculas nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 1% de probabilidade. Na Tabela 5 estão apresentados os valores médios da velocidade terminal de grãos de milho para a interação entre a forma da coluna de queda e tamanho de secção. Ao se comparar os valores experimentais com os valores teóricos de velocidade terminal, calculados com base nas características físicas do produto e do fluido de transporte (Mohsenin, 1978), verificase que os valores experimentais ficam muito aquém dos calculados. Quando, no entanto, comparamos estes resultados com aqueles obtidos com a correção da esfericidade segundo PettyJohn e Christiansen, percebe-se que este valor é atingido com coluna de 50 mm, tanto de secção circular quanto quadrada. Desconfia-se que, em nenhum dos casos analisados obtevese, para milho, a velocidade terminal em queda livre, ou seja, em todos os casos houve influência das fronteiras em sua determinação; este fato fica evidenciado, pois estes valores estão sempre crescendo com o aumento do tamanho da secção da coluna de queda, assim seria necessário realizar o experimento com colunas maiores até eliminar totalmente o efeito de parede, de forma a se obter o mesmo valor de velocidade com as duas colunas, independente da forma. Observando ainda a mesma tabela, percebe-se que os valores obtidos com a coluna de secção quadrada são significativamente superiores àqueles obtidos com coluna de secção circular, independente do tamanho da secção. Esperava-se que os valores de velocidade terminal de milho obtidos com a coluna de queda de 20 mm (quadrada e circular) fossem significativamente iguais devido a grande proximidade deste ao diâmetro da esfera de igual volume do milho, (De – diâmetro da esfera equivalente), mas um fato curioso foi observado durante a realização dos ensaios, que foi o que se pode chamar de efeito “João teimoso”. O grão de milho, como nos demais experimentos realizados com as colunas de maiores diâmetros ou lados, deveria adotar a posição de máxima resistência (posição de repouso), ou seja, com a maior área orientada de forma perpendicular à direção do fluxo (Figura 3a), porém este permanecia com a sua menor projeção normal ao fluxo (Figura 3b). Esse comportamento faz com que a distância entre o grão e a parede da coluna seja maior. Sendo assim, mesmo o grão de milho possuindo dimensão efetiva maior do que feijão, o efeito é mais sentido pelo grão de feijão do que para o de milho, na coluna de 20 mm de diâmetro ou lado. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.10, n.1, p.53-61, 2008 60 Influência do tamanho e da forma da coluna de queda na velocidade terminal de grãos ...... Zanini et al. Tabela 5. Valores médios da velocidade terminal no ar de grãos de milho, para a interação entre a forma da coluna de queda e tamanho da secção. Forma da coluna Medida efetiva das colunas de queda (mm) 50 40 30 7,28bB 3,77bC 2,19bD 8,96aB 5,80aC 4,16aD 60 10,42bA 10,77aA Circular Quadrada 20 1,29bE 1,75aE DMS para colunas = 0,29 DMS para linhas = 0,41 CV% = 5,78 Obs: médias seguidas pela mesma letra, maiúscula nas linhas e minúsculas nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 1% de probabilidade. (a ) (b ) D c D > 20m m c =20m m Figura 3. Posição adotada pelo grão de milho durante a determinação da velocidade terminal: a) em colunas com diâmetros maiores do que 20 mm e b) em colunas com diâmetros igual a 20 mm. É importante ressaltar que todas as equações existentes na literatura são para o cálculo da velocidade terminal, em queda livre, de partículas de formas regulares e minúsculas (DP<1 mm). Alguns autores (Pettyjohn & Christiansen, 1948; Massarani, 1986) propuseram correções no cálculo da velocidade terminal de partículas de formas irregulares a partir da correção do coeficiente de arraste (CD), considerando, nessas correções o fator de forma esfericidade (ϕ), no entanto, nada foi feito ainda, no sentido de estender essas equações para partículas de maiores dimensões. Portanto, ao se fazer comparações de dados experimentais com teóricos deve-se ter o cuidado de analisar as restrições desses modelos bem como da sua aplicabilidade. de feijão e milho em função das suas características físicas de tamanho e forma, em dutos de ar de diferentes tamanhos (diâmetro/lado com 20, 30, 40, 50 e 60 mm) e formas circular e quadrada, concluiu-se que: • • • CONCLUSÕES Nesta pesquisa experimental, estudando-se os parâmetros aerodinâmicos O milho possui as maiores dimensões (diâmetro equivalente, área projetada e volume) e a forma mais irregular; As equações de predição da velocidade terminal propostas por Mohsenin e Petty John & Chistiansen não oferecem boa aproximação aos dados experimentais, obtidas para feijão e milho; A velocidade terminal em queda livre foi conseguida apenas na coluna de secção quadrada de 60 mm de lado para feijão; Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.10, n.1, p.53-61, 2008 Influência do tamanho e da forma da coluna de queda na velocidade terminal de grãos ...... • • • Não se pode afirmar que se tenha obtido velocidade terminal em queda livre para o milho. Ficou evidenciado o efeito de parede, inclusive para a determinação da velocidade terminal na coluna de secção quadrada de 60 mm; Entre todos os tamanhos de colunas testadas, e tipos de grãos, obteve-se maior velocidade terminal com a coluna de secção quadrada e, As equações e cartas existentes na literatura para expressar o transporte de partículas não foram adequadas ao estudo de transporte e seleção dos grãos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Zanini et al. 61 análises de sementes. Brasília : MARE 1992. 188p. Duarte, M.E.M. Estudo experimental dos fundamentos do transporte hidráulico de laranjas.1997.144f. Tese (Doutorado em Engenharia de Alimentos)-Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia de Alimentos. Campinas -SP. Mohsenin, N.N. Physical properties of plant and animal material. Gorson and Breach Science Publishess. New York, 2. ed, 1978, 742p. Pettyjohn, E. S.; Christiansen, E. B. Efect of Particle Shape on Free-Settling Rates of Isometric Particles. 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