PR UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS PONTA GROSSA GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PPGEP CARLA REGINA BLANSKI RODRIGUES ASPECTOS LEGAIS E AMBIENTAIS DO DESCARTE DE RESÍDUOS DE MEDICAMENTOS PONTA GROSSA AGOSTO – 2009 CARLA REGINA BLANSKI RODRIGUES ASPECTOS LEGAIS E AMBIENTAIS DO DESCARTE DE RESÍDUOS DE MEDICAMENTOS Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Área de Concentração: Gestão Industrial, do Gerência de Pesquisa e Pós-Graduação, do Campus Ponta Grossa, da UTFPR. Orientador: Prof. Ivanir Luiz de Oliveira, Doutor PONTA GROSSA AGOSTO - 2009 PPGEP – Gestão de Produção e Manutenção (2009) DEDICATÓRIA À DEUS. À UTFPR. aos meus avós maternos ALFREDO BERTOLDO KLAS e MARIA GENTIL PIMPÃO KLAS (in memorium) e... À Tia Carlota Carlota Maria Klas Picheth (in memorium) PPGEP – Gestão de Produção e Manutenção (2009) Agradeço, Primeiramente à Deus, pelo dom da vida Aos meus guias de luz, pela proteção Ao meu orientador Prof. Ivanir, pela confiança Ao Sérgio, Célia, Jean, Giovani, Fernando, que permitiram a coleta de dados em suas empresas, À minha irmã Clóris, pela colaboração `Aos meus querido filhos, Gustavo e Gabriel, pelas ausências Ao meu esposo querido Adriano, pela paciência Aos meus pais Cesar e Celia, por sempre acreditarem e mim E aos demais familiares, por todo apoio, Amo todos vocês... PPGEP – Gestão de Produção e Manutenção (2009) RESUMO Os riscos ambientais decorrentes do descarte inadequado de resíduos de medicamentos têm aumentado com o progresso tecnológico, e também com o aumento e envelhecimento da população. A rota de entrada desse tipo de resíduo no ambiente ocorre por meio do lançamento de esgotos domésticos em cursos de água, efluentes de indústrias farmacêuticas, efluentes rurais, e disposição inadequada de fármacos após expiração do prazo de validade. Assim, os resíduos seguem com o esgoto bruto para as estações de tratamento de esgoto (ETEs), contudo os processos convencionais de tratamento a que são submetidos não realizam a remoção de fármacos residuais. O propósito desse trabalho foi analisar os aspectos legais e ambientais do descarte de resíduos de fármacos alopáticos.Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória, concretizada por meio de atividades de trabalho de campo, em empresas relacionadas com a produção, distribuição e comércio de produtos farmacêuticos de uso humano, bem como na investigação da literatura e legislação vigente. Verificou-se que os fármacos, mesmo na sua característica de micropoluente, podem exercer impactos significativos ao meio ambiente. O Brasil conseguiu grandes avanços na legislação, porém existem ainda divergências entre os aspectos regulatórios. Quanto ao princípio do poluidor pagador, este é bastante complexo e sujeito a diversas interpretações. No setor farmacêutico há divergências quanto à responsabilidade do descarte, pois os laboratórios farmacêuticos declaram a responsabilidade à indústria química e esta repassa aos laborários. Portanto, constatou-se que o descarte de fármacos está sendo realizado pelas farmácias, o ator mais fraco da cadeira de distribuição, e portanto, não se aplicando o princípio do poluidor pagador e também pelo consumidor final, porém de forma inadequada. Neste contexto, os atores envolvidos no comércio farmacêutico e instituições governamentais deveriam se organizar, a fim de oferecer apoio logístico de distribuição e reverso a essa ação de âmbito nacional, consequentemente contribuindo de maneira efetiva para a sustentabilidade ambiental. Palavras-chave: Descarte Final de Fármacos; Legislação Ambiental; Meio Ambiente; Resíduos de Fármacos. PPGEP – Gestão de Produção e Manutenção (2009) ABSTRACT The environment risks arising of the inadequate discard of pharmaceutical waste has increased with the technology progress, and also with the advance and the aging of the population. The entry route of this kind of waste in the environment is through the domestic sewer’s launch into the water’s route, effluent of pharmaceutical industry, rural effluents, and improper disposal of pharmacist after the end of the expiry date. Therefore, the waste follows with the gross sewer to the stations of sewage treatment, however the usual processes of treatment which the waste is submitted does not remove the pharmaceutical waste. The purpose of this work was analyzing the legal and environment aspects of the allopathic pharmaceutical waste’s final discard. It is a descriptive and exploratory research, achieved through fieldwork activities, and with the help of companies related with production, distribution, and commerce of pharmaceutical products used by humans, as well as in the literature investigation and in the current legislation. It has been verified that the drugs, even with their characteristic of micro pollutant, it may cause significant impacts to the environment. Brasil has achieved great advances in legislation; however there are some divergences between the regulatory aspects that still remain. About the principle of the payer polluter, this is very complex and it can have a lot of different interpretations. In the pharmaceutical department there are divergences about the responsibility of the discard, because the pharmaceutical laboratories say that the responsibility is of the chemistry industry and they passes to the laboratories. Thus, it has found that the discard of drugs is being done by the drugstores, the weaker part of the distribution process, and therefore, not applying the principle of the payer polluter and also by the final consumer, but in an inadequate way. In this context, the protagonists involved in the pharmaceutical commerce and governmental institutions should organize themselves, so they could offer logistic support of distribution and reverse to this national level action, consequently helping in an effective way to the environmental sustainability. Key-words: Drugs’ discard; Environmental Legislation; Environment; Pharmaceutical waste PPGEP – Gestão de Produção e Manutenção (2009) LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 Cadeia de suprimento do setor farmacêutico................................... 38 Figura 2.2 Cadeia de suprimento do setor farmcêutico e operador logístico............................................................................................... 39 Figura 2.3 Relação do consumo de fármacos pelas classes A, B, C e D no Brasil................................................................................................... 43 Figura 2.4 Rotas de exposição de fármacos no ambiente.................................. 49 Figura 3.1 Níveis de análise do objeto central..................................................... 55 PPGEP – Gestão de Produção e Manutenção (2009) LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 Total de vendas de fármacos e previsão de crescimento (mundial).......................................................................................... 33 Tabela 2.2 Consumo anual de diferentes classes de fármacos em diferentes países (toneladas/ano)..................................................................... 44 Tabela 2.3 Potencial de risco dos resíduos químicofarmacêuticos................................................................................... 46 Tabela 2.4 Tabela 4.1 Eficiência de remoção afluente e efluente de fármacos em 50 ETEs................................................................................................ Caracterização das empresas pesquisadas.................................... 65 Tabela 4.2 Tipos de RSSS produzidos pelas empresas pesquisadas....... 66 Tabela 4.3 Aspectos comerciais da logística reversa................................. 68 Tabela 4.4 Conhecimento e aplicação da Lei 13.039/01............................ 70 Tabela 4.5 Medicamento representante amoxicilina............................ 72 Tabela 4.6 Dificuldades relatadas para o retorno de RM para os 74 laboratórios................................................................................ PPGEP – Gestão de Produção e Manutenção (2009) LISTA ABREVIATURAS E SIGLAS ANVISA CEME CS CFF CONAMA FEBRAFARMA IBGE kg l LR mg ml RENAME RSSS RM % µg - Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Central de Medicamentos - Cadeia de Suprimentos - Conselho Federal de Farmácia - Conselho Nacional do Meio Ambiente - Federação Brasileira de Farmácias - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - Kilograma - Litro - Logística Reversa - Miligrama - Mililitro - Relação Nacional de Medicamentos Essenciais - Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde - Resíduo de Medicamento - Porcentagem - Micrograma PPGEP – Gestão de Produção e Manutenção (2009) PPGEP – Gestão de Produção e Manutenção (2009) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................16 1.1 Objetivos.......................................................................................................................................19 1.1 Objetivo Geral ...........................................................................................................................19 1.1.2 Objetivos Específicos .............................................................................................................19 1.2 Justificativa ................................................................................................................................19 2 REFERENCIAL TEÓRICO .....................................................................................21 2.1 Resíduos Sólidos .........................................................................................................................21 2.1.2 Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde (RSSS)..................................................................21 2.1.3 Riscos relacionados aos RSSS .............................................................................................23 2.1.4 Evolução da legislação dos RSSS no Brasil..........................................................................25 2.1.5 Competências ........................................................................................................................29 2.2 Resíduos de medicamentos.........................................................................................................31 2.2.1 O setor industrial farmacêutico .............................................................................................31 2.2.2 A indústria farmacêutica e políticas públicas .......................................................................33 2.2.3 Cadeia de suprimentnos do setor farmacêutico ...................................................................36 2.2.4 Os conflitos da cadeia de suprimentos da indústria farmacêutica no Brasil.........................40 2.3 O produto farmacêutico................................................................................................................41 2.3.1 Resíduos de medicamentos e riscos ao meio ambiente ......................................................45 2.3.2 Rota de resíduos de medicamentos nomeio ambiente........................................................48 2.4 Logística Reversa, abordagens e campos de atuação................................................................51 3 METODOLOGIA.....................................................................................................54 3.1 Caracterização da pesquisa.........................................................................................................54 3.2 Desenvolvimento da pesquisa .....................................................................................................54 3.3 Seleção da amostra .....................................................................................................................56 3.4 Coleta de dados ...........................................................................................................................57 4 RESULTADOS .......................................................................................................60 4.1 Caractereização dos três níveis pesquisados..............................................................................60 4.1.1 Representante do nível 1 .......................................................................................................60 4.1.2 Representantes do nível 2 - distribuidoras............................................................................62 4.1.2.1 Distribuidora 1 .....................................................................................................................62 4.1.2.2 Distribuidora 2 .....................................................................................................................62 4.1.2.3 Distribuidora 3 .....................................................................................................................63 4.1.3 Representantes do nível 3 - farmácias ..................................................................................63 4.1.3.1 Farmácia 1 ..........................................................................................................................64 4.1.3.2 Farmácia 2 .........................................................................................................................64 4.2 Análise de dados da logística de medicamentos e resíduos farmacológicos....................... .....65 4.2.1 Tipos de resíduos produzidos ................................................................................................65 4.2.2 Aspectos da logística reversa de medicamentos................................................................. 67 PPGEP – Gestão de Produção e Manutenção (2009) 4.2.3 Aspectos do medicamento representante amoxicilina...........................................................71 4.3 Discussão sobre as leis ambientais .............................................................................................74 4.4 Cadeia de Suprimentos atual x Logística Reversa ......................................................................76 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................79 REFERÊNCIAS.........................................................................................................81 APÊNDICE A – Classificação dos RSSS e seus respectivos simbolos ....................87 APÊNDICE B – Princípios jurídicos ambientais .......................................................88 APÊNDICE C – Responsabilidade jurídica pelos RSSS ...........................................92 APÊNDICE D – Características da amoxicilina .........................................................95 APÊNDICE E – Instrumento de coleta de dados da indústria ...................................96 APÊNDICE F – Instrumento de coleta de dados das distribuidoras........................100 APÊNDICE G – Instrumento de coleta de dados das farmácias .............................104 ANEXO A – Lei 13030/01 PR..................................................................................108 PPGEP – Gestão de Produção e Manutenção (2009) Capítulo 1 Introdução 16 1 INTRODUÇÃO A maioria dos problemas ambientais causados pelo homem decorre do uso inadequado do meio ambiente. No processo de obtenção dos recursos necessários para produção de bens de consumo e serviços, tem-se a geração de resíduos os quais não estão mais sendo absorvidos por esse meio. Nos primórdios da humanidade, a população era pequena e o meio ambiente conseguia compensar os impactos sofridos por tal agressão, sendo assim, não ocorriam desequilíbrios ambientais significativos. Entretanto, o cenário atual destaca-se pelo consumo aumentado, principalmente nas últimas décadas, seja devido ao próprio crescimento da população, pelos avanços da ciência e/ou expansão da indústria. Para Ferreira (2005, p.1) “a nossa civilização chega ao limiar do século XXI como a civilização dos resíduos, marcada pelo desperdício e pelas contradições de um desenvolvimento industrial e tecnológico sem precedentes na história da humanidade”, pois a tecnologia industrial é caracterizada por sistemas produtivos de natureza poluente, utilizando o ar, água e solo como destino final de seus dejetos. Dados do IBGE (2008) apontam que na última década a população brasileira cresceu 16,8%, enquanto que a geração de resíduos aumentou 48%. Assim, destaca-se o aumento da produção, velocidade de geração, e concepção dos produtos, bem como nas características “não-degradáveis” dos resíduos gerados, aumentando a cada dia a diversidade de produtos com componentes e materiais de difícil degradação e maior toxicidade (ANVISA, 2009). Dessa forma, atualmente, o lixo tem-se transformado em um dos maiores problemas ambientais global. Diariamente, toneladas de resíduos são coletadas de residências, comércio e indústrias. De acordo com ANVISA (2006), no Brasil são geradas cerca de 120 mil toneladas de lixo por dia, sendo que 1 a 3% desse total é produzido por estabelecimentos de saúde e, destes, 10% a 25% representam risco ao meio ambiente e a saúde da população. Os resíduos produzidos em estabelecimentos de saúde são atualmente denominados de Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde (RSSS) e vários são os PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 1 Introdução 17 fatores que vêm contribuindo para o aumento da geração desse tipo de resíduo, para Schneider, et al. (2001, p.29): “isso se deve ao contínuo incremento da complexidade da atenção médica, o uso crescente de material descartável, além do aumento da população idosa que normalmente necessita de mais serviços de saúde e é usuária com mais frequência de diversos tipos e níveis de especialidades”. Portanto, as políticas de gerenciamento dos RSSS apresentam como diretriz a minimização, a reciclagem ou reutilização, a substituição por reagentes menos tóxicos e a destinação final adequada desses resíduos gerados nos estabelecimentos de saúde. Algumas toneladas de medicamentos são produzidas por ano e aplicadas na medicina humana e veterinária. Segundo Pedroso (2007), o Brasil junto com os Estudos Unidos, França e Alemanha constituem os maiores consumidores de medicamentos do mundo. A principal forma de entrada de resíduos de medicamentos no meio ambiente é porm meio do lançamento direto na rede de esgotos domésticos, tratados ou não, em cursos de água. No entanto, também devem ser considerados os efluentes de indústrias farmacêuticas, efluentes rurais, a presença de fármacos no esterco animal utilizado para adubação de solo e a disposição inadequada de fármacos após a expiração do prazo de validade (MELO et al.,2009). Assim, os resíduos de medicamentos seguem para o esgoto bruto, chegam nas estações de tratamento de esgotos (ETEs), onde são submetidos a processos de tratamento convencionais, que não são eficientes para a completa remoção de fármacos residuais. Isso ocorre em decorrência dos medicamentos possuírem ação biocida ou estruturas químicas complexas não passíveis de biodegradação, fatos esses comprovados por estudos que evidenciam a presença desse tipo de contaminante em efluente de ETEs. Para Melo et al. (2009) o nível de concentração dos fármacos encontrados em ambientes aquáticos está relacionado com o padrão de consumo dos mesmos, pela PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 1 Introdução 18 taxa de remoção nas ETEs, pelo tipo de efluente que aporta nas e pela sazonalidade. É importante ressaltar que no Brasil há uma maior expectativa de ocorrência de fármaco em águas residuais em decorrência da pobreza de estrutura sanitária de tratamento de esgoto. Dados do IBGE (2008), revelam que apenas 52,2% dos municípios brasileiros têm serviço de coleta de esgoto e 33,5% dos domicílios são atendidos por rede geral de esgoto. O correto descarte dos resíduos sólidos de origem farmacêutica é normatizado pelo Ministério da Saúde e pelo do Meio Ambiente, que devem fornecer instrumentos para que os atores envolvidos em atividades que geram resíduos desta natureza possam dar-lhes a disposição final adequada. No entanto, existem dificuldades a serem superadas. Neste contexto, o referido estudo apresenta a seguinte questão norteadora: “Como se apresentam os aspectos legais e ambientais do descarte de resíduos de medicamentos alopáticos?” Portanto, serão considerados nesta abordagem os aspectos legais e ambientais, o canal de distribuição das embalagens de medicamentos alopáticos, a fim de identificar os diversos agentes, correlações da cadeia de distribuição e usuários desse produto, procurando avançar na compreensão das possibilidades, desafios e dilemas da gestão do fim da vida das embalagens de medicamentos. Este modelo está focado na questão da saúde e meio-ambiente, podendo apontar alternativas para o consumidor final. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 1 Introdução 1.1 19 Objetivos da Pesquisa 1.1.1 Objetivo Geral Analisar os aspectos legais e ambientais do descarte de resíduos de medicamentos alopáticos. 1.1.2 Objetivos Específicos • Avaliar o canal de distribuição dos medicamentos com vista à logística reversa; • Avaliar os aspectos legais do gerenciamento de resíduos de medicamentos; • Levantar os componentes da logística reversa e sua importância para os fluxos dos medicamentos de pós-venda e pós-consumo. 1.2 Justificativa Na prática profissional farmacêutica pode-se verificar que muitas vezes não ocorre um compartilhamento de responsabilidades quanto ao descarte final de fármacos e também há uma inadequação no descarte pós-consumo, fato este que pode impactar negativamente o meio ambiente Os medicamentos são classificados em três grandes grupos, conforme a origem de seu princípio ativo: alopáticos, homeopáticos e fitoterápicos. O princípio ativo é o elemento de uma fórmula medicamentosa responsável pelo efeito farmacológico e terepêutico do produto. Na alopatia o(s) princípio(s) ativo(s) do medicamento são obtidos por meio de síntese ou semi-síntese, ao contrário da fitoterapia, que o(s) princípio(s) ativo(s) são obtidos exclusivamente origem natural extraídos de plantas. A homeopatia, por sua vez, utiliza substâncias de origem animal, vegetal, mineral, mas em doses ultra-diluídas. Assim, devido ao impacto PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 1 Introdução 20 ambiental que os resíduos de medicamentos alopáticos exercem, cabe um estudo mais aprofundado. O princípio ativo de um medicamento é o elemento da formulação que causa os efeitos terapêuticos esperado, ação biológica e inclusive as ações tóxicas, e é também denominado de fármaco. Portanto neste trabalho será utilizada o termo fármaco como sinônimo de medicamento. Já na década de 70 começou-se a atentar para a presença de fármacos em ambientes aquáticos, e desde então diversos estudos tem sido realizados e revelam a presença de resíduos de medicamentos em várias partes do mundo (MELO et al., 2009). Segundo uma investigação realizada em 2008 pela Associated Press (AP), uma agência americana de notícias, verificou-se que a água potável de aproximadamente 41 milhões de pessoas nos Estados Unidos está contaminada com resíduos de fármacos. Os exames laboratoriais de amostras de água realizados revelaram aproximadamente 63 tipos diferentes de medicamentos e derivados, pertencentes a vários grupos de medicamentos, como sedativos, calmantes, anticonvulsivantes, ansiolíticos e antibióticos. No Brasil, estudos revelando tais dados são escassos. Neste contexto, o destino final dos resíduos medicamentosos é tema relevante para a saúde pública, devido às diferenças de propriedades físicoquímicas dos medicamentos que por fim se tornarão resíduos. De acordo com Resolução CONAMA nº 358/05, os resíduos oriundos da produção, formulação, preparação e utilização de produtos farmacêuticos, bem como resíduos de medicamentos, estão enquadrados como resíduos perigosos e devem ser tratados com a devida atenção. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 21 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Resíduos Sólidos Lixo é todo e qualquer material residual, orgânico ou inorgânico, resultante das atividades diárias do ser humano em sociedade. Pode encontrar-se nos estados sólido, líquido e gasoso e de acordo com a origem e produção. Os resíduos sólidos, conforme a NBR n. 10.004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), são definidos: "Resíduos nos estados sólido e semisólido, que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d'água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível." Caso o lixo não tenha um tratamento adequado, ele acarretará sérios danos ao meio ambiente, como contaminação do solo, da água e do ar. Embora seja possível e prioritário reduzir a quantidade de resíduo durante a produção e até o pós-consumo, eles sempre são gerados. 2.1.2 Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde (RSSS) Como os resíduos de medicamentos (RM) são classificados como Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde (RSSS) cabe uma revisão à parte sobre esse tema. Até os anos 80, os resíduos considerados perigosos incluíam aqueles provenientes de hospitais. A denominação lixo hospitalar tornou-se comumente utilizada, mesmo quando os resíduos não eram gerados em unidades hospitalares (NAZÁRIO, et al., 2005). Esse termo foi substituído por RSSS, que engloba os PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 22 resíduos produzidos por todos os tipos de estabelecimentos prestadores de serviço de saúde. Segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), na RDC 358/05, os RSSS são todos aqueles resultantes de atividade exercidas nos serviços de saúde que, por suas características, necessitam de processos diferenciados em seu manejo, exigindo ou não tratamento prévio à sua disposição final. Assim, os RSSS englobam os resíduos gerados em todos os serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para saúde; necrotérios, funerárias e serviços em que se realizem atividades de embalsamento; serviço de medicina legal; drogarias e farmácias; estabelecimentos de ensino de pesquisa na área de saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos; importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura; serviços de tatuagem, dentre outros similares (ANVISA, 2004). Para Garcia e Ramos (2004, p.2), “devido às condições precárias do sistema de gerenciamento de resíduos, no Brasil, não há estatísticas precisas a respeito do número de geradores, nem da quantidade de resíduos de serviço de saúde gerada diariamente”. Atualmente os RSSS estão sendo o foco de muitas discussões. Principalmente os processos de gerenciamento desses têm sido amplamente discutidos em virtude das conseqüências que pode gerar, quando é realizada de forma inadequada, para os profissionais da saúde, para os pacientes e o meio ambiente. No Brasil, não se dispõe de dados precisos sobre a produção e qualidade da maior parte dos resíduos sólidos. O que se sabe, pela constatação da presença de resíduos de forma indiscriminada no ambiente, além daqueles dispostos em sistemas sob controle, é que as quantidades são elevadas e os problemas decorrentes, bastante graves (FERREIRA, 2005). PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 23 A classificação dos resíduos é uma atividade complexa e, em muitos casos, ainda indefinida mesmo nos países desenvolvidos. Quanto mais perigoso é considerado o resíduo, maiores os cuidados necessários e, como conseqüência, maiores os custos envolvidos. Uma classificação adequada dos resíduos gerados em estabelecimentos de saúde permite que seu manuseio seja eficiente, econômico e seguro. A classificação facilita uma segregação apropriada dos resíduos, reduzindo assim riscos sanitários e gastos desnecessários no seu manuseio, já que os sistemas mais seguros e dispendiosos se destinarão apenas à fração de resíduos que os requeiram e não para todos (FIGUEIREDO, 2005, p.396). Os RSSS são de natureza diversa, fazendo necessária uma classificação para a segregação desses resíduos. Nesse contexto, muitas classificações foram propostas por várias entidades como o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), bem como governos estaduais e municipais. “A classificação dos RSSS vem sofrendo um processo de evolução contínuo, na medida em que são introduzidos novos tipos de resíduos nas unidades de saúde e como resultado do conhecimento do comportamento destes perante o meio ambiente e a saúde, como forma de estabelecer uma gestão segura com base nos princípios da avaliação e gerenciamento dos riscos envolvidos na sua manipulação” (BRASIL, 2006, p.41). De acordo com o CONAMA (2005) os resíduos são separados em vários grupos: resíduos potencialmente infectantes, químicos, rejeitos radioativos, comuns e perfuro cortantes. Com base na RDC ANVISA nº 306/04, os RSSS são classificados em cinco grupos: A, B, C, D e E, conforme Tabela (Apêndice A), seguido de seus respectivos símbolos. 2.1.3 Riscos relacionados aos RSSS O maior problema dos RSSS é seu potencial de risco à saúde e ao meio ambiente. Risco pode ser entendido como a probabilidade de ocorrência de um resultado desfavorável, de um dano ou de um fenômeno indesejado. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 24 O risco ambiental pode ser classificado de acordo com o tipo de atividade, englobando as dimensões de exposição instantânea, crônica, probabilidade de ocorrência, severidade, reversibilidade, visibilidade, e duração de seus efeitos. No contexto governamental, o risco ambiental pode ser classificado nas áreas de saúde pública, recursos naturais, desastres naturais e introdução de novos produtos (NAIME, SARTOR e GARCIA, 2004). Para a comunidade científica e entre os órgãos federais responsáveis pela definição das políticas públicas dos RSSS (ANVISA e CONAMA) esses resíduos representam um potencial de risco em duas situações: a) para a saúde ocupacional de quem manipula esse tipo de resíduo, seja com relação ao pessoal da assistência médica ou médico-veterinária, seja o pessoal do setor de limpeza e manutenção; b) para o meio ambiente como decorrência da destinação inadequada de qualquer tipo de resíduo, alterando as características do meio. O destino final inadequado dos resíduos constitui-se em focos de propagação de doenças infecto-contagiosa. Segundo dados da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, as péssimas condições dos sistemas de água, lixo e esgoto são responsáveis por 80% das doenças que afetam a população e por 65% das internações hospitalares de crianças (BARBIERI, 2004). Os RSSS são considerados perigosos tanto pela legislação americana bem como pela normatização brasileira, e a periculosidade é atribuída tanto pela toxicidade quanto pela patogenicidade. Dentre os componentes perigosos presentes nos RSSS destacam-se os químicos (metais pesados) e os biológicos infectantes. “Dentre os componentes químicos destacam-se as substâncias ou preparados químicos: tóxicos, corrosivos, inflamáveis, reativos, genotóxicos, mutagênicos; produtos mantidos sob pressão – gases, quimioterápicos, pesticidas, solventes, ácido crômico; limpeza de vidros de laboratórios, mercúrio de termômetros, substâncias para revelação de radiografias, baterias usadas, óleos, lubrificantes usados, etc.” (BRASIL, 2006, p.23). PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 25 Estudos realizados identificam uma série de microorganismos presentes na massa de resíduos, indicando o potencial de risco dos mesmos: A possibilidade de sobrevivência do vírus na massa foi comprovada pelo poli tipo I, hepatite A e B, influenza e vírus entéricos. Esses estudos revelaram ainda patógenos em condições de viabilidade por até 21 semanas durante o processo de decomposição de material orgânico. Durante esses estudos, foi verificado o desenvolvimento de bactérias mesófilas (65.450.000/kg de resíduos), esporuladas (2.211.000/kg), termófilas (8.427.000/kg), fungos (500.000/kg) e helmintos (428 ovos/kg) (NAIME; SARTOR; GARCIA, 2004). O contato com os agentes existentes nos RSSS ocorre principalmente através de vias respiratórias, digestivas e pela absorção através da pele. A via respiratória ocorre através inalação de partículas em suspensão no momento do processo de manipulação e a via digestiva é atingida no momento da ingesta de água e alimentos contaminados. Na medida em que os RSSS são dispostos de qualquer maneira em depósitos a céu aberto, ou em cursos de água, possibilitam a contaminação de mananciais de água potável, sejam superficiais ou subterrâneos, disseminando as doenças por meio de vetores que se multiplicam nestes locais ou que fazem dos resíduos fonte de alimentação. 2.1.4 Evolução da Legislação de Resíduos Sólidos e RSSS no Brasil Com relação à Política Nacional de Resíduos Sólidos, as primeiras iniciativas legislativas para a definição de diretrizes à área de resíduos sólidos surgiram no final da década de 80. A legislação brasileira traz em si leis ambientais que visam a manutenção da fauna e da flora e a melhoria da qualidade de vida buscando o respeito ao meio ambiente tanto pelas empresas quanto pelos cidadãos. No Brasil, no final dos anos 70, foi publicada a Portaria Minter nº 53, de 01/03/1979, por meio do Ministério do Interior, visou orientar o controle de resíduos PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 26 sólidos no país, de natureza industrial, domiciliar, de serviço de saúde e demais resíduos gerados pelas diversas atividades humanas. Porém, institucionalmente, foi a partir da Lei nº 6.938/81 que se explicitou no Brasil a Política Nacional de Meio Ambiente e criou-se o sistema Nacional de Meio Ambiente. A denominada Revolução Ambientalista, que ocorreu no período entre 1962 a 1970, fez com que a questão ambiental tivesse um impacto político e social, e as questões consideradas eram em última análise universais. Assim, tem-se a Conferência de Estocolmo, em 1972, como marco fundamental do crescimento do ambientalismo internacional. Segundo Milaré (2005, p.421), “a Conferência de Estocolmo inspirou a criação das normas constitucionais da Constituição Federal de 1988 atinentes ao meio ambiente”. Nesta constituição garantiu-se os direitos fundamentais, inalienáveis e imprescritíveis de todo homem: a preservação do meio ambiente. Pois o Art. 225 descreve: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Como se não bastasse à abrangência do dispositivo constitucional citado, quanto à orientação de ampla proteção ao meio ambiente a ser dispensada pelo Estado, o parágrafo primeiro arrolou, ainda, em seus sete incisos, uma série de determinações expressamente direcionadas à proteção ambiental pelo Estado. Dentre as políticas nacionais e legislação ambiental existente que contemplam a questão de resíduos sólidos, destacam-se: a) Política Nacional de Meio Ambiente (6938/81); b) Política Nacional de Saúde (3.080/90); c) Política Nacional de Educação Ambiental (9.795/94); d) Política Nacional de Recursos Hídricos (9.433/97); e) Lei de Crimes Ambientais (9.605/98); f) Estatuto das Cidades (10.257/01); PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 27 g) Política Nacional de Saneamento Básico (projeto de lei nº 5.296/05) e a Política Nacional de Resíduos Sólidos (projeto de lei), sendo que esses dois últimos encontram-se em apreciação junto ao Congresso Nacional. De acordo com a Política Nacional de Meio Ambiente (6.938/81) no seu art. 147, parágrafo 1º determina: “[...] poluidor é obrigado a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade, independentemente da existência de culpa. Na responsabilidade administrativa o gerador poderá vir a ser o único ator a reparar o dano, independente da ação de outros atores na conduta que gerou o dano. Isto induz o gestor a cercas-se de garantias para prováveis arregimentações dos demais atores na cadeia de responsabilidade. Deve o gerador precaver-se para, em caso de danos, fazer valer a responsabilidade compartilhada com os demais atores, sejam eles empresas ou órgão públicos responsáveis pela coleta, tratamento ou disposição final desses resíduos” (BRASIL, 2006, p 40). No Direito Ambiental, os princípios são voltados a preservação, a qualidade de vida satisfatória aos seres humanos das presentes e futuras gerações. E para tanto, é na doutrina jurídica, que se pode encontrar vários princípios que tentam de uma forma ou de outra nortear essa proteção ao meio ambiente e à própria população, dentre os quais destacam-se, nesse caso, os Princípios da Precaução, da Prevenção e do Poluidor Pagador. Esses princípios supracitados são mandamentos básicos que fundamentam o progresso da doutrina, e que possibilitam aos legisladores e operadores do direito formar concepções a partir deles, tendo em vista ser considerado o alicerce do Direito (SURGIK e MACHADO, 2002). Apenas como uma forma de direcionar este estudo os aspectos dos princípios jurídicos-ambientais, que orientam o direito ambiental, estão descritos no Apêndice A. A lei da Política Nacional do Meio ambiente, no seu artigo 3º, e a Lei dos Crimes Ambientais, artigos 54 e 56, responsabiliza administrativa, civil e penalmente PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 28 as pessoas físicas e jurídicas, autoras e co-autoras de condutas ou atividade lesivas ao meio ambiente. A partir do conceito dos princípios-jurídicos ambientais, anteriormente descritos, é que a doutrina jurídica passou a prever uma tríplice penalização do agente poluidor do meio, podendo ser ele, tanto pessoa física como pessoa jurídica: a sanção penal, por conta da responsabilidade penal, a sanção administrativa, em decorrência da responsabilidade administrativa, e a sanção civil, em razão da responsabilidade civil. Para melhor compreensão estas responsabilidades estão descritas no Apêndice B. Porém, o país ainda não conta com uma lei que disciplina de forma abrangente a gestão de resíduos sólidos no território nacional. No entanto, esta questão vem sendo exercida pela atuação de órgãos regulatórios, por meios de resoluções do CONAMA e ANVISA, particularmente no caso dos RSSS. A RDC ANVISA nº 306/04 e a Resolução CONAMA nº358/05 versam sobre o gerenciamento dos RSS em todas as suas etapas. Definem a conduta dos diferentes agentes da cadeia de responsabilidades pelos RSSS. Refletem um processo de mudança de paradigma no trato dos RSSS, fundamentada na análise dos riscos envolvidos, em que a prevenção passa a ser eixo principal e o tratamento é visto como uma alternativa para a destinação adequada aos resíduos com potencial de contaminação (Brasil, 2006, p 17). Resolução CONAMA nº 358/05 trata do gerenciamento sob o enfoque da preservação dos recursos naturais e do meio ambiente. Promove a competência aos órgãos ambientais estaduais e municipais para estabelecerem critérios para o licenciamento ambiental dos sistemas de tratamento e destinação final dos RSS. Por outro lado, a RDC ANVISA nº 306/04 concentra sua regulamentação no controle dos processos de segregação, acondicionamento, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final. Estabelece procedimentos operacionais em função dos riscos envolvidos e concentra seu controle na inspeção dos serviços de saúde. Dessa forma, enquanto a ANVISA foca a saúde pública e prevenção de acidentes, a CONAMA foca o Meio Ambiente e controle da poluição aquática. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 29 Alguns estados brasileiros se anteciparam e estabeleceram suas políticas estaduais de resíduos sólidos por meio de legislação específica, e em outros os projetos de lei se encontram em fase de elaboração. 2.1.5 Competências: A principal diferença entre gerenciar resíduos de uma indústria, distribuidora ou farmácia diz respeito ao tratamento e disposição final. Na indústria se justifica a necessidade de uma estação de tratamento de efluentes e resíduos, enquanto no caso dos pequenos estabelecimentos se faz a terceirização destes serviços. A Constituição Federal de 1988 estabelece em seus artigos que a competência é concorrente entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios brasileiros promulgarem leis e regulamentos que protejam o meio ambiente. Enquanto a União promulga leis de proteção ambiental que impõem padrões gerais de proteção, os Estados e Municípios podem promulgar leis e regulamentos ambientais com regras mais específicas, visando os interesses regionais ou locais e desde que não contrariem as normas federais. Assim, caso existam legislações estaduais e municipais, as mesmas devem ser observadas. Adotando a divisão de competência em matéria ambiental, correspondente na fixação de temas comuns aos entes federados, prevendo atuações paralelas, respeitadas, naturalmente, as esferas de atuação de cada um. Corroborando a competência comum de todos os entes federados para atuarem de forma conjunta em defesa do meio ambiente, o §1° do Art. 225 da Constituição utiliza a expressão genérica "Poder Público", não fixando, portanto, para nenhum ente federado específico as atribuições ali previstas. Logo, conclui-se que os Estados Federados em matéria ambiental com a ordem constitucional vigente a partir da Constituição Federal, tanto em relação à competência material ou administrativa quanto legislativa, passaram a exercer um papel fundamental (SIRVINSKAS, 2005). PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 30 Porém, em não havendo normas gerais editadas pela União, o Estado poderá dispor de maneira plena, porém, terá sua eficácia suspensa quando sobrevier disposição federal, nos assuntos de que disciplinar, conforme disposto no §4º do Art. 24 da CF/88: “a superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário”. O município legisla de acordo com o interesse local, como assim dispõe o Art. 30, incisos I e II da Constituição Federal: “compete aos Municípios: I. legislar sobre assuntos de interesse local; e II. suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”. Em outras palavras, a competência para fiscalizar, os danos que efetivamente ocorrem ao meio ambiente, é do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos recursos naturais (IBAMA) quando atingir mais de um Estado, pois sua abrangência é nacional. Será do Órgão Seccional, quando atingir um só Estado, quando for uma questão interna ou quando atingir mais de um Município naquele mesmo Estado. Porém, se existir um órgão local competente e estruturado, a competência será dele, quando tratar-se de dano que atinja somente aquele determinado Município. Mas, na inexistência de órgão local ou seccional, ou ainda, se existir mas não tiver estrutura suficiente para dar atendimento às ocorrências, será competente o órgão superior, no caso o IBAMA. De acordo com o que a legislação e os princípios norteiam no país, pode-se claramente observar que há alguns Estados e Municípios que já se adiantaram e estabeleceram políticas estaduais legislando de forma a tentar proteger seu território de quaisquer questões ambientais por meio de legislação específica. Outros Estados apresentam projetos de leis, mas que ainda estão no papel, o que os faz ser subordinados às leis federais. Mas, se ainda sim, restarem dúvidas sobre que ente é o responsável por tomar as providências necessárias em relação aos danos ambientais causados, em cada situação em particular, deve-se levar em consideração que há no ordenamento jurídico o sistema do livre convencimento motivado ou persuasão racional do juiz. O que significa dizer que o julgador terá total liberdade para decidir e formar sua convicção pela livre apreciação das provas que constam dos autos. Porém, essa PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 31 convicção terá de ser motivada, ou seja, ele é obrigado a fundamentar seu julgamento, mas sem ficar preso ao formalismo da lei. 2.2 Resíduos de Medicamentos 2.2.1 O setor industrial farmacêutico A indústria farmacêutica é integrante do chamado complexo médico-industrial, uma das atividades econômicas privadas mais importantes do mundo globalizado. O mercado farmacêutico encontra-se em crescimento há alguns anos, sendo a taxa anual média em torno de 7% e a rentabilidade desse setor chega a 15%, superando o setor automotivo, varejista, de construção civil e alimentos (RENOVATO, 2008). No âmbito nacional, o mercado farmacêutico é dominado por empresas multinacionais, com unidades industriais de produção e formulações aqui instaladas. As empresas com capital nacional, responsáveis por cerca de 20% do faturamento do setor, têm suas atividades centradas principalmente na produção e desenvolvimento de processos produtivos, com produtos obtidos por meio de patentes expiradas, com tecnologia transferida por parcerias internacionais mediante participação financeira, pagamento de royalties ou na forma de genéricos (FARDELONE e BRANCHI, 2006) A indústria farmacêutica apresenta três características: a internacionalização, a diversificação e a concentração, sendo a primeira já explicada anteriormente (BERMUDEZ, 2004). A diversificação é uma das características do setor e também um dos elementos chaves, que garante os monopólios ou oligopólios diferenciados. As empresas farmacêuticas se especializam em classes terapêuticas, sub-classes e principalmente em grupos farmacológicos químicos. A concentração deste mercado é o resultado de um processo de aquisições e fusões que interessou, na última década, aos principais grupos do setor. Esse PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 32 processo é justificado pelos elevados custos de P&D, que exigem tecnologias cada vez mais avançadas, além de todos os testes clínicos necessários com vistas a aumentar a segurança e eficácia dos medicamentos (FARDELONE & BRANCHI, 2006) Por outro lado, o setor farmacêutico possui uma característica singular, na qual nenhuma empresa detém mais de 8% do mercado, apresentando um número relativamente reduzido de grandes empresas e um elevado número de pequenas e médias atuando nesse setor de maneira complementar. Segundo Campos, Csillag e Sampaio (2001), o mercado de medicamento é altamente pulverizado, sendo o número de apresentações atualmente comercializadas no Brasil é de 11 mil, enquanto que os laboratórios produzem e comercializam menos de 150 itens. Por exemplo, a Aventis Pharma, no período de outubro de 1999 a outubro de 2000, encontrava-se em primeiro lugar no ranking com 6,56% de participação no mercado brasileiro e a Schering do Brasil, em décimo lugar, apresentava 2,55% de participação (BERMUDEZ, 2004). Em termos comerciais, os vinte principais laboratórios controlam mais de 35% de toda a oferta mundial e apresentam um faturamento médio individual acima dos US$ 5 bilhões ao ano, de um mercado total estimado em US$ 285 bilhões para o ano de 2006 (FUNDAÇÃO ISALUD, 2007). Sob essa ótica mais abrangente e inespecífica, em que se considera a concentração em função do faturamento global dos laboratórios no mercado farmacêutico, pode-se verificar que o nível de concentração individual não chega a ser dos mais elevados, girando em torno de 5% para as empresas líderes. Analisando-se a produção e consumo de medicamentos, de acordo com os dados disponíveis, observa-se uma elevada concentração geográfica, visto que mais de 60% do mercado mundial está restrito à Europa e Estados Unidos, seguidos pelo Japão, com aproximadamente 19%, e o restante desse mercado encontra-se dividido, pela ordem, para a América Latina, Ásia e outros países (FRENKEL, 2002). PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 33 Tabela 2.1 Total de vendas de fármacos e previsão de crescimento (mundial) Vendas no Mundo (US$B) 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Total de Vendas Mundiais(Corrente US$B) $298 $331 $356 $390 $427 $497 $559 $602 Crescimento previsto para o Ano (Constante US$) 7% 11% 11% 13% 9% 10% 8% 7% B$= Bilhões Fonte: IMS Health – Feb. 2006 Segundo a Conselho Federal de Farmácia (CFF) (2008), o parque industrial farmacêutico no Brasil é composto por 591 estabelecimentos produtores de medicamentos para uso humano. Os laboratórios com capital de origem nacional responderam por 45,3% das vendas e 39,2% do faturamento do setor, em 2005. No que tange ao posicionamento da indústria de medicamentos brasileira, Frenkel (2002) constatou que esta ocupa a décima posição mundial dentre os países com maior faturamento no setor, sendo os três primeiros: os EUA, o Japão e a Alemanha. 2.2.2 A indústria farmacêutica no Brasil e políticas públicas A Indústria farmacêutica brasileira teve o seu início e desenvolvimento no período de 1890 a 1950, mais tardiamente que países europeus que, já no século XIX, apresentavam avanços significativos nesse segmento. Ao final do século XIX, os medicamentos consumidos no Brasil eram originários da atividade de um grande número de pequenos e médios laboratórios nacionais, poucos estrangeiros e também de importações. No início do século XX pioneiros deram origem à indústria nacional de medicamentos a partir de suas boticas. Diversos profissionais fundaram farmácias, principalmente no Rio de Janeiro, logo na década de 30 transformadas em laboratórios fabricantes de preparados, que ganharam grande popularidade. Alguns desses estabelecimentos prosperaram de tal forma que foram negociados anos depois, passando a pertencer a influentes grupos estrangeiros. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 34 Assim, a internacionalização da indústria, com as políticas de atração das primeiras empresas multinacionais ocorreram entre os anos 40-50. O estímulo geral à instalação de empresas estrangeiras no Brasil, uma das linhas mestras da política econômica adotada no país nos anos 50, elevou a participação dessas empresas na produção farmacêutica brasileira de 14% do total em 1930 e 35% em 1940 para 73% em 1960. As importações, em 1953 foram de 70% do consumo, reduziram-se a níveis residuais no fim da década, quando essas empresas passaram a produzir o medicamento final no país com insumos importados (FILHO e KOO PAN, 2003). Com a descoberta de novos fármacos, o avanço das pesquisas científicas, o processo de desnacionalização se avolumou acentuadamente, sendo que já na década de 70, a produção de medicamentos se concentrou em laboratórios farmacêuticos estrangeiros (RENOVATO, 2008). Ainda para o mesmo autor, esses laboratórios avançaram no mercado brasileiro adquirindo as pequenas e médias empresas nacionais, mediante o conjunto de medidas da política econômica com ênfase na industrialização, não se preocupando em desenvolver políticas que fortalecessem o parque fabril brasileiro. Assim, desde a década de 50, as indústrias farmacêuticas incorporam o processo denominado integração vertical, como estratégia de dominação do mercado mundial. A integração, então, consiste em realizar todas as etapas da fabricação do medicamento, da produção à comercialização. Dessa forma, como característica de empresas transnacionais nos países em desenvolvimento, como Brasil, as indústrias operam apenas em algumas etapas do processo produtivo, ficando o aspecto tecnológico retido em suas matrizes ou em locais que ofereçam condições adequadas para a P&D de novos fármacos (RENOVATO, 2008). Em 1971 ocorreu a promulgação do Código de Propriedade Industrial pela Lei 5.772/71, que não reconhecia patentes nem de produtos químicos nem de processos de obtenção. Segundo Filho & Koo Pan (2003) o não reconhecimento de patentes pelo Brasil, estimulou as empresas nacionais a lançarem cópias dos produtos patenteados no país, com sua própria marca, dando origem ao denominado medicamento similar. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 35 A Central de Medicamentos (CEME), criada também em 1971, teve como política de medicamentos atuar de forma a acomodar os interesses das indústrias, e propiciar a expansão do consumo de medicamentos para a população de baixo poder aquisitivo. A CEME perdurou até 1997, e segundo Renovato (2008) constituiuse de uma grande distribuidora estatal de medicamentos, lócus de redes de corrupções, e componente de uma política equivocada e assistencialista. Em 1974 foi elaborada a primeira Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), pela portaria Ms. 597/GM, a qual foi revisada em 1983 e posteriomente em 2000. Na década de 80 ocorreram diversas medidas de controle de preços de medicamentos e medidas de incentivo e proteção à produção interna de fármacos. Em 1990 houve redução das tarifas de importação de fármacos e eliminação das restrições e proibições à importações de insumos farmacêuticos. Entre 19911999 ocorreu liberação dos preços dos medicamentos. Atendendo a interesses dos EUA, em 1996, expressos na Ordem Mundial do Comércio (OMC), o governo brasileiro, enfim, sancionou a Lei de Patentes (FILHO & KOO PAN, 2003). A Política Nacional de Medicamentos, foi apresentada e aprovada em 1998, na forma de um documento amplo, mas que requer força política para que se concretize (RENOVATO, 2008). Finalmente em 1999, ocorreu a promulgação da Lei dos Genéricos, criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e a retomada da política de administração de preços de medicamentos. Porém, pode-se considerar que a história da indústria farmacêutica no Brasil é marcada por dois momentos bem distintos: o primeiro, que durou até o fim da década de 90, caracterizado pelo domínio absoluto dos grandes laboratórios multinacionais; e o segundo, reflete o crescimento das indústrias brasileiras com a implantação da lei dos medicamentos genéricos nº 9787/99, que nesses dez anos, colocou as indústrias nacionais na liderança do setor em volume de vendas. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 36 2.2.3 Cadeia de Suprimento do setor farmacêutico A administração de materiais em qualquer empresa é um setor especializado cujo objetivo é providenciar o material correto, para a necessidade certa, no exato momento em que ela for necessária. Para fazer com que isto ocorra, torna-se fundamental gerar informações adequadas. Durante a obtenção destas informações é importante planejar controlar e organizar as necessidades, pois, em geral os materiais devem estar disponíveis em níveis adequados, evitar faltas ou excessos que comprometam o capital de giro. Nos casos de empresas voltadas para a área de saúde o cuidado deverá ser ainda maior, pois a falta poderá colocar em risco vidas humanas (FOGAÇA, 2006). Council of Logistics Management (CLM) define logística, como o processo de planejar, implementar e controlar de maneira eficiente o fluxo e a armazenagem de produtos, bem como os serviços e informações associados, cobrindo desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender aos requisitos do consumidor (NOVAES, 2001). “A logística empresarial trata de todas as atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos deste o ponto de aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo final, assim como dos fluxos de informação que colocam os produtos em movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço adequados aos clientes a um custo razoável” (BALLOU,1995, p.94). A Cadeia de Suprimentos (CS) do setor farmacêutico caracteriza-se por ser extremamente complexo, devido à quantidade de atores envolvidos e seus diferentes papéis, que vão desde a pesquisa e desenvolvimento, passando pela produção e comercialização, até o consumo e pós-consumo dos medicamentos. Esse mercado de bens apresenta peculiaridades que tornam difícil a sua comparação com algum outro setor especificamente. Sobre essa questão, descreve muito bem um estudo desenvolvido pela Fundação Isalud (2007): PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 37 Por seu alto ritmo inovador se assemelha ao mercado de informática; pela diversidade dos produtos, tamanhos e complexidades das empresas produtoras poderia assemelhar-se à indústria alimentícia. Pelo volume do faturamento poderia ser comparável à indústria bélica. Pela quantidade de intermediações e em especial de atores que participam em seu financiamento, é muito similar ao setor de serviços médicos. O setor de distribuição de medicamentos é um dos muitos setores da economia que tem apresentado avanços significativos na área de logística. Nos últimos anos a competitividade impôs a necessidade de utilização de novas técnicas de gestão de estoques, automação dos depósitos e principalmente, a busca de uma visão integrada dos negócios, envolvendo todas as atividades desde a matéria-prima até o consumo final. Parece difícil não notar as alterações no setor decorrentes desses fatores. “A formação de grandes e numerosas redes de farmácias em detrimento das farmácias que funcionavam até então isoladamente, a abertura de lojas durante 24 horas, os requintes de elegância e praticidade de layout apresentado por algumas unidades (que a cada dia mais se assemelham a lojas de auto-serviço), o caixa computadorizado além de outras melhorias não menos significativas, estão aí para quem quiser ver” (MACHLINE E AMARAL, 1998, p.64). A CS do setor farmacêutico inicia-se com os fornecedores de matéria-prima até o consumidor final, passando pelos fabricantes, representados pelos laboratórios farmacêuticos, que podem entregar os medicamentos diretamente as farmácias ou de forma indireta através de distribuidoras, meio mais comum. O segmento institucional, representado por hospitais, centros de saúde, secretarias públicas estaduais e municipais de saúde, ao lado das farmácias constitui importante mercado. Os fabricantes e distribuidores entregam os seus produtos ao depósito destas instituições ou os aloca diretamente nas lojas e estabelecimentos. A CS do setor pode ser simplificada e representada pela Figura 2.1. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 38 Fornecedores de Matéria-prima Fabricantes (laboratórios) Farmácias Distribuidores Consumidor Final Mercado Institucional Figura 2.1 Cadeia de suprimento do setor farmacêutico Fonte: MACHLINE; AMARAL JR., 1998 (adaptado). Os principais fornecedores da indústria farmacêutica são as empresas de química fina, produtoras dos princípios ativos, em sua maioria localizadas no exterior. A fabricação propriamente dita ocorre nos laboratórios farmacêuticos. Em alguns casos, os laboratórios podem subcontratar terceiros para a produção de parte ou totalidade de determinados produtos, em função de suas competências em manufatura e/ou capacidade instalada de que dispõe (FORTUNA e MESQUITA, 2003) Há alguns anos surgiu, então, a figura do operador logístico na cadeia de suprimentos da indústria farmacêutica, que assumiu o processo de expedição dos produtos. Atualmente estas empresas são responsáveis por todo o processo de estocagem de produtos acabados, e distribuição física destes produtos para os clientes da empresa contratante. Muito embora exista um grande número de empresas que se utilizam de expedição própria, porém o que se verifica é uma tendência cada vez maior de subconcentração desta operação (FORTUNA e MESQUITA, 2003). PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 39 Figura 2.2 Cadeia de suprimento do setor farmacêutico e operador logístico Fonte: Fortuna e Mesquita (2003). Os distribuidores de medicamentos no Brasil estão entre os atacadistas que dispõem da mais moderna tecnologia, com estrutura de logística impecável que lhes permite atender aos pedidos em menos de seis horas, chegando a fazer três entregas diárias para uma mesma farmácia. Também possuem uma frota moderna de veículos, rastreados por satélite que podem mudar de rota a qualquer momento e estão permanentemente protegidos contra roubos. A principal opção para as farmácias independentes, que não movimentam o volume mínimo necessário para a aquisição direta do fabricante é a compra através dos distribuidores (CAMPOS, CSILLAG e SAMPAIO, 2001). A margem de contribuição da cadeia, do laboratório até o consumidor final, é de 30%. Desses 30% a distribuidora opera com margem de 14,62%, e a farmácia, com 18%. O mercado institucional é abastecido com produtos de uso restrito a hospitais, entregues em embalagens hospitalares. O prazo de entrega do fabricante e de dois a cinco dias úteis, enquanto o do distribuidor é de um a dois dias. O distribuidor entrega uma gama de milhares de apresentações, enquanto cada laboratório produz e distribui menos de 100 itens (MACHLINE e AMARAL JR., 1998). PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 40 2.2.4 Os conflitos da Cadeia de Suprimentos (CS) da indústria farmacêutica no Brasil Apesar do aprimoramento que ocorreu nas CS da indústria farmacêutica nos últimos anos, ainda há muito a se fazer para assegurar um escoamento melhor dos produtos. Nunca tanta tecnologia e capacidade intelectual foram aplicadas no aprimoramento do desempenho das CS. Por outro lado, nunca foi tão baixo o desempenho de muitas dessas cadeias. A causa-raiz para esta queda no desempenho está na inexistência de uma estratégia adequada para a gestão das CS que se tornaram mais complexas e com maior quantidade de transações (FORTUNA e MESQUITA, 2003). O grande problema no modelo de distribuição farmacêutica atual é a busca de cada parte integrante do canal pela maximização de sua rentabilidade independente do desempenho do sistema (CAMPOS, CSILLAG e SAMPAIO, 2001). Nas negociações, cada parte procura comprar a um menor preço e logo em seguida vender a um maior valor possível. Este tipo de relacionamento naturalmente ergue barreiras comerciais e culturais que dificultam o trânsito de matérias-primas, produtos e informações ao longo da cadeia de suprimentos. O resultado desta política pode ser discriminado nos seguintes pontos: a) A política de remuneração da força de vendas, baseada no sistema de cotas mensais, é um fator de incentivo à ineficiência e à criação de demandas fictícias. As promoções visam somente forçar as vendas de medicamentos em grandes quantidades, aumentando o nível de estoques ao longo da cadeia de suprimentos; b) O prazo de validade médio dos medicamentos é reduzido face ao acúmulo de estoques e a dificuldade em comercializá-los. Ao chegarem aos pontos de venda, muitos destes produtos já se encontram com prazos de validade próximo ou muito próximos do seu vencimento; PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 41 c) As pequenas oscilações de demanda nos pontos de venda são amplificadas à montante da cadeia de suprimentos, provocando, em muitos casos, grandes oscilações entre fornecedores, fabricantes e distribuidores; d) O número de distribuidores atualmente é maior do que a demanda do mercado, ocorrendo perda de eficiência, aumento de custos de distribuição e elevação de estoques de produtos intermediários. Uma das soluções para o problema é a entrada em ação dos operadores logísticos, o que tende a diminuir incertezas no melhor apontamento da demanda; Ainda segundo Fortuna e Mesquita (2003) ocorre também fatores como relacionamento não colaborativo, em alguns casos até mesmo conflituoso, entre indústria e distribuidores, os interesses sociais do governo na disponibilização de medicamentos mais baratos e as incertezas do fornecimento de insumos, principalmente dos princípios ativos, em sua grande maioria importados, aumentam a complexidade das cadeias farmacêuticas no país. O crescimento da indústria farmacêutica no Brasil, observado principalmente na década de 90, não foi acompanhado pelo aumento de produção da indústria farmoquímica, responsável pela fabricação dos princípios ativos e matérias-primas intermediárias, cujo desenvolvimento foi incipiente. Segundo dados da Associação Brasileira de Quimica Fina (ABIFINA) (2008), aproximadamente 82% dos farmoquímicos consumidos na indústria farmacêutica são importados, o que acentua a dependência externa. 2.3 O produto farmacêutico O medicamento industrializado é um produto científico híbrido, que deve ser considerado tanto nas suas dimensões de instrumento terapêutico, como de bem de consumo. Segundo Renovato (2008), atualmente o medicamento não é apenas um recurso terapêutico pautado no modelo técno-biomédico, mas também um fenômeno PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 42 vinculado e subordinado às necessidades de produção e reprodução da força de trabalho, assumindo a força de mercadoria. O medicamento é uma unidade que possui um valor de uso ao lado de seu valor de troca, e que a exemplo das demais mercadorias, tornou-se um instrumento de acumulação de poder e capital, como decorrentes de um processo histórico, que se iniciou na revolução industrial e na consolidação do capitalismo (NASCIMENTO, 2005). O ciclo médio de vida de um produto farmacêutico, desde a sua concepção até a disponibilização ao mercado é de aproximadamente vinte anos, sendo dez anos gastos com testes, outros dois são despendidos no processo de aprovação do produto pelas agencias governamentais competentes, restando apenas, em média oito anos a comercialização exclusiva pela empresa detentora da patente antes que esta expire, abrindo o mercado para medicamentos genéricos e similares. Os produtos farmacêuticos podem ser classificados de acordo com Campos. Csillag e Sampaio (2001), em quatro grandes grupos: a) novas moléculas: são os materiais farmoquímicos geralmente de altos valores agregados, fruto de altos investimentos realizados por laboratórios nas atividades de pesquisa e desenvolvimento. São também conhecido como os princípio ativo, aquelas matérias-primas responsáveis pela ação terapêutica; b) produtos de prescrição médica: também denominados produtos éticos, pois dependem quase exclusivamente da prescrição de médicos para que sejam comercializados. Sua comercialização é regulamentada por lei e os pontos de venda só o podem fazê-lo mediante a apresentação de receita. Podem ser subdivididos em produtos de marca ou referência, quando os laboratórios produtores são detentores das patentes e os produtos similares, apresentam propriedades terapêuticas semelhantes às dos produtos de marca. Os similares geralmente são compostos pelos mesmos princípios dos medicamentos de marca, porém a sua comercialização só se faz possível após o prazo de expiração da patente do medicamento de marca. Visualmente, tanto as embalagens dos produtos de marca como a dos similares contêm faixas horizontais vermelhas ou pretas. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 43 c) produtos Over the counter (OTC): a tradução literal da expressão OTC seria “sobre o balcão”, que na realidade representa toda a classe de produtos farmacêuticos que pode ser comercializada sem a necessidade de apresentação de receita médica. d) Produtos genéricos: são produtos que não possuem marca, são identificados pelo nome da substância ou princípio ativo e sua empregabilidade só se faz autorizada após o término do prazo de vigência da patente do medicamento de marca, porém são submetidos à testes de bioequivalência. Os medicamentos caracterizam-se pelo alto grau de exigência quanto ao preenchimento dos requisitos das matérias-primas, passando pelo processo de produção, controle e garantia de qualidade, armazenamento e distribuição até chegar ao consumidor final. Uma grande parcela da população não goza de acesso à aquisição de medicamentos, segundo a Federação Brasileira de Farmácias (FEBRAFARMA) (2004), conforme Figura 2.3. Figura 2.3 Relação do consumo de fármacos das classes A, B, C,D , no Brasil Fonte: Febrafarma (2004) Verifica-se que o consumo de fármacos é diretamente proporcional à renda do consumidor e não especificamente às necessidades terapêuticas do indivíduo. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 44 A lógica do consumo de medicamentos está cada vez mais relacionada com o poder aquisitivo das populações, em detrimento das reais necessidades definidas pelos indicadores epidemiológicos que relatam as condições de vida. Cerca de 1/3 da população mundial não tem acesso regular aos medicamentos essenciais (RENOVATO, 2008). O mercado nacional de medicamentos, 7º lugar em 1997, passou para o 10º do mundo em 2005, medido pelo valor das vendas abaixo da Espanha (com população de 40 milhões) e Canadá (32 milhões de pessoas), países cujas necessidades sociais são reconhecidamente menos graves. Ainda segundo a Febrafarma (2007) para cada US$ 1,3 mil alocados em pesquisa farmacêutica associa-se o ganho de um ano na expectativa de vida aos pacientes que se beneficiam dos novos produtos, e para cada US$ 1.0 gasto na aquisição de medicamentos, US$ 3.65 são poupados em despesas hospitalares. O consumo mundial de fármacos é bastante significativo, um exemplo disso pode ser visto na União européia onde aproximadamente 3.000 diferentes substâncias são usadas em medicamento para consumo humano como analgésico e antiinflamatórios, preservativos, antibióticos, β-bloqueadores, reguladores de lipídios, e muitos outros (PONEZI, DUARTE & CLAUDINO, 2009). A tabela 2.2 abaixo apresenta o consumo de fármacos em alguns países. Tabela 2.2 Consumo anual de diferentes classes de fármacos em diferentes países (toneladas/ano). Composto Alemanha Áustria Dinamarca Austrália Inglaterra (2001) (1997) (1997) (1998) (2000) Itália (2001) Suíça (2004) - 43,80 Analgésicos, antipiréticos e antiinflamatórios AAS 836,26 78,45 0,21 20,4 - Paracetamol 621,65 35,08 0,24 295,9 390,9 Naproxen - 4,63 - 22,8 35,07 - 1,70 Ibuprofen 344,89 6,7 0,03 14,2 162,2 1,9 25,00 Diclofenaco 85,80 6,14 - - 26,12 - 4,50 - - - - 28,98 22,07 3,20 92,97 2,44 - - - - 3,20 - - - 20 - - 0,399 95,20 β - bloqueadores Atenolol Metroprolol Antilipêmicos Genfibrazol PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico Benzafibrato 45 - 4,47 - - - 7,60 0,757 87,60 6,33 - 9,97 40,35 - 4,40 - - - 0,21 - - 0,051 Neuroativos Carbamazina Diazepam Datas: representam o ano de amostragem. Fonte: Fent et al.,(2006). 2.3.1 Resíduos de medicamentos e riscos ao meio ambiente A incidência de danos ambientais resultantes de RM é diretamente proporcional aos aspectos quantitativos da produção, bem como a políticas de gerenciamento de resíduos normalmente conduzidos de forma inadequada. Assim os riscos associados a esse tipo de resíduo, dependerão principalmente da atividade biológica e/ou reatividade química apresentada pelo(s) componente(s) químico do produto. Igualmente, em se tratando de substâncias químicas, especialmente aquelas produzidas para exercer efeito biológico (fármacos), o risco associado pode aumentar muito em função destes efeitos (BINIECKA et al., 2005). O risco industrial associados à emissão de resíduos pode variar muito, seja em função da capacidade produtiva ou dos mecanismos de segurança disponíveis (monitoração automática, segurança de armazenagem, etc.), seja em função da linha de produtos, ou seja, das características das substâncias químicas geradas (JARDIM, 1998) Sob a ótica da perspectiva econômica, apenas as substâncias químicas residuais dos processos de síntese ou purificação de fármacos pode ser por definição, entendido como resíduo. Contudo do ponto de vista ambiental, tanto os fármacos bem como seus metabólitos ativos, embora até recentemente, tenham recebido pouca atenção, estes micro-poluentes vêm sendo alvos de estudos do ponto de vista exposição ao meio ambiente. Quanto ao potencial de risco, os resíduos químico-farmacêuticos poderiam ser divididos e sub-dividos da seguinte forma conforme Tabela 2.3: PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 46 Tabela 2.3 Potencial de risco dos resíduos químico-farmacêutico. A) Fármacos propriamente ditos: B) Metabólitos ativos: C) Substâncias químicas residuais dos processos de síntese ou purificação de fármacos Alta estabilidade Tóxicas e/ou reativas Baixa estabilidade Inócuas e/ou inertes Alta toxicidade associada e alta estabilidade Alta toxicidade associada e baixa estabilidade Baixa toxicidade associada Fonte: Gil e Mathias (2005, adaptado) Um ponto importante acerca da exposição ambiental por RM é que estes são idealmente planejados para que tenha boa estabilidade ou meia vida prolongada. Tal fato, somado a outras propriedades físico-químicas ótimas conferem a este grupo elevada tendência a bioacumulação. Em verdade 30% de todos os fármacos desenvolvidos são lipofílicos (hidrosolubilidade < 10%), sedimentando-se em ambientes aquáticos ou transferindo-se para fase biótica (SORENSEN, et al., 1998). Estima-se que, entre as principais classes de fármacos, as mais impactantes sejam: antibióticos (76,6%), hormônios (73,6%) e antidepressivos (69,4%), sendo que os respectivos valores correspondem aos percentuais de fármacos de cada classe com inerente risco ambiental (BOUND, et al., 2005). Entre os impactos ambientais mais preocupantes associados a resíduos de fármacos está a genotoxicidade (GIL e MATHIAS, 2005), que pode ser definida como a capacidade que algumas substâncias químicas apresentam em produzir alterações genéticas em organismos a elas expostos. Mesmo o ibuprofeno, um analgésico antiinflamatório bastante consumido no mundo, pode apresentar efeito sobre a mutação de microrganismos, já que foi demonstrado alguma ação antimicrobiana, especialmente em valores baixos de pH e contra bactérias Gram (+) ou fungos dermatófitos (BERGER, et al., 1986). Também antiparazitários antibióticos como como ivermectin®, penicilinas, estreptomicina, pode primeiro num ou momento alguns interferir diretamente no ciclo biológico, por inibição do crescimento, mas num segundo momento exercer efeitos genotóxicos, seja causando dano ao DNA, seja interferindo PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 47 nos mecanismos de transdução (KLEINJANS & SCHOOTEN, 2002; WATERS et al., 2003 apud GIL & MATHIAS, 2005). Jobling, et al. (1998), observaram que estradiol, hormônio feminino, quando lançado em efluentes promovia a feminização de peixes. Recentemente, Isidori et al., (2005) verificaram potencial mutagênico do produto de degradação da furosemida, um dos diuréticos mais consumidos no mundo. Alterações no desenvolvimento de plantas, plancton, microrganismos, insetos, também tem sido relatadas (JARDIM, 1998). Outro problema ambiental de relevância em saúde pública, relacionado aos resíduos de fármacos é o desenvolvimento da resistência. Estima-se que 55% de todos os microrganismos apresentem resistência a pelo menos um antibiótico. Tomando-se os antibióticos beta-lactâmicos, grupo das penicilinas como exemplos mais comuns (BERGER, et al., 1986). A ocorrência de contaminantes químicos com capacidade de causar dano ao DNA é relativamente alta, consistindo-se numa ameaça a saúde humana e do ecossistema (JOBLING et al., 1998; ISIDORO et al., apud GIL; MATHIAS, 2005; MANDAL; SUZUKI, 2002) Por sua vez, os RSSS do grupo C, podem também dependendo do grau de toxicidade, carcinogenocidade ou reatividade química, apresentarem grande impacto ambiental. Substâncias como tensoativos, conservantes, corantes, benzopireno, cianeto, arsênio e cádmio podem ser nocivas ao meio ambiente mesmo em concentrações bastante baixas da ordem de nanogramas (MANDAL, et al., 2002). Assim sendo, o inerente potencial dos riscos envolvidos ao manejo de substâncias químicas, aumenta a importância da implantação de programas de gerenciamento de resíduos sólidos de serviço de saúde eficazes, a fim de evitar o comprometimento da segurança e saúde de trabalhadores, população e meio ambiente (SORENSEN, et al., 1998). Um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRSS) é um documento integrante do processo de licenciamento ambiental, que aponta e descreve as ações PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 48 relativas ao manejo de resíduos sólidos, no âmbito dos estabelecimentos de saúde já mencionados, contemplando os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final, bem como a proteção à saúde pública (ANVISA, 2004). Tal importância tem influenciado agências regulatórias de diversos países a serem cada vez mais rigorosos com relação às leis pertinentes à gestão ambiental. 2.3.2 Rota de resíduos de medicamentos no meio ambiente Na avaliação dos riscos potenciais dos RSSS é necessário levar em conta que os estabelecimentos prestadores serviço de saúde vêm sofrendo inovações no que diz respeito ao desenvolvimento da ciência médica, com o incremento de novas tecnologias incorporadas aos métodos de diagnósticos e tratamento. Resultado deste processo é a geração de novos materiais, substâncias e equipamentos, com presença de componentes mais complexos e muitas vezes mais perigosos para o homem que os manuseia, e ao meio ambiente que os recebe. Os principais sítios de ocorrência ambiental de fármacos podem ser divididos em cinco grupos principais (SORENSEN, et al., 1998; BOUND, et al., 2005; COMORETTO, et al., 2005): a) águas de lençóis freáticos: por infiltração de linhas de esgoto ou efluentes; b) águas de rios: por despejo de esgoto doméstico ou industrial ou de rural quando transportadas do solo pelas chuvas; c) águas oceânicas: por despejo de esgoto doméstico ou dos próprios rios; d) sedimentos: pela deposição de espécies ativas insolúveis; e) solo: pelo despejo urbano inadequado ou do uso rural. Quanto às possíveis vias de contaminação ambiental por RM e seus metabólitos, destaca-se tanto a zona a urbana e como a rural. Segundo Gil e Mathias (2005) a via urbana, principalmente associada a medicamentos de uso humano, pode decorrer principalmente: excreção urinária ou PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 49 fecal, com conseqüente contaminação de esgotos por fármacos e/ou seus metabólitos; ou do descarte de medicamentos vencidos em lixos domésticos. Por sua vez, a zona rural, segundo os mesmos autores está associada predominantemente, a medicamentos de uso veterinário, os quais podem ser utilizados para fins diversos. Como exemplo, destaca-se o uso de antibióticos para promoção do crescimento, a adição de hormônios em rações e agentes antiparasitários. Segundo Sorensen, et al., (1998) cálculos têm estimado que 70 a 80% das drogas administradas em fazendas são lançadas ao meio ambiente. Tal fato levou, por exemplo, a países como a Suécia a proibir uso de antibióticos como promotores de crescimento em animais, restringindo as vendas às prescrições veterinárias. A exposição, disposição e efeitos dos fármacos no meio ambiente pode ser melhor visualizada por meio da figura 2.4 , a seguir. Figura 2.4 Rotas de exposição de fármacos no ambiente Fonte: Sorensen (1998) PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 50 De acordo com a figura 2.2, verifica-se a passagem dos RM pelo sistema de tratamento de esgoto, e a persistência desses resíduos em ambiente aquático. Segundo Melo, et al. (2009) a presença RM em efluentes de ETEs é reflexo da baixa eficiência de remoção dos mesmos pelos processos convencionais de tratamento e leva à contaminação de águas superficiais. A remoção dos RM em ETEs depende das características físico-químicas de cada composto, por exemplo, para o anticonvulsivante carbamazepina uma remoção de 7% foi observada, enquanto que para o analgésico ácido acetil salicílico (AAS) 99% foi obtida em uma ETE na Alemanha (MELO et al., 2009). Eficiência de remoção afluente e efluente de alguns fármacos em unidades de tratamento de esgotos é bastante variável. A fim de demonstrar essa variação, alguns exemplos estão relaciondos na tabela 2.4. Tabela 2.4 Eficiência de remoção afluente e efluente de fármacos em ETEs. Composto Afluente (µg/l) Efluente Remoção (%) (µg/l) Referência 3,2 3,0 2,8 0,4 – 1,9 38,7 2,6 – 5,7 2,0 – 3,0 0,6 2,5 1,9 0,4 – 1,9 4,0 0,9 – 2,1 0,6 – 0,8 81 17 23 0 >90 60 – 70 53 – 79 Ternes, et al. (1999) Heberer (2002) Quintana, et al. (2005)b Tauxe-Wuersch, et al. (2005)c Buser, et al. (1999) Carballa, et al. (2004)a Tauxe-Wuersch, et al. (2005)c n.r. 70,0 n.r. n.r. 304 n.r. 0 – 10 0 < 10 Andreozzi, et al. (2003a)c Roberts e Thomas (2005)a Andreozzi, et al. (2003a)c 1,18 0,44 1 0,6 – 0,84 0,2 – 0,4 0,68 – 0,88 27 – 50 6 - 45 15 – 34 Stumpf, et al. (1999)b Stumpf, et al. (1999)b Stumpf, et al. (1999)b Analgésico/antiinflamatório AAS Diclofenaco Ibuprofen β - bloqueadores Metropolol Propanolol Atenolol Antilipênicos Benzafibrato Fenofibrato Ácido clofíbrico Compostos neuroativos Carbamazepina n.r. n.r. 0,7 0,7 Diazepan 0,59 – 0,1 – 0,66 1,18 n.r.: não reportado. Fonte: FENT, et al.(2006) a concentração média ou %. b concentração média ou %. c concentração máxima ou %. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 7–8 < 50 93 Ternes (1998)b Metcalfe, et al. (2003a)a Van Der Hoeven (2004) Capítulo 2 Referencial Teórico 2.4 51 Logística Reversa, abordagens e campos de atuação Nos últimos anos, necessidades de diferenciação de serviço em relação à concorrência, redução de custo e questões ambientais tem incentivado as empresas a optarem por uma política de Logística Reversa (LR) para dar fim a alguns resultantes de seus produtos e embalagens associadas. O termo LR não tem uma definição “universal” (CAMPOS, 2006, p.10). Muitos autores têm buscado caracterizar a LR e sua abrangência nas empresas. A LR operacionaliza a retirada dos produtos de mercado, tanto no que se refere a produtos vencidos ou contaminados, como também os produtos que estão no final de sua vida útil. Para melhor entendimento, tem-se o conceito de Leite (2003, p.16), que afirma: “A LR é a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pósvenda e de pós-consumo ao ciclo dos negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros”. Stock (1998), por sua vez, amplia esses limites afirmando que, sob a perspectiva logística do negócio, o termo se refere ao papel da logística na devolução de produtos, redução de materiais/energia, reciclagem, substituição de materiais, reutilização de materiais, tratamento de resíduos, substituição, conserto ou remanufatura. Ginter e Starling (1978) utilizaram o termo Reverse Distribution Channels, enfocando a questão da reciclagem e suas vantagens econômicas e ecológicas. Segundo, Kroon e Vrijens (1995), LR refere-se às habilidades de administração da logística e das atividades envolvidas na redução, administração e disposição de lixo tóxico e não tóxico desde produtos até embalagens. Nessa definição fica clara a orientação ambiental que a LR recebeu em seus primórdios. Os benefícios potenciais da logística podem abranger três níveis diferentes: ambientais, econômicos e ganho de imagem. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 52 O primeiro refere-se às demandas ambientalistas que têm levado as empresas a se preocuparem com a destinação final de produtos e embalagens por elas geradas (HU, et al., 2002). Segundo Minahan (1998) a LR permite a geração de ganhos financeiros pela economia no uso de recursos. O terceiro nível de benefício está ligado ao ganho de imagem que a empresa pode ter perante seus acionistas, além de elevar o prestígio da marca e sua imagem no mercado de atuação (ROGER e TIBBEN-LEMBKE, 1999; DAUGHERTY et al., 2001). Atualmente existem duas abordagens sobre a logística reversa, uma delas considera que a LR tem duas grandes áreas de atuação: LR de pós-venda e LR de pós-consumo. A outra abordagem diz respeito a todo o ciclo de vida do produto. A LR de pós-venda trata do fluxo físico e das informações logísticas ligadas aos bens de pós-venda, sem uso ou com pouco uso, que retornam a cadeia de distribuição direta, cujo objetivo estratégico é o de agregar valor a um produto logístico que é devolvido por razões comerciais, avarias de transporte, entre outros motivos. Este fluxo de retorno se estabelecerá entre os diversos elos da cadeia de distribuição direta dependendo do objetivo estratégico ou motivo e seu retorno (LEITE, 2003). Já a LR de pós-consumo se ocupa do fluxo físico e das informações referentes aos bens de pós-consumo descartados que retornam ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo através de canais de distribuição reversos específicos. Os bens de pós-consumo são os produtos no final de sua vida útil, ou usados com possibilidade de utilização e também os resíduos industriais (LEITE, 2003). Ainda para Leite (2003) o objetivo estratégico da LR pós-consumo é o de agregar valor a um produto logístico constituído por bens inservíveis ao proprietário original, ou que ainda possuam condições de utilização, por produtos descartados, por terem atingido o fim de vida útil e por resíduos industriais. Estes produtos de pós-consumo poderá se originar de bens duráveis e descartáveis e fluírem por canais reversos de reuso, desmanche, reciclagem, até a destinação final. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 2 Referencial Teórico 53 Quando se menciona LR, percebe-se uma grande preocupação com o meioambiente, uma vez que é um dos principais fatores que a motivam, como as próprias definições acima evidenciam. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 3 Metodologia 54 3 METODOLOGIA 3.1 Caracterização da pesquisa Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória, concretizada por meio de atividades de trabalho de campo, em empresas relacionadas com a produção, distribuição e comércio de produtos farmacêuticos de uso humano, bem como na investigação da literatura e legislação vigente. O método utilizado foi o indutivo e hipotético dedutivo. Do ponto de vista da natureza trata-se de uma pesquisa aplicada, com abordagem qualitativa, visando as características e problema a ser estudado. O objeto principal deste estudo engloba a cadeia de distribuição e reversa do produto medicamento, apresentando como tema contextualizador os aspectos legais e ambientais do destino final de resíduos de medicamentos. Foi abordados como sub-temas, a responsabilidade do descarte final desse tipo de resíduo pelos agentes integrantes do comércio farmacêutico, e os riscos dessa prática à saúde e ao meio ambiente. 3.2 Desenvolvimento da Pesquisa A pesquisa foi desenvolvida em dois momentos, inicialmente realizou-se uma revisão bibliográfica em fontes primárias e secundárias, a fim de levantar os riscos do descarte inadequado dos RSSS/RM(resíduos de medicamenotos) e realizar uma análise do cenário, fundamentada na legislação, do gerenciamento desses resíduos. Posteriormente, levantaram-se dados da cadeia de suprimento do setor farmacêutico compreendendo o canal de distribuição de medicamentos, sua logística reversa e destino final. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 3 Metodologia 55 O método utilizado para o levantamento de dados foi através da identificação dos principais elementos da cadeia de distribuição de medicamentos e a seguir pela elaboração de instrumentos específicos para cada um deles. A partir do confronto das informações pode-se compreender as principais variáveis que influenciam o canal de distribuição de medicamentos e o seu destino final. As informações foram organizadas em questionários. Pode-se chegar a três elementos principais, que para melhor compreensão do comportamento das empresas, diante da cadeia de distribuição, do canal reverso e destino final dos medicamentos, agrupou-se em níveis: a) Nível 1, indústria farmacêutica, neste nível situam-se os produtores de fármacos, os laboratórios, que por sua condição de gerador, tem responsabilidades legais diferenciadas dos demais elementos da cadeia de distribuição quanto a recepção e destino final dos resíduos. b) Nível 2, encontram-se as distribuidoras, neste elo da CS buscou-se verificar se esse integrante realiza o recolhimento de resíduos de fármacos provenientes das farmácias e/ou mercado institucional e se ocorre a devolução para a indústria produtora. c) Nível 3, o qual contempla as farmácias, procurou-se averiguar se esses estabelecimentos realizam a devolução de resíduos de fármacos de seus estabelecimentos para a indústria(s) e/ou laboratório(s). Cadeia de suprimentos Indústriadistribuidora Gerenciamento de RSSS Distribuidorafarmácia Legislação Figura 3.1 Níveis de análise do objeto central PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 3 Metodologia 56 A pesquisa realizou o levantamento de dados e analisou cada segmento separadamente, contemplando as três dimensões da informação: cadeia de suprimentos, gerenciamento de RSSS e legislação. Posteriormente realizou comparações, pelo o cruzamentos dos dados levantados, permitindo avaliar o nível da integração e coordenação dos integrantes da cadeia de suprimentos no setor farmacêutico. Para melhor farmacêuticos, compreender inicialmente foram o cenário escolhidos de distribuição um grupo de produtos farmacológico “representante”, levando em consideração os danos que este pode causar ao meio ambiente. Este medicamento “representante” foi escolhido de acordo com os seguintes critérios: a. Impacto ambiental; b. Toxicidade; c. Consumo; d. Tempo de meia vida no meio ambiente. Optou-se por escolher o fármaco Amoxicilina, um antibiótico do grupo das Penicilinas. A escolha do grupo dos antibióticos ocorreu em decorrência ao seu grande consumo e ao alto poder de genotoxicidade. As características do fármaco estão descritas no Apêndice D. 3.3 Seleção das Amostras Para o cumprimento dos objetivos da pesquisa fez-se uma delimitação para as indústrias produtoras do medicamento amoxicilina, considerada um medicamento “representante”, bem como distribuidoras e farmácias que trabalhavam com esse fármaco. Existem no país 33 empresas produtoras de amoxicilina (FRANÇA, 2009), dessa forma, todas as empresas foram consultadas e receberam o instrumento de PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 3 Metodologia 57 coleta de dados. Como resultado, uma conhecida fabricante nacional concordou em participar da pesquisa sendo considerada representante do nível 1. Neste nível do estudo, foi aplicado a metodologia de estudo de caso como ferramenta de pesquisa, pois conforme Yin (2005, p.21) esta metodologia visa como planejar e conduzir estudos de caso único ou de casos múltiplos para investigar um objeto de pesquisa. O estudo de caso envolve uma análise intensiva de um número relativamente pequeno de situações, e, ás vezes, o número de casos estudados reduz-se a um. Portanto, as lições que se podem tirar do estudo de caso têm a intenção de serem generalizáveis, porém as particularidades de outros campos de estudos devem ser consideradas como fatores limitante da pesquisa. Para complementar os resultados no nível 1, optou-se por utilizar dados indiretos provenientes dos demais níveis, possibilitando assim compreender de forma global a CS. Em relação ao nível 2 e 3 (distribuidoras e farmácias), como contemplam um grande número de estabelecimentos, foram selecionados três distribuidoras e duas farmácias. Os critérios para seleção da amostra foram os seguintes: - Para ao nível 2 (distribuidoras): a) distribuir medicamentos alopáticos para uso humano; b) distribuir os medicamentos amoxicilina, sob qualquer forma de sal, ou forma farmacêutica; c) estar em funcionamento no momento da pesquisa e aceitar a participação; - Para o nível 3 (farmácias): a) possuir Licença Sanitária, emitido pela Vigilância Sanitária local; b) comercializar os medicamentos amoxicilina ou carbamazepina, sob qualquer forma de sal, ou forma farmacêutica; c) estar em funcionamento no momento da pesquisa e aceitar a participação; PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 3 Metodologia 58 3.4 Coleta de Dados: A coleta de dados ocorreu no período de maio a junho de 2009, utilizando como instrumentos três questionários. Para o nível 1 foi enviado via e-mail e de forma presencial para os demais níveis (com exceção de uma distribuidora, que também foi envidado via email). Em todos os níveis, o primeiro contato foi via telefone, a fim de averiguar o departamento e funcionário responsável, a quem deveria ser enviado o questionário. Ressalta-se que para melhor compreensão da cadeia logística foi aplicado um instrumento de coleta de dados diferenciado para cada nível, elaborado de tal forma que permitisse o cruzamento das informações dos níveis pesquisados. Ao se construírem as questões, houve preocupação quanto à linguagem empregada, atentando-se para uma comunicação fácil e rápida com os respondentes. O questionário foi enviado a um especialista para determinar a clareza e sensibilidade do instrumento, além de gerar críticas e sugestões para o seu aprimoramento. Com avaliação das críticas e sugestões, algumas perguntas tiveram sua formulação alterada, outras questões foram retiradas e algumas acrescentadas. Após essas alterações, foi elaborado o questionário definitivo. O questionário do nível 1 (Apêndice F) é composto de 21 questões (14 fechadas e 7 abertas), sendo 6 questões destinadas à identificação e caracterização da empresa, 10 questões referem-se a compreensão do canal de distribuição e reverso dos medicamentos, 5 questões são perguntas sobre o medicamento amoxicilina. Para o nível 2 o questionário (Apêndice G) apresenta 25 questões (12 fechadas e 13 abertas), sendo 9 questões destinadas à identificação e caracterização da empresa, 13 questões abordaram o gerenciamento de RSSS/RM e logística reversa e 3 questões à respeito do medicamento amoxicilina. Para o nível 3, o questionário (Apêndice H), tem 25 questões (12 fechadas e 13 abertas), 9 questões iniciais foram destinadas à identificação e caracterização da empresa, 13 questões abordaram o gerenciamento de RSSS/RM e logística reversa e as 3 foram perguntas elaboradas sobre o medicamento amoxicilina. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 3 Metodologia 59 As perguntas abertas foram necessárias, uma vez que não contávamos com parâmetros culturalmente estabelecidos para essas questões, o que dificultou a construção de opções de respostas fechadas plausíveis e apropriadas. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 60 4 RESULTADOS 4.1 Caracterização dos três níveis pesquisados A fim de haver uma compreensão em relação à distribuição de fármacos, gerenciamento dos resíduos farmacêuticos, e possível retorno destes aos laboratórios, realizou-se a pesquisa de campo, buscando realizar o comparativo de dados dos integrantes da Cadeia de Suprimentos do setor farmacêutico. Neste capítulo, relata-se as características dos segmentos da pesquisa com os seus respectivos representantes e posteriormente discute-se os resultados. 4.1.1 Representante do nível 1 Um dos aspectos da legislação ambiental brasileira trata do direito dos cidadãos à informação sobre os impactos ambientais de processos, produtos serviços das organizações (referencia legal) ; cabendo às organizações o dever de informar sobre os impactos gerados. Assim, a pesquisa buscou verificar a disposição das organizações. Como mencionado anteriormente, o questionário foi enviado para 33 laboratórios farmacêuticos produtores da amoxicilina, correspondendo a totalidade das organizações. Porém, uma empresa participou plenamente. O fato de muitos laboratórios não justificarem a sua participação na pesquisa, demonstra que existe entraves na cadeia para que as informações circulem, deixando claro que não há por parte destes uma preocupação na melhoria da CS do setor farmacêutico. A empresa que concordou com a participação na presente pesquisa passa ser denominada de Laboratório 1. Para uma análise das características do nível 1 é importante analisar os dados levantados do laboratório 1. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 61 O Laboratório 1 está localizado no Estado do Rio de Janeiro e desde 2003 atua no mercado brasileiro com a missão de fabricar e comercializar medicamentos com foco no segmento de produtos genéricos. A empresa produz medicamentos dentre 12 classes terapêuticas: Antibióticos, Antidepressivos, Antidiabéticos, Antihipertensivos, Antilipêmicos, Anti-histamínicos, Antimicóticos, Antiinfecciosos, Analgésicos, Antiinflamatórios, Miorrelaxantes e Glicocorticóides. Dentre essa classes terapêuticas, a empresa produz 59 medicamentos, dentre eles o medicamento “representante” desta pesquisa, o antibiótico Amoxicilina. Os produtos do Laboratório 1 têm distribuição nacional e estão presentes nas principais farmácias e redes de drogarias do país. A produção anual de medicamentos da empresa gera em torno de 5 milhões de unidades. Assim, a empresa ocupa a 10ª colocação em volume de unidades vendidas no País e em faturamento (IMS Heath, 2007). Ainda o Laboratório1 apresenta um acordo com um dos maiores fabricantes de genéricos do mundo, o Ranbaxy Laboratories Limited., localizado na Índia. É filiado à Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró-Genéricos), entidade de classe sem fins lucrativos que congrega os principais laboratórios de produção e comercialização de medicamentos genéricos no País. Quanto ao gerencialmento ambiental, não apresenta certificação de qualidade ou ambiental, contudo a responsabilidade ambiental é um preocupação dentro da empresa, pois a mesma conta com uma estrutura de tratamento de água que permite o reaproveitamento de boa parte dos efluentes processados na atividade industrial. Adicionalmente, busca diminuir o volume de efluentes líquidos lançados em corpos d´água receptores da região por intermédio da redução do consumo de água potável nos processos industriais. Para tanto, se vale de meios alternativos, como chuva, esgotos domésticos e industriais oriundos de estação de tratamento de efluentes e águas de uso fabril. A empresa produz o medicamento Amoxicilina na forma sólida, comprimidos na concentração de 500 mg, Amoxicilina na forma líquida, suspensão na concentração de 50 mg/ml. A produção anual desses produtos fica em torno de 120 milhões de unidades/ano. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 62 4.1.2 Representante(s) do nível 2 – Distribuidoras Este nível contemplou três empresas distribuidoras de medicamentos, designadas aleatoriamente, por números 1, 2 e 3. As distribuidoras 1 e 2 estão localizadas no Paraná, sendo o instrumento de coleta de dados, aplicado de forma presencial e a distribuidora 3, em Santa Catarina, foi encaminhado via email. 4.1.2.1 Distribuidora 1 A distribuidora 1, atua no comércio de distribuição de medicamentos desde 1996. O foco da empresa está na participação de processos de licitação principalmente de prefeituras e portanto a distribuição se faz para o mercado institucional (hospitais, postos de saúde). A empresa participa de licitações de municípios de toda região sul e sudeste. A empresa opera apenas com laboratórios nacionais produtores de medicamentos similares e genéricos, pois são os que apresentam menores custos e permitindo dessa forma competitividade nas licitações. Dentre os laboratórios destacam-se Pharmaces, Vitamed, Brasterápica, Hipermarca. 4.1.2.2 Distribuidora 2 A distribuidora 2, iniciou suas atividade no comércio de distribuição de medicamentos desde 2003 e o foco da empresa está na distribuição de medicamentos para estabelecimentos farmacêuticos em todo o Estado do Paraná. A empresa não apresenta certificação de qualidade ou ambiental, porém, está desenvolvendo um Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) através do CENSSAT, Centro de Saúde e Segurança do Trabalho. O CENSSAT é uma empresa de nível superior e representa uma prestação de serviços de saúde e segurança do trabalho. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 63 A distribuidora 2 trabalha apenas com laboratórios nacionais produtores de medicamentos similares e genéricos. Dentre os laboratórios que a empresa trabalha destacam-se Neoquímica, Mulltilab, Bunker, Belfar, Pharmasciense, Vitamed, Vitamed, Vitapan, Greenpharma, Medquímica, Geolab, Luper, MDC Pharma, Makrofarma. 4.1.2.3 Distribuidora 3 Há mais de 40 anos no mercado, fundada em 1968, a distribuidora 3, atua na distribuição de medicamentos, perfumaria e congêneres. Nos últimos dez anos, duas grandes mudanças se destacam na empresa: a mudança para a atual sede e a criação de um novo Centro de Distribuição, propiciando a ampliação do estoque, de três mil para 10 mil itens em menos de um ano. Possui área de 10 mil metros quadrados, onde acontecem a separação, armazenagem, conferência e expedição dos itens de medicamentos, perfumaria e congêneres. A empresa garante a entrega, em até 24 horas, dos pedidos de seus mais de sete mil clientes, nos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, entre farmácias e hospitais. E opera com laboratórios nacional e multinacionais produtores de medicamentos de marca, genérico e similares, dentre eles estão, a Roche, a Medley, Bayer, Sankyo, Eurofarma. 4.1.3 Representante(s) do nível 3 – Farmácia(s) Caracterizado por duas farmácias de dispensação, levando em consideração o porte e a disponibilidade para colaboração com a pesquisa, e foram denominadas por números 1 e 2. 4.1.3.1 Farmácia 1 PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 64 A Farmácia 1 iniciou suas atividades no comércio varejista farmacêutico em 1999. Atua no mercado brasileiro com a missão de comercializar medicamentos, abrangendo uma área que tem mais de 10 mil habitantes. 4.1.3.2 Farmácia 2 A Farmácia 2, faz parte de uma rede de Farmácias, que iniciou suas atividades no comércio varejista farmacêutico, em 1964. Apresenta uma filial e, mais 15 lojas, localizadas em quatro municípios dos Campos Gerais. É uma empresal cuja missão é “Oferecer produtos e serviços de qualidade, que possam melhorar a saúde integral das pessoas, através de profissionais capacitados e comprometidos em oferecer um atendimento qualificado à comunidade”. Desde 2001, a rede de farmácias vem utilizando o programa de qualidade “5S”, porém não apresenta certificação de qualidade ou ambiental. Para melhor visualização das características acima e informações adicionais, apresenta-se a tabela 4.1. Tabela 4.1 Caracterização das empresas pesquisadas PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados Descrição Laboratório 1 Rio de Janeiro Localização 6 anos Tempo o mercado Nacional Capital Média empresa Porte Número de colaboradores Foco de atuação 65 Distribuidora 1 Distribuidora 2 Distribuidora 3 Farmácia 1 Farmácia 2 Paraná 13 anos Paraná 6 anos Santa Catarina 31 anos Paraná 10 anos Paraná 45 anos nacional microempresa nacional Pequena empresa nacional Média empesa nacional microempresa 50 5 10 400 3 nacional Pequena empresa 278 Produção Medicamentos genéricos e similares Distribuição ao mercado institucional medicamentos, genéricos, similares Não Distribuição às farmácias, medicamentos, genéricos, similares, de marca Não Distribuição às farmácias, medicamentos, genéricos, similares, de marca Não Comércio de medicamentos, genéricos, similares, de marca Dispensação ao consumidor final Não Não ANVISA anual ANVISA Anual ANVISA anual ANVISA anual ANVISA anual administrador diretor administrativo farmacêutica e representante comercial farmacêutico Gerente comercial Não certificação de qualidade/ ambiental IBAMA INEA fiscalização Freqüência da anual Mensal fiscalização Gerente de Respondeu o logística e quetionário gerente de segurança do trabalho Fonte: elaborado pelo autor, Ponta Grossa (2009) 4.2 Análise de dados da logística de medicamentos e resíduos farmacológicos Para a análise dos dados referentes a cadeia de distribuição e reversa, bem como os RM, alguns dados foram analisados através da elaboração de tabelas, e outros por meio dos relatos dos participantes. 4.2.1 Tipos de resíduos produzidos Com relação aos tipos de resíduos produzidos pelas empresas pesquisada os mesmos estão dispostos na tabela 4.2. Tabela 4.2 Tipos de RSSS produzidos pelas empresas pesquisadas PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 66 CLASSIFICAÇÃO DOS Laboratório 1 Distribuidora Distribuidora Distribuidora farmácia Farmácia RSSS 1 2 3 1 2 NÃO NÃO NÃO SIM SIM SIM A1 (resíduos infectantes) SIM SIM SIM SIM SIM SIM GRUPO B (resíduos químicos) NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO GRUPO C (radioativo) SIM SIM SIM SIM SIM SIM GRUPO D (resíduos comuns) NÃO NÃO NÃO SIM SIM SIM GRUPO E (perfuro cortantes) SIM SIM SIM SIM SIM Apresenta PGRSS X Dado não 121,24 711,572 Dado não 35,879 841,554 Quantidade gerada de informado RSSS (Kg) informado X – não se aplica, não são obrigados a elaborar um PGRSSS Fonte: elaborado pelo autor, Ponta Grossa (2009) Os resíduos gerados no nível 1 (laboratório), pertencem ao grupo B e grupo D. No nível 2, ocorre a produção de RSSS do grupo A, grupo B, grupo D e grupo E, e no nível 3, pode ocorrer a geração dos resíduos do grupo A, B, D e E. Percebe-se na tabela 4.2 que os três níveis desse estudo (1, 2 e 3), em decorrência dos processos de manufatura, distribuição e prestação de serviços, estão sujeitos à produção de diversos tipos de resíduos . Dentre os gerados, destacam-se os do grupo B, resíduos químicos, os quais se enquadram os RM, que todos os níveis apresentam-se como geradores. Assim, para melhor gerenciamento dos resíduos produzidos pelos estabelecimentos prestadores de serviço de saúde, a legislação determina que os mesmos devem elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde (PGRSS). Segundo a RDC 358/05 no seu Art. 4º determina: “Os geradores de RSSS, em operação ou a serem implantados, devem elaborar e implantar o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde-PGRSS, de acordo com a legislação vigente, especialmente as normas da vigilância sanitária”. A legistação prevê a execução desse plano como uma ferramenta para tornar mínimos os impactos ambientais e riscos gerados por eles. O PGRSS também é uma forma que possibilita medir resultados de eficiência e contribuir no processo de redução da geração desses resíduos. Assim, neste estudo os representantes do PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 67 nível 2 e 3, relataram apresentar o PGRSS, pois durante a fiscalização anual desses estabelecimentos pela Vigilância Sanitária, é cobrado mediante a penalidade de não haver renovação da licença sanitária caso a empresa não disponha desse documento. No que se refere ao nível 1, as indústrias, não se enquadram na relação de estabelecimentos considerados como prestadoras de serviço de saúde, portanto, não são obrigadas a elaborar o PGRSS. Nesse sentido, a Resolução (ANVISA) 306/04 determina que: “os RSSS englobam os resíduos gerados em todos os serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para saúde; necrotérios, funerárias e serviços em que se realizem atividades de embalsamento; serviço de medicina legal; drogarias e farmácias; estabelecimentos de ensino de pesquisa na área de saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos; importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura; serviços de tatuagem, dentre outros similares (ANVISA, 2004). 4.2.2 Aspectos da Logística Reversa de Medicamentos Como em qualquer área da economia existem situações em que se prevê o retorno dos produtos produzidos, distribuidos e comercializados ao agente produtor, em decorrência de danos causados no transporte, erros quali ou quantitavos nos pedidos ou no ato da entrega, bem como os produtos que no final de seu ciclo de vida causam danos ao meio ambiente se não forem gerenciados corretamente. A tabela 4.3 mostra de forma comparativa, a situação do retorno de medicamentos para os três níveis da cadeia de distribuição. Evidencia-se a existência ou não de relações e práticas. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 68 Tabela 4.3: Aspectos comerciais da logística reversa. SITUAÇÕES QUE OCORRE O RETORNO DE FÁRMACO: 1 2 3 4 5 6 Laboratório Distribuidora Distribuidora Distribuidora Farmácia 1 1 1 2 3 Produto(s) danificado(s) durante o transporte; Produto(s) solicitado de forma incorreta pela farmácia (na quantidade, na forma farmacêutica, etc.); Produto entregue de forma incorreta ao cliente (na quantidade, na forma farmacêutica, etc.); Produto(s) farmacêuticos cujo prazo de validade específicos tenham decorrido em mais de um terço de sua totalidade Produto (s) com prazo de validade expirado no estoque da(s) farmácia (s), distribuidora(s), Instituições. Produto(s) fora da condição de uso por algum motivo específico Sim Sim sim sim Sim sim Sim Sim sim sim Sim sim Sim Sim sim sim Sim sim Não Não sim sim Não sim Sim Raramente sim sim Não Parcialmente Sim Sim sim sim Sim sim Fonte: elaborado pelo autor, Ponta Grossa (2009) PPGEP – Gestão Industrial (2009) Farmácia 2 Capítulo 4 Resultados Pela tabela 4.3, 69 observa-se nos itens 1, 2, 3 e 6 que existem mecanismos logísticos para o retorno dos fármacos da farmácia para distribuidora e desta para a indústria, ao longo da cadeia reversa. Tal fato é importante para aplicabilidade da Lei estadual 13039/01-Pr que diz em seu Art. 1º “É de responsabilidade das indústrias farmacêuticas e das empresas de distribuição de medicamentos, dar distinção final e adequada aos produtos que estiverem sendo comercializados na rede de farmácia no Estado do Paraná, que estejam com seus prazos de validade vencidos ou fora de condições de uso. “ Em relação ao item 4 da tabela 4.3, o nível 1 (indústria) relatou não receber produtos farmacêuticos com prazo de validade específicos que tenham decorrido em mais de um terço de sua totalidade procedimento. No entanto, segundo a mesma Lei 13039/01-PR, no seu Art. 2º relata que: “É assegurado as farmácias recusar o recebimento de produtos farmacêuticos cujos prazo de validade específicos tenham decorrido em mais de um terço de sua totalidade”. Em relação a este mesmo item o nível 2, representado pelas distribuidoras somente a distribuidora 1, relatou não conseguir retornar o fármaco para os laboratórios, porque os mesmos não aceitam a devolução do produto em tais condições, como demonstra o relato abaixo: “Se eu não consigo devolver para o laboratório, como vou recolher ainda os vencidos dos meus clientes. Daí eu é que vou ter que arcar com o prejuízo.” Já no nível 3, representado pelas farmácias, a de número 1 não retorna o fármaco pois desconhece esta possibilidade e a de número 2 afirma positivamente que consegue realizar o retorno de medicamentos para alguns laboratórios, demonstrado no relato abaixo: “Ainda hoje alguns laboratórios recolhem e realizam a troca de seus produtos vencidos por novos. Os laboratórios Teuto, Neo Química, Globo, produtores de similares e genéricos e outros como Altana, Zambon, Sanofi, laboratórios de produtos éticos, realizam tal prática. Ainda que não se tenha mais vantagens, os mesmos trocam os produtos para que se mantenha firme as negociações”(Farmácia 2). PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 70 O item 5 da tabela compreende o retorno de produtos com prazo de validade expirado no estoque dos níveis 2 e 3. Assim, os dados apontam que o nível 1 recebe dos outros níveis, porém os níveis 2 e 3 relatam respectivamente que este retorno ocorre raramente e parcialmente. Diante do exposto acima, percebe-se que o canal reverso de medicamentos vencidos nos níveis 2 e 3, ou cujos prazos de validade tenham sidos expirados não vem ocorrendo de forma efetiva, como pode-se observar nos relatos abaixo: “Quando ocorre vencimento, já é separado para a coleta seletiva; nem tento devolver às distribuidora ou laboratórios (FARMÁCIA, 1)”. “Normalmente ocorrem negociações e entre as farmácia e as distribuidoras e/ou laboratorios. Compras em grandes quantidades forçam os laboratórios a oferecerem descontos para as farmácias cobrirem o risco de perdas com vencidos. Caso exija-se que o laboratório receba os “vencidos” eles ofertam menos “descontos”, e isso acaba sendo menos interessante. O custo do gerenciamento de RSSS acaba sendo inferior ao benefício recebido com os descontos” (FARMÁCIA 2). A tabela 4.4 aponta o conhecimento e aplicação da Lei estadual 13039/01-PR, pelos três níveis, que no seu Art. 1º afirma que é de responsabilidade das indústrias farmacêuticas e das empresas de distribuição de medicamentos, dar destinação final e adequada aos produtos que estiverem sendo comercializados na rede de farmácia no Estado do Paraná. Tabela 4.4 Conhecimento e aplicação da Lei 13.039/01 Distribuidora Distribuidora Distribuidora Farmácia 1 Farmácia 2 1 2 3 Sim Sim sim Não sim Conhecimento da Lei 13039/01 Consegue Não aplicar a lei Sim sim Não Parcialmente Fonte: elaborado pelo autor, Ponta Grossa (2009) Nesse sentido, o nível 1 relatou ter conhecimento da Lei 13039/01-Pr, porém não a coloca em prática, quando afirma não receber dos outros níveis os PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 71 medicamentos cujo prazo de validade tenham decorrido em mais de um terço em sua totalidade, não estando desta forma, sujeita a expor-se às penalidades previstas na lei. Em relação ao nível 2, os seus representantes declararam ter conhecimento da lei. No entanto, quanto à sua aplicação somente a distribuidora 2 e 3 afirmam positivamente que recolhem os medicamentos vencidos provenientes das farmácias e/ou instituições, fator este que pode compromete a logística reversa ao longo da cadeia. No nível 3, a farmácia 1 relatou ignorar a Lei e em decorrência disto não consegue aplicá-la. A farmácia 2, conhece a Lei e consegue aplicá-la parcialmente, como pode-se observar nos relatos abaixo: “Nem sabia dessa lei. Quando ocorre vencimento, já é separado para a coleta seletiva; nem tento devolver às distribuidora ou laboratórios (FARMÁCIA, 1)”. “[...] este fato só ocorre devido à lei ser direcionada a nível estadual e muitas indústria terem conseguido manter sua postura de não receptação com o uso de liminar, visto que não se obtém muitas vantagens e ações com leis estaduais, elas não se sobrepõem às nacionais (FARMÁCIA, 2)”. 4.2.3 Aspectos do Medicamento Representante - Amoxicilina Os aspectos relacionados ao medicamento representante, amoxicilina são descritos na tabela 4.5. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 72 Tabela 4.5 Medicamento representante – amoxicilina Laboratório Distribuidora Distribuidora Distribuidora Farmácia 1 Farmácia 2 AMOXICILINA 1 2 3 Produção 120 milhões de unidades * * * * * ao ano Distribuição 20.000 ** 25.000 Dado não Não 250 *** 600 *** disponível * * informado Vendas ao 1.134 ** 123.018 ** consumidor * * * * 84 *** 148 *** Perdas Dado nãoNão soubeNão houveNão soube Dado não126** disponível informar perdas informar disponível 05*** Destino final Incineração Somente Devolução aoDevolução aoDevolução Devolução Empresa delaboratório laboratório ao ao coleta seletiva Empresa deEmpresa delaboratório laboratório coleta seletiva coleta seletiva Empresa deEmpresa de coleta coleta seletiva seletiva * não se aplica ** comprimidos *** frascos (150 ml, após preparação) De forma geral, os dados demonstram que no nível 1 o laboratório produz o medicamento amoxicilina na concentração de 500 mg na forma de comprimidos e em suspensão com concentração de 50 mg/ml. A produção anual desses produtos fica em torno de 120 milhões de unidades/ano. Sobre a logística de distribuição a empresa trabalha por meio de distribuidoras, Operador Logístico ou diretamente com farmácias, sendo o transporte rodoviário o principal tipo de transporte utilizado para distribuição dos produtos. Em relação as perdas e custo do gerenciamento de todos os RSSS e dos RM não houve informação por parte do laboratório. A empresa realiza o descarte final da amoxicilina por incineração do produto, que consiste na decomposição térmica via oxidação com finalidade de reduzir o volume, otimizar a utilização dos aterros industriais e garantir segurança quanto ao destino seguro dos resíduos. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 73 Discutindo o nível 2 em relação a amoxicilina, a distribuidora 1 e 2 informou ter distribuído 20.000 comprimidos e 250 frascos da amoxicilina, 25.000 comprimidos e 600 frascos respectivamente, no último ano. Quanto as perdas, distribuidoras 1 e 3 não souberam informar, enquanto que distribuidora 2 afirma não haver perdas. O destino final da amoxicilina neste nível, podem ser pela devolução ao laboratório de origem (distribuidora 2 e 3) ou pela contratação de empresa de coleta seletiva (todas as distribuidoras). No nível 3, os representantes 1 e 2 comercializaram respectivamente 1.134 comprimidos e 84 frascos, 123.018 comprimidos e 148 frascos. Somente a farmácia 2 informou a perda anual deste fármaco: 126 comprimidos e 5 frascos. Quanto ao destino final do representante amoxicilina neste nível, aos representantes destacam a devolução ao laboratório de origem ou pela contratação de empresa de coleta seletiva, isto ocorre em decorrência de alguns laboratórios realizarem o recolhimento de produtos vencidos e outros não. De uma forma geral, apesar da possibilidade dos laboratórios aceitarem a devolução dos medicamentos vencidos, os representantes dos níveis 2 e 3 seja por motivos comerciais ou outros, preferem o não retorno aos laboratórios, optando por custear a contratação de uma empresa que o faça, apontado nos relatos abaixo: “Este fato só ocorre devido à lei ser direcionada a nível estadual e muitas indústrias terem conseguido manter sua postura de não receptação com o uso de liminar, visto que não se obtém muitas vantagens e ações com leis estaduais, elas não se sobrepõe as nacionais”(FARMÁCIA 2). “No caso de erros de faturamento, mercadoria avariada ou danificada, fica mais fácil, quando o problema é prazo de validade expirado os custos do frete devem ser absorvido por quem envia, no caso a distribuidora” (DISTRIBUIDORA 2) “[...] quando a farmácia é de pequeno ou grande porte, normalmente ocorrem negociações. Sendo assim, compras em grandes quantidades forçam os laboratórios a oferecerem descontos para as farmácias o que cobrirá o risco de perdas com vencidos. O custo do gerenciamento de RSSS acaba sendo inferior ao benefício recebido com os descontos”(FARMÁCIA 2). PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 74 Dessa forma, a partir das informações levantadas por meio da aplicação do instrumento de coleta de dados, no nível 2 e 3, as dificuldade relatadas por esses representantes estão descritas na tabela Tabela 4.6 Dificuldades relatadas para o retorno de RM para os laboratórios DIFICULDADES RELATADAS PARA O RETORNO DE RM Distribuidoras Farmácias Divergências legais Divergencias legais Custos do frete Desconhecimento da legislação Identificação da origem dos produtos Falta de Fiscalização das leis vencidos Negociações Burocracia Fonte: elaborado pelo autor, Ponta Grossa (2009) 4.3 Discussão sobre as Leis Ambientais: Em termos de mecanismos jurídicos para a defesa do meio ambiente, podese afirmar que o Brasil possui uma das mais avançadas legislações ambientais do mundo. Mas de acordo com Albuquerque (2009) apesar do grande número de leis, até hoje não há um código ambiental, e consequentemente, estas leis, estão todas dispersas, dificultanto e muito o trabalho do operador do direito. A partir de informações levantadas na pesquisa bibliográfica, conclui-se que a intenção das Leis Ambientais não é proibir que as atividades econômicas se desenvolvam, mas vedar, disciplinar ou punir as atividades econômicas cujos reflexos ambientais excedam os padrões de suportabilidade estabelecidos por elas. Porém, um fato somente poderá ser juridicamente considerado como poluição ou degradação ambiental, e configurando, de um efeito ilícito e indesejado, se suas consequências forem adversas ao que é estabelecido como diretriz ou padrão de proteção e conservação ao meio. É justamente neste ponto, que nos últimos anos começou-se a atentar para a presença de RM em ambientes aquáticos, devido ao desenvolvimento de métodos PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 75 novos e mais sensíveis para detecção e determinação de efeitos biológicos indesejados e consequências desastrosas ao meio ambiente. Segundo Pedroso (2007) os resíduos de medicamentos classificam-se como “contaminantes emergentes”, que podem ser definidos como poluentes recém identificados ou que anteriormente não eram reconhecidos. Mas a principal característica deste grupo é que não necessita persistir no meio ambiente para causar efeitos negativos, visto que suas altas taxas de transformação e remoção são compensadas pelas suas contínuas introduções ao meio ambiente. Como os estudos dos impactos ambientais decorrentes do destino final de RM são recentes, não formulou-se ainda uma lei federal específica para tratar esse tipo específico de resíduos. Alguns estados brasileiros estabeleceram suas políticas estaduais para o gerenciamento de RM e diversos projetos de lei encontram em fase de elaboração ou trâmite. Outra dificuldade é o princípio do poluidor-pagador, que se encontra no próprio conceito. Como descrito anteriormente o poluidor é o responsável pela produção e o que primeiro dever arcar com os custos de sua produção. No entanto a origem da poluição não é sempre bem determinada, exemplo disso são os RM. A responsabilidade cabe tanto ao fabricante, quanto à distribuidora, farmácia e consumidor final. Quanto à obrigatoriedade dos fabricantes em receber de volta os medicamentos vencidos, existem dúvidas com relação à legislação. Na Resolução CONAMA N° 283 de 12/07/2001, Art.13 § 1°, ficava clara a devolução de alguns itens ao fabricante ou importador, por meio do distribuidor. Já na Resolução CONAMA N° 358/2005 (que substituiu a 283), o conteúdo relativo àquele artigo e inciso especificamente, foi suprimido do corpo do texto. O que tem sido observado também são legislações estaduais que atentam para este aspecto, como a Lei Estadual nº 13.039/01, do Estado do Paraná. Partindo do exposto acima, de acordo com Tessler (2004) ainda utiliza-se a regra de que é primeiramente responsável quem detém o poder econômico de decisão sobre o produto. Contudo, não é justo, todos os elos da cadeia se beneficiarem com o comércio de medicamento e somente as indústrias arcarem com a responsabilidade PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados do descarte final de RM. 76 O que se faz necessário, é uma distribuição de responsabilidades, mas descritas de forma clara na legislação, como ocorreu com a legislação sobre o descarte das embalagens vazias de agrotóxicos. Dessa forma, diante da complexidade de se resolver esses problemas abordados, dada a necessidade de conhecimentos e experiências técnicas mais avançadas, para o tratamento dos RSSS e o investimento de largas somas para desenvolver uma gestão ambiental adequada, faz-se necessária a intervenção do Estado e da União. 4.4 Cadeia de Suprimentos (CS) atual X Logística Reversa A CS de medicamentos no Brasil incrementam os fluxos logísticos entre atacadistas e varejistas, mas não conseguem ainda a integração dos processos de negócio que necessita o entrosamento entre laboratório, distribuidor, farmácia e cliente final. Pois, o que se verifica no modelo vigente de distribuição é a busca insensata dos integrantes de otimizações locais, onde cada elo da cadeia quer maximizar seus lucros independente do desempenho do sistema. Nas negociações intermediárias, cada integrante busca comprar mais barato e vender mais caro, buscando maximizar seu lucro individual. Para Campos, Csillag e Sampaio (2001), “a filosofia predominante é vender ao canal, não vender através do canal”. Ainda para esses autores, este tipo de relacionamento entre organizações acaba construindo barreiras comerciais e culturais intransponíveis, que impedem o fluxo contínuo de materiais e informações pelos canais de distribuição para o necessário atendimento às necessidades dos clientes. O que se verifica também é uma grande diferença entre as negociações e vantagens das negociações entre estabelecimentos de pequeno e grande porte. Tanto a farmácia como a distribuidora de maior porte conseguem, de alguma forma, fazer com que o canal reverso aconteça, nem que seja em parte. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 77 Por outro lado, um grande problema ainda a ser superado está em conseguir prever a demanda de forma mais precisa em decorrência da sazonalidade de determinados produtos, epidemias, dentre outros fatores. As políticas de venda baseada no atendimento de cotas mensais incentivam a ineficiência e a criação de demandas ilusórias e as promoções visam somente empurrar grandes quantidades de medicamentos a jusante, criando estoques maiores que o necessário no sistema (CAMPOS, CSILLAG e SAMPAIO, 2001). Assim, as falhas da CS do setor farmacêutico fazem com que os fármacos cheguem ao estoque das farmácias com prazo de validade reduzido e que se não forem adquiridos rapidamente pelo consumidor, eles vão se transformar em resíduos. E que acaba por gerir os custos do gerenciamento adequado mostrou-se serem principalmente distribuidoras e farmácia. Por outro lado, percebe-se uma clara tendência de que a legislação ambiental caminha no sentido de tornar as empresas cada vez mais responsáveis pelo ciclo de vida de seus produtos, obrigando a serem responsáveis pela destinação final de seus produtos após venda e pela agressão ambiental gerada pelos resíduos obtidos durante o ciclo de todo processo produtivo, e, também após seu consumo. Com relação aos fatores que motivam o desenvolvimento da logística reversa parte das organizações é importante ressaltar a existência de inúmeras discussões teóricas que abordam tanto aspectos conjunturais quanto processuais. As principais vertentes dessas discussões podem ser assim relatadas: legislação ambiental, que força as empresas a retornarem seus produtos e cuidar do tratamento necessário; benefícios econômicos do uso de produtos que retornam ao processo de produção, ao invés dos altos custos do correto descarte do lixo; a crescente conscientização ambiental dos consumidores” (ROGERS e TIBBENLEMBKE, 1999). A empresa farmacêutica Bristol-Meyrs Squibb, estabeleceu a LR como prioridade estratégica visando equacionar o retorno de medicamentos que perdem validade no mercado, oferecendo um nível de serviço diferenciado a seus clientes. No caso de medicamentos não, a lei define que o gerador, são os laboratórios farmacêuticos, porém esses alegam que quem é o gerador são as PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Resultados 78 indústrias química-fina que fornecem matéria prima para a produção dos medicamentos. Enquanto não se define o poluidor-pagador, na prática, as farmácia acabam tendo que assumir os custos do processo da destinação final. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 5 Considerações Finais 79 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Dentro do escopo do trabalho, em analisar os aspectos legais e ambientais do descarte final de resíduos de fármacos pode-se avaliar o cenário do fluxo de informações em três dimensões: cadeia de suprimentos, gerenciamento dos resíduos e legislação. Quanto à dimensão “cadeia de suprimentos”, pode-se considerar que uma melhor relação entre os integrantes da CS do setor proporcionaria a implantação de sistemas de manufatura mais enxutos e ágeis, possibilitando a redução de estoque ao longo do processo. Portanto, é importante que estejam conscientes e dispostos os atores envolvidos no processo objetivando a sustentabilidade política e logística dos RM, reforçando o comprometimento destes e contribuindo para o fortalecimento de comportamentos compatíveis. Quando se menciona a LR e a preocupação com o meio-ambiente, vislumbrase uma saída alternativa para o descarte correto dos resíduos de fármacos no meio ambiente. Mas para implementar, efetivamente, a LR de RM é de grande importância que haja uma atuação efetiva do Poder Público e incentivo à participação do consumidor final, já que a sociedade como um todo possui a responsabilidade de manter o meio ambiente em equilíbrio. Com relação à dimensão “gerenciamento de RSSS/RM”, percebe-se que a adoção de um gerenciamento, que se ocupa da destinação final de RM, ou de qualquer outro produto nocivo à saúde e ao meio ambiente é um procedimento complexo que requer a participação efetiva de todos os agentes envolvidos na fabricação, comercialização, utilização, licenciamento, fiscalização e monitoramento das atividades relacionadas com manuseio, transporte, armazenamento e processamento dessas embalagens. Na dimensão “legislação” embora o Brasil apresenta grandes avanços na legislação, constata-se que não bastam somente leis, é necessário a implementação de políticas públicas que realmente permitam a resolução dos diversos problemas relacionados aos RM, abrangendo desde o produtor até o consumidor final. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 5 Considerações Finais 80 No caso dos RM, a legislação permite uma abertura e não estabelece claramente quem é o poluidor pagador, pois os laboratórios alegam que o gerador são as indústrias química-fina, que fornecem matéria prima para a produção dos medicamentos. Enquanto não se define o gerador, na prática, as distribuidoras e farmácia geralmente acabam tendo que assumir os custos do processo da destinação final. Assim, apesar da importância deste princípio na proteção ao meio ambiente, sua simplicidade é meramente aparente, camuflando problemas econômicos e jurídicos complexos. O presente trabalho evidenciou a necessidade de leis mais específicas quanto ao descarte final de Resíduos de Fármacos. Mas por outro lado, faz-se necessário um maior rigor na fiscalização e aplicabilidade das leis ambientais já existentes. Assim sendo, tanto uma maior fiscalização do cumprimento de legislações ambientais, quanto a participação em atividades altruístas voltadas a educação ambiental tornam-se de extrema importância. Por outro lado, vale ressaltar que a realidade sanitária do país, com infraestrutura precária, ausência de aterros sanitários, é outro fator que dificulta os processos de tratamento adequado de resíduos de natureza biológica ou química. Portanto, abordar o problema de resíduos de medicamentos é tocar em assunto palpitante e que desperta demores, levanta hipóteses e que representa um imenso desafio à capacidade tecnológica ser humano. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 81 REFERÊNCIAS ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10.0004. 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Grupo B - Resíduos Químicos Resíduos que contem substancias químicas com o potencial de riscos a saúde publica ou ao meio ambiente, são identificados através do símbolo de risco associado e com discriminação de substância química e frases de risco. Grupo C - Resíduos Radioativos Rejeitos radioativos ou quaisquer materiais que contenham radionuclideos em quantidades superiores aos limites de inspeção especificados nas normas do CNEN. Os rejeitos desse grupo são representados pelo símbolo internacional de presença de radiação ionizante, trifólio de cor magenta, em rótulos de fundo amarelo e contornos pretos, acrescido da expressão MATERIAL RADIOTIVO. Grupo D - Resíduos Comuns Recicláveis e Não Recicláveis Resíduos com características domiciliar que não apresentam riscos biológicos, radiológicos e químicos a saúde humana e ao meio ambiente. Alguns desse grupo podem ser destinados à reciclagem ou reutilização. Quando adotada a reciclagem, sua identificação deve ser feita nos recipientes e nos abrigos de guarda de recipientes, usando código de cores e suas correspondentes nomeações, baseadas na Resolução CONAMA nº 275/01, e símbolos de material reciclável. Grupo E – Perfurocortantes Materiais perfurocortantes ou escarificantes como laminas e agulhas, são identificados pelo símbolo de substância infectante, com rótulos de fundo branco, desenho de contornos pretos, acrescido de inscrição de RESÍDUO PERFUROCORTANTE, indicando o risco que apresenta o resíduo. Fonte: RDC 306/04 Anvisa (adaptado) PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 88 APÊNDICE B - PRINCÍPIOS JURÍDICOS AMBIENTAIS Princípios são equivalentes aos axiomas, postulados, teoremas e leis em outras determinadas ciências. Porém, nem sempre estão inseridos nas leis, como expõe Antunes (2006, p. 230): “no direito ambiental, mais do que nos outros setores do Direito brasileiro, os elementos não legais do sistema jurídico avultam em importância”. O Princípio da Precaução é uma forma de defesa do meio ambiente e está presente no cenário nacional e internacional desde as últimas quatro décadas, tendo sido inserido no nosso sistema com a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92). A partir dela é que foi escrita a Agenda 21, entendida como uma programação feita na ocasião e que tinha o intuito de evitar a degradação mundial. Na diretiva nº. 15 da Agenda 21,consta que “o Princípio da Precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir degradação ambiental”. Milaré (2001, p. 421) define como dano ambiental “a lesão aos recursos ambientais, com consequente degradação – alteração adversa ou in pejus – do equilíbrio ecológico e da qualidade de vida”. Este mesmo autor destaca ainda “que o conceito de dano ambiental, assim como o de meio ambiente, é aberto, ou seja, sujeito a ser preenchido casuisticamente, de acordo com cada realidade concreta que se apresente ao intérprete”. A Lei 6.938/81, em seu Art. 14, § 1°, prevê expressamente duas modalidades de dano ambiental ao referir-se a “danos causados ao meio ambiente e a terceiros”. Assim classifica-se o dano ambiental em: Dano Ambiental coletivo, causado ao meio ambiente globalmente considerado, em sua concepção difusa, como patrimônio coletivo, atingindo um número indefinido de pessoas, sempre devendo ser cobrado por ação civil pública, ação popular, mandado de segurança coletivo ou outro meio PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 89 processual adequado. Quando cobrado tem eventual indenização destinada a um fundo, cujos recursos serão alocados à reconstituição dos bens lesados. E o Dano Ambiental individual, também chamado de dano ricochete ou reflexo, pois por intermédio do dano ao meio ambiente, atinge interesses pessoais legitimando os lesados a uma reparação pelo prejuízo patrimonial ou extra patrimonial. Podem ser ajuizadas ações individuais, de maneira independente, não havendo efeito de coisa julgada entre ação individual e a coletiva. O ponto crucial para saber quando aplicar o princípio de precaução é na combinação da ameaça de dano com a incerteza científica do dano. Alguns doutrinadores insistem ainda, que o dano ameaçador deve ser sério ou irreversível, enquanto que outros apontam que isto não se permite para efeitos cumulativos de agressões pequenas. Assim, em essência, o Princípio da Precaução é um argumento para uma tomada de ação contra uma atividade ou uma substância quando houver ausência de uma certeza científica em vez da continuação de uma prática suspeita enquanto ela está sob pesquisa ou mesmo ainda sem avaliação. Outra definição deste princípio no Art. 54 da Lei 9.605/98, que é a Lei de Crimes Ambientais, que prevê: “causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora, - pena de reclusão de um a quatro anos, e multa”. §3°: “incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível”. Porém, normalmente, ações para prevenir danos são tomadas somente depois que a prova do dano foi demonstrada, chegando-se num ponto em que pode ser tarde demais. Sendo assim, observa-se que a finalidade deste princípio não é impedir o progresso humano, mas aliá-lo a políticas de redução da extensão, frequência ou incerteza do dano, ou seja, é uma maneira inovadora de pensar sobre a proteção do meio ambiente. Ele desafia-nos a fazer mudanças na forma como o próprio ser humano permite e restringe os riscos de dano. Já, ao tratar do Princípio da Prevenção, observa-se que este foi inserido no ordenamento jurídico a partir da Conferência de Estocolmo, em 1972. Mas também PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 90 faz parte de outros textos normativos, como a Convenção de Diversidade Biológica, o Tratado de Maastricht, o Princípio da Política Ambiental da União Européia, o Art. 2°, inciso VI, da Lei 6.938/81 de Política Nacional do Meio Ambiente, e principalmente o Art. 225, “caput”, da Constituição Federal de 1988. Sua finalidade maior é a realização do estudo do impacto ambiental, como sendo um dever da Administração Pública por meio de fiscalização e licenciamento ambiental. Tessler (2004, p.117) afirma que “dele decorre a necessidade do Estudo Prévio de Impacto Ambiental, a importância da formulação de Políticas Públicas em matéria ambiental e a relevância da educação ambiental da população”. É relevante ressaltar que a doutrina ainda não chegou a um consenso acerca da diferença entre o Princípio da Precaução e o da Prevenção. Alguns juristas apenas indicam uma sutil diferença ao utilizá-los, sendo que o Princípio da Prevenção é utilizado nas situações em que há certeza do dano ao meio ambiente e o Princípio da Precaução, nas situações em que há dúvida quanto ao dano. E, por fim, mas não menos importante, o Princípio do Poluidor Pagador que foi introduzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), adotando a Recomendação C(72) 128, do Conselho Diretor, que trata de princípios dos aspectos econômicos e das políticas ambientais. Entende-se como Princípio do Poluidor Pagador como sendo uma vedação à poluição ambiental, quando sua idéia básica é voltar ao original, restituindo ao estado anterior. E na impossibilidade da restituição ao estado original, impõe-se ao poluidor uma ação compensatória e, não sendo possível, deverá este indenizar, conforme previsto no Art. 3º, incisos III e IV da Lei 6.938/81: “para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 91 De uma forma mais prática, é a imposição ao agente poluidor de prevenir, evitar o dano ambiental. Em não sendo possível, é necessário a reparação, seguindo uma ordem preferencial de ações, quais sejam, em primeiro lugar, restituir o meio ao estado anterior, a compensação (na impossibilidade da restituição), ou a indenização (na impossibilidade das anteriores), conforme o disposto no Art. 225, §3°, da CF/88: “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. Na Agenda 21, o Princípio do Poluidor Pagador está previsto na diretiva nº. 16 que dispõe que “o poluidor deve arcar com o custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando em conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais”. No ordenamento jurídico, encontra-se no Art. 4°, inciso VII, da Lei 6.938/81 que prevê: “a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos”. Este princípio desempenha um caráter preventivo buscando evitar a ocorrência dos danos ambientais, e também o caráter repressivo, em que uma vez ocorrido o dano, pretende sua reparação. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 92 APÊNDICE C – A RESPONSABILIDADE JURÍDICA PELOS RSSS Responsabilidade Cível: Na esfera cível, a idéia básica é a reparação do dano “in natura”, visando a recuperação do próprio meio, sem preocupar-se em levar em consideração o dolo ou a culpa, tornando-a uma responsabilidade objetiva, em regra. Refere-se ao dever de promover a recuperação dos danos causados ao meio àquele que cause degradação ou poluição ambiental acima dos critérios e padrões legalmente estipulados, se cortou árvores terá que plantar novamente, se destruiu, terá que reconstruir. A conformação da responsabilidade civil no direito ambiental brasileiro, nos termos do Art. 14, §1° da Lei n. 6.938/1981, instituidora da Política Nacional do Meio Ambiente, é que pressupõe o caráter objetivo, configurando a responsabilidade civil ambiental independe da existência de conduta dolosa ou culposa por parte do agente: “sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: §1º - sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade”. Basta a constatação objetiva da existência do dano e a demonstração da relação de causalidade entre o efeito lesivo e o autor da ofensa para que lhe seja imputada judicialmente à obrigação de reparar, através de ação popular, ação civil pública, ação de improbidade administrativa, ação de conhecimento ou mandado de segurança. Posteriormente, em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, tal norma infraconstitucional foi recepcionada, tendo como fundamento de validade o Art. 225, §3°. Entretanto, este não estabeleceu qualquer critério ou elemento vinculado à culpa como determinante para o dever de reparar o dano PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 93 causado ao meio ambiente. Portanto, ao não ser exigido qualquer elemento subjetivo, leva-se à instituição da responsabilidade objetiva. Segundo Sirvinskas (2005, p.110): “no nosso ordenamento jurídico, impera a responsabilidade civil objetiva, em que é necessária apenas a comprovação do dano ao meio ambiente, à autoria e o nexo causal, independentemente da existência de culpa. Podendo ocorrer cumulação de pena, pois as sanções administrativas e penais não excluem o pagamento pecuniário da poluição causada. Pretende-se a prevenção e precaução de atentados ambientais e também a redistribuição dos custos da poluição. Na medida em que se pretende evitar a privatização do lucro e a socialização das perdas”. Responsabilidade Penal: A responsabilidade penal é subjetiva, pois há necessidade de apuração do dolo e da culpa podendo ser aplicadas as sanções cumulativamente. Sem a existência do dano, não há como mensurar a responsabilidade. “É a variação, moral ou material, negativa que deverá ser, na medida do possível, mensurada de forma que se possa efetivar o ressarcimento”. Consta na diretiva nº. 13 da Agenda 21, que cada Estado deverá estabelecer sua legislação nacional (enquanto país) no tocante a responsabilidades e indenizações de vítimas da poluição e de outras formas de agressão ao meio ambiente. Além disso, deverão cooperar na busca de uma forma expedita e mais determinada de desenvolver a legislação internacional adicional referente às responsabilidades e indenizações por efeitos adversos de dano ambiental causado por atividades dentro de sua jurisdição ou controle a áreas fora de sua jurisdição. Prevista na Lei 9.605/98, em seu Art. 2º, tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica, podem praticar um crime ambiental quando incorrerem em algum tipo penal, ato este decorrente de pessoa que detenha poder de comando para obter algum tipo de vantagem sobre o crime, o que será solucionado através de uma ação penal pública incondicionada: “quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstas nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 94 que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la”. Responsabilidade Administrativa: No tocante à responsabilidade administrativa, é relevante dizer que é muito parecida com a penal, sendo que também é subjetiva, precisando haver a apuração do dolo e da culpa. A única diferença é que neste caso, a pessoa física ou jurídica, é preciso incorrer em algum tipo infracional. Está prevista no Art. 70 da Lei 9.605/98: “considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente”. A pessoa jurídica também poderá cometer um ato infracional, quando o ato decorrer de pessoa que detenha poder de comando perante a empresa e quando esta empresa obtiver vantagem sobre o crime que praticou, que será apurado através de um procedimento administrativo para questionar a atuação administrativa PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 95 APENDICE D – CARACTERÍSTICAS DA AMOXICILINA AMOXICILINA Estrutura Molecular Forma molecular • 6 Amoxicilina anidra: C16H19N3O5S AMOXICILINA SÓDICA: C16H18N3NaO5S • Amoxicilina triidratada: C16H19N3O5S, 3H2O Nome 7-[2-amino-2-(4-hidroxifenil)-acetil]amino-3,3-dimetil-6-oxo -2-tia-5- azabiciclo[3.2.0]heptano-4-óico Pó cristalino, branco, de massa molecular 419,45, levemente solúvel em água, álcool metílico e álcool etílico, praticamente insolúvel em tetracloreto de carbono, clorofórmio, éter, óleos fixos. Dissolve-se em soluções diluídas, ácidas e alcalinas (na forma de hidróxidos). Massa molar 365,4 g/mol É apresentada comercialmente no Brasil, sob as três formas: medicamento de marca, similar e genérico. Laboratórios Produtores: EMS, Abbott, Apotex, Bérgamo, Brainfarma, Ducto, Eurofarma, Furp, Green Pharma, Medley, Novartis, Ranbaxy, Ratiopharm,, Sanval, Teuto, União-Química, Royton, Farmoquímica, GlaxoSmithKline, Stiefel, Ariston, Glenmark, Cibran, Pradi-Donaduzzi, Merk, Bristol-Myers Squibb, Medquímica, Aché, Luper, Multilab, Gemballa, SigmaPharma PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 96 APÊNDICE E – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DA INDÚSTRIA RESPONDENTE: ____________________________________________________ CARGO: ___________________________________________________________ DATA: ___/___/____ ___________________________________________________________________ 1. IDENTIFICAÇÃO a) Razão Social: ___________________________________________ b) Nome Fantasia: _________________________________________ c) Endereço: ___________________________________________________________ ___________________________________________________ d) Ano de Fundação: _______________________________________ 2. Empresa de capital: Nacional Estrangeiro Outros: _______________ 3. Quanto ao porte (faturamento anual) conforme o BNDES: Microempresa – receita operacional bruta anual de até R$ 1,2 milhão. Pequena Empresa – receita operacional bruta anual superior a R$ 1,2 milhão e inferior ou igual a R$ 10,5 milhões. Média Empresa - receita operacional bruta anual superior a R$ 10,5 milhões e inferior ou igual a R$ 60 milhões. Grande Empresa - receita operacional bruta anual superior a R$ 60 milhões. 4. Número de Funcionários: De 10 a 50 funcionários De 51 a 100 funcionários De 101 a 500 funcionários De 501 a 1000 funcionários Mais de 1001 funcionários 5. A empresa fornece seus produtos para o mercado: Mercado interno. Porcentagem: _______ Mercado externo. Porcentagem: _______ PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 97 6. Qual a produção anual de medicamentos da empresa? ____________________________________________ A empresa produz o medicamento: AMOXICILINA 1. Qual forma farmacêutica? AMOXICILINA _____________________________________ 2. Qual a produção mensal/ anual destes medicamentos? __________________________________________________________ _________________________________________________________ 3. Distribui para qual(s) regiões do país? Sul Sudeste Norte Nordeste Outras. Qual (ais)_____________________ 4. Sobre a logística de distribuição a empresa trabalha: Através de distribuidoras Através de Operador Logístico Diretamente com farmácias Diretamente com Estado (municipal, estadual ou federal) Diretamente com Mercado Institucional (hospitais, clínicas) Representante Comercial 5. Qual é o principal tipo de transporte utilizado para distribuição dos produtos produzidos pela empresa? Rodoviário Ferroviário Aéreo Outros. Especificar: ________________ 6. Como são realizados os pedidos pelos clientes? Telefone On line Email Representante Outros. Especifique: ____________ PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 98 7. Em quais situações pode ocorrer o retorno de medicamentos para a empresa: Produto(s) danificado(s) durante o transporte; Produto(s) solicitado de forma incorreta pelo cliente (na quantidade, na forma farmacêutica, etc.); Produto entregue de forma incorreta ao cliente (na quantidade, na forma farmacêutica, etc.); Produto (s) com prazo de validade expirado no estoque da distribuidora; Produto (s) com prazo de validade expirado no estoque da(s) farmácia (s), clínica (s), hospital (ais). Produto(s) farmacêuticos cujo prazo de validade específicos tenham decorrido em mais de um terço de sua totalidade. Produto(s) fora da condição de uso por algum motivo específico; Complemento (espaço reservado para comentário) 8. Sobre o canal reverso de distribuição de seus produtos, a empresa dispõe: a) Número de funcionários (recursos humanos) b) Forma de transporte c) Estocagem (recursos físicos): d) Destinação final: e) Custos do processo (logística reversa): PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 99 9. Descreva como é feito o retorno de medicamentos para a empresa da AMOXICILINA ? 10. Quanto em média a empresa recolhe anualmente desse produto? Quantidade Unidades (frascos, comprimidos, ampolas) 11. Como a empresa realiza o descarte final da AMOXICILINA quando o prazo de validade expirou? 12. A empresa possui estudos dos impactos ambientais da destinação final inadequada da AMOXICILINA no meio ambiente? NÃO SIM. Descreva-os: 13. Qual a estimativa do consumo desse medicamento no Brasil? NÃO disponho esse dado. Disponho esse dado. Consumo: ______________________ 14. A empresa é fiscalizada por órgãos relacionados ao meio ambiente com que freqüência? Qual (ais) o(s) órgãos fiscalizadores? Frequência X Órgão fiscalizador Semanal Mensal Bimestral Trimestral Semestral Anual Outros 15. A empresa apresenta alguma certificação de qualidade ou ambiental: NÃO SIM. Qual(ais) ___________________________ PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 100 APÊNDICE F – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DAS DISTRIBUIDORAS RESPONDENTE: _____________________________________________________ CARGO:____________________________________________________________ DATA: ___/___/___ ___________________________________________________________________ 7. IDENTIFICAÇÃO e) Razão Social: f) Nome Fantasia: g) CNPJ: h) Endereço: i) Ano de Fundação: 8. Empresa de capital: Nacional Estrangeiro Outros: _______________ 9. Quanto ao porte (faturamento anual) conforme o BNDES: Microempresa – receita operacional bruta anual de até R$ 1,2 milhão. Pequena Empresa – receita operacional bruta anual superior a R$ 1,2 milhão e inferior ou igual a R$ 10,5 milhões. Média Empresa - receita operacional bruta anual superior a R$ 10,5 milhões e inferior ou igual a R$ 60 milhões. Grande Empresa - receita operacional bruta anual superior a R$ 60 milhões. (ou outra classificação): _________________________________________ 10. Número de Funcionários: _____________________________________ 11. Número de Filiais: ___________________________________________ 12. Área de Abrangência: ________________________________________ (para onde distribui) 13. Quais são os laboratórios farmacêuticos que a distribuidora trabalha? 14. Qual(ais) Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde (RSSS) são produzidos pelo estabelecimento: ( ) GRUPO A1 (resíduos infectantes) ( ) GRUPO B (resíduos químicos) ( ) GRUPO C (radioativo) ( ) GRUPO D (resíduos comuns) ( ) GRUPO E (perfuro cortantes) PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 101 15. A empresa possui um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde? ( ) Sim ( ) Não 16. Qual o destino final dos medicamentos vencidos no estoque da distribuidora, ou provenientes das farmácias, hospitais, clínicas? 17. Quanto de Resíduo químico-farmacêutico a empresa gerou (mensal/anual)? (ultimo ano – junho de 2008 a junho de 2009) 18. Qual(ais) são os custos gerados para a destinação adequada dos RSSS na sua empresa? 19. Segundo a Lei Estadual nº 13.039/01, do estado do Paraná, Art. 1º: é de responsabilidade das indústrias farmacêuticas e das empresas de distribuição de medicamentos, realizarem a destinação final e adequada aos produtos que estiverem sendo comercializados na rede de farmácia no Estado do Paraná, que estejam com seus prazos de validade vencidos ou fora de condições de uso. Você tinha conhecimento dessa lei? ( ) Sim ( ) Não 20. Se um cliente (Farmácia) precisar devolver os medicamento com prazo de validade vencido no estoque da farmácia para a distribuidora ele consegue fazer esse retorno? ( ) Sim ( ) Não 21. Em quais situações pode ocorrer o retorno de medicamentos das farmácias para a distribuidora: a) Produto(s) danificado(s) durante o transporte; b) Produto(s) solicitado de forma incorreta pelo cliente (na quantidade, na forma farmacêutica, etc.); c) Produto entregue de forma incorreta ao cliente (na quantidade, na forma farmacêutica, etc.); d) Produto (s) com prazo de validade expirado no estoque da(s) farmácia (s). e) Produto(s) farmacêuticos cujo prazo de validade específicos tenham decorrido em mais de um terço de sua totalidade. f) Produto(s) fora da condição de uso por algum motivo específico; Complemento (espaço reservado para comentário) PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 102 22. A sua empresa consegue realizar o retorno de seus produtos vencidos (no estoque da distribuidora) para o(s) laboratório(s) farmacêuticos? ( ) Sim ( ) Não Complemento (espaço reservado para comentário) 23. Em quais situações consegue-se o retorno de medicamentos da distribuidora para o(s) laboratório(s) farmacêutico(s): Complemento (espaço reservado para comentário) 24. Na prática, existe de forma efetiva a Logística Reversa de medicamentos no Brasil? ( ) SIM ( ) NÃO 25. Na sua opinião, qual(ais) a(s) dificuldade da realização da Logística Reversa de medicamentos no país? 26. Como você analisa os casos de sucesso de Logística Reversa, como o caso das embalagens vazias de agrotóxico, que o Brasil ocupa um status de “modelo” mundial: 27. A empresa é fiscalizada por órgãos relacionados ao meio ambiente com que freqüência? Qual (ais) o(s) órgãos fiscalizadores? Frequência X Órgão fiscalizador Semanal Mensal Bimestral Trimestral Semestral Anual Outros 28. A empresa apresenta alguma certificação de qualidade ou ambiental: PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice 103 NÃO SIM. Qual(ais) __________________________________ A empresa distribui o medicamento: AMOXICILINA 29. Qual forma farmacêutica? Comprimidos Cápsulas Gotas Solução Ampolas Outras. Especificar: ____________________ 30. Qual a venda mensal/ anual destes medicamentos? FÁRMACO Quantidade Unidades (frascos, comprimidos, ampolas) AMOXICILINA 500mg cpr. Ou cápsulas AMOXICILINA 500mg suspensão 31. Qual a perda (vencidos) mensal/ anual destes medicamentos? FÁRMACO Quantidade AMOXICILINA 500mg AMOXICILINA suspensão PPGEP – Gestão Industrial (2009) 500mg Unidades (frascos, comprimidos, ampolas) Anexo 104 APÊNDICE G – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DAS FARMÁCIAS RESPONDENTE: _____________________________________________________ CARGO: ___________________________________________________________ DATA: ___/___/___ 1. IDENTIFICAÇÃO j) Razão Social: k) Nome Fantasia: l) CNPJ: m) Endereço: n) Ano de Fundação: 1999 2. Empresa de capital: Nacional Estrangeiro Outros: _______________ 3. Quanto ao porte (faturamento anual) conforme o BNDES: Microempresa – receita operacional bruta anual de até R$ 1,2 milhão. Pequena Empresa – receita operacional bruta anual superior a R$ 1,2 milhão e inferior ou igual a R$ 10,5 milhões. Média Empresa - receita operacional bruta anual superior a R$ 10,5 milhões e inferior ou igual a R$ 60 milhões. Grande Empresa - receita operacional bruta anual superior a R$ 60 milhões. (ou outra classificação): _________________________________________ 4. Número de Funcionários: ___________________________________ 5. Número de Filiais: _________________________________________ 6. Área de Abrangência: ______________________________________ ( ( ( ( ( 7. Qual(ais) Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde (RSSS) são produzidos pelo estabelecimento: ) GRUPO A1 (resíduos infectantes) ) GRUPO B (resíduos químicos) ) GRUPO C (radioativo) ) GRUPO D (resíduos comuns) ) GRUPO E (perfuro cortantes) PPGEP – Gestão Industrial (2009) Anexo 105 8. A empresa possui um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde? ( ) Sim ( ) Não 9. Qual o destino final das embalagens de medicamentos vencidos dentro da farmácia? 10.Quanto de Resíduo químico-farmacêutico você gera (mensal/anual)? 11. Qual(ais) são os custos gerados para a destinação adequada dos RSSS no seu estabelecimento? 12. Segundo a Lei Estadual nº 13.039/01, do estado do Paraná, Art. 1º: é de responsabilidade das indústrias farmacêuticas e das empresas de distribuição de medicamentos, realizarem a destinação final e adequada aos produtos que estiverem sendo comercializados na rede de farmácia no Estado do Paraná, que estejam com seus prazos de validade vencidos ou fora de condições de uso. Você tinha conhecimento dessa lei? ( ) Sim ( ) Não . 13.Você costuma realizar essa prática de retorno? ( ) Sim ( ) Não ( ) Complemento (espaço reservado para comentário) Quando ocorre vencimento, já é separado para a coleta seletiva; nunca tentei devolver à distribuidora ou laboratório. 14. Em quais situações pode ocorrer o retorno de medicamentos para a empresa: g) Produto(s) danificado(s) durante o transporte; h) Produto(s) solicitado de forma incorreta pela farmácia (na quantidade, na forma farmacêutica, etc.); i) Produto entregue de forma incorreta (na quantidade, na forma farmacêutica, etc.); j) Produto (s) com prazo de validade expirado no estoque da(s) farmácia (s). k) Produto(s) farmacêuticos cujo prazo de validade específicos tenham decorrido em mais de um terço de sua totalidade. l) Produto(s) fora da condição de uso por algum motivo específico; Complemento (espaço reservado para comentário) PPGEP – Gestão Industrial (2009) Anexo 106 15. Se um cliente chegar ao seu estabelecimento para devolver um medicamento com prazo de validade vencido, após ter armazenado por longo período em casa, ou não necessariamente vencido, apenas ele não irá utilizá-lo mais. Qual a postura da empresa, através frente a essa situação? 16. Para você, na prática, existe de forma efetiva a Logística Reversa de medicamentos no Brasil? ( ) SIM ( ) NÃO 17. Na sua opinião, qual(ais) a(s) dificuldade da realização/implantação da Logística Reversa de medicamentos no país? 18. Como você analisa os casos de sucesso de Logística Reversa, como o 19. A empresa é fiscalizada por órgãos relacionados ao meio ambiente com que freqüência? Qual (ais) o(s) órgãos fiscalizadores? Frequência X Órgão fiscalizador Semanal Mensal Bimestral Trimestral Semestral Anual Outros 20. A empresa apresenta alguma certificação de qualidade ou ambiental: NÃO SIM. Qual(ais) __________________________________ A empresa comercializa o medicamento: AMOXICILINA CARBAMAZEPINA 21. Qual forma farmacêutica? Comprimidos Cápsulas Gotas Solução Ampolas Outras. Especificar: ____________________ 22. Qual a venda mensal/ anual destes medicamentos? FÁRMACO Quantidade AMOXICILINA 500mg AMOXICILINA suspensão PPGEP – Gestão Industrial (2009) 500mg Unidades (frascos, comprimidos, ampolas) Anexo 107 23. Qual a perda (vencidos) mensal/ anual destes medicamentos? FÁRMACO Quantidade AMOXICILINA 500mg AMOXICILINA suspensão PPGEP – Gestão Industrial (2009) 500mg Unidades (frascos, comprimidos, ampolas) Anexo 108 ANEXO A - LEI Nº 13039 - 11/01/2001 LEI Nº 13039 - 11/01/2001 Publicado no Diário Oficial Nº 5904 de 12/01/2001 Dispõe que é de responsabilidade das indústrias farmacêuticas e das empresas de distribuição de medicamentos, dar destinação adequada a medicamentos com prazos de validade vencidos e adota outras providências. A Assembléia decretou e Legislativa eu do sanciono Estado a do seguinte Paraná lei: Art. 1º É de responsabilidade das indústrias farmacêuticas e das empresas de distribuição de medicamentos, dar distinção final e adequada aos produtos que estiverem sendo comercializados na rede de farmácia no Estado do Paraná, que estejam com seus prazos de validade vencidos ou fora de condições de uso, de conformidade com o previsto nos artigos 4º e 5º da Lei nº 12.493, de 22 de janeiro de 1999. § 1º Para efeito desta lei, considera-se farmácia o estabelecimento de manipulação de fórmulas magistrais e oficiais, de comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, compreendendo o de dispensação e do atendimento privativo de unidade hospitalar ou de qualquer outra equivalente de assistência médica. § 2º Para efeito desta lei, considera-se empresa de distribuição a distribuidora o fornecedor de insumos e medicamentos aos estabelecimentos de manipulação de fórmulas magistrais e oficiais, de comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, compreendendo o de dispensação e o de atendimento privativo de unidade hospitalar ou de qualquer outra equivalente de assistência médica. Art. 2º É assegurado as farmácias recusar o recebimento de produtos farmacêuticos cujos prazo de validade específicos tenham decorrido em mais de um terço de sua totalidade. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Anexo 109 Parágrafo Único. A assunção, pela indústria farmacêutica, de compromisso de imediata substituição dos medicamentos cujos prazos de validade venham a expirar em poder das farmácias e das empresas de distribuição excepciona a prerrogativa disposta no "caput" deste artigo. Art. 3º A partir do dia que expirar o prazo de validade dos medicamentos, as farmácias informarão aos fabricantes a lista de medicamentos que tenham seus prazos de validade vencidos a fim de que sejam tomadas as medidas determinadas por esta lei. § 1º No prazo máximo de 15 (quinze) dias a contar do recebimento das informações de que trata o "caput" deste artigo, os fabricantes ou as empresas de distribuição de medicamentos providenciarão o recolhimento dos produtos para a destinação legalmente aplicável a cada caso. § 2º A substituição a que se refere o parágrafo único do art. 2º pelas indústrias farmacêuticas dos medicamentos cujos prazos de validade expirem em poder das farmácias e das empresas de distribuição dar-se-á no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, a partir da notificação do detentor do estoque. § 3º Caso o medicamento cuja distribuição foi assegurada não seja mais fabricado, fica a indústria farmacêutica obrigada a restituir a farmácia, ao distribuidor ou á entidade adquirente, as quantias pagas, monetariamente corrigidas. § 4º Caso o medicamento seja fornecido pelos distribuidores representantes da venda de medicamentos da indústria farmacêutica, este será o canal de retorno para o legítimo ressarcimento da indústria para a farmácia ou entidade adquirente. Art. 4º Considera-se antecipadamente vencido o medicamento cuja posologia não possa ser inteiramente efetivada no prazo de validade ainda remanescente. Art. 5º A inobservância dos dispositivos constantes na presente lei, sujeitará os infratores as penalidades previstas na Legislação Sanitária e Ambiental vigentes. Art. 6º A atividade que tenha por objetivo a destinação final dos medicamentos vencidos ou fora de condições de uso, a ser exercida no território, do Estado do Paraná, deve ser submetida a prévia análise e licenciamento ambiental do Instituto Ambiental do Paraná - IAP, de conformidade com as normas ambientais vigentes. Art. 7º Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Anexo 110 PALÁCIO DO GOVERNO EM CURITIBA, em 11 de janeiro de 2001. Jaime Lerner Governador do Estado José Antonio Andreguetto Secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos José Cid Campêlo Filho Secretário de Estado do Governo PPGEP – Gestão Industrial (2009) 111 PPGEP – Gestão Industrial (2009)