XXIII Encontro de Lisboa entre os Bancos Centrais dos Países de Língua Portuguesa 4 de outubro de 2013 Intervenção do Governador do Banco de Portugal, Carlos da Silva Costa Crescimento sustentado e desenvolvimento económico 1 “Taking performance in the United States over the past 50 years as a benchmark, the potential for welfare gains from better long run, supply-side policies exceeds by far the potential from further improvements in shortrun demand management” Prémio Nobel Robert Lucas, 2003 Presidential address to the American Economic Association 1. Introdução Senhor Ministro de Estado e Presidente, Senhores Embaixadores, Senhores Governadores, Minhas Senhoras e meus Senhores, Agradeço a todos a presença neste XXIII Encontro de Bancos Centrais dos Países Lusófonos. A longevidade do Encontro de Lisboa é testemunho da sua relevância para a comunidade dos bancos centrais dos países de língua portuguesa e Macau. Trata-se de uma ocasião privilegiada de avaliação e aprofundamento das nossas interligações, proporcionando um debate conjunto sobre temas de interesse 1 Preparado para apresentação. 1 comum, como a evolução económica e financeira recente, a vertente de cooperação e os assuntos da agenda das reuniões anuais do FMI/Banco Mundial. O meu objetivo hoje é falar-vos sobre “Crescimento sustentado e desenvolvimento económico”, que é sem dúvida um tema de interesse comum. Com as economias desenvolvidas a darem alguns sinais de recuperação e as economias em desenvolvimento a evidenciarem uma tendência de desaceleração, a discussão dos fatores de sustentação do crescimento está no topo da agenda internacional. Importa ter presente que, embora crescimento económico por si só não seja sinónimo de desenvolvimento, é difícil conceber maior desenvolvimento e maiores níveis de bem-estar sem a presença subjacente de um processo de crescimento económico sustentado. Mas o que é um crescimento económico sustentado? Um crescimento sustentado é um crescimento com flutuações pouco acentuadas – o que significa sustentabilidade da dívida pública e da dívida externa –, gerador de emprego e capaz de proporcionar às populações níveis de bem-estar superiores em paralelo com uma redução das desigualdades sociais. 2. O Paradoxo de Lucas Proponho abordar a questão dos fatores de sustentação do crescimento e do desenvolvimento económico, partindo de um dos maiores puzzles da economia do desenvolvimento, o chamado “Paradoxo de Lucas”: Why doesn’t capital flow from rich to poor countries?. 2 O Paradoxo de Lucas não é mais do que a constatação de que, ao contrário do previsto pela teoria neoclássica, o fluxo de capitais dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento é relativamente limitado, apesar de estes últimos terem níveis mais baixos de capital por trabalhador. 2 Lucas (1990). 2 Efetivamente, a teoria neoclássica prevê que, por via do efeito dos rendimentos decrescentes, o capital se mova dos países mais desenvolvidos para os países em desenvolvimento, onde a escassez relativa de capital em relação ao trabalho significa que os retornos do investimento em capital são mais elevados. Dito de outra forma, os aforradores dos países desenvolvidos olham para os países em desenvolvimento como lugares rentáveis para investirem. Mas, na prática, as coisas não parecem funcionar desta maneira. Por exemplo, de 1991 até ao início da atual crise, três quartos dos fluxos mundiais de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) foram captados pelos países desenvolvidos. 3 Existem numerosos estudos de natureza teórica e empírica que investigam as razões subjacentes ao “Paradoxo de Lucas”. As principais conclusões destes trabalhos apontam explicações associadas às diferenças nos fundamentos que afetam a estrutura produtiva das economias mais pobres, tais como a qualidade do capital humano, a estabilidade macroeconómica, regulamentar e fiscal e a qualidade das instituições. Isto significa que, do ponto de vista das economias que concorrem no mercado internacional, é fundamental criar as condições que as tornem locais atrativos para investir. Numa perspetiva mais abrangente, diria que os países devem preocupar- se em criar condições que atraiam os fatores móveis de produção a nível internacional, como o capital financeiro, a tecnologia e o capital humano, e que, simultaneamente, sejam capazes de reter os fatores móveis de produção nacionais. Abordar o desafio do crescimento e do desenvolvimento económico sustentado exige, por conseguinte, estratégias abrangentes, de longo prazo, assentes na educação e formação profissional, num quadro de estabilidade e de certeza e na criação de instituições económicas e políticas inclusivas. 3 World Investment Report 2009, UNCTAD. 3 3. Condições de sustentabilidade do crescimento e do desenvolvimento económico Qualidade do capital humano A aposta na educação e no capital humano é central como fonte de crescimento económico e elemento explicativo das diferenças entre países em termos de trajetórias de crescimento e de rendimento per capita. Este resultado é robusto a várias abordagens teóricas sobre crescimento económico (designadamente à teoria neoclássica 4, à teoria do crescimento endógeno 5 e à teoria da difusão tecnológica 6) mas é também robusto a uma multiplicidade de abordagens empíricas que assentam em metodologias de análise e amostras muito diferenciadas 7. A título ilustrativo, vale a pena salientar os resultados de um estudo empírico de Sala-i-Martin, Doppelhofer e Miller (2004), que em regressões de crescimento para 88 países no período 1960-1996, evidenciam que, de entre 67 variáveis explicativas, o ensino primário é a variável mais robusta com impacto positivo no crescimento do PIB per capita. Na realidade, é fácil perceber que trabalhadores mais qualificados são mais produtivos. A educação facilita a transmissão de conhecimentos necessários à adoção de novos métodos de trabalho e de novas tecnologias, mas também aumenta a capacidade de inovação da economia através do desenvolvimento de novas ideias. Um dos mais extraordinários exemplos de sucesso em termos de desenvolvimento económico assentes numa estratégia de melhoria contínua do nível de educação da população é o caso de Singapura. Efetivamente, quando Singapura se tornou uma república soberana, em 1965, era uma ilha pobre, com rápido crescimento populacional, poucos recursos naturais, habitações precárias e conflitos 4 Solow (1956), Mankiw, Romer e Weil (1992). Lucas (1988), Romer (1990), Aghion e Howitt (1998). 6 Nelson e Phelps (1966) , Welch (1970) e Benhabib e Spiegel (2005). 7 Barro (1991), Mankiw, Romer e Weil (1992), Levine e Renelt (1992) e Barro e Lee (1993, 2001). 5 4 recorrentes entre os grupos étnicos e religiosos que compunham a população. Não existia ensino escolar obrigatório e apenas um grupo muito reduzido da população tinha formação secundária ou universitária. Hoje em dia, Singapura faz parte dos países mais ricos do mundo, com um PIB per capita superior aos 50 000 USD (em 2012). Em apenas uma geração, transformou-se numa economia moderna, sendo uma das maiores plataformas de comércio e transporte mundiais e um grande centro financeiro internacional. Atualmente, todas as crianças recebem um mínimo de 10 anos de escolaridade e o sistema de educação de Singapura é referenciado por diversas organizações internacionais como um dos melhores do mundo. É particularmente destacado o facto de o sistema de ensino estar orientado para o futuro, para as necessidades de uma economia competitiva. O exemplo de Singapura é ilustrativo da importância das políticas de investimento em educação mas também dos benefícios da articulação destas políticas com a formação profissional e com a investigação e desenvolvimento. São três áreas interdependentes que constituem os vértices de um triângulo que determina a qualidade e a sustentabilidade do processo de desenvolvimento. Este triângulo condiciona o padrão de especialização de uma dada economia e, em particular, a produtividade e a inovação tanto incremental como radical. Por isso, tem de ser concebido e dirigido em função das necessidades presentes e futuras do sistema produtivo de uma economia concorrencial. Num contexto de forte concorrência mundial, em que os paradigmas científicos e tecnológicos estão a ser rapidamente quebrados, a inovação tem sido uma força motriz do crescimento da produtividade global dos fatores, do crescimento económico e da melhoria das condições de vida. Quer isto dizer que é fundamental que os centros de produção de conhecimento tenham capacidade para detetar as necessidades presentes e futuras do tecido produtivo e articular-se com o tecido empresarial. Quadro de estabilidade e de certeza 5 O investimento é uma aposta intertemporal que exige confiança e estabilidade sob várias formas: estabilidade macroeconómica, financeira, mas também legislativa, regulamentar e fiscal. Isto significa que a instabilidade e a incerteza têm um efeito depressivo sobre o investimento e, por conseguinte, sobre o crescimento e o desenvolvimento económico. Não é, assim, de admirar que, em contextos de elevada incerteza quanto ao enquadramento económico, se tenha de recorrer a elevados incentivos fiscais e/ou outros incentivos relacionados para se conseguir um impacto positivo no investimento. A crise mostrou-nos de forma clara que: (i) (ii) (iii) Elevados níveis de dívida pública aumentam a incerteza, comprometem a utilização contra-cíclica da política orçamental e podem minar a credibilidade e a eficácia da política monetária; Uma política bem-sucedida de estabilidade de preços é crucial para o crescimento económico sustentável, mas não garante, por si só, a estabilidade financeira; A instabilidade financeira pode gerar importantes desequilíbrios e prejudica o crescimento económico. A sustentabilidade das finanças públicas é uma condição necessária para o crescimento económico sustentado e este, por seu turno, é crucial para inverter trajetórias insustentáveis de dívida pública. De facto, a existência de níveis muito elevados de dívida pública aumenta a incerteza e os custos de financiamento da economia, penalizando o crescimento económico. Atendendo aos elevados níveis de dívida pública da generalidade das economias avançadas e à dinâmica desfavorável decorrente do envelhecimento da população, são necessários, nestas economias, planos de consolidação orçamental credíveis que contribuam para inverter a trajetória ascendente da dívida pública e restaurar a confiança dos agentes económicos. 6 A elevada instabilidade financeira que se observou no contexto da crise mostrou que estabilidade de preços não garante estabilidade financeira. Mostrou também que os objetivos de estabilidade de preços, estabilidade financeira e a sustentabilidade da dívida pública estão interligados e não podem ser vistos isoladamente. Esta constatação veio pôr em causa o paradigma anteriormente prevalecente, que atribuía aos bancos centrais o mandato de assegurar exclusivamente a estabilidade nominal. É hoje globalmente aceite que a estabilidade financeira deve ser um objetivo explícito dos bancos centrais. A estabilidade financeira é necessária para o crescimento sustentável. De facto, a volatilidade e a incerteza dificultam o financiamento da economia, prejudicando o investimento e, por conseguinte, as perspetivas económicas de longo prazo. Inversamente, o crescimento sustentado também é fundamental para preservar a estabilidade financeira. Um enquadramento recessivo prolongado afeta negativamente o emprego e a situação financeira das empresas, fragilizando os balanços dos bancos e criando riscos para a estabilidade financeira. Podemos chegar a conclusões similares sobre a relação entre estabilidade do sistema financeiro e sustentabilidade das finanças públicas: problemas no sistema financeiro podem pôr em causa a sustentabilidade da dívida pública; trajetórias insustentáveis de dívida pública afetam negativamente a capacidade de financiamento e a estabilidade do sistema financeiro. A crise nos mercados de dívida soberana da área do euro e os seus impactos sobre as condições de acesso ao financiamento por parte do sector financeiro são bem ilustrativos desta relação. Quadro institucional Nos últimos anos surgiu uma vasta literatura económica que destaca o papel da qualidade das instituições nos diferentes resultados alcançados em termos de crescimento e desenvolvimento económico entre os países. Com efeito, o quadro de valores, normas e instituições – denominado na literatura económica de “capital social” – tem um lugar central no desenvolvimento económico ao potenciar o 7 impacto produtivo do capital físico, da qualificação da população ativa e da acumulação de conhecimento técnico e organizacional. Este quadro inclui as leis que sustentam o Estado de direito e garantem os direitos de propriedade, mas também as que definem as instituições políticas e a interação entre os parceiros sociais. O quadro de valores, normas e instituições influencia a confiança com que os agentes económicos interagem e os níveis de segurança que colocam no relacionamento com terceiros. Isto significa que condiciona a maneira como a economia funciona e também as motivações dos indivíduos. Quando não há confiança, há transações que não se realizam. Este ponto foi salientado pelo economista Kenneth Arrow, prémio Nobel da economia em 1972, ao afirmar que: “Virtualmente todas as transações comerciais têm em si mesmas um elemento de confiança, certamente todas as que se repetem no tempo. É possível argumentar que os exemplos de fraco desenvolvimento económico no mundo são em grande parte explicados pela ausência de confiança mútua”. De facto, um estudo da OCDE de 2011 mostra que a confiança mútua é maior nos países mais ricos e com menores desigualdades na distribuição de rendimento. Os países da Europa do Norte são os países com maiores níveis de confiança. Um bom ambiente institucional é geralmente sinónimo de um ambiente legal transparente e imparcial, que protege o direito de propriedade, com baixos níveis de corrupção, com serviços públicos que asseguram condições equitativas para todos e a participação dos indivíduos nas atividades que melhor se adaptam aos seus talentos e competências. Deste modo, a introdução de melhorias nos sistemas legal e judicial, na execução de contratos ou a adoção de leis que estabelecem a escolaridade obrigatória são exemplos de áreas nas quais se podem tipicamente gerar ganhos relevantes em termos de potencial de crescimento. Por exemplo, um estudo recente do Banco de Portugal (Júlio, Alves e Tavares, 2013) indica que, em Portugal, melhorias no desempenho institucional no sentido de uma convergência para as melhores práticas europeias podem aumentar o IDE direcionado a Portugal em cerca de 60 por cento. 8 As instituições não podem ser imutáveis, tal como a realidade não é imutável. Em particular, as ruturas introduzidas pelo progresso tecnológico (novos produtos, novas técnicas, novas formas de organização do trabalho) exigem que elas se transformem e se adaptem, de modo a não comprometerem a dinâmica económica e o processo de crescimento económico. Se as instituições, outrora adequadas, não se reformarem e adaptarem podemos assistir a uma forte deterioração das condições económicas e ao declínio económico dos países ou regiões em causa. As reformas institucionais têm, no entanto, de partir do capital social existente. A transposição para uma determinada economia de modelos institucionais bem- sucedidos noutros países não é sinónimo de sucesso. Embora haja lições a retirar das práticas de outros países, em alguns casos, nomeadamente nos países em desenvolvimento, poderá ser preferível optar por instituições “second-best” que levem em consideração o contexto em que se inserem, incluindo falhas específicas de governação e de mercado que não se conseguem eliminar rapidamente. Ao reformar, devemos privilegiar as relações de poder horizontais, em que os parceiros sociais interagem ao mesmo nível de responsabilidade e em que as instituições são um fator de promoção do capital social e de uma participação alargada nas tomadas de decisão. Estas instituições são inclusivas, tal como definidas por Acemoglu e Robinson (2012). Promovem a adaptação das sociedades aos choques tecnológicos, através de processos de destruição criativa. Pelo contrário, as sociedades caracterizadas por instituições extrativas, que se opõem ao processo de auto-regeneração, estão assentes em estruturas de poder vertical e tendem a empobrecer em consequência da sua dificuldade em responder aos choques a que são sujeitas. Efetivamente, nestas sociedades os grupos que extraem os recursos do resto da sociedade ao verem ameaçado o seu poder opõem-se energicamente às transformações. Um exemplo recente de extraordinária ascensão económica associada à reforma das instituições políticas e económicas no sentido de instituições inclusivas é o Brasil a partir da década de 1970. A transformação institucional brasileira surgiu com o aumento da participação cívica nas administrações locais, em resultado da 9 aproximação de diversos movimentos sociais e dos sindicatos, e posteriormente estendeu-se a nível nacional. O empoderamento social foi um fator fundamental no aparecimento de um governo empenhado na prestação de serviços públicos, na educação e na criação de condições equitativas para todos. Desde 1990, o Brasil tem verificado um rápido crescimento económico (crescimento médio de 3,7 por cento nas duas últimas décadas), a escolaridade média aumentou de seis anos, em 1995, para oito anos e meio, em 2009, e a proporção de população que vive na pobreza diminuiu de 45 para 21 por cento no mesmo período. Mais importante, o processo de transformação das instituições no Brasil ocorreu progressivamente sem que houvesse uma revolução radical que frequentemente gera grande destruição e sofrimento e cujo êxito não é certo. 4. A importância do sistema financeiro para o desenvolvimento económico O desenvolvimento do sistema financeiro é fundamental para o desenvolvimento económico. De acordo com Schumpeter, o crédito e o financiamento são condições necessárias para a concretização do espírito inovador do empresário, a qual determina o crescimento de longo prazo. Na verdade, uma economia cresce em função da poupança que gera e da capacidade que tem para transformar essa poupança em investimento produtivo. É precisamente na canalização da poupança para o investimento que o sistema financeiro desempenha um papel fundamental. O sistema financeiro é indispensável para colocar em contacto agentes com capacidade de financiamento e agentes com necessidade de financiamento. Para ilustrar a importância do sistema financeiro, Alan Blinder (2013) compara-o ao sistema circulatório do corpo humano: “Finance is more like the circulatory system of the economic body. And if the blood stops flowing …well, you don’t want to think about it.” 10 O sistema financeiro potencia a utilização eficiente da poupança, através da transformação de maturidades, da mutualização do risco, da agregação de grandes montantes de fundos e da acumulação e monitorização de informação. Transformação de maturidades Os aforradores e os investidores têm, tipicamente, horizontes temporais muito diferentes. Existem poucos depósitos com prazos superiores a dois anos e poucos projetos de investimento com prazos inferiores a dois anos. Sem o sistema financeiro, seria muito difícil compatibilizar as preferências de liquidez dos aforradores com as necessidades dos investidores. O sistema financeiro opera esta transformação de maturidades: por um lado, recebe os fundos dos aforradores, disponibilizando-os nos prazos acordados; por outro lado, financia os empresários, estabelecendo prazos de reembolso compatíveis com a rendibilidade dos seus investimentos. Mutualização do risco Para além da transformação de maturidades, a mutualização do risco é também uma importante função do sistema financeiro. O sistema financeiro dispõe de instrumentos e mecanismos que permitem trocar, agrupar e diversificar o risco. Esta função do sistema financeiro é crucial para a concretização de projetos de investimento de elevado retorno e risco e projetos de muito longo prazo. A mutualização do risco permite uma afetação ótima dos recursos. As escolhas e oportunidades de investimento são ampliadas pelas relações com uma multiplicidade de aforradores e investidores e, paralelamente, o risco é distribuído e assumido por mais agentes. Consequentemente, o sistema financeiro não só mutualiza os riscos como amplia a visão sobre as possibilidades de alocação de recursos e, neste sentido, potencia uma melhor utilização da poupança. Agregação de grandes montantes de fundos 11 Adicionalmente, o sistema financeiro tem a capacidade de agregar grandes montantes de fundos oriundos de vários aforradores, o que permite financiar projetos de investimento de grande envergadura. Acumulação, produção e monitorização de informação Os intermediários financeiros processam e acumulam informação substancial sobre as empresas e as condições económicas, o que possibilita uma melhor avaliação dos projetos de investimento e uma discriminação em função do risco dos agentes económicos e dos projetos. Isto significa que os intermediários financeiros fazem profissionalmente o que nenhum aforrador é capaz de fazer individualmente. Esta função tem uma importância fundamental na afetação eficiente dos recursos. A função de intermediação financeira do sector bancário pressupõe uma relação de confiança entre as instituições bancárias e os seus clientes. Pressupõe, igualmente, uma confiança do público em geral e dos investidores no conjunto do sistema bancário. O sistema financeiro assume, por conseguinte, um carácter de interesse geral, assegurando que os recursos são utilizados de forma eficiente e garantindo que a confiança daqueles que lhe cedem os seus recursos se mantém intacta. É, por isso, necessário assegurar um sistema financeiro sólido e resiliente, com níveis de solvabilidade reforçados, devidamente regulado e supervisionado. Para isso, é indispensável uma supervisão rigorosa e assente num quadro regulatório focado nos interesses essenciais do sistema: manutenção da confiança, utilização dos recursos ajustada a objetivos compatíveis com as necessidades de financiamento da economia. Devemos manter-nos firmes neste propósito, pois a solidez do sistema financeiro é um pilar do desenvolvimento económico. Muito obrigado. 12 Referências: Acemoglu, D., Robinson, J. (1992) Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty, Crown Business. Aghion P. and Howitt P. (1998), “Capital Accumulation and Innovation as Complementary Factors in Long-Run Growth”, Journal of Economic Growth 3: 111-130. Arrow, K. (1972) “Gifts and Exchanges”, Philosophy and Public Affairs, 1, 4, p. 343-362. Barro, R. (1991) "Economic Growth in a Cross Section of Countries", The Quarterly Journal of Economics, MIT Press, vol. 106(2), pages 407-43, May. Barro, R., Lee, J. (1993), "International comparisons of educational attainment," Journal of Monetary Economics, Elsevier, vol. 32(3), pages 363-394, December. Barro, R., Lee, J. (2001). "International Data on Educational Attainment: Updates and Implications," Oxford Economic Papers, Oxford University Press, vol. 53(3), pages 541-63, July. 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