PAINEL A MÁQUINA FOTOGRÁFICA TAMBÉM É PARA A CRIANÇA: INSERINDO À PERCEPÇÃO DA IMAGEM A PARTIR DA FOTOGRAFIA PARA QUEBRAR PRECONCEITOS ESTABELECIDOS. Toky Popytek Coelho-graduando Universidade Federal do Pará – UFPA Resumo: Este trabalho faz parte do projeto de extensão e pesquisa “Educação e Cultura: o entrelaçar do Círio de Nazaré nas vivências pedagógicas na Escola de Aplicação da UFPA” e constitui-se em relatos de experiências vivenciadas na sala de aula em Abril de 2011, com crianças de 4ª série do Ensino Fundamental. Foi desenvolvido por meio de uma oficina de Fotografia com o objetivo de contribuir para a desmistificação de preconceitos que rodeiam a criança com relação ao manuseio da Máquina Fotográfica e a alfabetização visual como parte do aprendizado na Escola. Esta oficina se constituiu na montagem de uma Câmera Escura pelas crianças e no uso de uma Máquina Fotográfica para a criação de imagens. As crianças, sob orientação do educador, montaram uma Câmera Escura para si e utilizaram a máquina para captar as imagens escolhidas por elas que a Câmera Escura projetava. A fotografia pode criar uma ambiente de introdução à leitura visual, a partir do momento em que se dê oportunidade à criança, por meio da câmera de aguçar sua percepção e interpretação. Para isso, foi preciso vencer certos obstáculos referentes ao contato com a Máquina Fotográfica, daí o foco da oficina de superar preconceitos no que se refere ao mecanismo fotográfico, pois num primeiro momento, algumas delas se mostraram receosas de manusearem a câmera, porém, com a credibilidade que lhes foi dada pelo educador, sentiram-se à vontade e dispostas em participar dessa vivência. Outro fator importante, foi o incentivo que as crianças receberam para escolher livremente imagens situadas no entorno da Escola e fotografálas. Para realizar essa ação as crianças inseriram a Máquina Fotográfica dentro da Câmera Escura. Assim, os resultados obtidos foram fotografias turvas que exigiram da criança maior esforço para reconhecê-las e isso foi a chave para iniciarem a identificação de cada item nas fotografias, utilizando sua percepção e promovendo uma satisfação única e pessoal com as imagens surpreendentes que obtiveram. PALAVRAS-CHAVE: Maquina fotográfica; Preconceitos estabelecidos; Alfabetização Visual. 1. Apresentação A imagem é algo trabalhado por muitos educadores, quer por meio de slides, impressão ou vídeo, nas diferentes disciplinas dentro da escola, todos percebem que por meio delas pode-se aguçar a compreensão dos alunos para o que está sendo ministrado. Contudo, mostrar uma imagem para ilustrar algo sendo ensinado é uma coisa, e propiciar uma leitura visual delas é outra. Nessas ações, no que diz respeito à disciplina de arte, contextualizar vai para além disso, quer dizer que as imagens estão na vida deles dentro e fora da escola. Percebendo esse contexto, este trabalho constitui-se em um relato de experiências, critico e reflexivo, vivenciadas em sala de aula através de oficinas ministradas como parte do projeto de extensão Educação e Cultura: o entrelaçar do Círio de Nazaré nas vivências pedagógicas da Escola de Aplicação da UFPA. Foi desenvolvido por meio da Coordenação de Pesquisa e Extensão (COPEX) da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (EAUFPA). A instituição citada é regida pela Universidade Federal do Pará, a qual seleciona universitários de diversas disciplinas para que atuem como bolsistas e cooperem nos projetos da Escola de Aplicação trazendo seus conhecimentos adquiridos em sala na universidade para mesclá-los aos objetivos da escola. A oficina é baseada na leitura visual, em outras palavras, possibilitar a criança a ver seu próprio mundo e interpretá-lo. Sendo assim, constituiu-se em uma oficina de fotografia ministrada em duas classes do ensino fundamental, com crianças de 9 e 10 anos, no período de duas semanas. As crianças sob orientação do educador montaram uma Câmera Escura para si e utilizaram uma máquina fotográfica sob a tutela do mesmo, tendo como objetivo de ensinar sobre o mecanismo de uma câmera até a produção da imagem. A partir desse principio, propiciou-se a facilidade de aguçar a criatividade delas incentivando-as a escolherem imagens no entorno através da Câmera Escura, para que por fim, pudessem realizar fotografias no termino da oficina por meio da Câmera Escuta juntamente com a Máquina Fotográfica. 2. A criança e a Imagem Na atualidade, precisamos em primeiro lugar, atentar que estamos imersos em um mundo visual e que segundo Barbosa (apud, Rossi, 2003, p.1) “O poder da imagem não diminuiu, pelo contrário, hoje vivemos na chamada “civilização da imagem. É a era da visualidade, da cultura visual.”. Essa era visual segue. As tendências pedem cada vez mais pela imagem, e em uma linguagem subjetiva busca surpreender, cativar, seduzir e prender a atenção dos que as contemplam independentemente do que seja seu real objetivo. Nesse processo, temos os indivíduos que são atraídos por elas, os quais tendem a ter um descompasso com essas realidades oníricas oferecidas nelas por não serem visualmente educados para isso. Esses descompassos se constituem em uma não familiarização com os ícones nas imagens contemporâneas, isto é, não conseguem decodificar os itens nelas dispostos em um patamar de ligação e contextualização destes itens, condicionando-os, então, a um analfabetismo visual emergente. Em segundo lugar, assim como o adulto, a criança não está isenta de ter que encarar a imagem. A televisão, os anúncios, os álbuns de fotografias e até mesmo os cartazes colados nas paredes das escolas estão diante delas, assim, o educador em muitos momentos em sala de aula não percebe que todas essas coisas estão ao redor desses alunos e que isso os confunde se não tiverem um referencial advindo deste educador. A importância de imergi-los no mundo visual, na linguagem visual segundo Barbosa (apud, Rossi, 2003, p.1) é: a leitura da imagem na escola prepararia os alunos para a compreensão da gramática visual de qualquer imagem, artística ou não, na aula de artes, ou no cotidiano, e que torná-los conscientes da produção humana de alta qualidade é forma de prepará-los para compreender e avaliar todo o tipo de imagem, conscientizando-os do que estão aprendendo com estas imagens. A importância da leitura visual não se condiciona, segundo Barbosa (2003) apenas as artes, esse condicionamento vai para além disso, é no cotidiano, nas vivências livres do dia a dia, e que torná-los conscientes dessas produções humanas para poderem ler qualquer imagem é parte da educação. Nesse enredo, a publicidade pode ser um grande exemplo de ícones que estão diante de todos nós, inclusive à disposição das crianças, os quais exigirão uma leitura deles. Assim, quando mentalizamos o significado das linguagens publicitárias podemos ter em mente que ela existe para seduzir, oferecer um mundo onírico que traspassa a realidade objetiva da vida humana, e que se concretiza em uma subjetividade imaginada e idealizada, já que se apropria dela para persuadir um determinado público. Carvalho (2004, p. 1) diz que: Ao contrário do panorama caótico do mundo apresentado nos noticiários dos jornais, a mensagem publicitária cria e exibe um mundo perfeito e ideal, verdadeira ilha da deusa Calipso, que acolheu Ulisses em sua Odisseia — sem guerra, fome, deterioração ou subdesenvolvimento. Tudo são luzes, calor e encanto, numa beleza perfeita e não-perceptivel. Nesse cenário, as crianças as encaram quando assistem televisão, lêem algum anúncio nos outdoors ou até mesmo nas páginas comerciais dos gibis que compram. O que fazer para começar a iniciar uma familiarização com essas imagens que mostram, na maioria das vezes coisas impossíveis de existir no mundo real? Fotografia de anuncio publicitário A fotografia a cima representa muito bem um esforço onírico de representado em uma imagem contemporânea. Provavelmente não consigamos de imediato alfabetizá-las para isso em um único ano letivo, tarefa que seria praticamente impossível de se alcançar em tão pouco tempo. Mas podemos sim, iniciar esse processo aos poucos, quer seja por meio de oficinas pedagógicas de arte ou de qualquer outra disciplina, e até mesmo por práticas de leitura desses textos visuais de suas próprias realidades. Porém, muitos educadores se equivocam pensando que apenas alfabetizar uma criança para a escrita a torna completamente alfabetizada para tudo no mundo. A publicidade, nosso exemplo das imagens contemporâneas, não deixam de ser uma linguagem, não deixam de serem textos assim como o escrito, segundo Carvalho (2004, p. 12) a “publicidade é discurso, linguagem, e portanto manipula símbolos para fazer a mediação entre objetos e pessoas, utilizando-se mais da linguagem do mercado que a dos objetos.”. Portanto, de acordo com ele, a publicidade adota linguagem própria, a qual se embasa na sedução e persuasão, substituindo a subjetividade informativa. A leitura da imagem compreende muitas etapas, pois ela é constituída de muitos pormenores que segundo Panofsky (1986), concretizam-se, acima de tudo, em uma estrutura geral de cor, linha, forma e volume. Quando identifico esses aspectos, posso iniciar a ação de decodificá-los. Porém, essas formas visíveis, segundo ele, são apreendidas por meio da experiência com os objetos. Entretanto, ele ressalta que nesse jogo de reação correspondente ao objeto, quanto mais tiver experiências com eles melhor será a compreensão. Todavia, a experiência está ligada ao conhecimento, isto é, para compreendermos o que significa uma imagem, precisamos ser instruídos para isso, educados visualmente para tal. Levando para a arte, compreender uma pintura da atualidade, por exemplo, exige maior esforço para compreendê-la do que com as do passado por conta das tendências da arte não se compactuarem mais com as formas concretas, suas características turvas, fragmentadas e inconstantes pedem ao contemplador uma instrução para percebê-las, isto pode valer para boa parte das imagens contemporâneas, não necessariamente precisando der imagens artísticas. Para Ostrower (1995, p. 28) “É sobremodo significativo que o termo „perceber‟ seja sinônimo de „compreender‟”. A percepção pode ser uma relação de responsabilidade do contemplador com a obra, ou nosso foco, a imagem. Uma relação de inteligência, ou seja, é a imagem exigindo dele uma conceituação, é ele exigindo dela uma significação. Nesse contexto, entra o papel do ensino como parte gerador de indivíduos socialmente conscientes e compreensivos de seu mundo, portanto, é de grande relevância o ensino do reconhecimento da imagem como parte fundamental do desenvolvimento cognitivo do aluno. Um educador verdadeiramente engajado no seu papel socializante de conhecimentos não se contentaria em voltar para casa depois de um dia de aula sabendo que ele mostrou para a criança uma imagem do sol e sua importância para a terra e ela interpretou como sendo a imagem de um cogumelo. Nem sempre condicionar o intérprete as possibilidades e não as que a imagem produzem pode ser um caminho seguro para a alfabetização visual, porém, também não é obrigando a criança a perceber que é um sol mostrado que resolverá o problema da alfabetização visual, mas através das abstrações delas oferecer outras possibilidades de interpretação, jamais negando o que elas abstraem. Existem muitos meio para que se auxilie os alunos às leituras visuais. Uma das propostas bastante eficazes são as oficinas didáticas. Oficinas elaboradas para sala de aula ou para algum espaço dentro da escola, as quais possibilitam uma experiência intima com a imagem. Por outro lado, quando se pensa em oficina de arte, logo mentalizamos materiais tais como: tinta, pincel, lápis, tesoura e papel. Elas são eficazes, contudo, quando pensamos em leitura visual, esses materiais não são o suficiente. Assim, a fotografia e o acesso ao seu mecanismo de produção da imagem, por exemplo, pode sem dúvida criar uma ambiente de introdução à leitura da mesma, a partir do momento em que se dê oportunidade à criança de poder se relacionar com a ela, para isso é preciso um incentivo externo, Vigotsky (2010, p.15) diz que: Todo ato nosso é forçosamente antecedido de alguma causa que suscita em forma quer de fato ou acontecimento externo, quer de um desejo interno, motivação ou pensamento. [...]. Assim, a reação deve ser entendida como certa relação recíproca entre o organismo e o meio que o rodeia. Preparando os alunos para a leitura visual, condiciona-os a uma correspondência mais fruítiva entre intérprete e imagem, assim, quando tiverem que encarar as imagens produzidas por qualquer meio de comunicação visual artístico ou não, e compreendendo que o processo de criação desses trabalhos são constituídos de uma poética que fala de suas próprias realidades de vida, torna-as indivíduos interpretantes das linguagens dispostas no seu cotidiano. 3. Metodologia O projeto de oficina foi dividido em várias etapas. A primeira uma aula sobre como se forma a imagem em uma câmera fotográfica, utilizando uma Máquina fotográfica semiprofissional como exemplo, dando nas mãos da criança para que manuseassem, percebendo as lentes, os mecanismos internos, etc. Em seguida foi feito um desenho no quadro do globo ocular para fazer uma breve comparação sobre como funciona o mecanismos fotográfico, bem como foi aberto um momento de perguntas e respostas para que tudo fosse desvendado antes da oficina propriamente dita iniciasse. A segunda etapa compreendeu na entrega dos materiais e o que fazer com eles, sendo que na terceira parte iniciou-se a montagem da primeira etapa da caixa. Já a etapa final corresponderia no recorte dos papeis e a colagem dos mesmos nas caixas. Os materiais socializados foram Papel Cartão para confecção das caixas, tesouras, papel laminado e vegetal, fita adesiva, cola, e lente de aumento (lupa). Com esses materiais, as crianças sob orientação do educador, confeccionaram as caixas recortando os papeis, colando as emendas de modo que obtiveram duas caixas em forma de um tubo quadrado, que se encaixavam uma dentro da outra, sendo que a parte inferior de ambas as caixas abertas e a superior lacrada, mas com um furo da espessura de um canudo de tomar refrigerante em uma das caixas. Ao término da montagem, as crianças posicionaram as lentes por sob o orifício, obtendo a projeção das imagens como resultado. 4. Os resultados Quando pensamos sobre o objetivo do projeto, no que diz respeito alcançar resultados mais rápidos e satisfatórios, os resultados foram para além do esperado, pois o projeto se tornou sublime quando alcançou cada criança, nosso foco principal, alcançamos a vida delas, a interação em sala com elas, sua mobilidade fantasiosa de criar e pensar diferente do adulto, a leitura delas de mundo através das imagens escolhidas e fotografadas por elas, como podemos ver no processo de criação e os resultados nas imagens abaixo: As crianças montando e experimentando a Câmera Escura1 Fotografias feitas pelas crianças com o uso da Maquina fotográfica e a Câmera Escura 2 1 Fotos de autoria do próprio autor do texto e da oficina. Fotografias efetuadas durante a oficina e utilizadas com permissão. 2 Imagens de autoria das próprias crianças e utilizadas com permissão. Percebemos que, pelos resultados fotográficos, as crianças muitas das vezes se relacionam com imagem, porém poucos educadores percebem que elas são importantes de serem trabalhadas com em sala. Antes da oficina elas percebiam o mundo lá fora, contudo, não tinham oportunidades de recriá-los à sua maneira por muitos fatores das suas realidades vivenciais dentro e fora da escola. Notou-se que as crianças que participaram das oficinas perceberam melhor o mundo, a curiosidade foi aguçada e isso se tornou na chave para que acontecesse o trabalho, acontecendo exatamente o que Vigotsky (2010) diz na citação precedente, pois elas tinham medo de utilizar a câmera, mas foram mobilizadas a perdem esse medo. Por conseguinte, ao contemplarem as imagens projetadas e fotografadas por elas mesmas sentiram-se mais livres para com segurança pedir aos seus pais, que permitam com que usem uma câmera fotográfica e captem imagens do seu mundo a sua maneira. 5. Considerações finais O projeto “Educação e Cultura: o entrelaçar do Círio de Nazaré nas Vivências Pedagógicas da Escola de Aplicação” ainda não terminou, sua conclusão será em Dezembro de 2011, porém, parte dos objetivos a serem alcançados foram satisfatórios, pois permitiu com que se adentrasse no mundo da criança, para a partir disso, fazer com que participem ativamente durante todo o projeto. As crianças tinham seus medos, mas foram quebrados, os professores perceberam que tem a disposição outras metodologias que podem ser utilizadas em sala de aula, a fotografia foi um exemplo disso, a escola pode dar um salto, a partir do momento em que se dá credibilidade ao professor de pesquisar e submeter suas idéias em sala. A oficina parece algo simples, mas podemos notar no conteúdo mágico das fotos produzidas por essas crianças, algo sério e de grande relevância para a alfabetização visual e também para a pesquisa da Educação em sala de aula. 6. Referências BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1994. CARVALHO, Nelly de. Publicidade: a linguagem da sedução. 3ªed. Ática: São Paulo, 2004. DONDIS, A. Donis. Sintaxe da linguagem visual. 2ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. ROSSI, Maria Helena Wagner. Imagens que falam: leitura da arte na escola. Porto Alegre: Mediação, 2003. VIGOTSKY, L.S. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fonte. 2010. Dementia. Disponível em: <http://www.dementia.pt/15-imagens-geniais-de-publicidadecriativa///>: acesso em:14/09/2011