TURNING ENDODONTICS EASY FOR ALL (CLINICAL CASE) FÁBIO TOBIAS PERASSI RENATO DE TOLEDO LEONARDO Professor de Endodontia da Faculdade de Odontologia de Lins/Unimep e doutorando em Endodontia pela Faculdade de Odontologia de Araraquara/Unesp Professor assistente doutor de Endodontia da Faculdade de Odontologia de Araraquara/Unesp 60 vol. 14 nos 1 jan./jun. 2002 RESUMO A utilização de instrumentos de níquel-titânio acionados a motor por profissionais treinados tornam o tratamento endodôntico mais rápido e simplificado, isto é, realizado com menores dificuldades. Alguns obstáculos técnicos antes considerados verdadeiros desafios poderão ser vencidos com essa nova tecnologia de tratamento. Os autores relatam um caso clínico de elevado grau de dificuldade, empregando limas da série Flare e Quantec LX (Analytics Endodontics, EUA). UNITERMOS: CANAL RADICULAR – INSTRUMENTOS DE NÍQUELTITÂNIO. SUMMARY The use of rotary instrumentation by trained dental surgeons facilitates and simplifies endodontic therapy. Difficult challenges can be overcome with less problems and technical obstacles by using this new technique.The authors describe a highly difficult clinical case utilizing Flare Series and Quantec LX files (Analytics Endodontics, EUA). UNITERMS: ROOT CANAL – NICKEL-TITANIUM FILES. UNIMEP • Universidade Metodista de Piracicaba ENDODONTIA AO ALCANCE DE TODOS – SISTEMAS ROTATÓRIOS (RELATO CLÍNICO) Os sistemas rotatórios constituem a terceira geração no aprimoramento e na simplificação do tratamento de canais radiculares e podem ser considerados como uma nova era tanto na atividade diária do endodontista como também na dos clínicos gerais que aplicam essa especialidade.5 Para o uso dessa nova tecnologia de tratamento, é necessário conhecimento teórico para praticá-la, inicialmente em dentes extraídos, até conseguir o mesmo domínio técnico obtido com a aplicação dos instrumentos manuais a fim de, só então, iniciar as atividades clínicas. Entre as fases do tratamento endodôntico – que se inicia com a assepsia e anti-sepsia e termina com a obturação e proservação do caso –, a do preparo biomecânico é uma das mais importantes. É nela que realizamos a odontometria, obtendo, assim, o comprimento ideal para a realização da limpeza e da modelagem do canal radicular, deixando-o pronto para receber uma fácil e hermética obturação.3 Até o início dos anos 80, encontrávamos no mercado somente limas endodônticas de aço inoxidável fabricadas de acordo com as normas da ISO/FDI e ANSI/ADA. As limas de aço inoxidável, pouco flexíveis, com alto poder de corte, ponta ativa e conicidade constante de 0,02mm, forçaram o desenvolvimento de inúmeras técnicas alternativas para o preparo biomecânico, buscando minimizar os acidentes inerentes a essa fase (transporte do forame, degraus, desvios, perfurações). Com a introdução da liga de níquel e titânio na endodontia, os acidentes nessa fase foram reduzidos,1, 4, 7, 8 graças às características dessa liga (superelasticidade e efeito memória de forma), que através de um processo de usinagem, apresenta um desenho inovador na sua parte ativa, permitindo a rotação desse instrumento no interior do canal radicular em torno de 150 a 350 rpm, com ângulo de corte levemente positivo, áreas de escape para a dentina excisada, apresentando ainda duas opções de ponta ativa ou inativa.6 Esses novos instrumentos foram fabricados fora das normas da ISO/ FDI e ANSI/ADA, apresentando uma variação na conicidade da sua parte ativa de 0,02 mm até 0,06 mm (Quantec LX da Analytic Endodontics, EUA) (fig. 1), permitindo a utilização de uma nova técnica de FIGURA 1. INSTRUMENTOS QUANTEC LX (NÚMERO 1 0,03, 0,04, 0,05 E 0,06 MM. FIGURA 2. RADIOGRAFIA INICIAL. FIGURA 3. INSTRUMENTOS DA SÉRIE QUANTEC FLARE LX COM CONICIDADES DE 0,08, 0,10 E 0,12 MM. AO 10) COM CONICIDADES DE vol. 14 nos 1 jan./jun. 2002 FOL • Faculdade de Odontologia de Lins / UNIMEP INTRODUÇÃO 0,02, 61 ODONTOMETRIA COM INSTRUMENTOS DE NÍQUEL-TITÂNIO ACIONADOS A MOTOR. instrumentação com variação de conicidade ao se empregar instrumentos de níqueltitânio acionados a motor.2 APRESENTAÇÃO 62 TRATAMENTO ENDODÔNTICO TERMINADO. vol. 14 nos 1 jan./jun. 2002 FIGURA 5. DO CASO CLÍNICO Paciente F.H.P., do sexo masculino, 32 anos, leucoderma, militar, tendo como queixa principal dor espontânea no primeiro molar superior direito. Diante dos testes para diagnóstico e exame radiográfico (fig. 2), verificamos a presença de uma pulpite irreversível. A técnica de instrumentação original2 escolhida para esse caso obedece três etapas. A primeira é o preparo da porção coronária do canal radicular, alargando a entrada dos canais radiculares no terço cervical e, se possível, até o início do terço médio. Nessa etapa da técnica original, utilizamos a série Quantec Flare LX, com conicidades variando de 0,08, 0,10 e 0,12 mm (Analytics Endodontics, EUA) (fig. 3), desenhadas exclusivamente para essa etapa. Após a obtenção do comprimento de trabalho, inicia a segunda etapa, que é o preparo do batente apical (terço apical). A forma cônica final do canal radicular é conseguida pela variação da conicidade desses instrumentos, unindo-se o terço apical com o cervical. Realizados todos os procedimentos iniciais do tratamento endodôntico, já sob isolamento absoluto, procedemos ao preparo biomecânico. Após a exploração dos canais radiculares com uma lima tipo K de aço inoxidável compatível com os diâmetros dos canais (10, 15 ou 20), começamos a instrumentação propriamente dita. Ajustamos a rotação do motor com contra-ângulo redutor (16:1) entre 300 a 340 rpm. O torque variou de acordo com o uso de instrumentos de menor calibre (menor torque) para os mais calibrosos (torque um pouco maior). Iniciamos a primeira etapa com o instrumento Quantec LX n.º 1 (25/.06), com movimentos curtos de vai e vem (movimentos de bicada) em direção apical, sem pressão, e, a seguir, passamos aos instrumentos Quantec Flare LX (25/.08, 25/.10 e 25/ .12). Removidas as interferências iniciais, partimos para a odontometria, usando os próprios instrumentos de níquel-titânio acionados a motor (fig.4). Na segunda etapa (preparo do batente apical), iniciamos com os instrumentos UNIMEP • Universidade Metodista de Piracicaba FIGURA 4. DISCUSSÃO O tratamento endodôntico em molares sempre apresenta dificuldades técnicas, não só pela anatomia dentária como também pela localização desses dentes no arco, o que dificulta a visualização e, principalmente, o correto preparo biomecânico, podendo comprometer a obturação. Seus canais curvos e, algumas vezes, atresiados, associados às limas de aço inoxidável (duras, com pouca flexibilidade e grande poder de corte, além de possuírem um ângulo de transição na ponta) empregadas nessa fase do preparo biomecânico, trazem uma dificuldade ao preparo, requerendo o emprego de técnicas de instrumentação como a da Universidade de Oregon, técnicas bi-escalonadas, técnica de Goerig e outras tantas específicas para minimizar os acidentes que ocorrem nessa fase. Com o advento dos instrumentos rotatórios de níquel-titânio e as características relacionadas à liga empregada, a simplicidade da técnica e o tempo que cada instrumento permanece trabalhando no interior do canal radicular (cinco a oito segundos) fazem com que o profissional agilize o tratamento, tornando-o menos estressante tanto para ele quanto para o paciente, além de resolver casos antes considerados muito difíceis em função do grau de curvatura apresentado. CONCLUSÃO Para a realização de tratamento de canais radiculares de molares, principalmente atresiados e curvos, utilizando os sistemas rotatórios, é necessário o conhecimento teórico desses sistemas e, em especial, o desenvolvimento da habilidade profissional. Os sistemas rotatórios representam uma verdadeira revolução na endodontia, permitindo a realização do tratamento de canais radiculares de maneira mais eficaz, rápida, segura e, acima de tudo, com qualidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. CAMARGO, J.M.P. Avaliação da eficácia das instrumentações rotatórias (Sistemas Quantec LX, Pow-R, Profile e Profile série 29) em canais radiculares simulados. Araraquara: Faculdade de Odontologia/Universidade Estadual Paulista, 2000. [Dissertação de mestrado] 2. KORZEN, B.H. Quantec series 2000 graduating tapers technique for endodontic canal preparation. Oral Health, v. 86, n. 12, pp. 15-19, 1996. 3. LEONARDO, M.R. Filosofia do tratamento de canais radiculares. In: LEONARDO, M.R. & LEAL, J.M. Endodontia: tratamento de canais radiculares. São Paulo: Medicina Panamericana, p. 103, 1998. 4. LEONARDO, M.R.; BONETTI FILHO, I. & LEONARDO, R.T. Instrumentos endodônticos fabricados com liga de níquel-titânio. In: LEONARDO, M.R. & LEAL, J.M. Endodontia: tratamento de canais radiculares. São Paulo: Medicina Panamericana, p. 465, 1998. 5. LEONARDO, M.R. & LEONARDO, R.T. Sistemas rotatórios em endodontia: instrumentos de níquel-titânio. São Paulo: Artes Médicas, p. 400, 2001. 6. LOPES, H.P.; ELIAS, C.N.; SIQUEIRA Jr., J.F. & ESTRELA, C. Considerações sobre a conicidade e o diâmetro das limas endodônticas. Rev. Paul. Odontol., v. 20, n. 2, pp. 810, 1998. 7. NISHIYAMA, C.K. Comparação de três diferentes técnicas de instrumentação mecânica rotatória com limas de níquel-titânio – análise do ângulo de curvatura, deslocamento do centro do instrumento e alteração na área da secção transversal do canal radicular (Estudo in vitro). Araraquara: Faculdade de Odontologia/Unesp, 2001. [Tese de doutorado] 8. SERENE, T.P.; ADAMS, J.D. & SAXENA, A. Nicheltitanium instruments applications in endodontics. Saint Louis: Ishiyaku Euroamericana, 1995. vol. 14 nos 1 jan./jun. 2002 FOL • Faculdade de Odontologia de Lins / UNIMEP Quantec LX n.º 2 (15/.02), n.º 3 (20/.02) e n.º 4 (25/.02), preparando os canais vestibulares. Para o canal lingual, por apresentar-se ele amplo e reto, utilizamos outra técnica de instrumentação (coroa-ápice). Com o propósito de melhorar a conicidade do preparo na etapa da união do terço cervical com o apical, usamos no canal mésio-vestibular o instrumento Quantec LX n.º 5 (25/.03) até o comprimento de trabalho. Já o n.º 6 (25/.04), foi empregado aquém do comprimento de trabalho apenas para melhorar a conicidade e também por facilitar a fase da obturação. A mesma seqüência foi seguida no canal distovestibular. Lembramos que, durante esse processo, a irrigação deve ser copiosa, feita com a solução irrigadora indicada para cada caso, aspirando e inundando o canal para o emprego do próximo instrumento. Terminado o preparo biomecânico, passamos para a obturação dos canais radiculares com uma técnica de termoplastificação (Microseal – Analitics Endodontics, EUA), conseguindo um resultado satisfatório para este caso clínico (fig. 5). 63