Santos I, Bessa JHN, Silva AV, Kestenberg CCF, Reis MMA, Santos RA SAÚDE-SE: O CUIDAR ESTÉTICO DE ENFERMAGEM EM PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA TAKE CARE OF YOUR HEAL TH: THE ESTHETIC CARE EALTH OF NURSING IN A PROJECT OF ACADEMIC EXTENSION Iraci dos Santos* José Henrique Nascimento Bessa** Alexandre Vicente da Silva** Célia Caldeira F. Kestenberg** Marcia Maria Americano dos Reis** Rejane Alecrim Santos** RESUMO: Considerando que os enfermeiros aplicam sensibilidade e intuição, além de habilidades técnico-científicas, numa perspectiva estética de cuidar, indagamos quais terapias não convencionais foram indicadas para atender as queixas da clientela do Projeto Saúde-se, desenvolvidas pela Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, entre 2000 a 2003. Nosso objetivo: classificar as queixas que conduzem ao atendimento de enfermagem, identificando essas terapias. No estudo de caso, analisamos 209 prontuários constatando que freqüentam o Projeto uma maioria de profissionais seguida de estudantes dos três níveis de formação. No cuidar estético, destacam-se: concentração, diálogo, aplicação da intuição e do intelecto, sincronicidade e parceria com o cliente. As queixas classificam-se em emocionais (131), físicas (139) e mentais (22), sendo as terapias mais utilizadas: Reiki e Floralterapia. Concluiu-se que os clientes continuam no Projeto Saúde-se porque seu mal– estar procede das dimensões física, emocional e mental. Palavras-chave: Cuidar em enfermagem; perspectiva estética; terapia não convencional. ABSTRACT ABSTRACT:: Considering that the nurses apply sensibility and intuition, besides technical and scientific abilities, in an esthetic perspective of care, we investigated their practice in a project of academic extension. We searched which non-conventional therapies were indicated by nurses for restoring the physical, emotional and mental balance of people assisted in the Project “Take care of your Health” developed by the Nursing Faculty of the State University of Rio de Janeiro, between 2000 and 2003. The purpose was to classify the motivation factors for nursing assistance and the respective non-conventional therapies indicated. We analyzed 209 clinical records filled at the Workshop of Creation and we verified that mostly professionals, followed by students of the three academic levels, join the Project. The esthetic care involves concentration, dialogue, practicing intuition and intellectual abilities, synchronism and partnership towards the client. The motivation factors for the attendance can be classified in emotional (131), physical (139) and mental (22). The most frequently used therapy is Reiki, followed by Floral Therapy. We concluded that the clients continue in the Project “Take care of your Health” because their illnesses embrace the physical, emotional and mental dimensions. Keywords: Nursing care; esthetic perspective; non-conventional therapy. INTRODUÇÃO N o cotidiano do seu trabalho, os enfermeiros cuidam de pessoas direta e indiretamente, na implementação de atividades assistenciais, educativas e de extensão/prática social. Explicitamos o pensamento quanto ao cuidar estético de enfermagem através de projetos de extensão universitária, descrevendo nosso entendimento sobre perspectiva estética. Justificando as- sim porque as atividades de enfermagem, constantes do Projeto Saúde-se desenvolvido na Oficina de Criação da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FENF/ UERJ), se inserem nessa perspectiva. Tomamos emprestado de Eagleton1 as concepções sobre a ideologia da estética para refletir sobre sua inspiração e influência no exercício da enferR Enferm UERJ 2004; 12:153-9. • p.153 O cuidar estético de enfermagem magem. Para ele, a estética é a visão radical das potências humanas como fins em si mesmas, o que a torna o inimigo implacável de todo pensamento dominador ou instrumental. Conceito comparável ao ideal do humanismo nessa profissão que norteia sua força de trabalho para a descoberta dos potenciais de reação humana e intervenções, visando sua utilização no sentido da promoção, recuperação da saúde e reabilitação dos danos causados pelas doenças. Recorda-se Santos2 que, buscando uma perspectiva estética para a enfermagem, também valoriza a seguinte citação: A estética nasceu como um discurso sobre o corpo. Originalmente não se referia, primeiramente à arte, mas considerando a palavra grega aisthesis, a toda região da percepção e sensações humanas, contrastando com o domínio do pensamento conceitual. Em meados do século XVIII, a distinção feita pelo termo estética não se refere à arte e vida, mas entre o material e o imaterial: entre coisas e pensamentos, sensações e idéias1:17. O sentido estético na enfermagem não é somente a busca pela beleza e a insistência na organização e na limpeza que nos impulsiona ao cuidar do ambiente onde o cliente se encontra. O que nos impulsiona é a própria situação de justiça social, da defesa dos seus direitos de cidadania e, enfim, da preservação da sua humanidade. Pensar numa perspectiva para o cuidar de enfermagem é reafirmar que a estética é um princípio de autonomia, pois nela a ética, a estética e a política são reunidas harmoniosamente. Se na enfermagem fazer o bem é algo profundamente gratificante, uma função autojustificada de nossa natureza, para além da mera utilidade, conforme descreve o autor sobre a ideologia da estética, a aplicação do nosso saber específico só pode ser desenvolvida plenamente desvinculandose do saber biomédico, buscando um exercício autônomo centrado na natureza da profissão. Portanto, concordamos que a estética é a ciência do sensível que se contrapõe ao uso exclusivo do conhecimento racional em uma perspectiva que privilegie e una razão e intuição, sensações e emoções. A nosso ver, esse é o cuidar de enfermagem desenvolvido no Projeto Saúde-se. Para uma P erspectiva Estética no Cuidar Perspectiva em Enfermagem Pensando na finitude da vida desvalorizamos, nosso potencial natural de reação humana sem perceber que surgiram vários métodos e sistemas não convencionais de cura que, se aplicados com regularidade e responsabilidade, têm a possibilidade de desenvolver um estilo de vida com mais equilíbrio. p.154 • R Enferm UERJ 2004; 12:153-9. Diante disso, o Conselho Federal de Enfermagem respalda os enfermeiros a utilizá-los, em consultórios particulares e instituições públicas. Resultados satisfatórios levam ao aumento da clientela desejosa de ampliar sua consciência e melhorar seu estado físico, mental e emocional, equilibrando seu sistema imunológico, obtendo força, vontade de viver e qualidade de vida3. Nesse mundo maravilhoso mas caótico, as pessoas tentam conquistar um espaço no contexto social, profissional, criando um modelo de vida ideal, e, quando o conquistam, têm medo de perdê-lo. Diante disso, elas reagem contra as dificuldades impondo-se um modo de vida desgastante e gerador de angústia, ansiedade e conflito consciente e inconsciente. Para o autor, faz-se necessário o equilíbrio do corpo e da mente, de forma harmoniosa com a natureza, levando-nos a fazer parte dela3. Considerando o exposto, propomos as seguintes questões: – Que terapias não convencionais podem ser utilizadas para restabelecer o equilíbrio físico, emocional e mental de pessoas que buscam o cuidar em enfermagem através de projeto de Extensão Universitária? Que distúrbios no bemestar das pessoas condicionam sua adesão ao Projeto Saúde-se? Neste trabalho, temos como objetivos: caracterizar a clientela do Projeto Saúde-se, identificando a indicação de terapias não convencionais por enfermeiros terapeutas não convencionais; e classificar as queixas principais que conduzem a clientela a freqüentar as atividades desse Projeto. REFERENCIAL T EÓRICOMETODOLÓGICO Defendemos ainda nosso pensamento quan- to à especificidade do atendimento de enfermagem em projetos de extensão, na perspectiva estética do cuidar e a partir do conceito de Neves4, que aponta para a aplicação de um conhecimento de enfermagem além dos limites da ciência tradicional amparado nos padrões de conhecimento empírico, ético e pessoal da enfermeira, visando atender ao cliente em sua totalidade. Cuidar em enfermagem é a arte de estar presente, experienciar a situação/momento vivido pelo cliente com todo seu corpo e sentidos e apreender o conhecimento que daí se origina para imaginar, intuir e criar o necessário para o seu atendimento4. Lembramos que o conhecimento sobre o poder de recuperação, reconstituição e curativo, através da energia dos seres humanos ligada ao cosmos, a exemplo de utilização das ervas, é anterior ao da Santos I, Bessa JHN, Silva AV, Kestenberg CCF, Reis MMA, Santos RA alopatia, enquanto os conhecimentos científicos racionais atualmente utilizados pela medicina datam mais ou menos de um século. Por outro lado, o desenvolvimento da ciência através de métodos científicos lógicos culminaram no aprofundamento de determinados temas, favorecendo uma visão limitada que dificulta ver o todo e a complexidade de relações envolvidas3. Para maior entendimento do que falamos sobre terapias não convencionais, sintetizamos algumas concepções teóricas utilizadas no campo selecionado para pesquisa. A Floralterapia é uma terapêutica para a alma que utiliza a essência das flores, com objetivo de alinhar as necessidades de cada um, gota a gota, de modo que possam reavivar o nosso Eu interior. Edward Bach5, o precursor dessa modalidade, referiu que a doença nunca será curada nem erradicada pelos terapeutas materialistas dos tempos atuais, pois, em essência, a doença é o resultado do conflito entre a Alma e a Mente e, portanto, só será erradicada por esforços mentais e espirituais. Bessa3 descreve que as essências figuram entre os métodos sutís de cura, são usadas há mais de três mil anos e possuem a freqüência energética apropriada para harmonizar estados mentais, emocionais, espirituais e conseqüentemente físicos, que estejam em desequilíbrio. Os florais agem nas causas de nossos desequilíbrios, primeiro denunciando e depois reequilibrando. A filosofia da terapia floral baseia-se no princípio de que a doença é conseqüência de nossos pensamentos negativos, emoções não elaboradas e do uso incorreto da energia vital básica. Quem utiliza as essências florais experimenta uma transformação interior que é resultado da interação da energia das flores que estimula as qualidades inatas de cada um de nós e que não estávamos irradiando. Ela age em circunstâncias ajudando a pessoa a vivenciar inteiramente tal situação sem a formação de bloqueios energéticos e traumas emocionais. Em outros momentos, os florais agirão como catalisadores de bloqueios e traumas já instalados ao nível inconsciente e que estão levando a pessoa à produção de sintomas emocionais e físicos3. Atuando em terapia não convencial, especialmente o Reiki, Bessa3 o conceitua como a união da energia cósmica (REI), energia essencial que permeia o universo em seu estado original, sem forma, onde reside a Consciência Suprema, com a energia pessoal (KI) do praticante, em sua forma manifesta, através da imposição de mãos. REI significa sabedoria universal, energia cósmica, fluido divino, luz, amor, energia primordial que equilibra a energia KI que existe em nosso corpo e em todos os corpos vivos (energia vital, bioenergia, fluido vital). Portanto, é uma energia completa que age, harmoniza e cura, não fazendo parte de religião alguma, podendo somar-se a todos os seres humanos sem distinção. O Reiki é um sistema natural de equilíbrio e reposição energética que contribui para produção de um relaxamento profundo, desbloqueio energético, harmonização interior e resgata a saúde3. Teve origem no Japão e, por volta de 1900, foi redescoberto por Mikao Usui e divulgado por Chujiro Hayashi e Hawayo Takata. Considerando sua experiência e especialização nessa terapia, Bessa3 recomenda, para se aplicar o Reiki, a imposição das mãos em várias áreas do corpo, inclusive em locais conhecidos como chakras. Essa aplicação, segundo o autor, realiza desbloqueio energético, permitindo com isso que a energia cósmica flua adequadamente pelo corpo físico, trazendo serenidade e bem-estar perdidos na agitação do dia-a-dia. Esse tipo de terapia não possui contra-indicações, podendo ser aplicada em bebês, idosos, gestantes, pessoas em pós-operatório. Para aplicar o Reiki, é preciso formação em quatro níveis, inclusive de pós-graduação. MÉTODO E MATERIAL Trata-se de estudo de caso tendo como cam- po da pesquisa a Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FENF/ UERJ), que sedia a Oficina de Criação onde se insere o Projeto de Extensão Saúde-se. Ressalte-se que a proposta desta pesquisa foi autorizada pela Direção da FENF/UERJ e pela Coordenação da Oficina de Criação, atendendo-se às exigências das normas de Pesquisa em Seres Humanos, inclusive, com participação dos enfermeiros terapeutas do referido Projeto no levantamento dos prontuários. Para pesquisar o que denominamos um cuidar estético, utilizamos a técnica de análise documental e procedemos à análise retrospectiva em 209 prontuários arquivados de clientes atendidos no Projeto Saúde-se, no período de 2000 a 2003, na Oficina de Criação. O estudo limita-se a uma amostra intencional, haja vista a inclusão de somente prontuários arquivados nas letras de A a N, considerando o tempo disponível para realização da pesquisa, pois pretendíamos apresentar seu resultado em evento científico sobre o tema perspectiva estética do cuidar em enfermagem. Foi considerada como variável independente a condição de cliente atendido pelo Projeto. Foram selecionadas como variáveis dependentes as características da clientela quanto a sexo, situação R Enferm UERJ 2004; 12:153-9. • p.155 O cuidar estético de enfermagem profissional/ ocupacional e estudantil, queixa principal do cliente e modalidade de terapia indicada pelo terapeuta. Releva-se que a seleção dessas duas últimas variáveis contribuíram para orientar nossa suposição hipotética: os clientes buscam o Projeto Saúde-se visando um atendimento integral e diferenciado para queixas de origem física, mental ou intelectual. O Processo de T rabalho do Cuidar EstéTrabalho tico em Enfermagem Descrevemos fases do processo do cuidar no Projeto Saúde-se, ressaltando sua inserção na perspectiva estética e lembrando que o diagnóstico para indicação de terapias não convencionais envolve aspectos diferenciados, conforme o enfermeiro e terapeuta não convencional Alexandre Silva exemplifica as fases desenvolvidas na terapia floral: Fase de Concentração - O terapeuta deve concentrar-se a fim de permitir um estado alterado de consciência visando, segundo acreditamos em uma força maior, uma energia cósmica suprema que dirige todo o universo, o contato do seu Eu Superior com o Eu Superior do Cliente, pois é neste Eu que se caracteriza nosso Ser Total, com a nossa alma (psique), com suas virtudes, mas também com seus conflitos e aspectos sombrios. Fase do Diálogo – É através do diálogo, caracterizado por uma atitude não julgadora, de uma escuta compreensiva, empática, que procedemos ao levantamento das queixas do cliente e a sua história de vida. A partir daí, atentamos para as metáforas atribuídas ao sofrimento, as quais funcionarão como pistas para se chegar ao significado simbólico do sofrimento do cliente. Portanto, partimos do relato verbal, com queixas físicas muitas vezes, para chegar ao aspecto psicoemocional do sofrimento, no qual, segundo Bach5, seria a causa dos nossos desequilíbrios físicos e psicológicos. Nesse sentido, o terapeuta floral trabalha com as causas e não com as conseqüências (sintomas) do sofrimento. Fase da Intuição e Intelecto – Identificando o aspecto psicoemocional envolvido e sua repercussão na vida do cliente como um todo, recorremos ao nosso conhecimento intelectual sobre o repertório de essências florais que podem auxiliar a pessoa no seu processo de reequilíbrio energético e de autoconscientização. Para ajudar na nossa escolha correta do floral, contamos com a nossa intuição, pois nela há uma sabedoria que transcende a razão e flui para nossa consciência fazendo brotar o nome da essência floral mais adequada e com a freqüência p.156 • R Enferm UERJ 2004; 12:153-9. vibracional da virtude que se opõe ao estado emocional do nosso cliente. Fase da Sincronicidade – Quando a situação apresentada pelo cliente é mais complexa, além do diálogo, razão e intuição, podemos contar com o princípio da sincronicidade porque acreditamos que as coisas não acontecem por acaso e que nesse sentido coincidências não existem. Assim, solicitamos ao cliente para entrar em contato visual e emocional com as imagens das flores que compõem o repertório das essências e escolha aquelas que mais lhe chamaram a atenção. Quando decodificamos para o cliente o significado e as indicações terapêuticas das flores escolhidas, é comum perceber-se que elas sintonizam com o estado emocional do cliente. Fase da Parceria – O terapeuta deve contar com a participação e envolvimento do cliente, o quanto possível, na escolha das essências florais que comporão sua fórmula personalizada. Deve-se clarificar para ele que o processo não é mágico sendo muito importante o esforço do ego dele. Uma tentativa de mudança no seu estilo de vida e na sua rede de valores é fundamental para que a harmonização se efetue. RESUL TADOS ESULT E DISCUSSÃO Caracterizando a clientela do Projeto Saú- de-se, verifica-se que a amostra composta por 209 (100,00%) pessoas se distribui, segundo a situação trabalhista ou estudantil, em 75 (35,00%) profissionais e 71 (33,97%) estudantes, conforme demonstra a Tabela 1. Esses resultados demonstram a valorização das atividades nele desenvolvidas tanto por parte de profissionais quanto de estudantes. O fato de se encontrar pessoas aposentadas ressalta o aspecto democrático do Projeto que não se limita a atender a população acadêmica, conforme assinala Bessa3, ressaltan- TABELA 1: Distribuição da clientela segundo a situação trabalhista ou estudantil. Rio de Janeiro, FENF /UERJ, Oficina de Criação, outubro, 2003. Santos I, Bessa JHN, Silva AV, Kestenberg CCF, Reis MMA, Santos RA do que as terapias não convencionais têm utilidade para todos. Observa-se que a clientela se distribui em categorias profissionais de todos os níveis de formação, a exemplo dos da área da saúde, educação e advocacia. Entre os profissionais de níveis médio e básico, destacam-se técnico de comunicação, comerciante, ascensorista e vendedor ambulante. Na categoria estudantil, situam-se os cursos de enfermagem, medicina, educação física, direito e informática (ver Figura 1). Este fato corrobora que na atualidade pessoas com diversas experiências e interesses procuram terapias alternativas para cuidar de sua própria saúde3. O critério para classificar as queixas que conduzem a clientela ao atendimento de enfermagem no Projeto Saúde-se considerou, para inclusão no padrão físico, aquelas de ordem biológica; no emocional, as de ordem dos afetos, sentimentos, emoções e sensações; no mental, as referentes aos processos cognitivos, cerebrais. Na Tabela 2 observa-se a predominância do padrão físico 139 (47,60%). Na Tabela 3, também observa-se a predominância do padrão físico, no qual se destacam as queixas de ordem osteomuscular, seguidas das queixas de ordem gastrointestinal, geniturinário e alérgica e dermatológica; segue-se o padrão emocional – 131 (44,86%) – no qual se encontram as queixas de ansiedade, estresse e depressão. Releva-se a minoria de queixa – 22 (7,53%) – referente ao padrão mental/intelectual. Considerando que geralmente os clientes apresentam mais de uma queixa, e, ainda, a TABELA 2: Classificação da queixa principal segundo os padrões (fatores causais). Rio de Janeiro, FENF / UERJ – Oficina de Criação, outubro, 2003. diversidade da clientela, indaga-se qual categoria de cliente as apresentam, ao se recordar que o Projeto Saúde-se visava ao futuro cuidador (estudante) e ao enfermeiro como cuidador. Os resultados sugerem que as pessoas em geral apresentam queixas de ordem psicossomática, conforme descrevem Reis e Kestenberg6, o que também pode ser devido ao modo de viver da atualidade3. Constatou-se que a maioria dos clientes –176 – é do sexo feminino e recebe com predominância aplicações de Reiki – 96 (45,93%), seguindo-se a aplicação da terapia floral associada ao Reiki – 62 (29,67%), conforme a indicação dos enfermeiros terapeutas. A menor incidência é do floral que é indicado isoladamente apenas para 51 (24,40%) pessoas. CONCLUSÃO Caracterizando-se a clientela do Projeto Saúde-se, evidencia-se a predominância do sexo feminino, com participação de profissionais de diversas áreas e estudantes dos níveis superior ao FIGURA 1: Categoria / Curso- profissional / estudantil da clientela segundo o nível de formação. Projeto Saúde-se, Rio de Janeiro, 2003. R Enferm UERJ 2004; 12:153-9. • p.157 O cuidar estético de enfermagem TABELA 3: Distribuição das queixas predominantes segundo fatores / padrões causais. Projeto Saúde-se, Rio de Janeiro, 2003. básico de diferentes cursos. Constatou-se que a clientela busca o Projeto Saúde-se por fatores de ordens física, inicialmente, e emocional após uma maior definição da situação individual do cliente, conforme se constatou nas mudanças das indicações terapêuticas isoladas de Reiki e Floral para a sua combinação. Os resultados corroboram nossa suposição hipotética de que os clientes buscam o atendimento de enfermagem, na perspectiva estética aqui defendida, porque a origem do seu mal-estar não é apenas de ordem física, pois do contrário estariam somente sob os cuidados implementados pelo modelo biomédico, os quais não são oferecidos pelo Projeto Saúde-se. Os padrões classificados em físico, emocional e mental, segundo as queixas (fatores causais) apresentadas pela clientela, demonstram a habilidade dos enfermeiros para determinar sua impressão diagnóstica, momento no qual aplicam plenamente a perspectiva estética do cuidar, haja vista possuir conhecimento técnico científico-racional no âmbito biológico; sensibilidade, emoções e intuição, referente à impressão diagnóstica de queixas de ordem emocional; e pensamento, intuição e razão, no âmbito mental. Ratifica-se que é imprescindível ao enfermeiro, que deseja trabalhar com autonomia e independente do modelo biomédico, a utilização de habilidades da dimensão da consciência do ser humano tais quais a emocional e espiritual2. E, assim, transcendem o material para o imaterial, caracterizando a afirmativa de Eagleton 1 p.158 • R Enferm UERJ 2004; 12:153-9. quanto às coisas delimitadas no âmbito da estética. Conclui-se que as ações de enfermagem no Projeto Saúde-se acontecem através de uma linha de fuga, um ato instituinte por parte dos enfermeiros terapeutas não convencionais, confiantes no seu saber/fazer, os quais assumem um espaço/tempo de força, crenças e valores para demonstrarem a possibilidade do exercício autônomo, competente e condizente com a natureza humana. REFERÊNCIAS 1. Eagleton T. A Ideologia da Estética. Tradução de Mario S. R. Costa. Rio de Janeiro: Zahar; 1993. 2. Santos I. Para uma perspectiva estética do cuidar em enfermagem. In: Anais do Intercâmbio Internacional: Bases Teórico-Filosóficas do Cuidar em Enfermagem; 2003 nov 16-19; Rio de Janeiro, Brasil. Rio de Janeiro: FENF/UERJ; 2003. 3. Bessa JHN. A enfermagem e a terapia não – convencional. In: Santos I et al. Enfermagem assistencial no ambiente hospitalar. Rio de Janeiro: Atheneu; 2003. p.30-38 4. Neves EP. As dimensões do cuidar em enfermagem: concepções teórico-filosóficas. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, 202; 6:134-44. 5. Bach E. Medicina Floral: uma explicação da causa real e da cura das doenças. Trad. de Sonia M. de Barros. Niterói (RJ): Arte & Cultura; 1990. 6. Reis MMA, Kestenberg CCF. Aprendendo a conviver com o estresse. Anais do 11º FEPPEn e 55º CBEn; 2003; Rio de Janeiro, Brasil. Rio de Janeiro: ABEn e FEPPEn; 2003. Santos I, Bessa JHN, Silva AV, Kestenberg CCF, Reis MMA, Santos RA SALÚDESE: EL CUID AR ESTÉTICO DE ENFERMERÍA EN PRO YECTO DE EXTENSIÓN UNIVERSIT ARIA CUIDAR PROYECTO UNIVERSITARIA RESUMEN: Considerando que los enfermeros aplican sensibilidad y intuición, además de habilidades técnicas y científicas, en una perspectiva estética del cuidar, indagamos cuales terapias non convencionales han sido indicadas para atender a las quejas de la clientela del Proyecto Salúdese, desarrolladas por la Facultad de Enfermería de la Universidad del Estado de Rio de Janeiro-Brasil, entre 2000 y 2003. Nuestro objetivo: clasificar las quejas que conducen al atendimiento de enfermería, identificando esas terapias. En el estudio de caso, analizamos 209 prontuarios constatando que buscan el Proyecto una mayoría de profesionales seguida de estudiantes de los tres niveles de formación. En el cuidar estético, se destaca: concentración, diálogo, aplicación de la intuición y de intelecto, sincronicidad y aparcería con el cliente. Las quejas se clasifican en emocionales (131), físicas (139) y mentales (22), siendo las terapias más utilizadas: Reiki e Floralterapia. Se concluyó que los clientes continúan en el Salúdese porque la origen de su malestar adviene de las dimensiones física, emocional y mental. Palabras clave: Cuidar en enfermería; perspectiva estética; terapia non convencional. Recebido em:16.02.2004 Aprovado em:16.06.2004 Notas *Doutora em Enfermagem. Coordenadora da Linha de Pesquisa “O cuidar em Enfermagem” no Processo Saúde-doença do Programa de Mestrado da FENF/UERJ ** Mestre em Enfermagem. Professor e Enfermeiro Terapeuta do Projeto SAÚDE-SE, da FENF/UERJ R Enferm UERJ 2004; 12:153-9. • p.159