ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ BÁRBARA OLÍVIA APARECIDA CARNEIRO FELIPE CARACTERÍSTICAS DOS ACIDENTES COM PERFUROCORTANTES, SIGNIFICADOS E SENTIMENTOS DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ACIDENTADOS ITAJUBÁ 2012 BÁRBARA OLÍVIA APARECIDA CARNEIRO FELIPE CARACTERÍSTICAS DOS ACIDENTES COM PERFUROCORTANTES, SIGNIFICADOS E SENTIMENTOS DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ACIDENTADOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Enfermagem Wenceslau Braz como requisito parcial para a obtenção do título de Enfermeira com apoio do PROBIC/FAPEMIG. Orientadora: Profª. M.ª Aldaiza Ferreira Antunes Fortes. Coorientadora: Profª. M.ª Ana Maria Nassar Cintra Soane. ITAJUBÁ 2012 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação elaborada pela Bibliotecária Karina Morais Parreira CRB 6/2777 da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz – EEWB F313c Felipe, Bárbara Olívia Aparecida Carneiro. Características dos acidentes com perfurocortantes, significados e sentimentos... / Bárbara Olívia Aparecida Carneiro Felipe. – 2012. 87 f. Orientadora: Profª. M.ª Aldaíza Ferreira Antunes F. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Enfermagem) com apoio do Programa de Bolsa Científica - (PROBIC/FAPEMIG) Escola de Enfermagem Wenceslau Braz - EEWB, Itajubá, 2012. 1. Controle de risco. 2. Enfermagem. 3. Acidente perfurocortantes. I. Título. NLM: WY 100 DEDICATÓRIA Ao meu eterno namorado Douglas Roberto Soares da Silva, que, mesmo não estando mais perto de mim, estás sempre presente em meu coração. Obrigada pela paciência e dedicação, teu esforço não foi em vão, trago comigo as lembranças de um amor verdadeiro, que vai além desta vida, sei que DEUS te usou em Seus propósitos. Então dedico esta vitória á você que foi minha inspiração para continuar a viver. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a DEUS por sempre estar ao meu lado, nas minhas quedas, nas minhas fraquezas, nas lutas e controvérsias, vitórias e derrotas. Sei que, principalmente agora, estais ao meu lado. Obrigada por este presente que agora Me ofereces, por tudo que vi, ouvi e aprendi. Obrigada pela graça, pela Vida. Aos meus pais, Aristeu e Lídia, pelo carinho, apoio, amor incondicional e por acreditarem que eu venceria esta etapa. Aos meus irmãos, Filipe e Vinicius, que me ajudaram quando estava cansada e sem forças para lutar. À minha tia Benedita que com sua compreensão e humildade me ajudou nas horas difíceis. Ao meu eterno namorado Douglas Roberto Soares da Silva que mesmo não estando mais perto de mim, estás sempre presente em meu coração. À minha orientadora, Profª. Ms. Aldaiza, que, durante o desenvolvimento do trabalho, manteve-se sempre presente, com paciência, dedicação, incentivo e profissionalismo. À Profª. Ms. Ana Maria pela orientação e ajuda devotada a mim durante as etapas desta pesquisa. Aos funcionários do Setor de Segurança Especializada de Medicina do Trabalho (SESMT) do HE de Itajubá, pela paciência e disponibilidade de ajuda. Aos profissionais de enfermagem que participaram desta pesquisa, aumentando mais o conhecimento no assunto. Ao Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado Minas Gerais (FAPEMIG) pelo apoio financeiro na concretização desta pesquisa. Ao meu revisor, Professor Ronaldo Ribeiro, pela dedicação e assistência. À Turma 54 que juntos passamos pelas mesmas dificuldades, mas chegamos até o fim. Aos familiares e amigos e colegas, que direta e indiretamente, participaram desta luta, estando sempre presente ao meu lado nos momentos de angústia e dor. (Bárbara Olívia Ap. Carneiro Felipe) Trabalho com segurança Se o presente é sem segurança, o futuro será sem esperança; Segurança é objetivo de todos; Não há palavras e nem frases que possam nos manter seguros, há somente ações; Seja atencioso, a segurança no trabalho é um bem precioso; Segurança é saúde. Pratique esta idéia; Torne a segurança parte do seu dia a dia; Trabalhe co segurança, pois alguém te espera sorrindo; Trabalhe com segurança porque alguém espera por você; Trabalhe com segurança proteja a sua vida; Seja seguro, aceite o conselho de um amigo; Você é a ferramenta mais valiosa da empresa, evite acidente; Abra as portas para a Segurança, você é a chave; Não destrua em segundos, o que se levou anos para construir; Perca um segundo na vida e não a vida em um segundo; Não tente, não invente se não é capaz, chame quem sabe, não arrisque jamais; Evite o acidente, o inimigo é voraz; Por isso pare e reflita a vida é um dom de Deus, cuide bem dela: trabalhe com segurança. (Autor desconhecido) RESUMO Estudo de abordagem qualitativa, do tipo descritivo, exploratório, retrospectivo e transversal, com os objetivos de identificar as características dos acidentes com perfurocortante ocorridos no Hospital Escola (HE) de Itajubá-MG, conhecer os significados e os sentimentos dos profissionais de enfermagem desta instituição que sofreram este tipo de acidente. Realizado com 20 profissionais de enfermagem do HE que sofreram este tipo de acidente de janeiro de 2009 a julho de 2011. Foram utilizados dois instrumentos de coleta de dados: um com as características pessoais dos participantes e as características dos acidentes com perfurocortante, outro contendo duas questões abertas referentes aos significados e aos sentimentos dos acidentados. A amostragem foi não probabilística intencional. A análise dos dados utilizou-se do método do Discurso do Sujeito Coletivo. Os entrevistados tem media de idade 31,6 anos, 90% do gênero feminino, 70% trabalham no período matutino, o tempo de trabalho na instituição varia de um a cinco anos, 90% são técnicos de enfermagem, 40% se acidentaram com agulha. A unidade que mais ocorreu os acidentes foi no pronto socorro (30%). A área do corpo mais acidentada foi o dedo indicador da mão esquerda (25%). Os fatores que mais contribuíram para a ocorrência do acidente foram à ‘correria’ do setor e o não uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) (35%). 30% afirmaram que no momento do acidente desprezavam o material perfurocortante. Em relação aos significados para os profissionais de enfermagem em questão, emergiram as idéias centrais: “tudo de ruim passa pela cabeça”; “medo, angústia e preocupação”; “momento horrível”; “depressão e Inconformidade”; “muita raiva pessoal e dos colegas de trabalho”; “falta de humanidade”; “sem valor para a instituição”; “culpa”, “impotência”. Os sentimentos vivenciados por ocasião do acidente evidenciaram-se: “medo”, “raiva”, “angústia”, “desrespeito”, “preocupação”, “descuido pessoal”, “falta de assistência”, “não senti nada”. Constata-se que o treinamento em serviço, o aperfeiçoamento técnico e a atualização profissional desenvolvidos pelo setor de educação permanente é importante para minimização dos riscos de acidentes de trabalho. Palavras-chave: Controle de risco. Enfermagem. Acidentes perfurocortante. ABSTRACT A qualitative study, descriptive, exploratory, retrospective and cross, with a view to identifying the characteristics of sharps accidents occurred at Hospital Escola (HE) of Itajubá-MG, know the meanings and feelings of nurses of this institution who have suffered this type of accident.Study conducted with 20 nursing professionals of HE that had suffered this kind of accident in January 2009 to July 2011. Two instruments were used for data collection: one with the personal characteristics of participants and characteristics of sharps accidents, one containing two open questions about the meanings and feelings of the victims.The sampling was not probabilistic intentional.The data analysis was used with the method of the collective subject discourse.Respondents have mean age 31.6 years, 90% female gender, 70% work in the morning, the time on the job in the institution varies from one to Five years, 90% nursing technicians, 40% were hurt with needle. The unit that most accidents happened was in the emergency departament (30%). The more accidented área of the body was the índex finger of left hand (25%). The factors that contributed to the accident were the ‘rush’ of the sector and the non use of Personal Protective Equipment (PPE) (35%). 30% Said that at the time of the accident despised needlestick. Regarding the meanings to nursing profession in question, the central ideas emerged: “everything bad is the head”; “fear, distressandpreoccupation”; “terrible moment”; “depression and nonconformity”; “personal rage and of coworkers”; “lack of humanity”; “no value to the institution”; “guilt”, “impotence”. The feelings experienced during the accident became evident: “fear”, “anger”, “distress”, “disrespect”, “preoccupation”, “personal carelessness”, “lack of assistance”, “feel nothing”. It is found that in service training, technical improvement and professional updating developed by the sector permanent education is important for minimizing the risk of accidents at work. Key-words: Risk control. Nursing. Needlesticks. LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Ideias centrais referentes ao tema 01: “significados do acidente com perfurocortante para os profissionais de enfermagem acidentados” .......42 Quadro 2 - Agrupamento das Ideias centrais semelhantes ou complementares, originadas do tema 01: “significados dos acidentes com perfurocortante para os profissionais de enfermagem acidentados” ....................................................43 Quadro 3 - Ideias centrais, sujeito e frequência das ideias centrais sobre o tema 01: “significados do acidente com perfurocortante para os profissionais de enfermagem acidentados” ................................................................................44 Quadro 4 - Ideias centrais e frequência das ideias centrais sobre o tema 02: “Sentimentos dos profissionais de enfermagem acidentados com perfurocortante acerca do ocorrido”.....................................................................48 Quadro 5 - Ideias centrais e frequência das ideias centrais sobre o tema 02 “Sentimentos dos profissionais de enfermagem acidentados com perfurocortante acerca do ocorrido”.....................................................................49 Quadro 6 - Ideias centrais, sujeito e frequência das ideias centrais sobre o tema 02: “Sentimentos dos profissionais de enfermagem acidentados com perfurocortante acerca do ocorrido”.....................................................................49 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Idade dos profissionais de enfermagem acidentados no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, 2009-2011 (n=20) ..............................................37 Tabela 2 - Sexo dos profissionais de enfermagem acidentados no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, 2009-2011 (n=20) ..............................................37 Tabela 3 - Período de trabalho dos profissionais de enfermagem acidentados no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, 2009-2011 (n=20)..........................38 Tabela 4 - Tempo de trabalho dos profissionais de enfermagem acidentados no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, ano 2009-2011 (n=20)........................38 Tabela 5 - Categoria profissional dos profissionais de enfermagem acidentados no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, ano 2009-2011 (n=20) ..................38 Tabela 6 - Área do corpo acidentada com material perfurocortante pelos profissionais de enfermagem no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, ano 2009-2011 (n=20) .....................................................................................................40 Tabela 7 - Fatores que contribuíram para a ocorrência do acidente com material Perfurocortante pelos profissionais de enfermagem no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, ano 2009-2011 (n=20).......................................41 Tabela 8 - Procedimento realizado no momento do acidente pelos profissionais de enfermagem no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, ano 2009-2011 (n=20)........................................................................................................................41 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................14 1.1 INTERESSE PELO TEMA ................................................................................15 1.2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO..........................................................................16 1.3 OBJETIVOS DO ESTUDO................................................................................17 2 MARCO CONCEITUAL ....................................................................................19 2.1 IMPORTÂNCIA DA BIOSSEGURANÇA PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES .....................................................................................................19 2.2 CONTEXTUALIZANDO OS ACIDENTES PERFUROCORTANTES ................20 3 REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO ................................................24 3.1 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS .................................................24 3.2 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO .............................................................25 3.2.1 Figuras metodológicas.................................................................................. 26 3.3 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO: PASSO A PASSO...............................27 4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ....................................................................29 4.1 CENÁRIO DE ESTUDO....................................................................................29 4.1.1 Local do Estudo ............................................................................................. 30 4.2 DELINEAMENTO DO ESTUDO .......................................................................31 4.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO, AMOSTRA E AMOSTRAGEM .....................32 4.4 COLETA DE DADOS ........................................................................................33 4.4.1 Procedimentos para coleta de dados .......................................................... 33 4.4.2 Instrumentos de coleta de dados ................................................................. 34 4.5 PRÉ–TESTE .....................................................................................................34 4.6 ESTRATÉGIAS DE ANÁLISE DOS DADOS ....................................................34 4.7 RESULTADOS DA PESQUISA ........................................................................35 4.8 ÉTICA DA PESQUISA ......................................................................................35 5 RESULTADOS .................................................................................................37 5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ENTREVISTADOS QUANTO AOS SEUS DADOS PESSOAIS E PROFISSIONAIS E CARACTERIZAÇÃO DOS ACIDENTES COM PERFUROCORTANTES ...................................................37 5.2 TEMAS, IDEIAS CENTRAIS E DISCURSOS DO SUJEITO COLETIVO..........42 5.3 TEMA 01 - SIGNIFICADOS DO ACIDENTE COM PERFUROCORTANTE PARA OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ACIDENTADOS .................42 5.3.1.1 DSCs referentes às ideias centrais do tema 01 ............................................... 45 5.3.2 Tema 02 - Sentimentos dos profissionais de enfermagem acidentados com Perfurocortante acerca do ocorrido .................................................... 48 5.3.2.1 DSC referentes às ideias centrais do tema 02................................................. 50 5.4 SÍNTESE DAS IDEIAS CENTRAIS SUBJACENTES AOS DOIS TEMAS EXPLORADOS.................................................................................................51 6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................................................54 6.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS REFERENTES ÀS CARACTERÍSTICAS PESSOAIS E PROFISSIONAIS DOS PARTICIPANTES E ÀS DOS ACIDENTES COM MATERIAL PERFUROCORTANTE...................................54 6.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS PROVENIENTE DOS DOIS TEMAS: SIGNIFICADO DO ACIDENTE COM PERFUROCORTANTE PARA OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ACIDENTADOS E OS SENTIMENTOS VIVENCIADOS POR ESTES PROFISSIONAIS ACERCA DO OCORRIDO ...............................................................................................58 7 CONCLUSÕES.................................................................................................64 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................66 REFERÊNCIAS................................................................................................69 APÊNDICE A - Instrumento de coleta de dados sobre as características pessoais dos profissionais de enfermagem acidentado e as características dos acidentes com perfurocortante....................................74 APÊNDICE B - Roteiro de entrevista semi-estruturada...............................75 APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...................76 ANEXO A - Instrumento de análise do discurso 1 (IAD - 1) ........................77 ANEXO B - Instrumento de análise do discurso 2 (IAD - 2) ........................82 ANEXO C - Parecer Consubstanciado Nº 596/2010 .....................................86 14 1 INTRODUÇÃO O hospital é um local de trabalho complexo no qual, além de prover cuidados básicos de saúde, mantém atendimento de pequena e alta complexidade a um grande número de pessoas. Assim, “o ambiente hospitalar envolve a exposição dos profissionais de saúde e demais trabalhadores a uma diversidade de riscos, especialmente os biológicos”. (ALVES; PASSOS; TOCANTINS, 2009, p. 373). Os referidos autores, em clara alusão ao artigo 19 da Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, ressaltam que o acidente de trabalho é considerado como um acontecimento repentino entre pessoas e/ou pessoas e objetos, podendo causar lesões corporais ou perturbação funcional que leve a morte ou a perda ou a redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho, diferenciando de doença ocupacional, que é insidiosa e adquirida em longo prazo de tempo. O reconhecimento do risco profissional consiste em prever situações que poderão ocasionar perdas e danos, com base no conhecimento prévio, visando adotar condutas para minimizar esses riscos de acidentes com perfurocortantes. Os profissionais de enfermagem desempenham um trabalho de assistência direta e contínua ao paciente, tornando-se susceptíveis à contaminação por material biológico, principalmente em acidentes por inoculação percutânea mediada por agulhas ou instrumentos cortantes, que são os maiores responsáveis pela transmissão ocupacional de infecções sanguíneas. (LIMA; PINHEIRO; VIEIRA, 2007). Os acidentes de trabalho com material perfurocortante representam grande risco à saúde da equipe de enfermagem, devido às atividades executadas e às condições de trabalho vigentes. As causas podem ser associadas às condições inadequadas de trabalho, a não observância de normas e protocolos, às instruções incorretas ou insuficientes, à falta de equipamento de proteção, ao descarte inadequado do material perfurocortante (sendo a agulha o principal material de contaminação e as mãos o alvo principal) e às falhas na supervisão e orientação da equipe de enfermagem. (SILVA et al., 2010). No âmbito hospitalar, os acidentes com material perfurocortante ocorrem com maior frequência. Com isto, os profissionais de enfermagem estão expostos à contaminação pelo vírus da hepatite C, síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), sífilis e outras doenças contagiosas contraídas pelo contato acidental com 15 sangue contaminado, além de outras ocorrências danosas à saúde do profissional. (RIBEIRO; SHIMIZU, 2007). No campo hospitalar, os locais onde os profissionais de enfermagem estão em contato direto com os materiais biológicos, são: centro cirúrgico, pequenas cirurgias ambulatoriais, pronto socorro, sala de sutura, expurgo e em laboratórios de análises clínicas. Não só os profissionais que lidam diretamente com os pacientes, como médicos, acadêmicos e profissionais da enfermagem, estão sujeitos a contágio por material biológico. O pessoal dos serviços gerais e da administração hospitalar também tem que estar cientes quanto à importância de seguir os princípios de precauções padrões, como medidas profiláticas que se aplicam não somente ao sangue, mas a todos os fluidos corpóreos, as secreções, as excreções, contendo ou não sangue visível. 1.1 INTERESSE PELO TEMA O interesse em desenvolver esta pesquisa surgiu quando fui convidada pelas docentes responsáveis pelo setor de pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB) a participar de uma reunião que realizaram com um grupo de acadêmicos com o intuito de estimulá-los a iniciação científica. Durante esta reunião foram propostos vários assuntos para nós, acadêmicos, realizarmos estudos com o acompanhamento e orientação dos referidos docentes. Dentre os temas apresentados escolhi, sem hesitação, as características dos acidentes com perfurocortante, os significados e sentimentos dos profissionais de enfermagem ao sofrerem um acidente, haja vista que já havia vivenciado no meu emprego um acidente com perfurocortante, em que, na administração de um medicamento endovenoso, acidentei-me com uma agulha contaminada de sangue do paciente. Entrei em desespero. Na ocasião, fiz a notificação do acidente ao técnico de segurança do trabalho do hospital onde eu trabalhava, sendo realizado o inquérito de notificação de Acidente de Trabalho. O médico plantonista do hospital solicitou o teste rápido de HIV, sendo pedida à autorização do paciente fonte para a realização do teste. Após a autorização, foi colhido sangue do paciente para saber se este era portador de alguma doença transmissível. 16 Até o resultado do exame, fiquei em angústia profunda e só sabia chorar. Só imaginava estar contaminada com o vírus do HIV, sem me importava com outras doenças transmissíveis, como a hepatite C. Com resultado do exame pude ficar mais tranquila, porém surgiram duvidas que eu não consegui sanar totalmente. Seria possível este paciente estar na chamada “janela imunológica”? O teste é 100% garantido? Estas dúvidas persistiram por muito tempo. Depois do ocorrido, eu mantive um cuidado absoluto na manipulação de agulhas, lâminas de bisturi e secreções eliminadas pelos pacientes. A sensação de poder ter adquirido qualquer tipo de doença foi desesperadora. Para o inicio deste trabalho, busquei por referências e pude perceber que, na maioria dos casos, o acidente com perfurocortante acontece com a equipe de enfermagem. Não se sabe com frequência estes acidentes ocorrem com outros profissionais. Não há dados que indiquem se os acidentes com perfurocortante ocorram somente com a equipe de enfermagem, ou se não são notificados os que ocorrem com outros profissionais. Talvez os profissionais de enfermagem não estejam tendo treinamento adequado para manusear estes materiais, por isto. 1.2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO Segundo Marziale, Nishimura e Ferreira (2004), entre 1985 e 1998, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) registrou 55 casos confirmados de infecção pelo HIV e 136 casos de possíveis contaminações entre trabalhadores de enfermagem e técnicos de laboratórios nos Estados Unidos, onde os acidentes percutâneos foram associados a 89% dos acidentes registrados. A referida instituição estimou que 800 trabalhadores de saúde tornavam-se anualmente infectados, nos Estados Unidos, pelo vírus HIV e que 2 a 4% das infecções pelo vírus da hepatite C ocorrem em ambiente hospitalar após exposição ao sangue. Com a crescente preocupação com a transmissão de doenças infectocontagiosas através de acidentes com materiais perfurocortantes e fluidos corpóreos fez com que os sistemas de vigilância epidemiológica fossem criados na maioria dos hospitais, principalmente após a expedição, pelo Ministério da Saúde em junho de 1983, da portaria n° 930, que estabelece que todos os hospitais do 17 Brasil deveriam manter uma comissão de controle de infecção hospitalar. (ANVISA, 2004). Além disso, o Ministério do Trabalho instituiu as Normas Regulamentadoras NR4, NR6 e NR7 que obrigam todas as instituições privadas ou públicas que empregam trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a criar um serviço especializado de segurança e medicina do trabalho, fornecendo equipamento de proteção individual (EPI). Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que os profissionais da área da saúde estão submetidos a um risco de três a seis vezes mais de adquirirem a hepatite B quando comparado com a população em geral. (MEDEIROS; SCHNEIDER; STEFFENS, 2004) Em todos os centros de atendimento hospitalar de Itajubá, têm-se riscos de acidentes com material biológico, sendo que os profissionais de enfermagem estão expostos direta ou indiretamente a eles. Nesta perspectiva surgiram os seguintes questionamentos: Quais são as características dos acidentes com perfurocortante? O que significa para os profissionais de enfermagem sofrerem acidente com perfurocortante? Que sentimentos eles vivenciam ao enfrentarem esta situação? Os resultados deste estudo podem ser de grande valia para a profissão de enfermagem, haja vista que pode servir de referência para uma maior conscientização dos profissionais quanto ao manuseio adequado de materiais na realização de procedimentos de enfermagem, proporcionando, assim, uma diminuição da ocorrência de acidentes perfurocortantes e do desconforto vivido pela população que se submete ao teste de HIV após o acidente com perfurocortante. Este trabalho também poderá servir de referência para pesquisas já existentes e de alicerce para a realização de novos estudos, uma vez que há poucos trabalhos com este enfoque. 1.3 OBJETIVOS DO ESTUDO Este estudo tem como objetivos: x identificar as características dos acidentes com perfurocortantes ocorridos com os profissionais de enfermagem no Hospital Escola da Faculdade de Medicina de Itajubá-MG; 18 x x conhecer os significados dos acidentes com perfurocortantes para estes profissionais; conhecer os sentimentos dos profissionais de enfermagem em questão, diante desta situação. 19 2 MARCO CONCEITUAL Este capítulo objetiva a análise do marco conceitual que serviu de referência para os estudos dos fatores que predispõem a acidentes com materiais perfurocortantes; os procedimentos normalmente empregados no estudo desse problema; o reconhecimento do risco profissional que consiste em prever situações ou eventos que poderão ocasionar perdas e danos; as características dos acidentes com perfurocortantes e os sentimentos dos profissionais perante o acidente com material perfurocortante. 2.1 IMPORTÂNCIA DA BIOSSEGURANÇA PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES Os trabalhadores de enfermagem no desenvolvimento de suas funções estão expostos a inúmeros riscos ocupacionais causados por fatores químicos, físicos, mecânicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais, que podem ocasionar doenças ocupacionais e acidentes de trabalho. (MAZIALE; NISHIMURA; FERREIRA, 2004) A prevenção de acidentes de trabalho com material biológico é uma importante etapa na prevenção da contaminação de trabalhadores da saúde por patógenos de transmissão sanguínea e outros fluidos corpóreos. Como destacam Alves, Passos e Tocantins (2009), entre as ações de biossegurança a serem utilizadas pelos profissionais, podem-se destacar as normas de precaução básica, como a utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI), que visam reduzir a exposição do profissional aos agentes biológicos, além da recomendação dos cuidados na utilização e descarte de material perfurocortante. Para os autores, a importância da biossegurança empregada nos hospitais consiste na adoção de normas e procedimentos seguros e adequados para a manutenção da saúde dos pacientes, dos profissionais, dos estudantes e dos visitantes. Como medida de Biossegurança, pode-se destacar as seguintes precauções padrão: higienização das mãos; cuidados com equipamentos, artigos, roupas hospitalares e utensílios hospitalares; higienização ambiental; uso dos equipamentos de proteção individual (EPI); controle de engenharia; conduta ante as exposições biológicas e imunização. (AMARAL et al., 2005). 20 Porém, segundo Castro e Faria (2008), algumas unidades de saúde tem a ausência de EPIs, ou a inadequação destes, obrigando, muitas vezes, o trabalhador a improvisar ou se utilizar de outro EPI que não o adequado. Por exemplo, no caso de precauções para aerossóis, a máscara ideal seria a “bico de pato”, porém se utilizam as máscaras simples, por não ter outra. O mesmo ocorre com luvas, avental e outros. Outra realidade recorrente, muitas vezes se tem os EPIs adequados, mas o profissional não os usa, seja por falta de costume; por achar que o mesmo dificulta a realização das tarefas; simplesmente por displicência ou por falta de conhecimento e conscientização sobre a importância do uso. (SIMÕES, 2003). Em ambiente hospitalar, a maior parte dos acidentes ocorre quando o profissional não está usando EPI, como ao puncionar acesso venoso ou manusear cateter venoso sem o auxilio de luvas, ao encapar agulhas contaminadas, ao descartar incorretamente material perfurocortante. (ALVES; PASSOS; TOCANTINS, 2009) 2.2 CONTEXTUALIZANDO OS ACIDENTES PERFUROCORTANTES A Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, em seu art. 19, define acidente de trabalho como “aquele que ocorre pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução da capacidade para o trabalho permanente ou temporária”. (BRASIL, 2001). Apesar de a definição de acidente de trabalho tornar-se oficial somente em 1991, o Ministério do Trabalho publicou estatística dos registros de acidentes de trabalho por causas diversas ocorridos nos anos de 1986 a 1996 entre todos os profissionais ativos no Brasil. (BRASIL, 2001). Segundo Barboza (2004), foi a partir da década de 1970 que os acidentes de trabalho com perfurocortante em instituições hospitalares passaram a ser tema, de forma incipiente, de estudos de pesquisa na década de 70. A temática passou a ser mais recorrente a partir da década de 1980, com o alarme das publicações e debates sobre a AIDS, devido ao temor dos profissionais de saúde diante da possibilidade de se contrair a doença em acidentes com materiais cortantes e perfurantes contaminados. Desde então é crescente o interesse em se debater e 21 pesquisar com mais profundidade a contaminação com materiais cortantes e perfurantes em ambiente hospitalar. São várias as circunstâncias que propiciam condições para a ocorrência de acidentes com perfurocortantes na área da saúde, o que vai repercutir tanto na saúde do trabalhador quanto em prejuízos para a empresa. Os acidentes de trabalho desta natureza, muitas vezes, têm causas associadas à não observância de normas; à imperícia; condições inadequadas de trabalho; instrução incorreta ou insuficiente; falhas de supervisão e orientação; falta ou inadequação no uso de equipamentos de proteção; entre outros aspectos. (BARBOZA, 2004). Os acidentes de trabalho ocasionados por material perfurocortante entre trabalhadores de enfermagem são frequentes, devido ao número elevado de manipulação, principalmente de agulhas, e representam prejuízos aos trabalhadores e às instituições. Tais acidentes podem oferecer riscos à saúde física e mental dos trabalhadores. Os acidentes com materiais perfurocortantes são considerados problema para os profissionais da área de saúde, pela possibilidade de transmissão ocupacional de patógenos veiculados pelo sangue, tais como o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), Vírus da Hepatite B (HBV) e Vírus da Hepatite C (HCV). (MARZIALE, 2003) Marziale (2003) classifica como sérias as consequências fisiológicas desses acidentes, ocasionando problemas emocionais aos trabalhadores, possibilitando a contaminação por vírus causadores de patologias letais. Considera-se o trabalho uma atividade eminentemente social, que exerce um papel fundamental nas condições de vida do homem. Produz efeito positivo, quando é capaz de satisfazer às necessidades básicas de subsistência, de criação e de colaboração dos trabalhadores. Ao realizá-lo, o ser humano se expõe constantemente aos riscos presentes no ambiente em que trabalha, os quais podem interferir diretamente em sua condição de saúde. (AMARAL et al., 2005) Segundo Marziale, Nishimura e Ferreira (2004), a consequência da exposição ocupacional aos patógenos transmitidos pelo sangue não está somente relacionada à infecção. A cada ano milhares de trabalhadores de saúde são afetados por trauma psicológico que perduram durante os meses de espera dos resultados dos exames sorológicos. Dentre outras consequências, estão ainda as alterações das práticas sexuais, os efeitos colaterais das drogas profiláticas e a perda do emprego. 22 Os acidentes ocasionados por picada de agulhas são responsáveis por 80% a 90% das transmissões de doenças infecciosas entre trabalhadores de saúde. O risco de transmissão de infecção, através de uma agulha contaminada, é de um em três para Hepatite B, um em trinta para Hepatite C e um em trezentos para HIV. (MARZIALE, 2007) Os trabalhadores de enfermagem suprem a maior porção do cuidado direto ao paciente 24 horas por dia nos hospitais e, consequentemente, possuem constante risco para ferimentos ocupacionais, assim poderão ser os trabalhadores mais afetados pelos vírus HBV, HCV e HIV. (ARYTHANA; DUARTE; MOREIRA, 2011). Segundo Amaral et al. (2005), a ocorrência de grande número de acidentes com materiais perfurocortantes é resultante da falta de esclarecimento dos profissionais da área de saúde. Assim, os profissionais de saúde necessitam de uma maior compreensão das normas de biossegurança nas suas práticas, atuando com mais segurança, prevenindo riscos e promovendo a qualidade de vida. O profissional de saúde deve desenvolver um senso de responsabilidade com relação à sua própria segurança e à segurança dos clientes. Para tal, é necessário obter conhecimentos específicos acerca de como podem ocorrer os acidentes de trabalho, bem como ser responsável pela manutenção da segurança do ambiente através das ações educativas. Sabe-se que as técnicas de engenharia de segurança, os dispositivos de segurança para o descarte das agulhas e materiais perfurocortantes, os objetos perfurocortantes com protetores e cabos de segurança e os sistemas de injeções que não necessitam usar agulhas ajudaram a reduzir o risco de exposição aos materiais biológicos. Além disso, percebe-se que as instituições de saúde, através das Comissões de Controle de Infecções Hospitalares (CCIH), oferecem orientações quanto às medidas de biossegurança, e esse processo educativo tem contribuído para reduzir também a incidência da exposição e a contaminação. (AMARAL et al., 2005) É importante que os trabalhadores de saúde saibam que, em caso de acidente com materiais perfurocortantes, é necessário que a ocorrência seja registrada e que se levem em consideração as condições do paciente, bem como, deve ser realizado acompanhamento sorológico (Anti HIV, Ag Hbs, Anti HCV, Anti HBS) deste, ao ter lugar o acidente, e do funcionário que se acidentou, com 23 acompanhamento após dois meses e seis meses da ocorrência do acidente. (MARZIALE, 2007) É essencial seguir as orientações do Ministério da Saúde quanto à indicação da quimioprofilaxia para HIV e recomendações para profilaxia de hepatite B após exposição ocupacional com material biológico. (AMARAL et al., 2005) 24 3 REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO Este capítulo trata do referencial teórico metodológico abordado, ou seja, a Teoria das Representações Sociais (TRS), tendo o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) como método de análise dos dados desta teoria. 3.1 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS A Teoria das Representações Sociais é um conjunto de conceitos, proposições e explicações originados na vida cotidiana no desenrolar das comunicações interpessoais. As representações sociais equivalem à sociedade na qual vivemos, aos mitos e aos sistemas de crenças das sociedades tradicionais, podendo, assim, serem vistas como a versão contemporânea do senso comum. (ANDRADE; DUARTE; MAMED, 2009). No entender Moscovici (2004), o objetivo das Representações Sociais (RS) é explicar os fenômenos do homem a partir de uma perspectiva coletiva, sem perder de vista a individualidade. Nos últimos anos, o conceito de RS tem aparecido com grande frequência em trabalhos científicos de diversas áreas.Este conceito atravessa as Ciências Humanas e não é patrimônio de uma área em particular. Ele tem fundas raízes na Sociologia e uma presença marcante na Antropologia e na História das mentalidades. As RS são uma forma de trabalhar com o pensamento social em sua dinâmica e em sua diversidade. Auxiliam na construção de uma realidade comum de um conjunto social e constituem um recurso muito importante para se viver em sociedade, haja vista que engloba explicações, ideias e manifestações culturais que caracterizam um determinado grupo. Ela acontece a partir da interação das pessoas e apesar do homem viver em um ambiente, ele não perde os atributos típicos de sua personalidade. Serge Moscovici, em 1961, elaborou a primeira base teórica do conceito, utilizando estudos na área de psicanálise para chegar as suas conclusões. Para entender as relações humanas, é necessário fazer uma análise do coletivo, verificando assim a troca de conhecimentos que as RS são capazes de promover dentro do grupo. (SÁ, 2004) 25 É válido lembrar que o estudo das RS se mostra importante para compreender o avanço da sociedade e o comportamento da pessoa inserida num grupo. Para Sá (2004), as RS têm como objetivo explicar os fenómenos do homem a partir de uma perspectiva coletiva, sem perder de vistaa inidividualidade. O autor preconiza que, para o psicólogo social europeu Serge Moscovici, as RS estão relacionadas com o estudo das simbologias sociais a nível, tanto de macro como de micro análise, ou seja, o estudo das trocas simbólicas infinitamente desenvolvidas em nossos ambientes sociais, de nossas relações interpessoais e de como isto influencia na construção do conhecimento compartilhado e da cultura. A finalidade das RS é tornar familiar algo não-familiar, isto é, uma alternativa de classificação, categorização e nomeação de novos acontecimentos e ideias, com as quais não tínhamos contato anteriormente, possibilitando, assim, a compreensão e manipulação destes à partir de ideias, valores e teorias já preexistentes e internalizadas por nós e amplamente aceitas pela sociedade. Portanto, as RS são definidas como sendo uma forma de conhecimento socialmente elaborado e compartilhado com um objetivo prático e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjuno social, sendo ela equivalente aos modos e às crenças das sociedade, ou seja ao senso comum. (ANDRADE; DUARTE; MAMED, 2009) . 3.2 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) conceitua-se como sendo uma técnica de construção do pensamento coletivo que visa revelar como as pessoas pensam, atribuem sentimentos e manifestam posicionamentos sobre determinado assunto. Assim trata-se de um compartilhamento de ideias dentro de um grupo social. Entende-se por discurso todo posicionamento e argumento. O DSC é e pode ser comparado a um espelho coletivo, como se as pessoas se olhassem e, a partir deste momento tomassem consciência de como elas são. (ANDRADE; DUARTE; MAMED, 2009). O DSC é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos por meio de depoimentos. De acordo com Levèfre e Levèfre (2005) após fazer a pergunta aberta, se juntam os discursos individuais gerados de modo que expressem o pensamento de 26 uma coletividade sobre um dado tema, de forma que esta, fale diretamente. Conforme os autores, o DSC se trata de um discurso-síntese redigido na primeira pessoa do singular composto por figuras metodológicas, que serão descritas posteriormente. Este método utiliza-se de questões abertas com a intenção de aprofundar as razões subjacentes à escolha por uma das alternativas de resposta. O que a difere de uma pesquisa social, que contém apenas questões fechadas que limitam a expressão do pensamento dos pesquisados, o que não é o objetivo do DSC. (LEVÉFRE; LEVÉFRE, 2005). Por serem questões abertas, faz-se necessário a leitura das respostas e a identificação de palavra, conceito ou expressões que saliente a essência do sentido da resposta, após isso, temos o que se chama de categoria. A partir de então, é possível enquadrar os vários discursos em uma das categorias e após podem ser distribuídas em classes. (LEVÉFRE; LEVÉFRE, 2005). Para a elaboração do DSC foram criadas três figuras metodológicas, que são a expressão chave, ideias centrais e discurso do sujeito coletivo. 3.2.1 Figuras metodológicas Para que o DSC seja confeccionado, fazem-se necessárias algumas figuras metodológicas, que orientarão o trajeto deste método. São elas: Expressões-chave (ECHs), Ideias Centrais (ICs), Ancoragens (ACs). (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005). Expressões-chave (ECHs): são pedaços, trechos ou transcrições literais do discurso, que devem ser sublinhadas, iluminadas, coloridas pelo pesquisador, e que revelam a essência do depoimento. A ECH é uma espécie de prova discursivoempírica da verdade das ideias centrais e das ancoragens e vice-versa. Ideias centrais (ICs): IC é um nome ou expressão linguística que revela e descreve, de maneira simples, precisa e fidedigna, o sentido de cada discurso analisado e cada conjunto homogêneo de ECH, que vai dar inicio ao DSC. A IC não é uma interpretação, mas sim uma descrição do sentido de depoimento ou de um conjunto de depoimentos. As ICs podem ser resgatadas através de descrições diretas do sentido do depoimento, revelando o que foi dito através de descrições indiretas ou mediatas. 27 Ancoragens (ACs): AC é a manifestação linguística explicita de uma dada teoria, ou ideologia, ou crença que o autor do discurso professa e que na qualidade de afirmação genérica, está sendo usada pelo enunciador para enquadrar uma situação específica. Discurso do Sujeito Coletivo (DSC): É um discurso redigido na primeira pessoa do singular e composto pelas ECH que tem a mesma IC. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005). Em todo depoimento, existe uma ou várias ICs, mas apenas em alguns depoimentos existem o que chamamos de ancoragem. Além do mais, não é muito fácil detectar quando há no depoimento uma ancoragem, por isso, em muitos trabalhos com o DSC, os autores não trabalham e não pesquisam as ancoragens. Ancoragens aparecem quando os depoentes usam de afirmações gerais para enquadrar situações particulares. Por exemplo, se numa pergunta sobre avaliação de atendimento encontramos um depoimento como "... eu não fui bem atendido neste hospital porque o médico nem me examinou; porque médico que é medico tem que examinar o paciente..." temos uma ancoragem que é: todo atendimento médico implica, obrigatoriamente, exame do paciente pelo médico. Então a ancoragem é um tipo particular de IC em que não há exatamente uma afirmação, mas o enunciado explícito de um valor, de uma crença, de uma ideologia. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005). 3.3 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO: PASSO A PASSO Levèfre e Levèfre (2005) explicam que o DSC é uma estratégia discursiva que deve seguir os passos descritos a seguir: 1. Analisar as questões isoladamente, isto é, de início analisada a questão 1 de todos os sujeitos entrevistados, a seguir questão 2, e assim sucessivamente. Dessa forma, o primeiro passo consistiu em copiar integralmente o conteúdo de todas as respostas referente à questão no instrumento de análise de discurso 1 (IAD 1) (Anexo A), na coluna ECH do quadro de apresentação. 2. Identificar e sublinhar em cada uma das respostas, com uma determinada cor (preto com negrito), as ECH das IC. 28 3. Identificar as IC, a partir das ECH, colocando-se estas no correspondente quadro elaborado. 4. Identificar e agrupar as ICs, procedendo as “etiquetas” de cada grupo: 1, 2, 3 e assim por diante. 5. Denominar cada um dos agrupamentos 1, 2, 3 e outros que na realidade implicaram na criação de uma ideia central que expresse, da melhor maneira possível, todas as ICs do mesmo sentido. Às vezes, todas ou várias ICs têm mesmo título, ou nome, o que evidentemente facilita o processo. 6. Construir o DSC. Para isso foi preciso utilizar IAD 2 – Instrumento de análise de discurso 2 (Anexo B). Foi construído um DSC para cada agrupamento identificado no passo anterior. Portanto, foram utilizados tanto IAD 2 quantos eram os agrupamentos. A primeira etapa para construção do DSC foi copiar do IAD1 todas as ECH do mesmo instrumento e “colocá-las” na coluna das ECH do IAD2. A segunda etapa constituiu na construção do DSC propriamente dito de cada agrupamento. 29 4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA Esta parte aborda o cenário, local, delineamento e participante do estudo, natureza da amostra e a amostragem, a coleta de dados (que compreende os instrumentos e os procedimentos para coleta de dados), o pré-teste, a estratégia para análise dos dados, apresentação dos resultados e a ética da pesquisa. 4.1 CENÁRIO DE ESTUDO O município de Itajubá situa-se no sul do Estado de Minas Gerais, numa altitude de 1746 metros no seu ponto mais alto e de 830 metros no ponto mais baixo, acima do nível do mar, sendo que a área urbana, sem considerar os morros, fica numa altitude média de 842 metros. Ocupando uma área de 290,45 Km² de extensão, com população de 90.812 habitantes, de acordo com o IBGE de 2006, o equivalente a 312,65 hab./km², com taxa anual de crescimento de 1,26% habitantes por ano. O município é privilegiado em relação à localização, não só por estar inserido numa rede urbana formada por prósperas cidades de porte médio, cujo acesso é feito pela BR459. (PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAJUBÁ, 2010) A cidade possui cinquenta e sete bairros limitando-se, ao norte, com os municípios de São José do Alegre e Maria da Fé; ao Sudeste, Wenceslau Brás e Sudoeste com o de Piranguçu; a Oeste, Piranguinho e a Leste com Delfim Moreira, exercendo influência direta sobre quatorze municípios da micro-região, sendo a sua população equivalente a 0,47% da população mineira. (PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAJUBÁ, 2010) É centro de referência em assistência à saúde para dezesseis municípios da chamada micro região do alto do Sapucaí. A cidade conta com dois hospitais credenciados pelo SUS – Sistema Único de Saúde, Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e Hospital Escola de Itajubá, da faculdade de medicina de Itajubá, com nível de atendimento de atenção básica até alta complexidade. (PREFEIRTURA MUNICIPAL DE ITAJUBÁ, 2010). 30 4.1.1 Local do Estudo O estudo foi realizado no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG (HE), fundado em 1975, sendo de caráter universitário e mantido pela AISI – Associação de Integração Social de Itajubá; possui 13.450 M2 de área construída, estando localizado no município de Itajubá - Minas Gerais sede micro-regional, sendo referência direta para quinze municípios com uma população de 220.000 habitantes. Além de compor um seleto grupo de Hospitais, referência na macrorregião Sul de Minas Gerais, em procedimentos hospitalares de média e alta complexidade com regulação direta pelo SUS Fácil. (AISI, 2011) Classificado como Hospital Geral de Ensino certificado pelo Ministério da Educação e Ministério da Saúde, conforme Portaria Interministerial nº 2.091 de 28/10/2005, possui cento e trinta e sete leitos ativos de internação, nas especialidades de Clinica Médica, Cirurgia Geral, Ginecologia, Obstetrícia, Ortopedia/ Traumatologia, Pediatria e Unidade de Terapia Intensiva, dos quais 102 leitos são destinados ao SUS. O Hospital possui serviço de Alta Complexidade de referência em Unidade de Terapia Intensiva. (AISI, 2011) O HE vide Anexo A é referência secundária e terciária na Microrregião de Itajubá – Sul de Minas Gerais – em atendimentos eletivos e de urgência. O Hospital está inserido no Programa, da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais, PROHOSP. (AISI, 2011) O estudo foi realizado no setor de Segurança Especializada de Medicina do Trabalho (SESMT) do Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, por meio de dados fornecidos sobre os acidentes perfurocortantes ocorridos nesta instituição. Este setor é um conjunto de ciências e tecnologias e tem o objetivo de promover a proteção do trabalhador no seu local de trabalho, visando a redução de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. É uma área de engenharia e de medicina do trabalho cujo objetivo é identificar, avaliar e controlar as situações de risco, proporcionando um ambiente de trabalho mais seguro e saudável para as pessoas. Este serviço está previsto na legislação trabalhista brasileira e regulamentado em uma portaria do Ministério do Trabalho e Emprego, por intermédio da Norma Regulamentadora nº 4 (NR-4). Essa norma estabelece as atribuições do SESMT e determina a sua composição de acordo com o grau de risco da atividade da empresa e a quantidade de empregados. (AISI, 2011) 31 4.2 DELINEAMENTO DO ESTUDO O estudo foi de abordagem qualitativa, do tipo descritivo, exploratorio, retrospectivo e transversal. De acordo com Triviños (1987) a pesquisa qualitativa se despontou a partir da decada de 70, nos países da America Latina, como interesse pelos aspectos qualitativos da educação. Entretanto, possui suas raízes nas práticas desenvolvidas pelos antropólogos e, em seguida, pelos sociólogos em seus estudos sobre a vida em comunidade, sendo que só depois irrompeu na ivestigçção educacional. O pensamento coletivo precisa sempre ser pesquisado qualitativamente, justamente porque uma variável qualitativa não é pré, mas pós-construida. Desta forma, quando se pesquisa que as pessoas efetivamente tem, esse algo já esta completamente dado antes da pesquisa, entretanto, quando se trata de uma pesquisa acerca do que as pessoas pensam sobre um determinado tema, a variável existem apenas de modo virtual, necessitando ser reconstruida durante o processo dde investigação. (LEFÉVRE; LEFÉVRE, 2005). De acordo com Minayo, et al. (2003), pode-se dizer que a abordagem qualitativa se refere a uma preocupação com a realidade que não pode ser quantificada, aprofundando-se nos significados das ações e relações humanas, processos e fenômenos. Um trabalho é de natureza exploratória quando envolver levantamento bibliográfico, ou entrevista com pessoas que tiveram (ou tem), experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão. Possui ainda a finalidade básica de desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias para a formulação de abordagens posteriores. Dessa forma, visa proporcionar um maior conhecimento para o pesquisador acerca do assunto, a fim de que este possa formular problemas mais precisos ou criar hipóteses que possam ser pesquisadas por estudos posteriores. (GIL, 2002). O autor afirma que este tipo de pesquisa visa proporcionar uma visão geral de um determinado fato, sendo do tipo aproximativo. As pesquisas descritivas, por sua vez, caracterizam-se pela descrição de determinada população ou fenômeno ou, então, estabelecimento de relações entre variáveis. Utiliza-se de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como 32 questionário e a observação sistemática. Tendo como objetivo levantar opiniões, atitudes, e crenças de uma população. (GIL, 2002). Gil (2002) discorre que os estudos transversais envolvem a coleta de dados em um ponto do tempo e são altamente apropriadas, para descrever a situação, o status do fenômeno, ou as relações entre os fenômenos em um ponto fixo. Os estudos retrospectivos, nos dizeres de Polit, Beck e Hungler (2004, p 166), “começam com variável dependente e olham para traz buscando a causa ou influência”. Para Brevidelli e De Domenico (2006) os estudos transversais são aqueles em que os dados são coletados com um ou mais grupos de sujeitos em um momento particular do tempo. 4.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO, AMOSTRA E AMOSTRAGEM Os participantes do estudo foram os profissionais da área da enfermagem que sofreram algum acidente com material perfurocortante, do Hospital Escola (HE) de Itajubá-MG. A coleta de dados foi realizada após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da EEWB. O local de estudo foi escolhido devido ao fato de a pesquisadora realizar ensino clínico nesta instituição. Para conhecer os profissionais de enfermagem que se acidentaram com material perfurocortante no HE, no período mencionado abaixo, foi solicitado ao SESMT o levantameto desses sujeitos. De posse da autorização por escrito dada pelo Médico Responsável pelo setor, pode-se ter início a coleta de dados. A amostra foi constituída por vinte profissionais de enfermagem de ambos os sexos que sofreram algum acidente com material perfurocortante, visto que vinte é a quantidade mínima exigida pela metodologia aplicada. O tipo de amostragem foi não probabilística intencional. Os critérios de inclusão para os participantes deste trabalho foram: x x Ser da equipe de enfermagem Ter sofrido acidente com material perfurocortante no período de Janeiro de 2010 a Dezembro de 2010, porém com o número insuficiente de 33 participantes, esse período foi alterado para Janeiro de 2009 a Julho de x x 2011. Concordar em participar da pesquisa. Ser funcionário do HE Os critérios de exclusão foram: x x Não ser da equipe de enfermagem x Não aceitar participar da pesquisa. x 4.4 Ter sofrido acidente antes e após o período mencionado anteriormente Não ser funcionário do HE COLETA DE DADOS Esta etapa contempla os procedimentos e os instrumentos para a coleta de dados. 4.4.1 Procedimentos para coleta de dados Após a aprovação do Comitê de Ètica em Pesquisa, da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), conforme o parecer consubstanciado n° 596/2010 (Anexo C), foram selecionados no SESMT do HE os profissionais de enfermagem que haviam se acidentado no período de Janeiro de 2009 a Julho de 2011, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido - TCLE (Apêndice C) Após o contato com estes profissionais de enfermagem, foi agenda entrevista no horário de intervalo do café, como solicitação dos próprios participantes. Posteriormente a autorização da entrevista, explicou-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, bem como os objetivos da pesquisa, assegurando a privacidade das informações fornecidas, o anonimato por meio de denominação por números cardinais de acordo com a sequencia das entrevistas (1, 2, 3…); além de garantir sua desistência da pesquisa a qualquer momento sem causar constrangimento ou danos. 34 As entrevistas foram gravadas, após a concordância do entrevistado. Para tal foi utilizado um aparelho de MP4. O conteúdo das gravações foi descartado após a transcrição dos dados. 4.4.2 Instrumentos de coleta de dados Foram utilizados dois instrumentos, um, composto de duas partes: a primeira referente as características pessoais e profissionais dos participantes do estudo e a segunda referente as características do acidente com perfurocortante (APENDICE A). O outro instrumento (APENDICE B) é um roteiro de entrevista semi-estruturada composto por duas questões abertas inerentes aos dois últimos objetivos do estudo. 4.5 PRÉ–TESTE De acordo com GIL (2006), o pré–teste é realizado mediante a aplicação da entrevista em elementos que estejam respeitando os critérios de inclusão para o estudo. O autor define o pré–teste como sendo uma prova preliminar, cuja função é evidenciar possíveis falhas na redação do questionário, tais como: complexidade das questões, imprecisão na redação, desnecessidade da questão, constrangimento ao informante, exaustão, entre outros fatores. Nesta pesquisa foi realizado o pré–teste com dois profissionais de enfermagem, em que se respeitaram os critérios de inclusão e que não fizeram parte da amostra. O pré-teste serviu para verificar a fidedignidade, a validade e a operatividade das questões, não havendo necessidade de alterações. 4.6 ESTRATÉGIAS DE ANÁLISE DOS DADOS Para análise dos dados de caracterização pessoal e profissional dos entrevistados e caracterização dos acidentes com perfurocortantes referente ao primeiro instrumento. Fez-se um levantamento dos dados para identificar estatisticamente e descritivamente os dados, utilizando-se de gráficos com programa Microsoft Excel 2010 e quadros com programa de Microsoft Word 2010. 35 Objetivando conhecer os significados e sentimentos dos profissionais de enfermagem, foram transcritas de forma integral todas as respostas obtidas para o Instrumento de Análise do Discurso 1 (IAD-1), representando as Expressões Chaves (ECH), vide Anexo A. Após ter em mãos as ECHs e a leitura de cada uma, iniciou-se a análise das Ideias Centrais (ICs), tendo em mente que as mesmas representam a descrição das expressões-chave e sua interpretação. Após a análise das ICs, foi preenchido o Instrumento de Análise de Discurso 2 (IAD-2), vide Anexo B, que consiste nas ICs e no DSC. Assim, foi constituído o DSC separadamente de cada ideia central, com as respectivas ECHs. Os dados obtidos durante a pesquisa foram analisados e interpretados por meio da Teoria das Representações Sociais, utilizando do método o DSC descrito anteriormente no referencial teórico metodológico. 4.7 RESULTADOS DA PESQUISA De acordo com Lefévre e Lefévre (2005), o DSC pode ser apresentado de várias formas. Neste estudo o DSC foi apresentado por meio de quadros correspondentes a cada Ideia Central. 4.8 ÉTICA DA PESQUISA O presente estudo obedeceu aos preceitos estabelecidos pela resolução n° 196/96 de 16/10/1996 do Ministério da Saúde, que trata de pesquisa envolvendo seres humanos: a) a autonomia do participante do estudo foi respeitada pela sua livre decisão em participar da pesquisa, após o fornecimento das orientações que subsidiou a sua decisão; b) a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que oficializou a decisão do sujeito a participar do estudo, de maneira livre e espontânea; c) o princípio ético da justiça fundamenta na equidade foi observado pela relevância acadêmica e cientifica da pesquisa; d) assegurou aos sujeitos da pesquisa os benefícios resultantes do projeto, seja em termos de retorno social; 36 e) respeitou os princípios da autonomia e do anonimato. O anonimato dos participantes deste estudo foi respeitado, denominando-os por números ordinais. 37 5 RESULTADOS Por meio de três etapas distintas serão apresentados os resultados. Na primeira etapa, serão mostradas a caracterização dos entrevistados, dados pessoais e profissionais, e a caracterização dos acidentes com perfurocortantes. Na segunda etapa, serão expostos os dois temas explorados, suas ideias centrais com os respectivos DSC. Na terceira, será apresentada uma síntese das ideias centrais subjacentes aos dois temas em questão. 5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ENTREVISTADOS QUANTO AOS SEUS DADOS PESSOAIS E PROFISSIONAIS E CARACTERIZAÇÃO DOS ACIDENTES COM PERFUROCORTANTES De acordo com a primeira parte do instrumento de coleta de dados referente às características pessoais e profissionais dos entrevistados, observa-se que a média de idade dos profissionais acidentados é de 31,6 anos, sendo 50% entre 20 e 29; 25% entre 30 e 39; 20% entre 40 e 49 e 5% entre 50 e 59 anos (tabela 1). Tabela 1 - Idade dos profissionais de enfermagem acidentados no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, 2009-2011 (n=20) Idade dos profissionais em anos 20-29 30-39 40-49 50-59 Porcentagem 50% 25% 20% 5% Fonte: Instrumento de pesquisa Em relação ao sexo dos entrevistados 90% são do sexo feminino e 10% do masculino (tabela 2). Tabela 2 - Sexo dos profissionais de enfermagem acidentados no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, 2009-2011 (n=20) Sexo dos profissionais de enfermagem acidentados Feminino Porcentagem Masculino 10% Fonte: Instrumento de pesquisa 90% 38 Na tabela 3, é apresentado o período no qual os entrevistados trabalham, sendo que 10% trabalham no período noturno, 20% no vespertino e 70% no matutino. Tabela 3 - Período de trabalho dos profissionais de enfermagem acidentados no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, 2009-2011 (n=20) Período de trabalho Porcentagem Matutino 70% Vespertino 20% Noturno 10% Fonte: Instrumento de pesquisa Na tabela 4, é exposto o tempo de trabalho dos profissionais de enfermagem na instituição, sendo que 70% dos entrevistados tinham entre 1 a 5 anos de serviço, 15%, de 6 a 10 anos, e 15%, de 11 a 21 anos. Tabela 4 - Tempo de trabalho dos profissionais de enfermagem acidentados no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, ano 2009-2011 (n=20) Tempo de trabalho na instituição em anos Porcentagem 1–5 70% 6 – 10 15% 11 – 21 15% Fonte: Instrumento de pesquisa Na tabela 5, são apresentadas as categorias dos profissionais de enfermagem acidentados sendo que: 90% deles são técnicos em enfermagem, 5%, auxiliares de enfermagem e 5%, enfermeiros. Tabela 5 - Categoria profissional dos profissionais de enfermagem acidentados no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, ano 2009-2011 (n=20) Categoria profissional Porcentagem Técnico de enfermagem 90% Auxiliar de enfermagem 5% Enfermeiro 5% Fonte: Instrumento de pesquisa 39 De acordo com a segunda parte do instrumento da coleta de dados, referente às características dos acidentes com perfurocortante, verificou-se que os tipos de materiais perfurocortante (Gráfico 1) dos acidentes são: 65%, de acidentes com agulha, 25%, com lamina de bisturi e 10%, com lanceta de dextro. Gráfico 1 - Materiais perfurocortante com que os profissionais de enfermagem se acidentaram no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, ano 2009-2011 (n=20) Fonte: Instrumento de pesquisa Estão demonstradas no Gráfico 2, as unidades do hospital onde ocorreram os acidentes, sendo que: 30% se acidentaram no Pronto socorro, 20% na Pediatria, 15% na Clínica Médica, 05% no Centro Cirúrgico, no 4° Andar, Ortopedia, Endoscopia e Central de material. Gráfico 2 - Unidade hospitalar em que ocorreu o acidente com perfurocortante dos profissionais de enfermagem no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, ano 20092011 (n=20) Fonte: Instrumento de pesquisa 40 Na tabela 6, está exposta a parte do corpo acidentada, sendo que 25% sofreram acidente com perfurocortante no dedo indicador da mão esquerda; 20% na mão esquerda; 15% no dedo polegar da mão direita; 15% na mão direita; 10% no Braço esquerdo; 10% dedo indicador da mão direita e 5% no dedo médio da mão esquerda. Tabela 6 - Área do corpo acidentada com material perfurocortante pelos profissionais de enfermagem no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, ano 2009-2011 (n=20) Área do corpo acidentada Dedo indicador da mão Sujeitos 1, 12, 14, 19, Total Porcentagem 5 25% 7, 9, 16, 18 4 20% Dedo polegar da mão direita 2, 4, 10 3 15% Mão direita 8, 11, 13 3 15% 3, 17 2 10% 5, 6 2 10% 15 1 5% esquerda Mão esquerda Braço esquerdo Dedo indicador da mão direita Dedo indicador da mão esquerda 20 Fonte: Instrumento de pesquisa Na tabela 7, são expressos os fatores que contribuíram para a ocorrência do acidente, sendo que 35% relataram ser por correria do setor e não estava usando EPI; 25% por descuido e falta de atenção; 20% por não saber manusear material perfurocortante; 15% estavam desprezando este tipo de material; 10% tinham pressa em terminar o procedimento e 5% dizem que o setor estava agitado e com falta de funcionário. 41 Tabela 7 - Fatores que contribuíram para a ocorrência do acidente com material Perfurocortante pelos profissionais de enfermagem no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, ano 2009-2011 (n=20) Fator que contribuiu para a ocorrência do acidente Correria do setor e não estava usando EPI Descuido e falta de atenção Não soube manusear material perfurocortante Desprezando material perfurocortante Pressa para terminar o procedimento Setor agitado e com falta de funcionário Sujeitos Total Porcentagem 6, 8, 8, 10, 11, 12, 14 2, 13, 15, 16, 17 5 35% 4 25% 3, 4, 10, 19 3 20% 9, 17, 18 2 15% 1, 5 2 10% 20 1 5% Fonte: Instrumento de pesquisa Os procedimentos que eram realizados no momento do acidente estão expostos na tabela 8, sendo que: 30% dos profissionais de enfermagem afirmaram estar desprezando material perfurocortante; 20% estavam realizando punção venosa; 20% tinham acabado de realizar medicação intramuscular; 15% retirando ponto e 15% fazendo teste de glicose. Tabela 8 - Procedimento realizado no momento do acidente pelos profissionais de enfermagem no Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG, ano 2009-2011 (n=20) Procedimento realizado no momento do acidente Desprezando material perfurocortante Punção venosa Tinha acabado de realizar uma medicação intramuscular Retirando pontos Teste de glicose (glicosímetro) Fonte: Instrumento de pesquisa Sujeito Total Porcentagem 3, 9, 13, 15, 16, 18 2, 6, 14, 17 6 30% 4 20% 4, 11, 12, 20 4 20% 1, 5, 7 3 15% 8, 10, 19 3 15% 42 5.2 TEMAS, IDEIAS CENTRAIS E DISCURSOS DO SUJEITO COLETIVO Nesta parte são apresentados os dois temas estudados, com um quadro representativo de cada ideia central, sujeitos respondentes, assim como, a sua frequência. A seguir encontram-se, separadamente, as diversas ICs com os seus respectivos DSC. 5.3 TEMA 01 - SIGNIFICADOS DO ACIDENTE COM PERFUROCORTANTE PARA OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ACIDENTADOS Pergunta 01- O que significou, para você, sofrer um acidente com perfurocortante? O Quadro 1 expõe as ICs que emergiram do tema 01. Quadro 1 - Ideias centrais referentes ao tema 01: “significados do acidente com perfurocortante para os profissionais de enfermagem acidentados” N° 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Ideias centrais Muito ruim Passa muita coisa na cabeça da gente. Tudo de ruim passa pela cabeça. Medo de pegar uma doença Receoso Insegurança Morri de Medo Angustiado Apavorado Preocupado Apreensivo Tristeza Pior experiência da minha vida Horrível imaginar ter adquirido HIV ou outra doença Sensação terrível Momento horrível Foi muito difícil È difícil Só sabia chorar Chorei muito Deprimida Chorei de medo e Raiva Inconformidade Muita raiva de mim Muita raiva 43 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 Raiva Raiva dos profissionais Falta de humanidade Constrangimento Ninguém se preocupa com a gente Sem valor para instituição Falta de atenção da minha parte Devo ficar mais atento Culpa pela falta de atenção Culpa Negligencia em manusear o material Não sabia o que fazer Inútil Impotência Fonte: Instrumento de pesquisa Quando há ICs semelhantes ou complementares, Lefévre e Lefévre (2005) sugerem que um dos recursos disponíveis é agrupá-las, para que não haja ICs desnecessárias. O Quadro 10 mostra as ICs originadas do agrupamento das ICs semelhantes ou complementares. Quadro 2 - Agrupamento das Ideias centrais semelhantes ou complementares, originadas do tema 01: “significados dos acidentes com perfurocortante para os profissionais de enfermagem acidentados” Ideias centrais semelhantes ou complementares · Medo de pegar uma doença · Receoso · Insegurança · Morri de Medo · Angustiado · Apavorado · Preocupado · Apreensivo · Tristeza · Pior experiência da minha vida · Horrível imaginar ter adquirido HIV ou outra doença · Sensação terrível · Momento horrível · Foi muito difícil · É difícil · Terrível Ideias centrais originadas do agrupamento Medo, angústia e preocupação Momento horrível e difícil 44 · Só sabia chorar · Chorei muito · Deprimida · Chorei de medo e Raiva · Inconformidade · Muita raiva de mim · Muita raiva · Raiva · Raiva dos profissionais · Falta de atenção da minha parte · Devo ficar mais atento · Culpa pela falta de atenção · Culpa · Negligência em manusear o material · Muito ruim · Passa muita coisa na cabeça da gente · Tudo de ruim passa pela cabeça · Não sabia o que fazer · Inútil · Impotência · Falta de humanidade · Constrangimento · Ninguém se preocupa com a gente · Sem valor para instituição Depressão e Inconformidade Muita raiva pessoal e dos colegas de trabalho Culpa Tudo de ruim passa pela cabeça Impotência Falta de humanidade Sem valor para instituição Fonte: Instrumento de pesquisa O Quadro 3 exibe as ideias centrais inerentes ao tema 01, originadas do agrupamento, seus sujeitos e respectivas frequências. Quadro 3 - Ideias centrais, sujeito e frequência das ideias centrais sobre o tema 01: “significados do acidente com perfurocortante para os profissionais de enfermagem acidentados” N° Ideias centrais 1 Medo, angústia e preocupação 2 3 4 5 Momento horrível e difícil Depressão e inconformidade Muita raiva pessoal e dos colegas de trabalho Culpa Sujeitos 1, 2, 3, 5, 6, 8, 9, 10, 11, 12, 3, 14, 15, 16, 18 e 19 1, 8, 9, 17, 18 e 20 Frequencias das ideias centrais 16 6 2, 5, 6, 7 e 17 5 3, 7, 8 e 12 4 5, 12, 18 e 19 4 45 6 Tudo de ruim passa pela cabeça 1, 8 e 16 3 7 Impotência 5, 18 e 20 3 8 Falta de humanidade Sem valor para a instituição 4 1 9 Fonte: Instrumento de pesquisa 5.3.1.1 DSCs referentes às ideias centrais do tema 01 Este subtópico apresenta os DSCs das ideias centrais emergidas do tema 01. IDEIA CENTRAL - MEDO, ANGÚSTIA E PREOCUPAÇÃO DSC Depois do acidente eu fiquei com medo, com muito medo, por não saber quem era o paciente, medo de pegar uma doença como HIV ou hepatite, angustiada, pois não conhecia o paciente. Até os resultados dos exames fiquei apavorado. A gente fica receoso, fica preocupada mesmo sabendo quem era o paciente. A gente fica triste mesmo fazendo o teste rápido, tem outras doenças, mais senti só tristeza mesmo e medo também, mais nada. Na hora bateu uma angústia [...], mas o que me deixou aliviado foi que o paciente era uma criança de 11 anos, eu fiquei com muito medo porque a criança usava traqueostomia, foi transfundida várias vezes, tinha bastante problemas de saúde, a mãe usava drogas e isso me preocupou muito… doenças que poderia adquirir com esse acidente. [...] Porém, poderia ter sido um paciente soropositivo, mesmo assim a gente fica apreensivo. [...] Tive muito medo de pegar alguma doença. Fiquei com insegurança, medo, não conhecia o paciente, mas, e as doenças transmissíveis? IDEIA CENTRAL - MOMENTO HORRÍVEL E DIFÍCIL DSC 46 Difícil! Foi a pior experiência da minha vida, mesmo tendo sido acidentada por culpa da colega de trabalho, foi horrível imaginar ter adquirido um HIV ou outra doença. Não gosto nem de lembrar, foi uma sensação terrível. È terrível pensar que por um descuido você pega uma doença como HIV. Nossa! Nem sei explicar o que significou para mim, foi um momento horrível. É difícil dizer, pois na hora a gente nem sabe o que fazer, e depois vem as doenças que poderia ter pegado pelo acidente. IDEIA CENTRAL - DEPRESSÃO E INCONFORMIDADE DSC […] Chorei muito depois do acidente, só sabia chorar... fiquei deprimida por muito tempo, mesmo tomando toda precaução, só pensava no HIV, e agora o que vai ser de mim. Não conformo que isso tenha acontecido comigo... chorei muito […]. [...] Fiquei deprimida por muito tempo. IDEIA CENTRAL - MUITA RAIVA PESSOAL E DOS COLEGAS DE TRABALHO DSC No momento fiquei com muita raiva de mim mesmo, pela falta de atenção, e descuido com o material, com muita raiva dos profissionais que estavam trabalhando comigo, até por que foi por erro de um deles que ocorreu o acidente. A gente fica com raiva de não ter prestado a devida atenção. Fiquei com muita raiva, mesmo tomando toda precaução, só pensava no HIV, e agora o que vai ser de mim. IDEIA CENTRAL – CULPA DSC Me culpei muito pela falta de atenção. Significou pra mim que eu devo ficar mais atenta ao realizar os procedimentos, principalmente com perfurocortante. Senti que foi falta de atenção da minha parte, negligencia em manusear o 47 material sem uso de EPI, com a pressa, e sem funcionários, a gente faz tudo correndo pra dar conta do serviço. Puxa vida que vacilo que dei, me senti muito culpada. IDEIA CENTRAL - TUDO DE RUIM PASSA PELA CABEÇA DSC Foi tudo muito ruim pra mim, tudo de ruim vem na cabeça, pois não sabia nada do paciente. Foi muito ruim. IDEIA CENTRAL – IMPOTÊNCIA DSC Senti impotente, não sabia quem era o paciente, e quando olhei para minha mão, não sabia o que fazer. [...] Me senti inútil. IDEIA CENTRAL - FALTA DE HUMANIDADE DSC Senti falta de humanidade e respeito... Muito constrangimento, pois o acidente em si, não me preocupou tanto. Mas, proceder depois do acidente que me preocupou, pois fui mal informada em realizar a notificação, parece que ninguém se preocupa com a gente. IDEIA CENTRAL - SEM VALOR PARA A INSTITUIÇÃO DSC […] Parece que não temos muito valor para a instituição. 48 5.3.2 Tema 02 - Sentimentos dos profissionais de enfermagem acidentados com Perfurocortante acerca do ocorrido Pergunta 02 - O que você sentiu após ter sofrido este acidente? O Quadro 4 expõe as ICs que emergiram do tema 02. Quadro 4 - Ideias centrais e frequência das ideias centrais sobre o tema 02: “Sentimentos dos profissionais de enfermagem acidentados com perfurocortante acerca do ocorrido”. N° 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 Ideias centrais Medo Insegurança Apavorada Apreensiva Raiva de mim Raiva profissional Preocupada Nervosa Na expectativa Chorei muito Triste Angústia Sensação horrível Falta de respeito Erro meu Descuido Falta de atenção Necessito de mais cuidado com material perfurocortante Senti que não fui bem assistida Tranquila Não senti nada Não fiquei muito tenso Fonte: Instrumento de pesquisa O Quadro 5 refere-se as ICs originadas do agrupamento das ICs semelhantes ou complementares. De acordo com Lefévre e Lefréve (2005) quando há ideias centrais (ICs) semelhantes ou complementares um dos recursos disponíveis é agrupá-las, para que não haja ICs desnecessárias. 49 Quadro 5 - Ideias centrais e frequência das ideias centrais sobre o tema 02 “Sentimentos dos profissionais de enfermagem acidentados com perfurocortante acerca do ocorrido”. Ideias centrais semelhantes ou complementares · Medo · Insegurança · Apavorada · Apreensiva · Raiva de mim · Raiva do profissional · Preocupada · Nervosa · Na expectativa · Chorei muito · Triste · Angustia · Sensação horrível · Falta de respeito · Mereço respeito · Erro meu · Descuido · Falta de atenção · Necessito de mais cuidado com material perfurocortante · Senti que não fui bem assistida · Tranquila · Não senti nada · Não fiquei muito tenso Ideias centrais originadas do agrupamento Diversos Sentimentos Descuido pessoal Falta de assistência Não senti nada Fonte: Instrumento de pesquisa No quadro 6 refere-se as ideias centrais, sujeitos e frequência das ideias centrais sobre a pergunta em questão. Quadro 6 - Ideias centrais, sujeito e frequência das ideias centrais sobre o tema 02: “Sentimentos dos profissionais de enfermagem acidentados com perfurocortante acerca do ocorrido” N° 1 2 3 4 Ideias centrais Diversos sentimentos Descuido pessoal Não senti nada Falta de assistência Fonte: Instrumento de pesquisa Sujeitos Frequências das ideias centrais 1, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 16 2, 3, 4, 7, 13 8, 11 5 2 4 1 50 5.3.2.1 DSC referentes às ideias centrais do tema 02 Este subtópico apresenta os DSCs das ideias centrais emergidas do tema 02. IDEIA CENTRAL - DIVERSOS SENTIMENTOS DSC Depois do acidente fiquei apavorada, com medo de pegar uma doença, foi horrível. Senti medo e insegurança, raiva de mim mesma. Fiquei preocupada, não tem como não ficar. Conversei com o paciente para fazer o teste rápido e fiquei apreensiva até o resultado. Chorei muito com medo de ter me contaminado, é uma sensação horrível, o medo, a angústia e a dúvida... [...] Será que aquele paciente tem alguma doença? Na hora fiquei com raiva do profissional médico [...] Acho falta de respeito com o profissional de enfermagem. Senti muito medo, por não conhecer o paciente, e triste por imaginar as doenças que poderia adquirir com esse acidente. Fiquei muito nervosa, preocupada e angustiada, porque a paciente estava em quarto de isolamento, e isso me deixou muito apreensiva. Vem muita coisa na cabeça da gente. Fiquei muito triste com o acontecido, foi tudo muito rápido, quando cheguei em casa chorei muito. Depois do acidente senti muito medo, bastante preocupada e na expectativa dos resultados dos exames. [...] Chorei muito em casa, aí que a gente percebe a responsabilidade que tem. Senti muita angústia e medo, pensei que ia entrar em depressão, porque só sabia chorar com a situação, não sabia o que fazer. Nossa! Depois que aconteceu o acidente eu só sabia pensar nas doenças que poderia pegar, aí fiquei nervosa, não gosto de lembrar. IDEIA CENTRAL - DESCUIDO PESSOAL DSC Senti que foi um erro meu… pois não estava prestando atenção no procedimento que estava executando. Descuido, pois deveria ter mais cuidado ao manusear material perfurocortante. Senti que foi um descuido, falta de atenção, deveria ter pedido ajuda de algum colega para me ajudar com o 51 material perfurocortante. Percebi que necessito de mais cuidado com o descarte de material perfurocortante. IDEIA CENTRAL - NÃO SENTI NADA DSC Até que não fiquei muito tenso por ser uma criança, mais pensei no que poderia acontecer se contaminasse com alguma doença. Como eu já conhecia a criança fiquei mais tranquila, não senti nada não, pois sabia que a criança era saudável. IDEIA CENTRAL - FALTA DE ASSISTÊNCIA DSC Senti que os profissionais responsáveis não estão preparados para nos atender nesta situação, não fui bem assistida, ninguém se preocupa com nossos sentimentos, agem somente com a parte burocrática e esquecem que temos sentimentos. 5.4 SÍNTESE DAS IDEIAS CENTRAIS SUBJACENTES AOS DOIS TEMAS EXPLORADOS Para os profissionais de enfermagem acidentados os Significados dos acidentes com perfurocortante foram evidenciados por: “tudo de ruim passa pela cabeça”, “medo, angústia e preocupação”, “momento horrível”, “depressão e inconformidade”, “muita raiva pessoal e dos colegas de trabalho”, “falta de humanidade”, “sem valor para a instituição”, “culpa” e “impotência”, conforme apresentado na Figura 01. 52 Figura 1 - Ideias centrais dos “Significados dos acidentes com perfurocortante para os profissionais de enfermagem acidentados”. Fonte: Instrumento de pesquisa Os sentimentos perfurocortante acerca dos do profissionais ocorrido de foram enfermagem evidenciados acidentados por: com “diversos sentimentos”, “descuido pessoal”, “falta de assistência”, “não senti nada”, como ilustrado na Figura 02. 53 Figura 2 - Ideias centrais dos “Sentimentos dos profissionais de enfermagem acidentados com perfurocortante acerca do ocorrido”. Fonte: Instrumento de pesquisa 54 6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A interpretação dos dados será realizada em dois momentos distintos. No primeiro momento serão analisados os dados referentes às características pessoais e profissionais dos participantes e às dos acidentes com material perfurocortante. A seguir serão analisados os resultados provenientes dos dois temas: significado do acidente com perfurocortante para os profissionais de enfermagem acidentados e os sentimentos vivenciados por estes profissionais acerca do ocorrido. 6.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS REFERENTES ÀS CARACTERÍSTICAS PESSOAIS E PROFISSIONAIS DOS PARTICIPANTES E ÀS DOS ACIDENTES COM MATERIAL PERFUROCORTANTE Sabe-se que os acidentes com materiais perfurocortantes é um dos grandes riscos de contaminação existentes no âmbito hospitalar, tais como a infecção hospitalar, a contaminação pelo vírus do HIV e o vírus da hepatite B (HBsAg). Existem, ainda, outros fatores relacionados às atividades profissionais do trabalhador do setor de saúde “que podem comprometer a sua saúde e ser um facilitador para a ocorrência do acidente de trabalho”. (BARBOZA et al., 2004, p. 176). Os profissionais de enfermagem, em sua atuação no ambiente hospitalar, enfrentam um trabalho árduo ao exercerem continuamente assistência e vigilância de enfermagem. Muitas vezes há a necessidade de se agir com rapidez em razão do número acentuado de clientes e de intercorrências proporcionadas pela alteração do estado de saúde destes, o que potencializa a ocorrência de acidentes com materiais perfurocortantes. (LIMA; PINHEIRO; VIEIRA, 2007). Verifica-se nos relatos dos participantes do estudo, que, entre os fatores que contribuíram para a ocorrência dos acidentes, ficou evidenciado que a “correria do setor e o não uso de EPI” representa a maioria. Destaca-se também o “descuido e falta de atenção”; o fato de “não saber manusear material perfurocortante” e de, no momento do acidente, “desprezar o material”; “a pressa para terminar o procedimento” e “ o setor agitado e a falta de funcionários”. No que se refere à necessidade de agir com rapidez, destaca-se que no período matutino, a concentração de atividades de enfermagem, tais como banhos, 55 curativos, medicamentos, encaminhamento a exames, exigem mais rapidez no atendimento, predispondo os profissionais de enfermagem a maior exposição a acidentes. Tal fato foi constatado na pesquisa, uma vez que 70% dos acidentados trabalham neste período. Ressalta-se que a maioria dos acidentes acometeu profissionais do sexo feminino, 90%, na faixa etária de 20 a 29 anos (50%), sendo a maioria técnico de enfermagem e com o tempo de trabalho na instituição de 1 a 5 anos (70%). Esta faixa etária evidencia ser um grupo relativamente jovem que atua nesta área, o que pode ser explicado pelas características próprias das unidades, uma vez que exigem elevado grau de agilidade, destreza física e energia. O menor tempo de atuação dos funcionários na instituição denota insegurança e a pouca habilidade técnica até então adquirida, potencializando o aumento de ocorrência de acidentes. No que se refere ao uso de equipamentos de proteção, dos relatos constatase que os profissionais de enfermagem não faziam uso de EPIs no momento do acidente, o que evidencia a resistência destes em utilizar esses equipamentos de proteção individual e, ainda, subestimar os riscos de eles a que estão expostos. A utilização de EPIs protege os profissionais de enfermagem dos riscos proporcionados pelo seu trabalho, por exemplo, a contaminação pelo vírus da hepatite B e C, mediante o contato da pele com sangue, hemoderivados ou algum instrumento infectado por esses fluidos. (LIMA; PINHEIRO; VIEIRA, 2007) A falta de conhecimento sobre biossegurança, condições inadequadas de trabalho, sobrecarga horária, o risco de contrair doença e de se acidentar a qualquer momento, são fatores que fazem com que a grande maioria considere a enfermagem uma profissão de alto risco. (ALVES; PASSOS; TOCANTINS, 2009). Segundo Elias e Navarro (2006), o trabalho realizado pela equipe de enfermagem no âmbito hospitalar é caracterizado por exigências organizacionais múltiplas, sobrecarga de trabalho, algumas situações conflitantes, tensão e estresse, tanto pessoal quanto situacional, levando o profissional a um desgaste físico e mental acentuado, ocasionando, muitas vezes, alterações emocionais, físicas, imunológicas e até mesmo psicossomáticas, além de propiciar a ocorrência de acidentes. A atuação do enfermeiro em Unidade de Emergência, conforme diversos estudos, é avaliada como desencadeadora de estresse e de desgaste físico e emocional. Ainda que o exercício da enfermagem requeira boa saúde física e 56 mental, raramente os enfermeiros recebem a proteção social adequada. O estresse no trabalho deste profissional não é um fenômeno novo, existem diversas doenças relacionadas ao mesmo. (SILVEIRA; STUMM; KIRCHNER, 2009). Todo este contexto se mostrou acentuado nos achados na análise dos setores que mais ocorreram os acidentes com material perfurocortante. Destes acidentes, 30% ocorreram com profissionais atuantes na Unidade de Pronto atendimento, enquanto que, nas demais unidades, o percentual menor. Destaca-se que os profissionais da unidade de pronto atendimento estão mais expostos a este tipo de acidente, devido à sobrecarga de trabalho; ao grande número de procedimentos invasivos e a rapidez com que estes são realizados; à rotatividade do setor e ao grande número de atendimento. Somam-se a tudo isto as condições de trabalho vigente. A atividade em enfermagem é reconhecida por vários autores como sendo uma profissão estressante e sabe-se, também, que a subjetividade influencia tanto na percepção quanto nas respostas do indivíduo ao estresse, o que torna seus profissionais em constante exposição a acidentes, sobre tudo pela carga horária excessiva a que são submetidos. Haag, Lopes e Schuck (2001) asseveram que a carga horária da enfermagem é exaustiva; muitos trabalham mais de 44 horas, chegando a ultrapassar a carga horária de sessenta horas semanais, devido à realização de horas extras, trocas de plantão ou a dois e até três empregos. O auto índice de acidentes envolvendo técnicos de enfermagem justifica-se pelo fato de esta categoria ter contato direto com o paciente por mais tempo, realizando curativos, administrando medicamentos, o que aumenta a probabilidade de sofrerem acidentes com perfurocortantes. Este fato difere a atividade do técnico de enfermagem da do enfermeiro, que se envolve mais frequentemente com atividades administrativas. A prevalência de acidentados do sexo feminino se relaciona ao fato de a equipe de enfermagem ser composta majoritariamente por profissionais deste sexo. É notório que as mulheres, de maneira geral, constituem maioria na área da enfermagem. Considerando as diferenças fisiológicas e emocionais, bem como a necessidade de conciliação entre trabalho doméstico e atividade profissional (caracterizando jornada dupla e até mesmo tripla), é fácil perceber o porquê do 57 desgaste físico, mental e emocional relacionado ao desempenho de suas funções. (RIBEIRO; SHIMIZU, 2007). O trabalho de enfermagem na instituição hospitalar caracteriza-se pelo cuidado nas 24 horas do dia, permitindo a continuidade da assistência aos pacientes. Nesse cuidado aos pacientes, os trabalhadores de enfermagem utilizam instrumentos de trabalho como: agulhas, lâminas de bisturi, tesouras, pinças, materiais de vidro e muitos outros instrumentos que são perfurantes e cortantes. Muitas vezes, os pacientes são agressivos, agitados, ansiosos ou em estado crítico, dificultando a realização dos procedimentos com segurança. Além disso, o trabalho de enfermagem na instituição hospitalar, caracteristicamente, tem ritmo acelerado, é realizado em pé, com muitas caminhadas e sob a supervisão estrita; é normatizado, rotinizado e fragmentado. Isso contribui para a ocorrência de acidentes envolvendo os materiais perfurocortantes. (GABATZ; et al., 2009) A afirmação supracitada vem ao encontro dos dados deste estudo, pois, 65% dos acidentes foram ocasionados por agulha, 25% com lamina de bisturi e 10% com lanceta de dextro. Mesmo que os resultados mostrem alto índice de acidentes de agulhas com lúmen, a manipulação dos artigos em geral, independente do nível de sujidade do material, deve ser feito com o uso dos EPI adequados, atentando-se para o descarte correto. Os dados quanto à parte do corpo que mais ocorreram os acidentes, 25% dos acidentes foram no dedo indicador da mão esquerda. Isso pode estar relacionado com a não utilização das precauções padrão, como luvas, e com o ato de reencapar agulhas, demonstrando falta de atenção e desprezo a esse material. As demais áreas acometidas foram: mão esquerda, dedo polegar da mão direita, braço esquerdo, dedo indicador da mão direita e dedo médio da mão esquerda. Isto se explica pelos procedimentos que estavam sendo realizados no momento do acidente, tendo como maior índice o “desprezar material perfurocortante”, (30%), e outros como, “realizar punção venosa”, “realização de medicação intramuscular”, “retirada de pontos” e “realização de teste de glicose”. Alguns estudos destacam o descarte inadequado de material perfurocortante como uma das principais causas de acidente, o que pode acarretar danos não só à 58 equipe de enfermagem, mas também aos demais profissionais no ambiente hospitalar. (GABATZ; et al., 2009) Em uma instituição, o processo educativo contribui para a diminuição da ocorrência desses acidentes com perfurocortantes, aprimorando assim suas competências e habilidades cognitivas e técnicas. Para que ocorra a prevenção é necessário investir em treinamentos contínuos e sistematizados para os estudantes e trabalhadores de saúde, que enfatizem os métodos de prevenção e os meios para proteção contra as doenças causadas por acidentes com materiais perfurocortantes e fluídos biológicos. (ARYTHANA; DUARTE; MOREIRA, 2011) Para minimizar os acidentes, há a necessidade de, não só promover periodicamente treinamento em serviço com o objetivo de diminuir a sua frequência, mas também permitir que os trabalhadores consigam decodificar a organização de trabalho em que estão inseridos, podendo trabalhar com segurança e encontrar soluções para sua prática diária. (ARYTHANA; DUARTE; MOREIRA, 2011). Diante do exposto, conclui-se que os hospitais precisam atentar para o problema, pois a prevenção ainda é a melhor forma de se evitar acidentes, por meio da promoção de treinamentos em serviço e do uso de equipamentos de proteção individual. 6.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS PROVENIENTE DOS DOIS TEMAS: SIGNIFICADO DO ACIDENTE COM PERFUROCORTANTE PARA OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ACIDENTADOS E OS SENTIMENTOS VIVENCIADOS POR ESTES PROFISSIONAIS ACERCA DO OCORRIDO No que diz respeito à influência da subjetividade no exercício seguro da atividade em enfermagem, Lima, Pinheiro e Vieira destacam que: A desatenção e o descuido dos profissionais, a tensão, o estresse, o cansaço e a fadiga são pontos oriundos da condição individual do profissional, propiciados pela vivência no meio hospitalar ou não, que possibilitam a ocorrência de acidentes de trabalho com materiais perfurocortantes, já que o seu manuseio necessita de tranqüilidade, concentração, atenção e cuidado para que não ocorram erros na realização da assistência que possam prejudicar a higidez do cliente e a saúde do trabalhador. 59 [...]Algumas vezes, no entanto, a falta de atenção durante os procedimentos realizados com o cliente é oriunda do trabalho excessivo e da repetição mecânica das ações técnicas da enfermagem, que levam à nãoconsideração dos sentimentos e emoções tanto dos profissionais quanto dos clientes. (LIMA; PINHEIRO; VIEIRA, 2007, p. 209); Alguns significados para os profissionais de enfermagem, referente ao fato de terem sofrido o acidente, é evidenciado através do DSC: “medo, angústia e preocupação”, o que vem ao encontro dos dizeres de Damasceno et. al. (2006), que relatam que a ocorrência de acidente com os profissionais de enfermagem envolvendo material biológico, está evidenciada por passarem: (...) ficar com medo da contaminação no trabalho, ansiedade, depressão e medo da morte em função da expectativa do resultado do teste anti-HIV, fantasias de contaminação, preocupação com a vida sexual passada, presente e futura, receio de reações negativas da família, parceiro e colegas de trabalho (críticas, discriminação), sentimento de culpa pelo acidente, raiva do hospital e do sistema de saúde hostil. (Damasceno et. al., 2006, p. 75). A segunda ideia central de maior frequência foi momento “horrível e difícil”, que é demonstrado com o DSC: Difícil! Foi a pior experiência da minha vida, mesmo tendo sido acidentada por culpa da colega de trabalho, foi horrível imaginar ter adquirido um HIV ou outra doença. Não gosto nem de lembrar, foi uma sensação terrível. È terrível pensar que por um descuido você pega uma doença como HIV. Nossa! Nem sei explicar o que significou para mim, foi um momento horrível. É difícil dizer, pois na hora a gente nem sabe o que fazer, e depois vem as doenças que poderia ter pegado pelo acidente. O exposto acima reafirma as palavras de Castro e Faria (2009) que enfatizam que o acidente com perfurocortantes afeta psicologicamente o trabalhador de enfermagem. Essa concepção é mencionada pelos trabalhadores acidentados, que apresentaram medo da contaminação, ansiedade, expectativa do resultado do teste anti-HIV, preocupação com a vida sexual, dentre outros dados que confirmam o "impacto" psicológico causado pelo acidente com perfurocortante. Dada a importância desses significados entres os trabalhadores de enfermagem, pode-se ressaltar agora o terceiro significado mais frequência: “Depressão e inconformidade”, que também podo ser relacionado com Damasceno et. al. (2006) que afirmam: 60 A experiência de passar por um acidente com material biológico provoca sentimentos e reações totalmente diferenciadas e diversificadas entre os profissionais acidentados, ou seja, cada indivíduo vivencia o acidente a partir de seus conceitos, pré-conceitos, valores e conhecimento do assunto. Podemos inferir que é por conta desta subjetividade que encontramos tanta diversidade. (Damasceno et. al., 2006, p. 75). Já os significados para os profissionais de enfermagem terem sofrido um acidente com perfurocortante relacionado à culpa são obtidos por meio dos DSC: “Me culpei muito pela falta de atenção. Significou pra mim que eu devo ficar mais atenta ao realizar os procedimentos, principalmente com perfurocortante. Senti que foi falta de atenção da minha parte, negligencia em manusear o material sem uso de EPI, com a pressa, e sem funcionários, a gente faz tudo correndo pra dar conta do serviço. Puxa vida que vacilo que dei, me senti muito culpada.” Martino e Misko (2004) afirmam que: Na enfermagem, vive-se uma realidade de trabalho cansativo e com muito desgaste devido à convivência com a dor e sofrimento dos clientes. Se o indivíduo não souber equilibrar bem essa situação utilizando-se de mecanismos de transferência, pode acometer um estado de ansiedade; que quando excede o nível mínimo leva a diminuição da capacidade de tomar decisões, incorrendo em erros adicionais, gerando assim um circulo vicioso, e a consequentes níveis progressivos de estresse e consequentemente aos acidentes perfurocortantes. (MARTINO; MISKO, 2004, p. 162). Os significados vivenciados após sofrer um acidente com perfurocortante obtidos por meio dos DSC foram negativos em sua grande maioria como pode ser observado: “No momento fiquei com muita raiva de mim mesmo, pela falta de atenção, e descuido com o material, com muita raiva dos profissionais que estavam trabalhando comigo, até por que foi por erro de um deles que ocorreu o acidente. A gente fica com raiva de não ter prestado a devida atenção. Fiquei com muita raiva, mesmo tomando toda precaução, só pensava no HIV, e agora o que vai ser de mim.” Através desse discurso pode-se observar que a possibilidade de contaminação pelos vírus das hepatites B e C e da AIDS por meio do exercício profissional propicia aos componentes da equipe de enfermagem manifestação de sentimentos negativos, como o medo diante da alteração permanente que ocorrerá em seu estilo de vida, da proximidade da morte e do preconceito de que poderão ser alvo em seu ambiente familiar, social e de trabalho. (LIMA; PINHEIRO; VIEIRA, 2007). 61 Por essa razão tanto as instituições quanto os profissionais podem realizar ações visando à prevenção de acidentes de trabalho com materiais perfurocortantes, uma vez que este tipo de acidente leva o profissional a momentos de intenso estresse físico e psíquico, produzindo alterações nos seus relacionamentos, seja de caráter social ou familiar, e no desempenho de suas atividades profissionais. (LIMA; PINHEIRO; VIEIRA, 2007) É evidente que trabalhar com atenção, concentração e com cuidado devem ser medidas a serem adotadas para atuar em enfermagem, visando reduzir os riscos de ocorrência de acidentes de trabalho. (LIMA; PINHEIRO; VIEIRA, 2007). As manifestações dos sentimentos pelos entrevistados, de angústia, ansiedade, desespero, tensão e tristeza decorrem do medo de terem sido, possivelmente, infectados pelo vírus HIV em primeira instância e, depois, pelo da hepatite B e C, em razão de alterações permanentes no modo de viver, oriundas da infecção por estes vírus. A AIDS é uma doença incurável e, portanto, reflete o medo pelo sentimento de proximidade da morte. O medo é reflexo do fato de se estar assustado com algo, uma dor, rejeição de uma pessoa ou grupo, a perda de alguma coisa ou alguém, ou o momento de morrer. (LIMA; PINHEIRO; VIEIRA, 2007). No que se refere a segunda questão do instrumento, Significados dos acidentes com perfurocortante para os profissionais de enfermagem acerca do ocorrido, percebe-se que o predomínio de relatos de sentimentos de “medo, preocupação e angústia, desrespeito e falta de humanidade” é explicado pelo fato de que os profissionais de saúde possuem maior compreensão dos riscos acarretados pelo acidente, bem como consciência das possíveis consequências pessoais e familiares. Neste panorama, apresenta-se ainda a falta de acompanhamento psicológico, contribuindo para a instalação e permanência de danos emocionais relacionados à experiência. (LIMA; PINHEIRO; VIEIRA, 2007) No tocante aos sentimentos dos profissionais de enfermagem acerca dos acidentes com perfurocortantes emergiram as seguintes ideias centrais: Diversos sentimentos, traduzidos no discurso: Depois do acidente fiquei apavorada, com medo de pegar uma doença, foi horrível. Senti medo e insegurança, raiva de mim mesma. Fiquei preocupada, não tem como não ficar. Conversei com o paciente para fazer o teste rápido e fiquei apreensiva até o resultado. Chorei muito com medo de ter me contaminado, é uma sensação horrível, o medo, a 62 angústia e a dúvida... [...] Será que aquele paciente tem alguma doença? Na hora fiquei com raiva do profissional médico [...] Acho falta de respeito com o profissional de enfermagem. Senti muito medo, por não conhecer o paciente, e triste por imaginar as doenças que poderia adquirir com esse acidente. Fiquei muito nervosa, preocupada e angustiada, porque a paciente estava em quarto de isolamento, e isso me deixou muito apreensiva. Vem muita coisa na cabeça da gente. Fiquei muito triste com o acontecido, foi tudo muito rápido, quando cheguei em casa chorei muito. Depois do acidente senti muito medo, bastante preocupada e na expectativa dos resultados dos exames. [...] Chorei muito em casa, aí que a gente percebe a responsabilidade que tem. Senti muita angústia e medo, pensei que ia entrar em depressão, porque só sabia chorar com a situação, não sabia o que fazer. Nossa! Depois que aconteceu o acidente eu só sabia pensar nas doenças que poderia pegar, aí fiquei nervosa, não gosto de lembrar. Esses sentimentos estão presentes após a ocorrência destes acidentes, devido à apreensão pela possibilidade de poder ter sido contaminado com o vírus do HIV, e muitos não se conformam com fato de o acidente ter ocorrido com eles. Percebem-se, nos depoimentos, o medo e a preocupação que os profissionais apresentam no cuidado e na convivência com pacientes que têm sorologia positiva ao HIV. Também fica claro que temem a possibilidade de vivenciarem e suportarem o sofrimento, o abandono e a discriminação a que esses pacientes são submetidos. Eles temem o julgamento dos amigos, do cônjuge e da sociedade, se forem infectados no acidente de trabalho, pois reconhecem o estigma das pessoas que são portadoras do HIV. (GABATZ et al., 2009) Tal preocupação é ressaltada por Silva et al., (2010), ao afirmar que o predomínio de relatos de sentimentos de medo, preocupação e angústia, é explicado pelo fato de que profissionais de saúde possuem maior compreensão dos riscos acarretados pelo acidente, bem como consciência das possíveis consequências pessoais e familiares. Neste contexto, apresenta-se ainda a falta de acompanhamento psicológico, contribuindo para a instalação e permanência de danos emocionais relacionados à experiência. Quanto ao sentimento de descuido pessoal pode-se evidenciar por meio do DSC: Senti que foi um erro meu… pois não estava prestandoatenção no procedimento que estava executando. Descuido, pois deveria ter mais cuidado ao 63 manusear material perfurocortante. Senti que foi um descuido, falta de atenção, deveria ter pedido ajuda de algum colega para me ajudar com o material perfurocortante. Percebi que necessito de mais cuidado com o descarte de material perfurocortante. Esta ideia, segunda mais frequência, identifica-se com a afirmação de Lima et al. (2007), ao destacar a importância uso de EPIs e da adoção das medidas preventivas, nos informes educacionais, pois é importante para a prevenção da ocorrência de perfurações e cortes com o uso de materiais existentes no meio hospitalar. A experiência de passar por um acidente com material biológico provocara sentimentos e reações totalmente diferenciadas e diversificadas entre os profissionais acidentados. Cada indivíduo vivencia o acidente a partir de seus conceitos, valores e conhecimento acerca do assunto. Apesar de muitos entrevistados relatarem diversos sentimentos, outros informaram não sentir nada em relação ao acidente. Isso demonstra que nem todos os profissionais têm consciência do ocorrido, pois, muitas vezes, há falta de conhecimento e orientação sobre os danos que o acidente pode ocasionar. 64 7 CONCLUSÕES Os objetivos do presente estudo permitiram as seguintes conclusões: 1. Em relação às características dos participantes do estudo: x 50% dos entrevistados tinham idade entre 20-29 anos, 25% entre 30-39 anos, 20% entre 40-49 e 5% tinham 50-59 anos, com a média entre eles de 31,6 anos. x 90% eram do sexo feminino e 10% do sexo masculino. x 10% trabalhavam no período noturno, 20% no vespertino, 70% no matutino. x 70% tinha entre 1 a 5 anos de tempo de trabalho na instituição , 15% de 6 a 10 anos e 15% de 11 a 21 anos de trabalho. x 90% eram técnicos em enfermagem, 5% auxiliar de enfermagem e 5% enfermeiro. 2. No tocante as características dos acidentes com perfurocortantes: x 65% se acidentou com agulha, 25% com lamina de bisturi e 10% com lanceta de dextro. x 30% se acidentaram no Pronto socorro, 20% na Pediatria, 15% na clínica médica, 05% no Centro cirúrgico, no 4° Andar, Ortopedia, Endoscopia e Central de material. x 25% sofreram acidente com perfurocortante no dedo indicador da mão esquerda, 20% na mão esquerda, 15% no dedo polegar da mão direita, 15% na mão direita, 10% no Braço esquerdo, 10% dedo indicador da mão direita e 5% no dedo médio da mão esquerda. x 35% forma acidentados pela correria do setor e não estavam usando EPI; 25% relataram descuido e falta de atenção; 20% não souberam manusear material perfurocortante; 15% estavam desprezando material perfurocortante, 10% tinham pressa em terminar o procedimento; 5% relataram que a unidade estava agitado e com falta de funcionário. 65 3. No que tange aos significados para os profissionais de enfermagem acidentados emergiram as idéias centrais:“tudo de ruim passa pela cabeça”, “medo, angústia e preocupação”, “momento horrível”, “depressão e inconformidade”, “muita raiva pessoal e dos colegas de trabalho”, “falta de humanidade”, “ sem valor para a instituição”, “culpa”, “impotência”. 4. Quanto aos sentimentos vivenciados pelos profissionais de enfermagem acidentados foram evidenciadas as ideias centrais: ”diversos sentimentos”, “descuido pessoal”, “falta de assistência”, “não senti nada”. 66 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente pesquisa possibilitou conhecer as características dos acidentes com perfurocortante ocorridos no Hospital Escola de Itajubá-MG, sendo que os índices de acidentes de maior ocorrência foram na unidade do pronto socorro, devido a fatores como: correria na unidade, o não uso do EPI, o descuido, a falta de atenção, não saber manusear material perfurocortante. No momento do acidente estavam desprezando material perfurocortante, realizando punção venosa, entre outros procedimentos. A pesquisa possibilitou, também, conhecer os significados e sentimentos dos profissionais de enfermagem acidentados com este tipo de material, constatando que medo, raiva, preocupação e angústia foram sentimentos manifestados tanto nos significados quanto nos sentimentos expressados pelos profissionais de enfermagem. O sentimento de medo está relacionado, em especial, à possibilidade de contaminação ocupacional e aquisição de alguma patologia, como hepatite ou AIDS, afetando o psicológico desses trabalhadores. Além disso, o medo está associado à possibilidade da ocorrência de outro acidente. Entretanto, é mencionado também como fator propulsor de acidentes, uma vez que prejudica o trabalhador ao desempenhar suas funções, favorecendo maiores chances deste agravo. Em adição, as consequências fisiológicas os acidentes, podem acarretar severos problemas emocionais aos trabalhadores devido à possibilidade de contaminação por vírus causadores de patologias letais e envoltas em preconceitos, como a AIDS. Os sentimentos de preocupação e angústia vivenciados pelos trabalhadores estão relacionados diretamente à esfera familiar e social. Porém, devemos considerar a influência de algumas características que são peculiares de cada instituição de saúde: processos de trabalho, vínculo empregatício e relacionamento interpessoal na equipe. Além dos sentimentos vivenciados por estes profissionais acerca do acidente, outros achados foram englobados, como a falta de habilidade técnica em manusear material perfurocortante. No que tange as repercussões favoráveis a conduta do profissional de enfermagem, destacam-se a necessidade de incentivá-los a atuarem com mais atenção, precaução e cuidado na manipulação de instrumentos 67 perfurocortante, tão comum no processo de trabalho desta equipe, assim como conscientizá-los da importância do uso de EPIs . Neste sentido acredita-se que tal fato leva a considerar que os trabalhadores e as instituições de saúde necessitam atentarem para o problema, direcionar medidas para a notificação dos acidentes, melhorar o encaminhamento dos trabalhadores acidentados e, principalmente, adotar medidas preventivas para redução dos números destes tipos de acidentes ocupacionais. Espera-se que novas pesquisas sejam realizadas com este enfoque em outras realidades, buscando conhecer os significados e sentimentos vividos por outros profissionais de enfermagem, visto que há poucas pesquisas sobre a temática em questão. Por fim, almeja-se que o estudo sirva de referência para posteriores trabalhos sobre o referido tema, enfatizando e estimulando, também estudos reflexivos e discussões, resultando em uma melhoria na qualidade de vida e assistência destes profissionais. Por estas constatações, verifica-se a necessidade da educação permanente destes profissionais quanto à saúde do trabalhador, abrangendo os riscos e prevenções de acidentes ocupacionais, uso de equipamentos de proteção individual e coletiva, importância da notificação imediata e acompanhamento sorológico completo, bem como o suprimento da estrutura das instituições em termos de recursos humanos e materiais. Isso poderá implicar diretamente na diminuição dos índices de acidentes ou doenças ocupacionais. A forma de organização do trabalho em enfermagem confirma a necessidade da educação continuada, enquanto estratégia de fortalecimento, permitindo ao trabalhador valorizar seu trabalho e sentir satisfação no realizado. Contudo há grande necessidade da educação permanente, na qual se ressalte que deve exigir a conscientização dos profissionais de saúde e administradores da instituição em relação aos riscos da exposição ocupacional a materiais biológicos, tais como sangue, fluidos corpóreos e a outros aspectos que podem causar danos a saúde do trabalhador. Precisa-se, também, por meio desta educação, orientar sobre o uso de EPIs entre os profissionais, descarte correto dos materiais perfurocortante, a observância dos fatores que vem proporcionando a ocorrência desses acidentes. Necessita-se também de mais fiscalização do uso de EPI e dos procedimentos que envolvam uso de perfurocortantes. 68 Por fim, evidencia-se a necessidade não só de oferecer informações que propiciem as ações de atendimento ao trabalhador que sofre um acidente perfurocortante, como, também, considerar os aspectos físicos, psíquicos e emocionais que acompanham esse tipo de situação, incluindo as relações familiares e sociais. 69 REFERÊNCIAS AGÊNCIA Nacional de Vigilância. Anvisa intensifica controle de infecção em serviços de saúde (ANVISA). Revista de Saúde Pública, v. 38, n. 3, São Paulo, Jun. 2004. AISI. Site oficial 2011. Disponível em: <http://www.aisi.edu.br/he/index.asp?p=artigos&codigo=1231>. Acesso em: 07 Abr. 2012. ALVES, A. et al. Acidentes com perfurocortantes em profissionais da área da saúde: a importância da atuação do enfermeiro do trabalho quanto a promoção e fiscalização do uso de equipamento de proteção individual e equipamento de proteção coletivo. 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O que você estava fazendo no momento do acidente? 75 APÊNDICE B - Roteiro de entrevista semi-estruturada QUESTÕES SOBRE O SIGNIFICADO E O SENTIMENTO DIANTE DO ACIDENTE COM PERFUROCORTANTE Os trabalhadores de enfermagem no desenvolvimento de suas funções estão expostos a inúmeros riscos ocupacionais causados por fatores químicos, físicos, mecânicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais, que podem ocasionar doenças ocupacionais e acidentes de trabalho. Você sofreu um acidente com perfurocortante e passou por momentos que só você pode descrever. Pensando nisso, responda para mim: 1. O que significou para você sofrer um acidente com perfurocortante? _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ ______________________ 2. O que você sentiu após ter sofrido este acidente? _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ ________________________ 76 APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Nós, Bárbara Olívia Aparecida Carneiro Felipe, Aldaíza Ferreira Antunes Fortes e Ana Maria Nassar Cintra Soane, acadêmica e docentes, respectivamente, da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), de Itajubá-MG, estamos desenvolvendo uma pesquisa intitulada “Características dos acidentes com perfurocortantes. significados e sentimentos dos profissionais de enfermagem acidentados”. Para isso, precisamos que você concorde em participar de uma entrevista conosco, respondendo sobre seus dados pessoais e questões relacionadas ao tema que estamos pesquisando. Os objetivos deste estudo são identificar as características dos acidentes com perfurocortante ocorridos no Hospital Escola de Itajubá-MG, conhecer os significados para os profissionais de enfermagem do Hospital Escola de Itajubá-MG, que sofreram acidente com perfurocortante, conhecer os sentimentos dos profissionais de enfermagem em questão diante desta situação. Os resultados deste estudo serão de grande valia para a profissão de enfermagem, haja vista que poderão fornecer subsídios para uma maior conscientização dos profissionais quanto ao manuseio adequado de materiais na realização de procedimentos de enfermagem, proporcionando, desta forma, uma diminuição da ocorrência de acidentes perfurocortantes e do desconforto vivido pela população que se submete ao teste de HIV após o acidente com perfurocortante Também, servirá de solidificação para pesquisas já existentes e de alicerce para a realização de novos estudos, pois há poucos trabalhos com este enfoque. Para realizarmos este estudo, precisamos que você concorde em participar de uma entrevista semiestruturada composta por três partes, em que a primeira pergunta traz as características pessoais, características do acidente propriamente dito. A terceira parte será composta por duas questões abertas relacionadas com os significados e sentimentos dos participantes. Quero esclarecer que as informações obtidas serão mantidas em segredo e que você não será identificado em hipótese alguma. É importante salientar que a sua participação é voluntária e a qualquer momento você terá liberdade de desistir, se assim o quiser. Você concorda em participar deste estudo? Este termo de Consentimento pós–informação e Esclarecimento é um documento que comprova a sua permissão. Precisamos de sua assinatura para oficializar o seu consentimento. Para possíveis informações ou esclarecimentos a respeito da pesquisa, você poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da EEWB, pelo telefone (35) 3622-0930 ramal 323. Agradecemos desde já a sua valiosa colaboração e nos colocamos a sua disposição para outros esclarecimentos necessários. Por me achar plenamente esclarecido (a) e em perfeito acordo com este termo de consentimento, eu, para oficializar minha aceitação como participante dessa pesquisa, assino o presente documento. NOME COMPLETO: ........................................................................................................................ ASSINATURA: ................................................................................................................................ LOCAL E DATA: ...................................., ......... de ..................................................... de 20........... 77 ANEXO A - Instrumento de análise do discurso 1 (IAD - 1) PERGUNTA 1: Você que já sofreu um acidente com perfurocortante e passou por momentos que só você pode descrever. Pensando nisso, responda para mim: O que significou para você sofrer um acidente com perfurocortante? SUJEITO 1 EXPRESSÕES – CHAVE IDÉIA CENTRAL Foi muito ruim, na hora eu fiquei *Muito ruim apavorada, com muito medo….medo de *Medo pegar uma doença…foi a pior *Pior experiência da minha experiência da minha vida. vida *Apavorado 2 Fiquei com medo, angustiada, pois não *Medo conhecia o paciente, tive muito medo de *Angustiada pegar alguma doença, meu psicológico ficou por muito tempo abalado… só *Só sabia chorar sabia chorar. 3 Depois do acidente eu fiquei com medo *Medo por não saber quem era o paciente, no *Muita raiva de mim momento fiquei com muita raiva de mim mesmo, pela falta de atenção, e *Apavorado descuido com o material, ate os resultados dos exames, fiquei apavorado. 4 O constrangimento, pois o acidente em si, não me preocupou tanto, mais proceder depois do acidente que me preocupou, pois fui mal informada em realizar a notificação, parece que ninguém se preocupa com a gente, e se eu pegar uma doença, e ficar doente, senti falta de humanidade e respeito, parece que não temos muito valor para a instituição. Senti que foi falta de atenção da minha parte, negligencia em manusear o material sem uso de EPI, com a pressa, e sem funcionários, a gente faz tudo correndo pra dar conta do serviço, chorei muito depois do acidente, senti impotente, e medo de pegar uma doença como HIV ou Hepatite. 5 *Constrangimento *Preocupada *Ninguém se preocupa com a gente *Falta de humanidade *Sem valor para instituição *Falta de atenção da minha parte *negligencia em manusear o material *Impotência *Medo de doença. *Chorei muito pegar uma 78 6 A gente fica receoso né, não conhecia o paciente, então foi muito difícil para mim… passa muita coisa na cabeça da gente, será que me contaminei com alguma doença? Meu DEUS o que vou fazer agora, fiquei deprimida por muito tempo, mesmo tomando toda precaução, só pensava no HIV, e agora o que vai ser de mim. *Receoso *Passa muita coisa cabeça da gente na *Deprimida 7 Fiquei com muita raiva dos profissionais *Raiva dos profissionais que estavam trabalhando comigo, ate *Chorei de medo e de raiva. por que foi por erro de um dele que ocorreu o acidente, a gente tenta tomar *Inconformidade o maior cuidado, mais a equipe também deve estar atenta, chorei de medo e de raiva, não me conformo que isso tenha acontecido comigo. 8 Prestar mais atenção no que estava fazendo, mesmo tendo sido acidentada por culpa da colega de Trabalho, é difícil né, fiquei com muita raiva, medo insegurança…foi tudo muito ruim pra mim. * É difícil A gente fica preocupada né… mesmo sabendo quem era o paciente, mas e as doenças transmissíveis? Será que peguei alguma doença! ….foi horrível imaginar ter adquirido um HIV ou outra doença…não gosto nem de lembra, foi uma sensação terrível. *Preocupada 9 * Muita Raiva *Medo *Insegurança *Tudo muito ruim *Foi horrível imaginar ter adquirido um HIV ou outra doença. *Sensação terrível 10 A gente fica triste né…mesmo fazendo *Triste o teste rápido tem outras doenças….mais senti só tristeza mesmo, mais nada. 11 Na hora bateu uma angústia….mas o *Angústia que me deixou aliviado foi que o *Apreensivo paciente era uma criança de 11 anos…porém poderia ter sido um paciente soropositivo, mesmo assim a gente fica apreensivo. 12 Significou pra mim que eu devo ficar *Devo ficar mais atenta mais atenta ao realizar os *Medo procedimentos, principalmente com perfurocortante, além do medo a gente *Raiva fica com raiva né…de não ter prestado a devida atenção. 79 13 Ai! Eu fiquei com medo, por que o *Medo paciente já havia feito varias transfusão *Preocupado de sangue, e tinha tido vários problemas de saúde, a gente fica preocupado mesmo. 14 Ai eu fiquei com muito medo porque a * Medo criança usava traqueostomia, foi *Preocupação transfundida várias vezes, tinha bastante problemas de saúde, a mãe usava drogas e isso me preocupou muito…doenças que poderia adquirir com esse acidente. 15 Morri de medo, porque me contaminei *Morri de Medo com uma agulha que tinha sido usada *Apreensiva em um paciente com suspeita de hepatite, fiquei apreensiva e bastante *Preocupada preocupada. 16 No momento me deu medo, tudo de *Medo ruim vem na cabeça, pois não sabia *Tudo de ruim vem na nada do paciente. cabeça 17 Nossa nem sei explicar o que significou * Momento Horrível para mim, foi um momento horrível, pois * Chorei muito sempre fui muito cautelosa, e num descuido aconteceu, me deu medo, chorei muito…foi horrível. 18 Me deu uma tristeza, pois não sabia quem era o paciente, e quando olhei para minha mão, não sabia o que fazer, difícil, me culpei muito pela falta de atenção. *Tristeza Na hora não fiquei preocupada, pois os colegas começaram a falar, que deveria ter mais cuidado, que poderia pegar doenças como HIV, Hepatite dentre outras, ai a ficha caiu. Puxa vida que vacilo que dei, me senti muito culpada, e medo também. É difícil dizer, pois na hora a gente nem sabe o que fazer, e depois vem as doenças que poderia ter pegado pelo acidente, me senti inútil, é terrível pensar que por um descuido você pega uma doença como HIV. *Culpa 19 20 *Não sabia o que fazer * Difícil *Culpa pela atenção. *Medo *Senti inútil *Terrível *Difícil falta de 80 Pergunta 2: O que você sentiu após ter sofrido este acidente? SUJEITO 1 EXPRESSÕES – CHAVE IDÉIA CENTRAL Senti medo e insegurança, raiva de mim *Medo mesma. * Insegurança *Raiva de mim 2 Senti que foi um erro meu, descuido, *Erro meu pois deveria ter mais cuidado ao *Descuido manusear material perfurocortante. 3 Senti que foi um descuido meu, falta de *Descuido atenção, deveria ter pedido ajuda de *Falta de atenção algum colega para me ajudar com o material perfurocortante (lamina de bisturi). 4 Senti que os profissionais responsáveis não estão preparados para nos atender nesta situação, não fui bem assistida, ninguém se preocupa com nossos sentimentos, agem somente com a parte burocrática e esquecem que temos sentimentos. Sei que foi um descuido meu, mas mereço respeito. * Senti que não fui bem assistida *Descuido *Mereço respeito 5 Fiquei preocupada, não tem como não *Preocupada ficar né… Conversei com o paciente * Apreensiva para fazer o teste rápido e fiquei apreensiva ate o resultado. 6 Chorei muito com medo de ter me *Chorei muito contaminado, é uma sensação horrível, *Medo o medo e a angustia, e a duvida será que aquele paciente tem alguma *Sensação horrível doença. 7 Na hora fiquei com raiva do profissional *Raiva do profissional medico, pois não estava prestando *Falta de respeito atenção no procedimento que ele estava executando, acho falta de respeito com o profissional de enfermagem. 8 Como eu já conhecia a criança fiquei *Tranquila mais tranquila, não senti nada não, pois *Não senti nada sabia que a criança era saudável. 9 Depois do acidente fiquei apavorada, *Apavorada com medo de pegar uma doença, foi *Medo horrível. 81 *Horrível 10 Senti muito medo, por não conhecer o * Muito medo paciente, e triste por imaginar as *Triste doenças que poderia adquirir com esse acidente. 11 Até que não fiquei muito tenso por ser uma criança, mais pensei no que poderia acontecer se contaminasse com alguma doença. 12 Fiquei muito nervosa, porque a paciente *Nervosa estava em quarto de isolamento, e isso *Apreensiva me deixou muito apreensiva. 13 Senti raiva de mim, por um descuido, *Raiva de mim falta de atenção, percebi que necessito *Falta de atenção de mais cuidado com o descarte de *Necessito de mais material perfurocortante. cuidado com o material perfurocortante 14 Fiquei preocupada e angustiada, por *Preocupada não conhecer o paciente, vem muita *Angustiada coisa na cabeça da gente. 15 Depois do acidente senti muito medo, *Medo fiquei bastante preocupada e na *Preocupada expectativa dos resultados dos exames. *Na expectativa Fiquei com muito medo, chorei muito *Medo em casa, ai que a gente percebe a responsabilidade que tem. 16 *Não fiquei muito tenso 17 Senti muita angustia e medo, pensei *Angustia que ia entrar em depressão, porque só *Medo sabia chorar. 18 Fiquei muito triste com o acontecido, foi *Triste, chorei muito tudo muito rápido, quando cheguei em casa chorei muito. 19 Depois do acidente fiquei preocupada, *Preocupada nervosa com a situação, não sabia o *Nervosa que fazer. 20 Nossa depois que aconteceu o acidente eu só sabia pensar nas doenças que *Nervosa poderia pegar, ai fiquei nervosa, não gosto de lembrar. 82 ANEXO B - Instrumento de análise do discurso 2 (IAD - 2) PERGUNTA 1: Você que já sofreu um acidente com perfurocortante e passou por momentos que só você pode descrever. Pensando nisso, responda para mim: O que significou para você sofrer um acidente com perfurocortante? N° 1 2 3 5 6 8 9 10 11 12 13 14 15 16 18 19 N° 1 8 9 17 IDÉIA CENTRAL 1 - MEDO, ANGUSTIA E PREOCUPAÇÃO Com muito medo… medo de pegar uma doença Fiquei com medo,… tive muito medo de pegar alguma doença. Angustiada pois não conhecia o paciente. Depois do acidente eu fiquei com medo por não saber quem era o paciente. Ate os resultados dos exames fiquei apavorado. […] e medo de pegar uma doença como HIV ou Hepatite. A gente fica receoso né, não conhecia o paciente. […] medo, insegurança… A gente fica preocupada né… mesmo sabendo quem era o paciente, mas e as doenças transmissíveis? A gente fica triste né… mesmo fazendo o teste rápido tem outras doenças….mais senti só tristeza mesmo, mais nada. Na hora bateu uma angústia… mas o que me deixou aliviado foi que o paciente era uma criança de 11 anos… Porém poderia ter sido um paciente soropositivo, mesmo assim a gente fica apreensivo. […] medo… Ai! Eu fiquei com medo, por que o paciente já havia feito varias transfusão de sangue, e tinha tido vários problemas de saúde. A gente fica preocupado mesmo. Ai eu fiquei com muito medo porque a criança usava traqueostomia, foi transfundida várias vezes, tinha bastante problemas de saúde, a mãe usava drogas e isso me preocupou muito…doenças que poderia adquirir com esse acidente. Morri de medo, porque me contaminei com uma agulha que tinha sido usada em um paciente com suspeita de hepatite… Fiquei apreensiva… Bastante preocupada. No momento me deu medo. Me deu uma tristeza, pois não sabia quem era o paciente. … Medo também. IDÉIA CENTRAL 2 - MOMENTO HORRÍVEL E DIFÍCIL Foi a pior experiência da minha vida. Mesmo tendo sido acidentada por culpa da colega de trabalho, é difícil. Foi horrível imaginar ter adquirido um HIV ou outra doença. Não gosto nem de lembra, foi uma sensação terrível. Nossa nem sei explicar o que significou para mim, foi um momento horrível. 83 18 20 N° […] Difícil. É difícil dizer, pois na hora a gente nem sabe o que fazer, e depois vem as doenças que poderia ter pegado pelo acidente, […] é terrível pensar que por um descuido você pega uma doença como HIV IDÉIA CENTRAL 3 - DEPRESSÃO E INCONFORMIDADE 2 […] Só sabia chorar… 5 […] Chorei muito depois do acidente […] 6 Fiquei deprimida por muito tempo, mesmo tomando toda precaução, só pensava no HIV, e agora o que vai ser de mim. 7 Chorei de medo e de raiva, não me conformo que isso tenha acontecido comigo. 17 Chorei muito… N° IDÉIA CENTRAL 4 - MUITA RAIVA PESSOAL E DOS COLEGAS DE TRABALHO No momento fiquei com muita raiva de mim mesmo, pela falta de atenção, e descuido com o material. 3 7 8 12 Fiquei com muita raiva dos profissionais que estavam trabalhando comigo, ate por que foi por erro de um dele que ocorreu o acidente. Fiquei com muita raiva. A gente fica com raiva né… de não ter prestado a devida atenção. N° IDÉIA CENTRAL 5 - CULPA 5 Senti que foi falta de atenção da minha parte. Negligencia em manusear o material sem uso de EPI, com a pressa, e sem funcionários, a gente faz tudo correndo pra dar conta do serviço. 12 Significou pra mim que eu devo ficar mais atenta ao realizar os procedimentos, principalmente com perfurocortante. 18 […] Me culpei muito pela falta de atenção. 19 Puxa vida que vacilo que dei, me senti muito culpada. Nº IDÉIA CENTRAL 6 - TUDO DE RUIM PASSA PELA CABEÇA 1 Foi muito ruim. 8 Foi tudo muito ruim pra mim. 16 Tudo de ruim vem na cabeça, pois não sabia nada do paciente. N° IDÉIA CENTRAL 7 - IMPOTENCIA 84 5 Senti impotente. 18 Não sabia quem era o paciente, e quando olhei para minha mão, não sabia o que fazer. 20 […] Me senti inútil… N° 4 IDÉIA CENTRAL 8 - FALTA DE HUMANIDADE Senti falta de humanidade e respeito... Muito constrangimento, pois o acidente em si, não me preocupou tanto. Mais proceder depois do acidente que me preocupou, pois fui mal informada em realizar a notificação, parece que ninguém se preocupa com a gente. N° 4 IDÉIA CENTRAL 9 - SEM VALOR PARA A INSTITUIÇÃO Parece que não temos muito valor para a instituição. Pergunta 2: O que você sentiu após ter sofrido este acidente? N° 1 4 5 6 7 9 10 12 13 14 15 16 17 18 19 IDÉIA CENTRAL 1 - DIVERSOS SENTIMENTOS Senti medo e insegurança, raiva de mim mesma. […] Sei que foi um descuido meu. Fiquei preocupada, não tem como não ficar né… Conversei com o paciente para fazer o teste rápido e fiquei apreensiva ate o resultado. Chorei muito com medo de ter me contaminado, é uma sensação horrível, o medo e a angustia, e a duvida será que aquele paciente tem alguma doença. Na hora fiquei com raiva do profissional medico, pois não estava prestando atenção no procedimento que ele estava executando, acho falta de respeito com o profissional de enfermagem. Depois do acidente fiquei apavorada, com medo de pegar uma doença, foi horrível. Senti muito medo, por não conhecer o paciente, e triste por imaginar as doenças que poderia adquirir com esse acidente. Fiquei muito nervosa, porque a paciente estava em quarto de isolamento, e isso me deixou muito apreensiva. […] raiva de mim. Fiquei preocupada e angustiada, por não conhecer o paciente, vem muita coisa na cabeça da gente. Depois do acidente senti muito medo, fiquei bastante preocupada e na expectativa dos resultados dos exames. Fiquei com muito medo, chorei muito em casa, ai que a gente percebe a responsabilidade que tem. Senti muita angustia e medo, pensei que ia entrar em depressão, porque só sabia chorar. Fiquei muito triste com o acontecido, foi tudo muito rápido, quando cheguei em casa chorei muito. Depois do acidente fiquei preocupada, nervosa com a situação, não sabia o que fazer. 85 20 Nossa depois que aconteceu o acidente eu só sabia pensar nas doenças que poderia pegar, ai fiquei nervosa, não gosto de lembrar. N° 2 IDÉIA CENTRAL 2 - DESCUIDO PESSOAL Senti que foi um erro meu. Descuido, pois deveria ter mais cuidado ao manusear material perfurocortante. 3 Senti que foi um descuido meu. Falta de atenção, deveria ter pedido ajuda de algum colega para me ajudar com o material perfurocortante. 4 […] mas mereço respeito. 13 Falta de atenção. Percebi que necessito de mais cuidado com o descarte de material perfurocortante. N° IDÉIA CENTRAL 3 - NÃO SENTI NADA 8 Como eu já conhecia a criança fiquei mais tranquila. Não senti nada não, pois sabia que a criança era saudável. 11 Até que não fiquei muito tenso por ser uma criança. N° 4 IDÉIA CENTRAL 4 - FALTA DE ASSISTENCIA Senti que os profissionais responsáveis não estão preparados para nos atender nesta situação, não fui bem assistida, ninguém se preocupa com nossos sentimentos, agem somente com a parte burocrática e esquecem que temos sentimentos. 86 ANEXO C - Parecer Consubstanciado Nº 596/2010 87