Artigo
Boletim Gênero, Raça e Etnia– Ed. 17 e 18 – Fevereiro/ Março de 2011
Marianela Carvajal
A jovem advogada dominicana Marianela Carvajal Diaz é a entrevistada dessa edição do
Boletim Gênero, Raça e Etnia. Ativista em movimentos sociais
desde os 19 anos, Marianela é reconhecida entre as organizações
da juventude negra da América Latina e Caribe pela militância em
prol das políticas específicas para as mulheres jovens
afrodescendentes.
Na região, segundo dados da OIT (Organização Internacional do
Trabalho) no final de 2009, 20,4% das jovens entre 15 e 24 anos
estavam desempregadas. Este cenário provocado pela soma das
discriminações de gênero e raça com a crise financeira, que
atingiu o mundo naquele período, foi responsável pela entrada de
jovens no mercado informal reduzindo as chances de
conquistarem condições de trabalho descente.
Marianela faz parte da Rede de Mulheres Afrolatinoamericanas, Afrocaribenhas e da
Diáspora onde desenvolve um trabalho voltado para a garantia dos direitos sexuais e
reprodutivos da juventude negra. Atualmente, a advogada presta assessoria jurídica às
vítimas de tráfico de pessoas no Centro de Acolhida para Pessoas Vítimas de Tráfico da
República Dominicana.
Nesta entrevista, conversamos com Marianela Carvajal sobre as organizações da
juventude afrodescendentes latino-americana e suas sugestões para o trabalho da ONU
Mulheres com foco nas jovens negras.
Qual o panorama da situação da juventude na América Latina e Caribe?
A região da América Latina e Caribe é meramente jovem e dentro dela existem muitos
desafios relacionados ao empoderamento das mulheres, ao mercado de trabalho. Ainda
existem condições que não permitem que nós, mulheres jovens negras, tenhamos boas
condições de trabalho, direitos trabalhistas ou garantias mínimas como as outras
mulheres. Creio que na região latino-americana a organização dos jovens está passando
por uma reconfiguração. Estão surgindo novos espaços liderados por jovens que
trabalham com jovens, o que tem dado uma posição interessante quanto à articulação
com outros movimentos, promovendo a interseccionalidade com as realidades indígenas,
afrodescendentes, por exemplo.
Quais são os desafios enfrentados pelas organizações da juventude negra?
Existe uma corrente de jovens afrodescendentes que está se organizando para criar
novas referencias bibliográficas no tema. Este é um desafio para nós, jovens negros,
poder conseguir e ter uma liderança e poder fazer uma incidência que seja realmente
representativa para toda a região. Isso deve ter uma relação mais direta com os atores
que podem potencializar qualquer projeto frente às agências internacionais de
cooperação e com outros movimentos.
Para você, jovem negra caribenha, como deve ser o trabalho da ONU Mulheres em
relação à juventude?
Considero que a ONU Mulheres crie um espaço de diálogo com as jovens negras e um
departamento que trabalhe com a realidade da juventude afro da região. Para poder
alcançar o empoderamento nesse novo estado de igualdade, será necessário fazer
relações em áreas diretas e trabalhar com os grupos e realidades que historicamente têm
sido invisibilizados, discriminados ou não têm sido beneficiadas nas políticas públicas, a
fim de que estes grupos participem tanto no desenho das linhas estratégicas e na sua
execução, assim como no momento de medir os resultados. É importante que as
populações a quem serão dirigidos os programas participem ativamente destes. É
necessário que existam diálogos construtivos com esses coletivos. Acredito que o papel
da ONU Mulheres é visibilizar as mulheres jovens indígenas e negras, criando espaços
estratégicos a longo e médio prazo para trabalhar com esses temas junto às jovens.
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Marianela Carvajal Diaz