UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA ORGÂNICA “SÍNTESE DE NOVAS AMIDINAS TRIAZÓLICAS COM POTENCIAIS ATIVIDADES ANTAGONISTAS DO NMDA SUBTIPO NR2B NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL” Luana Monteiro Spíndola Marins Niterói 2006 Luana Monteiro Spíndola Marins “Síntese de Novas Amidinas Triazólicas com Potenciais Atividades Antagonistas do NMDA subtipo NR2B no Sistema Nervoso Central” Orientador: Prof. Dr. Sergio Pinheiro Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química Orgânica da Universidade Federal Fluminense, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Química Orgânica. Niterói 10/03/2006 Esta Dissertação intitulada: “Síntese de Novas Amidinas Triazólicas com Potenciais Antagonistas do NMDA subtipo NR2B no Sistema Nervoso Central” Apresentada por: LUANA MONTEIRO SPÍNDOLA MARINS Foi avaliada pela banca examinadora composta pelos seguintes membros: _________________________________________ Prof. Dr. Sergio Pinheiro – orientador _________________________________________ Profa Dra Alice Maria Rolim Bernardino (GQO-UFF) _________________________________________ Prof. Dr. Ayres Guimarães Dias (Instituto de Química- UERJ) Trabalho realizado no Departamento de Química Orgânica do Instituto de Química da Universidade Federal Fluminense, do sob a orientação do Prof. Dr. Sergio Pinheiro, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). M 399 Marins, Luana Monteiro Spíndola Síntese de novas amidinas triazólicas com potenciais atividades antagonistas do NMDA subtipo NR2B no Sistema Nervoso Central/ Luana Monteiro Spíndola Marins. ___ Niterói – RJ: [s.n], 2006 126 f. Dissertação. ___ (Mestrado em Química Orgânica). ___ Universidade Federal Fluminense, 2006. 1. Doenças neurodegenerativas. 2. Excitotoxicidade. 3. Antagonistas NR2B. 4. Amidinas Triazóicas. I. Título. CDD 616.83 Agradecimentos A minha família: Minha mãe, Maria das Graças da Silva Monteiro; meus irmãos, Christiane e Lívia Monteiro Spíndola Marins e André do Nascimento Figueiredo; Minha madrinha, Maria de Nazaré da Silva Monteiro e meus avós, Maria José da Silva Monteiro (in memorium) e Celso de Souza Monteiro, pela dedicação, amor e carinho e por terem sempre acreditado em mim. À minha segunda família: Claus Henrique Bittencourt Muniz, Thiago Silva Torres e Mônica Hanako Igarashi, por terem me apoiado ao longo destes últimos meses, e por serem amigos maravilhosos. Ao Prof. Dr. Sergio Pinheiro pelos anos de boa convivência e pela confiança. Às amigas Fernanda da Costa Santos e Neide Mara de Menezes Epifanio, pelo companheirismo desde a graduação. Aos amigos Ronaldo Carneiro da Silva Júnior e André Carneiro da Silva pelo companheirismo, pela ajuda neste trabalho e pelos ótimos momentos de descontração. Ao mais novo amigo, Sandro Guimarães, por escutar meus choros e lamentações quando nada parecia dar certo e levantar meu humor todas as vezes que pensava em desistir. Aos amigos do LASA: Florence M.C de Farias, Marcela dos Anjos, Tatiana Lena e Sandra Aparecida pela convivência durante este período. Ao amigo Sandro José Greco, por ter me ensinado muito desde que comecei a dar meus primeiros passos na área de pesquisa. Ao amigo Leandro Ferreira Pedrosa, por todos esses anos de convívio e amizade; e todos os amigos de longa data. Ao Professor Roberto Paes de Carvalho e sua aluna de doutorado Jainne Ferreira pela realização dos testes farmacológicos. A todos do Programa de Pós-graduação em Química Orgânica À Capes pela bolsa concedida. “O que o cérebro faz o tempo todo, dormindo ou acordado, é criar imagens. Luz nada mais é do que radiação eletromagnética. Cores não existem fora de nossa mente. Nem os sons. O som é o produto da relação entre uma vibração externa e o cérebro. Se não existisse cérebro, não haveria som, nem cores, nem luz, nem escuridão...” Rodolfo Llinás Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins ÍNDICE Página Índice de Esquemas ............................................................................................................ i Índice de Figuras ...............................................................................................................ii Índice de Tabelas .............................................................................................................. iv Índice de Espectros............................................................................................................ v Lista de Abreviaturas......................................................................................................vii Resumo ............................................................................................................................viii Abstract ............................................................................................................................. ix 1. Introdução ..................................................................................................................... 1 1.1 O Sistema Nervoso Central .......................................................................................... 1 1.2. Neurotransmissão Central ........................................................................................... 4 1.3 Distúrbios Neurodegenerativos .................................................................................... 6 1.4. Glutamato .................................................................................................................... 9 1.4.1. Metabolismo e Liberação ................................................................................... 10 1.4.2. Ações/ Efeitos Fisiológicos ................................................................................ 10 1.4.3. Receptores Glutamatérgicos............................................................................... 12 1.4.3.1. Receptores Metabotrópicos ......................................................................... 14 1.4.3.2. Receptores Ionotrópicos .............................................................................. 18 1.4.3.2.1. Receptores Não – NMDA .................................................................... 18 1.4.3.2.2. Receptores NMDA ............................................................................... 20 1.5. Antagonistas NMDA ................................................................................................. 24 2. Objetivos e Justificativas ........................................................................................... 31 3. Química de Amidinas ................................................................................................. 35 3.1 Síntese de Amidinas ................................................................................................... 36 4. Metodologia e Estratégia Sintética............................................................................ 43 5. Resultados e Discussão ............................................................................................... 45 5.1. 5.2. 5.3. 5.4. 5.5. 5.6. 5.7. Obtenção do 2-fenil-2H-1,2,3-triazol-4-carbaldeído (1) ...................................... 45 Obtenção da 2-fenil-2H-1,2,3-triazol-4-carbonitrila (5)....................................... 46 Obtenção da (2-fenil-2H-1,2,3-triazol-4 il) metanamina (3)................................ 49 Obtenção da 3-amino-5-trifluormetil-1H-1,2,4-triazol (2)................................... 51 Tentativa de Síntese de Amidinas Triazólicas Via Método de Pinner ................. 52 Obtenção das Amidinas Triazólicas Via Método de Rouselet ............................. 55 Uso de sonicação para obtenção das amidinas ..................................................... 60 i Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 5.8. Avaliação Farmacológica ..................................................................................... 62 6. Conclusões ................................................................................................................... 65 7. Experimentais ............................................................................................................. 68 7.1 Materiais e métodos................................................................................................... 68 7.2. Fenil-D-glicosazona ............................................................................................. 70 7.3. Fenil-D-glicosetriazol........................................................................................... 71 7.4. 2-Fenil-2H-[1,2,3]-triazol-4-carboxaldeído (1).................................................... 72 7.5. 2-Fenil-2H-[1,2,3]-triazol-4-carboxaldeído oxima (4)......................................... 73 7.6. 2-Fenil-2H-[1,2,3]-triazol-4-carbonitrila (5) ........................................................ 74 7.7. C-(2-Fenil-2H-[1,2,3]-triazol-4-il)-metilamina (3) .............................................. 75 7.8. 3-Amino-5-trifluorometil-1H-1,2,4-triazol (2)..................................................... 77 7.9. N-(5-trifluorometil-2H-[1,2,4]-triazol-3-il)-benzamidina (II): via térmica 84 ...... 78 7.10. N-(5-trifluorometil-2H-[1,2,4]-triazol-3-il)-benzamidina (II):via sonicação... 79 7.11. N-benzil-2-fenil-2H-[1,2,3]-4-carboxamidina (III): via térmica 84 .................. 80 7.12. N-benzil-2-fenil-2H-[1,2,3]-4-carboxamidina (III): via sonicação .................. 81 7.13. 2-fenil-N-(5-trifluorometil-2H-[1,2,4]-triazol-3-il)-2H-[1,2,3]-triazol-4carboxamidina (IV): via térmica 84 ................................................................................... 82 7.14. 2-fenil-N-(5-trifluorometil-2H-[1,2,4]-triazol-3-il)-2H-[1,2,3]-triazol-4carboxamidina (IV): via sonicação................................................................................... 83 7.15. Avaliação Farmacológica ................................................................................. 84 8. Referências Bibliográficas ......................................................................................... 85 9. Espectros .......................................................................... Erro! Indicador não definido. ii Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Índice de Esquemas Página Esquema 1. Compostos triazólicos 1 e 2 em sínteses de substânias bioativas ..................... 33 Esquema 2. Amidinas pelo método de Pinner...................................................................... 37 Esquema 3. Amidinas via tioamidatos ................................................................................. 37 Esquema 4. Amidinas a partir de nitrilas: método via CuCl ................................................ 38 Esquema 5. Amidinas a partir de nitrilas: método via amidetos de cloroalumínio .............. 39 Esquema 6. Amidinas a partir de ésteres: método via amideto ............................................ 39 Esquema 7. Amidinas a partir de nitrila e Ln(F3CSO3)3 ...................................................... 39 Esquema 8. Amidinas via redução de amidoximas. ............................................................. 40 Esquema 9. Obtenção de amidinas a partir de oximas. ........................................................ 40 Esquema 10. Amidinas a partir de amidas:métiodo via triflatos de imínio.......................... 41 Esquema 11. Amidinas a partir de amidas: método via fluoroboratos de trietiloxônio. ...... 41 Esquema 12. Amidinas a partir de formamidas.................................................................... 42 Esquema 13. Obtenção de amidinas a partir de β-bromoestireno ........................................ 42 Esquema 14. Retroanálises para as sínteses de I e II............................................................ 43 Esquema 15. Retroanálises para as sínteses de III-V. .......................................................... 44 Esquema 16. Preparação do aldeído 1,2,3-triazólico 1......................................................... 46 Esquema 17. Reatividade dos 2-ariltriazóis 1-óxido ............................................................ 46 Esquema 18. Obtenção da nitrila 5 via N-óxido................................................................... 47 Esquema 19. Estratégia para a preparação da nitrila 5 ......................................................... 47 Esquema 20. Estratégia via método de Pinner para as sínteses das amidinas I e II. ............ 52 Esquema 21. O mecanismo de formação de imidatos. ......................................................... 53 Esquema 22. Perspectivas para as sínteses de I e V. ............................................................ 66 Esquema 23. Perspectivas para as sínteses de VI e VII........................................................ 66 i Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Índice de Figuras Página Figura 1. Divisão Anatômica do Sistema Nervoso ................................................................ 2 Figura 2. Mapa Funcional do Cérebro4 .................................................................................. 2 Figura 3. Alguns dos Principais Neurotransmissores............................................................. 6 Figura 4. Conformações do L-Glu e seus respectivos agonistas .......................................... 12 Figura 5. Receptores glutamatérgicos e suas respectivas subunidades 23............................. 13 Figura 6. Estrutura dos receptores metabotrópicos do glutamato ........................................ 15 Figura 7 Modelo de ação de receptores acoplados a proteina G. ......................................... 17 Figura 8. Distribuição dos receptores mGLU e seus respectivos eventos moleculares ....... 17 Figura 9. Agonistas não-NMDA .......................................................................................... 19 Figura 10. Mecanismo intracelular pelo qual NMDAR medeia neuroplasticidade e apoptose................................................................................................................................ 21 Figura 11. Receptor NMDA fisiológico............................................................................... 22 Figura 12. Sítios moduladores do receptor NMDA.............................................................. 23 Figura 13. Receptores ionotrópicos não-seletivos................................................................ 25 Figura 14. Ifenprodil, primeiro antagonista seletivo NR1/NR2B ........................................ 26 Figura 15. Antagonistas Seletivos NR2B: protótipos e segunda geração. ........................... 27 Figura 16. Modelo Farmacofórico para os antagonistas NR2B ........................................... 28 Figura 17. Classes diversas de antagonistas NMDA/NR2B subunidade seletiva ................ 28 Figura 18. Cinamamidinas: novos protótipos de antagonistas seletivos para NR2B. .......... 29 Figura 19. Aril-amidinas: novos protótipos de antagonistas seletivos para NR2B .............. 30 Figura 20. Classificação de amidinas ................................................................................... 35 Figura 21. Formas tautoméricas das amidinas...................................................................... 35 Figura 22. Efeito das amidinas II e III na toxicidade neuronal induzida por glutamato em culturas de células embrionárias de retina de pinto.............................................................. 64 ii Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Esquema 1. Compostos triazólicos 1 e 2 em sínteses de substânias bioativas ..................... 33 Esquema 2. Amidinas pelo método de Pinner...................................................................... 37 Esquema 3. Amidinas via tioamidatos ................................................................................. 37 Esquema 4. Amidinas a partir de nitrilas: método via CuCl ................................................ 38 Esquema 5. Amidinas a partir de nitrilas: método via amidetos de cloroalumínio .............. 39 Esquema 6. Amidinas a partir de ésteres: método via amideto ............................................ 39 Esquema 7. Amidinas a partir de nitrila e Ln(F3CSO3)3 ...................................................... 39 Esquema 8. Amidinas via redução de amidoximas. ............................................................. 40 Esquema 9. Obtenção de amidinas a partir de oximas. ........................................................ 40 Esquema 10. Amidinas a partir de amidas:métiodo via triflatos de imínio.......................... 41 Esquema 11. Amidinas a partir de amidas: método via fluoroboratos de trietiloxônio. ...... 41 Esquema 12. Amidinas a partir de formamidas.................................................................... 42 Esquema 13. Obtenção de amidinas a partir de β-bromoestireno ........................................ 42 Esquema 14. Retroanálises para as sínteses de I e II............................................................ 43 Esquema 15. Retroanálises para as sínteses de III-V. .......................................................... 44 Esquema 16. Preparação do aldeído 1,2,3-triazólico 1......................................................... 46 Esquema 17. Reatividade dos 2-ariltriazóis 1-óxido ............................................................ 46 Esquema 18. Obtenção da nitrila 5 via N-óxido................................................................... 47 Esquema 19. Estratégia para a preparação da nitrila 5 ......................................................... 47 Esquema 20. Estratégia via método de Pinner para as sínteses das amidinas I e II. ............ 52 Esquema 21. O mecanismo de formação de imidatos. ......................................................... 53 Esquema 22. Perspectivas para as sínteses de I e V. ............................................................ 66 Esquema 23. Perspectivas para as sínteses de VI e VII........................................................ 66 iii Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Índice de Tabelas Tabela 1. Assinalamentos propostos para oxima 4............................................................... 48 Tabela 2. Assinalamentos propostos para amina 3............................................................... 50 Tabela 3. Assinalamentos para a amidina II......................................................................... 57 Tabela 4. Assinalamentos propostos para a amidina III...................................................... 59 Tabela 5. Efeito das amidinas II e III na toxicidade neuronal induzida por glutamato em culturas de células embrionárias de retina de pinto.............................................................. 63 Tabela 6. Vias térmica e sonicação nas sínteses das amidinas II-IV.................................... 65 iv Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Índice de Espectros Página Espectro 1. Espectro de I.V (Pastilha) do aldeído triazólico 1. ...................................... 91 Espectro 2. Espectro de 1H RMN (300 MHz;CDCl3; ppm) do aldeído triazólico 1. ..... 92 Espectro 3. Espectro de I.V (Pastilha) da oxima 4. ........................................................ 93 Espectro 4. Espectro de 1H RMN (300 MHz;CDCl3; ppm) da oxima 4. ....................... 94 Espectro 5. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz;CDCl3; ppm) da oxima 4. ........... 95 Espectro 6. 13C RMN (75 MHz; CDCl3; ppm) da oxima 4. ........................................... 96 Espectro 7. 13C RMN-HETCOR (75 MHz; CDCl3; ppm) da oxima 4........................... 97 Espectro 8. Espectro de I.V (Pastilha) da nitrila 5.......................................................... 98 Espectro 9. Espectro de 1H RMN (300 MHz; CDCl3; ppm) da nitrila 5........................ 99 Espectro 10. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz; CDCl3; ppm) da nitrila 5........ 100 Espectro 11. Espectro de I.V (filme) da amina 3.......................................................... 101 Espectro 12. Espectro de 1H RMN (300 MHz;CDCl3; ppm) da amina 3..................... 102 Espectro 13. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz;CDCl3; ppm) da amina 3......... 103 Espectro 14. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz;CDCl3; ppm) da amina 3Expansão....................................................................................................................... 104 Espectro 15. Espectro de 13C RMN (CDCl3; ppm) da amina 3.................................... 105 Espectro 16. Espectro de I.V (pastilha) da amina 2...................................................... 106 Espectro 17. Espectro de 1H RMN (300 MHz; CD3COCD3; ppm) da amina 2. .......... 107 Espectro 18. Espectro de I.V (Pastilha) da amidina II.................................................. 108 Espectro 19. Espectro de 1H RMN (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina II. ......... 109 Espectro 20. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina II. ...................................................................................................................................... 110 Espectro 21. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina II – Expansão....................................................................................................................... 111 Espectro 22. Espectro de 13C RMN (75300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina II. .... 112 Espectro 23. Espectro de 13C RMN (75 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina II. .......... 113 Espectro 24. Espectro de I.V (Pastilha) da amidina III. ............................................... 114 Espectro 25. Espectro de 1H RMN (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina III. ........ 115 vi Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 26. Espectro de 1H RMN (300 MHz; DMSO-d6 + 10 gotas de D2O; ppm) da amidina III. ................................................................................................................... 116 Espectro 27. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina III. ...................................................................................................................................... 117 Espectro 28. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina III – Expansão....................................................................................................................... 118 Espectro 32. Espectro de 13C RMN (75 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina III .......... 119 Espectro 29. 13C RMN-HETCOR (75 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina III. ........... 120 Espectro 30. 13C RMN-HETCOR (75 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina III – Expansão 1. ................................................................................................................................... 121 Espectro 31. 13C RMN-HETCOR (75 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina III – Expansão 2. ................................................................................................................................... 122 Espectro 33. Espectro de I.V (Pastilha) da amidina IV. ............................................... 123 Espectro 34. Espectro de 1H RMN (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina IV ......... 124 Espectro 35. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina IV. ...................................................................................................................................... 125 Espectro 36. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina IV – Expansão....................................................................................................................... 126 vii Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Lista de Abreviaturas AIDS Síndrome da imunodeficiência adquirida EAA Aminoácidos excitatórios ED50 Dose efetiva média (dose farmacologicamente ativa em 50% da população exposta) GABA Ácido gama-aminobutírico HSV I vírus da herpes simplex IV Infravermelho IC50 Concentração média inibitória (concentração da droga capaz de inibir 50% dos receptores) iGluRs Receptores glutamatérgicos ionotrópicos J Constante de acoplamento KA Ácido caínico ki Concentração capaz de ocupar 50% dos sítios do receptor L-Glu Glutamato ou ácido (S)-L-Glutâmico Lit. Literatura LTD Depressão de longa duração LTP Potencialização de longa duração mGluRs Receptores glutamatérgicos metabotrópicos NMDA N-metil-D-aspartato NMDAR Receptor glutamatérgico NMDA NR Subunidade Protéica do Receptor NMDA ppm Parte por milhão RMN Ressonância Magnética Nuclear SAR Relação estrutura-atividade SNC Sistema Nervoso Central TCID Dose infecciosa para cultura de tecidos TMS Tetrametilsilano vii Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Resumo Neste trabalho foram sintetizadas três novas amidinas portadoras dos sistemas 1,2,3e 1,2,4-triazol com potenciais atividades antagonistas do NMDA subtipo NR2B no sistema nervoso central: N-(5-trifluorometil-2H-[1,2,4]-triazol-3-il)-benzamidina (II), N-benzil-2fenil-2H-[1,2,3]-4-carboxamidina (III) e 2-fenil-N-(5-trifluorometil-2H-[1,2,4]-triazol-3il)-2H-[1,2,3]-triazol-4-carboxamidina (IV). Enquanto a amidina II foi preparada a partir da reação entre a benzonitrila e o 3amino-5-trifluorometil-1H-1,2,4-triazol (2) promovida por CuCl a 80oC, as amidinas III e IV foram obtidas a partir das reações entre a 2-fenil-2H-[1,2,3]-triazol-4-carbonitrila (5) e a benzilamina e a amina 2, respectivamente. Quando as preparações de II, III e IV foram efetuadas empregando-se sonicação, observou-se uma redução considerável do tempo reacional sem prejuízo dos rendimentos químicos. Os ensaios farmacológicos preliminares indicaram que as amidinas triazólicas II e III possuem efeito neuroprotetor por pré-condicionamento. As amidinas II e III não apresentaram efeito neurotóxico quando incubadas em culturas purificadas de neurônios e fotorreceptores de embrião de pinto, mostrando-se efetivas na redução da excitotoxicidade mediada pelo glutamato. Culturas pré-tratadas com a amidina II tiveram um aumento da sobrevida neuronal em 48% quando comparadas a culturas expostas apenas ao glutamato, enquanto que o pré-condicionamento com a amidina III levou a um aumento da sobrevida neuronal em 60%. viii Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Abstract Three novel amidines containing the 1,2,3- and 1,2,4-triazole moiety with potential NMDA/ NR2B antagonist activities in the central nervous system were synthesized: N-(5trifluormethyl-2H-[1,2,4]-triazole-3-yl)-benzamidine (II), N-benzyl-2-phenyl-2H-[1,2,3]-4carboxamidine (III) and 2-phenyl-N-(5-trifluormethyl-2H-[1,2,4]-triazole-3-yl)-2H-[1,2,3]triazole-4-carboxamidine (IV). While amidine II has been prepared from reaction of benzonitrile and 3-amino-5trifluormethyl-1H-1,2,4-triazole (2) promoted by CuCl at 80oC, the compounds III and IV were prepared from reactions of the 2-phenyl-2H-[1,2,3]-triazole-4-carbonitrile (5) with the appropriate amines, namely benzylamine or amine 2, respectively. In the syntheses II, III and IV carried out by sonication, faster reactions were obtained without loose of chemical yield. Biological activity of the prepared compounds was measured in purified cultures of retinal neurons and photoreceptors. Initial experiments showed that amidines II and III have neuroprotective effects without themselves inducing neurotoxicity. Pretreatment of cultures with amidines II and III inhibited the cell death induced by glutamate: neurotoxicity was reduced by 48 or 60% when amidine II or amidine III, respectively, was present during glutamate exposure. ix Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 1. Introdução 1.1 O Sistema Nervoso Central O sistema nervoso, juntamente com o sistema endócrino, capacita o organismo a perceber as variações do meio, a difundir as modificações que essas variações produzem e a executar as respostas adequadas para que seja mantido o equilíbrio interno do corpo (homeostase). Enquanto o sistema endócrino controla as diversas funções do organismo principalmente interferindo no metabolismo; o sistema nervoso produz e regula todos os aspectos das funções do corpo humano, exercendo controle sobre quase todas as atividades ou eventos que ocorrem a cada momento no organismo, possuindo uma complexidade infinita (Figura 1).1 A habilidade de nosso Sistema Nervoso aprender, mudar e responder ao meio-ambiente reflete a capacidade essencial dos neurônios modificarem dinamicamente as intensidades de suas conexões.2 Bilhões de neurônios agrupados para diferentes funções checam, constantemente, o meio interno da nossa anatomia e o universo exterior: luz, tato, pressão, som, equilíbrio, imagens, concentrações de muitas substâncias, dor, emoção, consciência. Grupos de neurônios interagem e transmitem a informação resultante a outros grupos para que ela seja processada e armazenada. Mediante o mesmo processo, outros neurônios regulam a contração dos músculos e a secreção das glândulas endócrinas e exócrinas. O cérebro, o centro de controle que armazena, computa, integra e transmite a informação, contém ao redor de 1011 neurônios e cada um deles forma conexões, chamadas sinapses, com até duzentos mil (200.000) outros neurônios.3 Por ser um órgão de enormes variações e classificações anatômicas, até hoje existe uma grande dificuldade de compreensão fisiológica e farmacológica do mesmo. Na Figura 2 é representado um mapa Kufller S.W.; Nicholls J.G.; Martin A.R. From neuron to brain, 2nd Ed.; Sinauer: Massachussets, 1984. Luján, R.; Shigemoto, R.; Lopez-Bendito, G. Neuroscience, 2005, 130, 567. 3 Lent, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais; Ed. Ateneu: Rio de Janeiro, 2001. 1 2 1 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins funcional do cérebro4 e, se levarmos em conta as funções desempenhadas por este órgão, podemos dizer que o Sistema Nervoso Central (SNC) é a parte do organismo de maior importância.5 Figura 1. Divisão Anatômica do Sistema Nervoso Figura 2. Mapa Funcional do Cérebro Da mesma forma, fármacos que atuam sobre o SNC têm valor terapêutico inestimável no cotidiano das pessoas, podendo produzir efeitos tanto fisiológicos quanto 4 5 www.psicossomatica-sp.org.br acessado em 10/06/2004. Planeta, C.S. & Lucia, R. de. Farmacologia Integrada; Ed. Ateneu: Rio de Janeiro, 1991. 2 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins psicológicos tais como o alívio da dor ou febre e a redução das crises epilépticas. No domínio do humor e do comportamento, estes fármacos podem, por exemplo, agir no alívio do stress e ansiedade exacerbada, reduzir os sintomas de distúrbios mentais como a esquizofrenia, a depressão endógena e a mania. Por outro lado, o uso de fármacos que afetam o SNC sem prescrição médica ou finalidade terapêutica é amplamente praticado podendo afetar desfavoravelmente a vida das pessoas, quando seu uso leva à dependência ou a eventos adversos graves como, por exemplo, a superdosagem letal. Além disso, a escalada no consumo de substâncias de abuso tem gerado vários problemas sociais e econômicos em todo mundo.6 As doenças que envolvem o SNC são numerosas e muitas não têm explicações fisiopatológicas, de modo que as intervenções farmacológicas ainda representam um desafio para o profissional da área médica. Desta forma, a qualidade das substâncias que afetam o SNC e o comportamento coloca os pesquisadores frente a um extraordinário desafio cientifico: a tentativa de entender as bases moleculares e celulares das funções enormemente complexas e variadas do cérebro humano. Neste sentido, os farmacologistas têm dois objetivos: utilizar fármacos na tentativa de elucidar os mecanismos que operam no SNC normal e desenvolver novas substâncias apropriadas para corrigir efeitos fisiopatológicos no SNC anormal. 6 Embora o conhecimento da anatomia, da fisiologia e da química do SNC esteja longe de ser completo, a aceleração das pesquisas interdisciplinares sobre o SNC tem levado a um progresso notável. Nos últimos anos, em especial na denominada “década do cérebro” (1990´s), o desenvolvimento de diferentes estratégias tais como comportamental, eletrofisiológica, neuroquímica e clínica produziram mudanças conceituais importantes no conhecimento dos fármacos que atuam no SNC. Os avanços na elucidação dos mecanismos de ação de fármacos forneceram meios para o desenvolvimento de novas substâncias mais potentes e agentes terapêuticos mais seletivos com poucos efeitos adversos, como também uma maior compreensão dos mecanismos moleculares da própria função neuronal. 6 6 Goodman & Gilman. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 9ª Ed.; McGraw-Hill: New York, 1996. 3 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Sabe-se atualmente que a maioria dos fármacos que afeta o SNC atua alterando alguma etapa do processo de neurotransmissão, de modo que as ações destas substâncias podem ser relacionadas com eventos sinápticos deste processo: enquanto alguns fármacos agem de modo pré-sináptico, influenciando a produção, o armazenamento ou o término da ação do neurotransmissor; outros podem ativar ou bloquear os receptores pós-sinápticos. 1.2. Neurotransmissão Central Como visto anteriormente, o cérebro pode ser considerado como uma coleção de sistemas neurais inter-relacionados que se auto e inter-regulam de forma dinâmica e complexa. Desta forma, ao examinarmos os efeitos das drogas no SNC devemos dedicar atenção especial aos princípios de organização dos neurônios. Os neurônios apresentam características bioquímicas semelhantes às de outras células vivas, além de atividades específicas como a de transmitir impulsos nervosos. Para tanto, eles necessitam manter um gradiente iônico como também sintetizar e liberar substâncias químicas conhecidas como neurotransmissores. Deste modo, cada neurônio, em condições fisiológicas, sintetiza um determinado neurotransmissor que será liberado em seus terminais. Nas sinapses, regiões microscópicas entre o terminal de um neurônio e a superfície receptora de outro, a chegada de um impulso nervoso causa rápida liberação dos neurotransmissores. Estas moléculas se difundem através da fenda sináptica e agem em receptores específicos na membrana pós-sináptica alterando a atividade elétrica do neurônio receptor. Cada sinapse funciona independentemente e apresenta um padrão de atividade dinâmico, onde suas propriedades podem se modificar ao longo do tempo, em resposta a estes estímulos ambientais. A essas modificações dá-se o nome de Plasticidade Sináptica.7 Além disso, diversas modificações na eficácia da transmissão sináptica são mediadas pelos receptores dos neurotransmissores. 2, 6 7 Bliss, T.V.P. & Collingridge, G.L. Nature 1993, 361, 31. 4 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Os neurotransmissores centrais formam um sistema múltiplo e complexo, alguns desempenhando funções facilitatórias (neurotransmissores excitatórios) enquanto outros desempenham funções inibitórias (neurotransmissores inibitórios), dependendo da natureza do efeito que provoquem. A estimulação de neurônios inibitórios provoca uma hiperpolarização da membrana pós-sináptica, denominado de “potencial inibitório póssináptico” (PPSI), enquanto que a ativação de neurônios excitatórios provoca a despolarização da membrana denominada” potencial estimulatório pós-sináptico” (PPSE). Os neurotransmissores não estão distribuídos aleatoriamente no cérebro, mas, ao contrário, estão localizados em estruturas específicas. A superposição desses diferentes sistemas neuronais em um circuito neuronal mais amplo, dá ao SNC uma incrível dimensão de modulação e especificidade2, 4, 6 Existem, na grande maioria dos neurônios, sinapses inibitórias e excitatórias, de modo que os neutrotransmissores inibitórios e excitatórios interagem modulando as funções nervosas de uma maneira balanceada. Desta forma, o resultado das duas influências determinará se o neurônio aumentará ou diminuirá sua velocidade de disparo, ou mesmo se gerará um potencial de ação. Com isto, o efeito geral resultante deve-se a soma dos efeitos individuais dos vários neurotransmissores sobre o neurônio. Conseqüentemente, qualquer manipulação que afete um ou mais componentes destes sistemas, modifica este balanço que se manifesta através de alterações na função do SNC.5 Aproximadamente 30 substâncias diferentes são conhecidas ou suspeitas de serem neurotransmisssores (Figura 3). Os principais neurotransmissores cuja distribuição e função em algumas áreas do SNC estão bem definidas são: acetilcolina, monaminas (dopamina, noradrenalina, serotonina e histamina), aminoácidos inibitórios (ácido gamaaminobutírico, GABA, e glicina), aminoácidos excitatórios (ácidos L-glutâmico e Laspártico) e neuropeptídeos. 5 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins OH O N + O N Acetilcolina HO2C N H Histamina NH2 H2N Glicina NH2 H2N CO2H GABA N H Serotonina NH2 HO2C CO2H Ácido L-Glutâmico (Glutamato) HO NH2 HO Dopamina OH HO HO NH2 Noradrenalina Figura 3. Alguns dos Principais Neurotransmissores 1.3 Distúrbios Neurodegenerativos Com poucas exceções, os neurônios são incapazes de se dividir ou sofrer regeneração quando seus axônios são interrompidos. Por conseguinte, qualquer processo patológico passível de provocar perda neuronal geralmente causa conseqüências irreversíveis.8 Isto pode ser exemplificado pela comparação do cérebro de um indivíduo de cem anos de idade com o cérebro de um adulto de aproximadamente cinqüenta anos acometido pelo Mal de Alzheimer, como mostrado a seguir. Indivíduo de 100 anos 8 Indivíduo com Mal de Alzheimer Rang, H.P.; Dale, M.M.; Ritter, J.M.; Moore, P.K.; Farmacologia, 5a Ed.: Elsevier, 2003. 6 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Os distúrbios neurodegenerativos são caracterizadas pela perda neuronal de forma progressiva e irreversível. Entre as doenças neurodegenerativas mais comuns estão a doença de Alzheimer, na qual a perda de neurônios hipocampais e corticais leva a perda de memória e das habilidades cognitivas; doença de Parkinson e doença de Huntington, onde a perda de neurônios de estruturas dos gânglios da base levam a perda do controle dos movimentos, e esclerose lateral amiotrófica (ELA), onde a fraqueza muscular resulta da degeneração espinhal, bulbar e de neurônios corticais motores.5 À primeira vista, esta área não parece ser adequada para a intervenção farmacológica e, com efeito, a terapia farmacológica tem atualmente muito pouco a oferecer, exceto, no caso da doença de Parkinson. Entretanto, o fato das doenças neurodegenerativas serem relativamente comuns em população de idade avançada (a Doença de Parkinson é observada em cerca de 1% em indivíduos acima de 65 anos, enquanto Doença de Alzheimer em 10% dessa população) levou a um trabalho intenso de pesquisa nos últimos anos o que poderá ser traduzido em avanços terapêuticos em um futuro não muito distante.8 Estudos recentes levaram a suposição de que um grande número de distúrbios neuropsiquiátricos, que vão desde o retardo mental à esquizofrenia, pode ser visto como interações de influências genéticas e ambientais com as características fisiológicas intrínsecas (como estresse oxidativo e produção tóxica de radicais livres) de uma população afetada de neurônios. Sabe-se que os fatores genéticos acometem o cérebro imaturo em estágios críticos do desenvolvimento. Com relação aos fatores ambientais, um grande empenho tem sido feito a fim de se elucidar os mecanismos pelos quais os mesmos podem alterar o desenvolvimento do cérebro, levando a distúrbios neurocomportamentais que podem ser expressos tanto na infância quanto na idade adulta.9, 10, 11 Olney, J.W.; Farber, N. V. Neuropsychopharmacology 1995, 13, 335. Olney, J.W. NeuroToxicology 2002, 23, 659. 11 Rajendra, W.; Armugama, A.; Jeyaseelana, K. Brain Research Rev. 2004, 45, 125. 9 10 7 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins No inicio da década de 70 duas novas palavras, apoptose e excitotoxicidade, foram introduzidas por dois diferentes grupos de pesquisa que estudavam os vários processos de morte celular. 9, 12 Em 1972, Kerr introduziu o termo apoptose para se referir ao processo de morte de células que possuíam características morfológicas específicas e ocorriam em uma variedade de diferentes circunstâncias, todas com programação celular. Subseqüentemente, estes autores, baseados em critérios ultraestruturais, propuseram que toda morte celular se ajustaria a duas categorias as quais foram nomeadas “apoptose” e “necrose”.12 Em 1971, Olney introduziu o termo excitotoxicidade para se referir a um processo agudo pelo qual o neurotransmissor endógeno glutamato leva a morte celular no SNC tanto de roedores quanto de primatas.9 Como será mostrado mais adiante, em concentrações normais o glutamato é crucial para as funções cerebrais como aprendizado e memória. Por outro lado, em altas concentrações, o aumento da atividade celular causada pelo glutamato resulta em superexcitação das células nervosas, o que eventualmente pode levar a morte celular. Quando o glutamato causa danos celulares ele se torna uma excitotoxina e a teoria segundo a qual o glutamato causa danos celulares é denominada Teoria Excitatória.9 A excitotoxicidade é um mecanismo crítico que contribui para neurodegeneração durante isquemia e hipóxia. Atualmente acredita-se que um amplo número de doenças neurodegenerativas agudas como Alzheimer, Parkinson e Huntington, esclerose lateral amiotrópica e dementia decorrente da AIDS são causadas, no mínimo em parte, pela ação excitatória do glutamato. Existem evidências crescentes de que durante qualquer tipo de insulto cerebral, com exceção do dano neuronal direto, provavelmente ocorra uma mudança no sistema glutamatérgico (liberação e recaptação) o que deve ocasionar o aumento da sensibilidade neuronal a estímulos fisiológicos prévios levando a danos neuronais secundários. Do mesmo modo, até mesmo a perda típica da memória, confusão e a suave deteriorização que freqüentemente ocorre em idades avançadas devem ser causada pela 12 Kerr J.F.R.; Wyllie A.H.; Currie A.R. Brit. J. Cancer 1972, 26, 239. 8 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins excitotoxidade dos aminoácidos excitatórios (EAA). Da mesma forma, doenças agudas e condições clínicas como danos cerebrais causados por derrame, isquemia cerebral (redução do fluxo sanguíneo), hipóxia/ anóxia (exposição a CO2 / CN-, ou afogamento), traumatismo craniano, choque hipoglicêmico, além de síndrome de abstinência, dor de cabeça, crises epiléticas prolongadas são causadas também em parte pela excitotoxicidade mediada pelo glutamato/ aspartato. Com isto, pesquisas têm sido cada vez mais focalizadas nos meios de se combatar a excitotoxicidade.11, 13, 14 Os principais eventos da cascata desencadeada pelo aumento das concentrações de EAA incluem superestimulação dos receptores glutamatérgicos do tipo NMDA (os quais serão vistos detalhadamente na seção 1.4.3.2), influxo de cálcio para o meio intracelular, ativação de uma série de enzimas sensíveis ao cálcio como N-óxido sintetase (NOS), produção de espécies reativas de oxigênio, destruição de mitocôndrias e subseqüente apoptose ou necrose.13 1.4. Glutamato Dos aminoácidos excitatórios, o ácido (S)-L-Glutâmico ou L-Glutamato (L-Glu) é considerado como o principal neurotransmissor excitatório no SNC de mamíferos. Os aminoácidos excitatórios (EAA) desempenham um papel fundamental em um grande número de processos fisiológicos dentre as quais se destacam memória e aprendizado, regulação neuroendócrina, controle motor e migração neuronal no cérebro em desenvolvimento. Além disso, estão envolvidos com disfunção neuronal tanto aguda quanto crônica, como epilepsia, esquizofrenia, isquemia, entre outras.15, 16 Parsons,C.G.; Danysz, W.; Quack G. Drug News Perspect. 1998, 11, 523. Loftis, J. M.; Janowsky, A. Pharmacology & Therapeutics 2003, 97, 55. 15 Tristr D.G. Pharmaceutica Acta 2000, 74, 221. 16 Moloney, G.M. Nat. Prod. Rep. 1998, 205. 13 14 9 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins NH2 HO2C CO2H Ácido (S)-L-Glutâmico (L-Glu ou Glutamato) 1.4.1. Metabolismo e Liberação O glutamato tem uma distribuição ampla e bastante uniforme no SNC, onde sua concentração é muito maior que a observada em outros tecidos. O glutamato nos neurônios do SNC provém principalmente da glicose, através do ciclo de Krebs, ou da glutamina, que é sintetizada por células gliais e captada por neurônios. De modo semelhante a outros transmissores, o glutamato é armazenado em vesículas sinápticas e liberado por exocitose cálcio-dependente.8 A ação do glutamato é interrompida principalmente pela sua captação mediada por transportador nas terminações nervosas e nas células vizinhas da glia. Em algumas circunstâncias como, por exemplo, despolarização por aumento de potássio intracelular, esse transporte pode funcionar de modo inverso, constituindo uma fonte de liberação de glutamato, processo este que pode ocorrer em condições patológicas.8 1.4.2. Ações/ Efeitos Fisiológicos Os níveis neuronais de L-Glu são altos (10 mM) e constantes. Estão envolvidos em vários processos bioquímicos, tais como o metabolismo energético, a síntese de ácidos graxos, a regulação dos níveis de amônia, a composição de proteínas e peptídeos.17 Além disso, o L-Glu pode ser encontrado em vesículas sinápticas com liberação Ca2+ dependente ou como precursor do ácido gama aminobutírico (GABA) em sinapses inibitórias. Teichberg V.I. Amino Acid Receptors. In: Schulster D., Levitzki A., Eds. Celular receptors for hormones and neurotransmitters; New York: Willey, 1980. 17 10 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins O L-Glu participa da plasticidade sináptica produzindo mudanças de longa duração na excitabilidade neuronal como a potencialização de longa duração, LTP (“long-term potentiation”), da transmissão sináptica nos neurônios do hipocampo e córtex visual e depressão de longa duração, LTD (“long-term depression”) no cerebelo e córtex visual, que são fenômenos caracterizados por aumento ou redução na eficácia da comunicação sináptica, respectivamente sendo os principais correlatos moleculares dos processos de aprendizado e memória.8, 7, 18, 19 Outras demonstrações das ações do L-Glu nos neurônios incluem os efeitos produzidos no desenvolvimento neuronal a partir da ativação dos receptores para aminoácidos excitatórios.20 O L-Glu é o maior estimulante quimiotático durante o desenvolvimento neuronal e sinaptogênese. A ativação dos receptores EAA diminui seletivamente a síntese de DNA e a divisão celular nas células progenitoras neuronais da zona ventricular do córtex cerebral embrionário. O L-Glu é também um dos estimuladores para o início da migração no desenvolvimento do córtex cerebelar, modulação do crescimento axonal e sobrevivência da formação sináptica de alguns neurônios em cultura. A importância do L-Glu como mediador de eventos neuropáticos foi demonstrada ao mesmo tempo em que sua atividade como um neurotransmissor excitatório no SNC foi estabelecida.8, 21 Como visto anteriormente, após estudos iniciais, ficou bastante claro que este neurotransmissor fazia parte das etapas que levavam a neurodegeneração em uma variedade de doenças incluindo isquemia, danos neuronais hiperglicêmicos, neuropatologia, estados inflamatórios e neurodegenerativos associados à infecção viral no SNC, neurodegeneração crônica associada ao mal de Alzheimer, Hunting e esclerose lateral amiotrópica. Todos os efeitos produzidos pela ação do L-Glu são decorrentes das alterações de longa duração na função e na estrutura neuronal, trazidas tanto pela ativação persistente ou inibição dos receptores do glutamato. Estas alterações que se iniciam pela ativação da Mcnaughton B.L.; Douglas R. M. & Goddart G.V. Brain Res , 1978, 15: 277. Levy W.B. & Steward O. Brain Res 1979, 175: 233. 20 LoTurco, J. J., Owens; D. F.; Heath, M. J., Davis, M. B. & Krisegstein, A. R. Neuron. 1995, 15, 1287. 21 Michaelis, E. K. Progr. Neurobiol., 1998, 54, 369. 18 19 11 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins superfície dos receptores para EAA, gerando mudanças na atividade metabólica, expressão gênica e síntese protéica nos neurônios. 1.4.3. Receptores Glutamatérgicos O Glutamato é uma molécula altamente flexível. Em 1974, Johnstons e colaboradores propuseram que o L-Glu deveria existir em solução sob, pelo menos, duas diferentes conformações (Figura 4): uma é denominada conformação extendida ou linear (“extended conformation”) e outra conformação dobrada ou pregueada (“folded conformation”) e, conseqüentemente, deveria haver, no mínimo, dois tipos de receptores glutamatérgicos com diferentes sítios de reconhecimento.22 Estes autores também propuseram que o ácido caínico (KA), um análogo da conformação pregueada, deveria atuar em receptores diferentes daqueles em que um análogo da conformação extendida, como o N-metil-D-aspartato (NMDA), atuaria. A idéia inicial de Johnstons foi fortalecelida pelo o uso de vários outros análogos do L-Glu e D-aspartato, sendo estendida posteriormente para definir os subtipos de receptores para EAA de maior importância. NH2 HO2C HO2C CO2H L-Glu: conformação linear CO2H L-Glu: conformação pregueada CO2H CO2H NHCH3 HO2C NH2 CO2H NH NMDA KA Figura 4. Conformações do L-Glu e seus respectivos agonistas Nos últimos anos, avanços na biologia molecular dos receptores glutamatérgicos, revelaram a grande complexidade de suas estruturas protéicas.21 Vinte e oito genes estão agora claramente identificados para as subunidades especificas destes receptores e outras 22 Curtis, D. R. & Johnston, G. A.R. Nature, 1974, 248, 804. 12 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins cinco proteínas agem igualmente como subunidades do receptor ou estão associadas aos receptores. 21 Os receptores glutamatérgicos podem ser divididos em duas classes gerais (Figura 5): aqueles que formam canais iônicos ou ionotrópicos (iGluRs) e aqueles ligados à proteína G ou metabotrópicos (mGluRs).11, 15, 23 Ambas as classes de receptores podem ativar cascatas que determinam a sobrevivência ou a morte celular. Esta dicotomia parece resultar da diferença de duração e magnitude da ação e os subseqüentes níveis de cálcio intracelular. A ativação dos receptores metabotrópicos causa a mobilização de cálcio dos seus estoques internos enquanto a ativação dos receptores ionotrópicos leva a permeabilidades aos íons sódio, potássio e/ou cálcio.11, 23, 24 Figura 5. Receptores glutamatérgicos e suas respectivas subunidades Tanto os receptores iGlu quanto os mGlu podem ser subdivididos com base na homologia estrutural, especificidade de agonistas e inibição por antagonistas específicos. A caracterização farmacológica e fisiológica destes receptores levou a definição de três subtipos de receptores ionotrópicos, KA, AMPA e NMDA, e três grupos de receptores metabotrópicos (mGlu1-3).15 23 24 Carobrez, A. P. Rev. Bras. Psiq. 2003, 25 (Supl II), 52. Lu, J.; Goula, D.; Sousa, A. N.; &. Almeida, O.F. X. Neuroscience 2003, 121, 123. 13 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins A grande diversidade das montagens macromoleculares que vão resultar na formação de várias combinações destas subunidades protéicas é o resultado do desenvolvimento evolutivo que ofereceu aos neurônios a vantagem de receber sinais extracelulares e traduzi-los em mensagens intracelulares. Por outro lado, esta abundância leva a uma grande dificuldade na elucidação dos processos através dos quais cada neurônio recebe os sinais do L-Glu no SNC. A complexidade de proteínas é ainda incrementada pela variedade de cascatas de transdução intracelular que serão iniciadas pela ativação da superfície dos receptores. Essas cascatas incluem, por exemplo, a ativação ou inibição de enzimas, a liberação ou a inibição da liberação de mensageiros intracelulares como inusitol1,4,5-trifosfato (IP3), Ca 2+ , espécies reativas de oxigênio (ROS), espécies reativas de nitrogênio (RNS), AMP cíclico, ou a formação e liberação de mensageiros transcelulares como óxido nítrico (NO) e ácido aracdônico.21 As etapas de transdução intracelular ou intercelular ativadas pela ação do L-Glu nos receptores de EAA eventualmente levam a eventos igualmente complexos na regulação de genes, como a transcrição de fatores que alteram a expressão de proteínas neuronais. A ativação de ambas as espécies de receptores e a liberação de segundos mensageiros são importantes alvos terapêuticos. Assim, a necessidade da busca por uma intervenção farmacológica altamente seletiva é tão clara quanto a importância dos receptores de EAA na saúde e nas desordens neuronais. 1.4.3.1. Receptores Metabotrópicos Os receptores metabotrópicos foram descobertos em 1985.25 Eles possuem propriedades farmacológicas únicas e alto grau de variabilidade nos eventos de transdução do impulso nervoso. Estes receptores controlam a atividade de enzimas membranares e canais iônicos e diferem dos receptores ionotrópicos, tanto estrutural quanto funcionalmente, consistindo em uma única cadeia polipeptídica que apresenta sete 25 Sladeczek, F., Pin, J. P., Recasens, M., Bockaert, J. & Weiss ,S. Nature 1985, 317, 717. 14 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins domínios transmembranares (Figura 6).26, 27 Ao contrário dos receptores ionotrópicos, muito pouco se conhece a respeito das funções dos receptores metabotrópicos na transmissão sináptica, LTP, aprendizado e desenvolvimento.28 Figura 6. Estrutura dos receptores metabotrópicos do glutamato Conforme mostrado na Figura 5 (vide página 13), os receptores metabotrópicos compreendem uma família de no mínimo oito receptores, mGlu1–mGlu8, acoplados a proteína G e ligados a uma variedade de segundos mensageiros.29, 30, 31, 32 Eles são classificados em três grupos de acordo com a homologia na seqüência de aminoácidos, farmacologia e seqüência transducional que ativam: Grupo I (mGLUR1), contendo mGlu1 e mGlu5, quais estão ligados a ativação da fosfolipase C; Grupo II (mGluR2), que compreende mGlu2 e mGlu3; Grupo III (mGluR3) que inclui mGlu4, mGlu6, mGlu7 e mGlu8. Os receptores metabotrópicos do grupos II e III estão negativamente acoplados a adenilato ciclase.22, 29, 30, 31, 32 Pin, J. P., Fagni, L. & Bockaert, J. Curr. Drugs: Neurodegenerative Disorders 1993, 1, 111. Schoepp, D. D. & Conn, P. J. TIPS 1993, 141, 13. 28 Höelscher, C.; Gigg, J.; O'Mara; S. M. Neurosc. Biobehav. Rev. 1999, 23, 399. 29 Abe, T., Sugihara, H., Nawa, H., Shigemoto, R., Mizuno, N. and Nakanishi, S. J. Biol. Chem. 1992, 267, 1336. 30 Nakanishi, S. Science 1992, 258, 597. 31 Tanabe, Y., Masu, M.; Ishii, T.; Sigemoto, R. & Nakanishi, S. Neuron 1992, 8, 169. 32 Duvoisin, R. M.; Zhang, C. & Ramonell, K. J. Neurosci 1995, 15, 3075. 26 27 15 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Cada receptor metabotrópico interage com um tipo específico de proteína-G, o que lhe confere especificidade na resposta celular (Figura 7).33 Uma vez ativada, a proteína-G age estimulando ou inibindo proteínas efetoras que, em geral, catalisam a síntese de segundos mensageiros: cAMP, cGMP, diacil glicerol (DAG), IP3 (inositol trifosfato) e ácido araquidônico (AA). Durante a cascata de ativação celular, essas moléculas irão desencadear uma variedade de processos bioquímicos, que podem incluir da abertura ou fechamento de canais iônicos até a síntese protéica (Figura 8).34 Os eventos celulares, mediados por segundos mensageiros, têm latências de milisegundos ou até minutos. Por tais características, esse sistema atua na sinalização lenta, porém sustentada, modulando a atividade de neurotransmissão rápida. Robert S.; Feldman J.S.; Meyer L.F. Principles of neuropsycopharmacology; Ed. Sinauer Assoc.: Massachussets, 1997. 34 Konradi, C.; Heckers S. Pharmacol. Ther. 2003, 97, 153. 33 16 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Figura 7 Modelo de ação de receptores acoplados a proteina G. Após a interação do agonista com o receptor, a subunidade α da proteína-G troca uma molécula de GDP por uma de GTP ligada a sua estrutura. Esta subunidade se dissocia das subunidades β e γ, e interage com proteínas efetoras que produzem moléculas de segundo mensageiros e respostas celulares especificas. A atividade GTPásica da subunidade α hidrolisa GTP em GDP, levando a sua reassociação com βγ e sua inativação. Figura 8. Distribuição dos receptores mGLU e seus respectivos eventos moleculares A ativação crônica dos mGluR pode levar a neurodegeneração. Acredita-se que antagonistas dos mGluR possam desempenhar um papel limitante no dano relacionado a 17 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Acidente Vascular Cerebral, o que deve ser uma das mais interessantes possibilidades de aplicação dos agentes dos mGluR com significante ganho.28 Certos aspectos do desenvolvimento neuronal também são regulados pela ativação dos mGluR.21, 28 Estes aspectos incluem o controle de hiperexcitabilidade durante a maturação neuronal e sinaptogenesis e regulação do crescimento sináptico no desenvolvimento do córtex. Uma vez que as área cerebrais estejam maduras, os mGluR continuam ativos na modulação da reconexão, sinaptogenesis e no brotamento dos axônios durante o processo de plasticidade sináptica.28 1.4.3.2. Receptores Ionotrópicos Os receptores ionotrópicos são proteínas compostas de várias subunidades, associadas à membrana plasmática e exibem considerável heterogeneidade na composição de suas subunidades, refletindo-se na sua diversidade funcional. Dos receptores ionotrópicos, existe uma clara distinção entre os receptores NMDA e não-NMDA. A maior distinção é vista nos diferentes tempos de transmissão. Os receptores não-NMDA são responsáveis por mediar a neurotransmissão sináptica rápida, enquanto os receptores NMDA possuem um tempo de transmissão mais lento. Além disso, os receptores NMDA necessitam da presença de um co-agonista, glicina; são bloqueados de modo voltagem dependente por íons Mg2+ e modulados por Zn2+ e poliaminas. Os receptores nãoNMDA, por sua vez, não apresentam quaisquer das características acima. Esta separação dos receptores NMDA dos demais grupos é ratificada pelo fato de haver uma clara diferença estrutural entre eles.22, 16 1.4.3.2.1. Receptores Não – NMDA 35 Os receptores não-NMDA podem ser divididos em dois diferentes complexos: receptores AMPA e receptores KA.15 Devido à ausência de agonistas e antagonistas seletivos para os receptores KA, até o momento, o papel fisiológico destes receptores 35 Wolfgang, L. S. Progr. Neurobiol. 1998, 54, 721. 18 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins continua obscuro. Atualmente, a maioria dos bloqueadores para os receptores ionotrópicos não-NMDA, por exemplo, a quinoxalidinona NBQX (2,3-diidroxi-6-nitro-7-sulfamoilbenzo[F]quinoxalina), demonstraram preferência pelos receptores AMPA, embora um composto, NS-102 (5-nitro-6,7,8,9-tetraidrobenzo[G]indol-2,3-diona-3-oxima), demonstra uma moderada preferência pelo receptor KA. H N H2NO2S O O O2N N H O O2N NBQX NOH NS-102 Figura 9. Agonistas não-NMDA Os receptores AMPA e KA são uns dos principais responsáveis pela resposta glutamatérgica excitatória rápida no SNC de mamíferos, sendo associados primariamente com canais voltagem-independentes. Estes receptores quando, ativados pelo neurotransmissor fisiológico L-Glu ou pelo L-aspartato, abrem canais catiônicos permeáveis aos íons sódio e potássio. Por outro lado, a toxicidade promovida pela entrada dos íons sódio e potássio, pode levar a morte celular, de modo que antagonistas competitivos e não-competitivos do AMPA podem ser neuroprotetores (como demonstrado em modelos de isquemia tanto focal quanto global), diferenciando-se quanto à existência de efeitos colaterais: antagonistas não-competitivos seriam mais efetivos na presença de concentrações tóxicas de glutamato do que os antagonistas competitivos. Além disso, moduladores positivos do AMPA teriam efeito nootrópico. A tecnologia de DNA recombinante identificou a presença de, no mínimo, 28 genes que codificam as proteínas que formam os receptores glutamatérgicos Destas proteínas, quatro (GluR 1-4) contêm sítios de ligação que possuem maior afinidade para AMPA que para KA, enquanto cinco (GluR5-7, KA1 e KA2) possuem sítios de ligação no qual KA é mais potente que o AMPA. Os receptores não-NMDA são compostos por cinco destas subunidades protéicas, de modo que as nove diferentes proteínas identificadas até o 19 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins momento proporcionam um enorme número de possíveis composições para os receptores não-NMDA. Desta forma, o desenvolvimento de drogas seletivas para as várias subunidades ou para combinações de subunidades será de grande valor, não só para a discriminação entre os receptores KA e AMPA e suas subunidades, mas também como potenciais agentes terapêuticos com menores efeitos colaterais que os apresentados pelos antagonistas não-NMDA disponíveis. 1.4.3.2.2. Receptores NMDA O receptor NMDA possui uma cinética mais lenta que os receptores não-NMDA e regula o influxo de cálcio e sódio. Esta cinética mais lenta da abertura de canais iônicos permite tanto a soma das respostas do glutamato quanto a um grande influxo de cálcio na célula, o que é critico para as funções do receptor.36 O receptor NMDA (NMDAR) regula um grande numero de processos fisiológicos e patofisiológicos no SNC de mamíferos, estando fortemente implicado na neuroproteção, neurodegeneração, potencialização de longa duração, memória e cognição (Figura 10). A hipótese que a ativação aberrante dos receptores está relacionada a diversas desordens neurológicas e neuropsiquiátricas como doença de Parkinson, Hunting, esquizofrenia, alcoolismo e acidente vascular cerebral, gerou um considerável interesse nestes receptores como alvo para novas terapias farmacológicas. 37, 38 Dodd, P.R.; Beckmann, A. M.; Davidson, M.S.; Wilce, P.A. Neurochem. Internat. 2000, 37, 509. Kornberg, B. E.; Nikam, S. S.; Wright, J. L.; Kesten, S. R.; Meltzer, L. T.; Coughenour L.; Barr, B.; Serpab, K. A. & McCormickb, J. Bioorg. Med. Chem. Lett. 2004 , 14, 1213. 38 Roger, G.; Lagnel ,B.; Besret, L.; Bramoulle, Y.; Coulon, C.; Ottaviani, M.; Kassiou M.; Bottlaender, M.; Valettea, H.;& Dolle , F. Bioorg. Med. Chem. 2003, 11, 5401. 36 37 20 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Figura 10. Mecanismo intracelular pelo qual NMDAR medeia neuroplasticidade e apoptose. Após ativação pelo glutamato e o co-agonista glicina, o NMDAR abre canais de cálcio e sódio. O influxo de cálcio ativa sinais transducionais como quinases e fosfolipases que fosforilam proteínas celulares na sinapse (vide insert) e no núcleo. Dentre as proteínas fosforiladas estão os fatores de transcrição (TF), que depois de ativados pela fosforilação levam a RNA polimerase para o DNA que promoverão a transcrição. O RNA é transportado para fora do núcleo e traduzido em proteínas. As cascatas de ativação são especificas para a intensidade do influxo de cálcio. Os gene induzidos por estas cascatas podem estar envolvidos tanto na neuroplasticidade quanto nos mecanismos de morte celular, sendo a combinação de receptores e canais ativados que determinarão o tipo de resposta molecular que o neurônio irá exibir.34 Do ponto de vista estrutural, o receptor NMDA funcional é composto de diferentes combinações de múltiplas subunidades protéicas.17 Quatro ou cinco subunidades formam o canal iônico que está usualmente bloqueado pelo magnésio de modo voltagem dependente. No SNC de mamíferos são expressos cinco genes distintos: NR1, NR2A, NR2B, NR2C e NR2D. O receptor fisiológico é um heterômero contendo uma subunidade NR1 (crítica para a atividade plena do receptor) acoplada a pelo menos uma das diferentes subunidades NR2, 21 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins o que leva a uma grande heterogeneidade dos subtipos de receptor NMDA, além de uma variedade de propriedades eletrofísicas e perfis farmacológicos (Figura 11). 22 Figura 11. Receptor NMDA fisiológico A subunidade NR1 está presente durante todo o desenvolvimento e em todos os níveis cerebrais e coluna vertebral, enquanto que as subunidades NR2 mostram localização diferencial no desenvolvimento e localização regional, o que gera uma grande diversidade de combinações de diferentes subunidades NR2 com a subunidade NR1. No cérebro do mamífero adulto, as subunidades NR2A são largamente expressas, assim como as subunidades NR1, enquanto que a expressão das subunidades NR2B é restrita ao hipocampo e striatum; a subunidade NR2C é expressa no cerebelo e a subunidade NR2D no mesencéfalo.39 O receptor NMDA funcional possui cinco sítios moduladores (Figura 12): (i) o sítio de reconhecimento do glutamato, onde também se ligam os agonistas NMDA; (ii) o sítio de ligação do magnésio, dentro do poro do canal; (iii) o sitio de ligação da fenciclidina (PCP), onde também se ligam MK801 e cetamina; (iv) sítio da glicina que atua como co-agonista modulando o sítio de reconhecimento do agonista e, (v) e o sítio modulador das poliaminas. Além desses domínios, existem ainda, sítios de ligação para zinco, próton e agente óxido- 39 Kiss, L. Neurochem. Intern. 2005, 46, 453 22 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins redutores.36, 40 Após a ativação simultânea do receptor tanto por um agonista, no sítio do glutamato, quanto por um co-agonista, no sítio da glicina, e a saída do magnésio, causada pela simultânea despolarização parcial da membrana, ocorre um influxo de cálcio. Este efeito é o elemento-chave no processo de potencialização de longa duração responsável pelos efeitos farmacológicos do glutamato. 40 Figura 12. Sítios moduladores do receptor NMDA Até o momento, quatro destes sítios são considerados como maiores alvos para ligantes endógenos e exógenos: (i) o sítio do glutamato para agonistas e antagonistas competitivos; (ii) o sítio da glicina para co-agonistas e os antagonistas correspondentes; (iii) dois ou até três sítios de poliaminas (voltagem dependente e não-voltagem dependente) para moduladores do receptor NMDA e (iv) sítio da fenilciclidina (PCP) para bloqueadores do canal iônico (antagonistas não-competitivos). Todos estes moduladores possuem farmacologia e propriedades únicas na modulação do receptor. 40 Tikonova, I.G.; Baskin, I. I.; Palyulin,V.A.; Zefirov, N.S. & Bachurin , S.O. J. Med. Chem. 2002, 45, 3836. 23 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 1.5. Antagonistas NMDA Os NMDARs são os GluRs mais intensamente estudados, principalmente no contexto de neurotoxicidade. O receptor NMDA sináptico, que responde a ativação fisiológica (baixas doses) dos NMDAR, foram associados à promoção da sobrevivência celular, podendo iniciar mecanismos neuroprotetores. Por outro lado, os NMDAR extrasinápticos, localizados nos corpos celulares, axônios e dendritos foram associados a apoptose, causando neurodegeneração. Atualmente acredita-se que enquanto a ativação dos NMDARs extra-sinápticos seja um evento raro em condições normais, o mesmo se torna mais comum durante insultos celulares agudos ou situações patológicas quando os transportadores de glutamato operam inversamente, aumentando as concentrações de glutamato. Além disso, é sabido que enquanto a subunidade NR2A é predominantemente encontrado em NMDARs sinápticos, as subunidades NR2B estão localizadas quase que exclusivamente em sítios não sinápticos.24 Estudos pré-clínicos de largo espectro com antagonistas não-seletivos do NMDA, como MK-8, Cetamina, PCP e CGS-19755 (Figura 13), forneceram evidências que estes compostos possuem potencial terapêutico para tratar desordens neurológicas como epilepsia, AVC, injúria cerebral traumática, mal de Alzheimer, Huntington, Parkinson, dor crônica neuropática e desordens psiquiátricas como ansiedade e depressão.41,42 Adicionalmente, os receptores NMDA estão implicados na mediação tanto do ruído quanto na perda da audição induzida por antibióticos aminoglicosídicos, assim como nas desordens da retina e do nervo ótico. Por outro lado, estes estudos indicam uma forte tendência a efeitos colaterais motores e cognitivos, enquanto que os estudos clínicos demonstraram efeitos colaterais limitantes como distúrbio de percepção e alucinações. Deste modo, devido aos efeitos terapêuticos promissores dos antagonistas do NMDA, esforços têm sido 41 42 Parsons, C. G.; Danysz, W.; Quack, G. Drug News Perspect. 1998, 11 , 523. Nikam, S. S.; Meltzer, L. T. Curr. Pharm. Des. 2002, 8, 845. 24 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins feitos na tentativa de se desenvolver compostos que não demonstrem estes efeitos indesejáveis. PO3H2 NHMe NH N Cl O Me MK-8 Cetamina PCP N CO2H H CGS-19755 Figura 13. Receptores ionotrópicos não-seletivos A descoberta da localização regional da subunidade NR2 representou a possibilidade de substâncias que fossem seletivas para uma de suas subunidades apresentarem algumas das diversas propriedades farmacêuticas dos antagonistas do NMDA, sem proporcionar seus efeitos colaterais. Em particular, o fato das subunidades NR2B estarem confinadas no proencéfalo e o nível reduzido destas subunidades no cerebelo tem sugerido que agentes seletivos para este receptor podem significar um ganho na janela terapêutica diminuindo os efeitos colaterais motores.43, 44 A identificação de que o Ifenprodil (Figura 14) era um antagonista seletivo para os receptores NMDA que contêm as subunidades NR1/NR2B, trouxe uma possível base mecanística para a melhora deste perfil. Por outro lado, embora seja um antagonista subunidade seletivo para NR2, o Ifenprodil possui uma alta afinidade por outras classes de receptores, como os receptores α1–adrenérgicos, levando a busca por outros antagonistas mais seletivos para a subunidade NR2B.37, 42 Guzikowski A.P.; Tamiz , A. P.; Acosta- Burruel, M.; Hong-Bae, S. ; Cai, S.X.; Hawkinson, J. E., Keana , J. F. W.; Kesten S. R.; Shipp, C. T.; Tran, M.; Whittemore , E. R.; Woodward, R. M.; Wright, J.L.; Zhou, Z. J. Med. 43 Chem. 2000, 43, 984. 44 McCauley, J.A.; Theberge, C.R.; Romano, J.J.; Billings, S.B.; Anderson, K.D.; Claremon, D.A.; Freidinger, R.M.; Bednar, R.A.; Mosser, S.D.; Gaul, S.L.; Connolly, T.M.; Condra, C.L.; Xia, M.; Cunningham, M.E.; Bednar, B.; Stump, G.L.; Lynch, J.J.; Macaulay, A.; Wafford, K.A.; Koblan, K.S.; Liverton, N.J. J. Med. Chem. 2004, 47, 2089. 25 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins OH N HO Ifenprodil Figura 14. Ifenprodil, primeiro antagonista seletivo NR1/NR2B Os protótipos Ifenprodil, Haloperidol e Eliprodil levaram ao desenvolvimento de uma segunda geração de antagonistas NR2B, como o CP-101,606, EMD-95885 e Ro 25,6981, que demonstraram ser significantemente mais seletivos que os compostos iniciais (Figura 15). Apesar das suas altas atividades in vitro (expressas pelos valores de IC50), dentre eles apenas o EMD-95,885 mostrou considerável atividade in vivo, com boa potência oral. 45 Roger, G.; Dolle F.; de Bruin , B.; Liu, X.; Besret, L.; Bramoulle, Y.; Coulon, C.; Ottaviani, M.; Bottlaender; M., Valettea, H. & Kassioub, M. Bioorg. Med. Chem. 2004,12, 3229. 45 26 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins OH OH N N Cl HO (d, l)-Eliprodil Ifenprodil HO Cl F O N F isômero R: IC50 = 49,5 +_ 0,7nM ([3H]Ifenprodil) isômero S: IC50 = 545 +_120nM ([3H]Ifenprodil) racemato: IC50 = 86,2 +_ 10nM ([3H]Ifenprodil) Haloperidol OH Ph OH N OH N HO HO CP-101,606 (Taxoprodil) Ro 25,6981 IC50 = 6 +_ 1nM ([ H]Ro 25,6981) IC50 = 57 +_ 5nM(NMDA evoked Ca+2) IC50 = 7 +_ 1nM ([3H]Ro 25,6981) IC50 = 30 +_ 4nM (NMDA evoked Ca+2) ED50: inativo (por administração oral) ED50 3 O 20mg/Kg (inativo por administração oral) O N H N O F EMD-95,885 IC50 = 8 +_ 1nM ([3H]Ro 25,6981) IC50 = 48nM(NMDA evoked Ca+2) ED50: 3,7mg/Kg (boa potência oral) Figura 15. Antagonistas Seletivos NR2B: protótipos e segunda geração. Os antagonistas do NMDA seletivos para a subunidade NR2B caem em diferentes famílias estruturais. O motivo comum para estes antagonistas (Figura 16) parece ser a amina terciária básica ligada a dois anéis aromáticos. Ambos os anéis parecem ser importantes, sendo um apolar, denominado anel A e um doador de ligação de hidrogênio, denominado anel B. A distância entre os dois anéis é importante: acredita-se que distância ótima entre os anéis seja de 9-11 angstroms, porém em alguns casos, quando o anel B é funcionalizado com uma hidroxila, pode ser de 17-18 angstroms.37, 42 A classe mais populosa destes compostos pode ser descrita como uma porção doadora de ligação de 27 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins hidrogênio contendo um anel benzênico conectado ao nitrogênio de uma fenila ou benzilpiperidina via um espaçador de 2 ou 3 átomos. É digno de nota que estes compostos possuem, em sua maioria, uma porção fenólica ou um bioisóstero fenólico.44, 46 R H X N 9-11A Anel A Anel B Figura 16. Modelo Farmacofórico para os antagonistas NR2B.37 Mais recentemente, uma variedade de compostos como carboxamidas, aminoquinolinas, N-(fenilalquil)cinamidas e sulfóxidos também mostraram seletividade para a subunidade NR2B, onde destaca-se o CI-1041 com boa potência oral (Figura 17). 44, 46, H N OH HN N OH O OH Cl 47 N H N-(fenilalquil)cinamida CO-101676 (Amina Acíclica ) Aminoquinolina O S F O 3 N O IC50 = 4 +_ 1nM ([ H]Ro 25,6981) N IC50 = 8 +_ 1nM (NMDA evoked Ca+2) H ED50 = 2,4 mg/Kg (boa potência oral) CI-1041 (Besonprodil) Figura 17. Classes diversas de antagonistas NMDA/NR2B subunidade seletiva Estes novos antagonistas do NMDA/ NR2B têm demonstrado eficácia em modelos animais para neuroproteação, hiperalgia e Parkinson.e, em testes pré-clínicos demonstraram potenciais terapêuticos para um grande número de indicações e parecem não possuir os efeitos colaterais associados com os bloqueadores do NMDA, como MK-8 e PCP. Por Borza, L.; Kolok, S.; Gere, A.; Agai-Csongor, E.; Agai, B.; Tárkányi, G.; Horváth, C.; Barta-Szalai, G.; Bozó, E.; Kiss, C.; Bielik, A.; Nagy, J.; Farkas, S.; Dómany, G. Bioorg. Med. Chem. Lett. 2003, 13, 3859. 47 Weber, C.; Bielik, A.; Szendrei, I.G.; Keserû, G.M.; Greiner, I. Bioorg. Med. Chem. Lett. 2004, 14, 1279. 46 28 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins outro lado, apesar dos esforços empregados nesta área, o desenvolvimento clínico de antagonistas de NMDA não tem sido satisfatório devido ao seu baixo índice terapêutico. Mais recentemente, foram desenvolvidas (E)-N1-(benzil)cinamamidinas como antagonistas do NMDA/NR2B subunidade específica que apresentaram maior afinidade e seletividade melhorada frente a esta subunidade (Figura 18).42, 48, 49 OH NH N N H HO Ifenprodil IC50 =66 nM Ki = 9 nM ([3H]Ifenprodil) IC50 = 50 nM NH OMe N H Ki = 0,7 nM ([3H]Ifenprodil) IC50 = 1,0 nM Figura 18. Cinamamidinas: novos protótipos de antagonistas seletivos para NR2B. Reconhecendo a possibilidade de que estiril-amidinas poderem agir como aceptores de Michael, foi desenvolvida uma série de aril-amidinas como uma nova classe de antagonistas do glutamato seletivo para as subunidades NR2B (Figura 19).42, 48, 49, 50 Por outro lado, verificou-se que ao se retirar a porção estiril, praticamente abole-se a afinidade por receptores NR2B. Entretanto, com adição de grupamentos OCF3 tanto a atividade quanto seletividade para os receptores NR2B são retomadas, embora estes novos compostos não tenham demonstrado boa biodisponibilidade oral. Os melhores resultados foram conseguidos com a adição de um grupamento trifluorometano (CF3) na porção benzilica. 48 Curtis, N. R.; Diggle, H. J.; Kulagowski, J. J.; London, C.; Grimwood, S.; Hutson, P. H.; Murray, F.; Richards, P.; Macaulay A.; Wafford, K. A. Bioorg. Med. Chem. Lett. 2003, 13, 693. 49 Claiborne, C. F.; McCauley, J. A.; Libby, B. E.; Curtis, N. R.; Diggle, H. J.; Kulagowski, J. J; Michelson, S. R.; Anderson, K. D.; Claremon, D. A.; Freidinger, R. M.; Bednar, R. A.; Mosser, S. D.; Gaul, S. L.; Connolly, T. M.; Condra, C. L.; Bednar, B.; Stump, G. L.; Lynch, J. J.; Macaulay, A.; Wafford, K. A.; Koblan, K. S.; Liverton, N. Bioorg. Med. Chem. Lett. 2003, 13, 697. 50 Kiss, L.; Cheng, G; Bednar, B; Bednar, R.A; Benett, P.B; Kane, S.A; McIntyre, J.A; McCauley, J.A; Koblan, K.S Neurochem. Internat. 2005, 46, 453. 29 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins NH NH N H Ki > 15 000 nM ([3H] Ifenprodil) F3CO OCF3 N H NH F3CO CF3 N H Ki = 1,2 nM ([3H] Ifenprodil) Ki = 72 nM ([3H] Ifenprodil) IC50 = 4,2 nM Baixa Biodisponibilidade Oral IC50 = 47 nM Boa Biodisponibilidade Oral Figura 19. Aril-amidinas: novos protótipos de antagonistas seletivos para NR2B Estudos mostraram que estes novos compostos representam uma nova classe de antagonistas NMDA/ NR2B subunidade seletiva não relacionada com o protótipo Ifenprodil com potencial utilidade como agentes neuroprotetores.42 30 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 2. Objetivos e Justificativas Recentemente, a busca por novos compostos com significativas afinidades para receptores NMDA que contenham as subunidades NR1/ NR2B por pesquisadores da Merck identificaram (E)-N1-(benzil)cinamamidinas A e aril-amidinas B (Quadro 1) como candidatos promissores para o início de um programa de química medicinal, particularmente porque estes compostos não possuem as porções fenólica e 4benzilpiperidina comuns a vários antagonistas NR2B descritas na literatra. ,49 Os novos compostos inicialmente desenvolvidos não mimetizam as 1ª e 2ª gerações de antagonistas NMDA e aparentemente possuem relação estrutura atividade (SAR) bem distinta destas. Estudos recentes mostram que esta nova série de compostos é obviamente um avanço significativo nesta área, o qual tem se limitado à classe de benzil e fenilpiperidinas por um longo tempo. Estes novos avanços têm aumentado a perspectiva do desenvolvimento de potentes antagonistas NR2B como novos agentes terapêuticos no tratamento de diversas indicações fisiopatológicas. NH Ar N H R Ar1 R1 A R2 NH N H R3 B Quadro 1. Amidinas como antagonistas de terceira geração do NMDA Este trabalho tem como proposta efetuar estudos visando as sínteses de novas amidinas I-V portadoras de anéis 1,2,3- e/ ou 1,2,4-triazólicos visando as posteriores avaliações destas substâncias como potenciais antagonistas seletivos do NMDA em receptores que contenham as subunidades NR1/ NR2B no SNC (Quadro 2). 31 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins H NH Ph NH N N Ph N N H I H NH N Ph N N N H Ph N N N N H NH N CF3 Ph N N II N N CF3 N N H Ph III NH N Ph N N IV N H N N Ph N V Quadro 2. Novas amidinas triazólicas como potenciais antagonistas seletivos do NMDA. Os precedentes descritos pelo grupo de pesquisadores da Merck (vide Quadro 1) permitem aventar a possibilidade de que as novas amidinas triazólicas I-V objetivadas neste projeto sejam isósteros das estruturas B e, desta forma, venham a comportar-se como antagonistas seletivos do NMDA frente às subunidades NR1/ NR2B. A opção pela utilização de compostos 1,2,3- e 1,2,4-triazólicos decorre do fato destes sistemas serem encontrados em estruturas de muitas substâncias com importantes propriedades biológicas. De fato, o anel 1,2,3-triazol está presente nas estruturas de um grande número de nucleosídeos,51, 52 C-nucleosídeos e aciclonucleosídeos53, compostos com atividades antibióticas56, 57, 58, 59, 60 54, 55 . Outros e antivirais61 contendo o anel 1,2,3- triazol também são reportados na literatura. Talekar, R. R.; Wightman, R. H. Tetrahedron 1997, 53, 3831. Alvarez, R.; Velazquez, S.; San-Felix, A.; Aquaro, S.; DeClerq, E.; Perno, C.F.; Karlsson, A.; Balzarini, J.; Camarash, M.J. J. Med. Chem. 1994, 37, 4185. 53 Sallam, A. E. Carbohyd. Res. 1982, 108, 51. 54 Hanisch, G.; Henseke, G. Chem. Ber. 1968, 101, 2074. 55 El Sekily, M. A.; Mancy, S. Arabian J. Sci. Eng. 1993, 18, 405. 56 Dzhuraev, A. D.; Makshumov, A. G.; Karimukova, K. M. Russ. Pharmacol. Toxicol. 1991, 2, 140. 57 Yuldasheva, K. H.; Dzhuraev, A. D.; Makshumov, A. G.; Amanov, N. Russ.Pharmacol.Toxicol.1992, 3, 99. 58 Coultan, S.; François, I. Tetrahedron Lett. 1989, 30, 3117. 59 Bennet, I.; Broon, N. J. P.; Bruton, G.; Calvert, S.; Clarke, P. P.; Coleman, K.; Edmondson, R.; Edwards, P.; Jones, D.; Osborne, N. F.; Walker, G. J. Antibiot. 1991, 44, 33. 60 Eby, P.; Cumming, M. D.; Phillips, O. A.; Czajkowski, D. P.; Singh, M. P.; Spevak, P.; Micetich, R. G.; Maiti, S. N. Heterocycles 1995, 42, 663. 61 Godovikova, T. I.; Ignat’eva, E. L.; Khmel’nitskii, L. I. Chem. Heterocycl. Compd. 1996, 32, 580. 51 52 32 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Os compostos contendo o núcleo 1,2,4-triazólico, por sua vez, também são bastante importantes em química medicinal e na agricultura. De fato, os principais agentes fungicidas e bactericidas descritos na literatura são portadores do anel 1,2,4-triazol.62 Além do exposto, recentemente nosso grupo de pesquisas tem empregado núcleos triazólicos buscando a obtenção de moléculas com atividades terapêuticas (Esquema 1). Por exemplo, o aldeído 1,2,3-triazólico 1 foi empregado como matéria-prima na síntese de substâncias ativas contra o vírus da herpes simplex (HSV I).63 Da mesma forma, a amina 1,2,4-triazólica 2 foi utilizada na obtenção de substâncias com atividades antimaláricas.64 O N Ph N N H OH H 1 H N N N Ph N F3C N NH 2 N antiviral (herpes simplex I) 2 H N N E F3C N N CF3 t2 antimalárico N N Esquema 1. Compostos triazólicos 1 e 2 em sínteses de substânias bioativas A opção pela presença de substituintes trifluorometilados (CF3) nas estruturas das moléculas-alvo II e IV (vide Quadro 2) deve-se ao fato de que a incorporação de átomos de flúor em fármacos permite a modulação simultânea de parâmetros eletrônicos, lipofílicos e estéricos que podem influenciar criticamente suas propriedades farmacodinâmicas e farmacocinéticas.65 Assim, a substituição bioisostérica de hidrogênio por flúor é uma estratégia importante para a incorporação de um grupamento capaz de reforçar as interações fármaco-receptor (modulação eletrônica), ajudando a absorção ou a passagem pela barreira hematoencefálica (modulação lipofílica) e induzindo mudanças conformacionais que alteram o metabolismo (parâmetros estéricos). Além disto, a presença do grupo CF3 em arilFerreira, V. F.; Souza, M. C. B. V.; Ferreira, M. L. G.; Cunha A. C. Heterociclos contendo o núcleo triazólico: Métodos de Síntese, Reatividade e Atividade Biológica. In: Angelo da Cunha Pinto; Ricardo Bicca de Alencastro. (Org.). Heterociclos (Volume I). 1 Ed. Rio de janeiro, 1999, v. 1, p. 29 e referências citadas. 63 Silva Júnior, R. C., em Novos análogos carbocíclicos de nucleosídeos (cans) derivados da nopinona: síntese assimétrica e avaliação da atividade antiviral Dissertação de Mestrado, GQO-UFF, 2005. 64 Dutra, K. D. B., em Síntese e avaliação antimalárica de novos análogos triazolopirimidínicos da cloroquina, Dissertação de Mestrado, GQO-UFF, 2004. 65 Ismail, F. M. D. J. Fluorine Chem. 2002, 118, 27. 62 33 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins amidinas é fundamental para é fundamental para a atividade e seletividade frente às subunidades NR2B (Figura 19, página 30). 34 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 3. Química de Amidinas O grupo funcional amidina é caracterizado por um carbono ligado a dois átomos de nitrogênio, substituídos ou não. Elas são interessantes compostos nitrogenados análogos de ácidos carboxílicos e ésteres que combinam uma ligação dupla C=N, semelhante a um azametino, com uma ligação simples C-N com um parcial caráter de dupla ligação, semelhante à função amida.66, 67 NR1 R NR2R3 função amidina De acordo com o padrão de substituição nos átomos de nitrogênio, as amidinas são classificadas em cinco tipos (Figura 20): amidinas não substituídas (a), amidinas monossubstituídas (b e c), amidinas simétricas dissubstituídas (d) amidinas não simétricas dissubstituidas (e) e amidinas trissubstituidas (f). NH NR1 NH2 R R a NH NH2 R b NR1 NH NHR2 R NHR1 R d c NR1 NR1R2 R e NR2R3 f Figura 20. Classificação de amidinas As amidinas monosubstituídas e dissubstituídas existem sob duas formas tautoméricas, conforme é mostrado na Figura 21. NH R NH2 NHR1 R NR1 R NR1 NHR1 NHR2 R NR2 Figura 21. Formas tautoméricas das amidinas A função amidina é um importante farmacóforo em química medicinal, sendo encontrada como princípio ativo em diversos fármacos68 e nas estruturas de diversos 66 Shriner, R.L; Neumann, F.W. Chem. Rev. 1944, 35, 351. Echevarria, A; Santos, LH; Miller, J & Mahmood, N. Bioorg.Med. Chem. Lett. 1996, 6, 1901. 68 Cesar, J.; Nadrah, K. & Dolenc M. S Tetrahedron Lett. 2004, 45, 7445. 67 35 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins produtos naturais.69, 70 Na quimica medicinal, um número importante de moléculas biologicamente ativas incorporam a função amidina71. Diversas substâncias contendo grupo amidínico têm apresentado atividade contra agentes patogênicos como Leishmania sp.,72,, Trypanossoma sp. 73, 74 Plasmodium sp., Candida albicans,75 entre outros. Acredita-se que esta atividade se deva em parte a semelhança da função amidina com importantes purinas e pirimidinas biológicas. Além de sua importância como grupamento farmacofórico, as amidinas são também importantes intermediários em síntese orgânica, principalmente na obtenção de compostos heterociclos. 68 3.1 Síntese de Amidinas A obtenção de derivados amidínicos tem sido desenvolvida há vários anos, resultando numa grande variedade de metodologias para sua síntese.76, Nesta seção serão abordadas as principais metodologias de preparação desta classe de substância. 3.1.1 Obtenção de Amidinas a partir de Nitrilas O acesso direto a amidinas a partir de nitrilas e aminas só pode ser efetuado se as nitrilas forem substituidas por grupos eletroatratores, como Cl3C-CN.77 Assim, para a síntese de amidinas a partir da reação entre nitrilas desativadas (aquelas onde o grupo CN não é ligado a grupos eletroatratotres) e aminas, diversos métodos têm sido desenvolvidos. O método clássico para a obtenção de amidinas foi desenvolvido por Pinner e consiste na reação de nitrilas desativadas com álcoois na presença de cloreto de Hegarty, M. P.; Pound, A. W. Nature 1968, 217, 354. Lloyd, H.A.; Fales, H. M.; Goldman, M.E.; Jerina, D. M.; Plowman, T. & Schultes, R. E. Tetrahedron Lett. 1985, 26, 2623. 71 Lawson, EC; Kinney , W. A.; Luci, DK; Yabut, S. C.; Wisnoski, D.& Maryanoff, B. E. Tetrahedron Lett. 2002, 43, 1951. 72 Croft, S. L.; Coombs; G. H. Trends Parasitol. 2003, 19, 502. 73 Dardonville, C.; Brun, R.; J. Med. Chem. 2004, 47, 2296. 74 Donkor, I. O.; Assefa, H.; Rattenti, D. Eur. J. Med. Chem. 2001, 36, 531. 75 Del Poeta, M.; Schell, W. A. Antimicrob. Agents Chemother. 1998, 42, 2503. 76 Santos, M. S. em Planejamento e Síntese de novos derivados Pirazólicos para avaliação da atividade antileishmania Dissertação de Mestrado, GQO-UFF, 2005. 77 Grivas, J. C.; Taurins, A. Can. J. Chem. 1961, 39, 761. 69 70 36 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins hidrogênio para a formação de sais de imidatos, os quais reagem com aminas levando a formação de amidinas N,N-dissubstituídas (Esquema 2).66, 78, 79 RCN NH.HCl EtOH abs HCl (g) R NH R1R2NH R OEt NR1R2 Amidinas N,N-dissubstituídas Sais de imidatos Esquema 2. Amidinas pelo método de Pinner O método de Pinner possui severas limitações, principalmente ligadas à preparação dos imidatos. Por exemplo, benzonitrilas orto-substituídas não levam a formação de imidatos em rendimentos aceitáveis; além disso, amidinas N,N’dissubstituídas não são formadas por este método.80 Uma da modificação do método de Pinner consiste na formação de tioimidatos a partir de nitrilas desativadas e tióis, sob atmosfera ácida ( Esquema 3). Os tioimidatos são convertidos à amidinas N,N-dissubstituídas ao reagirem com aminas, em rendimentos variando de moderados a excelentes.81 Este método é particularmente interessante por permitir a síntese de amidinas a partir de aminas pouco nucleofílicas (como anilinas). PhSH, HBr (g) RCN 0 Et2O, 0 C, 30 min. R= alquila ou arila R NH.HBr R1R2NH SPh MeOH T.A., 5h Sais de Tioimidatos NH.HBr R NR1R2 Amidinas N, N-dissubstituídas Esquema 3. Amidinas via tioamidatos Outros métodos para obtenção de amidinas a partir de nitrilas desativadas consistem na formação de um intermediário mais reativo pela complexação destas 78 Roger, R.; Neilson, D.G.; Chem. Rev. 1961, 61, 179. Gautier, J.A.; Miocque, M.; Farnoux, C.C. In. The Chemistry of Amidines and Imidates, Vol. 1; Patai, S., Ed.; John Wiley & Sons: New York, 1975. 80 Weintraub, L.; Oles, S.R. ; Kalish, N. J. Org. Chem. 1968, 33,1679. 81 a) Baati, R.; Gouverneur, V.; Mioskowski, C. Synthesis 1999, 927. b) Schnur, R. C. J. Org. Chem. 1979, 44, 3726. 79 37 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins nitrilas com ácidos de Lewis (AlCl3, ZnCl2) a 150-200oC 82, 83 ou com sais de CuI (CuCl ou CuBr).84 Por exemplo, Rousselet e colaboradores 84 descreveram um método elegante para as preparações, em um pote, de amidinas substituídas a partir do refluxo prolongado de nitrilas desativadas (CH3CN e Ph-CN) com aminas primárias e secundárias na presença de CuCl em rendimentos de 80-100% (Esquema 4). NH R NR1 NHR1 ou R R1NH2, CuCl NHR1 Amidinas Amidinas N-substituídas N, N'-dissubstituídas (80-90%) (80-90%) RCN solvente, N2 CuCl, N2 80oC, 20h 80oC, 20h NH R1R2NH R NR1R2 Amidinas N,N-dissubstituídas (80-100%) Esquema 4. Amidinas a partir de nitrilas: método via CuCl A natureza dos produtos depende da estrutura da amina (primária ou secundária), da razão amina/ CuCl e natureza do solvente: • Aminas R1R2NH na razão amina/ CuCl = 1/ 1 fornecem amidinas N, N-dissubstituídas quando as nitrilas são o próprio solvente da reação; • Aminas R1NH2 na razão amina/ CuCl = 1/ 1,2 fornecem amidinas N-substituídas quando as nitrilas são o próprio solvente da reação; • Aminas R1NH2 na razão amina/ CuCl = 1/ 1 fornecem amidinas N, N’-dissubstituídas em DMSO ou EtOH como solventes. Outro exemplo de intermediários reativos são os amidetos de alquilcloroalumínio, obtidos a partir de trimetilalumínio e o cloridrato da amina correspondente ou ainda cloreto de amônio (Esquema 5). Estes intermediários reagem com nitrilas desativadas ao refluxo por longos períodos de tempo para formar, após hidrolise, amidinas N, N-dissubstituídas com rendimentos que variam de moderados a excelentes (60-90%).85 82 Oxley and Short, J. Chem. Soc., 1946, 147. Cooper, F. C. & Partridge, M. W. Org. Synth.Coll. Vol. 4, p.769; Vol. 36, p.64 84 Rousselet, G.; Capdavielle, P.; Maumy, M. Tetrahedron Lett. 1993, 34, 6395. 85 Garigipati, R.S. Tetrahedron Lett. 1990, 31, 1969. 83 38 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins RCN MeAl(Cl)NR1R2 Tolueno, 80 0C N R AlClMe H2O NHR1R2 NH R 6-20h NHR1R2 Amidinas N,N-dissubstituídas Esquema 5. Amidinas a partir de nitrilas: método via amidetos de cloroalumínio Em uma metodologia análoga, no lugar das nitrilas, o éster correspondente são comumente empregados (Esquema 6). Estes reagem com o amideto de metilcloroalumínio, obtido in situ, para gerar a imina intermediária que, por metanólise, fornece as amidinas não substituídas correspondentes, com rendimentos que variam de 43 a 87%.86 MeAl(Cl)NH2 O R OR2 Tolueno, 80 0C Me N Al Cl R NH2 MeOH T.A NH.HCl R NH2 Esquema 6. Amidinas a partir de ésteres: método via amideto O uso de nitrilas desativadas para ataques nucleofílicos também pode ser feito pelo emprego de sais de lantânio III (trifluorometanossulfonato de lantânio III)como catalisadores (Esquema 7). O íon Ln +3 irá promover a reação de aminas primárias com nitrilas, gerando, amidinas alifáticas N-substituídas. Estas amidinas, por sua vez, reagem com aminas primárias gerando amidinas N, N’-dissubstituídas, com rendimentos superiores a 90%, quando uma razão molar nitrila:amina 1:2 for utilizada.87 RCN R1NH2, Ln3+ 80 0C NH R NHR1 amidinas N-substituídas R1NH2 NR1 R NHR1 amidinas N,N'-dissubstituídas R= Me, fenila, ; R1 = Alquila, fenila Esquema 7. Amidinas a partir de nitrila e Ln(F3CSO3)3 86 Gielen, H.; Alonso-Alija, C.; Hendrix, M, Niewöhner, U. & Schauss, D. Tetrahedron Lett. 2002, 43, 419. 87 Forsberg, J. H.; Spaziano, V. T.; Balasubramanian, Liu, G. K.; Kinsley, S. A.; Duckworth, C. A.; Poteruca J. J.; Brown, P. S.; Miller J. J. Org. Chem. 1987, 52, 1017. 39 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Mais recentemente, Cesar e colaboradores descreveram um método para a síntese de amidinas não substituídas empregando a redução de amidoximas geradas a partir de nitrilas desativadas suportadas em matriz polimérica (Esquema 8).88 P O NH2OH.HCl P O N-OH CN DIPEA, THF EtOH, 60oC NH2 12h SnCl2. H2O DMF, 80oC 40h HO TFA, T. A. NH NH2 P O NH CH2Cl2, 1h NH2 amidinas Esquema 8. Amidinas via redução de amidoximas. Amidinas podem ser sintetizadas, em rendimentos que variam de 66-85%, a partir da redução de derivados de oxima com formiato de amônio e Pd/C como catalisador em acido acético. (Esquema 9). 89 NOR1 R HCOONH4 NH2 Pd/C, AcOH NH R NH2 Esquema 9. Obtenção de amidinas a partir de derivados de oxima. 3.1.2 Obtenção de Amidinas a partir de Amidas As conversões mais tradicionais de amidas terciárias em amidinas envolvem ativação no átomo de oxigênio através de: (1) condensação de aminas terciárias com aminas primárias na presença de agentes desidratantes; ou (2) ou adição de amidas primárias a amidas terciárias pré-ativadas por anidrido tríflico.78, 88 Cesar, J.; Nadrah, K.; Dolenc, M. S. Tetrahedron Lett. 2004, 45, 7445. Anbazhangan, M.; Boykin, D.W.; Stephens, C. E. Synthesis 1979, 546. 90 Katritzky. A. R.; Huang, T.-B.; Voronkov, M. V. J.Org. Chem 2001, 66, 1043. 89 40 90 Por exemplo, Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Charette e Grenon mostraram o emprego deste reagente na conversão de amidas terciárias em amidinas trissubstituídas intermediada por triflatos de imínio (Esquema 10).91 O R N R2 OTf Tf2O R1 R 0oC, 2,5h R N+ 1 R2 3 _ N R NH2 OTf R T.A., 20h R3 R N 1 R2 Amidinas trissubstituídas (34-84%) Triflatos de imínio Esquema 10. Amidinas a partir de amidas:métiodo via triflatos de imínio. Amidas secundárias reagem com fluoroborato de tretiloxônio, em diclorometano, formando intermediários sais de imidatos. Estes, que podem ser isolados e caracterizados, reagem facilmente com aminas primarias ou secundárias para gerar amidinas em rendimento entre 71-90% (Esquema 11).82 O R N H R1 Et3O+BF4CH2Cl2 T. A., 1 noite (78-97%) OEt R _ R N + 1 BF4 H Sais de imidatos R= arila, metila ; R1= H, metila; R2=H, metila NR2 R2NH, EtOH 25oC, 3 dias R N H R1 Amidinas N, N-dissubstituídas (71-90%) Esquema 11. Amidinas a partir de amidas: método via fluoroboratos de trietiloxônio. Amidinas trissubstituídas são também obtidas por reações de acilanilidas com um complexo tipo Vilsmeier (POCl3/ DMF), facilmente preparados a partir de formamidas e pentóxido de fosforo (Esquema 12). Vários métodos têm substituído o pentóxido de fósforo por outros agentes de acoplamento como SOCl2, POCl3 , PCl3. 92 91 92 Charette, A. B.; Grenon, M. Tetrahedron Lett. 2000, 41, 1677. a) Bésán, J.; Kulcsar, L. Kovacs, M. Synthesis 1980, 883. b) Pedersen, E. B. Synthesis 1979, 546. 41 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins O O R NR22 H NHR1 P2O5, T. A. NR22 R NR1 R= H, alquila ; R1= Alquila, arila; R2= alquila Esquema 12. Amidinas a partir de formamidas. 3.1.3 Obtenção de cinamamidinas As reações de acoplamento do (E)- β-bromoestireno com t-butilisonitrila e aminas nas presenças de carbonato de cesio, cloreto de paladio II, dppf (1,1"bis(difenilfosfino)ferroceno) e tolueno constituem-se no método geral, alternativo ao método de Pinner, para a formação de cinamamidinas com rendimentos entre 25-77% (Esquema 13).93 t-BuNC, Ph t-Bu N H Br PdCl2 (5 mol%) dppf (10 mol%) CsCO3, tolueno 65oC, 15 min. Ph N N Cinamamidinas (25-71%) Esquema 13. Obtenção de amidinas a partir de β-bromoestireno 93 Tetala, K. K. R.; Whitby, R. J.; Light, M. E.; Hurtshouse, M. B. Tetrahedron Lett. 2004, 45, 6991. 42 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 4. Metodologia e Estratégia Sintética As amidinas triazólicas I e II deverão ser obtidas a partir da reação entre a benzonitrila e as aminas triazólicas 3 e 2, respectivamente (Esquema 14). Para tal, serão consideradas a metodologia clássica desenvolvida por Pinner (via sais de imidato) mostrada no Esquema 2 (vide página 37).78, 80, 81 Alternativamente, a condensação entre a benzonitrila e as aminas 3 e 2 promovida por sais de CuI (vide Esquema 4, página 38) será considerada por mostrar-se atraente aos objetivos deste trabalho.85 A amina 1,2,3-triazólica 3 deverá ser produzida pela reação de aminação redutiva94 a partir do aldeído 1 já preparado em escalas multigramas em nosso laboratório95 ou, alternativamente, por redução da oxima 4 (a ser preparada a partir de 1)96com Zn/ NH4Cl.97 Da mesma forma, a amina 2 também é preparada em escalas multigramas em nosso laboratório.54 Cabe mencionar que, embora o grupamento amino de 2 seja mais nucleofílica que o nitrogênio triazólico, tal nucleofilia não é bastante acentuada, já que esta molécula é um análogo de anilina.54 H NH Ph NH N N Ph N N H Ph N N CF3 N N H II I NOH N Ph N N N Ph N N NH2 H H N N 4 3 N Ph N N H2N N CF3 2 CHO NH 1 H2N NHNH2.H2CO3 Esquema 14. Retroanálises para as sínteses de I e II. 94 Borch, R. F.; Bernstein, M. D.; Durst, H. D. J. Am. Chem. Soc. 1971, 93, 2897. Silva Júnior, R. C.; Ferreira, V. F.; Pinheiro, S. Tetrahedron: Asymmetry 2004, 15, 3719. 96 Lima, E.C. de em Síntese Enantiosseletiva da R-(-)-N-Benzil-4-Aminometil-2-Pirrolidona: Caracterização da Quiralidade do Antípoda mais ativo do Nebracetam, Dissertação de Mestrado, NPPNUFRJ, 2005. 97 Jochins, J. Monatsh. 1963, 94, 677. 95 43 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins As amidinas triazólicas III-V, por sua vez, deverão ser obtidas a partir da reação entre a nitrila 5 com a benzilamina e as aminas 2 e 3 empregando-se metodologias idênticas às visualizadas para I e II (Esquema 15). A nitrila 5 deverá ser obtida a partir do aldeído triazólico 1 por meio de uma seqüência intermediada pela desidratação da oxima 4. 97, 98 H NH N Ph N N NH N Ph N N N H Ph N N N N H CF3 NH N Ph N N IV III N N Ph N N H V NOH N Ph N N CN N Ph N N 5 H 4 Esquema 15. Retroanálises para as sínteses de III-V. Uma vez sintetizadas, as novas substâncias I-V serão submetidas à avaliação das suas possíveis atividades frente aos receptores glutamatérgicos do tipo NMDA que contenham as subunidades NR1/NR2B, através de colaboração com o Professor Dr. Roberto Paes de Carvalho, do Instituto de Biologia da UFF. 98 Furniss, B. S.; Hannaford, A. J.; Smith, P. W. G & Tatchell, A. R Vogel´s Textbook of Pratical Organic Chemistry. 5th Ed; Longman Scientifical & Technical: New York; 1989. 44 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 5. Resultados e Discussão De forma a dar uma dinâmica adequada à leitura do texto, nas Seções 5.1-5.7 serão apenas discutidos os dados espectroscópicos fundamentais ao contexto, sendo que as análises espectroscópicas completas que suportam as estruturas propostas serão descritos em tabelas no final de cada tópico. Na seção 5.8 serão enfocadas as avaliações farmacológicas das amidinas a serem sintetizadas. 5.1. Obtenção do 2-fenil-2H-1,2,3-triazol-4-carbaldeído (1) O aldeído triazólico 1 vem sendo facilmente obtido em nosso laboratório através de uma seqüência de três etapas a partir da D-(+)-glicose segundo procedimento descrito na literatura (Esquema 16).63, 99, 100 A fenil-D-glicosazona foi obtida em 64% de rendimento após recristalização em ETOH 60%, pela agitação da D-(+)-glicose com fenilidrazina em etanol acidificado durante 4 dias. Este produto apresentou-se como um sólido amarelo de ponto de fusão 206-207oC, cujo valor é compatível com o descrito na literatura (207oC). Subseqüentemente, agitou-se a fenil D-glicosazona com sulfato de cúprico sob refluxo por 3 horas para obter o fenil-D-glicosetriazol em 60% de rendimento após duas recristalizações em água. Este composto apresentou-se como um sólido branco de ponto de fusão 195-196oC, valor idêntico ao descrito na literatura. 63, 99, 100 O fenil-D-glicosetriazol foi posteriormente tratado com solução aquosa de periodato de sódio sob agitação por 24 horas fornecendo o 2-fenil 1,2,3-triazol-4-carboxaldeído (1) em rendimento de 86% após recristalização em EtOH/ H2O. Este produto se apresentou como um sólido amarelo pálido de ponto de fusão 65-66oC (literatura 100 63, 99, p.f. 68-70ºC) e odor adocicado. O espectro de infravermelho (I.V.) do aldeído 1 apresentou bandas características de carbonila aldeídica conjugada em 1697 cm-1 e de vibrações de núcleo aromático em 1596 e 1488 cm-1 . No espectro de RMN 1H observou-se o sinal simples do hidrogênio aldeídico em 10,22 ppm, o sinal simples do hidrogênio triazólico em 7,80 ppm, além dos sinais dos hidrogênios aromáticos. 99 Hudson, C. S.; Hann, R. M. J. Org. Chem. 1944, 9, 23. Regna, P. P. J. Am. Chem. Soc. 1947, 69, 246. 100 45 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins H HO H H Ph N N N H CHO OH H OH OH CH2OH NNHPh NNHPh HO H H OH H OH CH2OH a D-(+)-glicose HO H H b Fenil-D-glicosazona O H OH OH CH2OH c N H N N Ph 1 Fenil-D-glicosetriazol a) PhNHNH2, T. A., 4 dias, 64%. b) CuSO4. 5 H2O, refluxo, 3 h, 60%. c) NaIO4 aq. T. A., 24 h, 86%. Esquema 16. Preparação do aldeído 1,2,3-triazólico 1 5.2. Obtenção da 2-fenil-2H-1,2,3-triazol-4-carbonitrila (5) Os compostos 1,2,3-triazólicos monossubstituídos podem ser obtidos através de duas metodologias distintas. A primeira metodologia consiste na ciclização de precursores apropriados, sendo limitada devido a difícil acessibilidade aos materiais de partida. Como alternativa, podem-se empregar reações de substituição no núcleo triazólico, o que é dificultada pela baixa reatividade deste núcleo.101, 102 Begtrup demonstrou que a reatividade do núcleo triazólico pode ser aumentada pela função N-óxido, que ativa as posições C5 e C4 do núcleo triazólico frente a nucleófilos e eletrófilos (Esquema 17).101, 102 4 N3 - 5 2 1N N Ar + _ O 4 N3 5 1N 2 N 4 + O Ar N 5 + 3 2 1N N O _ Ar Esquema 17. Reatividade dos 2-ariltriazóis 1-óxido Desta forma o 4-ciano-2-fenil-1,2,3-triazol (5) vem sendo obtido a partir de fenil-hidrazina em uma metodologia que envolve cinco etapas (Esquema 18).101, 102 101 102 Beagtrup, M.; Holm, J. J. Chem. Soc., Perkin Trans. 1 1981, 503. Beagtrup, M.; J. Chem. Soc., Perkin Trans. 1 1982, 2749. 46 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins NHNH2 1. Glioxal aq., AcOH, ref. 2 h N 2. NH2OH. HCl, NaOH 3. CuSO4, Py, ref., 4 h (67 %) _ + Me3O. BF4 P2O5, CH2Cl2 T. A., 3 dias + _ NO N Ph _ KCN, CH CN + 3 N N OMe BF N 4 T. A., 3 dias Ph (94 %) CN N N N Ph 5 (97%) 65 % global Esquema 18. Obtenção da nitrila 5 via N-óxido. A fim de se fazer uma simplificação experimental, visualizou-se uma rota alternativa onde esta nitrila pudesse ser obtida a partir do aldeído triazólico 1, o qual vem sendo sintetizado em escalas multigramas em nosso laboratório, através de uma seqüência de reações mais simples.95 Desta forma, optou-se pelo emprego de uma metodologia que envolve a obtenção da oxima triazólica 4 e posterior desidratação (Esquema 19). N Ph N N CN 5 N Ph N N NOH CH N Ph N N 4 CHO 1 Esquema 19. Estratégia para a preparação da nitrila 5 O tratamento do carboxaldeído 1 com cloridrato de hidroxilamina em CH2Cl2 a temperatura ambiente por 18 h96 forneceu a oxima triazólica 4 em 87% de rendimento como um sólido branco de ponto de fusão 140-1430C, após recristalização em hexano (Equação 1). N Ph N N 1 CHO NH2OH HCl Na2SO4, NaHCO3 CH2Cl2, T. A., 18 h 47 N Ph N N NOH CH 4 (87 %) Eq. 1 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins O espectro de infravermelho de 4 apresentou uma banda em 3282 cm-1 referente ao estiramento de ligação O-H e uma banda em 1500 cm-1 referente ao estiramento da ligação C=N da função oxima, além da ausência da banda em 1697 cm-1 referente ao estiramento da ligação C=O de aldeído conjugado de 1. Os espectros de 1H-RMN e 13CRMN apresentaram o padrão da porção triazólica, sendo importante destacar no espectro de RMN 1H a 300 MHz, o sinal simples em 1,67 ppm referente ao hidrogênio do grupamento hidroxila e o aparecimento do sinal simples em 8,55 ppm referente ao hidrogênio ligado ao carbono da função oxima. Os demais assinalamentos estão descritos na Tabela 1. NOH 5 2 N H 1 N 3 N 4 4 6 7 Correlações 1 H x 1H - COSY C/H δC δH (m); J (Hz) 1 138,9 8,55 (s) ---- 2 142,52 ---- ---- 3 119,0 8,12 (s) 4 133,4 ----- ----- 5 118,8 8,09-8,06 (m) H6/ H7 6 129,3 8,54-7,47 (m) H5/ H7 7 128,1 7,43-7,38 (m) H5/ H6 Tabela 1. Assinalamentos propostos para oxima 4 A subseqüente desidratação da oxima 4 com anidrido acético sob refluxo por 1 hora forneceu a nitrila triazólica 5 em 70% de rendimento, após recristalização em hexano (Equação 2). Esta substância apresentou-se como um sólido amarelo claro de ponto de fusão 86-870C, valor este compatível com a literatura (890C).101, 102 O espectro de infravermelho (I.V.) de 5 apresentou um banda em 2247 cm-1 característico de nitrilas conjugadas, além do desaparecimento das bandas em 3281 cm-1 e 1500 cm-1 referentes ao estiramento das ligações O-H e C=NOH respectivamente. O espectro de 48 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 1 H-RMN a 300 MHz apresentou um singlete em 8,16 ppm devido ao hidrogênio triazólico e sinais dos hidrogênios da porção benzênica, estando de acordo com o descrito na literatura para esta molécula. 101, 102 NOH CH (CH3CO)2O N Ph N N refluxo, 1 h N Ph N N CN Eq. 2 5 (70 %) 4 5.3. Obtenção da (2-fenil-2H-1,2,3-triazol-4 il) metanamina (3) A preparação direta de aminas a partir de compostos carbonilados tem sido feita em bons rendimentos envolvendo a reação de aminação redutiva. A fim de se obter a amina primária 1,2,3-triazólica 3, tratou-se o aldeído triazólico 1 com acetato de amônio na presença de cianoboroidreto de sódio em metanol absoluto a temperatura ambiente por 96h, obtendo-se como produto óleo amarelado em 80% de rendimento bruto (Equação 3).94 Todas as tentativas de purificação de 3 por cromatografia em gel de sílica (placa preparativa ou coluna “flash”) mostraram-se infrutíferas, de modo que a caracterização de 3 obtido por esta via foi efetuada utilizando-se espectros brutos. OHC N N Ph N 1 NaBH3CN (7 eq.) AcONH4, MeOH abs. T. A., 96 h H2N N N Ph Eq. 3 N 3 (80% bruto) O espectro de infravermelho apresentou uma banda em 3395 cm-1 referente ao estiramento de ligação N-H e uma banda em 1235 cm-1 referente ao estiramento da ligação C-N, além do desaparecimento da banda em 1694 cm-1 referente ao estiramento da ligação C=O de aldeído. No espectro de RMN 1H a 300 MHz foram observados um sinal simples em 1,69 ppm referente aos hidrogênios do grupamento NH2 e o sinal simples em 4,06 ppm referentes aos hidrogênios metilênicos. Pelo fato de não ter sido possível a obtenção da amina primária 1,2,3-triazólica 3 em sua forma pura, partiu-se para a investigação de metodologias alternativas para esta finalidade. Para tal, visualizou-se a reação de redução da oxima triazólica 4 preparada anteriormente (vide Equação 1). 49 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins A redução da oxima 4 com zinco em amônia/ cloreto de amônio ao refluxo por 4 horas forneceu a amina primária 1,2,3-triazólica 3 como um sólido amarelo de ponto de fusão 71-73ºC em 60% de rendimento, após purificação por cromatografia “flash” em gel de sílica (Equação 4). N Ph N N 4 NOH CH 1. Zn, NH4Cl NH4OH N N Ph N H2N refluxo 4h 2. NaOH Eq. 4 3 (60%) A amina 3 teve sua estrutura confirmada por dados espectroscópicos. O espectro de infravermelho apresentou uma banda em 3398 cm-1 referente ao estiramento de ligação N-H e uma banda em 1214 cm-1 referente ao estiramento da ligação C-N. No espectro de RMN 1H a 300 MHz é importante destacar o sinal simples em 4,06 ppm referente aos hidrogênios metilênicos. Os demais assinalamentos estão descritos na Tabela 2: 1 2 N H2N 3 5 N N 4 6 7 3 C/H 1 2 3 4 5 6 7 NH δC 43,3 147,7 134,4 139,6 118,5 129,0 127,2 δH (m); J (Hz) 4,06(sl) ---7,72 (s) ----8,04 (d, 7,5) 7,48 (t; 7, 6Hz; 7,3 Hz; 1,9 Hz) 7,33 (tt; 7,6 Hz; 1,2 Hz) 1,69 (sl) 1 Correlações H x 1H - COSY -------H6/ H7 H5/ H7 H5/ H6 Tabela 2. Assinalamentos propostos para amina 3 Objetivando-se incrementar o rendimento químico da amina 3 para a obtenção de quantidades apreciáveis desta substância, optou-se pela investigação do cianoboroidreto de sódio modificado por zinco como agente redutor. Este reagente foi 50 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins preparado a partir da mistura de uma solução de cianoboroidreto de sódio em metanol e solução de cloreto de zinco anidro em THF.103 Assim, o tratamento do aldeído 1 com uma solução de NaBH3CN em ZnCl2 na presença de acetato de amônio em metanol à temperatura ambiente forneceu a amina 3 em 75% de rendimento, após purificação por cromatografia “flash” em gel de sílica (eluente: 5% acetato em n-hexano) (Equação 5). A amina 3 assim obtida mostrou-se espectroscopicamente idêntica àquela produzida na rota via oxima (vide Equação 4). OHC NaBH3CN / ZnCl2 2:1 N N Ph AcONH4, MeOH abs. N T. A., 96h 1 H 2N N N Ph Eq. 5 N 3 (75%) 5.4. Obtenção da 3-amino-5-trifluormetil-1H-1,2,4-triazol (2) A preparação de amino-1,2,4-1H-triazóis substituídos, tem sido feita em bons rendimentos envolvendo a reação de condensação entre aminoguanidinas e ácidos ou ésteres. 104 O 3-amino-5-trifluormetil-1H-1,2,4-triazol (2) foi obtido em 91% de rendimento, após sublimação, pela condensação do ácido trifluoracético com bicarbonato de aminoguanidina, em tolueno sob refluxo por 20 horas (Equação 6). 105 O produto foi obtido como um sólido branco de ponto de fusão 197°C (não corrigido), compatível com a literatura (198°C). 105 O espectro na região do infravermelho de 2 apresentou bandas referentes às deformações axiais de N-H além de bandas características do anel triazólico. O espectro RMN 1H mostrou os sinais simples largos em 6,0 ppm (NH2) e 12,24 ppm (NH) e estão de acordo com os dados publicados na literatura. F3C H NH O OH + H2N NHNH2.H2CO3 refluxo Dean-Stark, 20h 103 104 105 N N Tolueno F3C N 2 (91%) Kim, S.; Ho Oh, C.; Suk Ko, J; Ahn K.H.; Kim, Y.J. J. Org. Chem. 1985, 50, 1927. Fukaya, C. J. Med. Chem, 1996, 39, 3019. Lopyrev, V. A.; Rakhmatulina, T. N. Zhurnal Obshchei Khimii 1984, 53,1684. 51 NH2 Eq. 6 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 5.5. Tentativa de Síntese de Amidinas Triazólicas Via Método de Pinner A fim de se obter as amidinas triazólicas tentou-se primeiramente empregar a metodologia clássica desenvolvida por Pinner. 66, 76, 78 As primeiras sínteses testadas foram aquelas visando a obtenção das amidinas triazólicas I e II, onde o tratamento da benzonitrila com HCl gasoso anidro, em etanol absoluto produziria o intermediário imidato e o posterior tratamento deste intermediário com as aminas apropriadas (2 e 3) forneceria as amidinas correspondentes (Esquema 20). NH NH Ph N N Ph N N H I H HCl NH OEt Ph N N N N H Imidato CF3 II Esquema 20. Estratégia via método de Pinner para as sínteses das amidinas I e II. O tratamento da benzonitrila com etanol absoluto em HCl gasoso levou a formação do imidato correspondente; contudo, em nossas mãos, este método mostrouse ineficiente, uma vez que após cinco dias de agitação não foi verificado o consumo total da benzonitrila (Equação 7). Desta forma, este produto não pôde ser caracterizado. NH CN HCl (g), EtOH abs. HCl OEt Eq. 7 t. A., 5 dias Imidato (35 %) Este fato pode ser explicado se examinarmos o mecanismo de formação do imidato (Esquema 21): A primeira etapa da formação deste intermediário é a protonação do nitrogênio da nitrila e a posterior adição nucleofílica do átomo de oxigênio do álcool ao carbono da nitrila protonada, etapa esta favorecida quando este sítio é bastante eletrofílico. Assim, conforme mostrado na literatura, 66, 76, 78, 80 em reações onde a nitrila aromática não é substituída por um grupamento retirador de elétrons no anel, a reação pode não ocorrer ou, como foi observado, ocorrer com baixos rendimentos. 52 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins _ + N H + Cl N + H-Cl nitrila protonada NH NH HOEt HCl OEt + OEt H Imidato Esquema 21. O mecanismo de formação de imidatos. Mesmo não se tendo verificado o consumo total da benzonitrila, evidenciado através de cromatografia em camada fina, o que acarretou na obtenção do imidato em baixos rendimentos (35% bruto), optou-se por dar continuidade à reação de transformação deste imidato nas amidinas triazólicas I e II objetivadas neste trabalho. Para isto, o intermediário imidato foi reagido com a amina 1,2,3-triazólica 3 na presença de trietilamina sob agitação durante 7 dias (Equação 8).49, 76 Contudo, este procedimento não levou a formação da amidina triazólica I, e sim à uma mistura de produtos de difícil separação; de fato, a cromatografia em camada fina indicou a presença do intermediário imidato e de seu contaminante benzonitrila, além de outros subprodutos não caracterizados. NH HCl OEt Et3N, EtOH N N Ph T. A., 7 dias N + H2N mistura Eq. 8 complexa 3 Imidato O métodode Pinner, em nossas mãos, também não se mostrou eficiente para a produção da amidina triazólica II objetivada neste trabalho (Equação 9). Neste caso, verificou-se que o aminotriazol 2 mostrou-se inerte frente ao imidato (ainda contaminado com benzonitrila), uma vez que a mesma foi recuperada em sua totalidade. NH OEt Imidato H HCl N N + F3C N Et3N, EtOH NH2 2 53 T. A., 7 dias não reage Eq. 9 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Conforme já demonstrado na literatura, os 3-amino-1,2,4-triazóis são espécies bastante estáveis e podem existir como mistura dos tautômeros 1H, 2H e 4H, conforme é mostrado a seguir. 106, 107 Além disso, esta molécula é um análogo de anilina, de modo que esta estabilidade poderia justificar a inércia de 2 na reação acima. H 1N N2 R 1 HN N 2 1N N2 4 R 5 N 3 NH2 H 5 N 3 NH2 4 R 5 N 3 NH2 4 4H 2H 2a - R = CF3 2b - R = H 2c - R = CH3 1H Resultados anteriores em nosso grupo referentes à reação de 2 com o acetoacetato de etila para a produção da pirimidinona 6 (Equação 10) demonstram não somente que o grupo NH2 de 2 é mais nucleofílico que o grupo NH, mas também que a amina 2 é uma espécie pouco nucleofílica; realmente a conversão de 2 em 6 só foi alcançada após 21 horas ao refluxo. O O H OEt N N F3C N O NH2 tolueno, 21h refluxo 2 F3C N N N Eq. 10 N H 6 (77%) A fim de se aumentar a energia da meio reacional, tentou-se empregar uma metodologia empregada por Claiborne, onde uma solução etérea do imidato é sonicada na presença da amina 2 para gerar a amidina triazólica II (Equação 11). Contudo, mesmo nestas condições reacionais, a amina 2 foi recuperada em sua totalidade. NH H HCl OEt + Et3N, EtOH N N F3C N NH2 ,8h não reage Eq. 11 2 106 Allen, C. F. H.; Bielfuls, H. R.; Burness, D. M.; Reynolds, G. A; Tinker, J. F; Vanallan, J. A. J. Org. Chem. 1959, 24, 787. 107 Bajwa, J. S.; Sykes, P. J. J. Chem. Soc., Perkin Trans. 1 1979, 3085. 54 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 5.6. Obtenção das Amidinas Triazólicas Via Método de Rouselet Tendo em vista que não foi possível a obtenção das amidinas triazólicas I e II por meio do método de Pinner, optou-se por utilizar uma metodologia onde se ativasse a nitrila para adições nucleofílicas. Dentre os diversos métodos que consistem na formação de um intermediário mais reativo pela complexação com diferentes ácidos de Lewis como AlCl3, ZnCl2, CuCl ou CuBr com temperaturas de 80-150ºC, optou-se pela utilização deste último, por ser uma método direto que se utiliza de condições mais brandas. Em 1990, Rouselet descreveu uma metodologia onde sais de Cu (I) são empregados a fim de se ativar nitrilas para adição nucleofílica (vide esquema 4, Seção 3.1). Nesta metodologia, no sentido de se evitar a obtenção de uma mistura dos produtos N- e N,N’- dissubstituídos, a nitrila é empregada como solvente e o sal de cobre é utilizado numa proporção de 1,2:1 em relação à amina. Posteriormente, Frutos108 demonstrou que utilizando esta proporção, foi possível obter amidinas N-substituídas como únicos produtos. Em vista disso, nas reações a partir da benzonitrila, esta foi utilizada como solvente, enquanto que para a nitrila 5 utilizou-se uma proporção nitrila: amina = 1,25: 1. A reação entre a benzoniltrila e a amina 2 na presença de cloreto cuproso (razão CuCl: 2 = 1,25:1) ao aquecimento a 80oC por 20h forneceu a amidina triazólica objetivada II, como único produto, na forma de um sólido amarelo de ponto de fusão igual a 151ºC em 75% de rendimento após recristalização em etanol (Equação 12). CN H H N N + FC 3 N NH o CuCl, 80 C NH2 20 horas 2 108 Ph N N N CF3 Eq. 12 N H II (75%) Frutos, R.P.; Gallou, I.; Reeves, D.; Xu, Yibo; Krishnamurthy, D.; Senanayake, C.H. Tetrahedron Lett. 2005, 46, 8369. 55 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Devido ao fato de II ser pouco solúvel na maioria dos solventes orgânicos, a remoção do cobre do meio reacional teve que ser feita através de extração com hidróxido de amônio 3M, e não apenas através de precipitação com NaOH 50% conforme descrito na metodologia de Rouselet. 84 Os sais de cobre, em meio amoniacal, formam um complexo azul solúvel em água, [Cu(NH3)4]2+, que pode ser facilmente removido através de extração. Para isto, ao meio reacional foi adicionado acetato de etila e a fase orgânica foi lavada com solução NH4OH 3M até que não fosse mais observada a presença de cobre no teste com ferrocianato de potássio. O espectro de infravermelho de II apresentou uma banda em 3347 cm-1, referente ao estiramento da ligação N-H, e uma banda em 1644 cm-1 referente ao estiramento de ligação C=N de amidinas, não apresentando bandas características de nitrilas. O espectro de RMN 1H a 300 MHz apresentou sinais múltiplos característicos de hidrogênios de anel aromático em 7,70-7,64 ppm e 8,17-8,13 ppm, além de três sinais largos em 8,22; 8,90 e 9,07 ppm atribuídos aos hidrogênios ligados aos átomos de nitrogênio. O espectro de RMN 13C a 75 MHz apresentou os desdobramentos de sinais característicos de compostos trifluorometilados: um quarteto centrado em 119, 8 ppm (J = 269 MHz) referente ao carbono C1 e o quarteto centrado em 149,7 ppm (J = 37 MHz) referente ao carbono C2. Os demais assinalamentos estão descritos na Tabela 3. 56 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins H N 3 1 F3C NH N 2 N N 4 5 6 7 8 H II Correlações 1 H x 1H - COSY C/H δC (m); J (Hz) δH (m) 1 119, 8 (q, 269 Hz) ---- ---- 2 149,7 (q, 37 Hz) ---- ---- 3 160,7 ---- ---- 4 160,4 ----- ---- 5 134,6 ---- ---- 6 131,8 7,70-7,64 (m) H7/H8 7 128,7 8,17-8,13(m) H6 8 127,7 8,17-8,13 (m) H6 NH ---- 8,22(sl) ---- NH ---- 8,90 (sl) --- NH ---- 9,07(sl) ---- Tabela 3. Assinalamentos propostos para a amidina II Uma vez que a nitrila 5 é um sólido, ela não poderia ser empregada como solvente segundo o procedimento de Rouselet, 84 conforme foi utilizado na preparação da amidina II. Assim, a reação entre a nitrila 5 e a benzilamina na presença de cloreto cuproso (razão CuCl: amina = 1,25:1) foi conduzida em DMSO como solvente a 80oC por 20 horas (Equação 13). Este protocolo forneceu a amidina triazólica objetivada III como um sólido branco de ponto de fusão igual a 120-121ºC em 73 % de rendimento, após purificação por cromatografia preparativa em gel de sílica (eluente: 10% AcOEt/ n-hexano). 57 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins N Ph N N 5 CN o + Ph NH2 CuCl, 80 C DMSO 20 horas NH N Ph N N N H Ph Eq. 13 III (73 %) Pelo fato de III ser solúvel em DMSO, não foi necessário realizar a extração com solução de hidróxido de amônio 3M. No lugar disso, o cobre foi precipitado pelo emprego de uma solução de NaOH 50% e filtrado do meio reacional. O espectro de infravermelho de III apresentou uma banda em 3436 cm-1 referente ao estiramento da ligação N-H e uma banda em 1672 cm-1 referente ao estiramento de ligação C=N de amidinas, além do desaparecimento da banda em 2247 cm-1 referente ao estiramento da ligação C-N da nitrila 5. O espectro de RMN 1H a 300 MHz apresentou o mesmo padrão da porção triazólica que 5. A incorporação da porção benzílica foi evidenciada através do surgimento do sinal duplo em 4,63 ppm referente aos hidrogênios metilênicos e de mais dois sinais múltiplos na região de aromáticos (7,50-7,45 ppm e 7,40-7,34 ppm). Além disso, o aparecimento do sinal múltiplo em 9,33 ppm (que troca com D2O) referente aos hidrogênios ligados a nitrogênio, confirma a presença do grupo amidina. No espectro de RMN13C, utilizando a técnica APT, é válido destacar o aparecimento do sinal em 42,2 ppm referente ao carbono metilênico da porção benzílica. Os demais assinalamentos estão descritos na Tabela 4. 58 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 2 1 3 NH 4 N N N 6 7 5 N 8 H 9 10 11 12 III Correlações 1 H x 1H - COSY C/H δC (ppm) δH (ppm,m); J (Hz) 1 128,6 7,60 (tt; 8,7; 1,2) H2; H3 2 129,8 7,73 (ddd,8,7;7,5;1,7); H1; H3 3 118,9 8,38 (ddd, 7,5; 3,2; 1,2) H1; H2 4 139,2 ----- ------ 5 136,4 8,58 (s) ----- 6 144,2 ---- ----- 7 159,2 ---- ----- 8 42,2 4,63 (d; 6,3) NH 9 138,9 ----- ----- 10 128,4 7,50-7,45 (m) 11 127,4 7,50-7,45 (m) 12 126,9 7,40-7,34 (m) NH --- 9,33 (m) H8 Tabela 4. Assinalamentos propostos para a amidina III A reação entre a nitrila 5 e a amina 2 na presença de cloreto cuproso (razão CuCl: amina = 1,25:1) foi conduzida em DMSO como solvente a 80oC por 24 horas (Equação 14). Este protocolo forneceu a amidina triazólica objetivada IV como um sólido branco de ponto de fusão igual a 134-137ºC em rendimento muito baixo. Cabe destacar que esta reação não foi otimizada. N Ph N N 5 CN + H N N NH2 F3C H CuCl, 80oC DMSO 24 horas NH N Ph N N N H N N N IV (5 %) 2 59 CF3 Eq. 14 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Mesmo após tentativa de purificação por cromatografia preparativa em gel de sílica (eluente: 10% AcOEt/ n-hexano), não foi possível obter-se IV em sua forma pura, de tal forma que esta substância foi evidenciada por seus espectros brutos. No espectro de I.V da fração mais polar obtida por cromatografia, pôde-se observar o desaparecimento da banda em 2247 cm-1 referente ao estiramento da ligação C-N da nitrila 5, assim como o aparecimento da banda em 1680 cm-1 referente ao estiramento de ligação C=N de amidinas, o indicava a formação do produto. O espectro de RMN 1H a 300 MHz apresentou o mesmo padrão da porção triazólica que a nitrila 5, além de um sinal largo em 7,84 ppm, o qual foi atribuído aos hidrogênios ligados aos átomos de nitrogênio. 5.7. Uso de sonicação para obtenção das amidinas Uma vez que o insucesso na obtenção da amidina triazólica IV poderia ser atribuído à pouca nucleofilia da amina 1,2,4-triazólica 2, realizou-se um estudo a respeito do uso de ultrassom na obtenção das amidinas triazólicas II-IV. Cabe mencionar que, ao melhor do nosso conhecimento, a sonicação ainda não foi empregada nas reações de nitrilas com aminas visando às sínteses de amidinas pelo método de Rouselet. Nessas reações, visando às sínteses de II-IV, a benzonitrila foi utilizada como solvente, enquanto que a nitrila 5 foi utilizada numa proporção de 2:1 em relação as aminas correspondentes. A reação entre a benzoniltrila e a amina 2 na presença de cloreto cuproso (razão CuCl: 2 = 2:1) empregando-se sonicação a 100oC por 5 horas forneceu a amidina triazólica objetivada II, como único produto, na forma de um sólido amarelo em 70% de rendimento após recristalização em etanol (Equação 15). CN H H N N + FC 3 N NH CuCl, 100oC NH2 ,5h Ph 2 N N N CF3 Eq. 15 N H II (70%) Nesta reação foi observado que, com o uso de sonicação, o tempo reacional diminuiu consideravelmente (de 20 para 5 horas), não havendo ganho em termos de rendimento em relação ao procedimento por via térmica. 60 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins A reação entre a nitrila 5 e a benzilamina na presença de cloreto cuproso (razão CuCl: amina = 2:1) em DMSO empregando-se sonicação a 100oC por 3 horas forneceu a amidina triazólica objetivada III em 76 % de rendimento, (Equação 16). 84 Este protocolo mostrou, assim, o mesmo perfil daquele observado anteriormente, com redução do tempo reacional de 20 para apenas 3 horas. NH N Ph N N CN o + Ph NH2 5 CuCl, 100 C DMSO ,3h N Ph N N N H Ph Eq. 16 III (76 %) A reação entre a nitrila 5 e a amina 2 na presença de cloreto cuproso (razão CuCl: amina = 2:1) em DMSO, mesmo após 7 horas por sonicação a 100oC, forneceu a amidina triazólica objetivada IV ainda em rendimento muito baixo (Equação 17). 84 Este protocolo também não foi otimizado. N Ph N N 5 CN + H N N F3C N 2 H o NH CuCl, 100 C NH2 DMSO ,7h 61 N Ph N N N H N N N IV (4 %) CF3 Eq. 17 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 5.8. Avaliação Farmacológica As amidinas II e III (Quadro 3)foram avaliadas quanto a neurotoxicidade e neuroproteação frente ao glutamato, utilizando-se para este fim, cultura de células embrionárias de retina de pinto (oito dias), livres de contaminantes não-neuronais. Os resultados estão resumidos na Figura 22 e Tabela 5. H NH Ph NH N N N N H N Ph N N CF3 N H Ph III II Quadro 3. Moléculas avaliadas quanto a neurotoxicidade e neuroproteação frente ao glutamato 5.8.1 Avaliacao do Efeito Neurotóxico das amidinas II e III A fim de se avaliar a neurotoxicidade das amidinas I e II, as culturas purificadas de neurônios e fotorreceptores de embrião de pinto de oito dias foram preparadas de acordo com Adler109 e posteriormente foram avaliadas quanto à sua viabilidade em cultura por um dia. Após este período, adicionou-se às placas de culturas 100 nM destas substâncias e estas foram testadas por uma incubação de 48 horas. Como se pode observar, as amidinas testadas não tem efeito sobre a viabilidade celular o que demonstra que as mesmas não apresentaram neurotoxicidade. Na presença da amidina II, a sobrevida neuronal diminui em apenas 15%, enquanto que na presença da amidina III a sobrevida neuronal cai em 13% o que não representa neurotoxicidade. 5.8.2 Indução da morte celular pelo glutamato A prolongada estimulação dos receptores glutamatérgicos dispara mecanismos de morte celular que atingem diretamente os neurônios.110 A fim de se verificar se a estimulação destes receptores seria deletéria para as células embrionárias de retina de pinto em cultura, foi feita a incubação das culturas purificadas de neurônios com Paes-de-Carvalho, R.; Dias, B.V.; Martins, R. A.; Pereira, M.R.; Portugal, C.C. & Lanfredi, C. Neurochem. Int. 2005,46, 441. 110 Adler, R., Lindsey, J. D. & Elsner, C. L. J. Cell Biol. 1984, 99, 1173. 109 62 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins glutamato por 8 horas a 37ºC. Pelo fato das drogas a serem testadas posteriormente serem solúveis em DMSO, foi feito também um controle utilizando-se este solvente. Como se pode observar, sob estas condições, o tratamento com glutamato reduz significantemente a viabilidade celular. Na presença deste agonista, o número de células por campo cai de 45 para 8, ou seja, o glutamato diminui em aproximadamente 82% a sobrevida neuronal. 5.8.3 Efeito do pré –tratamento com as amidinas II e III A fim de se testar se as amidinas II e III protegem as células neuronais da excitotoxicidade promovida pelo glutamato, as culturas do controle foram incubadas com as respectivas amidinas (10nM) por 48h. Após este período, o agonista glutamato (1mM) foi adicionado às culturas e o efeito protetor das amidinas II e III foi avaliado. Sob estas condições, o efeito excitotóxico do glutamato foi reduzido consideravelmente. A amidina II foi efetiva na redução da neurotoxicidade mediada pelo glutamato. Como mostrado abaixo, porcentagem de neurônios remanescentes após a incubação na presença de glutamato praticamente quadriplicou após o tratamento com a amidina II. Resultados ainda mais promissores foram obtidos após incubação do glutamato em células pré-incubadas com a amidina III, neste caso, houve um aumento da viabilidade celular em 60%. Os resultados preliminares indicam que as amidinas triazólicas II e III possuem efeito neuroprotetor por pré-condicionamento, o que pode significar potencial efeito terapêutico nas neuropatias causadas por EAA. Tabela 5. Efeito das amidinas II e III na toxicidade neuronal induzida por glutamato em culturas de células embrionárias de retina de pinto. 63 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Figura 22. Efeito das amidinas II e III na toxicidade neuronal induzida por glutamato em culturas de células embrionárias de retina de pinto. Onde: LM010 = Amidina II; LM031 = Amidina III e G = Glutamato. Os demais ensaios farmacológicos encontram-se em andamento. Dentre os ensaios em curso, serão testados o efeito destas substâncias na captação de cálcio, afinidade por receptores do tipo NMDA e suas subunidade, entre outros. 64 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 6. Conclusões Neste trabalho foram desenvolvidas metodologias que permitiram as sínteses eficientes da amina primária 1,2,3-triazólica 3 e da nitrila correspondente 5 a partir do aldeído 1 (Quadro 4). As preparações de 3 e de 5 mostram-se atraentes pois o aldeído 1 é facilmente preparado em três etapas e em 33% de rendimento global a partir da Dglicose. N NH2 Ph N N 3 (75 %) CHO N Ph N N CN N Ph N N 5 (61 % global) 1 Quadro 4. Amina e nitrila 1,2,3-triazólicas derivadas do aldeído 1. Uma vez que o método de Pinner não se mostrou eficiente para a preparação da amidina II, as sínteses das amidinas II-IV foram efetuadas segundo a adaptação da metodologia de Rouselet para nitrilas heterocíclicas e análogos de anilina (Tabela 6). Neste procedimento, a via térmica (entradas 1, 3 e 5) necessitou de elevados tempos reacionais, conforme descrito por este autor.84 Por outro lado, os experimentos inéditos via sonicação desenvolvidos neste trabalho (entradas 2, 4 e 6) mostraram-se mais atraentes em termos de tempos reacionais e não resultaram em prejuízos de rendimentos químicos. A preparação de IV deverá ser otimizada em futuro próximo. entr. nitrila am ina N N CN 1 F 3C 2 4 5 6 Ph N Ph N N CN N 5 N CN N 5 H NH 2 N CuCl, 80 o C o CuCl, 100 C, am idina tem po H 20 h 5h NH Ph N H 2 Benzonitrila 3 condições Ph NH2 Benzilam ina N N F 3C CuCl, DM SO, 80 o C 20 h CuCl, DM SO, 100 o C , 3h N N N 2 CuCl, DM SO, 80 o C 24 h CuCl, DM SO, 100 o C, 7h 70% II NH Ph N N N H NH Ph N N N 73 % N Ph H III N H Tabela 6. Vias térmica e sonicação nas sínteses das amidinas II-IV. 65 75 % CF 3 N H NH 2 % 76% 5% N N N IV CF 3 4% Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins A adaptação da metodologia de Rouselet, via sonicação, desenvolvida neste trabalho deverá possibilitar as sínteses das novas amidinas triazólicas I e V a partir da amina 3 (Esquema 22). NH Ph NH N N Ph N N H N N Ph N H2N I N Ph N N N N Ph N N H 3 V Esquema 22. Perspectivas para as sínteses de I e V. Esta abordagem deverá também ser empregada nas sínteses das amidinas conjugadas VI e VII a partir da nitrila α,β-insaturada 7 derivada do aldeído triazólico 1 por reação de Knoevenagel (Esquema 23).111 CHO N Ph N N 1 N Ph N N ref. 111 N H 7 CF3 NH N Ph N N CN N N Ph N VI NH N N Ph N N N H VII N N H Esquema 23. Perspectivas para as sínteses de VI e VII As amidinas II e III foram avaliadas quanto ao efeito neurotóxico e quanto a neuroproteação frente ao glutamato, ambas mostrando possuir efeito neuroprotetor sem induzir, por si só, neurotoxicidade. Os melhores resultados foram os obtidos após incubação do glutamato em células pré-condicionadas com a amidina III, havendo um aumento da viabilidade celular em 60%. Os ensaios biológicos visando a elucidação do mecanismo pelo qual estas moléculas exercem efeito neuroprotetor estão em andamento. 111 DiBiase, S. A.; Beadle, J. R.; Gokel, G. W. Org. Synth. Coll. Vol. 7, p.108; Vol. 62, p.179 66 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Os ensaios preliminares mostraram-se extremamente promissores, uma vez que indicam que amidinas triazólicas podem representar uma nova classe de substâncias com promissor efeito neuroprotetor frente aos distúrbios iniciados pelo aumento da atividade celular devido ao excesso de glutamato. 67 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7. Experimentais 7.1 Materiais e métodos A remoção de água da benzonitrila foi efetuada por tratamento com CaCl2 anidro, sob atmosfera de nitrogênio, por uma noite, seguida de destilação à vácuo (~15 mmHg). A remoção de água do DMSO foi efetuada por tratamento com CaH2, sob atmosfera de N2, por uma noite, seguido de destilação à vácuo (0,5 mmHg).112 Todas as reações foram acompanhadas por c.c.f. e a visualização das substâncias foi efetuada por exposição à luz U.V. ou por revelação com solução de vanilina sulfúrica (3g de vanilina +13 mL de H2SO4 98% em 100mL de etanol) em etanol e aquecimento ou solução aquosa de ninidrina (100mg/50mL). As misturas de eluentes utilizadas nos processos cromatográficos foram preparadas volume a volume, a partir de solventes previamente destilados. A remoção parcial dos solventes, durante o isolamento das reações ou ao final das colunas cromatográficas foi efetuada em evaporador rotatório sob vácuo. Em todos os casos, a eliminação de traços de solventes foi efetuada em um alto-vácuo a 0,5 mmHg. As cromatografias de adsorção em coluna foram realizadas utilizando sílica gel 70-230mesh (60A) ou 230-400mesh (60A), em coluna “flash”. As análises em cromatografia em camada fina (c.c.f.) foram realizadas utilizando cromatofolhas de alumínio recobertas com sílica gel 60F254 (Merck, Darmstadt). Os pontos de fusão foram determinados em aparelho Fischer-Johns e não foram corrigidos. As reações de sonicação foram efetuadas em aparelho Cole-Parmer com aquecimento a 100ºC. Os espectros de absorção na região do infravermelho (I.V.) foram registrados em espectrofotômetro Perkin-Elmer FT-IR modelos 1600 series e spectrum, utilizando filme de CH2Cl2 ou pastilhas de KBr. Os valores para absorção foram registrados em número de onda, sendo a unidade cm-1. Os espectros de ressonância magnética nuclear de hidrogênio (1H-RMN) e de ressonância magnética nuclear de carbono-13 (13C-RMN) foram registrados em um 112 Perrin D.R.; Amarego, N.L.F. Purification of Laboratory Chemicals; Pergamon Press: New York, 1980. 68 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins espectrofotômetro Varian Unity Plus (300 MHz). Os deslocamentos químicos (δ) estão relatados em ppm em relação ao tetrametilsilano (TMS), utilizado como padrão interno. As multiplicidades (s-singlete; sl-singlete largo; d-dublete; t-triplete; dd-duplo dublete; ddd-duplo duplo dublete; q-quarteto; dq-duplo quarteto; m-multipleto) e a constante de acoplamento (J) em Hertz (Hz) estão entre parênteses. 69 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7.2. Fenil-D-glicosazona H HO H H CHO OH H OH OH CH2OH D-(+)-glicose H PhNHNH2 T.A., 4 dias NNHPh NNHPh HO H H OH H OH CH2OH Fenil-D-glicosazona (64%) Em uma solução aquosa (90mL) de ácido acético 5,78 N, dissolveu-se D-(+)-glicose (9,82g) e adicionou-se uma solução de fenilidrazina (17 mL) em álcool etílico (90mL). A mistura foi deixada sob agitação a temperatura ambiente por 4 dias. Ao final da reação, o sólido amarelo intenso formado foi filtrado e recristalizado em etanol 60% para fornecer a fenil-D-glicosazona (12,93g, 64%) como um sólido amarelo de p.f. 206-207oC (lit. 100 :207oC). 70 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7.3. Fenil-D-glicosetriazol Ph N N N H NNHPh NNHPh HO H H OH H OH CH2OH CuSO4. 5H2O refluxo, 3 h HO H H H OH OH CH2OH Fenil-D-glicosetriazol (60%) Fenil-D-glicosazona Uma mistura de fenil-D-glicosasona (2,0 g), 10 mL de ácido sulfúrico 0,5 N, 180 mL de água, 120 mL de álcool isopropílico e 3,8 g de sulfato de cobre (II) foram mantidos sob refluxo em banho maria por 3 h. A mistura foi filtrada a quente e o filtrado teve seu volume reduzido a cerca de 100 mL em evaporador rotatório. Após resfriamento, a mistura foi filtrada e o sólido obtido foi recristalizado 2 vezes em 100 partes de água, fornecendo o fenil-D-glicosetriazol (0,88 g, 60%) como cristais incolores de p.f. 195-196oC (lit.100 :195-196oC). 71 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7.4. 2-Fenil-2H-[1,2,3]-triazol-4-carboxaldeído (1) Ph N N N HO H H H OH OH CH2OH NaIO4, H2O T. A., 24 h O H N N N Ph 1 (86%) Fenil-D-glicosetriazol Uma suspensão de fenil-D-glicosetriazol (0,5 g) em uma mistura de 50 mL de água e 5 mL de solução aquosa de NaIO4 0,428 M (1,35 g; 3,35 eq.) foi agitada a 25oC por 24 h. Os cristais resultantes foram removidos por filtração e lavados com água gelada (3 x 10mL). Recristalização com uma mistura de 16 partes de EtOH e 32 partes de água forneceu 3 (0,3 g, 86%) como um sólido branco de p.f. 65-66oC (lit.100: 6869oC). I.V. (KBr; cm-1): 1697; 1596; 1488; 1364; 1315; 1219; 967; 760; 670. RMN 1H (300 MHz, CDCl3, ppm): 10,23 (s);8,27 (s) 8,05 (ddd; 7,2 Hz; 3,0 Hz; 1,2 Hz); 7,54 (ddd; 7,5 Hz; 7,2 Hz; 1,8 Hz); 7,46 (tt; 7,5 Hz; 1,2 Hz). 72 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7.5. 2-Fenil-2H-[1,2,3]-triazol-4-carboxaldeído oxima (4) NOH N Ph N N 1 CHO NH2OH.HCl, NaHCO3 CH2Cl2, Na2SO4 T.A. 18h N Ph N N H 4 (87%) À uma solução de 1 (0,30 g; 1,91 mmol) em CH2Cl2 (17,6 mL) foram adicionados Na2SO4 (0,2936 g; 1,91 mmol), NH2OH.HCl (0,1468 g; 2,20 mmol) e NaHCO3 (0,2202 g; 2,20 mmol). A mistura foi agitada a temperatura ambiente por 18h e filtrada. O solvente foi removido a pressão reduzida para fornecer 5 (0,28 g, 87%) após recristalização em hexano como um sólido branco de p. f. 140-143oC (lit.113: 145oC). I.V. (KBr, cm-1): 3282, 3012, 1560, 1500, 1343, 1330, 1316, 1038, 984, 968, 929, 823, 745. RMN1H (300 MHz, CDCl3, ppm): 8,55 (sl); 8,12 (s); 8,09-8,06(m); 7,54-7,47 (m); 7,43-7,38 (m). RMN13C (CDCl3, ppm): 142,52; 138,9; 133,4; 129,3; 128,1;119,0; 118,8. 113 El Khadem, H.; El-Shafei, Z. M.; Meshereki, M. H.; Shaban, M. A.; J. Chem. Soc; Org, 1966, 1, 91. 73 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7.6. 2-Fenil-2H-[1,2,3]-triazol-4-carbonitrila (5) NOH N Ph N N H (CH3CO)2O refluxo, 1 h N Ph N N CN 5 (70%) 4 Uma solução da oxima 4 (0,50 g; 2,65mmol) em anidrido acético (10 mL) bidestilado foi aquecida ao refluxo por 2h. A solução quente foi vertida, com agitação constante, em 50mL de água gelada e agitada vigorosamente por 30 minutos. A mistura foi extraída com CH2Cl2 (3 X 5 mL). A fase orgânica foi lavada com NaHCO3 10% até pH neutro, seca com Na2SO4 anidro e evaporada. Recristalização em hexano forneceu 5 (0,32 g, 70%) como um sólido branco de p. f. 86-87oC (lit.101: 89oC). I.V (KBr, cm-1):3135, 2247, 1596, 1496, 1459, 1395, 1324, 1032, 970, 866, 761, 670. RMN1H (300 MHz, CDCl3, ppm): 8,16 (1H, s); 8,12-8,08 (2H, m); 7,57-7,44 (3H, m). 74 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7.7. C-(2-Fenil-2H-[1,2,3]-triazol-4-il)-metilamina (3) a) Via aminação redutiva OHC NaBH3CN, ZnCl2 1N N N Ph N NH4OAc, MeOH abs. T. A., 96h 1 N N Ph N H 2N 3 (75%) À uma solução do aldeído 1 (0,10 g; 0,58 mmol) e de acetato de amônio (3,65g; 58 mmol) em metanol absoluto (1,56 mL) foi adicionada, sob agitação, uma solução de cianoboridreto de sódio (0,0366 g; 0,58 mmol) e de 0,58 mL cloreto de zinco (0,1 N em Et2O) em metanol absoluto (2,7 mL). A mistura resultante foi agitada a temperatura ambiente por 96 h e adicionada em NaOH 0,1N (3,9 mL). O metanol foi removido a pressão reduzida e a solução aquosa foi extraída com acetato de etila (3 X 5 mL). As fases orgânicas combinadas foram lavadas com solução saturada de NaCl e secas com Na2SO4 anidro. O acetato de etila foi removido a pressão reduzida e o resíduo obtido foi purificado por cromatografia em coluna “flash” de gel de sílica (5%Acetato em nhexano) fornecendo 3 (0,075 g, 75%) como um sólido amarelo de p. f. 71-73oC. b) Via redução da oxima 4 NOH 1. Zn, NH4Cl NH4OH H refluxo 4h N Ph N N 4 2. NaOH H2N N N Ph N 3 (60%) Uma suspensão da oxima 4 (0,50 g; 2,65 mmol), Zn0 (795 mg; 12,15 mmol) e cloreto de amônio (0,106 g; 1,98 mmol ) em amônia concentrada (13,25 mL) e etanol (5,3 mL) foi aquecida ao refluxo durante 4 horas. Uma solução de NaOH 50% (0,2 mL) foi adicionada e a mistura foi agitada por 10 minutos. A mistura foi filtrada e o filtrado foi extraído com CH2Cl2 (3 X 6 mL). Secagem com Na2SO4 anidro, filtração e evaporação 75 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins do solvente forneceu 3 (0,12 g, 60%) como um sólido amarelado de p. f. 71-73oC após cromatografia em coluna “flash” de gel de sílica (Acetato/ Hexano 5%) . I.V. (KBr, cm-1):3399, 2936, 1597, 1497, 1463, 1414, 1356,1312, 1214, 1047, 1017, 967, 911, 853, 756, 690, 666. RMN1H (300 MHz, CDCl3, ppm): 8,04 (d, 7,5); 7,72 (s); 7,48 (t; 7, 6Hz; 7,3 Hz; 1,9 Hz); 7,33 (tt; 7,6 Hz; 1,2 Hz); 4,06(sl). RMN13C (CDCl3, ppm): 147,7; 139,6; 134,4; 129,0; 127,2; 118,5; 43,5. 76 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7.8. 3-Amino-5-trifluorometil-1H-1,2,4-triazol (2) F3C H NH O OH + H2N N N Tolueno NHNH2.H2CO3 refluxo Dean-Stark, 20h F3C N NH2 2 (91%) Uma mistura de bicarbonato de aminoguanidina (5,64g; 41,44mmol) e ácido trifluoracético (4,0mL) foi mantida em agitação magnética por 20 minutos até desprendimento completo de CO2. Adicionou-se tolueno (120mL) e a mistura reacional foi aquecida ao refluxo sob agitação magnética por 20h em aparelhagem Dean-Stark com condensador de refluxo. A reação foi acompanhada por CCF utilizando como eluente a mistura 50% acetato de etila em n-hexano. Ao final da reação foi observada a formação de um sólido branco, o qual foi filtrado sob vácuo e lavado com 10mL de tolueno gelado. O produto obtido foi seco sob linha de auto vácuo e posteriormente sublimado, fornecendo 2 (6,24 g, 91%) sob forma de cristais tipo agulha de p. f. 197oC (lit.105 :198oC). I.V (KBr, cm-1): 3941, 3357, 3055, 2846, 2712, 1643, 1582, 1551, 1489, 1451, 1363, 1218, 1199, 1143, 1108, 1057, 1009, 998, 844, 774, 761, 728, 706. RMN 1H (300 MHz; acetona-d6, ppm): 6,0 (s) e 12,24 (s). 77 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7.9. N-(5-trifluorometil-2H-[1,2,4]-triazol-3-il)-benzamidina (II): via térmica 84 CN H H N N + FC 3 N NH CuCl, 80oC NH2 20 horas 2 Ph N N N CF3 N H II (75%) À uma solução de CuCl (123,75 mg;1,25mmol) em 2 mL de benzonitrila foi adicionado uma suspensão da amina 2 (152 mg;1 mmol) em benzonitrila (1mL) sob atmosfera de N2. A mistura foi aquecida a 80ºC durante 20 horas. Ao término da reação foram adicionados 2mL de acetato de etila e 4mL de NaOH 50% e a mistura foi agitada vigorosamente por 30 minutos. A fase orgânica foi lavada com NH4OH 3M até teste negativo pra cobre (II) com solução 0,1M de ferrocianeto de potássio. A fase orgânica foi lavada com NH4Cl 5% (até pH neutro), com água (3 x 5mL), seca com Na2SO4 anidro, filtrada e evaporada. O resíduo foi purificado por recristalização em etanol fornecendo II (191,3 mg; 75%) como um sólido amarelo de p. f. 151oC. I.V (KBr, cm-1): 3346, 3203, 3061, 2920, 2851, 1645, 1578, 1530, 1510, 1466, 1447, 1216, 1181, 1145, 1034, 1008, 860, 771, 743, 697. RMN 1H (300 MHz; DMSO-d6, ppm): 9,07(sl); 8,90 (sl); 8,22(sl); 8,17-8,13 (m); 7,707,64 (m). RMN13C (DMSO-d6, ppm): 160,7; 160,4; 149,7 (q, 37 Hz); 134,6; 131,8; 128,7; 127,7; 119, 8 (q, 269 Hz). 78 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7.10. N-(5-trifluorometil-2H-[1,2,4]-triazol-3-il)-benzamidina (II):via sonicação CN H H N N + FC 3 N NH o CuCl, 100 C NH2 ,5h 2 Ph N N N N H II (70%) CF3 À uma solução de CuCl (123,75 mg;1,25mmol) em 2 mL de benzonitrila foi adicionado uma suspensão da amina 2 (152 mg;1 mmol) em benzonitrila (1mL) sob atmosfera de N2. A mistura foi deixada sob sonicação e aquecimento a 100ºC durante 5 horas. Ao término da reação foram adicionados 2mL de acetato de etila e 4mL de NaOH 50% e a mistura foi agitada vigorosamente por 30 minutos. A fase orgânica foi lavada com NH4OH 3M até teste negativo pra cobre (II) com solução a 0,1 M de ferrocianeto de potássio. A fase orgânica foi lavada com NH4Cl 5% (até pH neutro) seguida por lavagem com água (3 x 5mL), seca com Na2SO4 anidro, filtrada e evaporada. O resíduo foi purificado por cromatografia de placa preparativa em gel de sílica (eluente: 10% AcOEt em n-hexano), seguida por recristalização em etanol para fornecer II (178,5 mg; 70%) como um sólido amarelo de p. f. 151oC. 79 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7.11. N-benzil-2-fenil-2H-[1,2,3]-4-carboxamidina (III): via térmica 84 N Ph N N CN o + Ph NH2 CuCl, 80 C DMSO 20 horas 5 NH N Ph N N N H Ph III (73%) À uma solução da nitrila 5 (212,6 mg;1,25 mmol) e CuCl (123,75 mg;1,25mmol) em DMSO (2mL) foi adicionado uma solução da benzilamina (107,16 mg; 1 mmol) em DMSO (1mL) sob atmosfera de N2 e a mistura foi aquecida a 80ºC durante 20 horas. Ao término da reação foram adicionados 2mL de acetato de etila e 4mL de NaOH 50% e a mistura foi agitada vigorosamente por 30 minutos. O produto foi filtrado e os sólidos lavados com acetato de etila (3 x 3 mL). A fase orgânica foi seca com Na2SO4 anidro, filtrada e evaporada. O resíduo resultante foi purificado por cromatografia preparativa em gel de sílica (eluente: 10% AcOEt em n-hexano) fornecendo III (202,4mg; 73%) como um sólido branco de p. f. 121-123oC. I.V. (KBr, cm-1): 3280, 3033, 2919, 1658, 1595, 1553, 1497, 1455, 1322, 1227, 1153, 970, 756, 697, 667. RMN 1H (300 MHz; DMSO-d6, ppm): 9,33 (m); 8,58 (s); 8,38 (ddd, 7,5; 3,2; 1,2); 7,73 (ddd,8,7;7,5;1,7); 7,60 (tt; 8,7; 1,2); 7,50-7,45 (m); 7,40-7,34 (m); 4,63 (d; 6,3). RMN13C (DMSO-d6, ppm): 159,2; 144,2; 139,2; 138,9; 136,4;129,8; 128,6; 128,4; 127,4; 126,9; 118,9; 42,2. 80 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7.12. N-benzil-2-fenil-2H-[1,2,3]-4-carboxamidina (III): via sonicação NH CN N Ph N N 5 o + Ph NH2 CuCl, 100 C DMSO ,3h N Ph N N N H Ph III (76 %) À uma solução da nitrila 5 (212,6 mg;1,25 mmol) e CuCl (123,75 mg;1,25mmol) em DMSO (2mL) foi adicionado uma solução da benzilamina (107,16 mg; 1 mmol) em DMSO (1mL) sob atmosfera de N2. A mistura foi deixada sob sonicação e aquecimento a 100ºC durante 5 horas. Ao término da reação foram adicionados 2mL de acetato de etila e 4mL de NaOH 50% e a mistura foi agitada vigorosamente por 30 minutos. O produto foi filtrado e os sólidos lavados com acetato de etila. A fase orgânica foi seca com Na2SO4 anidro, filtrada e evaporada. O resíduo resultante foi purificado por cromatografia preparativa em gel de sílica (eluente: 10% AcOEt em n-hexano) fornecendo III (210,7mg; 76%) como um sólido branco de p. f. 121-123oC. 81 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7.13. 2-fenil-N-(5-trifluorometil-2H-[1,2,4]-triazol-3-il)-2H-[1,2,3]triazol-4-carboxamidina (IV): via térmica 84 N Ph N N CN + H N N F3C 5 N H CuCl, 80oC NH2 DMSO 24 horas NH N Ph N N N H N N N CF3 IV (5 %) 2 À uma solução da nitrila 5 (212,6 mg; 1,25 mmol) e CuCl (123,75 mg;1,25mmol) em DMSO (2mL) foi adicionado uma solução da amina 2 (152mg; 1 mmol) em DMSO (1mL) sob atmosfera de N2 e a mistura foi aquecida a 80ºC durante 20 horas. Ao término da reação foram adicionados 2mL de acetato de etila e 4mL de NaOH 50% e a mistura foi agitada vigorosamente por 30 minutos. O produto foi filtrado e os sólidos lavados com acetato de etila (3 x 3 mL). A fase orgânica foi seca com Na2SO4 anidro, filtrada e evaporada. O resíduo resultante foi purificado por cromatografia preparativa em gel de sílica (eluente: 10% AcOEt em n-hexano) fornecendo IV (16,1mg; 5%) como um sólido branco de p. f. 121-123oC. I.V. (KBr, cm-1): 3342, 2965, 2934, 2874, 1680, 1598, 1498, 1464, 1357, 969, 758. RMN 1H (300 MHz; DMSO-d6, ppm): 8,53 (s); 8,19 (d; 9,0); 7,84 (sl); 7,54 (t; 9,0; 6,0; 1,9); 7,61 (tt; 7,8; 1,2). 82 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7.14. 2-fenil-N-(5-trifluorometil-2H-[1,2,4]-triazol-3-il)-2H-[1,2,3]triazol-4-carboxamidina (IV): via sonicação N Ph N N 5 CN + H N N F3C N 2 H o NH CuCl, 100 C NH2 DMSO ,7h N Ph N N N N N H N CF3 IV (4 %) À uma solução da nitrila 5 (212,6 mg;1,25 mmol) e CuCl (123,75 mg; 1,25mmol) em DMSO (2mL) foi adicionado uma solução da amina 2 (152 mg; 1 mmol) em DMSO (1mL) sob atmosfera de N2. A mistura foi deixada sob sonicação e aquecimento a 100ºC durante 7 horas. por Ao término da reação foram adicionados 2mL de acetato de etila e 4mL de NaOH 50% e a mistura foi agitada vigorosamente por 30 minutos. O produto foi filtrado e os sólidos lavados com acetato de etila. A fase orgânica foi seca com Na2SO4 anidro, filtrada e evaporada. O resíduo resultante foi purificado por cromatografia preparativa em gel de sílica (eluente: 10% AcOEt em n-hexano) fornecendo IV (12,6 mg; 4 %) como um sólido branco de p. f. 134-137ºC. 83 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins 7.15. Avaliação Farmacológica 7.15.1 Preparo das Culturas Purificadas de Neurônios 109,110 As culturas purificadas de neurônios e fotorreceptores de embrião de pinto de 8 dias foram preparadas de acordo com Adler 109,110 : As retinas foram dissecadas, incubadas com tripsina a 0,1% e dissociadas. As células foram posteriormente suspensas em meio de cultura basal de Eagle (BME) suplementado com 2,5 % de soro fetal bovino, penicilina (100U/mL) e estreptomicina (100ug/mL), sendo acondicionadas em placas de cultura de 35 mm pré-tratadas com poli-L-ornitina. A densidade celular foi de 8,3 x 102 células/mm2. As culturas foram incubadas a 37°C em atmosfera úmida com 5% de CO2/95% ar, sem nenhuma troca de meio, e usadas após 3 dias de cultivo. 7.15.2 Tratamento com drogas 109,110 As células foram avaliadas quanto à viabilidade em cultura no primeiro dia. Em seguida as drogas a serem testadas (amidina II e III) foram aplicadas às placas de cultura e testadas por uma incubação de 48 horas. Após este tempo, adicionou-se glutamato (1mM). 7.15.3 Contagem de células109,110 Após a fixação de células tratadas com glutamato por oito horas, realizou-se a contagem celular onde foram consideradas apenas as células viáveis (apresentando neuritos). Em cada placa de 35 mm, 10 campos foram contados utilizando microscópio invertido Nikon no aumento de 400 vezes. Os resultados foram expressos em percentagem (%) da placa controle. 84 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 1. Espectro de IV (Pastilha) do aldeído triazólico 1. 91 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 2. Espectro de 1H RMN (300 MHz;CDCl3; ppm) do aldeído triazólico 1. 92 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 3. Espectro de IV (Pastilha) da oxima 4. 93 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 4. Espectro de 1H RMN (300 MHz;CDCl3; ppm) da oxima 4. 94 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 5. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz;CDCl3; ppm) da oxima 4. 95 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 6. 13C RMN (75 MHz; CDCl3; ppm) da oxima 4. 96 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 7. 13C RMN-HETCOR (75 MHz; CDCl3; ppm) da oxima 4. 97 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 8. Espectro de IV (Pastilha) da nitrila 5. 98 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 9. Espectro de 1H RMN (300 MHz; CDCl3; ppm) da nitrila 5. 99 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 10. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz; CDCl3; ppm) da nitrila 5. 100 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 11. Espectro de IV (filme) da amina 3. 101 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 12. Espectro de 1H RMN (300 MHz;CDCl3; ppm) da amina 3. 102 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 13. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz;CDCl3; ppm) da amina 3. 103 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 14. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz;CDCl3; ppm) da amina 3Expansão. 104 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 15. Espectro de 13C RMN (CDCl3; ppm) da amina 3. 105 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 16. Espectro de IV (pastilha) da amina 2. 106 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 17. Espectro de 1H RMN (300 MHz; CD3COCD3; ppm) da amina 2. 107 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 18. Espectro de IV (Pastilha) da amidina II. 108 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 19. Espectro de 1H RMN (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina II. 109 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 20. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina II. 110 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 21. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina II – Expansão. 111 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 22. Espectro de 13C RMN (75 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina II. 112 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 23. Espectro de 13C RMN (75 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina II. 113 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 24. Espectro de IV (Pastilha) da amidina III. 114 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 25. Espectro de 1H RMN (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina III. 115 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 26. Espectro de 1H RMN (300 MHz; DMSO-d6 + 10 gotas de D2O; ppm) da amidina III. 116 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 27. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina III. 117 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 28. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina III –Expansão. 118 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 29. Espectro de 13C RMN (75 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina III 119 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 30. 13C RMN-HETCOR (75 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina III. 120 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 31. 13C RMN-HETCOR (75 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina III – Expansão 1. 121 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 32. 13C RMN-HETCOR (75 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina III – Expansão 2. 122 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 33. Espectro de IV (Pastilha) da amidina IV. 123 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 34. Espectro de 1H RMN (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina IV 124 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 35. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina IV. 125 Dissertação de Mestrado de Luana Monteiro Spíndola Marins Espectro 36. Espectro de 1H RMN-COSY (300 MHz; DMSO-d6; ppm) da amidina IV – Expansão. 126